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Sumário

Apresentação 9

A aventura do existir 14

O Brasil fora do Brasil 54

Luta pela terra 126

O defensor do Rio 156

Campanha contra a fome 178

Último desafio 226

Referências bibliográficas 256


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A aventura do existir

O Brasil fora do Brasil

Luta pela terra

O defensor do Rio

Campanha contra a fome

Último desafio
Apresentação
“Certa vez tive a pretensão de escrever a minha
biografia. Mas de alguma maneira fiquei me
perguntando se seria o caso. Minha opção tem
sido mais por viver e fazer coisas do que fazer
um balanço. Como se balanço fosse uma espécie
de despedida. (...) Na minha visão, o importante
não é tanto a sua vida, mas a relação entre ela
e a história política do país”.

Este livro não pretende ser uma biografia nem um balanço. Está mais para
um reencontro com Betinho e seus grandes temas. Seguindo sugestão
dele próprio, pretende conectar sua trajetória à realidade brasileira e às
bandeiras de luta que conferiram significado à sua vida. Ainda que tenha
sido concebido como parte da comemoração dos 70 anos de seu
nascimento, não é uma simples homenagem. É uma oportunidade para
atualizar os debates que ele animou e para conhecer, ou reviver, a
criatividade, o entusiasmo e a audácia com que enfrentou os problemas
do país, bem como suas dificuldades pessoais.

A especificidade do trabalho aqui apresentado, que lhe confere caráter


único, reside no fato de ter sido elaborado a partir do farto material que
integra o arquivo privado de Betinho, doado ao Centro de Pesquisa e
Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC/FGV) em
março de 2004, por decisão de sua companheira, Maria Nakano, e do
Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), entidade que
Betinho criou em 1981, pouco tempo depois de voltar do exílio, e da qual
foi diretor até morrer, em agosto de 1997.

Foi esse material que ditou a concepção do livro. Os capítulos foram


pensados a partir da existência de documentos capazes de embasar a escrita
dos textos narrativos e de documentar a história que se pretendeu contar,
proporcionando ao leitor contato com registros de naturezas variadas:

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cartas, artigos de opinião, documentos oficiais, cartazes, panfletos, abaixo-
assinados e recortes de jornais, entre outros.

A história de Betinho é aqui rememorada, portanto, a partir de diferentes


vozes: a dele próprio, entrevistado em matérias de jornal, autor de livros,
artigos e cartas; as de Maria, parentes e amigos, que com ele mantiveram
vasta correspondência nos anos em que esteve exilado, mas também nos
momentos mais candentes das lutas em que esteve envolvido; as de pessoas
desconhecidas, que lhe escreviam por se sentirem identificadas com os
princípios que encarnou, com as campanhas que animou, com sua batalha
contra a Aids. Essas cartas, de pessoas que muitas vezes nem o conheciam
pessoalmente, tinham um significado especial para ele – eram a
demonstração do quanto suas causas tocavam os corações e despertavam
as consciências. Avesso a formalidades e profundamente interessado em
questões que afetavam o dia-a-dia da população mais carente, Betinho
não deixava de responder às cartas que recebia, havendo cópias dessa
correspondência em seu arquivo. Fazia questão de agradecer as
manifestações de apoio, de encorajar as iniciativas mais modestas que
tivessem a solidariedade como motivação, de orientar os que lhe pediam
informações para melhor lidar com seus problemas ou para se organizar
com vistas à conquista de seus direitos.

Os arquivos privados, é importante esclarecer, são constituídos pela


documentação acumulada por uma pessoa física no exercício de suas
atividades, sejam elas de natureza pública ou privada. É esta pessoa que
vai funcionar como eixo do processo de constituição do arquivo, já que é
sua vida, são suas atividades e relações que informam o que é produzido,
recebido e, fundamentalmente, guardado por ela. Como o arquivo privado
é resultado de uma acumulação, isto significa que o titular não produziu
todos os documentos que o integram, e que nem todo o material que ele
produziu ou recebeu ao longo da vida faz parte do “papelório” que foi
conservado. Além disso, trata-se de um conjunto sujeito a critérios de
constituição subjetivos, a revisões, perdas e descartes, ditados por mudanças
de perspectiva do titular ou mesmo por imperativos de ordem prática.

À semelhança de outros arquivos privados, o de Betinho guarda as marcas


da sua trajetória: praticamente não existem documentos anteriores ao
período em que entrou na clandestinidade e iniciou uma sucessão atribulada

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de viagens e fugas que acabou por levá-lo ao exílio, durante o qual seria
impossível manter ou acumular papéis. Mesmo da fase em que morou no
Chile, nada restou. Apenas dos anos em que viveu no Canadá e no México,
com uma passagem pela Escócia, guardou a correspondência trocada com
amigos e parentes, com cientistas sociais de diversas nacionalidades e com
autoridades dos países nos quais se estabeleceu. Com a fundação do Ibase,
depois de voltar ao Brasil, os documentos que retratam sua atuação,
contatos e interesses passaram a ser produzidos e/ou guardados no âmbito
institucional. O que ocorre, de fato, com a documentação dos anos 1980
e 1990, é uma profunda interpenetração entre personagem e instituição.
Foi no Ibase que Betinho idealizou todas as suas campanhas e executou
todos os seus projetos. Era ali que refletia sobre a conjuntura, escrevia
artigos, recebia a imprensa e fazia encontros festivos com amigos. O Ibase
era a sua casa, e não surpreende que lá estivesse guardada a quase
totalidade de seus papéis.

Também não é por acaso que a documentação relativa à Ação da Cidadania


contra a Fome, a Miséria e pela Vida tem um peso destacado no arquivo:
ela absorveu a atenção de Betinho e mobilizou a estrutura institucional do
Ibase de maneira ímpar. A grande repercussão que a Ação da Cidadania
teve na sociedade fez com que fosse produzida, mas também recebida,
uma enorme quantidade de documentos. Essa riqueza está espelhada na
organização do livro: o capítulo Campanha contra a fome é o que apresenta
maior variedade de registros documentais.

Na luta de Betinho pela cidadania para todos, à frente do Ibase, outras


bandeiras se destacaram. Além da campanha contra a fome, dedicou-se
de forma apaixonada à reforma agrária, aos problemas do Rio de Janeiro
e ao combate contra o preconceito e a omissão do poder público no que
se refere à Aids. São esses os temas de três outros capítulos do livro: A
luta pela terra, O defensor do Rio e Último desafio.

Antes de mais nada, porém, o leitor vai percorrer a trajetória de Betinho


no capítulo A aventura do existir, no qual os momentos mais importantes
da vida desse mineiro de Bocaiúva são comentados por ele mesmo, quer
em trechos de escritos autobiográficos, quer em entrevistas ou artigos
publicados na imprensa. Em seguida, no capítulo O Brasil fora do Brasil, o
leitor fará contato com a atmosfera, as preocupações e articulações dos

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brasileiros exilados durante o regime militar.

Fazer um livro sobre Betinho foi uma tarefa difícil e fácil ao mesmo tempo.
Difícil porque o livro foi elaborado em um prazo muito apertado e tivemos
que “garimpar” um arquivo cuja organização ainda não estava concluída.
Difícil, ainda, porque o resultado do trabalho está condenado a ficar aquém
do personagem: sua vida foi extremamente rica, e “os vários Betinhos”
apenas se insinuam nestas páginas. Fácil porque se trata de um homem
extremamente cativante, ousado e coerente, indignado e meigo, incisivo
e bem-humorado, que vivenciou os acontecimentos políticos da história
recente do Brasil, deixando a sua marca nessa história. Fácil porque, apesar
das lacunas documentais, seu arquivo nos propiciou uma visão original e
privilegiada sobre sua trajetória. Fácil, finalmente, porque Betinho continua
a tocar os corações e a contagiar, com sua energia, os que dele se
aproximam.

Este livro é resultado de uma parceria entre a Caixa Econômica Federal


(CEF), que patrocinou a publicação e a organização do arquivo, o Ibase e
o CPDOC da Fundação Getulio Vargas. É fruto, também, do esforço e da
colaboração de muitas pessoas, às quais desejamos agradecer, mesmo
que não possamos fazê-lo nominalmente a todas. Nosso primeiro
agradecimento é dirigido a Maria Nakano, que confiou ao CPDOC os papéis
de Betinho e foi incansável no atendimento de nossas demandas ao longo
dos meses em que estivemos envolvidas no projeto. Daniel, filho de Betinho,
e Marcos, sobrinho, nos cederam gentilmente diversas fotografias dos
álbuns da família Souza, imprescindíveis, já que o arquivo não contém
fotos. Nesse aspecto, também, a colaboração de Maria, autora de muitas
imagens, foi fundamental.

Vários colegas do CPDOC nos auxiliaram em diversas tarefas. Adelina Cruz,


Daniele Amado e Suemi Higuchi, com presteza e boa vontade, digitalizaram
os documentos do arquivo aqui apresentados. Aline Monteiro digitou
dezenas de cartas, vencendo caligrafias, atenta à nossa luta contra o tempo.
Aos demais colegas, agradecemos a solidariedade e o estímulo
manifestados, cabendo uma menção a Dora Rocha, Sérgio Lamarão e
especialmente Mario Grynszpan, de cuja expertise no tema da reforma
agrária pudemos usufruir.

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Do pessoal do Ibase recebemos, igualmente, todo o apoio. Antônia
Rodrigues e Rozi Billo foram particularmente importantes, atendendo às
nossas solicitações com eficiência e gentileza. Algumas fotos aqui publicadas
integram o acervo do Ibase, bem como as charges cedidas ao Instituto
pelo Salão do Humor do Piauí, realizado em 2003. Por esse material também
agradecemos.

Finalmente, agradecemos a Betinho. Desvendar sua vida, mergulhando


em seus papéis, partilhar seus sonhos, reviver suas lutas e aprender com
suas histórias foi uma experiência enriquecedora e, sobretudo,
emocionante.

Um abraço,
Dulce e Luciana.

Rio de Janeiro, outubro de 2005.

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