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Uma das teses analíticas mais expendidas nos Manuais de Filosofia no Ensino
Secundário é a de que «o conhecimento implica três condições, que são a
crença, a verdade e a justificação».
Quem crê, acredita em algo. Crer é designar uma «verdade» para mim, para
nós ou «em si». Portanto, a verdade, no seu aspecto de ser apreendida
subjectiva ou intersubjectivamente, faz parte da crença, não está fora desta.
Classificar crença e verdade como condições separadas é um erro de hiper-
análise.
Esse contacto possui uma dupla vertente: verdade e erro, que, em larga
medida, se transformam dialeticamente um no outro.
«Dizer que não se pode conhecer falsidades não é o mesmo que dizer que não se
pode saber que algo é falso. As duas coisas são distintas. Vejamos os seguintes
exemplos:»
«Dizer que o conhecimento é factivo é apenas dizer que sem verdade não há
conhecimento».
(Aires Almeida, Célia Teixeira, Desidério Murcho, Paula Mateus, Pedro Galvão, A
arte de pensar, manual de Filosofia do 11º ano, Didáctica Editora, pag.96).
A afirmação de Maria de que «o céu diurno é azul» seria factiva, segundo estes
autores. Mas como classificar a afirmação dos filósofos e físicos, que perfilham a
teoria das qualidades primárias e secundárias dos objectos físicos, de que «o
céu diurno não tem cor, o azul que lhe atribuimos apenas existe no nosso
cérebro»? Ambas são afirmações factuais, derivadas de perspectivas diferentes:
empírica versus epistemológica. E ambas podem ser postas em dúvida, a partir
de outras perspectivas de raciocínio. Alguma delas é "factiva", deveras?
Há, no entanto, muito mais conhecimentos, além destes, que não são
indiscutíveis, factivos - a teoria de Darwin é um conhecimento e, em boa parte,
não factivo; a teologia cristã ou islâmica é um conhecimento metafísico de seres
míticos, não factivo para centenas de milhões de pessoas; a teoria da democracia
liberal mundial como a melhor das sociedades possível também não é "factiva",
etc.
http://astrologia.weblog.com.pt/arquivo/2006/02/crenca_conhecim.html