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A etnografia como paradigma de construção do processo de conhecimento em educação

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A ETNOGRAFIA COMO PARADIGMA DE CONSTRUÇÃO

DO PROCESSO DE CONHECIMENTO EM EDUCAÇÃO

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Camara Brasileira do Uvro, SP, Brasil)
GhBJJDi Evandro
Questões de método na construção da pesquisa em educação / Ev-andro Ghodin, Maria Amélia Santoro Franco - SSo Paulo: Cortez, 2008. -
(Coleção docência em formação. Série saberes pedagógicos / coordenação Antônio Joaquim Severino, Selma Garrido Pimenta)
Bibliografia
ISBN 978-85-249-1395-2
1. Pedagogia 2. Pesquisa educacional-Metodologia 3, Professores - Formaçio Profissional í Franco, Maria Amélia Santoro, ü. Severino, Antônio
Joaquim. HL Pimenta, Selma Garrido. IV. Titulo. V. Serie.
CDD-370.7201

A questão epistemológica da etnografia apresenta-a como possibilidade de elaboração de um


conhecimento que possa captar o modo de pensar, agir e organizar o mundo dos sujeitos investigados e, mais do que isso, exige que o pesquisador veja o mundo do
ponto de vista deles. Trata-se de trabalho extremamente difícil, pois requer deixar de lado os preconceitos e pôr-se no lugar daqueles que se está procurando conhecer. A
questão central segundo Geertz (1978; 1989) relaciona-se com os papéis desempenhados na relação investigativa. No fundo, o trabalho da etnografia constitui um
registro sistemático das informações e ações dos sujeitos pesquisados que implica, imediatamente após, a interpretação do modo pelo qual eles agem.
Nesses termos há uma identidade epistemológica entre etnografia e hermenêutica. O trabalho etnográfico constitui uma forma sistemática de
registro do modo de vida de outro sujeito, conforme a visão de mundo e o modo de pensar de sua cultura. Dir-se-ia que o registro das ações do
outro, sem um processo interpretativo, configura-se mera descrição dos dados, e não uma análise significativa das informações catalogadas no
"caderno de campo".
O trabalho etnográfico está ligado a um modo de perceber o mundo do outro ou de "treinar" o olhar para aprender a perceber como o outro
vê a si mesmo como alguém que se percebe diferente, com uma identidade que é sua e dos outros ao mesmo tempo. A pesquisa baseada nessa
abordagem aproxima o investigador das experiências alheias, de sorte que faça a experiência do que é o outro na compreensão que este tem de si
mesmo. Portanto, o esforço da pesquisa não é expressar a própria experiência no processo de construção do conhecimento de certo objeto, mas
mostrar como foi possível captar, pela explicação e compreensão, o modo pelo qual o outro faz a própria experiência existencial.
Pode-se dizer que o trabalho sempre se dá na bifurcação formada pelas relações estabelecidas entre os membros de determinado grupo e pela
possibilidade de fazer a experiência (próxima ou distante) do modo de ser dos sujeitos — embora se saiba que quem faz a experiência de fato são
estes e não o pesquisador, o qual procura compreender o modo pelo qual as relações instauram laços significativos para a construção da
realidade e da identidade de cada membro no grupo.
A proximidade com a experiência alheia não faculta ao pesquisador conhecer o que significa aquela experiência que o outro faz de si mesmo
em sua identidade construída no coletivo da cultura introjetada no universo de cada indivíduo. O pesquisador aproxima-se dela para poder
descrevê-la e, ao analisá-la, compreender seus significados, não em sua própria ótica, mas na dinâmica da cultura experimentada por todos e
cada um dos sujeitos em relação no grupo.
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No dizer de Geertz (1978, p. 105), esse processo "é um bordejar dialético contínuo, entre o menor detalhe nos locais menores e a mais global das
estruturas globais, de tal firma que ambos possam ser observados simultaneamente". Pode-se, com base nisso, afirmar que a abordagem etnográfica
busca uma narrativa construída num permanente movimento que vai das relações bem particulares dos sujeitos ao todo da cultura em que se
inserem como protagonistas de seu modo de ser.
A etnografia constitui, por conseguinte, um processo interpretativo que salta continuamente de uma visão de totalidade — por meio das
várias partes que a compõem — para uma visão das partes — por meio da totalidade, causa de sua existência —, como uma forma de moção
intelectual perpétua, procurando fazer uma ser explicação para a outra.
Obviamente essa trajetória está ligada ao "círculo hermenêutico" de Dilthey (1979), essencial tanto para interpretações etnográficas como
para interpretações educacionais. O trabalho etnográfico é marcado pela tentativa de compreender a maneira de viver e os veículos por meio
dos quais essa maneira de viver se manifesta.
A possibilidade de compreender o outro passa pela capacidade dele de abrir-se para manifestar a própria experiência de estar sendo. Seja
qual for a compreensão daquilo que os sujeitos realmente são, ela não depende de que o pesquisador tenha, pessoalmente, a experiência ou a
sensação de estar sendo. A compreensão depende de uma habilidade para analisar seus modos de expressão, e ser aceito contribui para o
desenvolvimento dessa habilidade. Entender a forma e a força da vida interior dos sujeitos parece-se
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mais com compreender o sentido de um provérbio,


captar uma alusão, entender uma piada, do que conseguir uma comunhão de espíritos.
O processo da abordagem etnográfica move-se entre uma compreensão do que é o outro em seu próprio espaço e a possibilidade de interferir
ou de agir em seu universo experiencial e conceituai.
Portanto, a pesquisa, mais do que descrever o mundo do outro, precisa explicá-lo para poder compreender os significados contidos em cada
gesto e ação realizados por um sujeito particular ou por ações coletivas. É importante frisar que a descrição (e a descrição densa) constitui
precondição da explicação e da compreensão da pesquisa, efetuadas após um processo metódico de análise das descrições. Estas, na comunicação
do trabalho, são expressas por categorias que poderão evoluir para conceitos, permitindo ao pesquisador atribuir sentido ao mundo dos sujeitos.

1. A abordagem etnográfica e seus pressupostos

Segundo Ezpeleta e Rockwell (1985; 1986), a etnografia refere-se tanto a uma forma de proceder na pesquisa de campo como ao produto final
da pesquisa. Costuma-se, também, identificá-la como método, porém insiste-se muito mais em que ela seja um enfoque, uma abordagem ou uma
perspectiva; algo que articula o método com a teoria, mas não esgota os problemas nem de um nem de outro. Com efeito, os problemas
metodológicos e teóricos fazem parte de um mesmo universo investigativo que compõe a estrutura epistemológica do conhecimento sobre as
dimensões da cultura de um grupo étnico, de uma sociedade em particular ou, então, de determinado grupo de sujeitos no interior de um Estado-
nação.
Segundo Geertz (1989, p. 4), a etnografia é uma prática.
Praticar a etnografia é estabelecer relações, selecionar informantes, transcrever textos, levantar genealogias, mapear campos, manter um diário /.../.
Mas não são essas coisas, as técnicas e os processos determinados, que definem o empreendimento. 0 que define é o tipo de esforço intelectual que ele
representa: um risco elaborado para uma "descrição densa".
Pode-se dizer que a pesquisa etnográfica é uma atividade observadora e interpretativa realizada pela análise de algo que é público. A análise
fixa-se, portanto, nas estruturas de significação a fim de determinar sua base social e sua importância. Desse modo,
o etnografia é uma descrição densa. 0 que o etnágrafo enfrenta de jato \.„)éuma multiplicidade de estruturas conceituais complexas, muitas delas
sobrepostas ou amarradas umas às outras, que são simultaneamente estranhas, irregulares e ínexplícitas, e que ele tem que, de alguma forma,
primeiro aprender e depois apresentar. E isso é verdade em todos os níveis de atividade do seu trabalho de campo, mesmo o mais rotineiro: entrevistar
informantes, observar rituais, deduzir os termos de parentesco, traçar as linhas de propriedade, fazer o censo doméstico... escrever seu diário. Fazer
etnografia é como tentar ler /.../ um manuscrito estranho, desbotado, cheio de elipses, incoerências, emendas suspeitas e comentários tendenciosos,
escrito não com os sinais convencionais do som, mas com exemplos transitórios de comportamento modelado (Geertz, 1989, p. 7).
O trabalho etnográfico está ligado a um processo de compreensão da totalidade da cultura, embora se dê com base numa realidade bem
particular e específica. Para apreender a abordagem etnográfica, é preciso partir de uma compreensão de cultura, na qual essa perspectiva tem
origem. Nesse sentido, assume-se aqui a posição de Geertz (1978, p. 15), que diz: "O conceito de cultura que eu defendo ê essencialmente semiótico.
Acreditando que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; não como uma
ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado."
Nessa mesma linha, "a cultura ¿ pública porque o significado o f (Geertz, 1978, p. 22). O trabalho de pesquisa de cunho etnográfico torna-se
importante e significativo justamente porque somente ele permite a compreensão do todo da cultura em sua dinâmica e nas relações particulares
que a compõem.
Como sistema entrelaçado de signos interpretáveis, a cultura não é um poder, algo ao qual podem ser atribuídos casualmente os
acontecimentos sociais, os comportamentos, as instituições ou os processos; constitui, antes, um contexto, algo dentro do qual eles podem ser
descritos de forma inteligível, ou seja, com densidade, evidenciando os elementos mais sutis como fundamentais para perceber os significados
latentes nas relações culturais.
A cultura é tratada puramente como sistema simbólico pelo isolamento de seus elementos, especificando as relações internas entre eles e
passando então a caracterizar todo o sistema de uma forma geral. A etnografia busca justamente a compreensão completa de um sistema
simbólico, analisando suas particulares nuanças.
A análise cultural é uma espécie de adivinhação dos significados, uma avaliação das conjecturas, um delineamento de conclusões explanatórias
com base nas melhores hipóteses, e não a descoberta do continente do significado e o mapeamento de sua paisagem incorpórea.
O ponto global da abordagem semiótica da cultura é auxiliar o pesquisador na obtenção do acesso ao mundo conceptual em que vivem os
sujeitos investigados, de sorte que possa, por meio do diálogo, compreender o que eles são e como constroem os sentidos para suas relações.
No processo de pesquisa, a dupla tarefa é descobrir as estruturas conceituais que informam os atos dos sujeitos, o "dito" no discurso social, e
construir um sistema de análise nos termos do que é genérico a essas estruturas, do que pertence a elas porque são o que são e se destacam em
relação a outros determinantes do comportamento humano.
Olhar as dimensões simbólicas da ação social não significa afastar-se dos dilemas existenciais da vida em favor de algum domínio empírico
de formas que não envolvam emoção; significa, antes, mergulhar no meio delas, penetrar em sua profundidade, para captar o sentido de ser no
significado público e manifesto da cultura, pois somente nisso o pesquisador pode "tocar" para construir a visão da cultura que são os sujeitos
e ele próprio.
Captar o sentido implica perceber a coerência das relações estabelecidas com base nas informações fornecidas ao pesquisador. A força da
interpretação não repousa na rigidez com que essas relações se mantêm ou na segurança com que são sustentadas numa argumentação, mas na
leitura do que acontece, sem divorciá-las do que acontece. Uma boa interpretação de qualquer coisa exige descobrir o que significa toda a
trama de significados.
Do ponto de vista metodológico, a emografia pode ser entendida à luz de três princípios procedimentais:
1. O conhecimento constitui um modo de estar no mundo, urna forma de vida e as variedades da experiencia intelectual. O uso de dados
convergentes, tais como descrições, medidas, observações e fatos coleta-dos, tem a capacidade de elucidar a vida dos individuos descritos no
processo invesrigativo. Para Geertz (1997, p. 234), "o foco em comunidades naturais, grupos de pessoas que estão ligadas entre si de múltiplas maneiras,
possibilita a transformação daquilo que parece ser apenas uma coleção de material heterogêneo em uma rede de entendimentos sociais que se reforçam
mutuamente".
2. O interesse em categorias lingüísticas tem a tendência de concentrar-se em palavras-chave (ou, como se diz em projetos de pesquisas
educacionais, em categorias de análise) que, quando têm seu significado decifrado, iluminam toda uma forma de viver no mundo.
3. A concentração da atenção nos ritos de passagem, nas definições de papéis relativos à idade ou ao gênero, nos elos entre gerações sempre
foi elemento importante na análise etnográfica porque, ao demarcarem posições ou relacionamentos que a maioria das pessoas vivenciam, eles
parecem fornecer ao menos alguns pontos razoavelmente estáveis no redemoinho do material com que se trabalha na investigação etnográfica.
De modo geral, a etnografía é concebida como "ciência da descrição cultural" e tem como pressuposto a idéia de que o pesquisador deve
compreender o significado latente dos comportamentos dos sujeitos. Nesse sentido, o pesquisador deve exercer o papel subjetivo de participante
e o papel objetivo de observador, pondo-se numa posição ímpar para compreender e explicar o comportamento humano (Lüdke e André,
1986).
Engers (1994) sustenta que a perspectiva desse paradigma é a penetração no mundo pessoal dos sujeitos, buscando a compreensão, o
significado particular da ação das pessoas. Dessa forma, ele utiliza como critério a evidência do acordo intersubjetivo no contexto educacional.
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Pretende, ainda, desenvolver um conhecimento ideológico, assumindo que a descrição pode mostrar uma realidade dinâmica, múltipla e
holística.
Para Borges (1994), há alguns pressupostos a ser considerados no processo de construção de conhecimento que tenha como referência a
abordagem etnográfica:
• Existem realidades múltiplas, holísticas, socialmente construídas. Cada realidade forma um todo que não pode ser compreendido se isolado do
contexto.
• Há intenção entre conhecimento e conhecedor, inseparáveis em virtude de suas influências recíprocas.
• O objetivo da pesquisa é desenvolver um corpo de conhecimentos em forma de hipóteses de trabalho que descrevam um caso individual. Não se
podem generalizar os resultados da pesquisa válidos apenas em tempo e contexto determinados.
• Tudo se encontra em estado de influência mútua e simultânea, sendo impossível distinguir causas e efeitos em uma relação direta, como no caso
das ciências que usam métodos experimentais.
• A pesquisa depende de valores. É influenciada pelos valores do pesquisador, manifestos na delimitação do problema, assim como pelo
paradigma que guia a investigação, pelas teorias que embasam a coleta, a análise e a interpretação dos dados e pelos valores inerentes ao
contexto.
Nesse modelo de pesquisa, em vez de buscar causas e efeitos, é preciso considerar a sincronicidade dos fenômenos e suas diversas
possibilidades de realização. Em determinado contexto, cada elemento inte-gra-se com todos os outros. "Mas a interação não tem direcionamento,
nem precisa produzir um efeito determinado [...]que simplesmente 'acontece'como um produto da interação" (Lincoln e Guba, 1985, p. 151).
No contexto da investigação, deve-se levar em conta a interação entre o pesquisador e sua pesquisa, que se influenciam reciprocamente. O
simples ato de observar provoca modificações tanto no observador como no observado, principalmente porque, no caso da pesquisa em
educação, ambos são seres humanos e participam de culturas que se diferenciam — e, quando não se diferenciam, é necessário que o
pesquisador construa um olhar distanciado e de estranhamento sobre o modo pelo qual as relações se produzem no espaço e na cultura
estudada.
A realidade poderá ser transformada quando se deixa de limitá-la e mutilá-la com preconceitos e racionalizações, assumindo uma razão
aberta às emoções e ao desconhecido. Tal posição, assumida pela fenomenologia da existência, faz ver o mundo como paradoxo. Segundo
Lincoln e Guba (1985), o mundo parece paradoxal apenas quando se tenta descrevê-lo, e não enquanto se está vivenciando toda sua dinâmica e
complexidade. Para esses autores, o essencial da pesquisa — portanto, dos objetos a investigar — é a ação dos sujeitos em dado contexto, sempre
significativo e carregado de sentidos.
Não raro se constata a tendência de ser "realista', excluindo do real o que não se enquadra na própria visão estreita de um modo fechado, sem
lugar para o sonho e a utopia. Esquece-se que o sonho e o devaneio fazem parte da realidade interna, impulsionando transformações e
crescimento pessoal (Borges, 1994).
A educação constitui um fenômeno extremamente complexo, o qual não se pode compreender sem levar em conta todas as dimensões do ser
humano. Portanto, a pesquisa educacional constrói teorias que emergem das situações vividas, experimentadas no contexto da ação cotidiana,
pois é lá que a vida acontece em toda sua riqueza existencial.
A realidade é sempre a mesma em suas mais diversas facetas; há, porém, algumas concepções sobre sua natureza que favorecem a reflexão
sobre essa problemática:
• realidade objetiva: concepção denominada de realismo ingênuo, afirma a existência de um mundo tangível fora dos sujeitos. O conhecimento
sobre o mundo é uma aproximação do real.
• realidade percebida: é a concepção que considera a existência do real, mas não a possibilidade de conhecê-lo de forma completa. Ele pode ser
conhecido parcialmente por meio de percepções, que constituem visões incompletas do mundo.
• realidade construída: segundo tal concepção, a natureza é uma construção realizada pelos indivíduos. Considera-se o mundo tangível como
passível de muitas interpretações.
• realidade criada: essa concepção afirma não existir uma realidade pronta, acabada. O real configura-se uma criação do próprio ser humano,
não como algo definido, mas como probabilidade de vir a ser (Castro, 1994, p. 53-54).
No paradigma etnográfico, desaparece a separação entre o domínio da descoberta e o da verificação; o primeiro não é incorporado ao
processo de investigação, mas apresenta-se como um precursor dela. A dicotomia entre coleta e análise dos dados transfor-ma-se. Os dois
movimentos são realizados simultaneamente, promovendo a autodefinição da própria dinâmica da pesquisa. À medida que se vai efetuando a
coleta, vai sendo construída a interpretação, até ser alcançado um nível de redundância das informações indicativo de que o pesquisador
conseguiu o máximo de variação possível sobre dado contexto. O relato, sob a forma de estudo de caso, configura-se uma experiência vicária
que propicia ao leitor reconstruir o contexto estudado por meio de descrições densas, possibilitando-lhe atingir novas compreensões críticas com
base na leitura feita da pesquisa. A posição epistemológica que permite essa interpretação é aquela segundo a qual existem múltiplas realidades
construídas pelo sujeito cognoscitivo. Tal situação exige um processo reflexivo, o qual faculta ao pesquisador o alcance de um nível mais alto de
lucidez e integração em sua prática.
De acordo com Castro (1994), nesse paradigma, os insights, emoções, intuições, tudo é reconhecido e incorporado de forma sistemática no
processo de pesquisa, pois o pesquisador se encontra inteiro nela e se modifica em seu decurso.
O pesquisador faz parte essencial do processo, e suas habilidades pessoais é que vão, de certa forma, orientar, enriquecer ou limitar a
produção do conhecimento. O papel instrumental do qual ele se investe nessa atividade íundamenta-se na posição epistemológica assumida e na
própria experiência vivida da pesquisa, que revela "mudanças que refletem experiências passadas e futuras antecipações" (Castro, 1994, p. 59).
O pesquisador usará suas habilidades de olhar, escutar, ler. Assim, tenderá a usar entrevistas e observações, estudar em arquivos e
documentos, observar comportamentos não verbais e interpretar medidas não obstrutivas.
A seleção dos sujeitos da pesquisa seguirá a amostra intencional. Esta é definida à luz dos objetivos do estudo, que se vão esclarecendo no
próprio processo de sua realização. A amostra do estudo não é estabelecida de antemão, mas desenvolvida de forma intencional com base na
própria teoria que emerge dos dados e que é verificada com novas coletas intencionais de informação (Castro, 1994).
A análise indutiva de dados proposta pelo paradigma etnográfico pode ser concebida como o processo de dar significado aos dados coletados
em campo. Ela parte das entrevistas, das observações e envolve o estabelecimento de unidades e o processo de categorização, bastante
semelhante à análise de conteúdo (Lincoln e Guba, 1985).
Relacionada com a amostra intencional e com a análise indutiva de dados, encontra-se, nesse paradigma, a idéia de groundedtheory, que se
desenvolve com base na análise dos dados coletados, e não numa teoria que os antecede. O pesquisador parte de um foco inicial e, à medida que
vai coletando e analisando os dados, vai definindo a amostra intencional e o foco da investigação. O resultado desse processo de construção e
interpretação deverá ser negociado com os informantes c com outros grupos interessados. Resultados negociados devem ser buscados por todos
os pesquisadores naturalistas, pois a interpretação construída pelo investigador deve passar pelo crivo dos informantes e de outros envolvidos.
Os informantes possuem o direito de participar e discutir a interpretação desenvolvida pelo pesquisador (Castro, 1994).
A forma proposta de apresentação do resultado da pesquisa é o estudo de caso, que reúne as condições para conter as descrições densas e pode
ser um retrato da situação investigada de maneira holística. Também oferece a possibilidade de dar a conhecer as múltiplas concepções que
emergem do estudo realizado. O estudo de caso é considerado a forma ideal de relatório de pesquisa para o paradigma etnográfico. Sua
apresentação é problematizada, tendo em vista a audiência para a qual se dirige e as inúmeras possibilidades de comunicação do mesmo
conteúdo (Guba e Lincoln, 1981).
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As descrições densas devem ser fonte para o julgamento do contexto estudado e das possibilidades de transferência. O limite do estudo é
determinado pelo foco estabelecido na definição do problema na relação com os objetivos da investigação. A pesquisa começa com um foco
inicial que se vai definindo e se realizando no processo de construção do conhecimento. O foco do estudo determina seus limites, fixando o que vai
ser pesquisado e servindo como critério para inclusão-exclusão de novas informações. Apesar dessa especificidade do trabalho, é importante
lembrar que o registro deve atingir um universo sempre maior do que o enfoque determinado pelo pesquisador para seu objeto.
Segundo Castro (1994), nesse paradigma, os critérios para a validação de uma pesquisa são credibilidade, "transferibindade",
"depcndibilidade'' e verificabilidade.
2. O trabalho de campo como
especificidade da pesquisa etnográfica

O trabalho de campo constitui um conjunto de ações orientadoras dos procedimentos de pesquisa a ser realizada em determinado contexto
com o objetivo de compreender um objeto de investigação. A expressão "trabalho de campo" surgiu das experiências práticas dos etnógrafos
que procuraram e procuram validar o conhecimento das culturas ou dos grupos étnicos estudados com base nas ciências sociais ou, mais
especificamente, na Antropologia. Trata-se de uma forma de caracterizar uma perspectiva de pesquisa não desenvolvida nos espaços da
experimentação, o que evidencia ser o conhecimento oriundo de dado contexto vivido por um conjunto de sujeitos que constroem suas relações
à medida que são significativas para o constructo de suas existências. Geralmente o trabalho de campo é apresentado com base nas técnicas da
"observação participante", no intuito de certificar que a pesquisa etnográfica implica, antes de tudo, participação efetiva na vida dos sujeitos
investigados. Compreendendo essa íntima relação, convém examinar e descrever o processo de pesquisa por meio da observação participante.
Segundo Matta (1976, p. 20),
o trabalho de campo [...] tem como uma de suas características um profundo envolvimento do pesquisador com o seu objeta de estudo que /.../ não é
um documento distante ou uma fria freqüênáa estatística, mas um conjunto de pessoas, identidades e relações caoticamente percebidas peio
investigador nos seus primeiros momentos de trabalho. É a partir deste conjunto nebuloso que [o pesqubadorj procura inventar uma forma e com
ela iluminar suas hipóteses de teorias.
O trabalho de campo é a forma utilizada pela maioria dos investigadores qualitativos para recolher

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A ETNOGRAFIA COMO PARADIGMA DE CONSTRUÇÃO DO PROCESSO DE CONHECIMENTO EM EDUCAÇÃO

seus dados de pesquisa. Como já foi dito, ele envolve estar dentro do mundo do sujeito: não como uma pessoa que sabe tudo, mas como alguém
que quer aprender; não como uma pessoa que quer ser como o sujeito, mas como alguém que procura saber o que é ser como ele. Nessa
estratégia busca-se ganhar a aceitação do sujeito não como um fim em si, mas porque isso abre a possibilidade de atingir os objetivos da
investigação (Geertz, 1978).

2.1. A observação participante como estratégia de apreensão do objeto da pesquisa etnográfica


Schwartz e Schwartz (1955, p. 345) definem do seguinte modo a observação participante:
um processo pelo qual mantém-se a presença do observador numa situação social, com a finalidade de realizar uma investigação científica. 0
observador está em relação face a face com os observados e, ao participar da vida deles, no seu cenário cultural, colhe dados. Assim o observador é
parte do contexto sob observação, ao mesmo tempo modificando e sendo modificado por este contexto.
É no seio da Antropologia que se inicia a reflexão sobre a estratégia de observação como forma de captação da realidade empírica. O texto
clássico sobre trabalho de campo nessa área é o de Malinowski (1975), fundamentado na necessidade:
• de bagagem científica do estudioso;
• dos valores da observação participante;
• das técnicas de coleta, ordenação e apresentação do que denomina "evidências''. Chama a atenção para a importância de o pesquisador
distinguir entre os resultados da observação direta relativa aos depoimentos dos sujeitos e às suas interpretações dos fatos e as interpretações e
influências do pesquisador no processo de pesquisa.
Para Malinowski (1975, p. 40), "toda estrutura de uma sociedade encontra-se incorporada no mais evasivo de todos os materiais: o ser humano".
Justamente nele e nas relações estabelecidas entre ele e as coisas que faz e pensa é que se concentra a observação como forma de percepção da
realidade.
O material da observação participante, no entender de Malinowski (1975, p. 40-44), é o conjunto de regras formuladas ou implícitas nas
atividades dos componentes de um grupo social; depois, constitui a forma pela qual essas regras são obedecidas ou transgredidas, os sentimentos
de amizade, de antipatia ou simpatia que permeiam os membros do grupo. Ou seja, é preciso observar o aspecto legal e o aspecto íntimo das
relações sociais, ao lado das tradições e costumes, o tom e a importância que lhes são atribuídos, as idéias, os motivos e os sentimentos do grupo
na compreensão da totalidade de sua vida, verbalizados por si próprios mediante suas categorias de pensamento.
Uma atitude de observador científico consiste em assumir o ponto de vista do grupo pesquisado com respeito, empatia e a maior inserção
possível. Significa abertura para o grupo, sensibilidade para sua lógica e sua cultura, lembrando-se de que a interação social faz parte da
condição e da situação de pesquisa. "Mas o etnógrafo não tem só que estender suas redes no lugar correto e esperar pelo que nela cairá. Deve ser um caçador
ativo e dirigir para elas a sua presa e segui-las até as suas tocas mais inacessíveis" (Malinowski, 1975, p. 45).

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