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1) INTRODUÇÃO
Numa sociedade organizacional e empresarial a figura do administrador ganha
muita importância, pois a geração de riqueza e bem-estar das pessoas depende em grande
parte de sua atuação.
Administrador é uma denominação geral para todo aquele (gerente, executivo,
diretor etc) que é responsável em coordenar o esforço grupal e realizar o objetivo
predeterminado pela organização. Várias abordagens procuram explicar qual deve ser o
trabalho do administrador, mas todas elas apresentam apenas uma visão parcial do tema
estudado.
Uma dessas abordagens é descrita por Herbert A. Simon no livro “comportamento
administrativo”, onde o autor mostra que é possível coordenar o esforço grupal a partir do
entendimento do processo decisório.
Para Simon, a organização é um complexo sistema (unidades interdependentes e
inter-relacionadas que formam um conjunto) de decisões e cabe ao administrador distribuir
as funções decisórias com o propósito de influenciar o comportamento das pessoas que
realizam “o trabalho físico” (nível operacional) na organização, de forma a conseguir a
integração do comportamento de seus integrantes.
2) BIOGRAFIA E OBRA
Herbert Alexander Simon (1916-2001) graduou-se em Ciência Política pela
Universidade de Chicago em 1936, onde obteve também o título de Ph.D, na área, em 1943.
Lecionou em diversas universidades norte-americanas, entre elas na Universidade Carnegie
Mellon (Pittsburgh) e no Instituto de Tecnologia de Illinois (Chicago) (PARK, BONIS,
ABUD, 1997). Iniciou suas atividades de pesquisa na Administração Pública e
posteriormente voltou-se mais à administração de empresas. Foi também, consultor do
governo e da NASA e diretor do Conselho de Pesquisas de Ciências Sociais (LODI, 1993).
Seus trabalhos sobre a decisão e o comportamento humano têm até hoje influência
marcante nos campos da Administração, Economia, Psicologia e Ciência da Computação, e
lhe renderam, além do Prêmio Nobel de Economia em 1978 (PARK, BONIS, ABUD,
1
Professor Assistente CPTL/UFMS
2
Professor Doutor EESC/USP
Seu interesse na tomada de decisões gerenciais começou em 1935, quando ainda era
estudante de graduação em Ciência Política na Universidade de Chicago e realizou um
trabalho para a disciplina de Governo Municipal, estudando um problema clássico de
orçamentação na administração do lazer público de Milwaukee, que se dividia entre o
Conselho Escolar e o Departamento de Parques. Simon verificou que a simples decisão de
distribuir recursos entre as duas divisões, ia muito além do que os manuais de economia
ensinavam, percebendo que as preferências e fidelidades do tomador de decisão,
geralmente, pesavam mais do que as considerações economicamente racionais (investir no
que traz resultados melhores). A partir desse estudo Simon viu o problema como sendo
uma questão de tomada de decisões humanas e de racionalidade limitada e em 1945
publicou Comportamento Administrativo, um estudo dos processos decisórios nas
organizações administrativas, que têm suas raízes no estudo de Milwaukee (GABOR,
2001).
3) CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
A teoria decisória da gerência proposta por Simon, em 1945, no livro
Comportamento Administrativo, é reconhecida pelos estudiosos da teoria administrativa
como pertencente à abordagem comportamental (ou behaviorista) da administração, que
estuda o comportamento do indivíduo e suas relações dentro das organizações. No entanto,
reflete uma forma modificada de comportamentalismo, pois procura demonstrar como as
escolhas individuais na organização podem ser influenciadas (BURREL E MORGAN apud
ESCRIVÃO FILHO, 1995), pela determinação de algumas premissas decisórias (critérios
em que se baseiam as decisões). Simon, dessa maneira, não se enquadra no behaviorismo
clássico (LODI, 1993), pois ele quer entender o comportamento da organização estudando a
maneira que as pessoas decidem e como a administração pode influenciar nesse processo de
tomada de decisão.
Os primeiros passos do estudo do comportamento humano podem ser situados em
1879, quando Wilhelm Wundt instalou em Leipzig um laboratório com este objetivo,
iniciando o processo de transformação da Psicologia numa ciência experimental. Leipzig
foi o local onde Hugo Munsterberg estudou, em 1885, mas foi como professor em Harvard,
em 1913, que ele publicou Psicologia e Eficiência Industrial, criando o campo da
Psicologia Industrial (GEORGE JR, 1972).
Foi a partir do fim da primeira guerra mundial que o estudo científico do
comportamento humano aplicado à Administração começa a ganhar força, inicialmente
com o exército americano recrutando pessoas que tivessem maior aptidão para aprender e
desempenhar as funções militares. Logo depois, este processo de seleção ótima ganhou as
empresas que passaram a realizar testes para medir a inteligência, aptidões específicas e
compreender características da personalidade dos candidatos (PARK, BONIS, ABUD,
1997). Durante esta época é a concepção do homem econômico que prevalece. Um ser
capaz de produzir os melhores resultados desde que possua as condições físicas ideais e
seja remunerado adequadamente.
Na década de 1930, a preocupação com o comportamento humano nas empresas foi
intensificada por dois acontecimentos: “os estudos conduzidos por Elton Mayo em
Hawthorne e a promulgação nos EUA do National Labor Relations Act em 1934,
Em relação à capacidade do ser humano, mesmo que fosse possível ter acesso a
todas as informações de que necessita, ele não seria capaz de interpretar todas as
informações disponíveis, tendo em vista a impossibilidade física de relacionar tantos fatos
em sua mente, tornando improvável a escolha da solução ideal ou a melhor alternativa
(MOTTA E VASCONCELOS, 2002).
Quanto às limitações relacionadas aos valores e conceitos de finalidades que
influenciam o tomador de decisão, a lealdade à organização por parte do administrador é
fundamental ao alcance dos objetivos organizacionais. Se os valores individuais não
coincidirem com os valores e finalidades organizacionais, o administrador pode tomar
decisões contrárias aos interesses da unidade mais ampla. Pressões afetivas, culturais e
jogos de poder influenciam no conteúdo das decisões (MOTTA E VASCONCELOS,
2002).
Em resumo, para Simon é impossível o indivíduo conhecer todas as alternativas de
que dispõe e as suas conseqüências. Por isso, a teoria administrativa, deve ser na sua
essência, a teoria da racionalidade intencional e limitada do comportamento do ser humano,
que contemporiza porque não possui meios para maximizar os resultados. A teoria deve
ficar preocupada “com os limites da racionalidade e com a maneira pela qual a organização
afeta esses limites no caso do indivíduo que vai decidir” (SIMON, 1965, p.282).
No modelo de racionalidade limitada de Simon as decisões são satisfatórias, mas
não ótimas. A otimização das decisões é uma ficção, pois elas são limitadas ou
concessões de bolsas para realização de pesquisas científicas, por exemplo, ele foi
influenciado pelo objetivo da instituição.
p.144). Para o autor essa distinção é de suma importância para a administração, pois
possibilita ao tomador de decisão a compreensão do que se entende por decisão
administrativa satisfatória (correta).
Em princípio, as proposições factuais podem ser testadas, para se determinar a sua
veracidade ou não, isto é, se o que elas afirmam a respeito de determinada coisa, ocorre ou
não na realidade. Já as proposições éticas ou valorativas não podem ser testadas ou
comparadas com fatos, pois elas expressam muito mais deveres do que fatos. “Por
conseguinte, não existe nenhuma maneira de demonstrar, empírica ou racionalmente, a
correção das proposições éticas” (SIMON, 1965, p.54-55). Isto significa que os objetivos
determinados pela organização não podem ser avaliados como corretos ou incorretos, mas
sim, em tese, os meios escolhidos para alcançá-lo. Em outras palavras, isto demonstra que
os objetivos organizacionais são estabelecidos para orientar as ações dos participantes da
organização e não para serem questionados se estão certos ou errados.
Desse modo, “se uma frase declara que determinado estado de coisas deve ser, ou
que é preferível, ou desejável, ela passa a desempenhar uma função imperativa, e não é
nem verdadeira nem falsa, nem correta nem incorreta”. Sendo assim, então como as
decisões administrativas podem ser avaliadas quanto a sua exatidão? Para responder a esta
questão Simon cita o exemplo de uma companhia de infantaria que busca vencer uma
batalha (SIMON, 1965, p.55-57):
“A surpresa constitui a essência de um ataque bem sucedido. Seus efeitos devem
ser procurados tanto em operações em pequena como em grande escala. A
infantaria alcança a surpresa, mantendo sigilo sobre a hora e o local do ataque,
camuflando suas posições, pela rapidez nas manobras de envolvimento,
dissimulações, e precauções contra processos estereotipados. O parágrafo pode
ser descrito de maneira diferente, separando-o em três frases, a primeira ética,
e as outras puramente factuais”:
1. Ataque com sucesso!
2. Um ataque só pode ser bem sucedido quando efetuado de surpresa.
3. As condições que determinam a surpresa são o sigilo quanto a hora e o
lugar do ataque, etc.
Esta ilustração, na opinião do autor, demonstra o caráter dual das decisões que o
comandante da companhia deve tomar para alcançar a surpresa (dissimular a disposição de
suas tropas) e conseqüentemente para o sucesso na batalha. Dessa forma, existe um meio
para avaliar a exatidão das decisões tomadas pelo comandante: “saber se as medidas
que toma, a fim de alcançar seus objetivos, são medidas apropriadas”. Para Simon “é
sempre possível avaliar as decisões nesse sentido relativo, podendo-se determinar, por
exemplo, se elas são corretas à luz dos objetivos a que visam”. O autor conclui dizendo:
“o que se avalia... não é a decisão do comandante de tomar certas providências, a fim de
alcançar a surpresa; o que se avalia é o julgamento para saber se as medidas que ele toma
permitirão, realmente, alcançá-la” (SIMON, 1965, p.58). No caso da universidade, o que
será avaliado é se as escolhas do corpo administrativo, docente e discente irão levar a
instituição ao conceito de excelência na produção científica.
7) CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo da obra de Simon intitulada “Comportamento Administrativo” apresenta
mais um instrumento para o executivo realizar a principal tarefa da administração: a
coordenação dos esforços organizacionais. Até Simon os mecanismos utilizados eram a
tecnologia, a estratégia (o plano), a estrutura e o comportamento (no sentido clássico).
Agora surge a tomada de decisão que assume o papel do processo administrativo para
integração dos esforços individuais e grupais.
A idéia de Simon foi formular uma teoria administrativa que possibilitasse a análise
e descrição da estrutura e do funcionamento da organização a partir da definição de
mecanismos que pudessem influenciar as decisões e o comportamento das pessoas que
realizam fisicamente os objetivos organizacionais. Cabe ao administrador definir quem irá
tomar as “decisões planejadoras” e a maneira de comunicar essas decisões (ou premissas
decisórias) ao nível executor das atividades que permitirão o alcance dos objetivos da
organização.
Simon propõe também a idéia do homem administrativo - uma alternativa ao
homem econômico e ao homem social - apresentando uma concepção de natureza humana
diferente dos estudiosos da escola clássica e de relações humanas. O homem administrativo
não é um ser nem onisciente e nem irracional, como propunham as escolas, anteriormente,
citadas, mas é um ser que age intencionalmente e é racionalmente limitado (habilidades,
valores e conhecimento) e que pode tomar decisões satisfatórias para a organização, ou
seja, corretas quando relacionadas aos objetivos pré-estabelecidos. Essas limitações devem
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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