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Minha história começa nesta pequena e pacata cidade, quando ela ainda nem
era conhecida, não que agora ela seja, mas em fim, nasci em 1922. Meus pais
eram aqueles caipiras, filhos de pais italianos que vieram tentar a vida inútil
aqui, que cortavam cana para manter a família. Ah não, não estou
desmerecendo nenhum cortador de cana. Eu tenho orgulho de meus pais e
queria que eles também tivessem orgulho de mim, se ainda estivessem vivos.
Continuemos, filho único e sem tios/tias e avôs ou avós para me olharem,
meus pais me levavam junto com eles para cortar cana, é claro que eu, ainda
bebê, ia num cesto de palha e ficava lá, sob o sol apenas observando o mundo
que naquela época eu não compreendia nada de nada.
Odiava ter que ajudar naquele serviço, porém aquela era a única forma de
continuarmos comendo o pão de cada dia que o senhor nos dava, mas aos
poucos eu fazia amigos lá na roça e isso me deixava mais feliz, pois sabia que
quando o trabalho chegasse ao fim, meu corpo jovem ainda me permitia brincar
até o fim da noite quando minha mãe me chamava para dormir. Naquela época,
cachorros, gatos e galinhas eram comuns entre as pessoas, principalmente os
cachorros e galinhas, mas também era fácil encontrar cavalos, bodes, vacas e
animais de maior porte.
A notícia de que uma escola tinha sido montada a alguns quilômetros de onde
eu morava tinha se espalhado rapidamente. Muitos colegas meus, estavam
indo para a escola e eu queria também, implorei para meus pais e estes
concordaram em me deixar partir, porém eu deveria terminar os estudos
naquela escola e continuar, não parar por ali. Eles queriam me ver como um
“Doutor”, tão sonhadores, eles, que fico com pena de lembrar do sorriso de
cada um, quando me olhavam partir para a escola bem cedo.
Não posso deixar de ressaltar que eu esperava muito mais da cidade. Ao entrar
no tal distrito, já era noite e várias luzes me chamavam a atenção. Parei no
primeiro ponto de ônibus, desci rapidamente para evitar olhares daquele povo
estranho.
Ainda não existia asfalto, era terra batida mesmo. Meus pés logo ficaram
empoeirados assim que o ônibus passou e levantou poeira. Olhei para tudo
aquilo, era magnífico, muitas casas de barro, casas de madeira com telhados
de palha. Meus olhos verdes brilhavam de alegria.
Caminhamos por algum tempo até chegar ao que parecia ser o centro da
cidade, uma praça bonita e no meio dela uma igreja. Fomos até a igreja, rezei
um pouco e abri minha marmita, na frente da capela mesmo. Comi o que minha
mãe me deu. Adormeci, amanhã seria um novo dia onde iria procurar um
emprego.
Bem, eu não ganhava muita coisa por carta escrita, mas era o suficiente para
viver de pão e leite. O dono do correio me fez a gentileza de me deixar dormir
num quartinho nos fundos do estabelecimento. Fiquei muito grato e fui buscar
minhas coisas na igreja, por sorte elas ainda estavam lá.
O Local onde eu iria dormir era perfeito para, tinha até uma cama, com
colchão, coisa que eu não era acostumado lá na roça.
Vou adiantar um pouco minha história, irei avançar até o ponto que interessa,
quando eu comecei a estudar.
Escrevendo cartas de tarde e noite e estudando de dia, minha vida estava boa.
Eu já estava com quase vinte e dois anos e já estava no último ano da escola,
logo eu poderia entrar para a escola de medicina e fazer meus pais se
orgulharem de mim.
Agora sim irei começar a parte que lhes interessa. A parte de minha história
que mudou minha vida de tal maneira que é incrível acreditar.
Por volta das oito e meia, eu estava escrevendo minha última carta quando
uma moça se aproximou de mim e pediu para ajudá-la com sua carta de
despedida aos seus pais. Lembrando dos meus, eu disse que ajudaria ela sim.
Deixei a carta que um senhor buscaria amanhã pela manhã e então peguei um
pedaço de papel e molhei a pena na tinta. Olhei para os olhos da moça, ela
aparentava ter uns vinte anos. Seus olhos cor de caramelo me deixaram
fascinado. Comecei a carta:
“Querido Papai e Mamãe, sinto lhes desapontar, mas não poderei mais vê-los. Minha vida aqui
em Santa Bárbara d’Oeste mudou completamente e agora já não trilho mais o caminho que
vocês desejaram para mim. Peço que não me procurem. Adeus.”
Senti-me triste em escrever tal carta. Eu não sabia como era a vida daquela
bela jovem, mas ela se parecia muito comigo, parecia que tinha pais que
moravam na roça e que tinha vindo para a cidade em busca de algo que
infelizmente não conseguiu e agora tinha vergonha de contar isto aos pais.
Perguntei o que ela queria ali. Os olhos cor de caramelo dela se encontraram
com o verde dos meus e por um instante, pensei que sabia o que ela queria.
Aquilo não era muito comum, afinal tínhamos nos conhecido a menos de uma
hora, mas meus instintos masculinos falaram mais altos e ousei entrar na
capelinha, depois dela.
A capela não era tão grande, era como um cômodo de tamanho médio. Não
tinha nem ao menos bancos e muito menos cruzes. Estava escuro a não ser
pela claridade da lua que passava pelos buracos na madeira.
Meu sangue estava ficando quente e isto esquentava algo que deveria estar
para baixo, mas eu não podia controlar. Meus lábios secavam lentamente
enquanto eu olhava os lábios da garota. Esta veio em minha direção com um
sorriso sensual, fiquei parado e deixei ela se aproximar de meu pescoço, para
beijá-lo.
Antes do beijo que se seguiu, ousei perguntei seu nome, o nome da garota. Eis
que ela responde. “Gabriel Koi”.
Uma pontada forte em meu coração me fez desmaiar. Não sonhei com nada e
acordei rapidamente, penso eu. Assim que recuperei os sentidos, meus braços
e abdômen estavam doendo. Olhei para meu corpo, todo coberto com roupas
sujas de sangue. Engraçado, eu queria chorar, mas não saia um pingo de
lágrima e dessa vez, eu queria gritar, mas minha garganta estava tão seca e
necessitada que nem uma nota saiu. Retirei a roupa suja de sangue, meu
abdômen e meus braços estavam seguindo o mesmo caminho de minhas
pernas, que agora eram uma massa acinzentada, fina e esquelética com
alguns calombos estranhos.
Escutei um miado, virei-me na direção que ouvi aquele som e pude ver um gato
branco e preto, parado em cima do que um dia foi um altar. Olhei para os olhos
do gato e estranhamente senti meu corpo ficar quente, foi ai que percebi o
quão gelado ele estava antes. O gato me olhou nos olhos e se aproximou,
rapidamente. Passou por minhas pernas deformadas e ficou se enroscando
nelas.
A cena seguinte foi uma atrocidade. Lembro-me do pobre gato, seco, ao lado
de meu corpo. Matei-o e suguei todo seu sangue, aquele líquido vital. Ah como
foi bom sentir aquele líquido quente escorrer e umedecer minha garganta seca.
Era engraçado como tudo parecia tão normal. “Os fracos irão morrer para os
fortes sobreviver”. Frase bem sugestiva que me veio à mente assim que vi o
gato estirado, sem vida, ao meu lado.
Sentindo meu rosto deformado, sentindo meus dentes apontando para fora da
boca e percebendo que estavam afiados como navalhas, precisava achar
respostas, queria saber o que estava acontecendo comigo.
Minha primeira reação foi querer matar aquela criatura, sabia que tinha visto-o
antes em algum lugar e lembrei-me de que era aquela “coisa” que estava
sugando meu sangue ao invés da moça bonita que me beijava. Mas antes que
eu pudesse fazer qualquer ação hostil. Aquela criatura me falou um pouco
sobre a experiência dela, e sobre como ela se sentiu no momento em que viu
seu corpo se atrofiando, igual ao meu.
Vou pular a parte da aceitação, sei que é uma parte interessante, mas tudo que
posso dizer é o seguinte: Eu já estava morto mesmo, o que me custaria aceitar
viver uma pós-vida como um ser amaldiçoado que precisa usar sua máscara
para não ser descoberto? Aceitei, já tinha perdido tudo mesmo.
Antes de começar a aprender qualquer coisa além do fato de não sair no sol,
eu finalmente consegui compreender o motivo pelo qual Gabriel me pediu para
escrever aquela carta e não disse nome ou endereço. A carta deveria ter meu
nome e o endereço de onde meus pais moravam.
Ao cair da noite do outro dia, fui até o local onde eu trabalhava antes como
escritor de cartas e por um pequeno corredor ao lado da casa da frente, pude
chegar ao quartinho dos fundos.
Agora irei entrar numa parte ruim da história em que eu fazia parte dele assim
como muitos outros cainitas.
Por este fato, uma lei foi imposta. A Máscara deveria mais uma vez ser
respeitada. Deveríamos agir em silêncio e recolher nossas presas sempre que
possível, assim os caçadores logo iriam embora. Ótimo plano, pena que não
deu muito certo na prática.
Os Vampiros, sabendo que não poderiam se mostrar novamente, começaram a
aprender a arte da manipulação e da corrupção, isso nos afundou mais ainda.
Foi então que a grande Guerra aconteceu. Mortais em uma ponta do triângulo,
Sabbat em outra e nós na terceira ponta. Todos juntos num emaranhado de
corpos, porém, uns contra os outros, em busca da sobrevivência.
Antes de qualquer coisa ser feita, um Vampiro muito importante para mim foi
me tirado. Gabriel Koi foi encontrado, por nós, os Nosferatus. Foi encontrado
morto e não havia maneira de saber sua causa mortis. Sentimos muito sua
perda, porém, como todos nós almejamos por poder, era fácil compreender que
a queda de um Ancillae significava menos concorrentes ao poder...
Isso era a história que foi passada, uma grande mentira. Vou contar o que
realmente aconteceu: Já lhes disse que os Esgotos não eram mais um local
seguro para os Nosferatus, Gabriel ainda queria que fosse e tentou se livrar da
tal ameaça. Sendo eu, o membro mais próximo dele, aquele me pediu ajuda e
disse para conseguir a ajuda dos outros Nosferatus...
...Grande erro. Eu sempre almejei subir, não queria ser um simples Neófito,
queria mais, muito mais. Quem sabe essa não fosse a oportunidade de ganhar
Influência e Fama? Deixei que Gabriel fosse sozinho e lhe disse que a ajuda
estaria a caminho, mas ela nunca chegou, ou melhor chegou tarde demais, e
ao final da noite, próximo do nascer do Sol. Um dos nossos membros
encontrou o corpo próximo de uma entrada dos bueiros, desde então, ninguém
mais se atreveu a entrar lá.
A morte final de Gabriel me deu Fama, eu era reconhecido pois ele era meu
senhor, ainda mais porque foi ele quem entregou uma última mensagem ao
ancião Brujah, uma mensagem que depois de ter sido lida, este ancião
convoca novamente toda a Camarilla.
Atualmente, tenho dois “buracos” em meu corpo provocados por balas dos
malditos caçadores. Um na perna direita na altura do tornozelo e outro em meu
ombro esquerdo. Estranhamente esses ferimentos não doem pois já
cicatrizaram, mas as marcas nunca saíram.
Num certo dia, não pude observá-lo e por isso pedi para meu carniçal, Thomas,
ficar vigiando-o e protegê-lo caso algo acontecesse, afinal ele já tinha me
rendido boas informações e não queria perdê-lo.
Infelizmente uma explosão na casa onde Malak estava investigando o deixou
totalmente incapacitado, sendo assim Thomas o trouxe até a mim e para
poupar sua vida, transformei-o em um membro. Abracei-o.
Sabia que teria uma árdua vida pela frente, teria de ensiná-lo e defendê-lo
certas vezes, coisa que eu sinceramente gostava de fazer. Era uma de minhas
fraquezas, nunca fui traíra como os outros Vampiros. Sempre procurei proteger
aqueles que um dia me foram úteis ou que ainda são.
Malak era uma boa cria, aprendeu tudo muito rápido e subiu em meu Status e
também perante toda a Camarilla.