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Resumo: Com o propósito de reunir informações florísticas das gramíneas (Poaceae L.) de
formações campestres, savânicas e florestais na Fazenda Nova Esperança, município de
Sidrolândia, Mato Grosso do Sul, um dos poucos remanescentes de cerrado íntegro, foi realizado o
levantamento florístico de agosto de 2007 a julho de 2008, por meio de coletas assistemáticas,
totalizando 12 excursões. Obteve-se o total de 43 espécies de Poaceae distribuídas em 30 gêneros.
Deste total, 33 espécies são nativas e dez exóticas. Panicoideae foi a subfamília com mais espécies
(31). As demais estão distribuídas entre as subfamílias Chloridoideae (oito), Bambusoideae (duas),
Ehrhartoideae e Pooideae (uma espécie cada). O trabalho apresenta a lista de espécies confirmadas
para a área de estudo, bem como dados sobre origem, ciclo de vida, potencial forrageiro, e hábitat, a
partir de observações na área de estudo. Caracteres morfológicos de importância taxonômica
ilustrados, bem como chave para identificação das espécies são fornecidas subsidiando estudos
taxonômicos, ecológicos e fitossociológios.
Palavras-chave: Cerrado, Poaceae, florística
Abstract: This research intended to present the floristic survey of grasses (Poaceae L.) in
formations countryside and forest in Fazenda Nova Esperança, Sidrolândia, Mato Grosso do Sul,
one intact remnants of cerrado in the state. The floristic survey was performed in August 2007 to
July 2008, through asistematics collects, adding up to 12 excursions. Got up as 43 species and 30
genera of Poaceae. This total, 34 were native and 10 were exotic species. Panicoideae were the
subfamily which shows the greatest number of species (31). The other species are divided among
the subfamilies Chloridoideae (eight), Bambusoideae (two) Ehrhartoideae e Pooideae (one species
each). This paper shows a checklist of the confirmed species, data on origin, life cycle, potential
fodder, and besides habitat, from observations of the study area. Morphological characters of
taxonomic importance were illustrated, as well as identification keys providing information on
taxonomic, ecological and phytosociological.
Key words: Cerrado, Poaceae, floristic
INTRODUÇÃO
MATERIAL E MÉTODOS
Área de estudo
A Fazenda Nova Esperança (20º 45´ 34,5´´S 54º 50´ 28,7´´W), conta com uma área de 4000
ha dos quais aproximadamente 250 ha é destinado ao cultivo de soja e cerca de 2000 ha está coberto
por áreas de cerradão e mata. As formações abertas restantes correspondem a áreas de mata, brejo,
campo úmido, campo sujo, campo cerrado e cerrado s.s. (Figura 1 A-D), sendo a grande maioria
utilizada como pastagem para gado de corte. Além disso, áreas de cerrado s.s. foram nas últimas
décadas desmatadas e queimadas para implantação de pastagens cultivadas como Urochloa spp.
(braquiárias). Estas invernadas utilizadas para alocação de gado distribuem-se pela propriedade
entre áreas de vegetação nativa (Figura 1 E-F).
De acordo com Köppen o clima da região é do tipo “Aw” tropical úmido, com temperatura
média de 24º C, com estação chuvosa no verão (outubro a abril) e seca no inverno (Mato Grosso do
Sul 1990). Já o relevo da região é considerado suave ondulado com predomínio de Latossolo
Vermelho-escuro (Brasil 1982; Mato Grosso do Sul 1990).
Estudo florístico
A abreviatura do nome dos autores das espécies seguiu Brummitt & Powell (1992). Os
exemplares coletados passaram pelas técnicas usuais de herborização e foram depositados no acervo
do herbário CGMS. Duplicatas serão enviadas como doação aos demais herbários do estado de
Mato Grosso do Sul.
C D
E F
Figura 1. Área de estudo – Fazenda Nova Esperança, Sidrolândia, MS.. A. mata; B e C. campo sujo; D. campo úmido; E. pastagem
cultivada com alta lotação de gado; F. pastagem nativa em recuperação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
C D
E F G
Figura 2. Espécies da família Poaceae coletados na Fazenda Nova Esperança. A. Paspalum notatum; B. Imperata
brasiliensis; C. cultivo de Pennisetum purpureum; D. População de Digitaria insularis; E. população de Megathyrsus
maximus; F. Cenchrus echinatus; G. Oplismenus hirtellus.
1. Prefoliação conduplicada; lígula com uma linha de tricomas longos que se sobressaem
lateralmente ................................................................................................................... C. dactylon
1. Prefoliação convoluta; lígula com uma linha de tricomas longos que não se sobressaem
lateralmente .............................................................................................................. C. nlemfuensis
1. Espiguetas múticas, plantas com nós glabros, lâminas foliares lanceoladas; cultivada
.................................................................................................................................... S. officinarum
1. Espiguetas aristadas, plantas com nós pilosos, lâminas foliares lineares; não cultivada
......................................................................................................................................... S. villosum
1. Espiguetas acompanhadas de 1-3 cerdas; lema superior rugoso com sulcos transversais
conspícuos; panícula aderente ......................................................................................... S. haslerii
1. Espiguetas acompanhadas de 4-11 cerdas; lema superior com fina rugosidade transversal;
panícula não aderente .................................................................................................. S. parviflora
Áreas de cerrado s.s. foram substituídas por pastagens cutivadas de Urochloa brizantha
(braquiarão, brizantão) e U. decumbens (braquiária) que aparecem como dominantes. Atualmente,
estas duas espécies atuam como invasoras nas demais formações, inclusive nas florestais. Nas
pastagens cultivadas em meio às populações de Urochloa spp. observaram-se populações de
Paspalum notatum (capim-forquilha), espécie nativa também de elevado teor protéico e igualmente
procurada pelo gado. Ressalta-se que, representantes de Paspalum spp., possuem um bom valor
forrageiro em grande parte das espécies locais (Allem & Valls 1987), sendo extremamente
utilizadas pelos proprietários rurais.
Além disso, as populações de Urochloa spp. e de P. notatum são visualmente distintas
devido ao porte e à coloração da parte vegetativa de seus indivíduos. Enquanto as espécies de
Urochloa apresentam colmos e folhas robustas verde claro vivo, plantas de P. notatum apresentam
colmos e folhas mais delicadas e verde escuro, sendo de fácil reconhecimento até por leigos.
Figura 3. A.-B. Axonopus compressus, A. inflorescência; B. antécio superior. C-D. Chloris elata, C. inflorescência; D.
espigueta. E. Digitaria bicornis, par de espiguetas. F. Eragrostis articulata, espigueta. G. Imperata brasiliensis, espigueta. H.
Leptochloa virgata, lema. I-J. Luziola bahiensis, I. espigueta feminina; J. espigueta masculina. K. Olyra latifolia, folha com
peseudopecíolo. L. Oplismenus hirtellus, espigueta. M-N. Panicum exiguum, M. inflorescência; N. espigueta O. Paspalum
conjugatum, inflorescência. P. Paspalum notatum, rizoma. Q. Paspalum plicatulum, espigueta. R-S. Schizachyrium
condensatum, R inflorescência; S. par de espiguetas. T. Setaria parviflora, espigueta com cerdas. U. Sporobolus indicus,
espigueta
Setaria parviflora (capim-mimoso), espécie indicadora de solos alterados e pobres, se
adapta a diferentes condições de solo e clima, foi comumente encontrada em todas as áreas
amostradas (Tabela 2). Espécies consideradas ruderais como Sporobolus indicus, Melinis repens
e Digitaria insularis, sendo a última, extremamente encontrada em áreas perturbadas,
especialmente porque o gado não o procura (Allem & Valls 1987), são abundantes em muitas
áreas da propriedade, o que sugere o elevado grau de alteração das mesmas.
Saccharum officinarum (cana-de-acúcar), Zea mays (milho) e Pennisetum purpureum são
gramíneas empregadas no setor alimentício animal e cultivadas em pequena escala na
propriedade. A primeira é extremamente usada como forrageira devido sua tolerância a longos
períodos de estiagem e por apresentar alto potencial de produção de matéria seca e carboidratos
por hectare (Ferreira et al. 2002) e a segunda para a produção de grãos. As três espécies foram
observadas como escapadas de cultivo em locais alterados ou junto às edificações. Zea mays
também foi encontrada como invasora de cultivo de aveia preta.
Espécies tipicamente ombrófilas como Olyra latifolia, Oplismenus hirtellus, Luziola
bahiensis e Leptochloa virgata foram verificadas às margens e interior de cerradão e mata. Esta
última espécie também é abundante em locais extremamente antropizados, como beiras de
estradas e caminhos internos da propriedade.
Em áreas que apresentam considerável grau de umidade, como os campos úmidos
situados em baixadas é bastante comum a ocorrência de Echinochloa colona. Esta espécie forma
touceiras arredondadas e densas, que permitem seu estabelecimento em áreas degradadas, o que
lhe confere uma vantagem em termos de cobertura de solo perante as demais espécies de
gramíneas. Também em áreas de campo úmido, foi encontrado Imperata brasiliensis, invadindo
rapidamente áreas perturbadas da fazenda, devido à presença de rizomas vigorosos (Allen &
Valls 1987), que facilita sua propagação e ocupação destas áreas.
Tabela 1. Lista de espécies coletadas na Fazenda Nova Esperança e dados referentes à origem, duração de vida, potencial forrageiro, e nomes populares.
DURAÇÃO DE POTENCIAL
SUBFAMÍLIA/ESPÉCIE ORIGEM NOME(S) POPULAR (ES)
VIDA FORRAGEIRO
SUBFAMÍLIA BAMBUSOIDEAE
Chusquea selowii Ruprecht nativa plurianual alto cará
Olyra latifolia L. nativa perene alto taquari
SUBFAMÍLIA CHLORIDOIDEAE
Chloris elata Desv. nativa anual muito baixo -
Cynodon dactylon (L.) Pers. Ásia, África perene médio grama-seda
Cynodon nlemfuensis Vanderryst África perene médio -
Eleusine indica (L.) Gaertn. Velho Mundo anual nulo capim-pé-de-galinha
Eragrostis articulata (Schrank) Nees nativa anual baixo -
Eragrostis amibilis (L.) Wight &Arn. nativa anual - -
Leptochloa virgata (L.) P. Beauv. nativa perene médio -
Melinis repens (Willd.) Zizka África anual baixo capim-favorito
SUBFAMÍLIA EHRHARTOIDEAE
Luziola bahiensis (Steud.) Hitchc. nativa perene baixo -
SUBFAMÍLIA PANICOIDEAE
Andropogon gayanus Kunth África perene médio -
Axonopus compressus (Sw.) P. Beauv. nativa perene baixo grama-tapete
Axonopus fissifolius (Raddi) Kuhlm. nativa perene médio grama-tapete
Cenchrus echinatus L. nativa anual baixo carrapicho
Coelorachis aurita (Steud.) A. Camus. nativa perene - -
Digitaria aequiglumis (Hack. & Arechav.) Parodi nativa anual baixo -
Digitaria bicornis (Lam.) Roem. & Schult. nativa anual baixo capim-de-capoeira
Digitaria insularis (L.) Fedde nativa perene nulo capim-armagoso
Echinochloa colona (L.) Link Velho Mundo, Ásia anual baixo -
Hackelochloa granularis (L.) Kuntze nativa anual baixo -
Hyparrhenia rufa (Nees) Stapf nativa perene - capim-jaraguá
Imperata brasiliensis Trin. nativa perene baixo capim-sapé
Megathyrsus maximus (Jacq.) B. K. Simon & S. W. L. Jocobs África perene alto capim-colonião
Oplismenus hirtellus (L.) P. Beauv. nativa perene baixo -
Panicum exiguum Mez nativa anual baixo capim-lanudo
Paspalum conjugatum P.J. Bergius nativa perene alto capim-bananal
Tabela 1. Lista de espécies coletadas na Fazenda Nova Esperança e dados referentes à origem, duração de vida, potencial forrageiro, e nomes populares (cont.).
DURAÇÃO DE POTENCIAL
SUBFAMÍLIA/ESPÉCIE ORIGEM NOME(S) POPULAR (ES)
VIDA FORRAGEIRO
Paspalum dilatatum Poir. nativa perene alto capim-comprido
Paspalum notatum Flügge nativa perene alto grama-batatais,
capim-mato-grosso
Paspalum paniculatum L. nativa perene alto -
Paspalum plicatulum Michx. nativa perene alto macega, macega-branca
Paspalum urvillei Steud. nativa perene alto -
Pennisetum purpureum Schumach. África perene alto capim-elefante
Saccharum officinarum L. nativa perene alto cana-de-açúcar
Saccharum villosum Steud. nativa perene - -
Schizachyrium condensatum (Kunth) Nees nativa perene muito baixo rabo-de-burro
Setaria haslerri Hack. nativa perene médio -
Setaria parviflora (Poir.) Kerguélen nativa anual ou perene médio sugarana
Sporobolus indicus (L.) R. Br. nativa perene médio -
Urochloa brizantha (Hochst. ex A. Rich.) Webster África perene alto Braquiarão, brizantão
Urochloa decumbens (Stapf.) R.D. Webster África perene alto braquiária
Zea mays L. nativa anual alto milho
SUBFAMÍLIA POOIDEAE
Avena strigosa Schureb Velho Mundo anual alto aveia-preta
Tabela 2. Lista de espécies coletadas na Fazenda Nova Esperança, material testemunho, ambientes de ocorrência e comportamento (AA = área ruderal, CC = campo cerrado, CS
= campo sujo, CU = campo úmido, CD = cerradão, CO = cerrado s.s., EC = escapada de cultivo, IC = invasora de cultivo, MA = mata, MC = mata ciliar, PC = pastagem
cultivada).
AMBIENTES DE OCORRÊNCIA COMPORTAMENTO
SUBFAMÍLIA/ESPÉCIE MATERIAL TESTEMUNHO
AA CC CS CU CD CO MA MC PC EC IC
SUBFAMÍLIA BAMBUSOIDEAE
Chusquea selowii Leandro 27 X
Olyra latifolia Guglieri & Caporal 1569 X X X
SUBFAMÍLIA CHLORIDOIDEAE
Chloris elata Guglieri et al. 1358 X
Cynodon dactylon Guglieri et al. 1223 X X X
Cynodon nlemfuensis Guglieri & Caporal 1566 X X
Eleusine indica Leandro et al. 5 X X
Eragrostis articulata Guglieri & Caporal 1555 X X X
Eragrostis amablis Guglieri & Caporal 1560 X
Leptochloa virgata Leandro et al. 8 X X X
Melinis repens Leandro et al. 11 X X
SUBFAMÍLIA EHRHARTOIDEAE
Luziola bahiensis Leandro et al. 30 X
SUBFAMÍLIA PANICOIDEAE
Andropogon gayanus Guglieri & Caporal 1321 X X X
Axonopus compressus Guglieri & Caporal 1562 X X
Axonopus fissifolius Guglieri & Caporal 1255 X
Cenchrus echinatus Leandro et al. 10 X X
Coelorachis aurita Guglieri & Caporal 1554 X
Digitaria aequiglumis Guglieri et al. 1158 X
Digitaria bicornis Guglieri & Caporal 1304 X X X
Digitaria insularis Leandro et al. 7 X X X
Echinochloa colona Leandro et al. 6 X
Hackelochloa granularis Leandro et al. 29 X X
Hyparrhenia rufa Guglieri & Caporal 1324 X X X X X
Imperata brasiliensis Leandro 26 X
Megathyrsus maximus Guglieri & Caporal 1563 X
Oplismenus hirtellus Guglieri & Caporal 1283 X X X X
Tabela 2. Lista de espécies coletadas na Fazenda Nova Esperança, material testemunho, ambientes de ocorrência e comportamento (AA = área ruderal, CC = campo cerrado,
CS = campo sujo, CU = campo úmido, CD = cerradão, CO = cerrado s.s., EC = escapada de cultivo, IC = invasora de cultivo, MA = mata, MC = mata ciliar, PC = pastagem
cultivada) (cont.).
OCORRÊNCIA NOS AMBIENTES COMPORTAMENTO
SUBFAMÍLIA/ESPÉCIE MATERIAL TESTEMUNHO
AA CC CS CU CD CO MA MC PC EC IC
Panicum exiguum Guglieri et al. 1371 X
Paspalum conjugatum Guglieri et al. 1187 X X X
Paspalum dilatatum Guglieri & Caporal 1312 X
Paspalum notatum Guglieri et al. 1220 X X X X X
Paspalum paniculatum Guglieri & Caporal 1287 X
Paspalum plicatulum Guglieri & Caporal 1282 X
Paspalum urvillei Guglieri et al. 1214 X
Pennisetum purpureum Guglieri & Caporal 1565 X X
Saccharum officinarum material estéril X X
Saccharum villosum Leandro et al. 28 X
Schizachyrium condensatum Guglieri & Caporal 1556 X X
Setaria haslerri Leandro et al. 18 X X X
Setaria parviflora Guglieri et al. 1289 X X X X X X X X X X
Sporobolus indicus Leandro et al. 13 X X X
Urochloa brizantha Leandro et al. 9 X X X X X X X X
Urochloa decumbens Leandro et al. 16 X X X X X X X X
Zea mays Guglieri et al. 1427 X X X
SUBFAMÍLIA POOIDEAE
Avena strigosa Guglieri et al. 1349 X
CONCLUSÕES
Com base nos resultados obtidos é possível inferir que dentre as forrageiras encontradas
nas áreas estudadas destacam-se as espécies de Urochloa (exóticas) e Paspalum (nativas). O
maior problema de descaracterização do ambiente na fazenda Nova Esperança, foi a introdução
de espécies de Urochloa brizantha e U. decumbens que se tornaram invasoras em potencial, e
têm sido amostradas em todas as formações vegetacionais estudadas. Devido ao grande número
e abundância de gramíneas ruderais nas áreas estudadas podemos afirmar que as mesmas
encontram-se com elevado grau de alteração constituindo grande ameaça às formações nativas.
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