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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 761.557 - RS (2005/0104464-0)

RELATOR : MINISTRO SIDNEI BENETI


RECORRENTE : ALAN REPRESENTAÇÕES COMERCIAIS S/C LTDA -
MICROEMPRESA
ADVOGADO : ADEMIR CANALI FERREIRA E OUTRO
RECORRIDO : INDÚSTRIA DE CALÇADOS E ARTEFATOS CARIRI LTDA
ADVOGADOS : ZELI BENEDETTO
CAROLINA BECK
EMENTA

DIREITO COMERCIAL. CONTRATOS MERCANTIS.


REPRESENTAÇÃO COMERCIAL AUTÔNOMA. CÓDIGO
DE DEFESA DO CONSUMIDOR. NÃO INCIDÊNCIA.
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. DISPOSITIVO
LEGAL INAPTO PARA SUSTENTAR A PRETENSÃO
RECURSAL. PREQUESTIONAMENTO.
I - A relação jurídica que se estabelece entre o representante
comercial autônomo e a sociedade representada é regulada por
disciplina jurídica própria, não se aplicando as regras protetivas
do Código de Defesa do Consumidor.
II - O dispositivo legal apontado como violado revela-se,
absolutamente insuficiente para desconstituir o acórdão quanto à
valoração dos efeitos da confissão, merecendo aplicação a
Súmula 284 do Supremo Tribunal Federal.
III - Nos termos das Súmulas 282 e 356 do Supremo Tribunal
Federal, não se admite o recurso especial que suscita tema não
prequestionado pelo Tribunal de origem.
Recurso Especial improvido.

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima
indicadas, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça,
por unanimidade, negar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr.
Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Vasco Della Giustina (Desembargador convocado


do TJ/RS), Paulo Furtado (Desembargador convocado do TJ/BA), Nancy Andrighi e
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Massami Uyeda votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília, 24 de novembro de 2009(Data do Julgamento)

Ministro SIDNEI BENETI


Relator

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RECURSO ESPECIAL Nº 761.557 - RS (2005/0104464-0)

RELATOR : MINISTRO SIDNEI BENETI


RECORRENTE : ALAN REPRESENTAÇÕES COMERCIAIS S/C LTDA -
MICROEMPRESA
ADVOGADO : ADEMIR CANALI FERREIRA E OUTRO
RECORRIDO : INDÚSTRIA DE CALÇADOS E ARTEFATOS CARIRI LTDA
ADVOGADOS : ZELI BENEDETTO
CAROLINA BECK

RELATÓRIO

O EXMO SR. MINISTRO SIDNEI BENETI (Relator):

1.- ALAN REPRESENTAÇÕES COMERCIAIS S/C LTDA -


MICROEMPRESA interpõe recurso especial com fundamento na alínea "a" do inciso
III do artigo 105 da Constituição Federal, contra acórdão proferido pelo Tribunal de
Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, Relator o Desembargador VICENTE
BARRÔCO DE VASCONCELLOS, cuja ementa ora se transcreve (fls. 113):

AÇÃO DE COBRANÇA. REPRESENTAÇÃO COMERCIAL.


CASO CONCRETO. MATÉRIA DE FATO. EXCLUSIVIDADE.
CONTRATO VERBAL. PROVA A CARGO DE QUEM ALEGA.
A exclusividade para a venda de mercadorias não se presume,
cabendo à empresa representante comercial que alega fazer
prova inconteste, dependendo sempre de ajuste expresso para
que obrigue a empresa representada comercial. Precedentes.
Desse encargo, no caso vertente, a empresa autora não se
desincumbiu a contento. CONTRATO VERBAL DE
REPRESENTAÇÃO COMERCIAL. Alterações unilaterais de
contrato, às quais não se opõe o representante em prazo
razoável, consideram-se tacitamente aceitas. SUCUMBÊNCIA.
Embora a empresa autora, ora apelante, tenha sido vencedora
no aspecto jurídico, a sucumbência quanto ao econômico tem
reflexo na repartição das custas e honorários de advogado.
FIXAÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DOS
PROCURADORES DA EMPRESA AUTORA REPRESENTANTE
COMERCIAL. Devem os honorários advocatícios, que cumprirá
à empresa ré, ora apelada, desembolsar em favor da
demandante, ser em percentual sobre o valor da condenação,
atualizado, em respeito ao disposto no § 3º do artigo 20 do
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CPC, em face da natureza condenatória da demanda e se
considerando que houve condenação. Apelo provido em parte"

2.- A Recorrente alega que, ao contrário do que afirmado pelo


Tribunal de origem, deve ser aplicado, no caso dos autos, o Código de Defesa do
Consumidor. Isso, porque a situação do representante comercial, mesmo disciplinada
por lei específica, denota uma relação de consumo que pode ser capitulada no artigo 3º
da Lei 8.078/90. Ressalta que, mesmo que não seja possível esse enquadramento, seria
de rigor reconhecer que o representante comercial encontra-se técnica e
financeiramente subordinado ao representado, situação de sujeição que faria surgir
uma "relação equiparada à de consumo" prevista pelo artigo 29 da Lei 8.078/90.

3.- Assevera que, reconhecida a incidência do Código de Defesa do


Consumidor, seria o caso de se inverter o ônus da prova. O Tribunal de origem, assim
não entendendo, teria violado os artigos 6º, 29 e 51, IV, da Lei 8.078/90.

4.- Sublinha que a ausência de um contrato escrito revelaria o escopo


da representada, ora recorrida, de fraudar os direitos da representante. Da mesma
forma, a redução das comissões e a perda da exclusividade, impostas unilateralmente
pela representada, seriam claros indicativos de abuso do poder econômico.

5.- Alega contrariedade ao artigo 27, "i", da Lei 4.886/65, ao


argumento de que, embora não se possa presumir a cláusula contratual que estabelece
exclusividade na representação comercial, uma vez confessada o referido acordo, não
há que se exigir a respectiva prova escrita.

6.- Afirma que a redução dos percentuais de comissão configurou


alteração contratual que deveria ter observado a forma escrita, sob pena de ofensa aos
artigos 27, "f", da Lei 4.886/65 e 51, IV, da Lei 8.078/90, não sendo lícito presumir a
aceitação do representante.

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7.- A irresignação não foi admitida na origem, tendo seguimento por
força de agravo de instrumento convertido em recurso especial pelo E. Ministro
CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO (fls. 159/160).

É o relatório.

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VOTO

O EXMO SR. MINISTRO SIDNEI BENETI (Relator):

8.- Em maio de 2000, ALAN REPRESENTAÇÕES COMERCIAIS


S/C LTDA - MICROEMPRESA ajuizou ação de cobrança (fls. 36/42) em face de
INDÚSTRIA DE CALÇADOS E ARTEFATOS CARIRI LTDA, alegando que atuava
como representante comercial desta desde julho de 1997, com exclusividade para todo
o interior do Estado de São Paulo, percebendo mensalmente 8% (oito por cento) sobre
todos as vendas realizadas nessa área. Afirmou, na ocasião, que a ré, sem qualquer
comunicação prévia teria, em abril de 1998, reduzido para 6% o percentual da
comissão e também diminuído pela metade a área da exclusividade, prejudicando,
assim, de modo significativo, as comissões percebidas. Afirmou, ainda, que o contrato
(verbal) foi rescindido unilateralmente pela ré.

Ao final requereu (fls. 41):

(...) (a) indenização de 1/12 (um doze avos) sobre as comissões


recebidas durante a vigência do contrato, corrigidos
monetariamente; (b) aviso prévio, correspondente à média dos
três últimos meses; (c) restituição da quantia certa de R$
3.800,00 (três mil e oitocentos reais), debitada ilicitamente na
sua conta corrente, porque o débito deveria ser cobrado da
cliente, devedora da empresa representada; (d) comissões desde
a modificação unilateral e ilícita do contrato, reduzindo a zona
de exclusividade, de vendas diretas ou de outro representante
comercial, restrito à área prejudicada, com os reflexos nos itens
anteriores; (e) diferenças de comissões da redução de 8% (oito
por cento) para 6% (seis por cento), em modificação unilateral
do pacto; (f) anulação dos lançamentos em conta corrente
decorrentes de aviso de débito pelo inadimplemento das
duplicatas, por clientes; e (g) repetição dos valores pagos
indevidamente, à guisa de mostruários ou amostras, porque
comprometidas as mercadorias, por juros.

9.- A Sentença deferiu a autora apenas os pedidos "a" e "b", ou seja, a


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indenização pela rescisão imotivada do contrato, consistente em 1/12 sobre as
comissões recebidas durante a vigência do contrato, corrigidos monetariamente,
conforme previsto no artigo 27, "j", da Lei nº 4.886/65, e o aviso prévio
correspondente ao pagamento de 1/3 das comissões auferidas pelo representante nos
últimos 3 meses do contrato a que faz referência o artigo 34 do mesmo diploma (fls.
86/89).

10.- O Tribunal de origem deu provimento parcial ao apelo da autora


apenas para modificar a base de cálculo dos honorários advocatícios.

Entendeu a Corte relação jurídica entabulada entre as partes não


poderia ser tutelada pelo Código de Defesa do Consumidor; que não havia prova da
exclusividade alegada pela autora e que a redução das comissões havia sido acordada
pelas partes.

11.- A irresignação não merece prosperar.

12.- As partes estão ligadas por um contrato de representação


comercial. O artigo 1º da Lei nº 4.886/65, que regulamenta essa modalidade
contratual, o define da seguinte forma:

Exerce a representação comercial autônoma a pessoa jurídica


ou a pessoa física, sem relação de emprego, que desempenha,
em caráter não eventual por conta de uma ou mais pessoas, a
mediação para a realização de negócios mercantis, agenciando
propostas ou pedidos, para, transmití-los aos representados,
praticando ou não atos relacionados com a execução dos
negócios

13.- Trata-se de uma modalidade de contrato mercantil que se perfila


entre os contratos de colaboração , nos quais um dos contratantes (empresário
colaborador) se obriga a criar, consolidar ou ampliar o mercado de determinado
produto do outro contratante (empresário fornecedor), sendo por isso remunerado
através de comissões sobre os negócios que propicia. Confira-se, a propósito, as lições
de FABIO ULHÔA.

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São duas as formas de colaboração empresarial no escoamento
de mercadorias. Na primeira, um dos empresários contratantes
(o colaborador) compra, em circunstâncias especiais, a
mercadoria fabricada ou comercializada pelo outro (o
fornecedor) para revendê-la. Nesse grupo inserem-se os
contratos de distribuição-intermediação e de concessão
mercantil (...). Tal primeira modalidade de articulação de
esforços empresariais realiza-se por intermediação, isto é, as
partes do contrato de colaboração ocupam elos distintos da
cadeia de circulação de mercadorias. Ja na segunda forma de
colaboração, os contratantes não realizam contrato de compra e
venda mercantil; o colaborador busca empresários interessados
em adquirir as mercadorias fabricadas ou comercializadas pelo
fornecedor. Contratam a compra e venda o interessado
localizado pelo colaborador e o fornecedor. É o caso dos
contratos de mandato, comissão mercantil agência,
distribuição-aproximação e representação comercial autônoma.
(...)
A remuneração do representante, como é normal na
colaboração por aproximação, costuma ser proporcional ao
valor dos pedidos de compra e venda encaminhados através dele
ao representado (chama-se "comisão"). (COELHO, Fábio
Ulhôa. Curso de direito Comercial V. 3. 6ª ed: Saraiva, 2005,
São Paulo, pp. 93/94 e 117).

14.- A atividade do representante comercial, como se vê, é


inegavelmente profissional.

15.- Na linha dos precedentes desta Corte, só pode ser considerado


consumidor quem adquire produto ou serviço como destinatário final, não estando
caracterizada relação de consumo quando o produto ou serviço é reinserido em uma
cadeia produtiva como insumo.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. SOCIEDADE EMPRESÁRIA.


CONSUMIDOR. DESTINATÁRIO FINAL ECONÔMICO. NÃO
OCORRÊNCIA. FORO DE ELEIÇÃO. VALIDADE. RELAÇÃO
DE CONSUMO E HIPOSSUFICIÊNCIA. NÃO
CARACTERIZAÇÃO.
1 - A jurisprudência desta Corte sedimenta-se no sentido da
adoção da teoria finalista ou subjetiva para fins de
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caracterização da pessoa jurídica como consumidora em
eventual relação de consumo, devendo, portanto, ser
destinatária final econômica do bem ou serviço adquirido (REsp
541.867/BA).
2 - Para que o consumidor seja considerado destinatário
econômico final, o produto ou serviço adquirido ou utilizado
não pode guardar qualquer conexão, direta ou indireta, com a
atividade econômica por ele desenvolvida; o produto ou serviço
deve ser utilizado para o atendimento de uma necessidade
própria, pessoal do consumidor.
2 - No caso em tela, não se verifica tal circunstância, porquanto
o serviço de crédito tomado pela pessoa jurídica junto à
instituição financeira de certo foi utilizado para o fomento da
atividade empresarial, no desenvolvimento da atividade
lucrativa, de forma que a sua circulação econômica não se
encerra nas mãos da pessoa jurídica, sociedade empresária,
motivo pelo qual não resta caracterizada, in casu, relação de
consumo entre as partes.
(CC 92519/SP, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES,
SEGUNDA SEÇÃO, DJe 04/03/2009);

Conflito positivo de competência. Medida cautelar de arresto de


grãos de soja proposta no foro de eleição contratual. Expedição
de carta precatória. Conflito suscitado pelo juízo deprecado, ao
entendimento de que tal cláusula seria nula, porquanto existente
relação de consumo. Contrato firmado entre empresa de
insumos e grande produtor rural. Ausência de prejuízos à defesa
pela manutenção do foro de eleição. Não configuração de
relação de consumo.
- A jurisprudência atual do STJ reconhece a existência de
relação de consumo apenas quando ocorre destinação final do
produto ou serviço, e não na hipótese em que estes são alocados
na prática de outra atividade produtiva.
(CC 64524/MT, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
SEGUNDA SEÇÃO, DJ 09/10/2006);

COMPETÊNCIA. RELAÇÃO DE CONSUMO. UTILIZAÇÃO


DE EQUIPAMENTO E DE SERVIÇOS DE CRÉDITO
PRESTADO POR EMPRESA ADMINISTRADORA DE CARTÃO
DE CRÉDITO. DESTINAÇÃO FINAL INEXISTENTE.
– A aquisição de bens ou a utilização de serviços, por pessoa
natural ou jurídica, com o escopo de implementar ou
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incrementar a sua atividade negocial, não se reputa como
relação de consumo e, sim, como uma atividade de consumo
intermediária.
(REsp 541.867/BA, Rel. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA
RIBEIRO, Rel. p/ Acórdão Ministro BARROS MONTEIRO,
SEGUNDA SEÇÃO, DJ 16/05/2005).

16.- No caso do representante comercial autônomo, é preciso


considerar que ele, de ordinário, não toma nenhum serviço do representado. Ao
contrário ele presta um serviço, ele faz a intermediação entre o comprador e o
representado. Mesmo que se pudesse vislumbrar algum tipo de tomada de serviços,
seria preciso considerar que estes seriam insumos da atividade profissional exercida
pelo representante comercial. Por isso não se pode sustentar a incidência do Código de
Defesa do Consumidor.

17.- Nem se diga que a existência de uma subordinação técnica e


financeira do representado faria surgir uma "relação equiparada à de consumo"
prevista pelo artigo 29 da Lei 8.078/90.

18.- Como é sabido, esta Corte também tem mitigado os rigores da


teoria finalista para autorizar a incidência do Código de Defesa do Consumidor nas
hipóteses em que a parte, embora não seja tecnicamente a destinatária final do produto
ou serviço, se apresenta em uma situação de vulnerabilidade.

Processo civil e Consumidor. Rescisão contratual cumulada


com indenização. Fabricante. Adquirente. Freteiro.
Hipossuficiência. Relação de consumo. Vulnerabilidade.
Inversão do ônus probatório.
- Consumidor é a pessoa física ou jurídica que adquire produto
como destinatário final econômico, usufruindo do produto ou do
serviço em beneficio próprio.
- Excepcionalmente, o profissional freteiro, adquirente de
caminhão zero quilômetro, que assevera conter defeito, também
poderá ser considerado consumidor, quando a vulnerabilidade
estiver caracterizada por alguma hipossuficiência quer fática,
técnica ou econômica.
(REsp 1080719/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
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TERCEIRA TURMA, DJe 17/08/2009);

CIVIL. RELAÇÃO DE CONSUMO. DESTINATÁRIO FINAL. A


expressão destinatário final, de que trata o art. 2º, caput, do
Código de Defesa do Consumidor abrange quem adquire
mercadorias para fins não econômicos, e também aqueles que,
destinando-os a fins econômicos, enfrentam o mercado de
consumo em condições de vulnerabilidade;
espécie em que caminhoneiro reclama a proteção do Código de
Defesa do Consumidor porque o veículo adquirido, utilizado
para prestar serviços que lhe possibilitariam sua mantença e a
da família, apresentou defeitos de fabricação. Recurso especial
não conhecido.
(REsp 716.877/SP, Rel. Ministro ARI PARGENDLER,
TERCEIRA TURMA, DJ 23/04/2007).

O E. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO bem


destacou no REsp nº 687.322/RJ, DJ de 09/10/06, que:

Esse é um tema desafiador, porquanto se tem desenvolvido


quase sempre à sombra do conceito de destinatário final, sem
considerar, como adverte a notável jurista Cláudia Lima
Marques , que “pode ser importante para as nossas conclusões
saber que as normas do CDC são aplicáveis, por lei, a pessoa
que em princípio não poderiam ser qualificadas como
consumidores stricto sensu ” (Contratos no Código de Defesa do
Consumidor, RT, 5ª ed., 2006, pág. 318). E, ainda, sem relevar o
conceito de vulnerabilidade (art. 4º, I, do Código de Defesa do
Consumidor), pedra angular para as decisões envolvendo a
aplicação do Código de Defesa do Consumidor. É certo que a
orientação desta Corte, em várias oportunidades, tem acolhido
o que se pode chamar de interpretação finalista extensiva
procurando aplicar o Código de Defesa do Consumidor na área
dos contratos de adesão conjugando a prova da vulnerabilidade
com o conceito de destinatário final.

Também é possível localizar precedente da Corte Especial, elegendo a


vulnerabilidade como pedra de toque para a aplicação do Código de Defesa do
consumidor ao contratos mercantis.

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MANDADO DE SEGURANÇA. ATO JURISDICIONAL.
DECISÃO DE TURMA DO STJ. DESCABIMENTO. ART. 115
DO CPC. INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA. CONTRATO DE
COMPRA E VENDA MERCANTIL. CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. INAPLICABILIDADE.
(...)
3. Em se tratando de contrato de compra e venda mercantil
formalizado por "produtores rurais de grande porte", não há se
cogitar da incidência do Código de Defesa do Consumidor.
(MS 12.481/DF, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, CORTE ESPECIAL, DJe 06/08/2009).

19.- É preciso considerar, no entanto, que a subordinação técnica e


financeira que a Recorrente alega ostentar, não se confunde com a vulnerabilidade
capaz de autorizar a incidência do Código de Defesa do Consumidor.

20.- Como nos contratos de colaboração em geral, o representante


comercial autônomo (colaborador) se coloca em uma situação de subordinação em
relação ao representado (colaborado), pois deve de certa forma, seguir as orientações
deste, já que a ação articulada entre dois ou mais empresários deve ser orientada por
um deles a fim de se obter uma melhor eficiência.

O elemento comum a qualquer espécie de contrato de


colaboração é a subordinação da empresa do colaborador à do
fornecedor (Farina, 1983:381). De fato, a autuação articulada
entre dois empresários deve, por medida de racionalidade, ser
orientada por um deles. Não haveria, a rigor, nenhuma
combinação de esforços se cada empresário fosse inteiramente
livre para decidir os rumos de sua empresa na comercialização
do produto. Para que exista colaboração é necessária a
orientação geral por conta de um dos contratantes (fornecedor),
à qual forçosamente se submete o outro (colaborador).
(COELHO, Fábio Ulhôa. Curso de direito Comercial V. 3. 6ª
ed: Saraiva, 2005, São Paulo, p. 95).

21.- Embora tênue, a linha que separa a subordinação imposta pela


própria necessidade de condução dos negócios e a subordinação jurídica própria das
relações de emprego não pode ser descurada precisamente porque é ela que distingue a
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representação comercial autônoma de outras figuras. O representante comercial
autônomo não está juridicamente subordinado ao representado, sob pena de ser
caracterizada verdadeira relação trabalhista. Do escólio de RUBENS REQUIÃO
extrai-se que:

O contrato de representação comercial autônoma também não


se confunde com o contrato de trabalho, que nos termos do art.
3º da Consolidação das Leis do Trabalho se tipifica quando uma
pessoa física presta trabalho permanente, ou não eventual,
mediante salário e sob regime de subordinação. É justamente
este último elemento que estabelece a diferença entre os dois
tipos contratuais. No contrato de representação comercial,
qualificada como autônoma pala lei, não há subordinação, isto
é, o representante comercial não fica sob o comando estrito, no
sentido jurídico, do representado, que não tem o direito de
controlar o tempo de atividade daquele, impondo-lhe, por
exemplo, horários ou práticas de atos compulsoriamente
determinados, em regime de constrição acentuada. O
representante comercial é autônomo porque tem independência
técnica, econômica e jurídica. A representação comercial
autônoma implica, necessariamente, liberdade emprego de
tempo, liberdade de itinerário, podendo o profissional fixar suas
condições de operação ou execução do contrato sem maiores
limitações. (...).
Qualquer ato ou fato que embarace essa independência (...)
pode levar à descaracterização da representação comercial
autônoma e fazer surgir o contrato de Trabalho de vendedor
viajante ou pracista. (REQUIÃO, Rubens Edmundo. Nova
Regulamentação da Representação Comercial Autônoma . 3ª ed.:
Saraiva, São Paulo, 2007, p. 50/51).

22.- WALDIRIO BULGARELLI lembra que essa situação de


dependência remonta à origem história do instituto e inspirou uma disciplina legal
voltada à proteção da parte mais fraca da relação jurídica, o representante comercial.
Destaca que essa tutela, em muitos pontos se assemelha àquela dispensada aos
trabalhadores empregados pela Consolidação das Leis do Trabalho:

Os representantes comerciais autônomos provieram,


historicamente, dos viajantes, que ao se instalarem
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definitivamente numa praça acabaram também por adquirir
caráter autônomo; daí ainda decorrer certo resquício de
dependência, como se observa, na tentativa de disciplina legal,
ao se dar uma proteção legal bem assemelhada à dos
empregados. A propósito a Lei nº 4.886/65 é exemplo manifesto,
tendo colhido, por certo, na Consolidação das Leis do Trabalho,
subsídios para regular a situação do representante comercial
autônomo, estipulando figuras afins, como o prévio aviso, a
indenização etc. (BULGARELLI, Waldirio. Contratos
Mercantis . 13ª ed.: Atlas, São Paulo, 2000, p. 513).

23.- Quanto ao ponto, à guisa de conclusão, tem-se que: i) o


representante comercial autônomo não adquire do fornecedor nenhum produto ou
serviço como destinatário final, não sendo, por isso, considerado consumidor nessa
relação jurídica; ii) os precedentes desta corte que adotam uma interpretação finalista
estendida para a conceituação do consumidor, que leva em consideração o critério da
vulnerabilidade, não aproveita o representante comercial autônomo. Isso porque,
embora ele esteja de certa forma subordinado ao fornecedor, não se confunde essa
subordinação com o conceito de vulnerabilidade contratual; e iii) mesmo que se
pudesse justapor os conceitos de vulnerabilidade e subordinação, tal circunstância,
justamente por ser ínsita à modalidade de contrato mercantil em consideração já
inspirou o legislador pátrio a criar, na Lei nº 4.886/65, mecanismos específicos de
proteção ao representante comercial. Não seria adequado, assim, sustentar que o
mesmo desquilíbrio entre os pólos da relação jurídica seja suficiente para determinar a
incidência cumulativa das regras protetivas de dois sistemas normativos. Ter-se-ia, na
hipótese, uma espécie de bis in idem em prejuízo do fornecedor (representado).

24.- O Recorrente ainda alega que o Tribunal de origem teria violado


o artigo 27, "i", da Lei 4.886/65, ao argumento de que, embora não se possa presumir a
cláusula contratual que estabelece exclusividade na representação comercial, uma vez
confessada o referido acordo, não se poderia exigir prova escrita nesse sentido.

A linha argumentativa apresentada não suscita ofensa, porém, ao


artigo de lei indicado, mas às regras de valoração das provas. O dispositivo legal
apontado como violado revela-se, por isso, absolutamente insuficiente para sustentar a
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pretensão recursal, merecendo aplicação a Súmula 284 do Supremo Tribunal Federal.

25.- Também se argúi que a redução dos percentuais de comissão teria


configurado alteração contratual que deveria ter observado a forma escrita, sob pena
de ofensa aos artigos 27, "f", da Lei 4.886/65, não sendo lícito presumir a aceitação do
representante. Mas o dispositivo legal em comento não foi examinado de forma
expressa pelo Tribunal de origem e tampouco foram opostos embargos de declaração
com esse objetivo. O tema ressente-se, por isso, do necessário prequestionamento,
incidindo as Súmulas 282 e 356 do Supremo Tribunal Federal.

26.- Ante o exposto, nega-se provimento ao Recurso Especial.

Ministro SIDNEI BENETI


Relator

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2005/0104464-0 REsp 761557 / RS

Números Origem: 10200034870 200401846632 24755 70008500662 70009089244


PAUTA: 24/11/2009 JULGADO: 24/11/2009

Relator
Exmo. Sr. Ministro SIDNEI BENETI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro SIDNEI BENETI
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JOÃO PEDRO DE SABOIA BANDEIRA DE MELLO FILHO
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ALAN REPRESENTAÇÕES COMERCIAIS S/C LTDA - MICROEMPRESA
ADVOGADO : ADEMIR CANALI FERREIRA E OUTRO
RECORRIDO : INDÚSTRIA DE CALÇADOS E ARTEFATOS CARIRI LTDA
ADVOGADOS : ZELI BENEDETTO
CAROLINA BECK
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto do
Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do
TJ/RS), Paulo Furtado (Desembargador convocado do TJ/BA), Nancy Andrighi e Massami Uyeda
votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 24 de novembro de 2009

MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA


Secretária

Documento: 931939 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/12/2009 Página 1 6 de 16

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