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Doutorando PUCRS. PPGE Educação.
pela Teoria Crítica, enquanto elemento indicador da auto-reflexão da
razão no espaço educacional contemporâneo.
A presença da Filosofia no ensino escolar vinculou-se radicalmente
com as temáticas do nosso tempo, que nos leva a considerarmos duas
questões importantes: qual o sentido da Filosofia no processo de
produção de conhecimento educacional e no modo como se comportam
conceitualmente as elaborações filosóficas no âmbito escolar? Enquanto
se coloca a Filosofia como modalidade de pensamento a ser ensinado e
aprendido, que contribuições às reflexões relacionadas ao campo
educativo ela traz ao processo de formação escolar dos adolescentes e
jovens? A partir de tais questões podemos pensar sobre “os sentidos”
que se apresentam contemporaneamente no ensinar filosofia,
considerando as tensões e as postulações epistemológicas que se
encaminham nesse campo.
1
Sobre o positivismo na educação ver Sguissard Valdemar. Positivismo e educação
no Brasil: notas introdutórias. Mimeo, 1992. WARDE, Miriam J. A favor da educação,
contra a positivização da filosofia. Revista Em aberto, Brasília, n.45, p. 27-33, jan.
/mar. 1990.
relações pedagógicas se configuram atualmente numa verdadeir
“positivização” acadêmica e em inúmeros mecanismos de
autopreservação de si.
Face à multiplicidade das orientações pedagógicas, não se pode
tratar o conceito educativo como um corpo de saberes já à disposição
para serem transmitidos. É preciso um momento de reflexão crítica
sobre certos “devaneios pedagógicos” na forma de compreender a
própria crise de referencias que se estabelece. Nesse sentido, cabe-nos
colocar uma questão: Como pensar um ensino de Filosofia nesse tempo
em que floresce cada vez mais o domínio da natureza sob os aspectos
de uma instrumentalização da razão?
O domínio da natureza se desenvolveu também no domínio do ser
humano sobre si mesmo, de forma que o triunfo que seria a superação
do mito, do mundo encantado, tornou-se tragédia. Esta é a
rememorização da própria dominação. Essa dominação alcança os
recônditos espaços da subjetividade, escravizando o sujeito,
submetendo-o aos caprichos da razão formalizada, calculista e
ratificando a lógica do aparelhamento econômico capitalista.
Adorno vinculou-se intensamente com essas questões, sobretudo,
na caracterização crítica da sociedade capitalista e na própria dificuldade
de transformação dessa sociedade. Buscou anotar um diagnóstico da
progressiva totalização capitalista em todas as esferas da vida, como
também do prisma de apreensão da sociedade como socialização
produzida em determinadas condições (Maar, 2004, p. 165).
O sujeito jogado nessa lógica ao mesmo tempo em que busca sua
emancipação sofre as conseqüências de sua própria aniquilação. Aquilo
que a filosofia transcendental exaltou na subjetividade criadora é o
cativeiro do sujeito em si, oculto para ele mesmo (Adorno, 1995, p.
191). Esse cativeiro subjetivo reproduz o cativeiro social (idem, 192).
Ou seja, o sujeito aparece e some, é engolido pela totalização social.
Ora, se pensarmos num dos “prismas” de leitura adorniano, a
condição do sujeito na era da totalização social capitalista, ou como uma
sociedade absolutamente administrada, apresenta-se ai a condição
insistente de liquidação do próprio sujeito e de qualquer forma de
alteridade. No interior desse quadro notemos, por exemplo, a obra
Mínima Moralia, onde Adorno retrata as condições da vida danificada do
sujeito nesse mundo sistêmico administrado.
Duarte (1997)2 considera que na Mínima Moralia, Adorno alimenta
uma aversão a qualquer tipo de totalização e um desgosto crítico a
lógica da racionalidade instrumental. O cerne dessa obra é a denuncia
do embrutecimento da razão expressada nas mais simples e nas mais
complexas condutas cotidianas das pessoas no mundo administrado.
Tais condutas expressam a decadência das ações de homens e mulheres
absorvidos na relação com todo o tipo de “parafernália” tecnificada.
2
Para Duarte (1997, p. 145-146), o principal escopo da Minima Moralia: reflexões a
partir vida danificada é uma reaproximação entre filosofia e a mais crua imediatidade
da vida prosaica na fase tardia do capitalismo mundial, cujo o autor empreende um
implacável acerto de contas com uma representativa tradição filosófica, protagonizada
por Kant, Hegel, Marx, Nietzsche, Schopenhauer e Freud, entre outros.
situação presente abarca a compreensão de que a tecnificação
desmancha progressivamente a linha divisória entre cultura e barbárie
(Duarte, 1997, p. 149). Somente uma ascese bárbara contra a cultura
de massa e contra o progresso dos meios seria capaz de produzir de
novo a não-barbárie (Adorno apud Duarte, p.149).
Bibliografia