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Um sonho inquietante

Já era tarde quando deitei-me, exausto. O silêncio da madrugada fria convidava-me


para um sono profundo. Aquela seria uma noite curta, pois antes de o sol nascer já teria de
estar em pé novamente. Geralmente, minhas noites curtas são sem sonhos. Deito-me e, antes
que perceba, as horas se passaram céleres. Entretanto, ontem não foi assim. Sonhei a noite
inteira.
Sonhei que estava em um culto com o auditório lotado. A reunião iniciou-se com uma
oração muito mecânica. Em seguida apresentou-se um grupo musical gospel. Nos primeiros
acordes, notei que faltava talento e sobravam decibéis. A letra era paupérrima, toda a música
concentrava-se em repetir o refrão: "O leão de Judá derrotou o outro leão perigoso". A
multidão foi ao delírio com o término da apresentação, que todos chamaram de "louvorzão".
Gritava e movia-se em um frenesi alucinante. O líder do culto levantou-se e ensinou às
pessoas uma coreografia que, segundo ele, derrotaria o diabo. Todos, como se estivessem
com espadas nas mãos, passaram a encenar uma batalha de esgrima. Terminada a "batalha",
foram gastos mais de quarenta minutos no levantamento das ofertas. O ambiente tornou-se
constrangedor. Tudo foi feito para aumentar a contribuição. Desde ameaças a promessas de
que receberiam cem vezes mais. As ofertas resolveriam todos os problemas das pessoas. De
acordo com a quantia ofertada, o câncer desapareceria, os problemas conjugais seriam
resolvidos. A oferta seria a chave para uma vida plena e feliz.
O pregador da noite levantou-se para falar e, por cerca de cinqüenta minutos,
discorreu sobre assuntos diversos sem, contudo, conduzir uma linha de raciocínio, sem
compromisso algum de expor a Bíblia. Parecia não haver se preparado. Falava, falava,
deixando que suas divagações o conduzissem a um próximo pensamento, que nem ele
próprio sabia qual era. Meu sonho me perturbava. Transformara-se em um pesadelo.
De repente, para minha absoluta surpresa, vi ao meu lado, participando do culto,
quatro personagens históricos: Martinho Lutero, João Calvino, João Wesley e Charles
Finney. Mal podia acreditar que estava cultuando a Deus ao lado de tão ilustres
personalidades do mundo protestante. Fui-lhes apresentado pelo sueco Gunar Vingren,
fundador do pentecostalismo no Brasil. Todos pareciam se conhecer havia muito, tal era a
familiaridade entre eles. Contudo, mesmo participando de um mesmo culto, todos
mostrávamo-nos igualmente inquietos. O clima era desconfortável. O músculo de minha face
tremia diante da honra de apertar a mão de cada um deles. Muitas perguntas vieram à minha
mente: curiosidades, esclarecimentos, dúvidas que precisavam ser sanadas. Todavia,
aconteceu o contrário. Eles é que começaram a me questionar.
Lutero mostrava-se indignado pelo que parecia uma volta da igreja à Época Medieval,
dos amuletos, relíquias e indulgências. Queria saber o que acontecera aos protestantes para
estarem novamente acreditando que sal grosso "afasta mau-olhado", que copo d'água traz
bênçãos.
Expliquei-lhe que a igreja brasileira está inserida em uma cultura muito mística. Falei
da herança católica medieval, disse que os índios brasileiros eram animistas e ainda tracei um
cuidadoso curso sobre a religiosidade africana e como ela se contextualizou. Lutero, porém,
veementemente, mostrou-me os efeitos devastadores que as relíquias tiveram em seus dias e
reafirmou que somos justificados pela fé. Para ele, a Palavra deveria ser suficiente para
produzir fé e não havia necessidade de "pontos de contato" para o poder de Deus fluir em
nós.
Calvino interveio em nossa conversa. Ele também estava revoltado. Sua maior
preocupação era entender o porquê de tanto descaso com a Bíblia. Ele não entendia como
nos separamos tanto da Reforma, que transformou o conceito de culto. Falou-me que, até o
avanço dos protestantes na Europa, cultuar a Deus resumia-se a assistir a um ritual. A liturgia
era mais importante que a exposição do texto sagrado. Mas os reformadores, segundo ele me
disse, lutaram muito para que as pessoas apreendessem que a melhor maneira de cultuar a
Deus é conhecendo e vivendo os princípios eternos de Deus. Concluiu mostrando-me que
antigamente o púlpito ficava deslocado, em um lugar de menor importância no templo. Só
com o protestantismo é que ele passou a ocupar o lugar mais central do templo.
Tentei mostrar-lhe que estamos em uma sociedade viciada em imagens, que o nosso
nível de atenção hoje é mínimo. Falei-lhe dos videoclipes, da superficialidade cultural que a
televisão produz. Ouviu-me com atenção, mas pareceu não ter aceitado minha explicação.
Wesley encontrava-se aturdido. Ele me disse que, por aquele culto, percebia que havia
muitos chavões, mas pouco compromisso ético na igreja. Por duas vezes, perguntou-me:
"Será possível conduzir a obra de Deus apenas prometendo triunfo, sem jamais questionar a
vocação profética da igreja?" Wesley não entendeu a interpretação de textos do Antigo
Testamento, que dizem que os crentes foram postos por cabeça, e não por cauda.
"Será que a igreja evangélica não sabe que o grão de trigo precisa morrer para produzir
muitos frutos? Não somos chamados para sermos sal da terra e luz do mundo, antes de nos
preocuparmos com riqueza e poder?", insistia ele, me indagando. Novamente tentei explicar.
Mas eu mesmo estava envergonhado e minha explicação foi vã.
Charles Finney também se aproximou de mim, querendo entender o que se passava.
Falou-me de como eram os cultos evangelísticos de seus dias e de como as pessoas
encaravam o novo nascimento. Mostrou-me que o apelo para as pessoas se converterem foi
uma quebra de paradigmas. Ele fazia o apelo para que as pessoas que estavam "ansiosas" por
salvação tivessem um tempo para refletir e saber se realmente desejavam um compromisso
real com Cristo. Que o novo nascimento era uma decisão importantíssima que as pessoas
tomavam em resposta à graça. Sua inquietação com o culto do qual participávamos vinha da
maneira tão trivial como as pessoas encaravam a conversão e o discipulado. Ele disse-me que
notava que o cristianismo moderno estava se esvaziando de seus conteúdos e que em breve
muitos não saberiam sequer explicar o que lhes acontecera na conversão.
Gunnar Vingren, que me apresentara aos outros ilustres personagens, não aceitava que
todo o sacrifício dos pioneiros do movimento pentecostal desmoronasse em uma teologia tão
imediatista. Ele disse que não havia Pentecostes sem a cruz. Com um sotaque sueco, disse-
me: "Meu filho, não há experiências com o Espírito Santo sem zelo missionário, sem paixão
evangelística".
Encontrava-me rodeado por uma grande nuvem de testemunhas, e todos tinham o
semblante preocupado. Comecei a suar. Acordei.
Sem conseguir dormir de novo, ainda em minha cama, orei. Em minha prece, pedi a
Deus que levante no Brasil um povo comprometido em ter apenas a Bíblia como regra de fé
e prática. Pedi-lhe que levante pastores que cuidem do povo como rebanho de Deus, e não
como um investimento que pode ser capitalizado no futuro. Orei para que os seminaristas
não confundam sucesso com um ministério aprovado por Deus. Supliquei a Deus que nos
faça uma igreja solidária com os miseráveis, profética na defesa dos indignos e misericordiosa
com os pecadores.
Os sonhos são interessantes. Muitas vezes mostram o que não queremos ver. Talvez, a
maior necessidade da igreja seja a de olhar-se criticamente. Se fecharmos os olhos para a
trivialização do sagrado, para a falta de compromissos éticos e proféticos, para a
transformação do culto em espetáculo, não só nos condenaremos a sermos irrelevantes para a
nossa geração como envergonharemos muita gente que já deu a sua vida pela causa de
Cristo.
Que Deus nos ajude.

Soli Deo Gloria.

Ricardo Gondim é pastor da Assembléia de Deus Betesda, em São Paulo, presidente


do Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos e autor de Orgulho de Ser Evangélico,
lançamento da Editora Ultimato.

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