0 evaluări0% au considerat acest document util (0 voturi)
79 vizualizări10 pagini
Em 1901, o governo português instituiu o Regime Florestal para gerir as florestas públicas e comunitárias e promover a reflorestação. Dois anos depois, foi publicado o regulamento que definiu as regras para a gestão florestal até o século XX. Ao longo deste período, o Regime Florestal focou na gestão das áreas públicas e comunitárias, em contraste com o abandono das florestas privadas.
Em 1901, o governo português instituiu o Regime Florestal para gerir as florestas públicas e comunitárias e promover a reflorestação. Dois anos depois, foi publicado o regulamento que definiu as regras para a gestão florestal até o século XX. Ao longo deste período, o Regime Florestal focou na gestão das áreas públicas e comunitárias, em contraste com o abandono das florestas privadas.
Drepturi de autor:
Attribution Non-Commercial (BY-NC)
Formate disponibile
Descărcați ca PDF, TXT sau citiți online pe Scribd
Em 1901, o governo português instituiu o Regime Florestal para gerir as florestas públicas e comunitárias e promover a reflorestação. Dois anos depois, foi publicado o regulamento que definiu as regras para a gestão florestal até o século XX. Ao longo deste período, o Regime Florestal focou na gestão das áreas públicas e comunitárias, em contraste com o abandono das florestas privadas.
Drepturi de autor:
Attribution Non-Commercial (BY-NC)
Formate disponibile
Descărcați ca PDF, TXT sau citiți online pe Scribd
I serie, vol. XIX, Porto, 2003, pp. 447 - 455 O Rcgimc Florcstal cm Portugal atravcs do scculo XX (1903-2003) Nicolc Dcvy-Varcta 1 1. Ccntcnrio do Rcgimc Florcstal Im 1901, a 24 de Dezembro, promuigada uma remodeiao do ciebre macro ministrio das Obras Pbiicas, Comrcio e Indstria (mOPCI), que tinha sido ormado em 1852 por Iontes Pereira de meio e que marcou, de orma indeivei, o perodo subsequente do ontismo. A remodeiao de 1901 inciui uma reorganizao dos Servios Iiorestais, entretanto criados em 1886, que integra a instituio do regime norestai no territrio nacionai. Dois anos mais tarde, a 24 de Dezembro de 190~, pubiicado o Reguiamento deste regime, que iria enquadrar a poitica norestai do Istado durante grande parte do scuio passado. Cem anos voividos, o regime institudo em 1902 ainda est em vigor, num ambiente econmico e sociai que nada tem a ver com o incio do scuio XX. O regime norestai tta/ abrange o patrimnio do Istado (apenas cerca de 85.000ha), enquanto o regime a.ia/ envoive a rea dos terrenos comunitrios dos baidios serranos a norte do 1ejo (perto de 550.000ha) (ng.1). Acresce ainda o regime parciai de sio/.s / // .ia nas reas hoje sujeitas ao regime cinegtico especiai (cerca de 2.600.000ha). So as modaiidades tta/ e / a.ia/ que meihor iiustram a continuidade da poitica norestai do Istado ao iongo de quase todo o scuio XX. a prioridade concedida a gesto das reas norestais pbiicas e comunitrias submetidas ao regime norestai. Ista poitica contrasta ortemente com o abandono a que oi como que condenada a noresta privada, actuaimente avaiiada em cerca de 80` da supercie arbrea nacionai. No intuito de traar as grandes iinhas do percurso do regime norestai, tentar-se- responder a trs perguntas. (1) porqu o regime norestai apenas institudo em 1901 (2) quai a evoiuo da sua apiicao no scuio XX (~) que uturo ihe estar destinado no quadro das poiticas de sustentabiiidade e ordenamento norestai, em vias de impiementao a escaia regionai 2. Porqu cm 1901-1903. Para responder a esta interrogao, podemos evocar brevemente o iongo percurso percorrido at a instituio do regime norestai em 1901. A Aaoioista a -G.a/ aas matas oi instituda em 1824 para gerir o patrimnio norestai do Istado, herdado das coutadas 1 Departamento de Geografa Eaculdade de Ietras da Universidade do Porto 448 O Regime Elorestal em Portugal atraves do seculo XX (1903-2003) reais. Incontrava-se ento este patrimnio muito reduzido por sucessivas aiienaes. nos cerca de 15.000 hectares inventariados, o Pinhai de Ieiria concentrava uns 10.000. Nas dcadas seguintes, ps-se a questo do modeio mais adequado para a gesto da noresta pbiica. Im 182, tinha sido promuigado em Irana um Cdigo Iiorestai para gerir o patrimnio estatai e a noresta comunai, que corresponde, enquanto herana dos usos comunitrios, aos terrenos arborizados dos baidios. Considerado peios tcnicos como um modeio apiicvei no pas, houve vrias tentativas de eiaborao de um Cdigo portugus, mas que nunca se concretizaram. Iig. 1- matas Nacionais e Permetros Iiorestais em Portugai continentai Ionte. DGI, Istaas . Iofoa a , n ~19, 2001 De acto, at a dcada de 1880, ocorreram importantes movimentos undirios. A venda dos bens nacionais provoca o desmanteiamento da noresta eciesistica, que passa para as mos de ricos iavradores ou proprietrios urbanos, revertendo uma pequena parte para a Aaoioista a -G.a/ aas matas . A progressiva desamortizao dos terrenos comunitrios vai proiongar-se at aos anos de 19~0, permanecendo apenas baidios nas reas serranas, a norte do 1ejo. Istes movimentos undirios so acompanhados por mudanas nos usos dos soios, essenciaimente conduzidas peia iniciativa dos proprietrios privados. No mbito norestai, registam-se processos simuitneos de desarborizao, sobretudo nos carvaihais, e de norestao, em que se destaca a expanso da rea do pinheiro bravo, e a regenerao/ ormao de montados para produo de cortia. Quai a inormao disponvei sobre a noresta em meados de Oitocentos Os dados, ainda quaiitativos, mostram que o uso dos soios era dominado por incuitos, pousios e charnecas - quase a metade do territrio, segundo o k./ati a...a aa a/i.a a .a/ a 449 Nicole Devy-Vareta as de 1868. No iitorai, pouco tinha avanada a nxao e arborizao das dunas, decretada em 1802 sob o impuiso do cientista )os Bonicio de Andrada e Siiva. Nas serras, as encostas e os cumes encontravam-se ragiiizados peia sobreexpiorao dos recursos arbreos e dos pastos. Intretanto, o reconhecimento estatstico do pas e das potenciaiidades dos soios ainda estava por azer. apenas ser provisoriamente conciudo no incio do scuio XX, com a pubiicao das estatsticas da cata A./a . Por isso, pouco sabemos sobre o estado reai da noresta oitocentista, sobretudo no que se reere a sua estrutura e as capacidades produtivas, para os mercados ento existentes. Durante a segunda metade do scuio, o contexto nacionai modinca-se quando se desenvoivem a agronomia e as cincias norestais. O ensino superior agrcoia e norestai criado em Iisboa (actuai Instituto Superior de Agronomia), em 1852 e 1864. Surge ento uma nova ciasse de tcnicos pronssionaiizados, que vai ocupando os quadros da administrao pbiica, e vai contribuindo, no caso especnco da poitica norestai, a modernizao da gesto e impiantao de novos instrumentos para o ordenamento norestai. A evoiuo atinge o seu auge em 1886, quando, numa reorma do ministrio das Obras Pbiicas, dennitivamente extinta a Aaoioista a -G.a/ aas matas . Aiguns meses mais tarde, e no mesmo ano, pubiicado o Piano de organizao dos Servios Iiorestais, aiicerado num esboo do regime norestai por apiicar no mbito do ordenamento das matas, mas sobretudo virado para a norestao nas serras e nas dunas. 1odavia, o ambiente da dcada de 1890, abaiado peio Uitimato e a crise nnanceira e sociai, no avorvei a promuigao do regime norestai, ncando adiado o passo nnai para os anos 1900. A reorganizao dos Servios Iiorestais e Aqucoias de 1901 subordinada a reievncia dada a norestao dos incuitos, uma vez que a arborizao das serras, a hidruiica norestai e a nxao das dunas encabeam a iista das divises previstas na nova orgnica 2 . Istabeiece ento o artigo 25. O .io.o .sta/ comprehende o conjuncto de disposies destinadas a assegurar / no s a creao, expiorao e conservao da riqueza siivicoia, sob o ponto de vista da economia nacionai, mas tambm o revestimento norestai dos terrenos cuja arborizao seja de utiiidade pubiica, e conveniente ou necessaria para o bom regimen das aguas e deeza das varzeas, para a vaiorizao das pianicies aridas e benencio do ciima, ou para a nxao e conservao do soio, nas montanhas, e das areias, no iitorai martimo. Isto aqui apontados os principais objectivos da poitica norestai subjacente a instituio do regime norestai, a imagem do que acontecia em outros pases da Iuropa do Sui. bioquear a privatizao dos terrenos comunitrios (baidios) ~ , combater nas reas de baidios as prticas dos usos do soio, assegurar a proteco contra a degradao dos soios, aumentar a rea da noresta pbiica 4 . Os artigos seguintes (art 26 a 28) dierenciam as trs modaiidades. o regime totai nos terrenos pertencentes ao Istado, parciai nos terrenos das Cmaras, )untas de Ireguesias e outras associaes, parciai e de simpies poicia norestai, nas propriedades particuiares. 2 Decreto de 24/12/1901, Parte VI, art. 1 a 164, Diario do Governo, n 296 de 31/12/1901, pp. 3779 e ss.. 3 Segundo a defnio das 'coisas comuns, ou baldios do logradouro comum, para determinada comunidade de utentes, em vigor desde a publicao do Codigo Administrativo de 1867. Na actualidade, os baldios inserem-se no sector dos 'meios de produo comunitarios, possuidos e geridos por comunidades locais (Constituio da Republica Portuguesa, 5 uu reviso, 2001, Artigo 82.). 4 Nomeadamente, em Erana, pela aplicao do 'Code Eorestier (1827) nos terrenos publicos e comunitarios e pelas 'Ioi de Reboisement des Montagnes (1860) e 'Ioi de Restauration des Terrains de Montagne (1882), e em Espanha, pela 'Iey de Montes (1863). Para um estudo comparativo na Europa do Sul (Espanha, Erana, Italia, Portugal) ver os estudos na revista Historia Agra rr ria, 1999. 450 O Regime Elorestal em Portugal atraves do seculo XX (1903-2003) No entanto, o regime norestai em nada se cumpre da promuigao do seu reguiamento de 190~ 5 . 1rata-se de um dipioma muito extenso de ~11 artigos, o modeio por exceincia sempre reerido nas dcadas subsequentes, que nxa os compiexos trmites da submisso ao regime norestai, at a preparao dos projectos de arborizao (com pormenores que vo at a escaia das piantas) e as modaiidades de expiorao. 1udo est previsto na iei, de tai modo que as disposies so quaiincadas, na poca, como sbias e maieveis. 3. Qual aplicao do Rcgimc Florcstal no scculo XX . Aquando da criao, em 1886, da Direco-Gerai da Agricuitura, que integra os Servios Iiorestais, um impuiso decisivo dado a cartograna e ao reconhecimento estatstico no domnio agrcoia e norestai. I iniciado o ievantamento nacionai de uma nova srie de mapas temticos, a cata A./a , na escaia de 1.50.000, que acompanha o inventrio da ocupao dos soios ento promovido e as respectivas estatsticas. A obra cartogrnca ncou inacabada - as 46 oihas sadas do preio (1890-1908) so na sua maior parte iocaiizadas no Aientejo. No entanto, antes da extino da Direco dos Servios da Carta Agrcoia em 1911, pubiicada em 1910 a cata A./a . |/.sta/ a. !taa/ em duas oihas, na escaia / de 1/500.000. Ista carta de 1910 corresponde, de acto, a uma reduo dos mapas j impressos e das cerca de 500 minutas existentes, numa verso orosamente simpiincada, mas abrangendo todo o territrio nacionai. No Aientejo, o ievantamento cartogrnco e estatstico estava num estado avanado ou nnaiizado, da a dierenciao entre o sobreiro e a azinheira e uma imagem mais pormenorizada no sui do pas. Peio contrrio, nas outras regies, particuiarmente a norte do 1ejo, matas e cuituras arbreas deixam de ser discriminadas por espcie - a aiha de inormao patente a norte do Douro -, o que renecte atrasos e dencincias nos ievantamentos, ora da rea da grande propriedade do sui do pas. A carta integra um quadro estatstico por distrito, que apresenta os dados disponveis do reconhecimento agrcoia e norestai em 190, por tipo de uso do soio, ncando tambm discriminados os pinhais, carvaihais e castanheiros. As estatsticas da cata A./a oram reerenciadas com dierentes datas (1902, 1906 ou 1910), sendo corrigidas e actuaiizadas em vrios estudos at meados dos anos 1950, em que so pubiicadas novas estatsticas e cartas peio Servio de Reconhecimento e Ordenamento Agrrio (SROA). Por ser a nica imagem agrcoia e norestai do pas durante dcadas, a carta de 1910 oi utiiizada e diundida por investigadores nacionais e estrangeiros 6 . Istas observaes sobre o reconhecimento do pas dos anos 1900 apenas pretendem sugerir mais uma justincao para a morosidade da apiicao do regime norestai, que se junta as causas conhecidas de oro poitico e scio-econmico. De acto, as reas por submeter ao regime norestai so essenciaimente iocaiizadas a norte do 1ejo, onde os ievantamentos eram ento muito incompietos. 5 Regulamento para a execuo do regime orestal.... de 24/12/1903, Diario do Governo, n 294 de 30/12/1903, pp. 775 e ss.. 6 Refra-se o botnico e ftogeograIo Henri Gaussen (1891-1981), que Iez, em 1931, uma estadia no Instituto Botnico da Universidade de Coimbra. Realizou varias viagens do norte ao sul do pais com botnicos e silvicultores, tendo tambem estabelecido contactos com os Servios Elorestais de Iisboa. Em 1940, Gaussen apresenta um artigo amplo e bem documentado sobre 'o meio Iisico e a foresta em Portugal, que integra quatro mapas na escala de 1:3.500.000 (1941). Um deles, com o titulo de 'carta das forestas, no e seno uma reduo manuscrita da Carta de 1910, elaborada pelo proprio autor e que distingue 3 tipos de 'forestas, azinheiras, sobreiros e 'outras essncias, alem da cultura da oliveira e alIarrobeira (1941, p. 233). 451 Nicole Devy-Vareta A partir do incio do scuio XX, duas prioridades vo orientar a poitica norestai do Istado. o revestimento norestai das dunas, e a submisso dos baidios serranos ao regime norestai. O reconhecimento das dunas iitorais reaiizado em 1896 reveia que apenas uns 2.900 hectares tinham sido arborizados desde 1802. Perto de ~0.000 ha sero norestados at 1948. Ao mesmo tempo, prepara-se a apiicao do regime norestai nos baidios serranos. Im 1910, os Servios Iiorestais j tem um vasto piano preparado em conormidade com o reguiamento de 190~, em cerca de ~00.000 ha. mas os siivicuitores conrontam- se com ortes resistncias iocais, iigadas as restries no usuruto dos terrenos comuns. Nessa poca, os sistemas agro-siivo-pastoris serranos, e a vida dos vizinhos sem terra, com direitos garantidos peia tradio, dependiam dos recursos dos baidios, que orneciam pastos e matos, ienhas e madeira, gua de regadio, pedra de construo, e o imprescindvei cuitivo de pequenas parceias nos anos de ome. Aiis, a ienta execuo dos dois primeiros pianos de arborizao nos Permetros de manteigas e do Gers, desde 1888, considera-se como um perodo experimentai das dincuidades encontradas. At 19~~, apenas cerca de 0.000 ha so submetidos ao regime norestai. A arborizao dos baidios ser concretizada em grande escaia durante o Istado Novo, na vigncia do Piano de Povoamento Iiorestai (19~8-68). A Iei de Povoamento Iiorestai (n 191 de 15/06/19~8) determina, de modo conciso mas incisivo, as modaiidades genricas da arborizao em todos os permetros norestais, j constitudos antes de 19~6, ou para serem ormados num uturo prximo. O texto da iei muito conciso, contrastando ortemente com a compiexidade dos cerca ~00 artigos do Reguiamento de 190~ que ihe serviram de base. Se nunca se reere, expiicitamente, a iegisiao do incio do scuio, verinca-se, contudo, que retoma muitos das suas disposies. A principai novidade de 19~8 est iogo expressa na Base I, onde se anrma, simpiesmente, a imposio autoritria da arborizao, uitrapassando os direitos territoriais das comunidades serranas. De 1940 a 1960, ~0.000 hectares de baidios so submetidos ao regime norestai, desenvoivendo-se intensamente os trabaihos de norestao nos anos 50 e 60 em cerca de ~00.000 hectares (ng.2). Iig. 2 - Ivoiuo da submisso ao regime norestai nos baidios serranos em Portugai continentai Ionte. N. Devy-Vareta, 199~, p. 1 A apiicao do regime norestai nas serras oi interpretada a iuz de uma vioienta crtica a poitica autoritria e repressiva do Istado Novo. O baiano gerai do empreendimento aponta para a apropriao iiegai peio Istado de terrenos de usuruio comunitria, a reduo drstica das prticas de expiorao territoriai, sobretudo o pastoreio, os procedimentos incorrectos dos Servios Iiorestais, com abusos de autoridade e actos de vioincia, a compactao das reas arborizadas com essncias resinosas, da uma extrema 452 O Regime Elorestal em Portugal atraves do seculo XX (1903-2003) sensibiiidade a propagao dos ogos, e por itimo, o aceieramento do despovoamento nas serras, provocado peia brusca aita de recursos iocais. No entanto, j tempo de ianar um oihar novo e mais sereno sobre a obra reaiizada, sobretudo nas suas consequncias scio- cuiturais. A abertura de caminhos oi um instrumento undamentai para os projectos de arborizao, contribuindo ao mesmo tempo para a diminuio do isoiamento de muitas aideias serranas. Por outro iado, a construo das inra-estruturas e as dierentes ases da norestao, da preparao dos terrenos a proteco das reas j arborizadas, criaram numerosos empregos iocais, geraimente subestimados, permitindo que as amiias mais pobres e sem terra pudessem comprar bens de primeira necessidade, e avorecendo os primeiros passos de mobiiidade sociai num ambiente cuiturai ainda muito echado. A iei de 196 (DI n ~9/6 de 19/01) veio devoiver os baidios as comunidades de compartes, permanecendo contudo os terrenos sob regime norestai parciai. A maioria das comunidades escoiheu, ento, a modaiidade de administrao em associao com o Istado, passando a receber parte das receitas dos produtos ienhosos expiorados nos baidios. Na actuaiidade, muito embora a iei de 199~ (Iei n68/9~ de 4/09) tenha modincado a gesto estabeiecida nos anos 0, a noresta dos baidios continua a ornecer para as comunidades iocais rendimentos signincativos, geraimente apiicados na meihoria das inraestruturas e em equipamentos sociais. 4. Quc futuro para o rcgimc uorcstal. Desde os anos 1960, no h submisses notveis ao regime norestai na rea dos baidios serranos. Na mesma dcada, o pas regista um ritmo de crescimento econmico nunca atingido anteriormente, enquanto a emigrao e o xodo rurai para as reas urbanas do iitorai desestabiiizam as tradicionais prticas comunitrias do mundo serrano. Com uma popuiao em orte regresso, vai diminuindo o aproveitamento dos recursos nos baidios, diiuindo-se as reiaes ancestrais dos usos e terras comunitrios. mai acabada a execuo do Piano de Povoamento Iiorestai, inicia-se a expanso do eucaiipto, esboando- se ento uma viragem estratgica na poitica norestai, doravante menos orientada para as unes de proteco e produo nas reas comunitrias pbiicas, e mais empenhada no aumento dos recursos ienhosos para a nieira industriai. A arborizao e a gesto norestai nas propriedades privadas surgem ento como meta prioritria da poitica norestai. Ou seja, esta reorientao aecta 85` da noresta portuguesa, quando o totai das reas submetidas ao regime norestai peraz 15`
. So agora os proprietrios e os gestores privados os mais
importantes protagonistas da noresta do uturo. O processo de crescimento econmico connrma-se aps 194, no que diz respeito ao sector norestai, benencia sobretudo o eucaiipto e a produo de pasta. A produo das resinosas, espcies dominantes nos terrenos sob regime norestai, sore uma queda acentuada devida aos incndios e a baixa produtividade das piantaes. I morosa a adaptao dos Servios Iiorestais centrais e regionais, essenciaimente virados para as matas nacionais e os permetros dos baidios, a nova situao econmica. A partir da dcada de 1980, sucessivas reormas na estrutura do ministrio da Agricuitura mais desestabiiizam os servios 7 Portugal e o pais da Unio Europeia com menor taxa de foresta publica. A 'foresta publica e interpretada de diverso modo nos paises da Unio, podendo agrupar-se em dois grandes tipos: o patrimonio directo do Estado e o de outras entidades publicas, tais como municipios, Ireguesias e outras colectividades locais (' Iort communales em Erana, ou 'montes publicos ou 'vecinales em Espanha, 'baldios portugueses, etc). No sul da Europa, as taxas da foresta publica apresentam um Iorte disparidade: de 15 em Portugal para 80 na Grecia. Em Erana, Espanha e Italia, as taxas so, respectivamente, de 27, 32 e 33. 453 Nicole Devy-Vareta norestais, acentuando a descoordenao institucionai e o adiamento de um consenso operacionai na conduo da poitica norestai. Aim do mais, recorde-se que as decises sobre a noresta esto espartiihadas entre vrios ministrios. Agricuitura, Administrao Interna, Iconomia, Ambiente e Ordenamento do 1erritrio. 1odas estas mudanas e ragiiidades so acompanhadas por uma proiierao de ieis, que vem iiustrar a disperso e descoordenao das decises em matria norestai (ng.~) Iig. ~ - Iegisiao norestai pubiicada em Portugai durante o scuio XX Ionte. ). Costa, 2000, p. ~0 Neste novo contexto, ter ainda o regime norestai o seu iugar No ser um instrumento caduco, mais iigado a histria, ao patrimnio dos Servios Iiorestais, ou ainda a memria dos territrios sujeitos a controversa interveno da administrao pbiica durante o Istado Novo Quai o retorno dos investimentos em reas com eievada vuinerabiiidade ace aos incndios, com um potenciai produtivo reduzido quando comparado com os espaos da noresta privada Aiguns eiementos de resposta encontram-se nos objectivos da iegisiao em que se baseiam o desenvoivimento e a gesto sustentvei da noresta, particuiarmente a Iei de Bases da Poitica Iiorestai (Iei n ~~ de 1/08/96). Passaram muitos anos de preparao e conrontos at a pubiicao da Iei de Bases, que denne os princpios, medidas e instrumentos da Poitica Iiorestai Nacionai. Subiinhe- se que a iei oi aprovada por unanimidade peia Assembieia da Repbiica, o que mostra o consenso que o projecto reuniu, a escaia das dierentes sensibiiidades poiticas. Seguindo os princpios da sustentabiiidade, os objectivos reerem-se portanto a necessria concertao estratgica na utiiizao dos recursos norestais, articuiando as unes de produo, proteco e uso sociai, omentando medidas concretas para a participao activa de todos agentes iigados a noresta. So muitos os constrangimentos para articuiar e territoriaiizar os princpios da sustentabiiidade. A nieira norestai constituda por um conjunto muito diverso de actores, dos proprietrios absentistas ou de minindios, a empresrios industriais ou tursticos, mais competitivos e giobaiizados. mas as expectativas da sociedade em reiao a noresta no se iimitam a produo de bens materiais ou ao uso recreativo, abrangendo tambm benecios indirectos iigados ao ambiente, vaiorizando-se hoje, particuiarmente, a absoro e o armazenamento de carbono contra o eeito de estua. Ainda h outros bens e servios norestais que tem um grande vaior, no comerciaiizvei e independente do seu uso 454 O Regime Elorestal em Portugal atraves do seculo XX (1903-2003) presente ou uturo. a simpies existncia da noresta, com os seus produtos, as suas paisagens e as espcies norsticas ou a auna que a compem. Ista simpies existncia incentiva a disponibiiidade da popuiao, iocai ou mais aastada, mas cada vez mais urbanizada, para apoiar e nnanciar programas de proteco norestai e educao ambientai. Ponderar necessidades, e compatibiiizar interesses num processo giobai de desenvoivimento nacionai, no tem sido uma tarea cii para os agentes do sector norestai. No meio destes interesses, encontra-se um sector pbiico que, sem reunir o eectivo consenso de todos, desempenha, desde 199, as unes de autoridade norestai. Na viso apresentada no Piano de 1999, as matas pbiicas e comunitrias, sujeitas ao regime norestai, ainda surgem como um dos principais vectores da sustentabiiidade, peia sua gesto exempiar, num modeio concebido a iongo prazo, em princpio partiihado, e aceite, peio conjunto da sociedade portuguesa. mas, entretanto, acumuiam-se as dincuidades na reguiamentao da Iei de Bases, nomeadamente no mbito do ordenamento norestai a escaia regionai. De acto, actuaiizar o regime norestai no apenas rever a iegisiao e adapt- ia aos desanos do nosso tempo - por exempio, as preocupaes ambientais, ou ainda a impiementao de novos instrumentos competitivos, com parceria Istado-Sector privado, que pode passar peias vias do associativismo. A reormuiao do regime norestai angura- se assim muito mais compiexa, por se enquadrar num contexto territoriai em mudana e em desenvoivimento, onde se esbatem as tradicionais ronteiras entre mundo rurai e mundo urbano. As reas de montanha, hoje despovoadas e com actividades agrcoias e norestais marginais, esto a vaiorizar o seu potenciai endgeno, naturai e scio-econmico, no quadro da poitica europeia de desenvoivimento rurai. O uturo do regime norestai encontra-se precisamente nesta passagem para uma ruraiidade muitiuncionai e mais integrada nos vaiores urbanos. Rcfcrncias bibliogrncas ARNOUID, P., HO1\A1, m., SImON, I.. L.s f ts aIa. , Nathan, Paris, 199. B/.tio a. Istatsti.a . Iofoa a A ./a. A siivicuitura em Portugai, Ano II, n 8, 9 e 10, Iisboa, ministrio da Agricuitura, Div. de Istatstica Agrcoia, 1928. CAIDAS, I. Castro, A ai.a/taa taa.sa ata:.s as t.os .. , Iisboa, INIC, 1991 cata A./a a. !taa/. Iisboa, Direco dos 1rabaihos da Carta Agrcoia, 1.50.000, 1890- 1908. cata A./a . |/.sta/ a. !taa/. Iisboa, Serv. Reconhecim. Ordenam. Agrrio (SROA), a partir de 195, 1.25.000 cata A./a . .sta/ , Iisboa, ministerio das Obras Pubiicas, Commercio e Industrias, Direco dos Servios da Carta Agricoia, 1910, 1/500.000. CISI, Conseiho Insino Superior Impresa - 0 s..t |/.sta/ !taas , Documento de 1rabaiho do Seminrio de Pvoa de Varzim, 4-5 de Outubro de 1996 (poiic.) COmISSO IUROPIIA - astaioa//. |.sty aoa t/. Ia.ao Uoio. Ioitiati:.s f t/. Ia.ao cooissio, 200~ COS1A, )os Carios C., |af. . a a/t.oati:a .sta/. a .sta. ao iostao.ot a. .:ita/i.a a as .sa a s aais oaioais, Dissertao de mestrado em Geograna, Iac. de Ietras, Porto, 2000 455 Nicole Devy-Vareta DIIGADO, ). I. Nery, RIBIIRO, C., k./ati ...a aa a/isa a .a/ a ai..... , Iisboa, Acad. Reai das Cincias, 1868, ~1 p., I mapa 1/500 000. DIV\-VARI1A, N., A .sta o .sa a . o t.o .o !taa/ - A a/i.a a aa .a aa ca/.ia (1919-19), 1ese de Doutoramento, IIUP, Porto, 199~ GAUSSIN, Henri, Ie miiieu physique et ia ort au Portugai , k.:a. a.s !y. o .. ..s .t aa aa- .. 0a.st, 11, ~-4, 1ouiouse, 1940, pp. 219-26. GIRmANO, m.A., k.io. .sta/. ao s..a/ a. .xist .. o.ia , Iisboa, DGI, Istudos e Inormao n ~19, 2000 Iistia Aaia, Universidade de murcia, Istudos de Historia Iorestai, Voi. 18, 1999 mINDIS, Amrico C. e Raaei da S. DIAS, Iinanciai Instruments o Iorest Poiicy in Portugai in the 1980s and 1990s. in |ioao.ia/ Iostao.ots f |.st !/i.y, III Proceedings, n 42, )oensuu, Iuropean Iorest Institute, 2002. pp. 95-116. mINDONA, )oo da Costa - aos a. a.ti:iaaa. oa a/i.a a a. s.as , Iisboa, minist. da Iconomia - DGSIA, 1961, 1~9 p. OIIVIIRA, A. m. Saavedra de Pinho, 0s /a/ais aa .a aa |.ita. ao .oti/at aa as oa/tifao.ioa/, Dissertao de mestrado em Geograna, Iac. de Ietras, Porto, 199 RADICH, maria Carios e A.A monteiro AIVIS, Dis s..a/s aa |/.sta .o !taa/ .. , Iisboa, Ceipa, 2000 k...os.ao.ot G.a/ aa Ai.a/taa, INI, Iisboa, 1999 k..o/..io.ot as Ba/ais a cotio.ot., Iisboa, ministrio da Iconomia - )unta de Coionizao Interna, 19~9, ~ vois. RIGO, I. de Castro. |/.stas !//i.as , Iisboa, Grasiito, 2001 Seminrio-Desenvoivimento para os Baidios, Baidios para o desenvoivimento, IV Conerncia Nacionai dos Baidios, U1AD, Viia Reai, 1/0/2001 SIIVA, ). Bonicio de Andrada e, m.oia s/. a o...ssiaaa. . ati/iaaa.s a /aoti a. o:s /sa.s .o !taa/, Iisboa, 1ypo. da Acad. Reai das Cincias, 18 p., 2' ed., Acad. de Cincias, Soc. Ind. Grnca, 1969