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RESUMO
1. INTRODUÇÃO
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vigorar em 28/03/2007 e, nos casos das distribuidoras, passarão a ser de 0,3% a partir de
01/01/2011 (ANEEL, 2007b).
Em quase uma década, desde 1998, os investimentos obrigatórios em P&D nas áreas
de geração, transmissão e distribuição, já totalizaram R$ 1,15 bilhão aplicados em 3.695 pro-
jetos. No ciclo de P&D iniciado em 2005 e concluído em 2006, os investimentos das conces-
sionárias de geração, transmissão e distribuição, atingiram R$ 260 milhões. No ciclo iniciado
em setembro de 2006, o valor total previsto deve chegar a R$ 300 milhões (ANEEL, 2007a,
p.8-9). Tal montante de recursos ilustra a relevância potencial desses investimentos para as
empresas e a sociedade em geral. Entretanto, os resultados da P&D no setor têm sido objeto
de críticas. Por exemplo, Souza e Nicolsky (2005, p.6) consideram que o modelo estabelecido
pela Lei n° 9991/2000, apesar de, por um lado, representar um significativo “avanço em rela-
ção ao estágio anterior, por outro lado faz inafastável a constatação de que seus resultados, no
que diz respeito ao estabelecimento de uma efetiva inovação tecnológica do setor ou a um
conseqüente incremento qualitativo industrial setorial, são pífios”.
No âmbito da complexidade do Setor Elétrico Brasileiro e das particularidades das es-
tratégias de empresas que atuam em diferentes ramos, o presente estudo tem como foco inves-
tigar estratégias utilizadas em P&D e em inovações nas empresas pertencentes aos ramos de
geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Mais especificamente, o seu objetivo é
analisar a inserção na estratégia empresarial dos investimentos de P&D oriundos dos investi-
mentos obrigatórios do setor elétrico.
2. BASES TEÓRICO-CONCEITUAIS
Na medida em que a sociedade atual passa a atuar cada vez mais sob os condicionantes
da economia baseada no conhecimento, a relativamente nova ênfase na inovação passa a ser
uma conseqüência bastante lógica desse processo, especialmente quando as preocupações se
voltam para o desenvolvimento de economias locais e regionais (HU; LIN e CHANG, 2005).
Assim, recentemente, tem crescido o número de organizações que incorporaram a “inovação”
como valor fundamental de sua atuação, e mesmo como integrante de sua missão declarada
perante o mercado e à sociedade (JOHNSTON; BATE, 2003, p.6).
A informação deixa de ser fonte de vantagem competitiva em virtude da sua ampla
disseminação; logo, o uso inovador da informação (via conhecimento) é que passa a diferen-
ciar pessoas, companhias e nações. A inovação tende a se transformar na base da competitivi-
dade das organizações no futuro, tornando-se a nova arena competitiva em que organizações –
munidas de informação semelhantes e com condições de acesso a recursos pouco diferencia-
dos – tentam superar umas às outras (JOHNSTON; BATE, 2003, p.6).
O conhecimento se constitui, portanto, no núcleo principal do crescimento econômico
na nova economia que se desenvolve. Neste contexto, o conhecimento representa “um meca-
nismo de crescimento interno”. A dependência direta de conhecimento ou da captação, siste-
matização e aplicação eficaz da informação se apresenta, ao mesmo tempo, como desafio e
como oportunidade quanto a possibilidades de desenvolvimento e injeção de tecnologias em
produtos ou processos. Com isso, a capacidade de gerar e aplicar conhecimento e a eficiência
no desenvolvimento de meios de sua utilização produtiva se tornou crucial quando se tem em
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vista o desenvolvimento de organizações ou indústrias (HU; LIN; CHANG, 2005, p.1140).
As inovações dentro das organizações podem ser vistas como a seleção, retenção e a-
plicação de conhecimentos que resultem em variações em produtos, processos e característi-
cas organizacionais (BUTLER, 1981, p.764). Considerando os reflexos práticos nas ativida-
des e resultados organizacionais, estudos têm mostrado que o desempenho dos negócios está
estreitamente relacionado com altos graus de inovação (HULL, 2004, p.168); que os níveis de
competitividade em novos segmentos ou em novas indústrias estão vinculados à capacidade
inovadora (HAGE; HOLLINGSWORTH, 2000, p.972 e ADAMS; BESSANT; PHELPS,
2006, p.21) e, ainda, que as organizações inovadoras crescem mais que as não-inovadoras
(VYAS, 2005, p.104).
As inovações têm sido utilizadas pelas empresas para diferenciar seus produtos daque-
les oferecidos pela concorrência (STEFIK; STEFIK, 2004) e as companhias com altos índices
de crescimento têm altas porcentagens de suas vendas provenientes e novos produtos, quando
comparadas a seus competidores (SIMMIE, 2004, p.1100). Assim, a inovação passou a ser o
elemento-chave para a lucratividade dos negócios (BUTLER, 1981, p.763 e JOHNSTON;
BATE, 2003).
Entretanto, devido à natureza acidental e imprevisível das invenções e, em menor in-
tensidade e com maior controle, das inovações, mesmo em ambiências não-competitivas, não
há fórmula que garanta sucesso certo para estratégias nesse sentido. A inovação independente
de resultados determinados a priori; logo, não pode ser esperada em termos pré-definidos ou
ser programada. O cálculo da rentabilidade de um novo processo é mais difícil do que nor-
malmente se imagina e, com isso, fracassos na gestão de inovações têm sido um dos aspectos
mais desanimadores de sua história. Diante disso, a questão central para o sucesso de inova-
ções não é meramente marchar rápido, mas também marchar na direção certa (VYAS, 2005,
p.104-105). Portanto, agir estrategicamente em relação à inovação vai bastante além da sim-
ples aplicação de elevadas somas de recursos financeiros em produtos e processos.
Embora inovações estratégicas possam ser críticas para o sucesso (ou sobrevivência)
em mercados dinâmicos, também podem se constituir em importante fonte de vantagem com-
petitiva em mercados mais estáveis. A organização, pois, que consegue entender os processos
de como gerar valor tanto para seus clientes quanto para si própria pode mudar as bases da
competição na sua indústria. Com novos produtos, serviços, competências, ativos ou sistemas
de negócios interagindo com maior eficiência com fins de geração de valor para o mercado, as
companhias não só redefinem padrões de geração de valor, mas também não deixam espaços
para que concorrentes sejam capazes de replicar eficientemente seus modelos de negócios.
Com isso, a elas passa ser possível jogar um mesmo jogo, mas com um conjunto diferente de
regras que lhe colocam em decidida vantagem (JOHNSTON; BATE, 2003, p.7-8).
Nessa linha, a estratégia de inovação tem sido definida como um seqüenciamento de
tomada de decisões quanto à alocação de recursos, com consistência interna e condicionada,
para cumprir objetivos da organização. A coesão e a consistência na alocação de recursos
normalmente são buscadas sob os ditames de arcabouços estratégicos corporativos que indi-
cam que as decisões emanadas do sistema de gestão devem ser claramente direcionadas para a
identificação e absorção de inovações em produtos e processos produtivos. Em termos mais
práticos, linhas estratégicas específicas procuram descrever posturas voltadas para a inovação
de uma organização quanto ao seu ambiente competitivo, novos produtos e planos de desen-
volvimento de mercado (ADAMS; BESSANT; PHELPS, 2006).
A estratégia de inovação, sob a ótica dos interesses internos das organizações, pode ser
vista como articulação do compromisso da organização com o desenvolvimento de novos
produtos e/ou de novos mercados. Contudo, a inovação não se restringe ao ambiente interno
da organização, ela não funciona num vácuo, uma vez que necessita de contextos estruturais
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mais amplos, formados por culturas, por comportamentos e por ações da organização condi-
cionadas por amplas estruturas da indústria em que se insere (ADAMS; BESSANT; PHELPS,
2006). Nessa linha, além dos condicionantes internos que podem interferir na capacidade de
inovação da organização, há que se considerarem aqueles de ordem sistêmica provenientes de
diretrizes emanadas de estruturas de governança e de amplos processos tecnológicos desen-
volvidos no seio de dada indústria.
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Além disso, nas organizações empresariais, as ações e esforços de P&D, em termos de inten-
sidade e concentração, podem estar dispersos ou sob uma coordenação geral ou ainda concen-
trados em um centro de P&D (VASCONCELOS, 1987).
Ressalte-se que, no caso de poucos ou ineficientes investimentos em capacitação tec-
nológica, as empresas perdem a capacidade de implementar estratégias concorrenciais, neces-
sárias para ampliar ou, até mesmo, manter, posição sustentável e duradoura no mercado
(FERRAZ; KUPFER; HAGUENAUER, 1996). A competitividade não depende apenas das
tecnologias utilizadas, mas também da eficiência com que elas são empregadas. Portanto, a
competitividade depende do esforço permanente de difusão, absorção e aperfeiçoamento de
tecnologias existentes, assim como do desenvolvimento de novas tecnologias (VIOTTI,
2003).
Os impactos da inovação tecnológica ultrapassam as fronteiras do ambiente empresa-
rial. Neste sentido, destaca-se o aspecto da adequação social e técnica da inovação, mediante
o qual se busca promover “uma adequação do conhecimento científico e tecnológico ... não
apenas aos requisitos e finalidades de caráter técnico-econômico” (DAGNINO; BRANDÃO;
NOVAES, 2004). Alguns pesquisadores, inclusive, entendem que é necessário reforçar os
“tecidos locais”, cuja capacidade de estabelecer vantagens comparativas efetivas e dinâmicas
é fundamental para o sucesso econômico (DINIZ, 2000).
Também merece destaque a crescente integração em redes e a importância do coletivo
na ação e no aprendizado institucional, que tomam forma mediante interação e cooperação
(Keable et al. apud DINIZ, 2000). Nesse contexto emergem os arranjos produtivos locais, pó-
los de desenvolvimento e outros tipos de agrupamentos, que proporcionam às empresas neles
presentes, vantagens competitivas que se traduzem em desempenho superior em relação à atu-
ação isolada (CNI, 1998 e HU; LIN; CHANG, 2005).
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ticas de inovação. No caso específico do setor elétrico, considerando a dependência vinculada
a trajetórias tecnológicas de longo prazo, tal sistema de governança buscaria, por um lado, de-
finir diretrizes para balizar a concepção e implementação de ações estratégicas para estruturar
transformações tecnológicas e, por outro, poderia minimizar os efeitos sistêmicos negativos
de tais intervenções no contexto social. Logo, em última instância, o que se busca é considerar
impactos de ordem sociotécnica, com sustentação em visões coletivas de longo prazo voltadas
ao desenvolvimento sustentável (VOß, 2003).
No Brasil, a gestão da P&D no âmbito das concessionárias, segundo Martini e Maffei
(2005, p.1,2 e 7), ainda é tratada de forma totalmente distinta. Para alguns, a obrigatoriedade
dos investimentos representa a “possibilidade de inovar e tornar a empresa mais competitiva.
Para outros, é uma maneira de aplicar recursos existentes para experimentar algumas idéias,
sem grandes compromissos [...] há quem considere P&D uma obrigação a ser cumprida. Há
ainda os indiferentes ao assunto”. Segundo tais autores, ainda existem várias barreiras a serem
transpostas para a obtenção de resultados palpáveis e entendem que é necessário contar com
uma sistemática de avaliação final dos projetos.
Diante disso, os desafios das empresas do SEB, de um lado, compreendem a busca de
satisfação as demandas da sociedade por melhorias da qualidade no fornecimento, no uso efi-
ciente da energia e na atenuação dos impactos ambientais. De outro lado, o atual modelo insti-
tucional do SEB, caracterizado por um ambiente híbrido, onde co-existem empresas públicas
e privadas, também impõe a necessidade de otimizar investimentos, aumentar a confiabilidade
e reduzir custos operacionais. Essa situação, frente ao interesse público dos serviços por elas
prestados, potencializa o tradicional conflito entre a função econômica e a social das empre-
sas, o que pode, inclusive, se refletir nas estratégias dos investimentos obrigatórios em P&D.
3. METODOLOGIA
O objetivo deste estudo foi analisar a inserção dos investimentos obrigatórios em P&D
na estratégia competitiva das concessionárias do setor elétrico brasileiro. O principal obstácu-
lo para a consecução do mesmo foi obter indicadores objetivos da execução da estratégia jun-
to às concessionárias de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Para contornar
esse obstáculo, o desenho da pesquisa foi enfocado na análise da percepção dos gestores de
P&D dessas empresas quanto à importância relativa de diversas variáveis que expressariam as
relações entre investimentos, estratégias e inovação.
Assim, o estudo foi orientado pelas seguintes questões de pesquisa: a) Quais são as a-
tividades de P&D com maior potencial inovador para a empresa e qual é o grau relativo de
importância atribuída a essas atividades? b) Quais são os principais fatores motivadores para a
concretização dos investimentos em P&D, avaliados a partir da sua importância relativa para
a empresa nos últimos cinco anos? c) Com relação à influência de variáveis na seleção e exe-
cução de projetos de P&D: c1) Quais são as características que exercem mais influência na se-
leção dos projetos? c2) Qual é o grau de integração da empresa para execução dos projetos
com empresas do mesmo grupo controlador e outras organizações? c) Quais são as caracterís-
ticas mais importantes dos fornecedores para a execução dos projetos? d) Quanto às expecta-
tivas em relação a resultados específicos e ao alinhamento estratégico dos projetos de P&D:
d1) Quais são as principais expectativas da empresa quanto aos resultados dos projetos? d2)
Quais aspectos do alinhamento estratégico são visados com a seleção dos projetos? e) Quais
foram os impactos efetivos dos projetos de P&D nos últimos cinco anos?
Para obter respostas a essas questões relacionadas às estratégias e aos resultados dos
projetos de P&D, foi realizada uma pesquisa de campo junto aos gestores de P&D das con-
cessionárias de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. A lista desses gestores,
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que são os profissionais formalmente responsáveis pela coordenação das atividades relaciona-
das aos investimentos obrigatórios em P&D nas empresas do SEB, foi obtida no portal eletrô-
nico da ANEEL.
Os dados foram coletados por meio de questionário composto por 54 perguntas fecha-
das, contemplando as variáveis relacionadas às questões de pesquisa. Cada pergunta abordou
uma estratégia aplicável em P&D e em relação à mesma foi solicitada a avaliação do seu grau
de importância por meio de uma escala com variação entre 1 e 5 (1 = irrelevante, 2 = peque-
no, 3 = médio, 4 = grande, 5 = muito grande).
A população estudada constituiu-se das 182 empresas do SEB, e a pesquisa desenvol-
veu-se entre agosto e outubro de 2008. A coleta de dados foi feita inicialmente por meio de
questionário eletrônico disponibilizado em um website, e posteriormente com o encaminha-
mento de questionário via e-mail, como forma de contornar restrições impostas por sistemas
corporativos de segurança de acesso à internet em algumas empresas. A solicitação de partici-
pação na pesquisa foi reforçada por meio de contatos telefônicos com os gestores de P&D.
Como resultado de tais procedimentos foi obtida uma amostra de 36 empresas que, em termos
relativos, representa aproximadamente 20% da população estudada.
Como nem todos os questionários apresentaram o campo de atuação da empresa pre-
enchido foi utilizado como critério de categorização do ramo de atuação a atividade principal
registrada no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas, da Receita Federal. A amostra, de acor-
do com este critério, é constituída por 14 empresas do ramo de distribuição, 13 de geração e 9
de transmissão. Quanto ao controle de capital das empresas, 21 dos questionários recebidos
provêm de empresas com controle privado e 15 público.
Diante da constatação de que os dados analisados não se subsumem à hipótese de
normalidade, procurou-se utilizar técnicas estatísticas com robustez suficiente para tolerar tal
condição, especialmente para grupos superiores a 30 casos. Assim, na análise dos dados foi
utilizada comparação entre grupos por meio da Analysis of Variance (ANOVA) one way, com
um nível de significância de p≤0,05, e estatística descritiva. Todos os cálculos foram opera-
cionalizados por meio do Software Estatístico SPSS® (SPSS, 2006).
Para avaliação da variância, antes de decidir por um teste post hoc mais adequado, foi
utilizado o teste proposto por Levene. A exploração post hoc das diferenças entre as médias
dos grupos, para os casos que apresentaram igualdade de variância, foi feita por meio do teste
de Tukey (DMS) que, segundo Maroco (2003, p.133), “é um dos mais robustos a desvios à
normalidade e homogeneidade de variâncias”. Para os casos em que não houve constatação de
homogeneidade das variâncias foi lançado mão do teste de Games-Howell, que é “mais apro-
priado quando não há igualdade de variâncias”(SPSS, 2006).
Nas subseções que seguem são apresentados os resultados da avaliação quanto à im-
portância atribuída pelas empresas para as atividades julgadas com potencial inovador, ao im-
pacto da P&D nos resultados dos últimos cinco anos, ao grau de integração da empresa com
outras instituições envolvidas na execução de atividades de P&D, à influência de variáveis
vinculadas a características de projetos e fornecedores, e, finalmente, às expectativas quanto a
resultados específicos, e ao alinhamento estratégico.
Na análise dos dados, inicialmente, foi verificada, através da ANOVA, a existência de
diferenças nas médias das variáveis entre as empresas de geração, transmissão e distribuição.
Posteriormente, com base na estatística de Levene, foram identificados os casos com e sem
igualdade de variância. A seguir, para os casos de igualdade de variâncias, foi aplicado o teste
post hoc de Tukey. Nos casos que apresentaram diferença de variância, foi utilizado o teste de
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teste post hoc de Games-Howell. A aplicação e os resultados de cada teste serão discutidos ao
longo do texto, no contexto específico da análise de cada variável.
Nas seções a seguir, a discussão das questões de pesquisa será apresentada seqüenci-
almente, a partir dos dados obtidos com as perguntas do questionário. As freqüências relativas
das respostas são detalhadas nas Tabelas 1 a 9, de acordo com a escala utilizada no instrumen-
to de pesquisa para designar a percepção do grau de importância de cada variável, conforme
escala já mencionada, compreendendo graus de 1 (irrelevante) a 5 (muito grande). No texto,
entre parênteses, são apresentadas as médias de cada questão em relação a tal escala. Esta mé-
dia é representada pelo símbolo µ.
A segunda questão de pesquisa se refere aos fatores motivadores nos últimos cinco
anos para decidir sobre investimentos P&D. Os resultados são apresentados na Tabela 2. Evi-
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dencia-se que a maior motivação é simplesmente a obrigatoriedade imposta pelas concessões
e pela legislação. Esta variável é a única percebida como de grande relevância (µ=4,17). Com
importância média se destacaram as melhorias nos serviços objetos da concessão (µ=3,24), e a
melhoria da imagem institucional (µ=3,03). De pequena importância figuraram o aumento de
desempenho econômico-financeiro (µ=2,31) e o lançamento de novos serviços ou produtos
(µ=2,03). Neste conjunto de variáveis, destaca-se a pequena importância relacionada a aspec-
tos competitivos e de orientação ao mercado. O desenvolvimento de novos negócios (µ=1,93),
a conquista de novos mercados (µ=1,76) e a redução da concorrência (µ=1,62) foram avalia-
dos como fatores motivadores irrelevantes.
Tabela 2 - Grau de importância de diversos fatores para a concretização dos investimentos em P&D
Fatores motivadores nos últimos cinco anos 1 2 3 4 5
Obrigatoriedade imposta pelas concessões e legislação 8% - 8% 36% 47%
Melhoria dos serviços objeto da concessão 6% 11% 46% 29% 9%
Aumento do desempenho econômico-financeiro 12% 50% 26% 9% 3%
Melhoria da imagem institucional 8% 25% 28% 33% 6%
Lançamento de novos produtos ou serviços 33% 39% 14% 11% 3%
Conquista de novos mercados 43% 40% 14% 3% -
Redução do nível de concorrência 54% 31% 11% 3% -
Desenvolvimento de novos negócios 40% 34% 9% 14% 3%
Nesta seção a análise será aprofundada quanto às características dos projetos e dos
fornecedores, e ao grau de integração da empresa com outras organizações no processo de se-
leção e execução de projetos de P&D.
Globalmente, os dados da Tabela 3 sugerem que os esforços das empresas estão cla-
ramente mais direcionados à identificação de projetos que permitam a incorporação de tecno-
logias para atendimento de suas próprias demandas. Esta orientação interna é reforçada pela
importância dada a fontes externas de P&D e outros conhecimentos externos, e pela fraca ori-
entação às demandas e necessidades do mercado.
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O teste post hoc de Tukey aponta que as atividades de P&D e outras atividades de ino-
vação possuem diferentes graus de integração em “empresas de um mesmo controlador” nos
ramos de distribuição e transmissão. No ramo de distribuição essa integração apresenta pe-
queno grau de importância (µ=2,64) ao passo que no ramo de transmissão é de grande impor-
tância (µ=4,22) a execução das atividades vinculadas à inovação dentro de um mesmo grupo
controlador. Isso, a principio, é procedente, pois nem todas as concessionárias fazem parte de
um grupo com outras empresas atuantes no setor.
Globalmente, os resultados indicam aproximação das empresas com universidades e
centros de P&D, e com as demais empresas do setor. Considerando o perfil, principalmente
das duas primeiras instituições, surgem indícios de que a fonte de inovação no SEB possa es-
tar mais vinculada à pesquisa básica do que em tentativas de buscar soluções oriundas de for-
necedores e empresas de consultoria.
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Esta seção analisa as expectativas das empresas quanto aos resultados específicos dos
projetos de P&D, e os aspectos do alinhamento estratégico que são visados com a seleção dos
projetos.
Tendo em conta o grau de influência na seleção de projetos de P&D no que diz respei-
to à preocupação com a “melhoria dos indicadores sociais em âmbito local ou regional”, o tes-
te post hoc de Tukey indica há diferenças significativas entre os ramos de distribuição e
transmissão. No ramo de transmissão a influência é irrelevante (µ=1,67) ao passo em que no
ramo de distribuição a melhoria dos indicadores sociais locais ou regionais tem grau médio de
importância (µ=3,29).
Quanto às expectativas das empresas em relação à P&D para melhoria nos serviços pa-
ra os consumidores, o teste de Games-Howell indica que houve diferença significativa entre
os ramos de distribuição e de transmissão. A média do ramo de distribuição (µ=4,21) foi supe-
rior à do ramo de transmissão (µ=3,96).
Em consonância com os resultados obtidos na Tabela 1, os dados da Tabela 6 refor-
çam que o foco da P&D está voltado essencialmente para melhorias de processos internos e
tem como objetivo principal a redução de custos internos. Como a Tabela 6 trata de expectati-
vas que as empresas detêm quando da seleção de projetos de P&D, talvez aqui sejam encon-
trados alguns indícios de respostas para a pequena relevância dos projetos executados quanto
à produção de externalidades positivas para a sociedade ou de resultados estratégicos para as
próprias empresas.
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Aderência às diretrizes estratégicas da empresa 3% 11% 25% 31% 31%
Aderência às necessidades operacionais da empresa - 9% 11% 40% 40%
Aderência às políticas governamentais 23% 26% 29% 23% -
Aderência às necessidades dos consumidores 6% 26% 23% 31% 14%
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dores”. Nesse quesito também foi observado que a média do ramo de geração (µ=1,64), situa-
da no patamar de irrelevância, ficou bem abaixo da média do ramo de distribuição (µ=3,00),
enquadrado no grau médio na escala. Essa situação talvez seja motivada pelo fato de que as
distribuidoras atuam mais próximas aos consumidores, como já mencionado na análise dos re-
sultados da Tabela 7.
Na avaliação do impacto dos resultados de P&D no “desenvolvimento de novos negó-
cios”, o teste de Tukey indicou que houve diferenças significativas entre os ramos de distribu-
ição e transmissão. No ramo de distribuição (µ=1,71), a importância do P&D para desenvol-
ver novos negócios é irrelevante e no ramo de transmissão (µ=2,67) é pequeno. Também o-
correu diferença significativa entre os ramos de transmissão e geração. O ramo de transmissão
apresentou média bem inferior àquela do ramo de geração (µ=1,27). No ramo de geração, a
P&D como fonte de novos negócios figurou como irrelevante. Note-se que, embora haja dife-
renciação quanto à utilização da P&D como meio de desenvolvimento de novos negócios, es-
ta estratégia, em termos de importância, chega tão-somente a patamares médios.
De modo geral, os resultados da Tabela 8 demonstram que o potencial da P&D para
melhoria dos resultados das empresas tem sido pequeno. A percepção do impacto da P&D
quanto à produção de externalidades positivas no seu ambiente externo é ainda menor. Um
dos melhores índices foi obtido pela potencialidade de redução de custos operacionais
(µ=2,10). Este resultado parece estar estreitamente relacionado aos resultados das atividades
inovativas vinculadas aos processos produtivos internos, avaliadas na Tabela 1. Os dados su-
gerem que os resultados estão francamente vinculados ao desempenho global da empresa e às
melhorias de indicadores ambientais e sociais. Os impactos das inovações não chegam, por-
tanto, a ultrapassar o âmbito de melhorias em processos internos das empresas.
Estes dados abrem espaço para indagações críticas quanto aos motivos pelos quais a
P&D não tem obtido resultados estrategicamente importantes, diante dos volumes considerá-
veis de investimentos realizados no período. Respostas para isso talvez possam ser encontra-
das em análises mais específicas do perfil dos projetos implementados. Aqui surgem duas
possibilidades: a) se os projetos implementados têm prazo de retorno maior que o horizonte
de cinco anos, os resultados obtidos seriam esperados e naturais; b) se, entretanto, as contribu-
ições dos projetos deveriam ocorrer já nos cinco primeiros anos, abrem-se importantes possi-
bilidades para se investigar a própria concepção e execução dos projetos ou os critérios de a-
valiação utilizados que levaram às conclusões que sustentaram as respostas à pesquisa empre-
endida. A análise das intenções futuras das empresas em relação aos projetos de P&D, descri-
ta no item 4.4.1, propicia alguns indícios de respostas para a pequena relevância dos projetos
executados, quanto à produção de externalidades positivas para a sociedade ou de resultados
estratégicos para as próprias empresas.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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considerados de pequena importância. Além disso, a forte orientação dos investimentos para o
atendimento de demandas e problemas operacionais pode estar comprometendo um maior
grau de interações com fornecedores e fabricantes do setor.
Neste ponto, deve também ser lembrado que o core business das concessionárias não
está diretamente relacionado com a produção e comercialização de produtos, serviços, softwa-
res e outros eventuais resultados da P&D. Nessas empresas, em geral, ainda existem limita-
ções para a adoção de medidas de proteção e exploração comercial das soluções tecnológicas
oriundas dos projetos de P&D. Nesse sentido, chama a atenção o fato de terem sido conside-
radas irrelevantes as interações e as propostas de P&D de fornecedores e fabricantes do setor.
Por outro lado, quando se consideram as políticas governamentais, normalmente se
busca a potencialização das externalidades positivas e a redução das negativas decorrentes das
atividades próprias das empresas dos setores regulados. As inovações, neste ponto, em tese,
teriam, por um lado, a capacidade de ampliar a agregação de valores nos serviços prestados à
sociedade e, por outro, minimizar impactos ambientais causados pelas atividades no setor.
Com isso, haveria possibilidade das inovações se constituírem em elemento para propulsão do
desenvolvimento de economias locais e regionais. Entretanto, diferente de tais intenções, os
resultados obtidos com a pesquisa indicam que os resultados até então obtidos pouco têm con-
tribuído para o desenvolvimento local e regional e, além disso, tais objetivos ainda têm pouca
relevância para as empresas que atuam no SEB.
Os dados não permitem afirmar que a inovação esteja inserida no rol das estratégias
corporativas. De modo geral, constatou-se o contrário. É, pois, atribuída média importância
aos diversos tipos de atividades inovativas vinculadas ao desempenho da organização ou com
reflexos em variáveis importantes para o ambiente em que se inserem. Mesmo considerando
as expectativas de retorno para as empresas e que as atividades de inovação tendem a produzir
resultados de longo prazo, os resultados obtidos, até o momento, indicam que o retorno social
desses investimentos é pouco promissor. Especificamente no ramo de distribuição de energia
elétrica, já foram encontrados indícios de que os investimentos em P&D não estariam apre-
sentando impactos significativos na qualidade dos serviços nesse segmento (SILVA JR,
2008).
Os resultados da pesquisa indicam que o fator de grande importância para a concreti-
zação dos investimentos em P&D no SEB tem sido a obrigatoriedade legal imposta pelas con-
cessões e legislação aplicável ao mesmo. Entretanto, o que se sobressai como motivo de preo-
cupação, quando se consideram as diretrizes estratégicas e políticas para desenvolvimento do
SEB, é que a inovação não está inserida na estratégia competitiva das empresas, apesar do vo-
lume significativo de investimentos já realizados em P&D. Os resultados indicam que os in-
vestimentos estão sendo realizados mais em virtude da obrigatoriedade legal imposta do que
pelos seus potenciais de elevação do desempenho das empresas e de desenvolvimento local e
regional.
Outro aspecto da questão envolve as regras para execução da P&D no setor. De acordo
com um dos entrevistados, existe risco da continuidade dos investimentos obrigatórios em ra-
zão da falta alinhamento entre o discurso e a prática nos órgãos reguladores, o que estaria cau-
sando descrédito dos programas de P&D. Nesse sentido, segundo ele, seria necessária uma
regulação que evolua junto com os agentes e, em entre outras questões, enfrente o excesso de
procedimentos burocráticos, a ausência de incentivos e a preponderância da subjetividade nas
avaliações e nas respostas às empresas.
Os resultados também indicam que é recomendável a realização de novos estudos es-
pecialmente com foco na concepção, seleção e execução dos projetos de P&D, bem como so-
bre alternativas que possam ampliar sua capacidade de contribuição quanto a retornos sociais
mais significativos dos investimentos obrigatórios em P&D nas empresas que integram o
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SEB. Neste aspecto, um referencial importante para a reflexão sobre as políticas de inovação
no SEB são os sistemas de governança evolucionária, que se referem ao conjunto composto
por estratégias e instituições orientadas à ação adaptativa, integrativa e antecipativa em políti-
cas de inovação. Esta perspectiva tem importância no contexto estratégico por permitir o de-
senvolvimento de condições sócio-políticas que permitam que as discussões e definições
quanto às trajetórias tecnológicas de longo prazo ocorram de forma a contemplar as necessi-
dades tanto de controladores quanto de controlados, sempre com base nos anseios da própria
sociedade.
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