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ASMA: DO BRONCOESPASMO AO

3 REMODELAMENTO
Lilian S. Ballini Caetano
Médica Pós-graduanda da Disciplina de Pneumologia da Universidade Federal de São Paulo-
Escola Paulista de Medicina, Mestre em Pneumologia pela UNIFESP.
Andrea Barbieri
Médica Pós-graduanda da Disciplina de Pneumologia da Universidade Federal de São Paulo-
Escola Paulista de Medicina
Ana Luisa Godoy Fernandes
Profa. Adjunto de Pneumologia da UNIFESP-EPM

A asma é definida atualmente como doença infla- gas para asma, gerando a comprovação de que medi-
matória crônica das vias aéreas, associada a sintomas camentos anti-inflamatórios, particularmente os
agudos que revertem espontaneamente ou com o uso corticosteróides inalatórios e antileucotrienos, ao pro-
de broncodilatadores . Durante muitos anos, o moverem a estabilização clínica dos asmáticos, têm a
broncoespasmo, o edema e a hipersecreção foram propriedade de determinar a redução dos parâmetros
considerados como sendo as alterações básicas da inflamatórios nos exames de escarro e NO expirado.
asma. As evidências de inflamação brônquica surgi- Além disso, a retirada do medicamento anti-inflama-
ram através de estudos de hiperresponsividade tório promove o ressurgimento dos marcadores da
brônquica inespecífica, lavado broncoalveolar (LBA), inflamação.
biopsias brônquicas, escarro induzido e observações A sequência e a gravidade desses eventos é vari-
postmortem de pulmões de pacientes falecidos por ável e própria para cada paciente, demonstrando a
mal asmático ou por outras causas (1). Entretanto, a interação entre patrimônio genético, fatores indutores,
presença de inflamação crônica persistente em vias exposição a fatores desencadeantes, condução e ade-
aéreas de pacientes asmáticos pode ocasionar lesão são ao tratamento, comorbidade etc..., o que prejudi-
tecidual e conseqüentemente alterações estruturais com ca a identificação dos principais marcadores de prog-
queda irreversível da função pulmonar, cujo processo nóstico.
denominamos remodelamento das vias aéreas. O objetivo deste capítulo será o de revisar o con-
Esse fato gerou a mudança do conceito da asma, ceito atual do remodelamento brônquico, procurando
de uma doença caracterizada funcionalmente por obs- avaliar as consequências estruturais, clínicas e funci-
trução reversível das vias aéreas, para uma doença in- onais do processo inflamatório crônico nos asmáti-
flamatória crônica cuja intensidade de comprometimento cos.
pode depender da habilidade de se avaliar e controlar
o processo inflamatório subjacente. 1. Alterações estruturais e funcionais na asma.
A obtenção do controle ideal da asma minimiza,
mas não elimina a ocorrência de exacerbações, sendo Estudos em Pneumologia Pediátrica mostram que
a freqüencia e intensidade de sintomas associados a o período de desenvolvimento pulmonar pode ter im-
marcadores de gravidade, podendo refletir intensida- plicações futuras com relação às alterações estrutu-
de de inflamação ( 2 ),( 3 ). rais. Contribuiria para esta afirmação o fato de que
O controle dos sintomas e redução de exacerba- inúmeros fatores de crescimento são relacionados aos
ções passaram a se reproduzir nos ensaios clínicos processos inflamatórios que podem levar ao
projetados para testar a eficácia e a efetividade de dro- remodelamento.

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O processo inflamatório agudo é uma resposta cionarem a perda da função pulmonar ao
inespecífica de defesa do organismo contra uma agres- remodelamento de vias aéreas, a maioria dos autores
são, a qual geralmente possibilita o restabelecimento e observaram que os dois processos estão patologica-
restauração da estrutura e função normais. mente relacionados.
O processo de reparação envolve dois proces- As principais características estruturais do
sos distintos: a regeneração que é a substituição do remodelamento incluem:
tecido lesado por células do mesmo tipo e função , e a 1.1 Aumento da espessura da via aérea
reposição que é a substituição do tecido original por Na asma fatal, a maioria dos componentes da via
tecido conectivo evoluindo para tecido cicatricial. aérea encontram-se espessados, contribuindo para a
Portanto, o remodelamento brônquico é a redução permanente e acentuada do calibre das vias
consequência anatômica da ação da inflamação crôni- aéreas. Em relação aos indivíduos não asmáticos, o
ca na via aérea e traduz, além das alterações decor- espessamento das vias aéreas está aumentado de 50 a
rentes do próprio processo inflamatório, a falta de re- 300% em casos de asma fatal e de 10 a 100 % em
paro adequado à injúria crônica (4), como ilustrado casos de asma não fatal . Muitos elementos contribu-
na Figura 1. em para esta alteração, incluindo aumento do tecido

Figura 1 - Consequências da inflamação de longa duração

Aumento Aumento da Liberação de


da massa glândula Persistência fator de
muscular mucosa de células crescimento
lisa infamatórias fibrogênico Elastólise

Broncoespasmo Redução da
grave durante elasticidade
exacerbação Progressão de via aérea
da inflamação

Secreção Deposição de
mucosa impor- colágeno na
tante durante MB
exacerbação

O processo de remodelamento tem sido alvo atual muscular liso, edema, infiltração de células inflamató-
de vários estudos, provavelmente decorrente da per- rias, hipertrofia glandular, aumento da área vascular e
cepção de que o processo inflamatório por si só não deposição de tecido conectivo. Estas alterações fo-
consegue explicar todos os aspectos da fisiologia das ram observadas utilizando CT de tórax de alta resolu-
vias aéreas em pacientes asmáticos (5). Pesquisas atu- ção e resultam em aumento da resistência ao fluxo aé-
ais sugerem que o remodelamento pode contribuir para reo, particularmente quando ocorre contração
a hiperresponsividade de vias aéreas, a qual é a ca- brônquica e hiperresponsividade brônquica (1). O efei-
racterística essencial do fenótipo do asmático (5). to sobre o fluxo aéreo é decorrente do aumento de
Apesar de poucos estudos epidemiológicos rela- secreção mucosa e exsudato inflamatório, os quais são

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também responsáveis pelo aumento da tensão super- desenvolvimento e perpetuação da doença ( 8 ).
ficial das vias aéreas, favorecendo o fechamento de 1.3 Espessamento da membrana basal
vias aéreas. Estudos atuais demonstram que o reticular ( lâmina reticularis)
espessamento resultante das vias aéreas pode reduzir Na asma, a verdadeira membrana basal (lâmina
o encurtamento do músculo liso necessário para cau- basal) mostra-se íntegra, havendo depósitos de
sar fechamento das vias aéreas e que a magnitude do imunoglobulinas, colágenos Tipos I e III, e fibronectina
espessamento das vias aéreas é suficiente para contri- na região imediatamente abaixo ( camada reticular).Isso
buir substancialmente para a hiperresponsividade determina um aspecto espessado e hialinizado, sendo
brônquica (1) considerado quase que uma característica da doença
Estas alterações ocorrem independente da causa (1,4).
básica da asma, (atópica, intrínsica ou ocupacional) e Alguns estudos não relacionaram o espessamento
são mais evidentes em vias aéreas de menor calibre da membrana basal com a gravidade, duração ou ori-
(2-4 mm de diâmetro). gem da asma (1), enquanto Chetta et al evidenciaram
Em asmáticos leves , o aumento da espessura da relação entre a espessura da membrana basal e a gra-
vias aérea está limitado às vias aéreas menores de 6 vidade clínica da asma (9).
mm, enquanto nos asmáticos graves o aumento de es- 1.4 Aumento do tecido muscular liso
pessura pode ser observado em todas as vias aéreas, A massa muscular lisa está geralmente aumenta-
exceto em relação às maiores ( 6 ). Okazawa et al., da em grandes e/ou pequenas vias aéreas tanto às cus-
em 1996, observaram que mesmo não havendo dife- tas de hipertrofia como hiperplasia em casos de asma
rença importante entre o espessamento da parede fatal e não fatal (1) e constitui uma das características
brônquica das grandes vias aéreas entre asmáticos gra- mais conhecidas do remodelamento em pacientes as-
ves e controles, dentro do grupo de asmáticos graves máticos. O aumento do tecido muscular liso é des-
havia correlação entre a queda do PC 20 por proporcional ao aumento do espessamento total da
metacolina e espessamento da parede brônquica (7) . vias aérea, e em alguns pacientes o músculo pode
Através da CT de torax de alta resolução, as vias aé- ocupar mais de 20% da parede brônquica (1).
reas de pequeno diâmetro (2-4mm) demonstram as James, em 1997, numa revisão de 9 estudos,
maiores diferenças entre indivíduos asmáticos e nor- demonstrou um aumento de 50 a 230 % e 25 a 150 %
mais em resposta a metacolina ( 7 ). Por este motivo na espessura do tecido muscular liso em asma fatal e
e outros dados que serão discutidos posteriormente, não fatal, respectivamente. Estes achados implicam em
as vias aéreas de menor calibre são consideradas as que o aumento da massa muscular lisa em alguns as-
alterações mais importantes na asma. máticos pode predispor a uma resposta mais pobre a
1.2 Alterações epiteliais. um ataque grave. Provavelmente, os fatores conheci-
O epitélio é lesado extensamente na asma, ha- dos como sendo tróficos para o crescimento do mús-
vendo descamação intensa de células para o interior culo liso atuam em conjunto na inflamação intensa das
do lume da via aérea, concomitante com o prejuízo da vias aéreas. Estes incluem histamina, trombina,
ciliogênese ( 4 ). Vários fatores contribuem para o es- tromboxane A2, fator de crescimento epidérmico,
tado de ruptura epitelial na asma, sendo a ação endotelina-1, IL-1 beta, e outros ( 10 ).
citotóxica dos produtos derivados da degradação de Estudos mais recentes observaram algum grau de
eosinófilos, entre eles a MBP (proteína básica princi- heterogeneidade em relação ao espessamento do te-
pal), o mais reconhecido. Outros fatores incluem cido muscular liso . Ebina et al. (11) conseguiram iden-
radicais livres de oxigênio, efeito de proteases neutras tificar dois grupos de pacientes quando da análise
e do edema subepitelial e até ações decorrentes de morfométrica de casos de asma fatal. Na asma Tipo I
provável doença viral em episódios de exacerbação , o aumento da massa muscular estava associado so-
das crises ( 4 ). O epitélio brônquico é considerado mente a hiperplasia das fibras do músculo liso
não só o alvo da inflamação crônica, mas como um brônquico nas vias aéreas centrais , enquanto na asma
participante ativo nos processos patogenéticos com Tipo II , hipertrofia foi observada ao longo de toda a
diversas conseqüencias funcionais que levariam ao árvore brônquica, principalmente nas pequenas vias

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aéreas periféricas. Neste grupo, hiperplasia discreta brônquicos), a qual pode estar associada com a ocor-
foi observada somente em grandes vias aéreas. Não rência de enfisema intersticial observado em alguns
houve diferenças clínicas entre os dois grupos. pacientes asmáticos através da CT de tórax. Além dis-
O aumento da massa muscular lisa pode ser con- so, o muco apresenta maior propriedade viscoelástica,
seqüente a vários fatores: a) proliferação muscular o que pode reduzir significativamente o clearence
induzida por mediadores inflamatórios; b) hipertrofia mucociliar (1).
por repetidos episódios de broncoespasmo; c) con- Durante um ataque fatal de asma, mais de 50%
trole inibitório muscular reduzido resultante em ativi- das vias aéreas podem estar ocluídas por muco. James
dade miogênica aumentada (4) Schellemberg tem su- e Carrol, em 1995, mostraram que a presença de muco
gerido a ocorrência de anormalidade intrínseca ao na luz da via aérea pode aumentar substancialmente a
músculo brônquico na asma, segundo o qual, poderia sua resistência para graus leves de contração do mús-
haver uma degradação dos elementos da matriz culo liso brônquico , assim como ampliar o efeito de
extracelular entre as fibras musculares, resultando em encurtamento do músculo liso, provocando fechamento
menor carga contrátil, conseqüentemente , uma maior prematuro da vias aérea a uma equivalente contração
contração brônquica (4). de vias aérea (4).
Há várias conseqüências funcionais decorrentes 1.6. Fibrose Suptelial
do espessamento da massa muscular lisa. Alguns es- Estudos anteriores descreveram a fibrose
tudos têm sugerido que o mesmo grau de encurtamen- subepitelial como sendo o espessamento da membra-
to do músculo pode causar consideravelmente um maior na basal no paciente asmático (5). A microscopia ele-
estreitamento luminal em uma via aérea com parede trônica demonstrou que a membrana basal está nor-
espessa em comparação a uma via aérea normal. Um mal e que o espessamento é o resultado de uma res-
estudo, utilizando um modelo computadorizado, posta fibrótica densa predominantemente na lâmina
demostrou (1) que o aumento acentuado do reticularis (5). Esta resposta é caracterizada pelo
espessamento da via aérea equivalente ao observado acúmulo de fibronectina, tenascina, e colágenos Tipos
na asma não reduz o calibre das vias aéreas se o mús- I III e V (5). O significado fisiopatológico da fibrose
culo liso estiver no seu comprimento de repouso. As- subepitelial não está esclarecido. Uma correlação
sim que ocorre a broncoconstricção, há um aumento significante entre a sensibilidade a metacolina e a in-
acentuado na resistência das vias aéreas(1) e estudos tensidade da fibrose da vias aérea foi anteriormente
de pulmões humanos revelaram que um encurtamento descrita . Sendo assim, a resposta fibrótica desempe-
de somente 40% do músculo liso em relação ao seu nha um papel na geração da obstrução parcialmente
comprimento de repouso em pacientes asmáticos, reversível e/ ou fixa de vias aéreas. Pode também ser
ocluíram completamente o lúmen das vias aéreas (1). considerada como marcador do processo que ocasi-
O modelo também demonstra que a resistência , par- ona a hiperresponsividade de vias aéreas (5). Estudos
ticularmente nas pequenas vias aéreas tende a alcan- recentes randomizados mostraram redução significante
çar um plateau nas vias aéreas de indivíduos normais, na fibrose subepitelial após curto ou longo período de
enquanto em pacientes asmáticos, aumenta progressi- terapia com esteróides ou após cessação de exposi-
vamente devido ao fechamento de vias aéreas. ção ao antígeno (5).
1.5. Aumento de glândulas submucosas 1.7 Hiperplasia Miofibroblástica
A hipertrofia de glândulas mucosas e metaplasia Miofibroblastos são células especializadas que
mucosa são componentes fundamentais da patologia têm características tanto de fibroblastos como de
da asma, contribuindo para a excessiva produção de miócitos. Estão aumentados em tecidos que estão sen-
muco presente na asma fatal. Além disto, são elemen- do submetidos a reparo, tais como em ferimento ou
tos fundamentais para a perda aguda de função pul- em fibrose intersticial pulmonar. Na asma, a submucosa
monar. Estudos morfométricos demonstraram aumen- mostra um aumento no número de miofibroblastos que
to da área de glândulas mucosas na asma fatal e/ ou se correlaciona com o espessamento da lamina
não fatal (1). Uma outra alteração das glândulas refe- reticularis . Miofibroblastos são os maiores produto-
re-se a ectasia de ductos glandulares (divertículos res de colágenos e podem ser responsáveis pela de-

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posição subepitelial de colágeno, com conseqüente fator de necrose tumoral (TNF), IL-5, IL-4, IL-13,
fibrose subepitelial (5). fator de crescimento ligado à insulina, endotelina, fator
1.8 Dilatação Vascular e Angiogênese de crescimento epidérmico (EGF), fator estimulador
Na asma, existe um aumento da área vascular de colônias granulocítico-macrofágicas (GM-CSF),
(1), sendo os vasos de maior calibre (4) em compara- triptases e leucotrienos. Há evidências ainda de que
ção aos indivíduos normais, contribuindo assim, para EGF e GM-CSF não se correlacionam diretamente
o espessamento da parede da vias aérea (1). Ocorre com fibrose, podendo estar envolvidos então com exa-
formação de novos vasos que se desenvolvem a partir cerbações agudas da doença (1, 2, 12) .
de vasos preexistentes, processo este denominado O fato é que os estudos de tais mediadores “in
angiogênese (1). Estes novos vasos apresentam esta- vivo” são bastante pobres, tanto em quantidade quan-
do de permeabilidade alterado, provocando aumento to a técnicas inadequadas.
de edema que é conseqüente ao “extravasamento” da Estudos de expressão transgênica dos mediado-
microcirculação brônquica (4). res já começam a ser desenvolvidos no intuito de mar-
A vasodilatação brônquica, ao nível de capilar e car genes para parênquima e vias aéreas. Alguns des-
de veias pós- capilares (4), ocorre por ação de medi- tes estudos revelaram que a IL-6 tem sido localizada
adores inflamatórios e fatores de crescimento, incluin- em grandes quantidades em fluidos de pulmões de as-
do o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) máticos. Estimula linfócitos B e T e contribui para o
( 1 ), cuja expressão é exacerbada por vários fatores desenvolvimento de linfócitos Th2, o que levaria, se-
angiogênicos , assim como por citocinas e fatores de gundo o desencadeamento inflamatório a partir daí, à
crescimento. Os corticosteróides têm ação inibitória perpetuação do processo. A IL-6 é ainda o principal
sobre a expressão do VEGF, o que pode explicar a agente estimulador da crise aguda e um potente
sua potência antiinflamatória a nível molecular ( 1 ). mitógeno para a musculatura lisa. Estudos em ratos
revelaram também a IL-6 como causa de fibrose
2. Células e mediadores inflamatórios subepitelial, com deposição de colágeno e presença
do remodelamento. de anticorpos anti-músculo liso. A IL-11 é produzida
por células alveolares e epiteliais, fibroblastos e
O conceito de remodelamento também sugere que miócitos, em resposta a fatores como TGFb, IL-1,
a inflamação crônica induz a todo este processo des- viroses que exacerbam a asma e histamina. Provoca
crito como resposta a uma variedade de mediadores, fibrose subepitelial, deposição de colágeno com fibras
incluindo citocinas por linfócitos T helper do tipo 2 dos tipos I e III (mas não do tipo IV), e acúmulo de
(Th2) e interleucina 6 (IL-6). Os mediadores miofibroblastos e miócitos. Além disso, existe corre-
confirmadamente responsáveis pelo remodelamento lação inversa entre IL-11 e VEF1 ( 13,14 ) .
não foram ainda reconhecidos. A inflamação dominada por linfócitos tipo TH2
Dados bastante limitados de estudos em huma- consiste em verdadeira “pedra angular’ para o
nos mostram que membros de uma “família de prote- remodelamento brônquico. Estudos “in vitro” demons-
ínas” transformadoras de fatores de crescimento tram que IL-4 pode estimular proliferação fibroblástica
(transforming growth factor b, ou TGF-b) podem ter e conseqüentemente de colágeno, deposição de
seu papel, já que se apresentam elevadas e alteradas fibronectina e tenascina. Estudos transgênicos também
em biópsias de pacientes com diagnósticos de asma revelaram que IL-13 em grande quantidade pode ge-
em fase de remodelamento. Estas proteínas teriam a rar inflamação por eosinófilos e ainda mononuclear,
capacidade de recrutar células inflamatórias como além de fibrose subepitelial, obstrução e via aérea e
macrófagos e eosinófilos, além de fibroblastos (1). hiperresponsividade à metacolina. ILs-5 e 9 demons-
Além disso, estudos inclusive em outros órgãos traram intensas eosinofilia e fibrose (15).
mostram que uma variedade de mediadores têm a ca- Trata-se de uma cadeia inflamatória, já que célu-
pacidade de regular a prolifereção de fibroblastos e a las Th2 possuem importante papel no reconhecimento
produção matricial. Incluem-se neste contexto: fator de antígenos e no início da perpetuação da inflama-
de crescimento derivado de plaquetas (PDGF), IL-1, ção; eosinófilos consistem efeitos nocivos ao epitélio,

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outras células como mastócitos, células epiteliais, Os efeitos antiinflamatórios de drogas específi-
basófilos, fibroblastos, células musculares lisas e cas, diante do remodelamento não foram, na verdade,
macrófagos contribuem para a secreção de citocinas. estudados corretamente até então. Há evidências de
Não há um único mediador capaz de justificar que corticoesteróides inalatórios poderiam reduzir o
todas as alterações componentes do remodelamento, declínio acelerado da função pulmonar, ou mesmo a
o que sugere a concentração de ações de múltiplos hiperresponsividade brônquica, mas por vezes se mos-
mediadores associados. tram com resposta incompleta. Por outro lado, paci-
entes sem tratamento clínico nem sempre evoluem com
3. Marcadores clínicos de remodelamento remodelamento. Conta-se ainda com a série de efei-
tos colaterais sistêmicos advindos destas drogas.
A asma tem sido considerada tradicionalmente Este componente de irreversibilidade de obstru-
como doença totalmente reversível das vias aéreas, e ção de vias aéreas é mais proeminente em pacientes
na maioria dos pacientes pode ser observada com asma severa e persiste em alguns pacientes mes-
reversibilidade completa das medidas espirométricas mo após longo período com corticosteróides
anormais, como o VEF1, após terapêutica com inalatórios ( 1 ). A intensidade do remodelamento
broncodilatadores e/ ou corticosteróides. Entretanto, brônquico parece variar bastante de paciente para
alguns autores têm demonstrado que pacientes adul- paciente e tem caráter, até o momento, imprevisível.
tos com asma apresentam maior declínio da função Apesar de não haver estudos até o momento que ca-
pulmonar em comparação a indivíduos não asmáticos racterizem os pacientes com maior risco de desenvol-
(17) e alguns pacientes evoluem com deterioração ver hiperresponsividade brônquica, parece que a obs-
acelerada da função respiratória, apresentando evidên- trução irreversível das vias aéreas é geralmente asso-
cias de obstrução residual de viasaéreas, a qual pode ciada com a freqüência do chiado e persistência da
ser detectada em pacientes assintomáticos e pode tam- asma, assim como em pacientes com asma grave.
bém ser observada meses após cessação dos sinto- As evidências atuais, como visto anteriormente,
mas de asma em pacientes totalmente assintomáticos suportam o fato de que o remodelamento na asma é
(1). conseqüência da persistência do processo inflamató-
Além disso, atopia e tabagismo associam-se com rio e/ou da grave intensidade do mesmo e que a inter-
o maior declínio da função pulmonar, expressa pelo venção precoce de agentes antiinflamatórios pode
VEF1. Outro dado seria de que há estudos relatando prevenir ou retardar o desenvolvimento de obstrução
maior perda funcional em asmáticos com início dos irreversível de vias aéreas quando comparado ao uso
sintomas da doença tardio, se comparados com os de apenas de broncodilatadores e que a introdução tar-
início precoce (18). dia de antiinflamatórios aparentemente limita a resposta
Conhecer fatores e mecanismos neste caso tem máxima da função pulmonar. Estes achados indicam
sua importância na necessidade de se desenvolverem que a melhora potencial do fluxo aéreo observada atra-
medidas de intervenção precoce e dirigidas para gru- vés do controle da inflamação, pode ser limitada por
pos específicos mais suscetíveis, o que seria poupado um componente esteróide resistente da função da vias
naqueles de menor risco. aérea, possivelmente precoce, com estabelecimento
Há quem considere ainda o fato de que a fibrose de formação cicatricial dentro da parede da vias aé-
subepitelial, por exemplo, altera-se a todo momento, rea. As tentativas de melhor entendimento deste pro-
seja em indivídos recebendo corticoterapia ou não. cesso, e conseqüentemente desenvolvimento de inter-
Isso levaria a pensar que mudanças estruturais, sejam venções efetivas, visam o melhor manejo dos pacien-
elas de músculos ou fibrose, seriam realmente tes com asma e a prevenção da deterioração funcional
irreversíveis. Outra consideração seria o fato de, ape- definitiva (20).
sar de tratados com drogas antiinflamatórias, perma- Não existem, por outro lado, na literatura, estu-
necerem os indivíduos sempre com um grau de infla- dos prospectivos correlacionando alterações estrutu-
mação subclínica mal detectada pelos exames de uso rais com parâmetros de função pulmonar e índices in-
corrente (1, 19). flamatórios.

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Estudos por broncoscopia e escarro induzido 12-Elias JA, Zhu Z, Chupp G and Homer RJ. Airway remodeling
consistem em técnicas úteis para estudos mais in asthma. J Clin Invest 104:8:1001-6, 1999.
13-Busse W, Elias JA, Sheppard D and Schlegel B. Airway
direcionados. remodeling and repair. Am J Respir Crit Care Med 1999:
Uma possível enumeração das dúvidas existen- 160:1035-42.
tes neste campo seria: 14-Reed CE. The natural history of asthma in adults: the
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em consenso incluindo histologia, morfometria, imuno- 103:4:539-47
15-Doucet C, Brouty Boyé D, Pottin Clemenceau C, Canonica
histoquímica, inflamação e função pulmonar; GV, Jasmin C, Azzarone B.Interleukin (IL) 4 and 13 act on human
•Fatores que estimulam e/ou perpetuam o pro- lung fibroblasts. Implication in asthma. J Clin Invest
cesso; 101:10:2129-39 1998.
•Diferenciação dos grupos de risco; 16-Laprise C, Laviolette M, Boutet M and Boulet LP.
•História natural do remodelamento, com rela- Asymptomatic airway hiperrseponsiveness: relationships with
airway inflammation and remodeling. Eur Respir J 14:63-73
ção a possibilidade de interrupção do processo ou não. 1999.
As perguntas são portanto ainda muito extensas 17-Lange et al : A 15- year follow –up of ventilatory function
e o campo para estudos vasto e carente de elucidações. in adults with asthma. N. Engl. J. Med 339:1194-1200, 1998.
18-King GG, Paré PD and Seow CY. The mechanics of
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muscle. Respiration Physiology 1999; 118:1-13.
19-Irvin CG, Wenzel S. Asthma: structure and function. Chest
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