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Ninguém perde tempo pensando que talvez o bebê seja muito preguiçoso, indisciplinado
ou desmotivado para aprender; supõe-se que o bebê tenha nascido com vontade de
aprender tudo o que ele precisa para conhecer e participar do mundo ao seu redor. Essas
autoridades de um a dois anos de idade nos ensinam vários princípios da aprendizagem:
John Holt, em seu livro 'How Children Learn' ('Como as Crianças Aprendem'), descreve o
estilo natural de aprendizagem das crianças pequenas:
"A criança é curiosa. Ela quer compreender as coisas, descobrir seu funcionamento,
desenvolver habilidades e obter controle sobre si mesma e seu ambiente, além de fazer
tudo o que ela vê os outros fazerem. Ela é aberta, perceptiva e empírica. Ela não se
limita a observar. Ela não se fecha para o mundo estranho e complicado à sua volta, ela
o degusta, toca, ergue, dobra, quebra. Para descobrir como a realidade atua, a criança
atua sobre a realidade. Ela é audaciosa. Ela não tem medo de errar. E ela é paciente.
Ela pode tolerar um grau incrível de dúvida, confusão, ignorância e suspense... A escola
não é um lugar que ofereça muito tempo, oportunidade ou recompensa por esse modo
de pensar e de aprender da criança"(2).
Se deixarmos por sua conta, as crianças sabem instintivamente qual método funciona
melhor para elas. Pais zelosos e atentos logo aprendem a confiar nesse conhecimento.
Eles dizem para o bebê: "Oh! que interessante, você está aprendendo a descer as
escadas engatinhando de costas!" Eles não dizem: "Assim está errado". Pais perceptivos
sabem que há vários modos de se aprender a mesma coisa e confiam na escolha da
criança.
Crianças precisam ficar muito tempo sossegadas para pensar.
Pesquisas mostram que a criança que fantasia bem, aprende melhor e tem mais
facilidade para lidar com a frustração do que aquela que já perdeu essa capacidade. Mas
fantasiar requer tempo, e o tempo é um dos valores mais ameaçados de nossas vidas. A
programação intensiva no horário escolar e mais atividades extracurriculares não deixam
muito tempo para a criança sonhar, pensar, encontrar soluções para os problemas e
enfrentar situações de estresse, além de suprir a necessidade universal de solidão e
privacidade.
John Holt observou que quando convidava crianças em idade pré-escolar para tocar seu
violoncelo, elas aceitavam imediatamente; crianças maiores e adultos sempre
recusavam.
Crianças escolarizadas em casa, que não são intimidadas pela exposição pública e por
notas baixas, mantêm-se abertas para explorar o novo. As crianças aprendem
perguntando, e não respondendo às perguntas dos outros. Pré-escolares fazem muitas
perguntas e escolares também - mas só até a terceira série. A essa altura muitos já
aprenderam o triste fato de que na escola é mais importante proteger-se, escondendo a
própria ignorância, do que tentar entender melhor um assunto - por mais curioso que se
esteja.
As crianças têm prazer em aprender as coisas por seu próprio valor intrínseco.
Não é necessário motivar as crianças com recompensas exteriores, como notas altas ou
estrelinhas no caderno, que sugerem à criança que a atividade em si deve ser difícil ou
desagradável. (De outro modo, porquê iriam lhe oferecer uma recompensa que não tem
nada a ver com o assunto? ) Pais sensatos dizem: "Vejo que você aprecia mesmo esse
livro!" e não "Se você terminar de ler o livro, vai ganhar um doce".
Os pais não dizem para um filho pequeno: "Você só vai ficar com crianças que tenham
até seis meses de diferença de idade com você. Aqui está outra criança de dois anos.
Vocês podem olhar um para o outro, mas não se falem!"
John Taylor Gatto, eleito Professor do Ano do estado norte-americano de Nova York,
afirma: "É absurdo, é anti-vida... sentar confinados com pessoas exatamente da mesma
idade e classe social. Esse sistema consegue alienar-nos da enorme diversidade da vida"
(3).
Nenhuma mãe diria a seu filho pré-escolar: "Deixe essa lagarta aí e volte a estudar seu
livro sobre lagartas". Crianças escolarizadas em casa aprendem em contato direto com o
mundo. Meu filho diz que estudar em casa é "aprender fazendo em vez de ser ensinado".
Ironicamente a objeção mais comum à escolarização domiciliar é que as crianças "são
privadas do mundo real".
As crianças precisam e merecem muito tempo de convívio familiar.
Einstein escreveu: "É um erro muito grave acreditar que o prazer de observar e pesquisar
possa ser desenvolvido pela coerção" (5). Quando uma criança de um ano cai ao tentar
aprender a andar, dizemos: "Muito bem! Logo você vai conseguir!" Pais atentos não
dizem: "Um bebê da sua idade já deveria estar andando. Vou lhe dar um prazo até sexta-
feira".
A maioria dos pais compreende o quanto é difícil para seus filhos aprender alguma coisa
quando são empurrados, ameaçados ou quando recebem notas baixas. John Holt alerta
que "ficamos com dificuldade ou mesmo impossibilitados de pensar e de fazer as coisas
quando estamos com medo ou ansiosos... quando amedrontamos as crianças,
bloqueamos totalmente o seu aprendizado" (6).
A escolarização em casa, nas palavras de Holt, é uma questão de fé. "A fé que somos por
natureza animais aprendizes. As borboletas voam, os peixes nadam e os seres humanos
pensam e aprendem. Nós não precisamos motivar a criança a aprender por meio de
suborno, adulação e intimidação. Não precisamos continuar tentando esmiuçar suas
mentes para nos certificarmos de que estão aprendendo. Tudo de que precisamos é dar
às crianças toda a ajuda e orientação de que elas necessitem e que nos solicitem, ouvir
atentamente quando elas tiverem vontade de falar e depois deixar-lhes o caminho livre.
Podemos confiar que elas farão o restante" (7).
1. N. da T.: Nos Estados Unidos existe a alternativa legal de escolarizar os filhos em casa.
2. John Holt, How Children Learn (New York: Delacorte Press, 1983), p.287.
3. John Gatto, "Why Schools Don't Educate", The Sun, June 1990, p.24
4. Ibid., p.26
5. Albert Einstein, "Autobiographical Notes", in Schilp, Paul Arthur, Albert Einstein: Philosopher-Scientist
(Evanston: The Library of Living Philosophers, Volume VII, 1949), pp3-94.
7. Ibid., p. 293.
Fonte: http://members.tripod.com/~Helenab/artigos1.htm