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algumas considerações. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 06, n. 03, p. 394-399, 2004. Disponível em www.fen.ufg.br
ABSTRACT: The pregnancy and maternity in the adolescence is an widely boarded subject in literature, however
is possible to observe the contradictions in the speeches that characterize this experience as a problem of public
health and stories of the adolescents on the daily one while mothers. This article, characterized as a bibliographical
study objectified to argue the different perceptions on the maternity in the adolescence, understood as
phenomenon socially consisting. Studies that characterize the pregnancy/maternity as being of risk for the personal
and social development of the adolescent and its son, had been opposed to the research that brings the
perspective of the adolescent on this experience. It was possible to evidence that the maternity can be seen of
positive form for the adolescent, and especially, for those in situation of social and personal risk, it can represent a
rich period of changes as for daily practical the social recognition and to its, besides being an especially propitious
moment for the action development health effective.
1
Terapeuta Ocupacional. Mestranda em Ciências da Saúde: Programa Interinstitucional de Pós Graduação – Mestrado e Doutorado -
Unb/UFG/UFMS;Goiânia (GO) danigontijo@hotmail.com
2
Enfermeiro. Doutor em Enfermagem. Professor Adjunto da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás.
marcelo@fen.ufg.br
GONTIJO, Daniela Tavares; MEDEIROS, Marcelo - Gravidez / maternidade e adolescentes em situação de risco social e pessoal: 395
algumas considerações. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 06, n. 03, p. 394-399, 2004. Disponível em www.fen.ufg.br
identidade pessoal, que para a maioria das pessoas De acordo com PANTOJA (2003), o fenômeno
ocorrem entre 11 e 21 anos. da gravidez na adolescência não se caracteriza como
No presente artigo, optou-se pela definição um fato recente no Brasil. No entanto, segundo
proposta pelo ECA (2002, p. 11) FÁVERO & MELLO(1997) é após a década de 60 que
“art. 2o.. Considera-se criança, para os fins da se nota um maior interesse no estudo deste fenômeno.
Lei, a pessoa até doze anos de idade Esse interesse coincide com um contexto histórico de
incompletos, e adolescente aquela entre doze discussões e mudanças nos valores referentes aos
e dezoito anos de idade. conceitos de gênero e sexo.
Parágrafo único : nos caos expressos em Lei, A partir deste momento, a gravidez na
aplica-se excepcionalmente este Estatuto às adolescência passa a ser considerada “um problema
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de social”, sustentada por um discurso médico que a
idade “ (Lei n. 8069, de 13 de julho de 1990). caracterizou como quadro de gravidade e risco
A escolha por esta definição justifica-se pela (PANTOJA, 2003). De acordo com PORTO & LUZ
importância social e política do ECA, principalmente no (2002, P. 385), o Ministério da Saúde considera “a
que se refere à proteção integral da criança e do gravidez na adolescência, de alto risco, que podem ser
adolescente. Além disso, MEDEIROS (1998) observa de natureza diversa, tais como clínicas, biológicas,
que existem alterações do curso do desenvolvimento comportamentais, relacionadas á assistência à saúde,
de crianças e adolescentes de rua, refletida por um sócio-culturais, econômicas e ambientais”.
amadurecimento precoce ou por regressões e fixações PANTOJA (2003) e PINHEIRO (2000), no
em etapas determinadas da infância. Assim sendo, a entanto discutem baseados em diversos estudos, os
caracterização da adolescência de acordo com riscos freqüentemente associados à gravidez na
critérios puramente psicológicos, sócio-econômicos ou adolescência. Os pesquisadores questionam se a
outros não se mostra adequada aos propósitos deste prática do aborto em adolescentes apresenta uma
estudo. maior ocorrência quando comparadas com mulheres
Independentemente da determinação da faixa adultas. Um outro aspecto, diz respeito aos problemas
etária, a adolescência é caracterizada por mudanças de saúde (no parto, peso ao nascer, prematuridade)
físicas, mentais e emocionais. Para COSTA (2001) o que podem ser enfrentados pelas adolescentes
adolescente é um sujeito em vias de construção de grávidas. PINHEIRO (2000) coloca que os riscos de
sua identidade pessoal, sexual e afetiva. No que se saúde aos quais as adolescentes estão sujeitas dizem
refere à adolescentes em situação de rua, esta respeito mais à situação de precariedade sócio-
construção encontra-se permeada por fatores econômica que podem ser vivenciadas mulheres de
relacionados à miséria (precárias condições de qualquer faixa etária do que às características
habitação, educação, saúde, alimentação, etc ) e à maturacionais da adolescente (exceto no caso de
modalidades de violência e agressão. meninas abaixo de 14 anos).
É nesse contexto que, segundo MEDEIROS et al Do ponto de vista da psicologia, PANTOJA
(2001, pg. 37), que o adolescente “descobre a (2003) discute o risco psicossocial , que seria
sexualidade a partir da referência de colegas que justificado por uma imaturidade psicológica das jovens.
estão nas ruas há mais tempo, assim como de A questão da ‘precocidade” da gravidez traz em seu
experiências impostas por outros adolescentes ou bojo, segundo CARDOSO & DURAND (2001) uma
adultos”. Em um estudo realizado na cidade de conotação negativa e indesejada da sexualidade
Goiânia, MEDEIROS et al (2001) pontuam que para o precoce, assumindo um discurso “que vai da
grupo de adolescentes em situação de rua abordados condenação ao apelo moral aos adolescentes “
pela pesquisa, a prática do sexo seguro não faz parte (BOZON apud PANTOJA, 2003, p. s336). O risco
de seu cotidiano. Em conseqüência, a adolescente social , discurso normativo predominante na saúde
está susceptível à transmissão/contaminação por pública, traz implícito uma interpretação de natureza
doenças sexualmente transmissíveis e à gravidez. causa de que “a gravidez resultaria da pobreza, da
precaridade e da falta de acesso aos serviços de
Gravidez e Maternidade na Adolescência: saúde, portanto é considerada como um reforço à
diferentes significações pobreza e marginalidade. Uma vez indesejada, a
gravidez acarretaria prejuízos para as adolescentes
Tradicionalmente, a gravidez e maternidade na como abandono dos estudos , dificuldade em
adolescência têm sido, tratadas como problemas de encontrar emprego.“ (PANTOJA, 2003, p. 336)
saúde pública no Brasil, sendo caracterizadas como Diversos autores (PANTOJA, 2003; FÁVERO &
situações associadas à riscos pessoais e sociais para MELLO, 1997; OLIVEIRA, 1999) questionam essa
o desenvolvimento da adolescente e de seu filho visão reducionista do fenômeno, salientando que
(SANTOS & SCHOR, 2003; AMAZARRAY et al, 1998; embora a gravidez na adolescência encontre-se com
COSTA et al, 2001; PONTE JÚNIOR & XIMENES freqüência relacionada à um contexto de desvantagem
NETO, 2004). No entanto, cada vez mais estudos que social das garotas, é preciso considerar que sua
consideram a percepção da adolescente sobre a ocorrência já se dá em um contexto de oportunidades
experiência da maternidade não revelam essa restritas, poucas opções de vida e marcado por
unanimidade do caráter negativo da gravidez na interrupções na trajetória escolar (PANTOJA, 2003).
adolescência, principalmente no que se refere à Neste contexto, OLIVEIRA (1999), PANTOJA
adolescentes em situação de risco social e pessoal. (2003), WAGNER et al (1998), COMMITTEE ON
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