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3 O PRÍNCIPE E DISCURSOS

As duas principais obras políticas de Maquiavel são O Príncipe e os


Discursos. O estudo da doutrina política desse autor não dispensa a leitura da História
de Florença, de A Arte da Guerra e nem mesmo de sua comédia mais famosa, A
Mandrágora. Mas as duas primeiras obras são paradigmáticas e reúnem os principais
elementos do pensamento político de Maquiavel, embora alguns estudiosos enxerguem
contradições entre o discurso nitidamente republicano que permeia os Discursos e os
conselhos contidos em O Príncipe. Essas duas obras foram escritas num mesmo
período da vida de Maquiavel: os Discursos começaram a ser redigidos em 1513, sua
redação foi interrompida para a produção de O Príncipe, e concluída somente em 1517.
Apesar de serem obras contemporâneas, sempre causaram certa
perplexidade as contradições aparentes ou reais entre os dois textos. Discursos é uma
obra explicitamente republicana, na qual Maquiavel deixa claro que considera a
república de tipo misto uma forma superior de governo, sobretudo se comparada com a
monarquia. Nela destacam-se as virtudes da república democrática e sustenta-se que
somente uma república igualitária, no sentido de que todos deveriam ter igualdade de
oportunidade para participar dos assuntos do Estado, permitiria o desenvolvimento da
virtù de todo o povo e, por conseqüência, a expansão política e territorial do Estado,
bem assim, somente uma república democrática, tal como foi a romana, garantiria a
liberdade almejada pelo povo. Entretanto, O Príncipe é uma obra de conselhos ao
monarca, em especial ao novo monarca ou àquele que pretenda fundar um principado.
Também chamado de “espelho de príncipe”, esse gênero era comum na época e, em
regra, dedicava-se ao aconselhamento dos príncipes, como uma espécie de manual de
boas maneiras.
A questão tem suscitado as mais diversas abordagens. Isaiah Berlin
(2004, p. 67) considera que não há uma contradição essencial entre as duas obras, já
que Maquiavel prefere um principado bem governado a uma república decadente. Seus
conselhos e máximas seriam os mesmos numa e noutra obra (“são descrições de
métodos de se concretizar um único objetivo: a visão humanista e periódica que o
domina”) e a proposição moral ou ética sustentada em O Príncipe estaria presente
também nos Discursos.
Na mesma trilha segue a abordagem de Quentin Skinner (1996). Para ele,
a despeito das inúmeras diferenças constatadas nas duas obras em questão, a
moralidade política subjacente aos dois livros é a mesma. A diferença mais relevante
entre os livros estaria no direcionamento dos conselhos políticos: numa os conselhos
se dirigem ao príncipe, noutra se volta para o corpo inteiro dos cidadãos.
Há realmente uma unidade entre O Príncipe e os Discursos. Tanto pelo
método do autor como pela construção de uma teoria política arrimada em conceitos
como virtù, na relação entre virtù e fortuna, na teoria dos ciclos históricos, na teoria da
corrupção natural de todas as instituições e formas de governo, na concepção do
caráter simbólico das ações políticas, na idéia de uma moralidade que norteia a ação
política e os fins a serem alcançados pelo Estado e pelo governante. A adoção do
gênero espelho de príncipe por Maquiavel parece ter sido uma estratégia para seduzir o
leitor e não uma efetiva proposição de aconselhamento ao príncipe. Newton Bignotto
(1991, p. 125) insiste nessa tese, chamando a atenção para o fato de que apesar de O
Príncipe ser dedicado a Lorenzo de Médici, duque de Urbino, Maquiavel (2000, p. 13-
14) critica, na Carta a Zenóbio Buondelmonti e Cosmo Ruccellai, os “escritores que
dedicam seus livros a algum príncipe, a quem atribuem, com profusão de elogios
banais, todas as virtudes”. Essa estranha contradição revela que a forma escolhida
para O Príncipe tem em vista a estratégia de chamar a atenção do leitor, ou seduzi-lo,
mais do que qualquer outra coisa.
Os elogios feitos por Maquiavel, no capítulo II de O Príncipe, aos
principados hereditários, especialmente por sua estabilidade, também conflitam com a
tese sustentada nos Discursos de que a estabilidade jamais é perene em qualquer
forma de governo e que a tensão gerada pelos conflitos é positiva para a edificação de
um Estado grandioso. As contradições se resolvem no decorrer da obra, quando
Maquiavel demonstra que a estabilidade jamais é um dado permanente e que o
governante, príncipe ou não, deve preparar seu Estado para o conflito e não para a
paz, seja para expandir-se, seja para defender-se. O que de fato unifica a doutrina de
Maquiavel nas duas obras é a construção de uma teoria política válida tanto para um
monarca quanto para uma república. Nesse sentido, conforme preleciona Bignotto
(1991, p. 125), os conselhos aos príncipes têm a pretensão de enunciar regras de
caráter universal, e o ator político deve ser encarado como um ente abstrato, pois as

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proposições desenvolvidas por Maquiavel - no que diz respeito aos meios para se
conquistar e conservar um Estado bem como aos fins a serem atingidos (grandeza,
glória, fama, liberdade etc.) - são as mesmas nas duas obras estudadas. Qualquer
consideração sobre o interesse imediato de Maquiavel em agradar ou bajular o duque
de Urbino para, com isso, conseguir retornar aos cargos dos quais fora destituído, não
tem relevância no estudo e na compreensão do alcance das teses desenvolvidas em O
Príncipe.
O momento da fundação do Estado é particularmente revelador dessa
equivalência das proposições em ambas as obras, pois o ato de fundação, segundo
Maquiavel, é sempre um ato solitário, um ato de um só homem, seja ele fundador de
um principado ou de uma república. Mas o momento da fundação é apenas uma
pequena fração do tempo de existência do novo Estado. Em seguida, no caso do
principado, deve o príncipe saber conduzir as coisas e possuir a virtù necessária para
tornar sua obra grandiosa, ao passo que, nas repúblicas, cabe ao corpo político a tarefa
de edificar o Estado nascente e, em ambos os casos, após a fundação surgem as
tarefas da conservação. O secretário florentino diz o seguinte:

É por assim dizer uma regra geral a de que as repúblicas e os


reinos que não receberam as suas leis de um único legislador, ao serem
fundados ou durante alguma reforma fundamental que se tenha feito,
não possam ser bem organizados. É necessário que um único homem
imprima a forma e o espírito do qual depende a organização do Estado.
(MAQUIAVEL, 2000a, p. 49)

Para Maquiavel, os problemas relativos à criação de novos principados


não diferentes daqueles surgidos na criação de novas repúblicas. Nesse ponto,
Maquiavel afasta-se da tradição humanista, pois ele busca demonstrar que as
dificuldades e as regras indispensáveis na fundação de uma república ou de um
principado têm um caráter universal, ao passo que a tradição humanista afirma o
caráter singular e original da fundação de Roma, Florença e Veneza.
Assim, o que parecia ser uma contradição insuperável entre O Príncipe e
os Discursos encontra solução plausível no confronto dessas obras. A construção de
uma doutrina política que pretende afirmar postulados universais supera as
contradições existentes nas duas obras, por não serem contradições essenciais e, por
isso, não comprometerem a unidade do pensamento de Maquiavel.
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REF ERÊNCIAS

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