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o Aspecto
Temporal da Hipótese de
Incidência das Contribuições ao
,~. PIS e COFINSe as Receitas Não Auferidas
em Virtude de InadimpIemento

ALEXANDRE DE M. W ALD
Advogado
Mestre em Direito (LLM) pela Ul1iversidadeda Pel1silvâl1ia,EUA

ALEXANDRE NAOKI NISHIOKA


Advogado

ALLAN MORAES r
Advogado
Pós-gmdllado em Direito Tributáriopela PUC/SP

il
contribuição ao PIS. cUla finalidade enquadra-se dentre as referi-
das no artigo] 94 da CFl88..'
Importante mencionar que, apesar das contribuições ao PIS e
COFINS terem matrizes constitucionais distintas (arts. 239 e 195,
respectivamente), entendemos que a elas aplica-se O.mesmo regi-
me jurídico. Note-se, aliás, que, principalmente a partir da edição
da Lei n° 9.718/98, ambas as contribuições passaram a ser regula-
das num único diploma legal".
Ressalte-se, por importante, que também não será objeto do pre-
sente estudo a pertinência da utilização da receita como base de cál-
INTRODUÇÃO culo da contribuição à COFINS, apesar da reconhecida polêmica
existente em razão da publicação da Lei nO9.718/98 antes da Emenda
De longa data, a doutrina vem discutindo acerca da natureza Constitucional n° 20, que, ao altejar o artigo 195 da CF/88, somente
jurídica das contribuições sociais. então passou a pem1itir expressamente a utilização dessa base.
Em excelente estudo sobre o assunto, MARco AURÉLIOGRECOI Partindo do pressuposto segundo o qual a base de cálculo das
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relata as diferentes posições da doutrina2, bem como as tentativas contribuições ao PIS e COFINS é a "totalidade das receitas
de enquadrar as contribuições nos modelos e classificações auferidas", importa-nos desvendar qual o aspecto temporal a ser
preexistentes. Uns entendem-nas como impostos, outros como ta- considerado para fins do nascimento da obrigação tributária.
xas, outros como espécie autônoma, dentre outros posicionamentos. Isso porque a praxe utilizada pelas empresas, do registro
O presente estudo não tem a pretensão de definir a natureza contábil das receitas à luz do princípio da competência, tem acar-
jurídica das contribuições sociais, tarefa sobremaneira difícil face retado o pagamento das contribuiçôes sobre receitas efetivamen-
às peculiaridades de cada uma das contribuições atualmente co- te não recebidas pela pessoa j~rídica.
bradas pela União. Mais que o mero aspecto temporal, importa-nos saber se as ven-
Interessa-nos, ;11(11511,
as contribuições ao PIS e COFINS na fei- das de mercadorias ou prestações de serviços registradas contabilmente
ção que assumiram a partir da edição da Lei n° 9.718/98. É que a como receitas, mas não pagas, sujeitam-se às contribuições.
partir desta lei, as referidas contribuições passaram a ser cobradas
4 A jurisprudência mansa e pacífica do E. STF entende que as contribuições sociais
sobre lia totalidade das receitas auferidas pela pessoa jurídica". são tributos. Vários foram os julgamentos em que, reunidos os eminentes Minis-
Partimos da premissa, na esteira da doutrina dominante e do tros do Pretório Excelso em sessão plenária, ocorreram debates a respeito da
constitucionalidade de contribuições sociais, ficando decidido, em todos os ca-
entendimento do STF, que, no atual ordenamento jurídico, lias
,~ sos, que elas têm natureza tributária. Cite-se como exemplo os acórdãos proferi-
contribuições sociais destinadas ao financiamento da seguridade dos nos autos do RE 146.733-9/SP, Relator Ministro Moreira Alves, in Caderno
social têm natureza tributária"3. O mesmo diga-se em relação à de Pesquisas Tributárias n° 17, Tema: Contribuições Sociais, São Paulo, co-edição
Centro de Extensão Universitária e Editora Resenha Tributária, 1992, p. 515 e
1 "Contribuições (Uma Figura 'Sui Generis')", São Paulo, Dialética, 2000, p. 9/1l. seguintes; RE 138.284-CE, Relatar Ministro Carlos Velloso, in RT] 143/313; RE
2 Vide também o capítulo "Natureza Jurídica e Espécies" da obra "Contribuições 150.755-PE, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, in RT) 149/259; RE 150.764-
Sociais no Sistema Tributário", de José Eduardo Soares de Meio, 2" ed., São Paulo, PE, Relatar Ministro Marco Aurélio, in RT] 147/1.024; ADC l-l/DF, Relatar
Malheiros, 1996. Ministro Moreira Alves, in ROA 202/270, entre outros.
3 Afirmação do Ministro Moreira Alves no voto proferido na ADC nO1, por ocasião 5 O histórico legislativo demonstra a nítida tendência do legislador em agrupar as
do julgamento da constitucionalidade da LC 70/91, (jue instituiu a COFlNS. duas contribuições num mesmo regime.

644 645
PIS - COFlNS
Alexalldre de il1. \'(Iald,Alexandre Naaki Nishiakil c AI/ali Maraes
... ., 4"
. Basta
o registro contábil das receitas ou há a neêessidade de (..)
que ocorra seu efetivo ingresso no patrimônio da pessoa jurídica Esse núcleo, ao qual nos referimos, será formado, ;'lvariave!men-
para que haja a incidência das contribuições? Esta é a pergunta te, por um verbo, seguido de seu complemento... .
que pretendemos responder ao final de nossas considerações. (.. .)
Para tanto, iniciemos nosso estudo pela análise da base de cál- Como corolário de tais observações, que mantiveram freqüência
culo e do aspecto material das contribuições. absoluta, entendemos o critério material ou objetivo da hipótese
'. tributária como o comportamento de uma pessoa (de dar, fazer ou
ser), que deflui de um processo de abstr~ção da própria fórmula
1. BASE DE CÁLCULO E ASPECTO MATERIAL
hipotética.6 ...\

Vejamos os enunciados em vigor que descrevem a hipótese de Pois bem.


incidência das contribuições. Aplicando essa lição às disposições da Lei n° 9.718/98, retro ,

Dispõe a Lei n° 9.718/98: mencionadas, temos que o aspecto material das contribuições em
estudo é o comportamento definido pela expressão "aurerir recei-
Art. 22 As contribuições para o PISIPASEP e a COFINS, devidas ta" (verbo, acrescido de complemento).
pelas pessoas jurídicas de direito privado, serão calculadas com A base de cálculo expressamente dafinida em lei (receita) con-
base no seu faturamento, observadas a legislação vigente e as al- firma esse aspeqo material, pois o quantifica.
terações introduzidas por esta Lei. Nesse sentido é a lição de ROQUE.ANTONIO CARRAZZA7:
Art. 32 O faturamento a que se refere o artigo anterior corresponde
à receita bruta da pessoa jurídica. Base de cálculoé dimensão da materialidade do tributo. É ela que
§ 12 Entende-se por receita bruta a totalidade das receitas dá critérios para mensurar o fato imponível tributário. Geral-
auferidas pela pessoa jurídica, sendo irrelevantes o tipo de ativi- do Ataliba a define como sendo a 'perspectiva dimensível do as-
dade por ela exerci da e a classificação contábil adotada para as pecto material da hipótese de incidência que a lei qualifica, com a
receitas (negritamos). finalidade de fixar critériopara a determinação, em cada obriga-
ção tributária concreta, do quantum debeatur'. Evidentemente,
Segundo o legislador, a base sobre a qual incidem as contribui- deve ser apontada na Lei, já que também ela está submetida ao
ções é a "totalidade das receitas auferidas", ou seja, tudo aquilo regime da reserva legal.
que constitui receita da pessoa jurídica, sendo irrelevante, inclusi- Para total garantia do contribuinte de que está sendo tributado
ve, a "classificação contábil adotada". nos termos da Constituição, exige-se uma correlação lógica en-
Partindo desse fundamento, recorramos à metodologia cientí- tre a base de cálculo e a hipótese de incidência do tributo. Por
fica lecionada por PAULODEBARROSCARVALHO para definição do quê? Porque a base de cálculoé índice seguro para a identificação
aspecto material ("fato gerador") das contribuições: do aspecto material da hipótese de incidência, que confirma,
afirma ou infirma (caso em que o tributo torna-se incobrável, por
o critério material da hipótese tributária pode bem ser chamado de
uúcleo, pois é o dado ceutral que o legislador passa a condicioltar,
6 "Teoria da Norma Tributária", 3' ed., São Paulo, Max Umonad, 1998, p. 124/126.
quando faz menção aos demais critérios... 7 "ICMS", 3' ed., São Paulo, Malheiros, 1997, p. 57.
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(illt(/ de coerência i1'lterna na 11OnJI~ jurídica' qlk p illstituiu) ~eria esse registro contábil o momento adequado a ensejar a
(11 eg ritil 111os) . incidência das contribuições? Entendemos que não, pclas razões
abaixo perfiladas.
Em resumo, se a própria Lei n° 9.718/98 define a base de cálcu-
lo das contribuições ao PIS e COFINS como sendo "a totalidade
das receitas auferidas", o aspecto material, confirmado por esta 2. CONSIDERAÇÕES SOBRE O PRINCíPIO CONT ÁBIL DA
base de cálculo, é o comportamento de "auferir receita". COMPETÊNCIA
Segundo a lição dos mais abalizados léxicos da língua portu-
.
guesa, o verbo auferir tem por significado: Nos termos da Resolução CFC n° 1\50, de 29 de dezembro de
1993, norma de dispõe sobre os princípios fundamentais de conta-
"auferir. (...) Colher; obter; ter, tirar: Fez a transação, auferindo bilidade, verbis:
boa quantia; Auferiu lucros de seu capital [Irreg. Conjug.: v. ade-
rir. Cf aferir.rs Art. 9° As receitas e as despesas devem ser incluídas na apuração
do resultado do período em que ocorrerem, sempre simultanea-
"Auferir. (...) Transitivo-relativo- Tirar, receber, colher (.. .)."9 mente quando se correlacionarem, independentemente de recebi-
'E
,;'<' mento ou pagamento.
.;~; I~.I~
"AUFERlR Sino Colher, Lucrar, obter, receber, perceber, conse-
guir,sacar,tirar:Auferirresultados,vantagens."10 .~ Conforme se depreende da redação do enunciado acima, o
princípio da competência visa a conjugar o reconhecimento das
"Auferir receita", portanto, significa receber ou obter receita. receitas às despesas incorridas para sua geração, num mesmo perí-
Receber receita é o comportamento eleito pelo legislador a ensejar odo, para fins de apuração do "resultado do período".
~;
a incidência das contribuições ao PIS e COFINS. 'I'.'~ No já consagrado "Manual de Contabilidade das Sociedades
Qual, entretanto, o momento em que se considera recebida a .... '.!I
.
por Ações "Aplicável às Demais Sociedades", os autores esclare-
'w:t... :1
receita? Ou, em outras palavras, qual o aspecto temporal da hipó- ceml1:
~~'
tese de incidência dessas contribuições? li!
1IÍ'1
Conforme já dito anteriormente, a praxe utilizada pelas em- A Competência é o Princípio que eSlabelece qUillzdo um determinado
presas mediante o registro contábil das receitas à luz do princípio compol/e/lte deixa de il/tegrar o patrimônio, para trilllsformar-se em
da competência tem acarretado o pagamento das contribuições elemeltto modificador do Patrimônio Liquido. Da confrontação eI1tre
sobre receitas efetivamente não recebidas pela pessoa jurídica. o valor final dos aumentos do Patrimônio Líquido - usualmente deno-
minados 'receitas' - e das suas diminuições - normalmente chamadas
'.' de 'despesas' -, emerge o cOllceitode 'resultado do período'; positivo,

8 Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, "Novo Dicionário da lingua Portuguesa",


2" ed., 44" impressão, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1986, p. 199, negritamos.
9 Francisco Fernandes, "Dicionário de Verbos e Regimes", 43' ed., São Paulo, Glo- 11 FIPECAFI [Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras,
bo, 1999, p. 111, negritamos. FEA (USP)], Sérgio de ludícibus (diretor responsável), Eliseu Martins (coordena-
10 Francisco Fernandes e Celso Pedro Luft, "Dicionário de Sinônimos e Antônimos dor técnico) e Ernesto Rubens Gelbcke (supervisor de equipe de trabalho), 5" ed.,
da Língua Portuguesa", 37" ed., São Paulo, Globo, 1998, p. 129, negritamos. São Paulo, Atlas, 2000, p. 76.

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F/:-:'- UJFlNS Alexandre de M. Wlald,Alextllldre Naoh Nisl1ioka e AI/ali Moraes

.
- se I/S r~ceitas forem
\
mai~es do que as de$"esas; ou lI~ga7iWJ, qUI/lido 3. ASPECTOTEMPORAL
- LIMITES
À SUA DETERMINAÇÃO
ocorrer o colltrário.
Mas não é possível entender que o legislador, no exercício de
Observa-se que o Princípio da Competência /tão está relacio/tado sua competência, fixou como aspecto temporal da hipótese de in-
(0/11recebimentos ou pagame1ttos, mas (0111o reconhecimellto das cidência das contribuições o momento em que a receita é registra-
receitas geradas e das despesas incorridas 1tOperíodo (negritamos). da contabilmente?
De fato, a norma inserida no artigo 20 da Medida Provisória nO
Em outras palavras, para fins de avaliação da mutação do 2.158, de 24 de agosto de 2001, dispõe: ,
...\
patrimônio, as receitas têm de ser registradas no mesmo período
em que os respectivos custos incorridos possam ser apurados. Art. 20. As pessoas jurídícas submetidas ao regime de tributação com
Assim, quando o tributo tiver por base grandeza cuja aferição base 110lucro presumido somente poderão adotar o regime de caixa, para
levar em consideração o resultado do confronto entre receitas e fins da incidência da contribuiçãopara o PlS/PASEP e COFINS, na hipó-
despesas, a aplicação do princípio da competência é corolário ló- tese de adotar o mesmo critério em relação ao imposto de renda das
gico desse confronto. pessoas jurídicas e da CSU.
Daí porque a legislação que trata do Imposto sobre a Renda
das Pessoas Jurídicas - IRPJ ou da Contribuição Social sobre o Lu- Em se tratando de regra de exceção, poderíamos entender que
..~
cro líquido - CSLL adota o referido princípio como parâmetro para o legislador elegeu o princípio da competência como determinante
cálculo da mutação patrimonial (resultado), alicerce da apuração do aspecto temporal da hipótese de incidência das contribuições
., desses tributos. (interpretação a contrário senso).
Ademais, no caso do IRPJ, o mero direito de receber determi- Essa assertiva, entretanto, carece de fundamento, eis que o
nada quantia é suficiente para que ocorra a "disponibilidade jurí- aspecto temporal, assim como os demais aspectos da hipótese de
dica de renda", tal como previsto no art. 43 do CTN. incidência, hão de estar em consonância com o aspecto material.
Tal não ocorre no caso do PIS e da COFINS. Essas contribui- Note-se que apesar deo critério de validação constitucional
ções não incidem sobre a disponibilidade jurídica de receita, mas das contribuições estar atrelado imediatamente à finalidade para
sobre a receita auferida pela pessoa jurídica. a qual foram instituídas, isso não exclui a necessária ausência de
Por estas razões, entendemos que o princípio da competência contradição entre os aspectos da hipótese de incidência como cri-
não pode servir de parâmetro à fixação do aspecto temporal da tério de validação da exação no plano infraconstitucional.
hipótese de incidência dessas contribuições. Segundo o magistério de MARco AURÉLIoGRECOt2,verbis:
Do contrário, o aspecto material da hipótese de incidência se-
ria registrar ou lançar contabilmente um direito à percepção de Quando adota o modelo obrigacional, o legislador tem necessida-
receita e não o efetivo recebimento de receita. A cobrança nesses de de definir em que circunstâncias irá nascer aquela obrigação,
moldes, por certo, contradiz o aspecto material escolhido pelo le- quais os eventosque irão determinarseu surgimento.Neste mo-
gislador, eivando de ilegalidade a cobrança. mento, utiliza-se da descriçãode certos fatos que serão verdadei-
ros 'fatos geradores' da contribuição, assim como pode indicar

12 "Contribuições (Uma Figura'Sui Generis')", São Paulo, Dialética,2000, p. 146.

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Illc.",l1Idre til' /\tI. \'(/,11,1,AlexiII7i!re !\,Iob Nishioka e AI/ali A10mes

. dCle"mill{ufos critérios.tfe dill/clIsiollalll~IIIO, qllc ílSS~lI/irlio II t;.i- São, cujo fato gerador deva ocorrer posteriormente, assegurada a
(lia de reslJeàivas bases de cálwlo. . .. imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso não se
011 seja, /10 pIa/Ia da lei il/fracollstítuâoltal, as col/tribllições tall/- realize o fato gerador presumido.
bém poderão ter fato gerador e base de cálcl/lo defiltidos, tal COl/10
ocorre em outras leis iltstituidoras de exações peClllliárins. Neste Ora, não se pode utilizar a norma constitucional acima para
caso, FC e BC furtciortarão como tal, estartdo as COrt- ~. validar a cobrança das contribuições sobre receitas ainda não
tribuições (e respectivas leis irtstituidoras) sujeitas à auferidas pela pessoa jurídica, já que o legislador não adotou de
verificação dos critérios de compatibilidade e rtão COrt- forma expressa a opção oferecida pelo constituinte.
tradição, que são verificáveis em outras figuras como Tal opção haveria de ser expreSSa,.)ilssegurando-se, ademais, a
os impostos (negrittI/110s). restituição da quantia paga caso o fato gerador não se realizasse.

Pois bem.
Conforme já mencionamos anteriormente, o aspecto material 4. FATURAMENTO E RECEITA DISTINÇÃO E
da hipótese de incidência é o núcleo ao qual os demais aspectos CONSEQÜÊNCIAS
estão condicionados.
Assim, se o aspecto material das contribuições é "auferir recei- Importante mencionar que antes do advento da Lei nO 9.718/
ta", o aspecto temporal irá determinar em que momento deve ser 98, as contribuições em análise eram cobradas com base no
considerada auferida a receita. "faturamento" .
Por óbvio, o momento a ser escolhido pelo legislador há de No caso da contribuição ao PIS, a Lei n° 9.715/9813 assim defi-
ser concomitante ou posterior à ocorrência do evento descrito nia a base de cálculo:
na norma. Dito de outra forma, só é possível considerar auferida
a receita no momento do seu efetivo recebimento pela pessoa Artigo 2°. A contribuiçãopara o PIS/PASEP será apurada mensalmeltte:
,
jurídica, ou num momento posterior qualquer, a critério do le- I - pelas pessoas juridicas de direito privado e as que Ihes são equipara- I,.
gislador.
O legislador só não pode escolher como aspecto temporal da
'f0'
I,
das pela legislação do imposto de rei/da, inclusive as empresas públicas e
as sociedades de economia mista e suas subsidiárias, com base no
i
hipótese de incidência momento anterior à ocorrência do evento faturamertto do mês (negritamos).
r
descrito abstratamente na norma tributária, pois, se o fizer, estará I
instituindo tributo sobre "fato gerador" presumido, que ainda não A Lei Complementar n° 70/91,.por sua vez, ao instituir a co- 'I
ocorreu. brança da COFINS, definiu: .1'

Esta prática, vedada expressamente em face do primado da


.'
tipicidade tributária, somente encontra exceção na hipótese ver- Artigo 2°. A contribuição de que trata o artigo al/terior será de dois por
sada pelo artigo 150, § 7° da CF/88, qual seja: cento e incidirá sobre o faturamento mensal, assim consideradoa
receita bruta das vendas de mercadorias, de mercadorias e serviços e de
Art. 150. (...) serviço de qualquer.natureza.
§7°. A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a
condição de responsável pelo pagamento de imposto ou contribui- 13 Resultante de conversão da MP 1.212/95.

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. PIS - COFINS
, . .. Alexandre de M. \f1ald, Alexandre Naoki Nisl1ioka e Allfl/l /11oraes

A utilização de base de cálculo diversa da adotada pela Lei qlle tais expressões têm dwtro do Direito Tributário o mesmo sig-
9.718/98 ("totalidade das receitas auferidas") pode implicar dife- nificado que possuem no outro ramo do direito, onde original-
rente aspecto material e, por consegu~nte, em diferentes limites mente entraram no mundo jurídico. Lá, por ocasião de sua entrada
para definição do aspecto temporal? 110mundo jurídico, é que houve uma deformação ou transfiguração
A resposta a esta indagação dependerá do entendimento do de uma realidade pré-jurídica (exemplo: conceito de Economia
intérprete em relação ao aspecto material que deve ser considera- Po/íticai instituto da Ciê,!cia das Finanças Públicas).
do à luz da definição de "faturamento". Recomenda Luigi Vittorio Berliri o abandono, de uma vez para sem-
Assim, iniciemos Ji'ela definição de "faturamento", aproveitan- pre, do arbitrário expediente de at1!ibuir ao legislador tributário
do para distingui-Io do conceito de "totalidade das receitas (como se fosse um outro legislado;"~ ainda por cúmulo, ignorante
auferidas" . de direito) lima lillguagem sua própria que atribuiria à palavra ou
O conceito de "faturamento" deve ser' buscado por ocasião de expressão que tem um bem preciso e conhecido significado jurídi-
sua inserção no sistema normativo, momento no qual o legislador, co, um esquisito significado novo de Direito Tributário.
.'
tomando como base um conceito advindo das ciências sociais pré-
jurídicas, utilizou-o como matéria-prima na elaboração de uma Em resumo: as regras jurídicas que geram as relações jurídicas
norma jurídica. b
tributárias são regras jurídicas orga1ticamenteenquadradas num
Sobre o assunto, ALFREDOAUGUSTO BECKER14esclarece, verbis: . único sistema que constitui o ordenamento jurídico emanado de
um Estado. Desta homogeneidade sistemática (homogeneidade
Não existe um legislador tributário distinto e contraponível a um essencial para o funcionamento de qualquer organismo e, portan-
legislador civil ou comercial. Os vários ramos do direito não cons- to, essencial para a certeza do direito que deve derivar do orga-
tituem compartime1ttos estanques, mas são partes de um único nismo jurídico), decorre a conseqüência de que a regra de Direito
sistema jurídico, de modo que qualquer regra jurídica exprimirá Tributário ao fazer referênciaa conceitoou instituto de outro ramo
sempre uma única regra (conceito ou categoria ou instituto jurí- de direito, assim o faz, aceitando o mesmo significadojurídico que
dico) válida para a totalidade daquele único sistema jurídico... emergiu daquela expressão (fórmula ou linguagem literal
(... ) legislativa), quando ela entrou para o mundo jurídico na-
Da fenomenologia jurídica acima i1tdicada decorre o seguinte: uma quele outro ramo do direito.
definição, qualquer que seja a lei que a tenha enu1tciado, deve valer
para todo o direitoi salvo se o legislador expressamente limitou, es- Pois bem.
tendeu ou alterou aquela definição ou excluiu sua aplicação num O termo "faturamento" era utilizado na prática comercial para
determi'1ado setor do direitoi mas para que tal alteração ou limita- definir as receitas advindas das vendas de mercadorias e/ou pres-
ção ou exclusão aconteça é indispensável a existência de regra jurí- tações de serviços.
dica que tenha discipli1tado tal limitação, extensão, alteração ou Na definição da "Enciclopédia Saraiva do Direito"15:
exclusão. Portanto, quando o legislador tributário fala de venda, de
mútuo, de empreitada, de locação, de sociedade, de comunhão, e "Fatura é, em direito mercantil, o documento relati-
incorporação, de comerciante, de empréstimo, etc., deve-se aceitar vo à venda de mercadorias, pelo qual o vendedor faz

14 "Teoria Geral do Direito Tributário", 3' ed., São Paulo,Lejus, 1998, p. 122/126. 15 São Paulo, Saraiva, 1979, v. 36, p. 375/376.

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l'IS - (.< }J-INS AJcxrwdrc de ,1/ \l{fflJd,Alexal/dre Naoh Nishioka e Allal/ /\lortles

'Conhecer, ao coMprador a lista' das metcada.rias vendidas, acividades mercantis - vendas de mercadorias e/ou prestações de
discriminando-as por quantidade, qualidade, espécie, tipo serviços.
e outras características, o preço das mesmas e as condições Assim, somente podemos entender como "faturamento", em
de entrega e pagamento. A emissão de fatura nas vendas é sua concepção jurídica, a receita proveniente da venda de bens e/
obrigatória, nos termos da Lei n° 5.474 de 18-7-1968, mas é ou prestação de serviços.
facultativa a emissão da duplicata" (grifamos). Observa-se que o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o Re-
c.urso Extraordinário n° 150:755-1/PE, relativo ao FINSOCIAL das
GERALDOATALIBAe CLÉBERGIARDINOI6,ao estudar a base de cálcu- empresas prestadoras de serviço, finp.ou entendimento de que a
lo da contribuição .
ao PIS, ponderaram, verbis: utilização de "receita bruta" como ba~e de cálculo de uma contri-
buição sobre o IIfaturamento" somente seria válida se se entendes-
Na verdade, 'faturame1t10' é ato ou efeito de 'faturar', ou, como se tal conceito nos limites definidos pelo Decreto-Lei nO 2.397/87,
ensÍlta Plácido e Silva 'ato de se proceder à extração ou forma- ou seja, como "a receita bruta das vendas das mercadorias e de
ção de fatura' (Vocabuláriojurídico, vol. n
Rio-S. Paulo, Fo- mercadorias e serviços de qualquer natureza."
rense, p. 682). Na téwica jurídico-comercial esta palavra é Do voto do Relator Min. Sepúlveda Pertence destacamos, verbis:
empregada 'para indicar a relação de mercadorias ou
artigos vendidos, com os respectivos preços de venda, ... 42. Resta, nesse ponto, o argumel1to de maior peso, extraído do
quantidade e demonstração acerca de sua qualidade e espécie, teor do art. 28 analisado: 11ãose cuidaria nele de contribuição
extraída pelo vendedor e remetida por ele ao comprador' (ob. -,r incidente sobre o faturamento - hipótese em que, por força do
eit., p. 681)... . art. 195, 1, se entendeu bastante a instituí-Ia a lei ordinária -,
mas, literalmente, de contribuição sobre a receita bruta, coisa
A praxe consagrou a adoção da expressão 'faturamento' para diversa, que, por isso, só poderia legitimar-se com base no art.
indicar a soma de diversas faturas, por critériode cliente ou pra- 195, § 4°, CF, o qual, para a criação de outras fontes de finan-
zo, ou tipo de mercadorias vendidas, etc. (negritamos). ciamento da seguridade social, determinou a observância do art.
154, 1, e, portanto, da exigência de lei complementar no último
Muito antes, aliás, da promulgação da CF/88 ou da instituição contida. 17
das contribuições relativas ao PIS e à COFINS, o vocábulo fatura já
havia sido inserido no ordenamento jurídico nacional nos artigos Muito embora deixando clara a distinção existente entre os
200, item 3, e 219 do Código Comercial (Lei nO556, de 25 de junho conceitos de IIfaturamento" e "receita bruta", entendeu o mencio-
de 1850), em ambos os casos para regular atividades mercantis (ven- nado Ministro pela constitucionalidade da base de cálculo defini-
da de mercadorias). da para o FINSOCIAL ("receita bruta"), pois a mesma se atinha aos
É de se concluir, portanto, que o conceito jurídico de "imites do conceito de "faturamento", concluindo:
"faturamento", assim entendido como a soma das faturas emitidas
num determinado período de tempo, refere-se exclusivamente a 54. Por tudo isso, não vejo inconstitucionalidade no art. 28 da
Lei 7.738/89, a cuja validade e11tendorestringir-se o tema des-
16 "PIS- Exclusão do ICM de sua Base de Cálculo", Revista de Direito Tributário,
vaI. 35, p. 152. 17 RTJ n.o 149, p. 276.

656 657
PioS- COFlNS
AlcxlI/ldre de IH. \Ilald, Alex{l/Idre Naob Nisltioka e AI/ali Momô
..
· 'l ..
te recurso exi'raordi"ário, desde qüe nele a 'recMta bru- Qbserve-se que, ao advento da Lei 9.718/98, o STF já tinha esta-
ta', base de cálculo da contribuição, se entenda refe- belecidoo alcatlce da expressão FATURAMENTO como SÍllÔlli-
rida aos parâmetros de sua definição no Dec.-Lei 1110
de RECEITA BR UTA mas receitabruta 110collceitoestabelecido
2.397/87, de modo a conformá-Ia à noção de no DL 2.397/87, art. 22, 'a', para efeito da base de cálculo do
faturamento das empresas prestadoras de serviços PIS e COfi11S,ou seja, receita bruta das vettdas de mercadorias e
(negritamos).18 de mercadorias e serviços de qualquer natureza. Em outras pala-
..vras,só seria válido falar em receitacomosillônimo de fatural11ento,
.
Justificando seu voto, o mesmo ministro completou: sendo este o resultado operacional da empresa.
(...) .,\
... lncidiria essa regra - que não precisaria estar no CTN, Assim foi que a comunidade jurídica, inclusive esta Corte, abra-
porque é elementar à própria aplicação da Constituição - çou a idéia de que FATURAMENTO é igual a RECEITA BRUTA,
se a lei dissesse: faturamento é igual a receita bruta. O que como sendo esta o resultado da venda de bens e serviços. Entre-
tentei mostrar no meu voto, a partir do Decreto -Lei n° 2.397, é tanto, não se pode falar que as expressões sejam a mesma coisa
que a lei tributária, ao contrário,para o efeito do FlNSOCIAL, de TOTALIDADE DAS RECEITAS AUFERIDAS, independen-
chamou receita bruta o que é faturamento. E, a~ ela se ajusta à temente da classificação contábil.
Constituição. (.. .)
Em verdade, a Lei 9.718/98 buscou tributar outras receitasalém
Há um consenso: faturamento é menos que receita bruta. 19 daquelas representativas da atividade operacional da empresa,
criando novo conceito para o termo (...J20
No mesmo sentido é a lição da Ministra Eliana Calmon, no
julgamento do REsp. n.a 524.001, pela 2a Turma do STJ (DJ de Pois bem.
25.02.04), sobre a distinção entre os conceitos de "faturamento" e Definido o conceito de "faturamento" ("receita bruta", nos ter-
"totalidade das receitas auferidas": mos do DL nO2.397/87) e sua distinção em relação à receita ("totali-
dade das receitas auferidas", nos termos da Lei nO9.718/98), vejamos
A Lei 9.718/98, por seu turno, ao referir-se, no art. 3°, à ex- qual seria o aspecto material medido por esta base de cálculo.
pressão FATURAMENTO, além de afirmar que este Se, conforme já verificamos, o "faturamento" consistia no
correspondia ao conceito de RECEITA BRUTA explicou, no somatório das receitas de vendas de mercadorias e/ou prestações
§ 1°, que RECEITA BRUTA é a totalidade das receitas de serviços, o aspecto material quantificado por esta base de cál-
auferidas pelas pessoas jurídicas, sendo irrelevante o tipo de culo há de ser a realização das operações de venda de mercado-
atividade por ela exercida ou a classificação contábil das re- rias ou das prestações de serviços que originam tais receitas.
ceitas. .picácia que lhes era peculiar,
Nesse sentido, GERAlDOATAUBAe CLEBERGIARDIN021,com a pers-
lecionaram que:

18 RlJ n° 149, p. 280. 20 SlJ, 2' Tunna, REsp. 524.001, Relatora Ministra Eliana Calmon, DJ de 25.02.2004.
19 RlJ nO149, p. 287. 21 Obra citada, p. 156.

658 659
" , . PIS - COFI"l.5 . ..
.
Ale.wllldrc de AI, \'(Iald, Alexandre NllOki Nisltiokt11' AI/m/ Jlloraes

Assim, para "aver 'faturamellto', é illdispensável que se tenham Como se sabe o fato gerador 0/1 a hipótese de incidência triblltária
realizado operações mercalltis, ou vendido produtos, ou prestado sempre se consllbstmtcia numa locução verbal, C01l10,v.g., auferir
serviços, ou realizado operações similares. Sobre tais opera- renda (/R), prestar serviços (/55), ser proprietário (/PTU), jamais
ções é que, no caso, recairá a incidência. Estas, teori-. ItU/lt substantivo como renda, serviço, propriedade. No caso pre-
camente, as ",ateria/idades das l,ipóteses de incidência sente é, pois, realizar operações mercantis e não o
cu;a quantificação pode expressar-se no faturamento '. faturamento (...) (negritamos)
(negritamos). .
Fixemos a premissa segundo a qual.'-0aspecto material do PIS e
!
Em outra oportunidade, os mesmos autores, analisando o as- ,
da COFINS, sob a égide da legislação anterior (que definia a base
pecto material do PIS especificamente na venda de combustíveis, í de cálculo como sendo o "faturamento"), seria realizar operações
ponderaramZ2: mercantis ou prestar serviços.
f: Vejamos, então, se o lançamento contábil da receita segundo'
A hipótese de incidência do P/5, no caso vertente, é claramente o princípio da competência serviria de aspecto temporal à hipóte-
"I
realizar operações mercantis ou, singelamente, vender gasolina e ,'JI se de incidência das contribuições incidentes sobre operações mer-
lubrificantes. b. i cantis e prestações de serviços.
De outra parte, é a melhor doutrina (pontificando Becker) que sen- Parece-nos, sem dúvida, q1,1esim, com arrimo na própria redação
tencia: o aspecto material de um tributo há de ser confirmado pela do princípio contábil da competência (Resolução CFC 750/93), verbis:
I

sua base imponível. Melhor dito, é pela base imponível que se de- r-
i!
tecta, juridicamente, qual o verdadeiro aspecto material da hipótese ,
Ar!. 90.(...)
de incidência. E se este é o ceme da h.i., traduz-se a hipótese nesse § 30.As receitas consideram-se realizadas:
ir
;
ceme, aperfeiçoado pelos demais aspectos (temporal, espacial, pes- "," I - nas transações com terceiros, quando estes efetuarem o paga-
soal). Logo, é ilfexorável a conclusão: sempre que um tributo tenha .1
melfto ou assumirem compromisso firme de efetivá-Ia, quer pela
por base imponível o faturamento (valor global das operações num investidura na propriedade de bens anteriormente pertencentes à
.d
dado período), sua hipótese de incidência será o realizar essas mes- ;J ENTIDADE, quer pela (ruição de serviços por esta prestados.
Iltas atividades (1, 2, 3 etc.).
As incidências do P/5, constantes da ora estudada letra b, têm Ou seja, segundo o prinápio da competência, as receitas são lançadas
por base imponível o faturamento. Logo, é um tributo cuja h.i. é a no mesmo período em que a venda é consumada, pela tradição, ou quando
situação determinante desse (aturamento. o serviço é efetivamente prestado, ou, por óbvio, quando pago o preço.
Mesmo que não tenha sido pago o preço, contudo, haveria,
Aglutinando todos esses conceitos, AROLDOGOMES DE MAnos23 mesmo assim, o lançamento contábil da receita, representativo da
conclui: operação realizada, fato gerador das contribuições cuja base de
cálculo é o "faturamento7l.
Por outro lado, parece-nos também perfeitamente cabível a
interpretação segundo a qual o aspecto material das contribuições
22 Geraldo Ataliba e Cléber Giardino, "PIS e o Imposto Único sobre Lubrificantes" in
Diário do Comércio & Indústria, São Paulo, edição de 14.04.83. ao PIS e COFINS, mesmo antes da edição da Lei n° 9.718/98, já era
23 "A Semestralidade do PIS", Revista Dialética de Direito Tributário n° 34, p. 13. definido pela expressão "auferir receita".
{~.

660 661
PIS - COFINS AlexalIlfre de M. \Vald, Alexal1dre Nnoki Nisltioka e Allan Momes
, . '4 .
Isto porque o "faturamento", apesar de definir uma receita Ifssim se posiciona a jurisprudência (v.g. REO n. o 89.04.10566-
qualificada pelas operações que lhe dão origem, não deixa de de- 8, DjU 05.02. 92, p. 1.496; AMS n.o89.01.16773, DjU 20.08.90,
finir uma receita, ou seja, um ingresso de valor no patrimônio do p. 18.226), da qual se extrai a seguir trechodo voto proferido pelo
contribuinte.
juizjosé Morschbacher na AC 11.089.04.17450-3, julgada em
O ato de faturar (direito comercial), nesse contexto, seria 06.12.90:
irrelevante para definição do aspecto material. Do contrário, as 'No que pertine às vendas canceladas e aos descontos incondicio-
vendas à vista, sem emissão de fatura, não seriam tributadas. ..nais basta a referência, antes feita, de /lão se constituírem em re-
O que estamos querendo refletir é que, mesmo na legislação ceita. E, o que não é receita, com rigortécllicojurídico não pode ser
pretérita, o fato econôp1ico sobre o qual recaía a tributação era, considerado nem receita bruta nem recelt~ líquida. São valores,
em última análise, o ingresso de receita (ltauferir receita"). aliás, que nunca ingressaram no patrimônio da em-
Essa visão é compartilhada pelo Professor OCTAVIOCAMPOS presa, o que seria, aliás, razão suficiente para que a
FISCHER24, que, em excelente monografia sobre a contribuição ao empresa não contribuísse com o que nunca foi dela'.25
PIS, demonstrou que: (negritamos)

(...) o 'critériomaterial' da Contribuiçãoao PIS, não sendo realizar No mesmo sentido já julgaram os Tribunais Regionais Fede-
operaçõescom mercadoriasdou prestar serviços,pode caracterizar- rais, conforme se observa das ementas abaixo reproduzidas:
se como sendo: obter faturamento (receita) com venda de mer-
cadorias e prestações de serviços (verbo + complemento). TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO DESTINADAAO PROGRAMADE
E, por mais paradoxal que possa parecer, a 'obtenção de INTEGRAÇÃOSOCIAL.
faturamento' (receita), enquanto fato jurídico tributário da Con-
tribuição ao PIS e não se circunscrevendo apenas às situações As vendas canceladas não constituem receita, ou entrada de di-
envolvendo o documento 'fatura', decorreria, a princípio, desde nheiro, ou valor, para a empresa, devendo, assim, serem excluídas
um prisma econômico, de operações com bens/mercadorias dou da base de cálculo do PIS.26
prestações de serviços, sem que, todavia, com elas se confunda
.ir
perante o direito.
PROCESSOCIVIL.FINSOCIAL.BASEDE CÁLCULO.VENDASCAN-
Não por outro motivo, assim já decidiu o E. STJ em relação às CELADAS,DESCONTOSINCONDICIONAISEDEVOLUÇÕES.INTE-
vendas canceladas, verbis: LIGt.NCIADO ARTIGO 22, DO DECRETO-LEIN.2397/87.

Aliás, as vendas canceladas, as devolvidas e os descontos in- o montante relativo às vendas, descontos incondicionais e devoluções, não
condicionais constituem receita apenas para efeitos contábeis, deve compor a base de cálculo do FINSOCIAL, visto que não
sendo os valores a eles correspondentes, na realidade dos fatos,
valores que não foram recebidos e que, portanto, não podem ca-
I'
racterizar receita. 25 STJ, 1"Turma, REsp. 165.221, Relator Ministro José Delgado, DJ de 03.08.1998.
Em sentido idêntico, REsp. 191.652, DJ de 03.05.1999, do mesmo relator.
.
.~.
26 TRF I" Região, 4" Turma, AC n° 1991.01.134280, ReI. Juiz Leite Soares, j.
24 "AContribuição ao PIS", São Paulo, Dialética, 1999, p. 137. 11.11.1992, DJ 26/11/1992, p. 39601, negritamos.

!
i
í 662 663
~

.
I~.
PIS - COF/NS
Alexal/dre de M. Wald, Alexandre Naoki Nishioka e Allall Moraes

c~rresp01t(!e a qlUflquer acréscimo'patri"'01~ia! ;"empresa (art. 22, 1.. Faturamento é a soma das vendas de mercadorias e de serviços, vale
do Decreto-lei 11.2397/87). li ,. dizer, corresponde ao valor efetivamente recebido pelas empresas.

2 - Exclusão das vendas canceladas e dos descontos incondicionais da


TRIBUTÁRlO. FINSOCIAL. BASE DE CÁlCULO. VENDAS CANCE- base de cálculo da contribuição ao FINSOCIAL, pois não representam
LADAS E ICMS.
qualquer acréscimo patrimoniaI à impetrante. Inteligência do- artigo
p, de Decreto-lei 2397/87.
o montante relativo às vendas canceladas não deve integrar a base
de cálculo do FINSOClAL, tendo em vista que não representa qual- 3 - Precedentes: AMS N. 89.01.167731 AM, REi. JUIZ TOURlNHO NETO ,
quer acréscimo pafrÍmonial à empresa. Precedentes.(..ys 3T, DO TRF/1 REGIÃO,J.06.08.90, V.U.,DJ DE 20.08.90, P. 18226,AC.
N. 90.03.28411/SP,REi. JUIZ OLIVEIRALIMA,4T, DOTRF/3REGIÃO,
J.28.08.91, M.Y.,DOE/SP DE 09.03.92, P.200, REO N. 89.04.10566/PR,
TRIBUTÁRIO, REPETIÇÃO DE INDÉBITO, EXCLUSÃO DAS VENDAS REi. JUIZ FABIOB. ROSA, 3T, DO TRF/4 REGIÃO,J. 07.11.91, V.U.,
CANCELADAS, DEVOLUÇÃO DE MERCADORlAS, ABATIMENTOS DJ DE 05.02.92, P. 1496, AMS N. 90.04.07020/SC, REi. JUIZ GILSON
E DESCONTOS INCONDICIONAIS DA BASE DE CÁLCULO DO PIS, LANGARO DIPP, 3TR, DO TRF/4 REGIÃO,J. 26.02.91, M.V., DJ DE
CORREÇÃO MONET ÁRlA, íNDICES EXPURGADOS. 10.04.91, p. 6931.

1 - Na base de cálculo do PIS exclui-se o valor das vendas canceladas 4 - Remessa oficial desprovida, sentença confirmada. 30
por devolução, abatimentos e descontos incondicionais.

2 -Do faturamento deve ser excluído o valor das mercadorias rece- EMBARGOS INFRlNGENTES. DECLARAÇÃO DE VALORES RECOLHI-
bidas em devolução definitiva, pois não correspondem a entrada ou DOS A TITuLO DE PIS E FINSOCIAL SOBRE BASEDE CÁlCULO QUE
receita da empresa. (..Y9 CONSIDEROUVENDAS CANCELADAS OU QUE NÃO CHEGARAM
A SER CONCRETIZADAS.

TRIBUTÁRIO, MANDADO DE SEGURANÇA, FINSOCIAL, BASE DE t. A venda cancelada constitui receita apenas para efeito contábil.
CÁlCULO, VENDAS CANCELADAS E DESCONTOS INCONDICIO- O tributo, porém, é exigência que recai sobre fatos reais da vida. E
NAIS, DECRETO-LEIN.o2397/87, ART. 22. o que não se recebe, por óbvio, não caracteriza receita.

2. Precedentes desta Corte.

27 TRF 3" Região, 3" Turma, AC n° 90.03.0358958/SP, ReI. Juíza Annamaria Pimentel,
j. 01/10/1997, DJ 29/10/1997, p. 91039, negritamos.
28 TRF 3" Região, 3" Turma, REO nO 95.03.0783909/SP, ReI. Juíza Annamaria :
Pimentel, j. 21/05/1997, DJ 15/09/1997, p. 85580, negritamos. .
29 TRF 3" Região, 3" Turma, AC 93.03.0865057/SP, ReI. Juíza Ana Scartezzini, j. 071 TRF 3" Região, 4" Turma, REO n° 94.03.0384743/SP, ReI. Juiza Lúcia Figueiredo,
02/1996, DJ 27/03/1996, p. 19.173, negritamos. j. 14/12/1994, DJ 25/04/1995, p. 23771, negritamos.

664 665
PIS - COFlNS Alcxtl//{lre tle !I J, Hllld, Alexal1i1rc Naokl N/sllloka e AI/aI/ Momes

~
..
.. regras do artigo 150, § 70, da CF/88, opção esta que não foi assumi-
3. Embargos infringettes improvido5.~
da de forma expressa pelo legislador.
Dito de outra forma, com a edição da Lei na 9.718/98, definin-
TRlBUT ARIO. PISoBASE DE CÁLCULO. VENDAS CANCELADAS. do expressamente o aspecto material como sendo "auferir recei-
ta", o reconhecimento das receitas mediante o princípio contábil
da competência deixou de ser aplicável para fins de incidência das
Por não apresentarem efetivo ingresso de receita, as vendas cance-
contribuições ao PIS e COFINS.
ladas não constituem faturamento, para fins de cálculo da contribuição
" A legislação vigente, aliás, determina expressamente que tan-
para o PISoSentença mantida.32
Em face dessas alegações, podemos afirmar que: to o tipo de atividade exercida (oper~ções), como a classificação
contábil adotada, deixaram de ser importantes para a definição do
aspecto material das contribuições.
_ a utilização do lançamento contábil da receita segundo o princípio
É a redação da Lei n° 9.718/98:
da competência seria perfeitamente válida enquanto aspecto tempo-
ral de hipótese de incidência cujo aspecto material é realizar opera-
' Art. 3°. (...)
~h íI;
ções, independentemente
de receita);
da ocorrência ou não do pagamento (ingresso it.
.

1,I
~ ;'!
,~ ..,
.
§ 1°.fI/tende-se por receita bruta a totalidade das receitasauferidas pela
pessoa jurídica, sendo irrelevantes o tipo de atividade por ela
'.él!
exerdda e a cIassificaçiíocontábiladotada para as receitas.(negritamos)
_ por outro lado, se entendermos que, mesmo antes do advento da .,10;!i'..,
I~'' ,
Lei na 9.718/98, O aspecto material já era definido pela expressão 1\:
lIauferir receita", então, já àquela época, a utilização de aspecto tem- ;1
Com efeito, na atual conformação das contribuições em análi-
se, o denominado "livro caixa" seria o único registro cabível a re-
poral com supedâneo no princípio contábil da competência era des-
conforme;
velar, com exatidão, o momento de ocorrência do fato geradorl
aspecto material: "auferir receita".
Atualmente, a utilização do princípio da competência como Não estamos, com isso, querendo dizer que as sociedades de-
r verão passar a adotar o regime de caixa em detrimento do regime
aspecto temporal da hipótese de incidência expressamente defini-
da como lIauferir receita" ("receitas auferidas") somente será legíti- (princípio) da competência, para fins de elaboração de suas de-
monstrações financeiras.
ma se o pagamento (ingresso de receita) ocorrer no mesmo período
É preciso distinguir a obrigatoriedade de escrituração contábil
em que se der o lançamento contábil.
Caso contrário, a utilização desse aspecto temporal tomará a pelo regime de competência, nos termos do artigo 177 da Lei na
6.404/76 (Lei das Sociedades por Ações)33, da forma de apuração
cobrança ilegal, pois importará em exigência de tributo antes de
ocorrido o fato gerador, hipótese somente permitida segundo as dos tributos, que muitas vezes, por utilizar critérios diversos, exige
" " ,~a elaboração de demonstrativos auxiliares.
';.1
fI!

f1:i
i:jI
31 TRF 4" Região, I" Seção, Embargos Infringentes na Apelação Cível nO, 33 "Art. 177. A escrituração da companhia será mantida em registros permanentes,
,. com obediência aos preceitos da legislação comercial e desta Lei e aos princípios
91.04.030923/PR, ReI. Juiz. Fábio Rosa, j. 02/12/1998, DJ 24/03/1999, p. 545, ,;
FI! de contabilidade geralmente aceitos, devendo observar métodos ou critérios
negritamos. "0':'
!:I! contábeis uniformes no tempo e registrar as mutações patrimoniais segundo o
I,Ii'
!I
32 TRF 4' Região, 2" Turma, AC n° 90.04.259295,
06/05/1993, DJ 23/06/1993,
ReI. Juiz. Teori Albino
p. 24664, negritamos. .
Zavascki, j;J!ii
' f regime de competência."
i;J
" ,

':'
i !I 667
l 666

L
iI
/'/S - COFINS ,\lcx'lIIdre de lH. \'(Ia/d, Alexalldre Nao/Ú Nis/riokfl e AI/ali Momes

~J.)(IÚlfldes vaI' Ações, chegando a ser 111I1a(liga a seu espirito c ij


'I
fi sI/a Íltlellção. (negritamos) I
i
Em suma, nos termos da legislação vigente, enquanto não hou- !I
ver efetivo recebimento de receita pela pessoa jurídica, não há fa- I
lar-se em incidência das contribuições ao PIS e COFINS. i
i
i
A COIttabilidade sempre foi muito il1flueltciada pelos limites e
5. NOTA SOBRE AS CONTRIBUIÇÕES ,COBRADAS NO REGIME
i
critérios fiscais, partiwlarmel1te os da legislação do Imposto de
Rel1da... . DA NÃO-CUMULATIVIDADE ...\

(.. .)
Esse problema, que persiste por muitos anos" teve uma tentativa Urge ressaltar, por fim, que todos os argumentos retro
de solução por meio da Lei das S.A. Essa solução é preconizada expendidos são aplicáveis, sem restrições, às contribuições atual-
pelo art. 177, que determina que a escrituração deve ser feita mente cobradas no regime da não-cumulatividade. .
seguindo-se os preceitos da Lei das Sociedades por Ações e os Isso porque tanto a Lei n° 10.637/02 (em relação ao PIS), como a
Lei nO 10.833/03 (em relação à COFINS), mantiveram a mesma base
"princípios de contabilidade geralmel1te aceitos". Para aten-
der à legislação tributária, ou outras exigências fei- ...,;Itf, de cálculo e, portanto, o mesmo aspecto material das contribuições.
f; í' É o texto das referidas leis:
tas às empresas que determinem critérios contábeis
diferentes dos da Lei das Sociedades por Ações ou
LEI N° 10.637/02 - PIS
dos princípios de contabilidade geralmente aceitos,
devem ser adotados registros auxiliares à parte. "Art. 1" A contribuição para o PIS/Pasep tem como fato gerador o
li!
I
faturamento mensal, assim entendido o total das r~ceitas
Dessa forma, a col1tabilização efetiva e oficial, ficaria intei-
ramente desviltculada da legislação do imposto de renda e auferidas pela pessoa jurídica, independentemente de sua deno-
minação ou classificação contábil.
outras, o que representa, sem dúvida, um avanço considerá-
vel... . § 1" Para efeito do disposto neste artigo, o total das receitas com-
preende a receita bruta da venda de bens e serviços nas operações
(...) não podemos, todavia, deixar de criticar algumas das posi-
em conta própria ou alheia e todas as demais receitas auferidas
ções assumidas pelas autoridades fiscais que, Ita prática, não
pela pessoa jurídica.
têm permitido a adoção desse sistema na extensão que seria ne-
§ 2" A base de cálculo da contribuição para o PIS/Pasep é o valor do
cessária. De fato, diversos pronunciamentos posteriores foram
elaborados de forma a limitar a aplicação desse dispositivo,
emitindo pareceres e decisões que deveriam ser meramente de
...
faturamento, conforme definido no caput" (negritamos).

LEI N° 10.833/03 - COFINS


natureza fiscal, mas que exigem e determinam tratamento contábil
similar, às vezes até em desacordo com os Princípios Fundamen- "Art. 1"A Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social
tais de Contabilidadei e isso contraria o disposto Ita Lei das - COFINS, com a incidência não-cumulativa, tem como fato gera-
dor o faturamento mensal, assim entendido o total das receitas
auferidas pela pessoa jurídica, independentemente de sua deno-
minação ou classificação contábil.
34 Obra citada, p. 25/6.

668 669
1'1:) - LUNNS Alexalldre de M. Wald, Alexatldre Naob Níslzioka e AI/an Moraes

~ ]0 Paraefeito d~disposto neste.a\"tigo, o to'taJ ~a6 receitas com- -e) conseqüentemente, as receitas não auferidas em virtude de
preende a'receita bruta da venda de bens e serviços nas operações inadimplemento devem ser excluídas da totalidade das receitas
em conta própria ou alheia e todas as demais receitas auferidas registradas contabilmente à luz do princípio da competência, para
pela pessoa jurídica. a adequada formação da base de cálculo;
§ 211 A base de cálculo da contribuição é o valor do f) o mesmo entendimento vale para as contribuições cobradas
faturamento, conforme definido no caput" (negritamos). no sistema da não-cumulativi4ade, porquanto as Leis nOS10.637/02
e 10.833/03 mantiveram a mesma base de cálculo e idêntico aspec-
Apesar da sistemática da não-cumulatividade permitir o abati- to material previstos na Lei na 9.718/9~
mento de créditos, isso não afeta em nada o entendimento segun-
do o qual somente as receitas efetivamente recebidas/auferidas
são passíveis de incidência de PIS e COFINS.

CONCLUSÕES

Em face do exposto concluímos:


a) sob a égide da legislação vigente antes do advento da Lei na
9.718/98, tanto a doutrina como a jurisprudência dividiam-se na
interpretação do aspecto material das contribuições, em razão, prin-
cipalmente, da falta de definição normativa expressa;
b) se entendermos que o aspecto material era realizar opera-
ções, então o registro das receitas mediante o princípio contábil da
competência constituiria aspecto temporal compatível com aquele;
1'
c) se, por outro lado, considerarmos que o aspecto material .jl1
t;
era Ilauferir receita", então, mesmo antes da edição da Lei na 9.718/
98, O registro das receitas mediante observância do princípio
contábil da competência, para efeitos de incidência dessas contri-
buições, já era inadequado, eivando a cobrança de ilegalidade,
exceto nas hipóteses em que o registro e o recebimento se davam
no mesmo período;
d) atualmente, em razão da expressa definição legal do aspec-
to material como sendo "auferir receita", não existe dúvida que a 1
utilização do princípio contábil da competência como supedâneo .,
do aspecto temporal das contribuições é inadequada. Assim, so-
mente as receitas efetivamente auferidas podem compor a base de
cálculo das contribuições;
671
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