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1. A Intencionalidade
A intencionalidade é considerada como a situação original que torna possível
esclarecer o complexo da realidade, o fato primitivo da fenomenologia (Luijpen,
1973)
O conceito de intencionalidade provém da Escolástica e chegou à fenomenologia
através dos ensinamentos de Brentano, que distinguia os fenômenos físicos dos
fenômenos psíquicos, afirmando que os últimos podem ser percebidos e que esta
percepção constitui seu conhecimento fundamental, um conhecimento que
comporta uma intencionalidade (Dartigues, 1973).
Husserl apropriou-se do termo “intencionalidade” dando-lhe significado diverso.
Para Husserl, esta consciência estava definida em termos de intenção voltada
para o objeto. Em “Meditações Cartesianas” ele a definiria como: “a propriedade
fundamental dos modos de consciência em que vivo como “eu”, ou seja, ela se
refere ao sujeito-como-cogito, ao conhecimento.” (Luijpen, 1973).
Em “Idéias Diretrizes para uma Fenomenologia” Husserl, daria outra definição
para esta relação dos atos de consciência: “No sujeito há mais que o sujeito,
entenda-se mais que a cogitatio ou nóese [atividade da consciência]; há o objeto
mesmo enquanto visado, o cogitatum enquanto é puramente para o sujeito, isto é,
constituído por sua referência ao fluxo subjetivo da vivência.” (citado por
Dartigues, 1973, 26).
Lyotard (S.D.) observa que, a partir da intencionalidade, é possível falar da
inclusão do mundo na consciência, pois nela está o pólo “eu” (nóese) e o pólo
“isso” (noema), que o autor define como a relação do sujeito e da situação.
A intencionalidade, como enfatiza Luijpen (1973), “rompe com a idéia do sujeito
isolado do mundo.”, descrevendo-o como abertura para o mundo, como o próprio
conhecimento. O mundo, por sua vez, é tratado, não como interioridade do sujeito,
mas como uma presença imediata do sujeito, como um modo de existir. Estamos
diante de um ser-envolvido-no-mundo.
Então podemos concluir, como Dartigues (1973), que a intencionalidade coloca a
consciência e objeto não como duas entidades separadas por natureza, mas que
se definem por sua correlação, sendo que a essência desta correlação não se
configura em determinado objeto, estendendo-se ao mundo inteiro. Neste sentido
a intencionalidade é aquilo que torna possível a própria redução fenomenológica
(Giles, 1975).
2. A Redução Fenomenológica
A conceituação para redução fenomenológica na obra de Husserl foi se
modificando com o seu amadurecimento. Luijpen (1973) nos esclarece que, num
primeiro momento, quando Husserl relacionava diretamente a intencionalidade
com o sujeito-como-cogito, a redução era vista simplesmente como a colocação
do ser “entre parênteses”; mais tarde o sujeito-como-cogito seria associado às
atitudes e ao mundo vivido, resultando na sua associação com “a volta às próprias
coisas”, na qual se incluía o sujeito-como-cogito, em suas muitas atitudes,
conhecendo a partir de sua experiência do mundo.
A redução fenomenológica procura tornar evidente o ego-cogito-cogitatum, ou
seja, a consciência que constitui o sentido do mundo (Giles, 1975). Constituir
significa, para Husserl: “remontar pela intuição até a origem na consciência do
sentido de tudo que é, origem absoluta já que nenhuma outra origem que tenha
um sentido pode anteceder a origem do sentido.” (Dartigues, 1973, 30).
A redução fenomenológica indica uma volta às experiências e ao mundo original,
sem considerar as teorias que lhe foram acrescentadas pelas ciências (Luijpen,
1973).
Para concluir, procurei uma definição de redução fenomenológica o mais
abrangente possível, fui encontrá-la em Merleau-Ponty que a considera como: “...
a resolução não de suprimir, mas de colocar em suspenso, e como que fora de
ação, todas as afirmações espontâneas nas quais vivo, não para negá-las, e sim
para compreendê-las e explicitá-las ... quando opero a redução fenomenológica,
não me reporto do mundo exterior ao eu considerado como parte do ser, não
substituo a percepção interior à percepção exterior, tento fazer aparecer e
explicitar em mim esta fonte pura de todas as significações que em torno de mim
constituem o mundo, e que constituem meu eu empírico.” (1973, 30).
Neste sentido a redução fenomenológica nos remete para duas questões
importantes: a da constituição do mundo; o da distinção entre a ciência
fenomenológica e a concepção científica cartesiana e positivista, na qual me
deterei em seguida.
6. Intersubjetividade
O último aspecto do método fenomenológico que pretendo abordar é o da
intersubjetividade. A meta final da consciência transcendental, segundo Husserl,
era a de ultrapassar a individualidade, para então se chegar ao caráter
plenamente objetivo que se dá na constituição intersubjetiva do objeto, na sua
constituição por uma pluralidade de sujeitos (Giles, 1975).
Esta meta foi valorizada por Merleau-Ponty (1973), ao declarar que a subjetividade
derradeira, a mais radical, chamada pelos filósofos de transcendental, se dá
apenas no diálogo, na comunicação com outras situações, com outros homens,
constituindo-se na intersubjetividade.
A intersubjetividade se revelaria a partir do momento em que o corpo, enquanto
complexo móvel, se põe em contato com o exterior e localiza o outro. Este outro
nunca pode ser apreendido de modo direto, é pela intropatia (Einfühlung) que se
dá a relação entre eu e o outro que é por mim percebido (Giles, 1975; Capalbo,
1973).
A intersubjetividade seria, então, a garantia da objetividade do objeto, uma vez
que nela o objeto se mantém idêntico em sua multiplicidade de aparências para
uma pluralidade de sujeitos (Giles, 1975).