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Artigos de Atualização
1 Epidemiologia da febre reumática no OSWALDO CÉSAR DE ALMEIDA FILHO,
século XXI BENEDITO CARLOS MACIEL
Epidemiology of rheumatic fever in the
21st century 47 Valor da cintilografia miocárdica com
ALEKSANDER SNIOKA PROKOPOWITSCH, gálio-67 na abordagem de pacientes com
PAULO ANDRADE LOTUFO febre reumática
Value of Gallium-67 myocardium scintigraphy
7 Etiopatogenia da febre reumática in the work up of patients with rheumatic
Pathogenesis of rheumatic fever and fever
rheumatic heart disease Carlos Alberto Buchpiguel,
LUIZA GUILHERME, KELLEN C. FAÉ, José Soares Júnior
JORGE KALIL
53 Tratamento clínico da febre reumática
18 Aspectos anatomopatológicos da febre Clinical treatment of rheumatic fever
reumática MARIA HELENA B. KISS
Pathological aspects of the heart in
rheumatic fever 61 Coréia reumática: aspectos diagnósticos
LÉA MARIA MACRUZ FERREIRA e terapêuticos
DEMARCHI, JUSSARA BIANCHI CASTELLI Sydenham’s chorea: diagnostic and
therapeutic aspects
28 Diagnóstico clínico da febre reumática: VITOR TUMAS
os critérios de Jones continuam
adequados? 71 Cardite reumática: peculiaridades
Clinical diagnosis of rheumatic fever: diagnósticas e terapêuticas
are the Jones criteria still adequate? Rheumatic carditis: diagnostic peculiarities
MARIA TERESA R. A.TERRERI, and treatment
MARIA ODETE E. HILÁRIO MARIA SUELY BEZERRA DIÓGENES,
ANTÔNIO CARLOS CARVALHO
34 Valor dos exames laboratoriais no
diagnóstico e no seguimento de pacientes 79 Manifestações articulares da febre
com febre reumática reumática
Laboratory in rheumatic fever Articular involvement in rheumatic fever
MARIA HELENA VIDOTTI, VIRGÍNIA PAES LEME FERRIANI
JOSÉ FRANCISCO KERR SARAIVA
85 Profilaxia da febre reumática
40 Papel da Doppler ecocardiografia no Rheumatic fever prophylaxis
diagnóstico e no prognóstico da febre FLÁVIO TARASOUTCHI,
reumática aguda GUILHERME SOBREIRA SPINA
Role of the Doppler echocardiography in
the evaluation of patients with acute 92 Indicação cirúrgica na febre reumática
rheumatic fever aguda
ANTONIO PAZIN-FILHO, ANDRÉ SCHMIDT, Surgical indication in acute rheumatic fever
MINNA MOREIRA DIAS ROMANO, MAX GRINBERG,
GUILHERME SOBREIRA SPINA
Edição Anterior: Síndrome Isquêmica Aguda com Supradesnivelamento do Segmento ST
Editor Convidado: Otávio Rizzi Coelho
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — No 1 — Janeiro/Fevereiro de 2005 iii
EPIDEMIOLOGIA DA FEBRE REUMÁTICA
PROKOPOWITSCH AS NO SÉCULO XXI
e col.
Epidemiologia da febre
reumática no século XXI
ALEKSANDER SNIOKA PROKOPOWITSCH, PAULO ANDRADE LOTUFO
Tabela 1. Número absoluto de óbitos por cardiopatia reumática notificados por alguns países em 2002.
Tabela 2. Número absoluto de casos notificados de cula-se que a cardiopatia reumática, em países em
cardiopatia reumática em crianças de 5 a 14 anos de desenvolvimento, seja responsável por 12% a 65% das
idade no ano de 2003. internações hospitalares relacionadas a doenças car-
diovasculares(14). Em 2003, a África subsaariana foi a
Região ou país Número de casos região que mais contribuiu com o número de casos de
cardiopatia reumática no mundo em crianças de 5 a 14
África subsaariana 1.008.207 anos de idade, com 1.008.207 casos, seguindo-se a
Ásia Central e Meridional 734.786 Ásia Central e Meridional (734.786 casos) e a China
China 176.576 (176.576 casos). A América Latina contribuiu com
Mediterrâneo Oriental e 136.971 casos e os países desenvolvidos, com 33.330
Norte da África 153.679 casos (Tab. 2)(11).
América Latina 136.971 Dados da Organização Mundial da Saúde dão con-
Ásia (restante) 101.822 ta de que, em 1994, cerca de 12 milhões de pessoas
Europa Oriental 40.366 no mundo sofriam de febre reumática e suas seqüelas
Países desenvolvidos 33.330 cardíacas. Três milhões delas apresentavam insufici-
Pacífico 7.744 ência cardíaca congestiva requerendo repetidas hos-
pitalizações, a maioria com indicação de cirurgia car-
Fonte: Organização Mundial da Saúde(11). díaca valvar num prazo de 5 a 10 anos(15).
GUILHERME L Grupo
e cols.
População clínico HLA Referência
Etiopatogenia da
febre reumática
África do Sul DRC DR1, DRw6 Maharaj e cols., 1987(10)
(negros)
Estados Unidos FR DR2 Ayoub e cols., 1986(6)
(negros)
Índia (região Norte) DRC DR3 Jhinghan e cols., 1986(11)
Índia (região Norte) DRC DR3, DQ2 Taneja e cols., 1989(12)
Estados Unidos FR DR4, DR9 Ayoub e cols., 1986(6)
(caucasóides)
Estados Unidos DRC DR4, DR6 Anastasiou-
(caucasóides) Nana e cols., 1986(7)
Arábia Saudita FR DR4 Rajapakse e cols., 1987(8)
Kashmir DRC DRB1*04 Bhat e cols., 1997(9)
(muçulmanos)
Brasil (mulatos) FR DR7, DR53 Guilherme e cols., 1991(13)
Turquia DRC DR7, DR3 Ozkan e cols., 1993(15)
Egito LVM DRB1*0701, Guedez e cols., 1999(16)
(região Norte) DQA02011*0401-2
Brasil FR DRB1*07 Visentainer e cols.,
(caucasóides) 2000(14)
Latívia LVM DRB1*07, Stanevicha e cols.,
DQB1*0302 2003(17)
RVM DRB1*07,
DQB1*0401-2
Turquia DRC DRw11 Olmez e cols., 1993(20)
México (mestiços) DRC/LVM DRB1*1602, Hernandez-
DQB1*0301, Pacheco e cols., 2003(19)
DQA1*0501
Japão EM DQB1*05031, Koyanagi e cols., 1996(18)
DQA1*0104
LVM: lesões valvulares múltiplas; RVM: regurgitação de valva mitral; EM: estenose
mitral; FR: febre reumática; DRC: doença reumática cardíaca. Destaques em negri-
to = associação mais freqüentemente descrita na literatura.
díacas acima referidas. Resultados similares de reco- sociados com a suscetibilidade à doença, conforme
nhecimento de segmentos da proteína M foram encon- mencionado. Esses resultados sugerem que as molé-
trados em camundongos imunizados com miosina culas HLA-DR7 e DR53 presentes na superfície dos
cardíaca humana (Fig. 2)(35). monócitos e linfócitos B (células apresentadoras de an-
Linfócitos T de sangue periférico de 46% dos paci- tígenos) estejam envolvidas no desencadeamento da
entes com doença reumática cardíaca grave analisa- resposta imune, por meio da apresentação do peptí-
dos também reconheceram o mesmo segmento de 81- deo imunodominante da proteína M do estreptococo
96 resíduos de aminoácidos da proteína M5, enquanto (segmento 81-96) aos linfócitos T dos pacientes com
apenas 8,6% dos controles reconheceram esse seg- doença reumática cardíaca grave(36).
mento (p = 0,0005)(36). Interessantemente, os indivídu- O fato de encontrarmos linfócitos T no sangue peri-
os respondedores a esse segmento eram principalmen- férico e no tecido cardíaco (miocárdio e válvulas) com
te os portadores dos antígenos HLA-DR7 e DR53, as- a mesma especificidade, isto é, capaz de reconhecer
mediadas e reguladas por citocinas. Recentemente mação local estão correlacionadas com a progres-
mostramos que no tecido cardíaco (miocárdio e vál- são das lesões valvulares na doença reumática car-
vulas) há produção predominante de IFNγ e TNFα díaca, enquanto no miocárdio, em que há grande
por células mononucleares (monócitos e linfócitos T) número de células produtoras de IL-4, ocorre a cura
características de resposta do tipo inflamatória (Th- da miocardite após algumas semanas(38).
1)(38). As citocinas IL-10 e IL-4 (Th-2) são regulado-
ras da resposta inflamatória e são igualmente produ- MODELO ANIMAL
zidas por células que infiltram o miocárdio de paci-
entes com doença reumática cardíaca grave (paci- Recentemente, foi possível desenvolver lesões car-
Key words: rheumatic fever, rheumatic heart disease, molecular mimicry, T lympho-
cytes, cytokines.
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Tabela 3. Critérios de Jones (segunda revisão) — Tabela 4. Critérios de Jones (quarta revisão) — 1992.(6)
1965.(4)
Critérios maiores Critérios menores
Critérios maiores Critérios menores
Cardite Artralgia
Cardite Artralgia Poliartrite Febre
Poliartrite Febre Coréia Elevação de provas
Coréia História de febre de fase aguda
reumática Eritema marginado Prolongamento do
Nódulos subcutâneos Alterações intervalo PR
laboratoriais como Nódulos subcutâneos
elevação de VHS,
PCR e leucocitose Evidência de infecção estreptocócica precedente: cul-
Eritema marginado tura positiva, teste rápido para antígeno estreptocóci-
co ou elevação dos títulos de anticorpos estreptocóci-
Evidência de infecção estreptocócica precedente: cul- cos.
tura positiva, escarlatina ou elevação dos títulos de
anticorpos estreptocócicos.
VHS = velocidade de hemossedimentação; PCR = pro- ca de alteração valvar sem ausculta cardíaca foi consi-
teína C-reativa. derada insuficiente para estabelecer a presença de
cardite.
Em 2000, os membros do Comitê para febre reu-
enças que simulavam febre reumática, mas que não mática, endocardite e doença de Kawasaki da Associ-
tinham evidência de infecção estreptocócica prévia. O ação Americana de Cardiologia se encontraram com
aumento da especificidade comprometeu a sensibili- um grupo de especialistas internacionais para rever os
dade. A única condição que não exigia a infecção es- critérios de Jones e suas sucessivas revisões. O obje-
treptocócica era a coréia isolada ou a cardite insidiosa, tivo do encontro foi rever a acurácia dos critérios para
pelo seu longo período de latência. o primeiro surto da doença e discutir se técnicas mais
Em 1984, o comitê para febre reumática, endocar- modernas como a ecocardiografia Doppler colorida po-
dite e doença de Kawasaki da Associação Americana deriam ser adicionadas aos critérios para o diagnósti-
de Cardiologia esclareceu algumas definições, mas não co de cardite reumática. O grupo reafirmou a validade
ocorreram alterações significativas(5). Pela primeira vez dos critérios revisados de 1992, considerou-os como o
foi questionado o papel do ecocardiograma como uma padrão para o diagnóstico de surto inicial agudo de fe-
medida para diagnosticar a pericardite. O prolongamen- bre reumática e nenhuma outra correção foi sugerida.
to do intervalo PR foi classificado como uma manifes- Entretanto, até agora nenhum valor preditivo foi atribu-
tação não-específica e não relacionada à cardite. ído aos critérios de Jones.
Na revisão de 1992, ficou estabelecido que os cri- Apresentações poucos usuais de febre reumática
térios de Jones passariam a ser válidos apenas para o aguda com uma variedade de manifestações clínicas
diagnóstico inicial da febre reumática e não mais para que não preenchem os critérios revisados de Jones,
as recorrências (Tab. 4)(6). Esses critérios não seriam podem levar a erros ou atrasos no diagnóstico. Os cri-
utilizados para determinar a atividade ou estabelecer o térios de Jones não podem substituir o julgamento clí-
diagnóstico da doença inativa ou doença cardíaca reu- nico em casos atípicos(9).
mática crônica e, por isso, o critério menor de história As primeiras críticas a esses critérios começam com
Disciplina de Cardiologia —
Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Campinas
Endereço para correspondência: Rua Dr. José Vicente, 130 — CEP 13101-536 —
Campinas — SP
Períodos da doença
Provas Fases iniciais Período de estado Momento da “cura”
The purpose of this review is to assist the physician, during clinical practice, to
deal with a suspicion of an acute case of rheumatic fever. Rheumatic fever often
presents with a wide spectrum of clinical symptoms, frequently unspecific or only
slightly related to the inflammatory aspect of the disease. The laboratorial screening
is a very helpful tool in the differential diagnosis. Despite their lack of specificity, the
laboratorial tests and clinical presentation together frequently guide the clinician to
the diagnosis. The laboratorial exams also should be monitored to determine the
evolution of clinical cases, as well as the eventual recurrence of symptoms
Divisão de Cardiologia —
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto —
Universidade de São Paulo — FMRP-USP
Tabela 2. Prevalência de cardite clínica e subclínica, tempo de seguimento e persistência das lesões documen-
tadas pela Doppler ecocardiografia em estudos clínicos que avaliaram a evolução de pacientes com cardite
reumática subclínica no primeiro episódio.
n = número de pacientes
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Departamento de Pediatria —
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
orofaringe, com custo extremamente acessível. Infelizmen- Outros antibióticos, como as cefalosporinas e os ma-
te, os temores às reações de hipersensibilidade (de modo crolídeos (claritromicina, azitromicina), vêm sendo pro-
geral, superdimensionados e infundados), a administra- postos como alternativas às penicilinas(9-11). Alguns estu-
ção parenteral bastante dolorosa da medicação e o sur- dos demonstram eficácias adequadas na erradicação do
gimento de novos antibióticos determinaram a acentua- estreptococo da orofaringe com cursos de cinco dias de
da diminuição de sua indicação pelos médicos e de sua cefdimir, cefpodoxime e azitromicina(1, 12, 13). Esses antibi-
aceitação pelos pacientes e seus familiares(5). óticos, porém, não devem ser considerados como drogas
A lidocaína a 1% utilizada como diluente para admi- de primeira escolha para a profilaxia primária. São dro-
nistração da penicilina benzatina não modifica sua con- gas de custos elevados, com efeitos colaterais freqüen-
centração sérica e reduz de maneira significativa a dor tes, especialmente para o trato gastrointestinal, e cujo uso
local(6). indiscriminado pode levar ao rápido aumento da resistên-
Outras penicilinas orais, como a ampicilina e a amoxi- cia bacteriana, o que já vem ocorrendo com a azitromici-
cilina isolada ou associada ao ácido clavulânico, adminis- na, ampliando as dificuldades para o tratamento de paci-
tradas durante dez dias apresentam eficácias iguais ou entes alérgicos à penicilina.
superiores às da penicilina V em relação à erradicação Antibióticos bacteriostáticos como cloranfenicol, tetra-
do estreptococo. ciclinas e sulfas não erradicam o estreptococo da orofa-
Recentemente, alguns fatores vêm sendo identifica- ringe, e, portanto, não são indicados para a profilaxia pri-
dos como responsáveis por casos de respostas inade- mária.
quadas ao uso das penicilinas(7): Concluindo, a penicilina benzatina mantém-se como
— inativação da penicilina por bactérias produtoras de a melhor opção para a profilaxia primária da febre reumá-
betalactamase — o Staphylococcus aureus, o Bacte- tica; quando sua utilização não for possível pelas várias
roides fragilis e, mais recentemente, a Moraxella ca- razões citadas anteriormente, é importante que a esco-
tarrhalis são exemplos importantes de bactérias da lha seja direcionada para antibióticos bactericidas para o
orofaringe produtoras de betalactamase; estreptococo, com espectros de ação reduzidos (menor
* A duração total do tratamento poderá variar, dependendo do quadro clínico e das provas de atividade inflama-
tória.
** Duração total do tratamento da cardite = 12 semanas.
haloperidol, é preciso ter cautela na sua administra- durante quatro semanas em crianças com coréia mos-
ção. E quando doses superiores a 5 mg/dia forem ne- trou-se eficaz na redução da intensidade e da duração
cessárias, é recomendável a monitorização contínua dos sintomas, mas não impediu as recidivas(24).
em ambiente hospitalar, pelos riscos de impregnação.
O ácido valpróico pode ser uma alternativa terapêu- PROFILAXIA SECUNDÁRIA
tica válida para crianças que apresentem toxicidade ou
que não podem ser supervisionadas durante a admi- Independentemente da gravidade do surto inicial,
Artrite isolada 8 15 8 11
Artrite e cardite 37 71 50 65
Artrite e coréia 1,5 3 7 9
Artrite, cardite e coréia 3,5 6,5 8 11
Artrite, cardite e NSC 1 2 1 2
Artrite, cardite e EM 0,8 1,5 0,8 1
Joelhos 76 73,3 76 75
Tornozelos 50 41,5 62 79
Cotovelos 15 18,8 29 19
Punhos 15 20,7 28 25
Quadril 15 22,6 15 16
Pequenas articulações
dos pés 15 17 13 32
Pequenas articulações
das mãos 8 17 15 26
Ombros 8 —- 12 19
Coluna cervical 1 —- 15 26
Coluna lombar —- —- 7 4
responderam ao uso de salicilatos, e 3% apresenta- que a chamada artrite reativa pós-estreptocócica pode
ram monoartrite. O tempo decorrido entre o início dos evoluir com comprometimento cardíaco, é muito mais
sintomas e o diagnóstico de febre reumática foi signifi- prudente considerarmos que casos de febre reumática
cantemente maior nas crianças com artrite atípica, atípica existem e devem ser tratados da mesma forma
quando comparadas àquelas que apresentaram qua- que os quadros típicos, para que se possa prevenir as
dros articulares típicos de febre reumática(2). complicações cardíacas, com o uso da profilaxia com
Outras descrições de quadros articulares atípicos penicilina benzatina em todos esses casos.
de febre reumática foram publicadas(16, 19, 23), inclusive
em nosso país(15, 22). EXAMES LABORATORIAIS
A artrite atípica da febre reumática é muito seme-
lhante àquela descrita na artrite reativa pós-estrepto- Não existem exames laboratoriais que confirmem o
cócica. Essa entidade clínica, descrita principalmente diagnóstico de febre reumática. Alguns exames são
na literatura internacional, é definida pela presença de úteis para caracterizar o processo inflamatório e ou-
artrite que aparece após quadro de infecção causada tros para auxiliar no diagnóstico diferencial com outras
pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A, mas di- doenças.
fere da artrite da febre reumática (que também é reati- O hemograma pode revelar leucocitose e neutrofi-
va e pós-estreptocócica) pelo menor período de latên- lia e anemia leve a moderada. As plaquetas podem estar
cia após a infecção estreptocócica (até 10 dias), artrite aumentadas. Anemia severa e linfocitose sugerem ou-
mais prolongada e má resposta aos salicilatos(21, 24, 25). tros diagnósticos, entre eles as leucoses e a anemia
Alguns autores consideram a artrite reativa pós-estrep- falciforme(28).
Arthritis is the most common and less specific manifestation of rheumatic fever.
Some patients may present with atypical arthritis, adding an extra dilemma for the
diagnosis of this disease, mainly when arthritis is the sole major manifestation.
ções (faringite reumática e amidalites) por estreptoco- creção nasal ou tosse, sendo o diferencial feito com
cos beta-hemolíticos do grupo A não diagnosticadas e outras infecções das vias aéreas superiores, como as
não tratadas adequadamente, em indivíduos sensíveis, causadas por vírus. Podem ser realizados exames la-
podem levar a um surto de febre reumática. Assim, é ne- boratoriais para o diagnóstico da estreptococcia, como
cessário um esquema eficaz não só de tratamento mas cultura de orofaringe (que em geral tem baixa positivi-
de prevenção de infecções pelos estreptococos(2, 4). dade) e testes rápidos. Esses testes muitas vezes são
Devemos lembrar que fatores socioeconômicos de difícil obtenção e retardariam o tratamento adequa-
estão relacionados a essas infecções e desenvolvem do da estreptococcia, motivo pelo qual em geral em
a doença reumática. A febre reumática classicamen- saúde pública o procedimento mais adequado é tratar
te é considerada uma doença derivada de más con- com antibióticos todas as infecções de garganta com a
dições de vida da população, de aglomerações e de mínima possibilidade de serem bacterianas. Esse regi-
um sistema de saúde que não consegue dar à popu- me mais agressivo de uso de antibióticos é adequado
lação assistência adequada. Assim, o tratamento das a situações de alta prevalência de estreptococos no
infecções estreptocócicas passa pela melhora das ambiente ou em surtos epidêmicos de amidalite agu-
condições de vida da população, especialmente as da(5).
de mais baixa renda, pelas condições favoráveis à O antibiótico de eleição para a profilaxia primaria
disseminação dos estreptococos (precárias condi- da febre reumática é a penicilina G benzatina em dose
ções de higiene, aglomerações e maior promiscui- única de 600.000 UI para crianças de até 25 kg e de
dade). Essa população sem acesso ao sistema de 1.200.000 UI para pacientes acima desse peso, em
saúde é a mais suscetível à febre reumática(4). Um injeção intramuscular profunda, em dose única. A
dos fatores que levaram ao declínio da febre reumá- grande vantagem desse regime é seu baixo custo e
tica na Europa e na América do Norte foi a melhoria grande eficácia e a vantagem de não haver necessi-
das condições de vida da população, associada ao dade de repetir o tratamento. Considerando-se o tra-
adequado sistema de tratamento de infecções estrep- tamento por via oral, a droga de escolha ainda é a
tocócicas, com identificação e tratamento precoce dos fenoximetilpenicilina (penicilina V)(2, 5) na dose de
portadores de amidalites estreptocócicas (2). 500.000 UI de 12 em 12 horas para crianças e em
A profilaxia primária é baseada no diagnóstico pre- intervalo mais freqüente (de 8 em 8 horas ou de 6
coce dos portadores de infecções de orofaringe pelo em 6 horas) para adultos. Devemos lembrar que o
estreptococo beta-hemolítico do grupo A e o tratamen- tratamento antibiótico deve ser mantido por pelo
to com antibióticos bactericidas(5). O diagnóstico rápi- menos 10 dias, com o objetivo de prevenir também a
do é essencial, e o tratamento deve ser iniciado nos ocorrência de febre reumática. Devemos lembrar que
primeiros dias do quadro, pois a persistência do mi- as penicilinas ocupam lugar de destaque no comba-
crorganismo por mais de uma semana acarretará, nos te às estreptococcias também pela ausência de re-
indivíduos suscetíveis, a seqüência de reações imuno- sistência destes a essas drogas
lógicas, que poderá desenvolver o surto de febre reu- Novos tratamentos para a amidalite, como, por
mática(4). exemplo, com macrolídeos(6) ou cefalosporinas(7-10), po-
O quadro clínico da amidalite estreptocócica inclui dem ser efetivos na erradicação do estreptococo, mas
dor de garganta, impedindo a deglutição, febre alta por serem medicamentos de alto custo têm seu em-
(mais de 38oC), adenopatia cervical e submandibular, prego limitado na amidalite estreptocócica, principal-
e petéquias em palato e úvula. Geralmente não há se- mente quando se tem um tratamento tão efetivo e de
rante 10 dias. As sulfas são inadequadas para o tra- 27 kg e de 1.200.000 UI acima desse peso. A freqüên-
tamento das amidalites estreptocócicas, pois não são cia das doses de penicilina é motivo de controvérsia,
bactericidas e assim não previnem a febre reumáti- que vem ganhando mais definição graças a muitos es-
ca(5, 11) (Tab. 1). tudos comparando diversos regimes de profilaxia. Se-
Para o diagnóstico de febre reumática é necessário gundo a “American Heart Association”(5), o uso de apli-
quadro clínico típico compatível, que, em geral, se ins- cações mensais seria adequado, reservado-se as apli-
tala após a amidalite, e não durante a mesma. Em es- cações a cada três semanas para localidades com alta
tudos clássicos em populações confinadas em quar- incidência de febre reumática ou de amidalites estrep-
téis, verificou-se que após um surto de amidalites es- tocócicas. Entretanto, vários trabalhos demonstram que,
treptocócicas apenas 3% dos infectados desenvolve- ao menos fora dos Estados Unidos e da Europa, o re-
ram quadro clínico compatível com febre reumática. gime de uma aplicação de penicilina a cada quatro se-
Assim, não basta a estreptococcia, o paciente tem que manas é inadequado.(12-15) Em nosso meio, pela alta
ser suscetível à febre reumática. Títulos elevados de prevalência de febre reumática e de infecções estepto-
antiestreptolisina O (ASLO) apenas demonstram es- cócicas, não devemos usar aplicações mensais de pe-
treptococcia anterior, mas não fazem diagnóstico de nicilina benzatina por não proporcionarem proteção
febre reumática. adequada aos portadores de doença reumática. O ris-
co de recorrência com aplicações a cada quatro sema-
PROFILAXIA SECUNDÁRIA DA FEBRE nas é cinco vezes maior que com aplicações a cada
REUMÁTICA três semanas.(12)
Assim, a profilaxia secundária deve ser realizada
Nos pacientes com diagnóstico de febre reumática, com aplicações de penicilina G benzatina com interva-
está indicada a profilaxia secundária para a prevenção lo máximo de três semanas. Considerando-se que o
de novos surtos. O diagnóstico correto da doença é maior risco de recorrência da febre reumática ocorre
fadiazina(2), na dose de 1 g/dia, sendo necessário o con- máticas pode ter conseqüências graves, notadamente
trole de possíveis quadros leucopênicos (Tab. 2). De- a endocardite Infecciosa.
vemos sempre lembrar que a antibioticoterapia intra-
muscular é mais efetiva que aquela por via oral na pre- DURAÇÃO DA PROFILAXIA ANTIBIÓTICA EM
venção de novos surtos reumáticos.(16) PACIENTES COM FEBRE REUMÁTICA
Os critérios de suspensão à profilaxia são(2): paci-
entes sem acometimento cardíaco, apenas com mani- O risco aumenta com vários ataques prévios, en-
festação articular ou coréia “pura” — suspender aos 18 quanto o risco diminui quanto maior for o intervalo des-
anos ou cinco anos após o surto reumático; pacientes de o ataque mais recente. A probabilidade de se ad-
com cardite durante o surto agudo que não apresen- quirir infecção estreptocócica de trato respiratório su-
tam seqüelas tardias ou apresentam seqüelas muito perior é uma consideração importante. Pacientes com
discretas — suspender aos 25 anos ou dez anos após aumento da exposição a infecções estreptocócicas in-
o último surto reumático; pacientes nos quais é retira- cluem crianças e adolescentes, pais de crianças jovens,
da a profilaxia e os sintomas retornam deverão ter pro- professores, médicos, enfermeiras, outros profissionais
filaxia mantida por mais cinco anos. Pacientes com aco- de saúde em contato com crianças, recrutas militares
metimento cardíaco, mesmo discreto, deverão ter pro- e outros em ambientes cheios e fechados (aglomera-
filaxia prolongada, de preferência por toda a vida; quan- ções). Tem-se demonstrado alto risco de recorrência
do isso não for possível, até a quinta década.(2, 5) em populações com dificuldades econômicas.
Desde os primeiros trabalhos sobre a profilaxia, Médicos devem considerar cada situação individual
vários centros acadêmicos têm incentivado a forma- quando determinam a duração adequada da profilaxia.
For the prevention of acute rheumatic fever, identification and early treatment of
streptococcal pharingoamigdalytis is essential. Erradication of group A streptococci
is achieved by a single dose of benzathine penicillin G or via a 10-day course of oral
antibiotics. In the antibiotic selection several factors must be considered, such as:
cost, clinical and bacteriological efficacy and compliance to the prescribed regimen.
Still today, penicillin is the antibiotic of choice for primary and secondary prophylaxis
of rheumatic fever, except in patients with penicillin allergy. Patients with a rheumatic
fever diagnosis must undertake secondary prophylaxis for the prevention of recur-
rent attacks which can lead to progression of the disease. In countries with high
prevalence of rheumatic fever and rheumatic heart disease secondary prophylaxis
must be achieved with benzathine penicillin G applications with 21-day intervals.
A febre reumática ainda tem alta prevalência em nosso meio, e sua manifestação
mais temível é a cardite reumática. A cardite acarreta inflamação de todos os folhe-
tos do coração, mas suas conseqüências manifestam-se de forma mais pronuncia-
da no miocárdio e no endocárdio. A insuficiência cardíaca na cardite grave ocorre
tanto por disfunção miocárdica como por aparecimento ou aumento de regurgitação
valvar. Nos raros casos de insuficiência cardíaca refratária, a pulsoterapia se faz
necessária; se houver insuficiências graves, pode ser necessária a abordagem ci-
rúrgica na fase aguda da doença. Tal intervenção, entretanto, deve ser realizada no
período de estado apenas em pacientes com insuficiência cardíaca refratária, pelas
dificuldades técnicas e alta mortalidade.
alta incidência de febre reumática, como o nosso. Em ses pacientes, o diagnóstico do surto de cardite aguda
casos raros, o acometimento cardíaco pode ser de tal é de extrema importância.
importância que há a necessidade de tratamento cirúr- Hoje podemos dizer que há dois tipos de cardite
gico na fase de estado da doença. grave: a cardite considerada grave por ter sintomas de
insuficiência cardíaca e miocardite na fase aguda e a
QUADRO CLÍNICO DA CARDITE REUMÁTICA cardite silente na fase aguda, mas que determina im-
portantes seqüelas valvares, que se tornam clinicamen-
A cardite é a mais grave das manifestações da fe- te aparentes décadas após o surto agudo.
bre reumática, por deixar seqüelas (cardiopatia reumá- Pode ser didaticamente dividida em :
tica crônica). Em nosso meio, cada vez mais pacientes — Cardite leve — Paciente com quadro de taquicardia
têm quadros de cardite e se apresentam assintomáti- desproporcional à febre, abafamento da primeira bu-
cos ou oligossintomáticos, tornando cada vez mais di- lha, sopros sistólicos regurgitativos discretos em
fícil o diagnóstico da cardite aguda. O fato de a cardite área mitral, aumento do intervalo PR no eletroardi-
ser uma manifestação predominantemente celular faz ograma, com área cardíaca normal à radiografia. Na
com que possam não haver outros sintomas como ar- quase totalidade dos casos é assintomática.
trite e/ou coréia, manifestações predominantemente — Cardite moderada — Compreende os sintomas da
humorais, dificultando assim o reconhecimento da do- cardite leve acrescidos de pericardite (dor precordi-
ença. Outras manifestações celulares como os nódu- al que melhora com a posição genopeitoral, e piora
los subcutâneos podem acompanhar a cardite, e por com o decúbito e com a inspiração, acrescida de
isso são classicamente marcadores de cardite grave. atrito pericárdico à ausculta). Os sopros em geral
Rheumatic fever is still frequent and its most dreadful feature is the rheumatic
carditis. Carditis leads to inflammation of all layers of the heart, but the myocarditis
and the rheumatic endocarditis are the features that lead to severe consequences.
Heart failure ensues due to myocarditis and also due to new or increased valvular
regurgitation. In the rare cases of heart failure resistant to conventional treatment
high-dose intravenous corticosteroid therapy is essential and surgical correction of
the valvular regurgitations may be necessary. However, the surgery correction, due
to its high risk, must only be performed in patients who fail to improve with medical
treatment.
Key words: rheumatic fever, acute rheumatic carditis, treatment, surgical indication.
Este estudo descritivo teve como objetivo identificar os fatores de risco relaciona-
dos ao meio ambiente, à biologia humana, ao estilo de vida e aos serviços de saúde
dos pacientes internados em um hospital privado, até 48 horas após o infarto agudo
do miocárdio. Foram entrevistados 31 pacientes infartados, no período de janeiro a
julho de 2003. Os resultados apontam que, dos 31 (100%) pacientes investigados, a
maioria era alfabetizada (93,5%), do sexo masculino (61,3%), encontrava-se na fai-
xa etária de 40 a 49 anos (54,9%), com sobrepeso ou obesidade classes I e II
(58,1%), e apresentava antecedentes familiares de hipertensão arterial sistêmica
(74,2%). Observou-se que 93,6% deles utilizavam frituras nas refeições, 58,1% fazi-
am uso de bebida alcoólica, 32,2% eram fumantes e 29,0% eram ex-fumantes, 58,1%
não praticavam atividade física, e 54,8% estavam realizando tratamento de hiper-
tensão arterial e diabetes melito. Com isso, ficou demonstrada a necessidade de
implementação de programa educativo específico para a prevenção de condições
crônicas de saúde para essa clientela.
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — No 1 (supl) — Janeiro/Fevereiro de 2005 1
tanto, devemos considerar quatro elementos principais: meio ambiente, biologia
que a exposição a tais fa- humana, estilo de vida e organização do sistema de
tores também é decorren- saúde. Construídos a partir da identificação das cau-
te de pobreza, baixos ní- sas e dos fatores que desencadeavam doenças e mor-
OLIVEIRA KCS e col.
Fatores de risco em veis de escolaridade, ali- tes no Canadá, esses elementos possibilitaram esta-
pacientes com infarto mentação inadequada, fal- belecer o nível de saúde da população, naquele país.
agudo do miocárdio em ta de saneamento básico Quanto ao conceito de meio ambiente, este inclui
hospital privado e qualidade do ambiente todos os aspectos relacionados à saúde externos ao
em que o indivíduo vive, corpo humano e relacionados ao ambiente tanto físico
situações que levam à como social dos indivíduos. A biologia humana abran-
maior exposição de agen- ge os aspectos físicos e mentais da saúde, que se re-
tes patológicos(1). ferem ao corpo humano e à constituição orgânica do
Então, é necessário que o profissional de saúde e indivíduo. Já o estilo de vida consiste no conjunto de
os tomadores de decisão da área da saúde compreen- decisões tomadas pelo indivíduo, sobre as quais ele
dam o conceito de risco. Os fatores de risco referem- possui maior ou menor controle e que afetam sua saú-
se a qualquer atributo de exposição do indivíduo que de. Do ponto de vista da saúde, decisões e hábitos
aumente a probabilidade de que ele padeça de enfer- pessoais insatisfatórios criam os riscos autocriados. Por
midade não-transmissível. No contexto da Saúde Pú- fim, a organização do sistema de saúde é definido quan-
blica, as verificações desses fatores nos auxiliam a to a qualidade, quantidade, administração, natureza e
descrever a distribuição de uma enfermidade futura relações de pessoas e recursos, no oferecimento do
numa população e não a predizer a saúde de uma pes- cuidado de saúde, do qual fazem parte a equipe e as
soa em particular(2). instituições de saúde.
Cabe ressaltar que a construção do risco tem cará-
ter coletivo e, portanto, a associação de condições de OBJETIVO
risco faz parte do processo de produção de doenças.
Outro ponto a considerar é que a concepção de risco Identificar os fatores de risco relacionados ao meio
difere de pessoa para pessoa, pois a percepção acer- ambiente, à biologia humana, ao estilo de vida e aos
ca desse mesmo risco é influenciada pela cultura, pelo serviços de saúde de pacientes internados em hospi-
meio ambiente, pela mídia e por grupos de interesse e tal privado, até 48 horas após o infarto agudo do mio-
acesso aos produtos, e motivada pelo processo de glo- cárdio.
balização, que ocorre nas últimas décadas(2).
Mesmo considerando que não é possível modificar MATERIAL E MÉTODOS
muitos dos fatores de risco associados às doenças, os
pesquisadores têm procurado identificá-los e quantifi- Delineamento do estudo
cá-los para a saúde. Utilizamos, para esse fim, o método descritivo.
Partindo dessas considerações, procuramos identi-
ficar, por meio deste estudo, o estilo de vida dos paci- Local do estudo
entes com infarto agudo do miocárdio, tendo em vista A pesquisa foi desenvolvida no Hospital São Fran-
os avanços tecnológicos e terapêuticos que auxiliam cisco e no Hospital do Coração de Ribeirão Preto, no
no tratamento da doença isquêmica do coração, pro- Estado de São Paulo.
longando, assim, a vida do paciente.
População e amostra do estudo
REFERENCIAL TEÓRICO No período de janeiro a julho de 2003, 42 pacientes
foram internados na Unidade Coronariana do hospital
Diante da abrangência dos fatores de risco que en- em estudo, com suspeita diagnóstica de infarto agudo
volvem os pacientes com infarto agudo do miocárdio, do miocárdio. A amostragem feita por conveniência
ou seja, os fatores biológicos, sociais, culturais e o sis- atendeu aos seguintes critérios de inclusão: o paciente
tema de saúde, optamos por utilizar o referencial teóri- deveria apresentar diagnóstico de infarto agudo do
co de Campo de Saúde(7). Essa escolha possibilitará a miocárdio, confirmado mediante a realização de exa-
análise de aspectos que abrangem o processo de do- me clínico pelo médico; eletrocardiograma e alterações
ença dos pacientes, os quais apresentam essa condi- dos exames laboratoriais de dosagem de enzimas da
ção crônica sob diferentes formas, ou seja, meio ambi- creatina-cinase-CK com as isoenzimas; desidrogena-
ente, biologia humana, estilo de vida e organização do se lática-LDH e músculo cardíaco-CKMB; encontrar-
sistema de saúde. se no segundo dia de infarto agudo do miocárdio, ou
O conceito de Campo de Saúde é composto por seja, até 48 horas após o infarto agudo do miocárdio;
2 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — No 1 (supl) — Janeiro/Fevereiro de 2005
estar sem dor e concordar preconizadas para um estudo descritivo, sendo a mes-
em participar da pesquisa ma fundamentada no referencial teórico do Modelo de
após assinatura do termo Campo de Saúde.
de consentimento informa-
OLIVEIRA KCS e col.
Fatores de risco em do. Assim, a amostra foi Aspectos éticos
pacientes com infarto constituída por 31 pacien- Submetemos o estudo à análise do Comitê de Ética
agudo do miocárdio em tes internados com infarto da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Uni-
hospital privado agudo do miocárdio. versidade de São Paulo e, após sua aprovação, escla-
recemos aos sujeitos participantes os objetivos e a na-
Variáveis do estudo tureza da investigação. Antes de iniciarmos as entre-
As variáveis do estudo vistas, os participantes assinaram o termo de consen-
foram relacionadas à iden- timento.
tificação (nome, registro, enfermaria, leito, endereço
completo e tipo de plano de saúde), ao meio ambiente RESULTADOS E DISCUSSÃO
(nível de instrução, profissão, ocupação, turno de tra-
balho, número de empregos, renda familiar, estado ci- Análise das variáveis relacionadas à identificação
vil, número de filhos, procedência e local de residên- e ao meio ambiente
cia), à biologia humana (sexo, idade, peso, altura, índi- Dos 31 (100%) pacientes investigados, 21 (67,7%)
ce de massa corporal, história familiar de doenças car- receberam atendimento do plano de saúde São Fran-
diovasculares, antecedentes familiares de morte por cisco Clínicas; 2 (6,5%), da Cooperativa de Trabalho
doença cardiovascular e uso de hormônio feminino), Médico Unimed-Ribeirão Preto-SP; 1 (3,2%), particu-
ao estilo de vida (causas atribuídas pelo paciente para larmente; e 7 (22,6%), de outros planos de saúde.
a ocorrência do infarto agudo do miocárdio, hábitos ali- Em relação ao nível de instrução, os dados mais
mentares, consumo de bebidas alcoólicas, atividade expressivos apontam que 5 (16,1%) cursaram o pri-
física, tabagismo, estresse e padrão do sono), e ao sis- meiro grau incompleto e 11 (35,5%), o primeiro grau
tema de saúde (informações referentes à doença atu- completo (Tab. 1).
al, conhecimento do diagnóstico, dúvidas quanto à do- Estudo randomizado realizado no Brasil, sobre os
ença, tratamentos médicos e utilização de outro siste- fatores de risco para o infarto agudo do miocárdio, de-
ma de saúde). monstrou que, quanto ao grau de instrução, os pacien-
tes, em sua maioria, eram analfabetos ou com baixo
Elaboração do instrumento de coleta de dados grau de escolaridade. Demonstrou, ainda, que não hou-
Elaboramos um roteiro sistematizado, consideran- ve diferenças significativas entre os pacientes investi-
do as variáveis do estudo, a experiência pessoal do gados quanto ao nível de escolaridade e risco para o
pesquisador e a revisão da literatura. Esse instrumen- desenvolvimento do infarto agudo do miocárdio(8).
to, composto de cinco partes, continha 42 questões Quanto à profissão, os dados desta pesquisa de-
semi-abertas e três abertas. monstraram que 12,9% e 9,7% dos pacientes eram em-
presários e comerciantes, respectivamente, o que leva
Estudo piloto a pensar que esses indivíduos podiam estar de algu-
O estudo piloto foi realizado na Unidade Coronaria- ma forma sob estresse ocupacional (Tab. 1).
na do hospital em estudo, em janeiro de 2003, com Em relação ao turno de trabalho, 24 (77,4%) paci-
cinco pacientes infartados. entes com infarto agudo do miocárdio desenvolviam
seu trabalho no período diurno; 1 (3,2%), no vesperti-
Coleta de dados no; 4 (12,9%) deles encontravam-se sem trabalho; e 2
Obtivemos os dados das variáveis do estudo medi- (6,5%), em outros turnos.
ante entrevistas dirigidas, realizadas na Unidade Co- Em relação a estarem ou não empregados, dos 31
ronariana, ocasião em que o pesquisador registrou no (100%) pacientes investigados, 24 (77,4%) tinham um
instrumento os dados colhidos. emprego; 2 (6,5%), dois; 1 (3,2%), quatro ou mais; e 4
(12,9%) encontravam-se sem trabalho.
Organização dos dados para análise A renda familiar dos pacientes com infarto agudo
Os dados contidos no formulário receberam códi- do miocárdio variou de 2 a 15 salários mínimos ou mais
gos específicos, quando selecionamos as variáveis, que (Tab. 1). Em contrapartida, a renda familiar da maioria
eram transportadas para uma planilha. Montamos a dos pacientes com infarto agudo do miocárdio atendi-
estrutura do banco de dados a partir das planilhas, da em hospital público era inferior a 3 salários-míni-
sendo o mesmo formatado no programa SPSS 9.0 for mos(9).
Windows. Para análise dos dados, utilizamos normas A associação entre um pobre estado de saúde e
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — No 1 (supl) — Janeiro/Fevereiro de 2005 3
Tabela 1. Distribuição numérica e porcentual de pacientes com infarto agudo do
miocárdio, internados em hospital privado, segundo escolaridade, profissão, ocupa-
ção, renda familiar e estado civil — Ribeirão Preto, SP, 2003.
OLIVEIRA KCS e col.
Fatores de risco em n %
pacientes com infarto
agudo do miocárdio em Escolaridade
hospital privado
— Analfabeto 2 6,5
— Primeiro grau incompleto 5 16,1
— Primeiro grau completo 11 35,5
— Segundo grau incompleto 3 9,7
— Segundo grau completo 6 19,3
— Nível superior incompleto 1 3,2
— Nível superior completo 3 9,7
Profissão
— Médico 1 3,2
— Professor 1 3,2
— Administrador de empresa 1 3,2
Ocupação
— Dona de casa 6 19,3
— Aposentado 5 16,1
— Empresário 4 12,9
— Comerciante 3 9,7
— Representante comercial 2 2,5
— Artesão 2 2,5
— Trabalhador rural 2 2,5
— Vendedor 2 2,5
— Outros 5 16,1
Renda familiar
— Menor que 3 salários mínimos 4 12,9
— 3 a 5 salários mínimos 10 32,2
— 5 a 10 salários mínimos 10 32,2
— 15 ou mais salários mínimos 7 22,6
Estado civil
— Casado/amasiado 22 70,9
— Viúvo 4 12,9
— Desquitado/divorciado 3 9,7
— Solteiro 2 2,5
n = número de pacientes.
baixo nível socioeconômico tem sido observada no úl- isquêmica cardíaca(11), ressaltamos a importância da
timo século; assim, há fortes evidências de que a baixa participação da família no processo de reabilitação da
condição econômica constitui fator independente de pessoa acometida por infarto agudo do miocárdio para
risco para a doença(10). sua reintegração social(12).
Analisando o estado civil (Tab. 1) dos pacientes com No que se refere ao número de filhos, 8 (25,8%)
infarto agudo do miocárdio, observou-se que 22 (70,9%) pacientes tinham mais de três filhos; 7 (22,6%), três
eram casados/amasiados. Estudo realizado em um filhos; 7 (22,6%), dois filhos; 6 (19,3%), um filho; e 3
hospital público universitário de grande porte demons- (9,7%) não possuíam filhos. Ainda quanto ao número
trou que a maior parte dos pacientes era casada e ti- de filhos, cabe ressaltar que em todo o mundo as ta-
nha filhos(9). xas de natalidade estão recuando, as expectativas de
Além da relação entre situação conjugal do indiví- vida avançando e as populações envelhecendo. Na
duo e índices de morbidade e mortalidade por doença década de 50, por exemplo, a média de filhos em uma
4 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — No 1 (supl) — Janeiro/Fevereiro de 2005
família era de seis, porém dos pacientes, se encontravam na faixa etária de 30 a
hoje a taxa de fecundida- 59 anos de idade. Cabe destacar, no entanto, que 2
de total diminuiu para três (6,5%) infartados se encontravam na faixa etária de 30
filhos. Os dados encontra- a 39 anos, mostrando uma tendência para o infarto
OLIVEIRA KCS e col.
Fatores de risco em dos neste estudo também agudo do miocárdio em adultos jovens, uma vez que a
pacientes com infarto refletem essas mudan- ocorrência do infarto agudo do miocárdio no Brasil foi
agudo do miocárdio em ças(2). de 58 anos(8).
hospital privado Quanto ao local de mo- Considerando que ocorre maior freqüência de paci-
radia, os 31 (100%) paci- entes infartados entre os elementos do sexo masculi-
entes residiam em área ur- no e que tradicionalmente são as mulheres que mais
bana, com infra-estrutura procuram os serviços de saúde para os cuidados de
(rede de energia elétrica e prevenção e/ou tratamento, estratégias efetivas são ne-
pavimentação das ruas). No entanto, estudando a pro- cessárias para atingir a população masculina como um
cedência dos 31 (100%) pacientes com infarto agudo todo, no sentido de incentivá-la a buscar práticas de
do miocárdio, verificamos que 14 (45,2%) eram proce- saúde saudáveis. As estratégias reportam-se a inter-
dentes de Ribeirão Preto (SP); 7 (22,6%), da região de venções comportamentais e técnicas para aumentar a
Ribeirão Preto (SP DIR XVIII) e 10 (32,2%), de outras aderência do indivíduo ao autocuidado, visando a di-
cidades do Estado de São Paulo. minuir os fatores de risco para o infarto agudo do mio-
Achamos importante investigar os aspectos relaci- cárdio. Por outro lado, é preciso que, para aqueles pa-
onados ao meio ambiente, pois o bom estado de saú- cientes que já sofreram o primeiro infarto agudo do
de é influenciado pelo estilo de vida, que guarda rela- miocárdio, os enfermeiros busquem estratégias edu-
ção direta com qualidade de vida e com clima harmo- cativas que dêem autonomia ao paciente, envolvendo-
nioso no ambiente de trabalho e social e consigo mes- o e responsabilizando-o pelo seu cuidado, mediante
mo(13). interação efetiva paciente-enfermeiro.
No que se refere ao índice de massa corporal, cons-
Análise das variáveis relacionadas à biologia tatou-se que 13 (41,9%) pacientes com infarto agudo
humana do miocárdio apresentaram índice de massa corporal
Em relação à faixa etária, constatamos que, dos 31 normal; 8 (25,8%), sobrepeso; 8 (25,8%), obesidade
(100%) pacientes investigados, 2 (6,5%) se encontra- classe I; e 2 (6,5%), obesidade classe II.
vam na faixa etária de 30 a 39 anos; 7 (22,6%), de 40 a Cabe ressaltar que dos 31 (100%) pacientes inves-
49 anos; 10 (32,2%), de 50 a 59 anos; 6 (19,3%), de 60 tigados, 10 (32,2%) estavam com obesidade classes I
a 69 anos; 5 (16,1%), de 70 a 79 anos; e 1 (3,2%), de e II (Tab. 3).
Tabela 2. Distribuição numérica e porcentual de pacientes com infarto agudo do miocárdio, internados em um
hospital privado, segundo sexo e faixa etária. Ribeirão Preto, SP, 2003.
Sexo
— Masculino 1 (3,2) 5 (16,1) 7 (22,6) 3 (9,7) 2 (6,5) 1 (3,2) 19 (61,3)
— Feminino 1 (3,2) 2 (6,5) 3 (9,7) 3 (9,7) 3 (9,7) 0 (0,0) 12 (38,7)
Total 2 (6,5) 7 (22,6) 10 (32,2) 6 (19,3) 5 (16,1) 1 (3,2) 31 (100)
n = número de pacientes.
80 anos ou mais. No que diz respeito ao sexo, 19 Também verificamos, na Tabela 3, que a obesidade
(61,3%) eram do sexo masculino e 12 (38,7%), do sexo classe II foi encontrada somente entre pacientes com
feminino (Tab. 2). infarto agudo do miocárdio do sexo feminino. A esse
Os dados do presente estudo apontam que 41,9% respeito, estudo realizado em um hospital público de-
dos homens e 19,4% das mulheres, ou seja, 61,3% monstrou que a maioria dos pacientes apresentou ín-
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — No 1 (supl) — Janeiro/Fevereiro de 2005 5
dice de massa corporal nor- farto agudo do miocárdio, como antecedente pessoal(15).
mal, enquanto estudo de Ao analisarmos os antecedentes familiares dos paci-
fatores de risco para infarto entes infartados de um hospital privado, encontramos que
agudo do miocárdio em 16 (51,6%) deles mencionaram os pais como hiperten-
OLIVEIRA KCS e col.
Fatores de risco em mulheres indicou presença sos.
pacientes com infarto de sobrepeso e obesida- Os filhos de pais hipertensos são mais propensos a
agudo do miocárdio em de(14). desenvolver a doença do que aqueles de pais normoten-
hospital privado Considerando que paci- sos, pois quando pai e mãe são hipertensos a chance de
entes com sobrepeso ou o filho desenvolver a doença fica em torno de 50%(16, 17).
obesidade apresentam au- Quanto aos antecedentes familiares para diabetes
Tabela 3. Distribuição numérica e porcentual de pacientes com infarto agudo do miocárdio, internados em um
hospital privado, segundo sexo e índice de massa corporal — Ribeirão Preto, SP, 2003.
Sexo
— Masculino 9 (29,0) 5 (16,1) 5 (16,1) 0 (0,0) 19 (61,3)
— Feminino 4 (12,9) 3 (9,7) 3 (9,7) 2 (6,5) 12 (38,7)
Total 13 (41,9) 8 (25,8) 8 (25,8) 2 (6,5) 31 (100)
n = número de pacientes.
mento da morbidade e da mortalidade cardiovasculares melito, 15 (48,3%) referiram a doença entre seus familia-
quando comparados a pacientes com índice de massa res. Destes, 6 (19,3%) indicaram a mãe; 3 (9,7%), os ir-
corporal normal, e que 58,1% dos pacientes estudados mãos; 3 (9,7%), mãe/irmãos; 2 (6,5%), o pai; e 17 (54,8%)
se encontravam com sobrepeso ou obesidade, urge o desconheciam a presença de diabetes melito na família.
estabelecimento de protocolos de orientação que con- A mortalidade de pacientes diabéticos com infarto agudo
templem a obesidade como fator de risco para infarto do miocárdio é maior que entre os não-diabéticos, em
agudo do miocárdio. No caso, os profissionais devem ini- decorrência da extensão da área de necrose, da freqüên-
ciar tais orientações já no período de internação, com cia de choque e de insuficiência cardíaca(18).
acompanhamento durante o processo de reabilitação, evi- Cabe ressaltar que 17 (54,8%) dos pacientes investi-
tando assim novas recidivas. Devem, ainda, nortear sua gados não sabiam informar se havia diabetes melito na
prática em evidências científicas e acreditar que os pro- família, o que nos leva a pensar que os pacientes infarta-
gramas de saúde que proporcionam aconselhamento, dos desconheciam a presença de diabetes melito como
educação, retroalimentação e outros auxílios aos pacien- fator de risco para o infarto agudo do miocárdio. A impor-
tes podem oferecer resultados satisfatórios. tância da educação em saúde na abordagem desse fator
Dentre os 31 (100%) pacientes investigados, as prin- de risco justifica-se, pois os indivíduos diabéticos apre-
cipais doenças referidas na família estavam relacionadas sentam risco quatro a cinco vezes maior que a população
a hipertensão arterial, diabetes melito, angina do peito, geral de desenvolver insuficiência cardíaca(19).
infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e Ao considerarmos que 29,0% dos pacientes infarta-
morte súbita. dos participantes dessa investigação se encontravam na
Em relação aos antecedentes familiares para doença faixa etária de 30 a 49 anos, e que 48,3% deles apresen-
cardiovascular, a hipertensão arterial foi citada por 23 tavam o diabetes melito como antecedente familiar, con-
(74,2%) pacientes, na seguinte ordem: mãe, pai e irmãos. sideramos necessário dispensar maior atenção aos cui-
Apenas 7 (22,6%) deles referiram que a família não apre- dados com as doenças associadas às cardiovasculares,
sentava hipertensão arterial e 1 (3,2%) desconhecia essa no que se refere à prevenção e à exposição de novos
informação. A hipertensão arterial sistêmica foi a mais fatores de risco, por meio da implementação de progra-
prevalente nos hospitais públicos em pacientes com in- mas educativos específicos para essa população.
6 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — No 1 (supl) — Janeiro/Fevereiro de 2005
Quanto à angina do pei- a sua prevenção.
to, apenas 7 (22,6%) paci-
entes mencionaram ante- Análise das variáveis relacionadas ao estilo de vida
cedentes familiares: 1 Ao investigarmos as principais causas para ocorrên-
OLIVEIRA KCS e col.
Fatores de risco em (3,2%) citou o pai; 5 cia do infarto agudo do miocárdio, observamos que 9
pacientes com infarto (16,1%), a mãe; 1 (3,2%), o (29,0%) pacientes referiram o estresse; 5 (16,1%) não
agudo do miocárdio em irmão; 22 (70,9%) não ti- souberam indicá-la; 3 (9,7%) mencionaram sedentaris-
hospital privado nham nenhum caso de an- mo e estresse; e 2 (6,5%) indicaram estresse e nervosis-
gina do peito na família; e 2 mo. Esses dados apontam que o estresse foi a causa
(6,5%) não souberam infor- referida como a mais importante para o desencadeamento
mar. No que se refere ao in- do infarto agudo entre os pacientes investigados.
farto agudo do miocárdio, Estudo realizado com trabalhadores de uma destila-
17 (54,8%) referiram ocorrência de infarto agudo do mio- ria demonstrou que a maioria deles tinha algum conheci-
cárdio na família: 5 (16,1%) citaram a mãe; 8 (25,8%), o mento sobre os fatores de risco para as doenças cardio-
pai; 2 (6,5%), os irmãos; 1 (3,2%), pai e irmão; 1 (3,2%), vasculares, como dieta inadequada, falta de exercícios,
mãe e irmão; e 14 (45,2%) não tiveram nenhum caso de tabagismo, ingestão excessiva de sal, álcool, estresse e
infarto agudo do miocárdio na família. obesidade(22). Desse modo, constatamos que os riscos
Verificamos que 15 (48,4%) pacientes infartados, in- mais referidos estão ligados aos hábitos do estilo de vida
vestigados em hospital privado, apresentavam história e que alguns grupos específicos conhecem os hábitos
familiar para o infarto agudo do miocárdio, sendo o pai o autocriados. As principais causas atribuídas para a ocor-
antecedente mais freqüente. rência do infarto, entre os pacientes de um hospital públi-
Quando indagamos a respeito dos antecedentes fa- co, foram estresse e tabagismo(14).
miliares para acidente vascular cerebral, apenas 6 (19,3%) Assim, torna-se necessária a realização de outros es-
referiram história familiar: 3 (9,7%) indicaram o irmão; 2 tudos para conhecermos o significado da palavra estres-
(6,5%), a mãe; 1 (3,2%), o pai; 24 (77,5%) não tinham se para os pacientes e quais as implicações para sua
antecedentes familiares para acidente vascular cerebral; qualidade de vida, considerando que as evidências cien-
e 1 (3,2%) não soube informar. tíficas acerca do estresse, como fator de risco para o de-
Os dados deste estudo demonstram que apenas sencadeamento do infarto agudo do miocárdio, ainda são
19,3% dos pacientes infartados de um hospital privado inconclusivas.
referiram antecedentes familiares para doença cerebro- Quando investigamos o número de refeições realiza-
vascular. Isso se justifica porque no Brasil essa doença das no dia anterior ao infarto agudo do miocárdio, verifi-
supera a coronariana, exceto em cidades como São Pau- camos que dos 31 (100%) pacientes infartados, 24
lo, onde esta última representa contingente maior de víti- (77,4%) realizaram o desjejum corretamente; 5 (16,1%),
mas que a afecção cerebrovascular(20). incorretamente; e 2 (6,5%), nada ingeriram no desjejum.
Ao analisarmos o uso de hormônio feminino, consta- No almoço, 24 (77,4%) alimentaram-se corretamente e 7
tamos que das 12 (38,7%) pacientes do sexo feminino (22,6%), incorretamente. No jantar, 16 (51,6%) procede-
com infarto agudo do miocárdio, 7 (22,6%) faziam uso de ram corretamente; 11 (35,5%), incorretamente; e 4 (12,9%)
hormônio. Quanto ao tipo de hormônio, 3 (9,7%) não sa- nada ingeriram nessa refeição.
biam o nome do medicamento; 2 (6,5%) usavam livial; 1 A maioria dos pacientes estudados informou que não
(3,2%), gincobiloba; e 1 (3,2%), estrogenol. Cabe menci- tinha o hábito de fazer lanche noturno. Os números obti-
onar que todas as mulheres que faziam uso de hormônio dos nesse item foram: 18 (58,1%) pacientes não toma-
feminino referiram encontrar-se na menopausa. vam lanche noturno; 9 (29,0%) o faziam de forma correta;
Quanto ao início da menopausa, 4 (12,9%) indicaram e 4 (12,9%), de forma incorreta.
tempo de 1 a 9 anos; 4 (12,9%), de 20 a 29 anos; 1 (3,2%), No entanto, sabemos que a alimentação saudável é
de 10 a 19 anos; e 1 (3,2%), de 30 anos ou mais. importante para a manutenção da qualidade de vida, para
Investigar esse fator de risco é importante, pois a pro- a redução do peso corporal e, conseqüentemente, para o
teção das mulheres em relação aos homens para o apa- bem-estar(13). Em relação ao consumo de gordura, dos
recimento do infarto agudo do miocárdio antes da meno- 31 (100%) pacientes infartados, 27 (87,1%) faziam uso
pausa parece estar relacionada a alguns mecanismos da de frituras e 4 (12,9%), não. Quando indagados a respei-
fisiologia reprodutiva, responsável por menor tendência to da inclusão de frituras nas refeições, 12 (38,7%) as
trombolítica e proteção hormonal(21). Desse modo, o co- ingeriam duas ou mais vezes por semana; 8 (25,8%), ra-
nhecimento da história familiar do paciente é um dado ramente; e 7 (22,6%), diariamente.
extremamente importante, uma vez que podemos esti- Quanto ao tipo de gordura utilizado no preparo das
mar riscos para a ocorrência do infarto agudo do miocár- refeições, 27 (87,1%) utilizavam gordura vegetal; 2 (6,5%),
dio e, conseqüentemente, a adoção de medidas visando gordura animal; e 2 (6,5%) não utilizavam qualquer tipo
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — No 1 (supl) — Janeiro/Fevereiro de 2005 7
de gordura no preparo das como justificativa o prejuízo que o cigarro trazia para a saú-
refeições. de.
Os dados obtidos nesta O estudo com pacientes com infarto agudo do miocárdio
investigação, acerca dos há- de hospital público demonstrou que os fumantes se encon-
OLIVEIRA KCS e col.
Fatores de risco em bitos alimentares dos pacien- travam, predominantemente, na faixa etária dos 50 aos 70
pacientes com infarto tes infartados de um hospital anos, sendo um quarto de ex-fumantes que haviam parado
agudo do miocárdio em privado, levam-nos a pensar de fumar há mais de cinco anos(15). Esse dado é relevante,
hospital privado que a estratégia a ser adota- pois o tabagismo é mais prevalente entre os homens que
da para a prevenção do in- entre as mulheres, tanto no caso dos fumantes como no dos
farto deve ter como foco um ex-fumantes(2). Em contrapartida, o risco de primeiro infarto
modelo voltado à população para as mulheres fumantes é 3,6 vezes maior, quando com-
em geral. No entanto, propor- parado ao risco de mulheres não-fumantes(26). Ainda em re-
cionar atenção à saúde e à educação a um membro da famí- lação ao risco de infarto agudo do miocárdio em ex-fuman-
lia, durante o período de internação, pode resultar na redu- tes, esse risco decresce rapidamente nos primeiros cinco
ção de riscos para os membros mais próximos, visto que os anos, mas naqueles que consomem mais de 20 cigarros por
fatores de risco tendem a se concentrar nas famílias. dia o risco se iguala ao dos não-fumantes após 15 anos de
No que se refere à atividade física, dos 31 (100%) paci- abandono do vício(27). Já na tentativa do abandono do taba-
entes com infarto agudo do miocárdio, apenas 13 (41,9%) gismo pode-se constatar declínio imediato da freqüência car-
realizavam algum tipo de atividade física: 9 (29,0%) faziam díaca(28, 29).
caminhada; 1 (3,2%), caminhada e bicicleta; 1 (3,2%), mus- Considerando que 10 (32,2%) dos pacientes investiga-
culação; 1 (3,2%), caminhada e hidroginástica; 1 (3,2%), ca- dos eram fumantes e que o hábito de fumar tem forte asso-
ratê; e 18 (58,1%) não praticavam qualquer atividade física. ciação com a ocorrência de infarto agudo do miocárdio, o
Verificando a freqüência e a duração da atividade física, per- profissional deve utilizar o período de internação hospitalar
cebemos que 7 (22,6%) pacientes realizavam uma vez por para motivar o paciente a abandonar o tabagismo. No entan-
semana, com duração de 60 minutos ou mais; 4 (12,9%), to, sabemos que resultados efetivos serão conseguidos so-
três vezes por semana, com duração de 30 a 39 minutos; e 2 mente por meio de intervenções comportamentais, a longo
(6,5%), duas vezes por semana, com duração de 40 a 49 prazo.
minutos. No que se refere ao consumo de bebidas alcoólicas, dentre
A prática adequada e regular de atividade física tem sido os 31 (100%) pacientes investigados, observamos que 18
admitida como uma das mais importantes e eficazes medi- (58,1%) faziam uso de algum tipo de bebida alcoólica. Des-
das para a prevenção da doença arterial coronariana, para a tes, 5 (16,1%) a ingeriam todos os dias; 6 (19,3%), nos finais
preservação da saúde e para a qualidade de vida das pes- de semana; 4 (12,9%), semanalmente; 3 (9,7%), esporadi-
soas, uma vez que um dos fatores de risco para doenças camente; e 13 (41,9%) não faziam uso de bebida alcoólica.
coronarianas é o sedentarismo(13, 23-25). Quanto ao tipo de bebida alcoólica, 11 (35,5%) pacientes
A falta de exercícios físicos regulares, caracterizando o consumiam cerveja; 3 (9,7%), cerveja e vinho; 2 (6,5%), cho-
sedentarismo, foi o fator de risco mais prevalente encontrado pe e cerveja; 1 (3,2%), cerveja e batidas; 1 (3,2%), cerveja,
na maioria dos pacientes infartados de um hospital públi- whisky e vinho; e 13 (41,9%) não faziam uso de bebidas
co(15). alcoólicas.
Ao se constatar que a maioria, 18 (58,1%) pacientes in- O alcoolismo tem representado um problema de Saúde
vestigados, era sedentária, foi apresentado a esses pacien- Pública importante, na atualidade, pela sua alta prevalência,
tes um programa de orientação acerca da importância da que abrange cerca de 10%. Segundo dados do Ministério da
atividade física, antes da alta hospitalar, com o qual tentou- Saúde, 32,0% dos leitos em diversos hospitais foram ocupa-
se motivá-los a buscar apoio e engajamento em programas dos por pacientes que apresentavam doenças decorrentes
dessa natureza oferecidos à comunidade. do abuso de bebida alcoólica(30).
Outro fator de risco autocriado que investigamos foi o ta- Analisando o consumo de bebida alcoólica em pacientes
bagismo. Dos 31 (100%) pacientes com infarto agudo do infartados de um hospital privado, vimos que esse fator de
miocárdio, 10 (32,2%) eram fumantes, sendo 6 (19,3%) do risco também deve ser contemplado no programa educativo
sexo masculino e 4 (12,9%) do sexo feminino; 12 (38,7%) para prevenção dos fatores de risco para o infarto agudo do
não fumavam; e 9 (29,0%) eram ex-fumantes. Quanto à quan- miocárdio. Por isso, a abordagem ao paciente deve ser pau-
tidade de cigarros consumidos, 6 (19,3%) fumavam um maço tada pelo valor calórico da bebida alcoólica, pelo ganho de
de cigarros por dia e 4 (12,9%), dois maços. Em relação ao peso corporal e pelo risco de hipoglicemia naqueles com
tempo que faziam uso de cigarro, 5 (16,1%) informaram um diagnóstico de diabetes melito. A interação com a família é
período de 30 a 39 anos; 3 (9,7%), de 20 a 29 anos; e 2 fundamental para auxiliar na busca de ajuda nos grupos de
(6,5%), de 10 a 19 anos. Quando investigamos qual motivo apoio da comunidade.
levou os ex-tabagistas a pararem de fumar, todos apontaram Em relação ao local que mais causava estresse nos 31
8 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — No 1 (supl) — Janeiro/Fevereiro de 2005
(100%) pacientes infartados, cesso educativo, durante a internação, coloca o paciente com
12 (38,7%) indicaram o local infarto agudo do miocárdio como co-partícipe no gerencia-
de trabalho; 7 (22,6%), a mento de sua doença, pois seu envolvimento o responsabi-
casa; 6 (19,3%), a rua; 1 liza pelo autocuidado.
OLIVEIRA KCS e col.
Fatores de risco em (3,2%), a casa e o local de Pesquisando tratamentos médicos para outras doenças,
pacientes com infarto trabalho; 1 (3,2%) sentia es- observamos que 6 (19,3%) pacientes realizavam tratamento
agudo do miocárdio em tresse o tempo todo; e 4 para o controle da hipertensão arterial do e diabetes melito; 6
hospital privado (12,9%), em lugar nenhum. (19,3%), para hipertensão arterial; 2 (6,5%), para diabetes
O estresse também tem melito; 2 (6,5%), para hipertireoidismo; 1 (3,2%), para catara-
se constituído em fator de ris- ta/diabetes melitus; 1 (3,2%), para doença de Chagas/diabe-
co importante para doença tes melito; 1 (3,2%), para hipertensão arterial/enfizema pul-
isquêmica cardíaca, tema monar; 5 (16,1%), para outras doenças; e 7 (22,6%) não
que se encontra em discussão na atualidade. No entanto, ele faziam nenhum tratamento.
pode ser desencadeador de angina do peito, infarto agudo Entre os 31 (100%) pacientes investigados, observamos
do miocárdio e morte súbita(31). Pacientes infartados de um que 8 (25,8%), além de diabetes melito, eram portadores de
hospital público denominaram o estresse de tensão nervo- outras doenças; 7 (22,6%) apresentavam hipertensão arteri-
sa, nervosismo e angústia(15, 32). al em conjunto com outras doenças; e 17 (54,8%) eram por-
Estresse é apontado, ainda, como fator importante para tadores de diabetes melito e/ou hipertensão arterial, doen-
o desenvolvimento da hipertensão arterial(33) e como um dos ças desencadeadas pela exposição aos fatores de risco para
fatores que afetam a qualidade de vida, estando relacionado doenças cardiovasculares.
a doenças cardiovasculares(34). Estudos acerca do padrão Grande parcela de pacientes infartados de hospital
do sono dos pacientes demonstraram que 10 (32,2%) deles público apresentou doenças associadas à isquemia car-
referiram o hábito de dormir em torno de seis a sete horas díaca, tais como hipertensão arterial, diabetes melito e
por noite; 10 (32,2%), de oito a nove horas; 6 (19,3%), de dislipidemia(14, 32).
quatro a seis horas; 2 (6,5%), de três a quatro horas; 1 (3,2%), A importância do tratamento e da manutenção dos níveis
de duas a três horas; e 2 (6,5%), nove horas ou mais. pressóricos e glicêmicos dentro dos valores de normalidade
O estudo sobre o padrão do sono como fator de risco deve constituir preocupação constante tanto da equipe de
psicossocial para a doença isquêmica cardíaca tem sido re- saúde como dos pacientes, pois a ocorrência de hiperten-
comendado(21). são arterial e diabetes melito multiplica os fatores de risco
para a doença micro e macrovascular, coronariana, insufici-
Variáveis relacionadas ao sistema de saúde ência cardíaca congestiva, doença cerebrovascular e doen-
Ao investigarmos o conhecimento que os 31 (100%) pa- ça vascular periférica(35).
cientes infartados tinham a respeito da doença, obtivemos Quando as pesquisadoras investigaram a respeito da uti-
que a maioria, 16 (51,6%), mencionou algum conhecimento lização pelos pacientes de outros serviços de saúde, além
sobre a doença e 15 (48,4%) nada sabiam sobre ela. dos prestados pelo seu plano de saúde, a maioria, 21 (67,7%),
Mesmo considerando que vários fatores de risco para o referiu que utilizava somente os serviços oferecidos pelo pla-
infarto agudo do miocárdio foram citados, é preciso salientar no de saúde e 10 (32,2%) informaram utilizar outros servi-
que somente o conhecimento desses fatores não modifica ços.
os hábitos de estilo de vida; é preciso ir além, ou seja, aplicar Dos 10 (32,2%) pacientes infartados que faziam uso de
intervenções comportamentais, as quais deverão despertar outros serviços, 5 (16,1%) mencionaram utilizá-los em situa-
o paciente para aderir ao processo educativo contínuo e per- ções de urgência e outros 5 (16,1%), esporadicamente.
manente. Reconhecemos que o hospital em estudo tem serviço
Investigando as dúvidas que os pacientes infartados ti- especializado para o acompanhamento dos portadores de
nham em relação à doença, obtivemos que dentre os 31 condições crônicas de saúde; no entanto, verificamos que os
(100%), 12 (38,7%) apresentaram dúvidas acerca do pro- enfermeiros pouco têm indicado esse serviço aos pacientes
cesso de doença e 11 (35,5%), não. infartados. Diante desse fato, indagamos se os enfermeiros
O interesse do paciente de hospital público, quanto aos reconhecem a importância da educação contínua e perma-
aspectos relacionados à fisiopatologia da doença, ao prog- nente de pacientes que apresentam doenças desencadea-
nóstico e à recuperação, após a ocorrência do infarto agudo das por exposição aos fatores de risco.
do miocárdio também foi mensurado(15). Assim, é papel do enfermeiro de uma unidade coronaria-
Assim, conhecer as dúvidas dos pacientes de um hospi- na motivar o paciente com infarto agudo do miocárdio a bus-
tal privado acerca de determinada doença, em particular o car ajuda para o gerenciamento de sua doença no serviço
infarto agudo do miocárdio, também pode levar os enfermei- especializado do hospital, pois no período de internação ele
ros a obter conhecimentos específicos para que saibam lidar se encontra fragilizado e sem condições de elaborar as mu-
com as condições crônicas. A importância de iniciar o pro- danças comportamentais necessárias quanto a seu estilo
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — No 1 (supl) — Janeiro/Fevereiro de 2005 9
de vida, a fim de manter boa tes nos indivíduos estudados, dentre eles os hábitos au-
qualidade de vida. tocriados, que se constituem em agravos para a ocorrên-
cia da doença. Identificamos, ainda, que os pacientes in-
CONCLUSÕES fartados possuíam certo conhecimento dos fatores de ris-
OLIVEIRA KCS e col.
Fatores de risco em co cardiovasculares e que, mesmo conhecendo-os, se
pacientes com infarto O conjunto de dados ob- expunham a eles, não incorporando atitudes saudáveis
agudo do miocárdio em tidos nesta investigação, em seu cotidiano. Cabe destacar o interesse das pesqui-
hospital privado com base no referencial te- sadoras em buscar uma via de comunicação entre os
órico adotado, possibilitou enfermeiros e os pacientes com infarto agudo do miocár-
identificar alguns fatores li- dio, assim como fornecer subsídios para a elaboração
gados aos elementos do futura de um protocolo educativo específico para essa
Campo de Saúde presen- população, durante o período de internação.
This is a descriptive investigation, which intended to identify the risk factors rela-
ted to the environment, human biology, life style and health services of patients
admitted in a private hospital, until 48 hours after the myocardial infarction. We inter-
viewed 31 internee patients in a private hospital, from January through July 2003.
Results showed that 93.5% of the patients were literate; 61.3% were male; 54.9%
were aged between 40 and 49 years old; 58.1% were over weighted or fat, belonging
to classes I and II; related to familiar antecedences 74.2% presented systemic arte-
rial hypertension; 93.6% were accustomed to eat fried food; 58.1% used to drink
alcoholic drinks; 32.2% were smokers and 29.0% were ex-smokers; 58.1% were
sedentary; and 54.8% were under arterial hypertension and mellitus diabetes treat-
ment. Data showed the existence of “self created” habits, which may be modified. It
is important to mention the necessity of raising educative programs searching for
chronicle diseases prevention.
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Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — No 1 (supl) — Janeiro/Fevereiro de 2005 11
EFEITO DO EXERCÍCIO FÍSICO E DA
DIETA HIPOCALÓRICA NA OBESIDADE
TROMBETTA IC e col.
Efeito do exercício físico
e da dieta hipocalórica
na obesidade IVANI CREDIDIO TROMBETTA, PAULO HIRAI SUZUKI
12 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — No 1 (supl) — Janeiro/Fevereiro de 2005
tes demonstram compor- efeito direto no nível metabólico. Entretanto, esse nível
tamento semelhante no é pequeno em relação ao balanço energético. O au-
Brasil, com aumento da mento do gasto energético por meio do exercício, sem
prevalência da obesidade o aumento correspondente do consumo energético,
TROMBETTA IC e col.
Efeito do exercício físico em todos os grupos popu- pode reduzir o peso corporal. No entanto, qualquer
e da dieta hipocalórica lacionais. Em nosso país, perda de peso alcançada com exercício físico modera-
na obesidade porém, observou-se redu- do pode ser facilmente revertida por pequeno aumento
ção do número de casos compensatório no consumo de alimentos. Na maioria
de obesidade em mulhe- dos estudos, o treinamento físico provoca gasto calóri-
res de nível socioeconômi- co adicional pouco expressivo na redução do peso cor-
co mais elevado que habi- poral em indivíduos obesos sob orientação dietética hi-
tam áreas urbanas(3). pocalórica. Não podemos esquecer, no entanto, que
É consenso que o aumento da obesidade em níveis pessoas que se mantêm ativas ao longo da vida têm
epidêmicos no mundo é causado pelo consumo de menores chances de se tornar obesas e melhor distri-
grande proporção de calorias derivadas da gordura(4), buição corporal, com menores depósitos de gordura
que são alimentos de baixo custo e mais saborosos, intra-abdominal.
associado a um estilo de vida sedentário(5, 6). De forma Outro aspecto de interesse é o papel do exercício
simplista, pode-se dizer que a obesidade resulta de um no reganho de peso após programas de emagrecimen-
desequilíbrio entre ingestão e gasto calórico. No en- to. Nesse sentido, o exercício físico regular têm se mos-
tanto, os mecanismos que levam ao fenótipo obesida- trado extremamente eficiente. A manutenção do peso
de são muito mais complexos. Fatores de suscetibili- corporal após um período de dieta hipocalórica é mais
dade, como os fatores genéticos (genes suscetíveis), efetivamente alcançada com o treinamento físico(11).
desempenham importante papel de ação permissiva Mais importante de que seu efeito direto na perda
para os fatores ambientais, e, em alguns casos, po- de peso corporal, a prática de exercício físico apresen-
dem ser determinantes da obesidade. Além disso, ou- ta aspectos importantes relacionados ao efeito agudo
tros fatores participam das variações interindividuais e também crônico sobre a mobilização e a utilização
da composição corporal. São eles: idade, sexo, meta- de gordura, que influenciam o emagrecimento. Além
bolismo de repouso, oxidação lipídica, atividade ner- do efeito direto no gasto calórico, a atividade física man-
vosa simpática, metabolismo do tecido adiposo e do tém o metabolismo aumentado por longo período após
músculo esquelético, tabagismo, e níveis hormonais de sua execução. Isso significa dizer que, mesmo após o
leptina, insulina, esteróides sexuais e cortisol(7). exercício, a mobilização e a oxidação de lípides per-
Apesar das evidências de que fatores genéticos têm manece aumentada. Os principais efeitos do treinamen-
grande importância na etiologia da obesidade, é evi- to físico no controle do peso corporal, porém, são obti-
dente que o fator ambiental é o principal determinante dos cronicamente. Alguns efeitos de grande importân-
da epidemia da obesidade, uma vez que algumas dé- cia referem-se ao aumento da atividade da enzima li-
cadas, período em que houve o aumento expressivo pase hormônio sensível (enzima responsável pela maior
da obesidade no mundo, não seriam suficientes para mobilização de lípides no tecido adiposo)(12) e ao au-
estabelecer alterações genéticas substanciais, enquan- mento da densidade mitocondrial, potencializando a
to a mudança nos hábitos e no estilo de vida foram oxidação de lípides e favorecendo, assim, o emagreci-
enormes. mento(13).
Na célula adiposa, o exercício físico aumenta a sen-
EXERCÍCIO FÍSICO E PERDA DE sibilidade ß-adrenérgica(14), o que sugere maior modu-
PESO CORPORAL lação do sistema nervoso simpático no tecido adipo-
so(15). Além disso, o treinamento físico acelera a perda
O exercício físico adiciona um déficit calórico sinér- de massa gorda em decorrência do aumento da capa-
gico à dieta hipocalórica, que produz equilíbrio ener- cidade de oxidação de ácidos graxos livres nas células
gético negativo expressivo com efetiva redução do peso musculares(12, 13).
corporal, potencializando a redução do peso corporal. Outro benefício alcançado pela associação de die-
Alguns estudos têm demonstrado o efeito da dieta ta hipocalórica e treinamento físico diz respeito à re-
e do exercício isoladamente ou combinados sobre a distribuição da gordura corporal. Observa-se em pro-
perda de peso corporal. Há consenso na literatura so- gramas de exercício físico que, apesar da redução de
bre o efeito da dieta na redução do peso corporal; en- todos os depósitos de gordura, há uma preferência para
tretanto, a inclusão de exercícios nem sempre resulta a redução de gordura na região abdominal. Essas cé-
em perda adicional de peso(8-10). lulas são ricas em receptores ß3-adrenérgicos e, por
O exercício produz gasto de energia por meio do isso, mais suscetíveis à lipólise(16).
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — No 1 (supl) — Janeiro/Fevereiro de 2005 13
Portanto, combinar res- Em nossa experiência, um programa de doze se-
trição calórica ao treina- manas de associação de treinamento físico aeróbio de
mento físico é uma exce- intensidade moderada e dieta hipocalórica foi capaz
lente intervenção não-far- de preservar a massa magra e o metabolismo de re-
TROMBETTA IC e col.
Efeito do exercício físico macológica para se tratar pouso, reduzidos no emagrecimento por dieta hipoca-
e da dieta hipocalórica a obesidade. lórica isoladamente(26). A inclusão de treinamento físi-
na obesidade co em programas de emagrecimento, portanto, pode
EXERCÍCIO FÍSICO atenuar a redução de massa magra e minimizar a dimi-
E METABOLISMO nuição do metabolismo de repouso ocasionados pela
DE REPOUSO perda de peso(1).
14 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — No 1 (supl) — Janeiro/Fevereiro de 2005
víduos com sobrepeso ou cia de perda de peso corporal, promove aumento da
moderadamente obesos ação da insulina, o que reflete adaptação crônica ao
ativos que em indivíduos treinamento. A associação dessas duas condutas, por-
sedentários(36). tanto, é a melhor recomendação para o aumento da
TROMBETTA IC e col.
Efeito do exercício físico Um dos principais me- sensibilidade à insulina na população obesa.
e da dieta hipocalórica canismos de diminuição
na obesidade de risco após emagreci- HIPERTENSÃO ARTERIAL
mento está na redução da
atividade nervosa simpáti- Tem sido descrito que existe alta associação entre
ca(26). a obesidade e a hipertensão arterial, e que indivíduos
normotensos obesos apresentam maior chance de se
DIABETES MELITO tornarem hipertensos que indivíduos normotensos não-
TIPO II obesos(48). Além do efeito direto da perda de peso na
tolerância à glicose, uma pequena redução do peso
Embora a relação entre obesidade e diabetes meli- corporal (5% a 10% do peso inicial) pode normalizar
to tipo II não esteja totalmente clara, dois fatos são in- os níveis de pressão arterial, mesmo quando não se
discutíveis. Excesso de gordura corporal leva ao au- alcança o peso corporal ideal(49). A diminuição da pres-
mento da resistência à insulina, e resistência à insuli- são arterial como causa da perda de peso corporal é
na predispõe ao diabetes(37, 38). resultado do aumento da sensibilidade à insulina e da
Tem sido demonstrado que a redução do peso cor- diminuição da atividade nervosa simpática, e ocorre
poral em indivíduos obesos promove diminuição da re- independentemente da restrição dietética de sal(50).
sistência à insulina(39, 40), prevenindo o aparecimento da A prática regular de exercícios físicos tem sido fre-
intolerância à glicose e do diabetes melito tipo II(41). Da qüentemente recomendada como uma conduta não-
mesma forma, dados epidemiológicos(42) têm indicado farmacológica no tratamento da hipertensão arterial,
que a prática regular de atividade física está associa- tanto em obesos como em não-obesos. O treinamento
da a menor peso corporal e maior sensibilidade à insu- aeróbio entre 50% e 70% do VO2máx pode resultar no
lina. O efeito sobre a sensibilidade à insulina, porém, decréscimo de 4 mmHg a 10 mmHg da pressão arteri-
ocorre mesmo sem o emagrecimento, o que sugere al sistólica(51). No entanto, os dados de literatura são
que o exercício físico isoladamente ou associado à controversos sobre a relativa contribuição do exercício
perda de peso corporal retarda a transição da diminui- físico e da dieta hipocalórica sobre o efeito hipotensor
ção da tolerância à glicose para o diabetes tipo II(35). em indivíduos obesos.
O aumento da sensibilidade à insulina ocasionado Os mecanismos responsáveis pela diminuição da
pelo treinamento físico já é observado 14 a 48 horas pressão arterial após o treinamento físico têm sido bas-
após uma única sessão de exercícios(39, 40). Dados de tante estudados. Reid e colaboradores(52) observaram
literatura, porém, fortalecem a hipótese de que o efeito que a queda pressórica em indivíduos obesos, alcan-
do treinamento físico sobre a sensibilidade à insulina çada com o treinamento físico ou com a associação de
reflete uma adaptação crônica(43). treinamento físico e dieta hipocalórica, se deve à redu-
Cizmic e colaboradores(44) demonstraram que duas ção da resistência vascular periférica, em decorrência
semanas de atividade física com freqüência de cinco da diminuição dos níveis de norepinefrina plasmática.
vezes por semana são suficientes para se ter melhora Também com relação à maior redução pressórica,
da sensibilidade da insulina e da capacidade aeróbia. os estudos apontam como melhor conduta a associa-
Acredita-se que os mecanismos responsáveis pelo ção da dieta hipocalórica e do exercício físico regular
efeito do treinamento físico em aumentar a ação da em obesos.
insulina sobre a captação de glicose são: aumento do
fluxo sanguíneo muscular(45); aumento da agregação DISLIPIDEMIA
da insulina a seu receptor, em decorrência de maior
número de receptores(46); aumento do metabolismo não- Os indivíduos obesos geralmente apresentam per-
oxidativo da glicose, em decorrência do aumento da fil lipídico desfavorável, isto é, hipertrigliceridemia, bai-
atividade da enzima glicogênio-sintase(47); e aumento xo HDL-colesterol e alta concentração de partículas pe-
da concentração de transportadores de glicose quenas e densas de LDL-colesterol, com grande po-
(GLUT4) na membrana celular(45). der aterogênico(53).
Em resumo, a redução de peso corporal por dieta As dislipidemias estão associadas particularmente
auxilia nesse contexto, aumentando a tolerância à gli- à obesidade abdominal e, conseqüentemente, relacio-
cose e a sensibilidade à insulina. Da mesma forma, a nam-se a distúrbios metabólicos. A obesidade visceral
prática regular de exercícios físicos, mesmo na ausên- leva ao aumento da oferta de ácidos graxos livres para
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — No 1 (supl) — Janeiro/Fevereiro de 2005 15
o fígado. Esse aumento so(58). Para essa população jovem também é aconse-
estimula diretamente a lhada a dieta hipocalórica associada ao treinamento
produção de glicose hepá- físico em conjunto com mudança comportamental(58).
tica, ocasionando hiperin- Dentro desse quadro, as famílias devem ser motivadas
TROMBETTA IC e col.
Efeito do exercício físico sulinemia. Essa combina- a mudar os hábitos sedentários, aumentando os níveis
e da dieta hipocalórica ção de hiperinsulinemia e de atividade física e melhorando a alimentação(59).
na obesidade aumento da oferta de áci-
dos graxos livres para o PROGRAMA DE EXERCÍCIO FÍSICO
fígado pode resultar em PARA O PACIENTE OBESO
produção exacerbada de
partículas ricas em triglicé- Em nossa experiência, quatro meses de treinamento
rides(33). físico aeróbio associado a dieta hipocalórica, mesmo
Embora existam ainda pontos controversos quanto sem haver a normalização do peso corporal, propiciam
ao efeito específico do exercício físico sobre os lípides grandes benefícios adaptativos, principalmente pelo
sanguíneos, sabe-se que a associação do exercício fí- aumento da capacidade física representado pelo au-
sico regular à dieta hipocalórica é uma conduta impor- mento do consumo de oxigênio de pico(26).
tante para a redução do peso corporal, o que leva, in- Sugerimos para o paciente obeso que, antes de ini-
dubitavelmente, à redução dos níveis de lípides circu- ciar um programa de exercício físico, se submeta a um
lantes(54). teste ergométrico ou, melhor ainda, a um teste ergoes-
O exercício físico melhora o perfil lipídico a partir de pirométrico, para a avaliação do funcionamento do sis-
mudanças na atividade da enzima lipase lipoprotéica tema cardiovascular durante o exercício e a análise da
presente no músculo esquelético. Essa enzima, que é capacidade física de pico. A avaliação cardiovascular
responsável pela reposição dos estoques de triglicéri- tem por objetivo diagnosticar uma doença cardiovas-
des intramiofibrilares, tem sua atividade aumentada cular subclínica, enquanto a avaliação cardiopulmonar
após uma sessão de exercício. Isso explica a diminui- serve para determinar a capacidade física, além de for-
ção aguda dos níveis plasmáticos de triglicérides após necer parâmetros para a prescrição mais adequada de
o exercício físico. Tal efeito ocorre, principalmente, após treinamento físico.
exercícios prolongados e com intensidade moderada, O programa de treinamento físico tem como parte
situação caracterizada pelo aumento da utilização de principal exercícios aeróbios, cíclicos e contínuos, que
gordura como fonte energética. O aumento da ativida- envolvam grandes grupos musculares, tais como ca-
de da lipase lipoprotéica e o catabolismo de triglicéri- minhada, ciclismo, natação. É importante a inclusão de
des também resultam em um dos maiores efeitos do exercícios de resistência muscular localizada, de bai-
exercício no colesterol plasmático, que é o aumento do xa sobrecarga e muitas repetições, pois auxiliam na
HDL-colesterol(55). manutenção da massa magra.
Programas de exercício físico com gasto energéti- O volume e a intensidade do exercício físico devem
co de 1.200 kcal a 2.200 kcal por semana podem au- ser aumentados gradativamente, para que haja adap-
mentar o HDL-colesterol e diminuir os triglicérides. No tações adequadas ao exercício. O tempo total da ses-
entanto, o colesterol total e o LDL-colesterol melhoram são de exercício físico é de aproximadamente 60 mi-
quando se associa exercício físico a uma dieta balan- nutos, podendo progredir para uma duração de 90 mi-
ceada. Um interessante estudo, com 18 mulheres obe- nutos. A sessão pode ser subdividida em um período
sas, demonstrou que um programa de exercício físico de aquecimento, em torno de 5 minutos, seguido por
a 70% do VO2máx diminui os níveis de ácidos graxos período específico de exercício aeróbio, com duração
não esterificados, de gordura corporal, de triglicérides, de 40 minutos, período de exercícios de resistência
do “pool” de lipoproteínas de densidade muito baixa muscular localizada, com duração em torno de 15 a 20
(VLDL) apoB, além de melhorar a sensibilidade à insu- minutos, e período de relaxamento com duração apro-
lina(56). ximada de 5 minutos. O tempo gasto pode aumentar,
Dados recentes demonstram que exercício físico principalmente no exercício específico aeróbio, com a
moderado a intenso em longo prazo melhora o quadro finalidade de aumentar o gasto energético e melhorar
de dislipidemia, com melhora do HDL e diminuição dos a adaptação cardiovascular.
triglicérides em adultos com sobrepeso e obesos com A freqüência sugerida é de no mínimo três dias por
síndrome metabólica(57). semana, podendo chegar à freqüência de cinco ou mais
Devemos atentar também para a gravidade da pre- dias semanais.
valência da obesidade infantil. Um estudo australiano A intensidade do exercício deve se basear no resul-
demonstrou que mais de 20% das crianças e adoles- tado do teste ergométrico/ergoespirométrico. Com base
centes desse país são obesas ou estão com sobrepe- no teste ergométrico, a intensidade do treinamento fí-
16 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — No 1 (supl) — Janeiro/Fevereiro de 2005
sico deverá ser de 50% a tados na tentativa de se evitar lesões durante a sessão
70% da freqüência cardíaca de treinamento.
de reserva. Essa freqüência
cardíaca de treino é calcula- CONSIDERAÇÕES FINAIS
TROMBETTA IC e col.
Efeito do exercício físico da pela fórmula de Karvonen,
e da dieta hipocalórica que corresponde a: Em conjunto, uma dieta hipocalórica e baixa em
na obesidade gorduras, associada ao exercício físico regular, cons-
FCALVO = titui a base do tratamento para diminuição dos riscos
(FCMÁX - FCREP) x % + FCREP, de doenças cardiovasculares em indivíduos obesos.
Os benefícios obtidos com a inclusão de um pro-
onde FCALVO = freqüência grama de exercícios nos programas de emagrecimen-
cardíaca de treino, FCMÁX = to podem favorecer o controle metabólico, facilitando
freqüência cardíaca máxima atingida no teste ergomé- a manutenção da perda de peso, além de provocar
trico, e FCREP = freqüência cardíaca de repouso. Quan- adaptações favoráveis, diminuindo com isso o qua-
do for possível o teste ergoespirométrico, a intensida- dro geral do risco cardiovascular associado à obesi-
de de exercício deve progredir do limiar anaeróbio até dade.
10% abaixo do ponto de compensação respiratória.
Essa intensidade poderá ser aferida nas sessões de CLASSIFICAÇÃO DE OBESIDADE
treinamento pela freqüência cardíaca correspondente
ao limiar anaeróbio e os 10% abaixo do ponto de com- A Organização Mundial de Saúde(60) classifica o adulto
pensação respiratória. como obeso de acordo com o cálculo do peso relacionado a
Cuidados preventivos relativos a problemas osteo- sua altura (índice de massa corporal) e correlaciona tais nú-
mioarticulares, comuns na obesidade, devem ser ado- meros a riscos de saúde para o indivíduo (Tab. 1).
IMC (peso/
Classificação altura² = kg/m²) Riscos de co-morbidades
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — No 1 (supl) — Janeiro/Fevereiro de 2005 17
PHYSICAL EXERCISE AND HYPOCALORIC DIET
EFFECTS ON OBESITY
TROMBETTA IC e col.
Efeito do exercício físico
e da dieta hipocalórica
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