DA Inconstitucionalidade da Base de Cálculo da Cofins
Imposta pelo Art. 3º, §1º da Lei nº 9.718/98.
Não é possível fazer qualquer tipo de identificação entre
os conceitos de faturamento e receita bruta. O “faturamento” vem a ser, inegavelmente, o montante da receita auferida pelo empregador em virtude da prática dos atos negociais aos quais ordinariamente se dedica, sejam esses atos representados por operações mercantis de compra e venda, ou de prestação de serviços (ou ainda operações similares, tais como o “leasing”, a permuta, etc.). Numa formulação sintética, é o resultado auferido pelo contribuinte em decorrência da atividade operacional à qual se dedica. Tão somente isso.
A noção de “receita operacional bruta”, por outro lado é
substancialmente mais ampla. Traz, em seu bojo, o “faturamento”, todavia, vai muito mais além. Compreende o somatório de todas as receitas que dão origem ao Lucro Operacional.
Faz parte, portanto, no âmbito da chamada “receita
operacional bruta”, receitas das mais diversas espécies, a maioria das quais, frise-se, não poderiam ser reputadas como integrantes do “faturamento”, vez que manifestamente desvinculadas da atividade fundamental à qual se dedica a Pessoa Jurídica. Dentre essas receitas pode-se mencionar, por exemplo, a simples correção monetária decorrente de operações financeiras e demais transações atualizáveis, a qual concorre para o somatório das receitas que dão origem à formação do “lucro operacional”.
Portanto, indubitável que o parágrafo 1º do artigo 3º da
Lei nº 9.718/98 carece de fundamento de validade, sendo que sua FLAGRANTE E INESCUSÁVEL INCONSTITUCIONALIDADE foi reconhecida pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, em recente julgamento dos Recursos Extraordinários nº 346.084, 357.950, 390.840 e 358.273. Assim dispõe a Ata do leading case: Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu do recurso extraordinário e, por maioria, deu-lhe provimento, em parte, para declarar a inconstitucionalidade do § 1º do artigo 3º da Lei nº 9.718, de 27 de novembro de 1998, vencidos, parcialmente, os Senhores Ministros Ilmar Galvão (Relator), Cezar Peluso e Celso de Mello e, integralmente, os Senhores Ministros Gilmar Mendes, Maurício Corrêa, Joaquim Barbosa e o Presidente (Ministro Nelson Jobim). Reformulou parcialmente o voto o Senhor Ministro Sepúlveda Pertence. Não participaram da votação os Senhores Ministros Carlos Britto e Eros Grau por serem sucessores dos Senhores Ministros Ilmar Galvão e Maurício Corrêa que proferiram voto. Ausente, justificadamente, a Senhora Ministra Ellen Gracie. Plenário, 09.11.2005. (RE nº 346.084 – PR, in www.stf.gov.br, grifos nossos)
Portanto, resulta, de modo inequívoco, que a ampliação
da base de cálculo da COFINS promovida pela Lei Ordinária nº 9.718/98 é INCONSTITUCIONAL.
Note-se, ainda, que a própria UNIÃO FEDERAL, ora
REQUERIDA, ciente de ter extravasado a competência tributária que lhe havia sido atribuída, editou POSTERIORMENTE a Emenda Constitucional nº 20, de 15 de dezembro de 1.998, alterando o texto original do artigo 195, da Constituição Federal, para incluir na base de cálculo das contribuições sociais, além do “faturamento”, também a “receita”.
Contudo, não obteve sucesso. Isto porque sobre a
irretroatividade das normas legais, nestas incluídas as Emendas Constitucionais, é cediço a sua inaplicabilidade no nosso direito. Portanto, por ter sido a Emenda Constitucional nº 20/98 editada posteriormente à Lei nº 9.718/98, não poderá a primeira retroagir e dar validade a esta última. Deve a Lei nº 9.718/98 ser examinada de acordo com as normas constitucionais vigentes à época de sua edição. Nesse sentido, determina a Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso nº XXXVI, que “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”.
Constata-se, portanto, ser inadmissível a retroatividade
das mudanças inseridas na Emenda Constitucional nº 20/98 para respaldar lei editada antes de sua vigência.