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São Paulo
2003
LEONIDAS RAMOS PANDAGGIS
Área de Concentração:
Engenharia Mineral
Orientador:
Prof. Titular
Sérgio Médici de Eston
São Paulo
2003
Este exemplar foi revisado e alterado em relação à versão original,
sob responsabilidade única do autor e com a anuência de seu
orientador.
FICHA CATALOGRÁFICA
Isso fez com que a Justiça, além de bem cumprir seu papel, repercutisse
sua ação em benefício da prevenção de acidentes do trabalho.
ABSTRACT
Fatal accidents in the workplace is an event which has a broad impact over
those involved and because of that its call the attention of different government
entities as well as other organized stakeholders. The Judiciary represents one of
these government entities which is mobilized because each fatal accidents requires
a police inquiry which later on turn out to be the base for a due process.
An attempt was made to apply the causal tree method to investigate the fatal
accidents studied under conditions not recommend by its authors.
The incrimination connection of the health and safety due of care under the
Brazilian civil and criminal law framework was presented as well.
As a result of this agreement, the judiciary not only acted to prevail its role
but also contributes to promote health and safety prevention at the workplace.
SUMÁRIO
Lista de figuras
Lista de fotos
Lista de quadros
Lista de tabelas
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1
2 OBJETIVOS .......................................................................................................... 7
3 JUSTIFICATIVA.................................................................................................. 8
4.2.6 O diagrama..................................................................................... 59
5 A LEGISLAÇÃO .................................................................................................. 91
7 RESULTADOS...................................................................................................... 119
NR Norma Regulamentadora
1 INTRODUÇÃO
1
Na legislação trabalhista vigente no Brasil, a exposição a agentes ambientais nocivos à saúde implica
ao trabalhador percepção de adicional pecuniário variável com a gravidade da exposição.
2
2
Não conformidade é qualquer desvio dos padrões de trabalho estabelecidos, das práticas, dos
procedimentos, das normas, do desempenho do sistema etc. que podem levar direta ou indiretamente a
danos ou prejuízos à propriedade, ao meio ambiente de trabalho ou a combinação destes (British
Standards Institution, 1999).
3
A atribuição das Delegacias Regionais do Trabalho, no que diz respeito à fiscalização do
cumprimento das normas de segurança e medicina do trabalho, está consignada no inciso I do Artigo
156 da Lei Nº 6.514 de 22 de dezembro de 1977, que alterou o Capítulo V do Título II da
Consolidação das Leis do Trabalho, relativo à Segurança e Medicina do Trabalho.
4
2 OBJETIVOS
3 JUSTIFICATIVA
Ávila; Castro; Mayrink (2002) afirmam que: “...No entanto, apesar dos
avanços em termos de levantamento de informações, ressalte-se que os dados oficiais
não englobam o mercado informal, os funcionários públicos com regime próprio de
previdência e os militares. Ou seja, o real número de acidentes do trabalho
certamente é maior, entretanto, não há fontes disponíveis para mensurá-lo”.
Tabela 1
Distribuição do número de acidentes de trabalho registrados4 segundo sua
classificação e ano de registro. Brasil. 1996 a 2000.
Classificação do acidente
Ano
Típico5 Trajeto6 Doença do Total
Trabalho7
4
Os acidentes registrados correspondem ao número de acidentes cujos processos foram abertos
administrativa e tecnicamente pelo Instituto de Seguridade Social. São dados oriundos das
Comunicações de Acidentes de Trabalho - CAT registradas nos postos da Instituição.
5
Acidentes típicos são aqueles que acontecem no exercício do trabalho ou que decorrem da extensão
do conceito inserido na Lei 8.213/91.
6
Acidentes de trajeto são aqueles que acontecem no percurso entre a residência e o trabalho.
7
Doença do trabalho inclui as chamadas doenças profissionais, conforme relação específica da
Previdência Social, e aquela adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o
trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente.
10
Tabela 2
Distribuição do número de acidentes do trabalho liquidados8 segundo
conseqüência e ano de registro. Brasil. 1996 a 2000.
Conseqüência
Segundo Baumecker; Faria; Barreto (2003) para que seja potencializada nossa
capacidade de prevenção é necessário que sejam melhorados nossos conhecimentos
sobre os acidentes de trabalho; para tanto são necessárias algumas providências,
como: “garantir a emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho para todos os
universos abrangidos pelo Seguro de Acidente de Trabalho, incluindo assim os
contribuintes individuais, os trabalhadores domésticos, os empregadores (que
efetivamente trabalham), os trabalhadores por conta própria que totalizam 5.964.471.
A forma para a emissão dessa Comunicação de Acidente de Trabalho seria a mesma
dos segurados especiais (auto-emissão com avaliação da perícia) que já integram o
sistema do Seguro de Acidente de Trabalho. Todos esses segurados já têm benefícios
no caso de acidentes de trabalho, somente não são enquadrados como tais; definir a
comunicação obrigatória dos acidentes de trabalho dos servidores públicos
8
Acidentes de trabalho liquidados representa o número de processos de acidentes de trabalho
liquidados, em um determinado ano. Sempre existe uma diferença entre o número de acidentes
registrados e o número de acidentes liquidados, especialmente por causa da duração dos
procedimentos e de processos que são reavaliados.
11
9
José Pastore, na mesma entrevista à Revista CIPA, afirma que, da população. “apenas 43% estão
vinculados ao sistema previdenciário. Os demais 57% são apenas consumidores de serviços de saúde e
assistência social”.
12
dos custos diretos ou segurados no estudo realizado por Heinrich. Esse estudo
apontou uma razão de 4 para 1 entre os custos indiretos e diretos.
● gerados pelo tempo perdido por outros trabalhadores não acidentados (da área de
produção e da área administrativa);
● provocados pela dedicação das chefias intermediárias e outros ao caso para, por
exemplo, promover a investigação do ocorrido;
“Como pode ser aplicada a análise econômica à meta de criar condições mais
saudáveis e seguras de trabalho?”. Essa é a pergunta inicial formulada por Dorman
(2000) ao estudar os aspectos econômicos da Segurança e Saúde no Trabalho.
Segundo Dorman (2000), do ponto de vista de uma preocupação econômica bem
ampla, o principal dado de caráter contábil demandado pelos administradores da
empresa, em relação ao desempenho da área de Segurança e Saúde no Trabalho seria
o seu custo econômico líquido, apurado pela diferença entre o custo econômico das
atividades prevencionistas e o custo econômico da prevenção.
Quadro 1
Distinções no custo de acidentes e doenças relativas ao trabalho.
Determina o caso
Avalia se o custo toma a
econômico para
Econômico versus Não forma de dano em bens
intervenção, à parte dos
econômico e serviços aos quais
aspectos éticos e de
podem ser dados preços
Saúde Pública
envolvidos
Determina se haverá
Avalia se o custo
incentivo econômico
permanece constante
para um determinado
apesar de mudanças na
Fixo versus Variável administrador caso
incidência e gravidade
tome medidas para
das lesões e
reduzir as taxas de
enfermidades
freqüência e de
gravidade
Determina se o
Avalia se o custo é
administrador
Direto versus Indireto medido e alocado por
perceberá o incentivo
meio de métodos
econômico que de fato
contábeis rotineiros
existe
Determina a diferença
entre o incentivo
Avalia se o custo do
econômico para um
acidente é pago pela
Interno versus Externo determinado
unidade econômica que
administrador e o
o gerou
correspondente
incentivo para a
sociedade
Fonte: Adaptado de (Dorman, 2000).
17
acidentes e óbitos, que atingem cerca de dez por cento do Produto Interno Bruto
(International Labour Organization, 2003).
Competitividade e Segurança
90
80
Competitividade
70
60
Indice
50
40
30
Acidente Fatais / 100.000 Trabalhadores
20
10
0
Pa Fil UA
rtu .
M ha
s B dia
Ir a
C a ia
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N ido
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K gria
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Ch
E
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fri éx
n
Ch
lg
pa
n
ai
ún
al
é
U
Re ust
or
or
le
● desempenho econômico;
● eficiência do governo;
19
● eficiência do negócio e
● infra-estrutura.
● infra-estrutura básica;
● infra-estrutura tecnológica;
● infra-estrutura científica;
● saúde e ambiente e
● instrução.
● despesa pública com saúde (em porcentagem da despesa total com saúde);
● leis ambientais;
● outros.
10
A Fundacentro – Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho é
entidade vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego, instituída pela Lei Nº 5.161 de 21 de
outubro de 1966 e que tem como principal missão o desenvolvimento de estudos e pesquisas na área
de segurança e saúde no trabalho.
21
Cabe aqui, ainda, um esclarecimento àqueles que travarão contato com esta
dissertação. Embora a mineração esteja presente em diversas partes do texto, o
estudo de caso apresentado aborda acidente ocorrido durante a operação de uma
empilhadeira na plataforma de expedição e recebimento de materiais de uma empresa
do ramo eletro-eletrônico.
a) Apresentação e formação.
22
Nessa etapa foi feita a exposição dos fundamentos do experimento a ser feito
nas minas, realizado um exame crítico dos métodos clássicos de investigação de
acidentes, uma demonstração detalhada dos princípios de aplicação do método
proposto e apresentação de alguns exemplos e sua discussão.
Esse tratamento dos dados é constituído por duas fases, que são a construção
do diagrama e a compilação dos diagramas obtidos e posterior análise estatística.
11
Sobre a inclusão da Análise de Árvore de Falhas entre as técnicas aplicáveis à investigação de
acidentes de trabalho, a presente dissertação traz algumas considerações críticas no item 4.1 (A teoria
dos Sistemas e as Árvores).
26
Material
Tarefa Ambiente
Gerenciamento Indivíduo
Fonte: Adaptado de Canadian Centre for Occupational Health and Safety (2003).
Além desses, existem outros aspectos presentes nesse mesmo tratado que
explicitam a aplicação dos conhecimentos gerados pela investigação e análise dos
acidentes de trabalho nas atividades reputadas como de prevenção.
12
Entre as técnicas mais tradicionais pode-se citar a Análise Preliminar de Riscos (APR); a Análise de
Modos de Falhas e Efeitos (AMFE); a Técnica de Incidentes Críticos (TIC) e a Análise de Árvores de
Falhas (AAF) (De Cicco; Fantazzini 1985).
13
A visão ou abordagem sistêmica é aqui considerada como o processo de busca da compreensão de
determinado fenômeno em uma perspectiva complexa, onde são considerados os elementos do sistema
e suas inter-relações.
35
sistema como paradigma permanece larvar, atrofiado, não esclarecido; a teoria dos
sistemas sofre, portanto, de carência fundamental: tende incessantemente a cair nos
trilhos reducionistas, simplificadores, mutilantes, manipuladores de que devia
libertar-se e libertar-nos”. Portanto, segundo Morin (1998) a generalidade atribuída à
noção de sistema não é suficiente para dar à noção de sistema seu lugar
epistemológico no universo conceitual. Com essa perspectiva, ao discutir o conceito
de sistema, Morin (1998) questiona se essa visão sistêmica constitui uma teoria ou
trata-se de um paradigma.
A noção de sistema que o milagre da vida nos propicia, ainda que seja
limitada nossa percepção, é que a organização é atributo imprescindível à vida e a
complexidade da fisiologia humana é exemplo eloqüente dessa compreensão. Assim,
organização é o conceito que disciplina as interações, estabelecendo estrutura e
padrões funcionais para o sistema.
Para Villatte (1990), qualquer sistema para estar estabelecido deve responder
aos seus dois objetivos: alcançar seus objetivos externos (alcançar os objetivos para
os quais foi criado) e internos (assegurar sua própria sobrevivência).
14
Alguns conceitos fundamentais à aplicação da árvore de causas, entre eles o conceito de sistema,
são apresentados no item 4.2.1 (Os Fundamentos do Método).
37
Conforme enunciado por Kennedy (1962) apud Villatte (1990), “um sistema
homens-máquinas é uma organização dentro da qual os elementos que a compõem
são homens e máquinas que trabalham juntos para alcançar um objetivo comum e
que se encontram ligados entre si mediante uma rede de comunicações. Ainda no
propósito de bem conceituar um sistema homens-máquinas, McCornick (1964) apud
Villatte (1990) afirma que: “um sistema homem-máquina pode ser definido como
uma combinação operatória de um ou vários homens com um ou vários elementos
que interatuam para obter certos resultados (saídas) a partir de insumos determinados
(entradas), tendo em conta as exigências de um contexto determinado”.
Fogo sem
alarme
Fogo no 1º Fogo no 2º
piso sem piso sem
alarme alarme
T
Alarme Sensor Alarme Sensor
inoperante 1º piso inoperante 2º piso
falhou falhou
Alarme Linhas do
sensor
falhou Não há falharam
potência
no sistema
Falha na Não há
potência
linha de
comercial
potência
15
A sigla INRS refere-se ao Institut National de Recherche et de Sécurité, da França, que tem como
objetivo a saúde e a segurança do homem no trabalho.
41
MT1 T1 MT3
T2
Falta de revisão
nos freios do M3 M4 T3 I1
caminhão reserva
Sobrecarga do
caminhão
16
Segundo a Norma Regulamentadora 22, da Portaria nº 3.214/78 do Ministério do Trabalho e
Emprego, que trata da segurança e saúde no trabalho na mineração, o programa de gerenciamento de
riscos é composto pelas seguintes etapas (Saliba; Saliba, 2002):
17
Os tipos de ligações possíveis, suas representações e propriedades são apresentados no item 4.2.5
(As Relações entre as Variações dos Componentes).
44
com hipóteses. A grande virtude da árvore de causas é possibilitar num contexto pós-
acidente a possibilidade de aplicar uma ferramenta que é, por essência, multicausal.
Assim, as duas árvores se complementam: a análise a priori que a árvore de falhas
propicia e a análise a posteriori que se faz por meio da árvore de causas são capazes
de evidenciar aspectos úteis para o melhoramento contínuo da política de segurança e
saúde no trabalho da empresa.
De uma forma ampla, e considerando seu papel na ordem social vigente, uma
acepção concorde com os princípios das Ciências Econômicas seria que a empresa é
uma “organização econômica destinada à produção ou venda de mercadorias ou
serviços, tendo em geral como objetivo o lucro”. É essa a compreensão de empresa
explicitada no Dicionário da Língua Portuguesa Aurélio Buarque de Holanda
(Ferreira, 1975). Aqui, o termo “organização” é usado para referir-se à empresa,
como um todo. Entretanto, organização também pode ser entendida como uma das
funções administrativas, que acompanha o planejamento18 e contempla a designação
de tarefas, a forma como elas serão agrupadas e distribuídas entre os departamentos e
quais os recursos que serão alocados em cada um desses departamentos (Daft, 1999).
Neste texto o termo organização é entendido como aquele definido por Daft
(1999 p.7), segundo o qual “organização é uma entidade social que é direcionada ao
objetivo e deliberadamente estruturada. Entidade social quer dizer constituída por
duas ou mais pessoas. Direcionada ao objetivo significa destinada a atingir certos
resultados, como obter lucros, obter aumentos de salários para seus membros,
satisfazer necessidades espirituais ou prover satisfação social. Deliberadamente
estruturada quer dizer que as tarefas são divididas e as responsabilidades para o seu
desempenho são atribuídas aos membros da organização”.
18
Planejamento significa a definição de metas para o desempenho organizacional futuro, bem como a
decisão sobre as tarefas e o uso de recursos necessários para a sua realização (Daft, 1999).
48
pode se estruturar de uma maneira que, não necessariamente, seja sistêmica. Pode,
por exemplo, estar organizada de maneira que sua funcionalidade assuma caráter
sistemático, previsível e reprodutível sem, no entanto, operar como um sistema. Uma
compreensão de caráter sistêmico para organização encontra-se em Morin (1998),
para quem “uma organização constitui e mantém um conjunto ou ‘todo’ não
redutível às partes, porque dispõe de qualidades emergentes e de coações próprias, e
comporta retroação das qualidades emergentes do ‘todo’ sobre as partes”.
Para Villatte (1990), “uma empresa está composta por elementos que ela
organiza com vistas a alcançar certos objetivos (principalmente produzir bens e
serviços) dentro de um ambiente definido. Os elementos que a compõem não estão
simplesmente justapostos. Entre eles existe uma importante rede de relações: são
interdependentes. Podemos então definir empresa como sistema”.
49
Se alguém lhe pedir para definir o que é um acidente, por certo você
encontrará algumas dificuldades. A resposta não é imediata, mesmo por que sua
completa conformação irá ocorrer em função de outras informações que permitam a
correta contextualização da questão proposta.
Essa definição mistura uma visão fatalista do acidente, quando debita sua
ocorrência a uma eventualidade, com a abordagem que se pratica no mérito
previdenciário, pondo o foco na conseqüência do acidente para a vítima.
O fascínio visual que exerce uma cachoeira com queda d’água bem alta só
existe porque um grande acidente topográfico ali está presente, simplesmente. Essa
acepção de acidente que o estudo da Topografia permite não está atrelada a qualquer
causa ou efeito e isso é interessante se há a preocupação de buscar uma significação
de caráter ontológico para o acidente enquanto fenômeno.
Após a coleta dos dados pertinentes às variações dos componentes cabe fazer
um inventário de todos os fatos envolvidos. Esse inventário é realizado partindo-se
do acidente, último evento do processo sob análise, regredindo-se progressivamente
no tempo e ampliando, conseqüentemente, o universo da investigação. Na maioria
dos casos mostra-se pouco producente deter a investigação na atividade realizada
pela vítima.
Conforme Monteau (1974) apud Binder; Monteau; Almeida (1995) duas são
as questões que devem ser formuladas para cada componente da atividade ou das
atividades sob investigação. As questões são:
Quadro 2
Atividade do Indivíduo A
Indivíduo
Tarefa
Material
Meio de trabalho
Fonte: Adaptado de Binder; Monteau; Almeida (1995).
X Y
variação Y apareça, e a ligação entre os dois eventos é representada por uma seta de
traço pontilhado.
X Y
X1
X2 Y
•
•
•
Xn
58
Y1
Y2
Quadro 3
Cada um dos
antecedentes X1 e
X2 é necessário
PROPRIEDADE X é necessário e X é necessário e para a ocorrência
suficiente para suficiente para a de Y e nenhum
a ocorrência de ocorrência de Y1 e Y2 deles isoladamente
Y é suficiente. Sua
conjunção é
necessária
Y1 X1
X Y Y
REPRESENTAÇÃO X
X2
Y2
4.2.6 O diagrama
Para sistemas mais simples no seu modo operatório isso não deve implicar
maiores problemas. No entanto, para situações de maior complexidade, a superação
dessa dificuldade está intimamente relacionada com a possibilidade de reconstituição
das atividades de interesse para a investigação e análise do acidente. Esse aspecto
consta como dificuldade não só para uma investigação conduzida dentro dos
contornos do método da árvore de causas, posto que é de clara compreensão que à
medida que o conhecimento de um determinado processo cresce, cresce com ele a
capacidade investigativa em eventos desse processo.
pessoal uma, vez que o azar é pessoal”. À idéia da fatalidade está amiúde associada o
conceito do acaso. Ocorre que, conforme nos ensina Ruelle (1993), a interpretação
científica do acaso começa pela introdução das probabilidades e o acidente não se
caracteriza por ter distribuição uniforme no tempo, no espaço e nos grupos humanos,
tendo determinantes, entre outros, de caráter econômico, político e social.
Embora haja algumas identidades, o termo não deve ser confundido com os
chamados fatores de riscos da técnica do mapa de riscos. Conforme enunciado por
Nahas; Vago (2002), “fator de risco é uma condição ou um conjunto de
circunstâncias que têm o potencial de causar danos à saúde, à integridade física das
pessoas, ao ambiente, ao processo ou aos equipamentos, ou seja, é tudo aquilo que
tem o potencial de causar danos”.
É possível que seja regra geral, mas com certeza na indústria há um elevado
grau de dependência entre as políticas de segurança e manutenção; o fracasso de uma
não significa o sucesso da outra. Nesse caso, em particular, a comunicação, tanto
como manifestação cultural, quanto como política normativa da empresa,
desempenha importante papel no estabelecimento de um regime cooperativo entre as
atividades de manutenção e as exigências da segurança. O acidente da Piper Alpha19
é exemplo histórico do quão grave pode se tornar a não comunicação de uma
intervenção da manutenção a uma equipe que está assumindo o seu turno de trabalho
(Paté-Cornell, 1993). Na aviação civil, segundo Reason; Maddox (1998), a
percepção da importância da manutenção para a segurança dos vôos comerciais teve
radical transformação após o acidente do B-737 da Aloha Airlines ocorrido em 1988.
19
O acidente com a plataforma Piper-Alpha ocorreu em 6 de julho de 1988 no Mar do Norte; matou
167 pessoas e gerou perda material da ordem de bilhões de dólares (Paté-Cornell, 1993).
66
● os atos inseguros das pessoas são responsáveis pela maioria dos acidentes.
Segundo Heinrich (1941), o acidente seria causado por uma seqüência linear
de fatores que culminariam na lesão, de modo que “a ocorrência de uma lesão
passível de prevenção é a culminação natural de uma série de eventos ou
circunstâncias, as quais ocorrem invariavelmente seguindo uma ordem lógica e fixa”.
Nesse modelo cada fator é dependente do outro, constituindo uma fila que pode ser
comparada a uma fila de peças de dominó, postas de maneira tal que a queda da
primeira peça implica a queda de toda a fila. O acidente é apenas um elemento da
fila. A lógica da prevenção concebida por Heinrich é que a subtração de uma das
peças intermediárias impediria a queda da peça que simboliza o acidente ou a lesão.
“peça” seria causadora da existência da terceira, que é referida como ato inseguro e
condição insegura20. Essa “peça” seria causadora da queda da quarta “peça” (o
acidente), que por sua vez, causaria a lesão, representada pela última peça da fila.
20
Na ilustração original de Heinrich (1941), essa peça do dominó é referida como ato inseguro e risco
material ou mecânico. Na adaptação aqui realizada optou-se pela linguagem que é a mais conhecida,
que é a do ato inseguro e condição insegura.
68
Defesas
PERIGO
Perdas
Riscos
Fatores Organizacionais
ACIDENTE
21
A metodologia SOURCE™ (Seeking Out the Underlying Root Causes of Events) é baseada em
metodologia desenvolvida pelo Departamento de Energia da Westinghouse Savannah River
Corporation em 1991 (USA, 1999).
71
(1988) apud Almeida (2003) definem a causa raiz como uma “causa básica que pode
ser razoavelmente identificada e que a gerência tem meios de controle para corrigir”.
No modelo do ato inseguro versus condição insegura, dois desses três grupos
apareceriam associados, como se fossem as duas faces da mesma moeda, de maneira
que o acidente seria causado por uma falha individual ou por uma falha da
engenharia ou, quiçá com mais propriedade, por uma falha técnica, de caráter
operacional. Talvez por tomar duas pretensas categorias de causas em consideração,
essa visão tenha assumido, enganosamente, ares de visão abrangente para a
interpretação dos acidentes de trabalho e venha se perpetuando no arsenal de
recursos que os profissionais de segurança e saúde no trabalho das empresas
mobilizam para realizar a investigação e análise de acidentes.
que tiveram emissão de CAT22 e foram investigados pela CIPA da empresa. Por
conta disso, uma das principais fontes de informação foi o Anexo II da Norma
Regulamentadora 5, que vigorou até 23 de fevereiro de 1999, quando foi publicado o
texto atual da regulamentação da CIPA. Desse Anexo II, que está reproduzido na
Figura 9, a seguir, foram compiladas e processadas as informações do tópico
“Investigação do Acidente” das fichas relativas a 125 acidentes investigados pelas
respectivas Comissões Internas de Prevenção de Acidentes.
22
A sigla CAT refere-se à Comunicação de Acidente de Trabalho que deve ser feita pela empresa nos
termos do Artigo 336 do Decreto Nº 3.048, de 6 de maio de 1999 (Saliba; Saliba, 2002)
74
ANEXO II DA NR 5
EMPRESA...........................................................................................................................................
ENDEREÇO........................................................................................................................................
NOME DO ACIDENTADO...............................................................................................................
...................................................................
ENCARREGADO
INVESTIGAÇÃO DO ACIDENTE
..................................................................
MEMBRO DA COMISSÃO
CONCLUSÕES DA COMISSÃO
Tabela 3
Quantidade %
Descuido, negligência,
desatenção, exposição
54 37,77
desnecessária ao perigo
Improvisação 4 2,80
Tabela 4
Conscientizar, orientar,
insistir em maior atenção, 86 59,7
disciplinar
Insistir no uso de
16 11,1
Equipamento de Proteção
Individual
Melhorar treinamento na
3 2,1
tarefa
Melhorar equipamento,
mudar processo,
inspecionar 32 22,2
periodicamente, eliminar
condições inseguras,
melhorar sinalização
Tabela 5
Quantidade %
Tabela 6
Responsável Quantidade %
Acidentado 69 55,2
Empresa 8 6,4
Subtotal 83
teriam tido como causa fatores imprevisíveis e os demais 98%, fatores previsíveis.
Esses números são, de certa maneira, alentadores para os profissionais de segurança
e saúde no trabalho; afinal, o atributo da previsibilidade do acontecimento é condição
necessária à prática da prevenção, que emerge da relação entre o prever e o prevenir.
Assim, prevenibilidade e previsibilidade são atributos que mantém inter-relação,
embora não sejam, na linguagem estatística, mutuamente exclusivos, pois a
capacidade de prever não implica obrigatória e exaustiva capacidade de prevenir.
Voltando ao estudo realizado por Heinrich (1941) nos EUA, após definição
da natureza dos fatores quanto à previsibilidade, ele apresenta, para a fração posta
como previsíveis, uma classificação quanto aos fatores causais que é a seguinte: 10%
dos acidentes previsíveis foram causados por condições inseguras de trabalho,
enquanto 88% teriam sido causados por atos inseguros dos trabalhadores. Um
resumo gráfico dessa classificação é exposto na Figura 10, a seguir:
Acidentes
23
Oliveira (1997) registra que cada um dos tipos elencados se faz acompanhar de uma ilustração
caricatural.
24
Diz-se que o livre arbítrio é uma ilusão porque nosso espaço de ação é sempre limitado pelas
circunstâncias locais (Reason, 1997).
82
Mas depois que passei a conhecer aquele mundo subterrâneo das relações de
trabalho, eu venho afirmando com todas as letras, que nenhum acidente ocorre por
acaso, porque o trabalhador quis se acidentar, ou se descuidou. Não existe
legalmente, o que antigamente a ideologia ‘prevencionista’ chamava de ato inseguro.
Mas essa cultura de que o acidente acontece por culpa do empregado existe até hoje.
Reason (1993) afirma que a precisão de nossa previsão dos erros depende
enormemente da qualidade da nossa compreensão dos fatores envolvidos na
25
Na Conferência realizada em Genebra, no dia 22 de junho de 1993, a Organização Internacional do
Trabalho (OIT) adotou a Convenção de número 174 versando sobre a PREVENÇÃO DE GRANDES
ACIDENTES INDUSTRIAIS que envolvam substâncias perigosas cujas conseqüências resultem na
exposição de trabalhadores, população e meio ambiente a riscos imediatos ou de médio e longo prazo.
A Convenção OIT 174 foi ratificada no Brasil pelo Congresso Nacional, através do Decreto
Legislativo nº 246/2001 e sancionada pela Presidência da República por meio do Decreto 4.085, de
15.01.02 e entrou em vigor no País a partir de 02 de agosto de 2002.
85
Isso posto, o grau de complexidade do sistema sob foco atua como fator
determinante para a profundidade da leitura que se consegue fazer. Quanto mais
simples os sistema, com mais facilidade se empreende com sucesso uma abordagem
sistêmica. No entanto, para a maioria dos erros, nossa capacidade de apreensão da
26
Doutrina é o conjunto de princípios que servem de base a um sistema filosófico, científico etc.
86
Na discussão que faz sobre os erros humanos, Reason (1990) associa a noção
de erro à noção de intenção, de maneira inseparável; para ele, se existe o propósito de
fazer um inventário das diferentes formas que o erro assume, é producente começar
pela examinação dos variados tipos de comportamento intencional.
Não
Não Ação involuntária
ou sem intenção
Havia intenção
Havia intenção na
premeditada na
ação?
ação?
Sim
Ação espontânea ou
Sim subsidiária
Não
Ação não
As ações ocorreram intencional (falha ou
conforme previsto? lapso)
Sim
Não
As ações atenderam Ação intencional
os fins propostos? mas com falha
Sim
lapso, ou alguma falha como falta de atenção que provoca a realização da ação
equivocada, o que constituiria um deslize.
Robbins (1990) apud Maximiano (1997) sugere alguns indicadores para que a
cultura organizacional possa ser identificada e analisada, que são os seguintes:
Turner (1978) apud Höpfl (1994) afirma que os acidentes principais têm um
“período de incubação”, no qual ocorrem uma série de eventos não registrados ou
percebidos; isso contraria o pensamento estabelecido nas organizações de que o
sistema opera de uma maneira definida e os riscos existentes já foram caracterizados.
Sathe (1983) apud Höpfl (1994) argumenta que “as pessoas sentir-se-ão
compromissadas com os objetivos da organização quando identificam em tais
90
5 A legislação
27
De acordo com Waldvogel (2002), “apesar da denominação correta dos acidentes de trabalho
propriamente ditos ser acidente-tipo, conforme a Lei Acidentária Nº 6.367 de 1976, costuma-se adotar
o termo acidente-típico tal como é mencionado pela Previdência Social”. Essa nomenclatura adotada
pela Previdência Social tem como aspecto negativo a possibilidade de sugerir que existiriam atributos
em acidentes que os tornariam típicos do trabalho, quando o interesse maior da terminologia é apenas
diferenciar os acidentes que ocorrem durante o exercício do trabalho dos demais acidentes e das
doenças relacionadas ao trabalho.
92
28
Na NR 4, no item 4.12, que relaciona as competências dos profissionais integrantes do SESMT, no
subitem h, temos: “analisar e registrar em documento(s) específico(s) todos os acidentes ocorridos na
empresa ou estabelecimento, com ou sem vítima, e todos os casos de doença ocupacional,
descrevendo a história e as características do acidente e/ou da doença ocupacional, os fatores
ambientais, as características do agente e as condições do(s) indivíduo(s) portador(es) de doença
ocupacional ou acidentado(s);”.
29
Na NR 5, no item 5.16, que relaciona as atribuições da CIPA, no subitem l, temos: “participar, em
conjunto com o SESMT, onde houver, ou com o empregador da análise das causas das doenças e
acidentes de trabalho e propor medidas de solução dos problemas identificados;”.
93
A ampliação dessa abrangência veio com o Código Civil de 1916 que, em seu
artigo 159, resguarda o direito na relação de trabalho, ao afirmar que “aquele que,
por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito ou causar
94
a) a doença degenerativa;
30
O Anexo II referido trata-se de relação de doenças elaborada pelo Ministério da Previdência Social.
97
a) o acidente e a lesão;
b) a doença e o trabalho;
I. quanto ao segurado:
a) auxílio-doença;
c) auxílio-acidente.
99
a) serviço social;
b) reabilitação profissional.
• NR 1 Disposições Gerais
• NR 2 Inspeção Prévia
• NR 3 Embargo ou Interdição
• NR 8 Edificações
• NR 12 Máquinas e Equipamentos
• NR 14 Fornos
• NR 17 Ergonomia
• NR 19 Explosivos
• NR 25 Resíduos Industriais
• NR 26 Sinalização de Segurança
• NR 28 Fiscalização e Penalidades
Conforme distingue Pulino (1996) apud Waldvogel (2002) “há três formas de
responsabilidade na legislação acidentária. São elas: 1. a responsabilidade objetiva
do órgão de previdência social para com os beneficiários; 2. a responsabilidade
subjetiva do empregador para com o acidentado ou seus dependentes, quando aquele
agiu com dolo ou culpa; e 3. a responsabilidade subjetiva da empresa para com o
órgão previdenciário, em regresso àquilo que foi pagão por este último ao
beneficiário, nos casos em que aquele negligenciou as normas padrão de higiene e
segurança do trabalho”.
31
Negligência é a omissão voluntária de diligência ou cuidado; falta, ou demora no prevenir ou obstar
um dano (Brasil, 2003).
32
Imprudência é a forma de culpa que consiste na falta involuntária de observância de medidas de
precaução e segurança, de conseqüências previsíveis, que se faziam necessárias no momento para
evitar um mal ou a infração da lei (Brasil, 2003).
33
Imperícia é a falta de aptidão especial, habilidade ou experiência, ou de previsão, no exercício de
determinada função, profissão, arte ou ofício (Brasil, 2003).
103
A culpa grave, pela sua intensidade, pode ser equiparada ao dolo. Embora
inexista a intencionalidade que tipifica o dolo, não é exagerado supor que, na culpa
grave, o agente poderia prever as conseqüências de sua ação e evitar que fosse
consumada. O reconhecimento da existência do crime, assim entendido como
violação culposa da lei penal, em sentença condenatória, torna certa a obrigação de
reparar o dano dele resultante, pois a decisão de tal sentença reconhece a ocorrência
de ato ilícito.
34
Segundo Brandimiller (1996), “O Ministério Público é um órgão autônomo com relação aos
poderes judiciário, legislativo e executivo, incumbido de defender os interesses da sociedade, em
relação ao governo/administração pública, à ordem jurídica e aos interesses sociais e individuais
indisponíveis. A atuação do Ministério Público não se limita à esfera do judiciário. As diversas
funções do Ministério Público são exercidas pelos promotores de justiça, que, no judiciário, podem
atuar como agente, ajuizando ações civis ou criminais, pleiteando direito alheio, individual ou
coletivo; ou como interveniente, atuando obrigatoriamente como sujeito em determinados processos
como nas ações de indenização por acidente de trabalho, em razão da natureza alimentar da lide e da
condição do acidentado, de parte mais fraca na relação jurídica”.
105
• a pedreiro que foi chamado pelo mestre-de-obras para ser operador de máquina
elétrica;
• em local onde havia emanação de gases altamente tóxicos, com total omissão do
empregador no que tange à segurança;
• a lesionado por LER35 tido como curado e com o retorno à anterior atividade com
recidiva da moléstia.
35
A sigla LER refere-se às lesões por esforços repetitivos.
107
• empregador que permite, para economizar, como rotina, no setor siderúrgico, que
caçambas com umidade recebam escória liquefeita, em alta temperatura, sendo
iminente o risco de explosão e
6 METODOLOGIA
36
Os SESMT - Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho das
empresas constituem assunto regulamentado pela Norma Regulamentadora 4 da Portaria Nº 3.214/78
do Ministério do Trabalho e Emprego.
110
Segundo Yin (1989) apud Lazzarini, 1995, o estudo de caso surge como
método potencial de pesquisa quando se deseja entender um fenômeno social
complexo. Tal complexidade pressupõe um nível maior de detalhamento das relações
dentro das organizações, e entre os indivíduos e organizações, bem como dos
intercâmbios que estabelecem com o meio ambiente em que estão inseridos.
Essas seriam para Yin (1989) apud Lazzarini (1995) as quatro aplicações
básicas para o estudo de caso.
6.2.1 O contexto
6.2.2 As fontes
A maneira pela qual se dá a formulação dos fatos exige muita cautela, pois a
forma como descrevemos determinada situação pode levar o interlocutor a construir
mentalmente imagens que embutem um pré- julgamento e isso é inadmissível para
uma ferramenta que se pretende analítica.
7 RESULTADOS
7.1 A investigação
1. Acidente fatal;
6. A rampa cedeu;
15. A empilhadeira foi tirada do ponto de carga da bateria pelo técnico mecânico;
121
31. Havia um pallet, com uma caixa grande de papelão, posicionado junto ao
pilar que fica ao lado da rampa onde ocorreu o acidente.
1. Acidente fatal;
6. A rampa cedeu;
13. ?
2.00
1.80
2.00
Rampa
6.00
2.00
PLATAFORMA
10.00
Pé Direito = 3.60
2.00 1.80
Rampa
Local
do
Acidente
2.30
1.50 3.00 1.55 2.30
1.60
1.00 0.20
2.30
Carga da Bateria
Porta de
Enrolar da Empilhadeira
Recebimento
37
Os destaques em negrito constantes nos itens acordados constam do documento original.
136
8 DISCUSSÃO
38
A sigla AFT refere-se aos Auditores Fiscais do Trabalho, servidores do Ministério do Trabalho e
Emprego responsáveis pela fiscalização do cumprimento da legislação trabalhista no Brasil.
39
Cultura pode ser definida como um conjunto de valores-chave, crenças, compreensões e normas
compartilhadas pelos membros da organização (Kilmann; Saxton; Serpa, 1986 e Smircich, 1983 apud
Daft 1999).
138
40
A Norma Regulamentadora 5, que disciplina as atribuições, composição e funcionamento das
Comissões Internas de Prevenção de Acidentes está inserida na Portaria Nº 3.214/78 do Ministério do
Trabalho e Emprego e teve seu conteúdo vigente definido pela Portaria SSST Nº 8, de 23 de fevereiro
de 1999.
139
Nas condições nas quais se deu o estudo aqui apresentado, a participação dos
trabalhadores é bem caracterizada na etapa de investigação, de coleta de informações
relativas às circunstâncias de caráter material e imaterial que são pertinentes ao meio
de trabalho sob contém a atividade sob investigação. É óbvio que a participação dos
trabalhadores próximos de alguma maneira da atividade onde se deu o acidente é de
suma importância para a reconstituição das circunstâncias direta e indiretamente
envolvidas com a cena do acidente investigado.
9 CONCLUSÕES
De acordo com Dodier (1994) apud Waldvogel (2002), “um acidente pode ser
tratado como um fato moral, onde um ator é designado como responsável, ou pode
ser tratado como uma disfunção do sistema”. No estudo de caso aqui apresentado,
essas duas abordagens se entrelaçam, pois a demanda gerada pelo órgão do Poder
Judiciário tem como pano de fundo a caracterização de responsabilidades e o
tratamento que o caso mereceu na análise promovida procurou balizar-se pelo olhar
sistêmico. A questão principal que se coloca é a adequação de propósitos das
abordagens em relação ao papel do sujeito que a empreende. À Justiça é
absolutamente coerente que na intervenção que faz busque a caracterização de culpa
e eventuais responsabilidades. À Fundacentro, por outro lado, não cabe apontar
culpados, mas soluções. A utilização de um método analítico de base sistêmica
permite que se extraia da materialização do fracasso das proteções, considerando-se
que elas existem, a experiência e algumas informações que, se adequadamente
percebidas e processadas, constituirão aprendizado aplicável em prevenção, ou seja,
na redução do risco do fracasso.
Enfim, como ensina Morin (1998), "Uma teoria não é o conhecimento, ela
permite o conhecimento. Uma teoria não é uma chegada; é a possibilidade de uma
partida. Uma teoria não é uma solução; é a possibilidade de tratar um problema. Em
outras palavras, uma teoria só realiza seu papel cognitivo, só ganha vida com o
pleno emprego da atividade mental do sujeito. É essa intervenção do sujeito que dá
ao termo ‘método’ seu papel indispensável".
LISTA DE REFERÊNCIAS
REASON, J.; MADDOX, M. Human Error. USA. 1998. Human Factor Guide for
Aviation Maintenance. Federal Aviation Administration. Disponível em:
<http://hfskyway.faa.gov/document.htm>.Acesso em: 26 de jun. 2003.