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CAPÍTULO 1

Desenvolvimento humano – passado, presente


e futuro

O desenvolvimento humano é muito mais do que o au- dignidade de todos, criando respeito próprio e respeito O desenvolvimento tem
mento ou quebra dos rendimentos nacionais. Tem a ver pelos outros.
a ver com o alargamento
com a criação de um ambiente no qual as pessoas pos-
sam desenvolver o seu pleno potencial e levar vidas TRINTA ANOS DE PROGRESSO IMPRESSIONANTE – das escolhas que as
produtivas e criativas, de acordo com as suas necessidades MAS , UM LONGO CAMINHO AINDA A PERCORRER
pessoas têm para levar
e interesses. As pessoas são a verdadeira riqueza das
nações. O desenvolvimento tem a ver, portanto, com o Os desafios do desenvolvimento humano mantém-se uma vida a que dêem
alargamento das escolhas que as pessoas têm para levar grandes no novo milénio (quadros 1.1 e 1.2). Vemos, em
valor
uma vida a que dêem valor. E tem a ver com muito mais todo o mundo, níveis inaceitáveis de privação na vida
do que o crescimento económico, que é apenas um das pessoas. Dos 4,6 mil milhões de pessoas nos países
meio – ainda que muito importante – de alargar as es- em desenvolvimento, mais de 850 milhões são analfa-
colhas das pessoas. betas, perto de mil milhões não têm acesso a fontes de
Para alargar estas escolhas, é fundamental a criação água melhoradas, e 2,4 mil milhões não têm acesso a
das capacidades humanas – o conjunto de coisas que as saneamento básico.1 Perto de 325 milhões de rapazes e
pessoas podem ser, ou fazer, na vida. As capacidades mais raparigas estão fora da escola.2 E 11 milhões de crian-
elementares para o desenvolvimento humano são: ter ças com menos de cinco anos morrem todos os anos de
uma vida longa e saudável, ser instruído, ter acesso aos causas evitáveis – o equivalente a 30.000 por dia.3 Cerca
recursos necessários para um nível de vida digno e ser
capaz de participar na vida da comunidade. Sem estas,
QUADRO 1.1
muitas outras escolhas simplesmente não estão Privações graves em muitos aspectos da vida
disponíveis e muitas oportunidades na vida mantém-se
Países em desenvolvimento
inacessíveis.
Esta forma de olhar para o desenvolvimento, fre- Saúde
968 milhões de pessoas não têm acesso a fontes de água melhoradas (1998)
quentemente esquecida na preocupação imediata com 2,4 mil milhões de pessoas não têm acesso a saneamento básico (1998)
a acumulação de bens e riqueza financeira, não é nova. 34 milhões de pessoas vivem com HIV/SIDA (final de 2000)
2,2 milhões de pessoas morrem anualmente devido à poluição do ar interna (1996)
Os filósofos, economistas e líderes políticos, desde há
Educação
muito que enfatizam o bem-estar humano como o objec- 854 milhões de analfabetos adultos, dos quais 543 milhões de mulheres (2000)
tivo, o fim, do desenvolvimento. Como dizia Aristóte- 325 milhões de crianças fora da escola nos níveis primário e secundário, das quais
183 milhões de raparigas (2000)
les, na Grécia antiga, "A riqueza não é, evidentemente,
Privação de rendimento
o bem que procuramos, pois ela é útil apenas para obter 1,2 mil milhões de pessoas vivem com menos de 1 dólar por dia (dólares PPC de
outra coisa qualquer". 1993), 2,8 mil milhões com menos de 2 dólares por dia (1998)

Na procura dessa outra coisa qualquer, o desen- Crianças


163 milhões de crianças com peso deficiente menores de cinco anos (1998)
volvimento humano comunga de uma visão comum 11 milhões de crianças menores de cinco anos morrem anualmente de causas
com os direitos humanos. O objectivo é a liberdade hu- evitáveis (1998)

mana. E esta liberdade é vital na persecução das ca- Países da OCDE


pacidades e na realização dos direitos. As pessoas têm
15% de adultos são funcionalmente analfabetos (1994-98)
de ser livres para exercer as suas escolhas e para participar 130 milhões de pessoas privadas de rendimento (com menos de 50% do rendimento
na tomada de decisão que afecta as suas vidas. O de- médio) (1999)
8 milhões de pessoas subalimentadas (1996-98)
senvolvimento humano e os direitos humanos reforçam- 1,5 milhões de pessoas vivem com HIV/SIDA (2000)
se mutuamente, ajudando a garantir o bem-estar e a Fonte: Smeeding 2001b; UNAIDS 2000a, 2000b; UNESCO 2000b; World Bank 2000d, 2001b, 2001c, 2001f; WHO 1997,
2000c; OECD e Statistics Canada 2000.

DESENVOLVIMENTO HUMANO – PASSADO, PRESENTE E FUTURO 9


cadores deste Relatório fornecem um rico conjunto de
QUADRO 1.2
Países que sofreram retrocessos no índice de desenvolvimento humano, 1999 dados sobre muitos indicadores de desenvolvimento
humano, para 162 países, assim como agregados para
IDH IDH IDH IDH IDH
mais baixo lmais baixo mais baixo mais baixo mais baixo países agrupados por região, rendimento e nível de de-
que em 1975 que em 1980 que em 1985 que em 1990 que em 1995 senvolvimento humano. O destaque 1.2 dá-nos um ins-
Zâmbia Federação Russa Botswana África do Sul Malawi tantâneo.
Roménia Bulgária Bielorrússia Namíbia
Zimbabwe Burúndi Camarões
Congo Lituânia CONTRASTES REGIONAIS NO CAMINHO
Letónia Moldávia DO PROGRESSO
Lesoto Quénia
Suazilândia
Ucrânia Todas as regiões fizeram progressos no desenvolvi-
Fonte: Quadro de indicadores 2.
mento humano nos últimos 30 anos, mas avançando a
passos muito diferentes e alcançando muito níveis dife-
FIGURA 1.1 de 1,2 mil milhões de pessoas vivem com menos de 1 rentes. A Ásia Oriental e Pacífico fez um progresso
O crescimento do rendimento dólar por dia (dólares PPC de 1993),4 e 2,8 mil milhões rápido, sustentado, na maior parte das áreas, desde a ex-
varia entre regiões
com menos de 2 dólares por dia.5 Estas privações não pansão do conhecimento até à melhoria da sobrevivência,
Taxa de crescimento anual do
PIB per capita (percentagem), 1975-99 estão limitadas aos países em desenvolvimento. Nos e ao aumento dos níveis de vida. A Ásia do Sul e a
países da OCDE, mais de 130 milhões de pessoas estão África Subsariana ficam muito para trás de outras regiões,
Ásia Oriental
6 e Pacífico 31% privadas de rendimento,6 34 milhões estão desempre- com a pobreza humana e a privação de rendimento
Parcela da gadas e as taxas de analfabetismo funcional entre os adul- ainda elevadas. A taxa de alfabetização de adultos na Ásia
população
5 mundial tos são, em média, de 15%. do Sul é ainda de 55% e, na África Subsariana, de 60%,
A magnitude destes desafios parece desencora- bem abaixo da média de 73% dos países em desen-
4
jadora. Contudo, só muito poucas pessoas reconhecem volvimento. A esperança de vida à nascença na África
3
que os impressionantes ganhos do mundo em desen- Subsariana é ainda de apenas 48,8 anos, em compara-
Ásia 23%
volvimento, nos últimos 30 anos, demonstram a possi- ção com mais de 60 anos em todas as outras regiões. E
do Sul
2 OCDE 19% bilidade de erradicar a pobreza. Uma criança nascida a parcela de pessoas que vivem com menos de 1 dólar
agora pode esperar viver mais oito anos do que uma por dia atinge 46% na África Subsariana e 40% na Ásia
1 América Latina 8% nascida há 30 anos. Muitas mais pessoas podem ler e es- do Sul, comparando com 15% na Ásia Oriental e Pací-
e Caraíbas
Países Árabes 4%
crever, tendo a taxa de alfabetização de adultos au- fico e na América Latina.9
0
mentado de um valor estimado de 47%, em 1970, para Os Países Árabes também estão atrasados em muitos
73% em 1999. A parcela de famílias rurais com acesso indicadores, mas têm estado a realizar o progresso mais
–1 África Subsariana 10%
a água potável aumentou mais de cinco vezes.7 Muitas rápido. Desde o princípio dos anos 70, a esperança de
mais pessoas podem beneficiar de um nível de vida vida à nascença melhorou cerca de 14 anos e a taxa de
Fonte: Quadro de indicadores 11.
digno, tendo os rendimentos médios nos países em de- mortalidade infantil de 85 por mil nados-vivos e, desde
senvolvimento quase duplicado, em termos reais, entre 1985, a taxa de alfabetização de adultos cresceu cerca
1975 e 1998, de 1.300 dólares para 2.500 dólares (dólares de 15 pontos percentuais – um progresso mais rápido
PPC de 1985).8 do que em qualquer outra região.
As condições básicas para obter liberdades hu- As diferenças entre regiões e países são particular-
manas transformaram-se nos 10 últimos anos, à medida mente marcadas no crescimento económico, o qual gera
que mais de 100 países em desenvolvimento e em tran- recursos públicos para investir na educação e serviços
sição acabaram com regimes militares ou de partido de saúde e aumenta os recursos de que as pessoas dis-
único, abrindo-se a escolhas políticas. E o compromisso põem para beneficiarem de um nível de vida digno e me-
formal com os padrões internacionais de direitos hu- lhorarem muitos outros aspectos das suas vidas. Em
manos cresceu extraordinariamente desde 1990. Estes 1975-99, o rendimento per capita quadruplicou na Ásia
são, apenas, alguns dos indicadores dos ganhos im- Oriental e Pacífico, crescendo 6% ao ano (figura 1.1).
pressionantes em muitos aspectos do desenvolvimento A taxa de crescimento na Ásia do Sul excedeu 2%. Dois
humano (destaque 1.1). países que, em conjunto, contribuem para um terço da
Para lá deste resultado de progresso mundial, está população mundial, tiveram bom desempenho: o rendi-
um quadro mais complexo de experiências variadas mento per capita da China cresceu a uma taxa impres-
através de países, regiões, grupos de pessoas e dimen- sionante de 8% ao ano, e o da Índia a uma taxa média
sões de desenvolvimento humano. Os quadros de indi- de 3,2%. Os países da OCDE tiveram um crescimento

10 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


DESTAQUE 1.1
O PROGRESSO NOS ÚLTIMOS 30 ANOS TEM SIDO IMPRESSIONANTE…
Reconhecimento mais activo
A estrutura mundial do desenvolvimento humano transformou-se dos direitos humanos
Países que ratificaram os 6 mais importantes
Desen- convénios e convenções de direitos humanos
volvimento 1975 Desenvolvimento humano predominantemente baixo e médio
humano 191 (universal ratification) CDC
Elevado 650 milhões
CEDAW
Médio 1,6 mil milhões 150 ICERD
ICCPR
Baixo 1,1 mil milhões CIDESC
CAT
100

1999 Desenvolvimento humano predominantemente médio e elevado


Elevado 900 milhões 50
3,5 mil
Médio milhões
Baixo 500 milhões 0
1990 2001
Número de pessoas (30 de Março)

Nota: Os dados referem-se apenas aos países que têm dados disponíveis para 1975 e 1999. Nota: Para os nomes completos das convenções,
Fonte: Baseado nos quadros de indicadores 2 e 5. ver as abreviaturas..
Fonte: UN 2001b.

As pessoas vivem mais, com mais saúde… …estão mais alfabetizadas e mais instruídas… …e têm rendimentos mais elevados
Esperança Taxa de Mortalidade Pessoas Taxa de Taxa de Países em desenvolvimento
de vida mortalidade de menores subali- alfabetização escolarização bruta Crianças Rendimento Privação de
à nascença Infantil de 5 anos mentadas de adultos 1970–97 (percentagem) fora da escola rendimento
1975–98
1970–75 to 1970–99 1970–99 1975–99 1970–2000 (est.)
1995–2000 1970–2000 (est.) (PIB per capita, 1990–98
(por 1.000 (por 1.000 (milhões) Primária Secundária
(anos) (percentagem) (milhões) dólares PPC 1985) (percentagem)
nados-vivos) nados-vivos)
80 0 0 100 100 100 300 4,000 15
700
50 90 90 80
325 3,000 20
70 50 800
100 80 80 60
350 Melhoria 25
Melhoria 2,000
900 Melhoria
150 70 70
60 100 40
375 30
200 60 60 1,000
1,000 20 1970

50 150 250 50 50 400 35


0 0

Nota: Os dados sobre a pobreza referem-se à parcela da população


Fonte: Quadro de indicadores 8 e FAO 2000b. Fonte: UNESCO 2000b.
que vive com menos de 1 dólar por dia (dólares PPC de 1993).
Fonte: Cálculos da Gabinete do Relatório de Desenvolvimento
Humano baseados em World Bank 2001g, 2001h..

Progresso em direcção à igualdade entre os sexos… … à sustentabilidade ambiental… … e à democracia


Taxa de escolarização feminina
(em percentagem da taxa masculina) Emissões de dióxido Eficiência da energia Países com
de carbono (PIB em dólares PPC por kg eleições multipartidárias
Primária Secundária Superior (toneladas de carvão per capita) de equivalente petróleo) (percentagem)
100 100 100 0 5.0 100

1997 1998
90 90 90 4.0 80
1.0

80 80 80 Melhoria Melhoria
3.0 60 1998
1.1
70 70 70 1980 Melhoria
1998 2.0 40
Improvement
60 60 60 1.2 1974
1970 1980 1.0 20

50 50 50
1.3 0 0

Fonte: Baseado em UNESCO 2001a. Fonte: UNDP, UNDESA e WEC 2000; Fonte: IMF, OECD, UN
quadro de indicadores 18. e World Bank 2000.

DESENVOLVIMENTO HUMANO – PASSADO, PRESENTE E FUTURO 11


DESTAQUE 1.2
…MAS A MARCHA DO PROGRESSO E OS NÍVEIS DE REALIZAÇÃO VARIAM AMPLAMENTE ENTRE REGIÕES E GRUPOS

Variações regionais na sobrevivência humana, educação e rendimento


Taxa de mortalidade infantil Esperança de vida à nascença Taxa de alfabetização de adultos Rendimento
(por 1.000 nados-vivos) (anos) (percentagem) (PIB per capita, dól. PPC)
1970 1999 1970–75 1995–2000 1985 1999 1999
0 80 100
Europa do Leste & CEI
OCDE 22,000 OCDE
OCDE
25 Europa do Leste & CEI 90
América Latina & Caraíbas América Latina & Caraíbas
Ásia Oriental e Pacífico América Latina & Caraíbas Ásia Oriental e Pacífico
70
Países Árabes Ásia Oriental e Pacífico
50 Europa do Leste & CEI 7,500
80
Ásia do Sul Países Árabes América Latina & Caraíbas
Europa do Leste & CEI
Ásia do Sul
75 60 70
5,000
Países Árabes
100 Países menos desenvolvidos Países Árabes
60 África Subsariana Ásia Oriental e Pacífico
África Subsariana
Países menos desenvolvidos
50 Ásia do Sul
África Subsariana Países menos desenvolvidos 2,500
125 50 Ásia do Sul
África Subsariana
Países
150 40 menos desenvolvidos
40
0

Fonte: Quadro de Indicadores 8. Fonte: Quadro de Indicadores 8. Fonte: Quadro de Indicadores 10. Fonte: Quadro de indicadores 11.

Variações regionais no rendimento e pobreza humana


Privação de rendimento Crianças com peso deficiente menores de cinco Fontes de água melhoradas
(percentagem) (percentagem) (percentagem de pessoas sem acesso)
1998 1995–2000 2000
0 0 0
Europa & Ásia Central
Médio Oriente & África do Norte
América Latina & Caraíbas
10 10 10 Médio Oriente & África do Norte
Ásia Oriental & Pacífico Ásia do Sul
Arab States América Latina & Caraíbas
América Latina & Caraíbas
Ásia Oriental & Pacífico
20 20 20

Ásia Oriental & Pacífico


30 30 África Subsariana 30

40 Ásia do Sul
40 40

África Subsariana África Subsariana


Ásia do Sul
50 50 50
Nota: Os dados referem-se às classificações regionais Fonte: Quadro de indicadores 7. Nota: Os dados referem-se às classificações regionais
do Banco Mundial e mostram a parcela da população que do Banco Mundial.
vive com menos de 1 dólar por dia (dólares PPC de 1993). Fonte: World Bank 2001h.
Fonte: World Bank 2001c.

Por todo o mundo, as realizações das mulheres


Disparidade urbano-rural nas realizações e nas privações atrasam-se e as privações são maiores

Percentagem Percentagem de pessoas Percentagem Por 1.000 nados-vivos


100 100 100 50

90 80 Sem acesso a 90 Taxa de 40 Taxa de


saneamento adequado alfabetização morta-
Brasil, 1995 de adultos, lidade
80 60 80 30 infantil
2000
Que vivem abaixo da linha (1-4 anos)
70 40 de pobreza 70 20 1988-98
Burkina Faso, 1998 Escolarização
Taxa de secundária
60 alfabetização 20 60 10
bruta
de adultos 1997
50 El Salvador, 1995 0 50 0
Urbano Rural Urbano Rural Feminino Masculino Feminino Masculino
Fonte: IFAD 2001. Fonte: UNESCO 2000b. Fonte: World Bank 2001h.

12 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


médio de 2% ao ano, aumentando os já elevados rendi- • A democracia é frágil e, frequentemente, sofre re- FIGURA 1.2
Caminhos diferentes
mentos para uma média superior a 22.000 dólares (PPC). versões. Governos eleitos foram derrubados em países do progresso humano
Mas, nos Países Árabes e na América Latina e como a Costa do Marfim e o Paquistão.
Índice de desenvolvimento humano
Caraíbas, o crescimento foi mais lento, de menos de 1%
em média. Muito mais devastador foi o desempenho da O QUE REVELAM OS Í NDICES DE .800
África Subsariana, onde os já baixos rendimentos caíram; DESENVOLVIMENTO E DE POBREZA HUMANAS
Venezuela
em 1975-99, o crescimento do PIB per capita na região Brasil

foi de – 1% em média. Madagáscar e Mali têm, actual- O Relatório deste ano apresenta estimativas do
mente, rendimentos per capita de 799 e 753 dólares índice de desenvolvimento humano (IDH) para 162 .700

(dólares PPC de 1999) – abaixo dos 1.258 e 898 dólares países, assim como as tendências do IDH para 97
(dólares PPC de 1999) de há 20 anos atrás. Em 16 ou- países com dados para 1975-99 (caixa 1.1; ver quadros
tros países subsarianos, os rendimentos per capita tam- de indicadores 1 e 2). Os resultados mostram uma mu-
.600
bém foram mais baixos em 1999 do que em 1975. Na dança substancial da população mundial, de níveis
Europa Oriental e Comunidade de Estados Indepen- baixos para níveis médios de desenvolvimento hu- 1975 1999
dentes (CEI), os rendimentos caíram acentuadamente. mano e de níveis médios para níveis elevados (ver
Fonte: Quadro de indicadores 2.
Desde 1990, os rendimentos per capita diminuíram em destaque 1.1).
16 países-em 4 dos quais, caíram mais de metade. Como medida resumo do desenvolvimento hu- FIGURA 1.3
mano, o IDH realça o sucesso de alguns países e o pro- Nenhuma ligação automática
entre rendimento
NOVOS DESAFIOS E RETROCESSOS gresso mais lento de outros. Por exemplo, a Venezuela e desenvolvimento humano
começou com um IDH mais alto do que o Brasil, em
Rendimento igual, IDH diferente, 1999
O trajecto do desenvolvimento humano nunca é cons- 1975, mas o Brasil fez um progresso muito mais rápido
Rendimento Índice de
tante. O mundo em mudança traz sempre novos desafios, (figura 1.2). Coreia do Sul e Jamaica tinham posições PIB per capita desenvolvimento
(dólares PPC) humano
e a última década assistiu a retrocessos e reversões preo- idênticas no IDH, em 1975, mas actualmente a Coreia
8,000 .800
cupantes. está na posição 27 e a Jamaica na 78.
• No final de 2000, cerca de 36 milhões de pessoas As posições no IDH e no PIB per capita podem 7,000
viviam com HIV/SIDA-95% das quais nos países em de- ser bastante diferentes, mostrando que os países não .700
6,000 Vietname
senvolvimento e 70% na África Subsariana. Só em 1999, têm de esperar pela prosperidade económica para
foram mais de 5 milhões de novos infectados.10 Na África fazer progressos no desenvolvimento humano (ver o 5,000
.600
Subsariana, entre 1985-90 e 1995-2000, mais de 20 países quadro de indicadores 1). Costa Rica e Coreia do Sul
4,000
experimentaram quebras na esperança de vida, devido, tiveram, ambas, ganhos impressionantes no desen-
principalmente, ao HIV/SIDA. Em seis países – Botswana, volvimento humano, reflectidos em IDH superiores a .500 Paquistão
3,000
Burúndi, Namíbia, Ruanda, Zâmbia e Zimbabwe – a es- 0,800, mas a Costa Rica obteve este resultado hu-
2,000
perança de vida reduziu-se de mais de sete anos.11 A propa- mano com apenas metade do rendimento da Coreia. .400
gação do HIV/SIDA tem múltiplas consequências para O Paquistão e o Vietname têm rendimentos seme- 1,000
o desenvolvimento. Rouba aos países pessoas na sua ple- lhantes, mas o Vietname fez muito mais na transfor-
nitude e deixa crianças ao desamparo. No final de 1999, mação desse rendimento em desenvolvimento humano 0

13 milhões de crianças eram órfãos da SIDA.12 (figura 1.3). Portanto, com as políticas certas, os países Fonte: Quadro de indicadores 1.

• Na Europa Oriental e CEI, o impacte destruidor da podem progredir mais depressa no desenvolvimento
transição arrancou um elevado tributo em vidas hu- humano do que no crescimento económico. E se con-
manas, com efeitos adversos sobre o rendimento, esco- seguirem assegurar que o crescimento favorece os po-
larização e esperança de vida, especialmente nos homens. bres, podem fazer muito mais com o crescimento para
• A segurança pessoal continua a ser ameaçada pela promover o desenvolvimento humano.
criminalidade e pelos conflitos. A globalização criou O IDH mede apenas a realização nacional média,
muitas oportunidades para a criminalidade transfron- não mede se ela é bem, ou mal, distribuída num país.
teiriça e para o aumento de sindicatos multinacionais do A desagregação do IDH de um país por região e grupo
crime e de redes. Em 1995, o comércio ilegal de drogas populacional, pode realçar grandes disparidades e,
estava estimado em 400 mil milhões de dólares,13 e cerca em muitos países, os resultados animaram o debate na-
de 1,8 milhões de mulheres e crianças foram vítimas de cional e ajudaram os decisores políticos a avaliar as
tráfico ilegal.14 E, devido a conflitos, o mundo tem ac- diferenças no desenvolvimento humano, entre áreas
tualmente 12 milhões de refugiados e 5 milhões de pes- rurais e urbanas, entre regiões e entre grupos étnicos
soas deslocadas internamente.15 e de rendimento. Na África do Sul, em 1996, o IDH

DESENVOLVIMENTO HUMANO – PASSADO, PRESENTE E FUTURO 13


CAIXA1.1
Medidas do desenvolvimento humano

Os Relatórios de Desenvolvimento Humano, latório do Desenvolvimento Humano (ver dade à nascença de não ultrapassar os 60 anos, a taxa
desde o primeiro, em 1990, têm publicado o índice quadro de indicadores nº 2, para uma tendência do de analfabetismo funcional dos adultos, a per-
de desenvolvimento humano (IDH) como uma me- IDH desde 1975, baseada em metodologia e dados centagem de pessoas que vivem abaixo da linha de
dida compósita de desenvolvimento humano. Desde consistentes). A procura de novos aperfeiçoamen- privação de rendimento (com rendimento
então, foram desenvolvidos três índices comple- tos metodológicos e nos dados para o IDH continua. disponível das famílias inferior a 50% do valor
mentares: o índice de pobreza humana (IPH), o médio) e a taxa de desemprego de longa duração
índice de desenvolvimento ajustado ao género (IDG) (12 meses ou mais).
e a medida de participação segundo o género Índice de pobreza humana
(MPG). O conceito de desenvolvimento humano, Enquanto que o IDH mede o progresso global de
contudo, é muito mais amplo do que o IDH e os um país na realização do desenvolvimento humano, Índice de desenvolvimento ajustado
índices complementares. É impossível apresentar o índice de pobreza humana (IPH) reflecte a dis- ao género
uma medida compreensiva – ou mesmo um conjunto tribuição do progresso e mede a acumulação de pri- O índice de desenvolvimento ajustado ao género
compreensivo de indicadores – porque muitas di- vações ainda existente. O IPH mede a privação nas (IDG) mede os progressos nas mesmas dimensões,
mensões vitais do desenvolvimento humano, tais mesmas dimensões do desenvolvimento humano e utilizando os mesmo indicadores, que o IDH, mas
como a participação na vida da comunidade, não são básico que o IDH. capta as desigualdades na realização entre mulhe-
facilmente quantificáveis. Embora as medidas com- res e homens. É, simplesmente, o IDH ajustado para
pósitas simples possam chamar a atenção para as IPH -1 baixo pela desigualdade entre os sexos. Quanto
questões, com bastante eficácia, estes índices não O IPH-1 mede a pobreza nos países em desen- maior a disparidade entre os sexos quanto ao de-
substituem o tratamento completo de uma pers- volvimento. Aborda as privações em três dimensões: senvolvimento humano básico, menor o IDG de um
pectiva plena de significado como é a do desen- longevidade, medida pela probabilidade à nascença país, comparado com o seu IDH.
volvimento humano. de não ultrapassar os 40 anos; conhecimento, me-
dido pela taxa de analfabetismo de adultos; e apro-
Índice de desenvolvimento humano visionamento económico global, público e privado, Medida de participação segundo o género
O IDH mede os progressos globais de um país, em medido pela percentagem de pessoas que não uti- (MPG)
três dimensões básicas do desenvolvimento hu- lizam fontes de água melhoradas e pela percentagem A medida de participação segundo o género (MPG)
mano – longevidade, conhecimento e nível de vida de crianças menores de cinco anos com peso defi- mostra se a mulher pode tomar parte activa na
digno. É medido pela esperança de vida, nível edu- ciente. vida económica e política. Ela aborda a partici-
cacional (alfabetização de adultos e escolarização pação, medindo a desigualdade entre os sexos nas
combinada do primário, secundário e superior) e IPH -2 áreas fundamentais da participação económica e
rendimento per capita ajustado, em paridades de Dado que a privação humana varia com as política e da tomada de decisão. Rastreia a per-
poder de compra (PPC). O IDH é um resumo e não condições sociais e económicas da comunidade, centagem de mulheres no parlamento, entre os
uma medida compreensiva de desenvolvimento foi concebido um índice separado, o IPH-2, para legisladores, funcionários superiores e gestores e
humano. medir a pobreza humana em países seleccionados entre trabalhadores especializados e técnicos – e a
Como resultado de refinamentos na metodolo- da OCDE, baseado na maior disponibilidade de disparidade ente os sexos quanto ao rendimento
gia do IDH, ao longo do tempo, e de modificações dados. O IPH-2 aborda a privação nas mesmas auferido, reflectindo a independência económica.
nas séries de dados, os valores do IDH não devem três dimensões que o IPH-1, e numa adicional, a Diferindo do IDG, expõe a desigualdade de opor-
ser comparados entre as diferentes edições do Re- exclusão social. Os indicadores são a probabili- tunidades em áreas seleccionadas.

IDH, IPH-1, IPH-2, IDG - Mesmas componentes, medidas diferentes

Índice Longevidade Conhecimento Nível de vida digno Participação ou exclusão

IDH Esperança de vida 1. Taxa de alfabetização de adultos PIB per capita (dólares PPC) —
à nascença 2. Taxa de escolarização combinada

IPH-1 Probabilidade à nascença Taxa de analfabetismo de adultos Privação no aprovisionamento económico medido por: —
de não ultrapassar 1. Percentagem de pessoas que não usa fontes
os 40 anos de água melhoradas
2. Percentagem de crianças menores de cinco anos
com peso deficiente

IPH-2 Probabilidade à nascença Percentagem de adultos que são Percentagem de pessoas que vivem abaixo da linha de Taxa de desemprego
de não ultrapassar funcionalmente analfabetos privação de rendimento (50% do rendimento disponível de longa duração
os 60 anos médio das famílias) (12 meses ou mais)

IDG Esperança de vida 1. Taxas de alfabetização feminina e masculina Rendimentos auferidos estimados —
à nascença 2. Taxas de escolarização combinadas feminino e masculino, reflectindo o poder
feminina e masculina do primário, secundário e superior das mulheres e homens sobre os recursos
feminina e masculina
Fonte: Gabinete do Relatório de Desenvolvimento Humano.

14 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


para a Província do Norte era de apenas 0,531, com- DESIGUALDADES ENTRE SEXOS NAS
parativamente aos 0,712 de Gauteng.16 No Camboja, CAPACIDADES E OPORTUNIDADES
em 1999, o IDH dos 20% mais pobres era de 0,445, FIGURA 1.4
bem abaixo da média nacional de 0,517 e, mais im- Porque avalia apenas a realização média, o IDH mas- Nenhuma ligação automática
entre desenvolvimento humano
portante, quase um terço menos do que o IDH de cara as diferenças entre os sexos no desenvolvimento hu- e pobreza humana
0,623 dos 20% mais ricos.17 Na Guatemala, em 1998, mano. Para revelar estas diferenças, o índice de
IDH igual, IPH diferente, 1999
o IDH rural, de 0,536, estava bem abaixo do IDH ur- desenvolvimento ajustado ao género (IDG), introduzido
bano, de 0,672.18 Nos Estados Unidos, em 1999, o IDH em 1995, ajusta o IDH às desigualdades nas realizações Índice de desen- Índice de po-
volvimento breza humana
dos americanos brancos era de 0,870, á frente dos de homens e mulheres. Este ano, o IDG foi estimado para humano (percentagem)
1.00
0,805 dos afro-americanos e bem mais à frente dos 146 países (ver quadro de indicadores 21). Uganda
40
0,756 das pessoas de origem hispânica.19 No Nepal, Com igualdade entre os sexos no desenvolvimento (IPH-1)
.900
em 1996, o IDH dos intocáveis era de 0,239, quase humano, o IDG e o IDH seriam iguais. Mas, para todos
metade dos 0,439 dos Brâmanes.20 os países, o IDG é mais baixo do que o IDH, indi- Tanzânia
.800 30
(IPH-1)
Outra forma de olhar para a distribuição das rea- cando a presença de desigualdade entre os sexos em todo
lizações nacionais do desenvolvimento humano, é a de o lado. Contudo, a extensão da desigualdade varia signi-
.700
estimar o índice de pobreza humana (IPH), uma me- ficativamente. Por exemplo, enquanto em muitos países 20
dida multidimensional de pobreza introduzida em as taxas de escolarização feminina e masculina são idên- .600
Estados
Unidos
1997. Tanzânia e Uganda, por exemplo, têm posições ticas, em 43 países – incluindo a Índia, Moçambique e (IPH-2)
muito semelhantes no IDH (140 e 141), mas o Uganda Iémen – as taxas masculinas são, no mínimo, 15 pontos .500 10
tem maior pobreza humana (figura 1.4; ver quadro de percentuais mais altas do que as taxas femininas. E, Noruega
(IPH-2)
indicadores 3). Da mesma forma, os 17 países da embora tenha havido um bom avanço na eliminação das .400
OCDE para os quais o IDH foi estimado, têm IDH disparidades entre os sexos na escolarização primária e 0
muito idênticos, contudo os seus IPH variam desde secundária, com o rácio entre raparigas e rapazes a atin-
Fonte: Quadro de indicadores 1, 3 e 4.
6,8% na Suécia, até 15,8% nos Estados Unidos (ver gir 89% no ensino primário e 82% no ensino secundário,
quadro de indicadores 4). nos países em desenvolvimento, em 1997,25 a escolari-
A desagregação regional do IPH de um país pode zação secundária líquida das raparigas diminuiu em 27
identificar concentrações de empobrecimento. No Irão, países, entre meados dos anos 80 e 1997 (quadro 1.3).
em 1996, o IPH desagregado mostrou que a pobreza A medida de participação segundo o género
humana em Teerão era apenas um quarto da de Sistan (MPG), introduzida também em 1995, ajuda a avaliar
e de Baluchestan.21 O IPH urbano das Honduras, em a desigualdade entre aos sexos nas oportunidades
1999, foi menos de metade do índice das áreas rurais.22 económicas e políticas. Este ano, ela foi estimada para
Na Namíbia, em 1998, o IPH das pessoas de língua in- 64 países (ver quadro de indicadores 22). Algumas
glesa foi menos de um nono do que o das pessoas de observações:
língua San.23 Existem diferenças semelhantes no mundo • Os valores da MPG variam de menos de 0,300 até
desenvolvido. Nos Estados Unidos, em 1999, o IPH do mais de 0,800, mostrando a grande variação em todo o
Wisconsin foi menos de metade do índice do Arkansas.24 mundo na capacitação das mulheres.

QUADRO 1.3
Países onde as taxas de escolarização secundária líquida das raparigas diminuiu, 1985-97

Europa do Leste América Latina


Países Árabes Ásia e Pacífico e CEI e Caraíbas África Subsariana

Barém Mongólia Bulgária Bolívia Angola


Catar Croácia Equador Camarões
Iraque Estónia Haiti Congo
Kuwait Federação Russa Honduras Costa do Marfim
Síria Geórgia Guiné
Letónia Guiné Equatorial
Quirguistão Lesoto
Roménia Moçambique
Rep. Centro-Africana
Nota: Refere-se ao declínio de 5% ou mais.
Fonte: UNIFEM 2000

DESENVOLVIMENTO HUMANO – PASSADO, PRESENTE E FUTURO 15


• Apenas 3 dos 64 países – Islândia, Noruega e Sué- RENDIMENTOS DESIGUAIS
cia – têm uma MPG de mais de 0,800. Cerca de 25 países
têm uma MPG de menos de 0,500. Portanto, muitos O rendimento é um meio muito importante de alargar
países têm de avançar muito mais no alargamento de as escolhas das pessoas e é usado no IDH como uma
oportunidades económicas e políticas às mulheres. aproximação ao nível de vida digno. O crescimento do
• Alguns países em desenvolvimento ultrapassam o de- rendimento tem variado consideravelmente entre países,
sempenho de países industrializados muito mais ricos. nas últimas décadas, mais até do que as tendências em
Baamas e Trindade e Tobago estão à frente da Itália e muitos indicadores de desenvolvimento humano. A dis-
Japão. Barbados têm uma MPG 30% superior ao da tribuição do rendimento mundial e a forma como está
Grécia. A mensagem: rendimentos elevados não são um a mudar, são, assim, uma questão vital que merece con-
pré-requisito para criar oportunidades para as mulheres. sideração especial.
O crescimento do • As desagregações da MPG nos relatórios nacionais Os níveis de rendimento entre os países têm di-
de desenvolvimento humano mostram que as diferenças vergido e convergido – com algumas regiões a fecharem
rendimento tem variado
dentro de um país também podem ser grandes. Por o intervalo de rendimento e outros a alargarem-no
consideravelmente entre exemplo, a MPG para o distrito de Puttalam no Sri (figura 1.5). Em 1960, houve um agrupamento por
Lanka, em 1994, era menos de 8% da de Nuwara Eliya.26 regiões, com a Ásia Oriental e Pacífico, a Ásia do Sul,
países, nas últimas
Há muita coisa a melhorar nas oportunidades a África Subsariana e os países menos desenvolvidos, a
décadas, mais até do que económicas e políticas das mulheres. A parcela das mu- revelarem um rendimento médio per capita entre 1/9 e
lheres em emprego remunerado, na indústria e serviços, 1/10 do observado nos países de rendimento elevado da
as tendências em muitos
aumentou na maior parte dos países. No entanto, em OCDE. A América Latina e Caraíbas andaram melhor,
indicadores de 1997, as mulheres que trabalhavam nestes sectores ganha- mas ficaram ainda apenas entre 1/3 e 1/2 do rendimento
vam, geralmente, 78% da remuneração homens. Apenas per capita desses países da OCDE.
desenvolvimento humano
em oito países as mulheres detêm 30%, ou mais, dos lu- O crescimento impressionante da Ásia Oriental e
gares parlamentares. E apenas em quatro – Dinamarca, Pacífico está reflectido na melhoria do rácio entre o
Finlândia, Noruega e Suécia – houve progressos si- seu rendimento e o dos países de rendimento elevado
multâneos nas taxas de escolarização secundária feminina da OCDE, de cerca de 1/10 para quase 1/5, em 1960-98.
(até 95% ou mais), na parcela das mulheres em emprego O rendimento relativo na América Latina e Caraíbas per-
remunerado na indústria e serviços (até cerca de 50%) maneceu mais ou menos igual. O rendimento da Ásia
e na sua parcela de lugares parlamentares (até pelo menos do Sul – depois de ter piorado nos anos 60 e 70, me-
30%).27 lhorando depois significativamente, nos anos 80 e 90 –
mantém-se em cerca de 1/10 do rendimento dos países
da OCDE. Na África Subsariana, a situação piorou dra-
FIGURA 1.5
Rendimentos comparados - regiões em desenvolvimento maticamente: o rendimento per capita, de quase 1/9 do
e países OCDE de rendimento elevado observado nos países de rendimento elevado da OCDE,
PIB per capita regional médio (dólares PPC de 1985) em proporção do dos países OCDE de rendimento elevado
em 1960, caiu para cerca de 1/18, em 1998.
OCDE
América Latina
Apesar de redução nas diferenças relativas entre
& Caraíbas muitos países, os intervalos absolutos no rendimento per
OCDE /5
Ásia Oriental capita aumentaram (figura 1.6). Mesmo para a Ásia
e Pacífico
Oriental e Pacífico, a região de crescimento mais rápido,
OCDE /10 a diferença absoluta do rendimento para o existente
Ásia do Sul nos países de rendimento elevado da OCDE, alargou-se
de cerca de 6.000 dólares, em 1960, para mais de 13.000
OCDE /15 dólares, em 1998 (dólares PPC de 1985).
África
Subsariana
Países DESIGUALDADE DENTRO DE CADA PA Í S –
OCDE /20 menos
desenvolvidos O QUE SE ESCONDE POR DETR Á S
1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 98 DOS RENDIMENTOS MÉDIOS ?

Nota: OCDE de rendimento elevado exclui os membros da OCDE classificados como países em desenvolvimento e os da Europa
do Leste e CEI. Ver a classificação dos países. Igualmente importante é a desigualdade de rendimentos
Fonte: Cálculos do Gabinete do Relatório de Desenvolvimento Humano baseados em World Bank 2001g.
dentro dos países, a qual pode afectar a prosperidade a
longo prazo (caixa 1.2). Embora existam dados razoáveis

16 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


sobre a desigualdade dentro de cada país, para posições uma tendência clara, ou o rendimento diminuiu inicial-
no tempo, os dados não assentam em levantamentos uni- mente, para depois se uniformizar.
formes através dos países e, portanto, as comparações Os países da América Latina e Caraíbas têm das
têm de ser tratadas com cuidado (ver quadro de indi- mais elevadas desigualdades de rendimento do mundo.
cadores 12).28 Mas, ainda que muito grosseiras, essas com- Em 13 dos 20 países que possuem dados para os anos
parações revelam bastante sobre a desigualdade dentro de 90, os 10% mais pobres mais pobres possuem menos
cada país. A variação é ampla, com os coeficientes de de 1/20 do rendimento dos 10% mais ricos. Esta grande
Gini variando de menos de 20 na Eslováquia, até 60 na desigualdade de rendimento coloca milhões na po-
Nicarágua e Suazilândia (figura 1.7). breza extrema e limita fortemente o efeito que um FIGURA 1.6
A situação tem vindo a melhorar, ou a deteriorar-se? crescimento distribuído igualmente tem sobre a po- Alargamento do hiato
do rendimento entre
Não é claro. Um estudo de 77 países, com 82% da popu- breza. Assim, a América Latina e Caraíbas apenas
regiões
lação mundial, mostra que, entre os anos 50 e 90, a de- podem atingir a meta de desenvolvimento da Declara- PIB per capita (dól. PPC de 1985)
sigualdade cresceu em 45 países e caiu em 16.29 Muitos ção do Milénio de reduzir a pobreza para metade até
1960 1998
dos países com desigualdade crescente são os da Europa 2015, se a região gerar maior crescimento e se esse OCDE
Oriental e CEI, que sofreram de crescimento baixo, ou crescimento beneficiar mais do que proporcionalmente de rendimento
15.000 elevado
negativo, nos anos 90. Nos restantes 16 países, ou não houve as populações pobres.30

CAIXA1.2
Porque razão a desigualdade é importante
10.000
Se a desigualdade tem importância, e porquê, é uma • A concentração do rendimento no topo pode minar
velha questão – recuando para o tempo de Karl Marx e as opções de políticas públicas – tais como o apoio a
mesmo antes. Para os economistas do desenvolvimento, uma educação pública universal de alta qualidade – que
preocupados principalmente com os países pobres do podem fazer progredir o desenvolvimento humano. As
mundo, as questões centrais têm sido o crescimento e a políticas populistas que geram inflação prejudicam
América Latina
redução da pobreza, não a desigualdade. E para os econo- os pobres, a longo prazo. Os preços artificialmente 5.000 e Caraíbas
mistas da corrente principal, durante a maior parte do baixos da água e saneamento significam que os serviços
período do pós-guerra do século XX, a desigualdade públicos arruinados nunca se estendem às comu- Ásia Oriental
foi, na pior das hipóteses, um mal necessário – que aju- nidades pobres. Se os ricos apoiarem os subsídios à in- e Pacífico
dou a melhorar o crescimento com a concentração do dústria ou empréstimos baratos aos grandes Ásia do Sul
rendimento nos ricos, que poupam e investem mais, e que proprietários de terras, isso poderá, também, reduzir África
criou incentivos para os indivíduos trabalharem com directamente o crescimento. Desenvolver e executar 0 Subsariana
empenho, inovarem e assumirem riscos produtivos. boas políticas sociais é particularmente difícil onde as Países
Mas a desigualdade de rendimento é importante. Ela desigualdades assumem a forma de concentração no menos
desenvolvidos
é importante, em si mesma, se as pessoas – e os países – topo, combinada com pobreza substancial na base-e,
se preocuparem com o estatuto do seu rendimento rela- portanto, com falta de uma classe média que exija um
Fonte: Cálculos do Gabinete do Relatório de
tivo. Ela pode importar, igualmente, por razões instru- governo responsável.
Desenvolvimento Humano
mentais – ou seja, porque afecta outros resultados. • A desigualdade pode corroer o capital social, in- baseados em World Bank 2001g.
• A desigualdade pode exacerbar os efeitos do mer- cluindo o sentimento de confiança e de responsabili-
cado e dos fracassos políticos sobre o crescimento e, con- dade dos cidadãos, que é fundamental para a formação
sequentemente, sobre o progresso contra a pobreza. e sustentabilidade de organizações públicas sãs. Ela pode
Isto torna a desigualdade um problema especial dos minar a participação em esferas tão comuns da vida da
países pobres, onde os mercados imperfeitos e os fra- comunidade como, os parques, ligas desportivas locais
cassos institucionais são comuns. Por exemplo, onde os e associações de pais – professores de escolas públicas.
mercados de capitais são fracos, os pobres, a quem fal- A criminalidade de rua mina a vida comunitária e as
tam bens colaterais, estão impossibilitados de pedir em- diferenças na desigualdade de rendimento entre países
préstimos. O seu potencial para iniciar pequenos estão estreitamente associadas com as diferenças nas
negócios é limitado – reduzindo o crescimento global e taxas de criminalidade e violência.
limitando as oportunidades dos pobres. Embora o cresci- • A desigualdade pode, ao longo do tempo, aumentar
mento não seja sempre suficiente para fazer avançar o a tolerância de uma sociedade para com a desigualdade.
desenvolvimento humano e reduzir a privação de rendi- Se as pressões mundiais conduzirem a aumentos nas
mento, a experiência da China, da Coreia do Sul e de diferenças de salários (por exemplo, quando sobem os
outros países da Ásia Oriental, sugere que o seu con- salários das pessoas mais qualificadas e com maior mo-
tributo é grande. Finalmente, existe a realidade ari- bilidade internacional), a norma social sobre qual é o hiato
tmética. Mesmo que haja crescimento e os pobres salarial aceitável pode, eventualmente, mudar. Se a de-
consigam ganhos proporcionais, a mesma taxa de cresci- sigualdade tem importância, por qualquer uma das razões
mento gera menos redução da pobreza quando a de- acima mencionadas, também tem importância a possi-
sigualdade é elevada inicialmente. bilidade de ela poder piora.
Fonte: Birdsall (a publicar).

DESENVOLVIMENTO HUMANO – PASSADO, PRESENTE E FUTURO 17


Todos os cinco países sul-asiáticos, para os quais há Gini entre o baixo e o meio, na casa dos 20. As altera-
dados, têm coeficientes de Gini bastante baixos, na ordem ções na desigualdade durante a transição foram pe-
de 30. Embora os Países Árabes apresentem maior vari- quenas em países da Europa Oriental, como a Hungria
ação, também têm desigualdade de rendimento bastante e Eslovénia, mas bastante mais notórias nos países da
baixa. Os países da Ásia Oriental e Pacífico não apresen- antiga União Soviética. A Rússia viu o seu coeficiente
tam um padrão claro – variando da Coreia e Vietname, de Gini dar um salto espectacular de cerca de 24 pon-
quase iguais, para a Malásia e Filipinas, bastante menos tos e a Lituânia de cerca de 14.33
iguais. Entre os países da OCDE também existe diversi-
A China e Índia – dois países com rendimentos per dade na desigualdade de rendimento, desde os baixos
capita baixos, mas de crescimento rápido, e com grandes níveis da Áustria e Dinamarca, até aos relativamente ele-
populações – merecem consideração especial. Na China, vados do Reino Unido e Estados Unidos. Contudo, em ter-
No início dos anos 90, a desigualdade seguiu um padrão em forma de U, caindo mos gerais, a desigualdade de rendimento entre estes
até meados dos anos 80 e crescendo desde então. A história países é relativamente baixa.34 O que se passa com as
os 10% mais pobres
é melhor na Índia, com a desigualdade em queda até há tendências ao longo do tempo? Os resultados de vários
da população pouco e estacionária, depois.31 estudos de países, e entre países, sugerem que a de-
Muitos países na África Subsariana têm níveis eleva- sigualdade de rendimento aumentou em muitos países da
mundial tinham apenas
dos de desigualdade de rendimento. Em 16 dos 22 países OCDE, entre meados e finais de 80 e meados e finais de
1,6% do rendimento subsarianos com dados para os anos 90, os 10% mais po- 90 (quadro 1.4). Embora os dados dos períodos anteriores
bres da população tem menos de 1/10 do rendimento dos sejam mais limitados, estes países parecem ter experi-
dos 10% mais ricos
10% mais ricos, e em 9 países, menos de 1/20. Apesar da mentado uma alteração em forma de U na desigualdade,
necessidade premente de entender o que está a acontecer com as diminuições dos anos 70 a transformarem-se em
com a desigualdade de rendimento ao longo do tempo, aumentos, nos anos 80 e 90. O nível constante do Canadá
nesta região pobre, os dados da tendência na distribuição e a ligeira melhoria da Dinamarca são excepções à tendên-
do rendimento continuam demasiado limitados para per- cia aparente.
mitirem conclusões.
A maior parte dos países na Europa Oriental e DESIGUALDADE MUNDIAL
CEI tem desigualdade relativamente baixa – embora
existam excepções notórias, como as da Arménia e Uma outra medida de desigualdade observa tanto as
Federação Russa.32 Antes da transição para economias comparações entre países, como dentro de cada país –
de mercado, os países da Europa Oriental e CEI estavam alinhando toda a população mundial, desde os mais ricos
agrupados muito proximamente, com os coeficientes de até aos mais pobres (quanto ao poder de compra real),

FIGURA 1.7
Desigualdade de rendimento dentro dos países
Coeficiente de Gini, 1990-98 a

60 Nicarágua Suazilândia
Brasil
Papua-
México -Nova Guiné
50 Nigéria Federação
Russa

China Tunísia Estados Unidos


40 Ethiopia
Paquistão
Jamaica
Burúndi Indonésia
América Coreia Polónia Índia
30 Latina África Egipto Alemanha
do Sul Ásia
e Subsarianaa Dinamarca
Caraíbas Ásia Oriental Países do Sul
20 e Pacífico Eslováquia Árabes
OCDE
Europa
do Leste
10
e CEI

Igualdade perfeita (Gini = 0)


0

a. Os dados referem-se ao último ano disponível em 1990-98.


Fonte: Quadro de indicadores 12.

18 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


independentemente das fronteiras nacionais (caixa 1.3). • No Peru, tem havido um grande movimento de
Um estudo recente de Milanovic compara a população descida e subida na escada do rendimento. As oportu-
mais rica do mundo com a mais pobre, traçando um nidades estão a aumentar com as reformas do mercado,
quadro muito mais completo da desigualdade mundial mas as inseguranças também estão. Entre 1985 e 1991,
do que a simples comparação de médias de países. 61% das famílias tiveram aumentos de rendimento de 30%
Com base em inquéritos às famílias, para o período ou mais, e 14% tiveram quebras de 30% ou mais. Global-
1988-93, o estudo cobre 91 países (com cerca de 84% mente, a mobilidade descendente dominou entre 1985-91,
da população mundial) e ajusta os níveis de rendi- e a mobilidade ascendente dominou em 1991-97.
mento utilizando as conversões das paridades de poder Em todos os países, o ambiente familiar influencia
de compra.35 A desvantagem é que o estudo se apoia significativamente a duração da escolaridade das crian-
totalmente em inquéritos sobre orçamentos familiares ças. As crianças com pais mais ricos e mais instruídos têm,
que não são necessariamente comparáveis e que são limi- sempre, mais probabilidade de melhor desempenho. O 1% mais rico
tados no seu âmbito. No entanto, o estudo produziu al- Mas há grande variação entre países e períodos, depen-
da população mundial
guns resultados poderosos:36 dendo das condições macroeconómicas e das políticas
• A desigualdade mundial é muito elevada. Em 1993, públicas de educação. Uma ênfase posta na escolari- recebeu tanto rendimento
os 10% mais pobres da população mundial tinham ape- dade básica, na despesa pública, melhora a mobilidade
como os 57% mais pobres
nas 1,6% do rendimento dos 10% mais ricos. intergeracional na América Latina.39 Nesta região, uma
• O 1% mais rico da população mundial recebeu pessoa precisa de pelo menos 10 anos de escolaridade para
tanto rendimento como os 57% mais pobres. ter 90% ou mais de probabilidade de não cair na pobreza,
• Os 10% mais ricos da população dos Estados Unidos
(cerca de 25 milhões de pessoas) tinham um rendi-
QUADRO 1.4
mento conjunto maior do que o rendimento dos 43% Tendências da distribuição do rendimento
mais pobres da população mundial (cerca de 2 mil mi- nos países da OCDE
lhões de pessoas). Início a Meados ao
• Cerca de 25% da população mundial recebia 75% meados de 70 final de 80
para para
do rendimento mundial (em dólares PPC).37 início a meados ao
País meados de 80 final de 90
DESIGUALDADE E MOBILIDADE
Austrália 0 +
Áustria 0 ++
Bélgica 0 +
Duas sociedades com a mesma desigualdade de rendimento Canadá – 0
podem diferir muito quanto à mobilidade e oportunidade Dinamarca .. –
Finlândia – +
de cada indivíduo – e quanto à mobilidade e oportu- França – ..
nidade que as crianças têm relativamente aos seus pais. A in- Alemanha – +
Irlanda – +
cidência na mobilidade ajuda a identificar os factores que Itália –– ++
bloqueiam as oportunidades dos pobres e contribuem Japão 0 ++
Holanda 0 ++
para a transmissão intergeracional de pobreza. Esta abor- Nova Zelândia 0 +++
dagem é bastante adequada para avaliar os efeitos das mu- Noruega 0 ++
Suécia – +
danças de política sobre a pobreza e a desigualdade. Suíça .. +
O problema é que a mobilidade é difícil de medir Reino Unido ++ ++
Estados Unidos ++ ++
com precisão. No entanto, os poucos estudos que a
Nota: Os resultados são baseados na variação percentual dos coefi-
examinam são sugestivos.38 cientes de Gini e reflectem as tendências gerais relatadas em estudos
• Na África do Sul, 63% das famílias pobres, em nacionais e comparativos. Contudo, as tendências são sempre sensíveis
aos pontos iniciais e finais, bem como a outros factores. Os símbolos
1993, continuavam a sê-lo em 1998, enquanto 60% das seguintes indicam a mudança na desigualdade do rendimento:
famílias na categoria de rendimento mais elevada, em + + + Crescimento de mais de 15%
+ + Crescimento de 7-15%.
1993, se mantinham nela, em 1998, demonstrando mo- + Crescimento de 1-7%.
bilidade de rendimento limitada. 0 Variação entre -1% e 1%.
– Diminuição de 1-7%.
• Na Rússia, a mobilidade descendente foi extrema – – Diminuição de 7-15%.
nos últimos anos da década de 90. Entre as famílias no – – – Diminuição de mais de 15%.
.. Não existem estimativas consistentes disponíveis.
quintil de rendimento mais elevado, em 1995, perto de Fonte: Smeeding 2001a (a aparecer).
60% deslizou para quintis mais baixos, até 1998 – e 7%
caiu para o último quintil.

DESENVOLVIMENTO HUMANO – PASSADO, PRESENTE E FUTURO 19


ou de sair dela. E possuir apenas menos dois anos de es- e dá orientações de política para a acção política aos mais
colaridade representa menos 20% de rendimento para altos níveis.41 O relatório estimulou a discussão pública
o resto da vida activa de uma pessoa.40 sobre a acessibilidade aos medicamentos antiretrovi-
Com a globalização e o crescimento conduzido rais e se o Governo deve ser responsável pela sua pro-
pela tecnologia, como irão mudar os determinantes da visão. O Ministro da Saúde do Botswana pediu, então,
mobilidade? ao Banco do Botswana para explorar a viabilidade fi-
nanceira de tal abordagem. Foram convocadas reuniões
O DESENVOLVIMENTO HUMANO – NO CENTRO no PNUD com os principais accionistas, incluindo a
DA AGENDA ACTUAL Agência Nacional de Coordenação da SIDA, os Minis-
térios da Saúde, Finanças e Desenvolvimento e as prin-
Mais de 360 relatórios nacionais e sub-nacionais de cipais companhias de seguros. Aquelas consultas
Os relatórios nacionais de desenvolvimento humano foram produzidos por 120 conduziram a uma decisão do Presidente do Botswana,
países, a acrescentar a 9 relatórios regionais. Os re- em Março de 2001, de prover medicamentos antiretro-
desenvolvimento humano
latórios introduziram o conceito de desenvolvimento hu- virais grátis aos 17% da população do país com HIV.
introduziram o conceito mano nos diálogos de política nacional – não somente O relatório de 2000, das Filipinas, analisa as questões
através de indicadores de desenvolvimento humano e de da educação e os desafios que a sociedade filipina en-
de desenvolvimento
recomendações de política, mas também através de frenta nos próximos anos.42 Apela ao país para tirar
humano nos diálogos processos de consulta conduzidos pelos países, recolha partido da era das redes e das transformações tec-
de dados e elaboração de relatórios. nológicas actuais. O relatório estimulou importantes
de política nacional
O relatório de desenvolvimento humano de 2000, debates sobre a reforma da educação, no Senado e no
do Botswana, foca o modo como o HIV/SIDA está a re- seio do Governo do país. O relatório nacional de 1997
duzir o crescimento económico e a aumentar a pobreza, ajudou a catalisar uma directiva presidencial requerendo

CAIXA1.3
Comparações internacionais de padrões de vida –
a necessidade das paridades de poder de compra
Para comparar os rendimentos das pessoas em países de câmbio não só produz medidas de desigualdade muito
diferentes, os rendimentos têm, primeiro, de ser conver- mais elevadas, como também afecta as tendências da de-
tidos numa moeda comum. Até 1999, o Relatório do sigualdade.
Desenvolvimento Humano utilizou medidas de rendi- Com a medida da taxa de câmbio, o rácio do rendi-
mento baseadas nas conversões de taxas de câmbio, para mento entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres
avaliar a desigualdade mundial do rendimento (como na cresceu de 34 para 1, em 1970, para 70 para 1, em 1997.
comparação do rendimento dos 20% mais ricos e dos 20% Com a medida da PPC, o rácio desceu de 15 para 1 até
mais pobres do mundo). Mas as conversões das taxas de 13 para 1. Embora ambas as medidas mostrem de-
câmbio não tomam em consideração as diferenças de sigualdade crescente entre os 10% mais ricos e os 10%
preços entre os países, o que é fundamental quando se mais pobres, a medida da taxa de câmbio mostra um au-
comparam padrões de vida. Para ter em conta estas dife- mento muito maior do que o crescimento dos padrões
renças de preços, são usadas as taxas de conversão de pari- de vida reais.
dades de poder de compra (PPC) para converter os Embora a PPC seja a melhor forma de converter o
rendimentos numa moeda comum, da qual foram elimi- rendimento quando se comparam padrões de vida, elas
nadas as diferenças entre os níveis de preços nacionais. não estão livres de problemas teóricos e práticos. Estes
As duas abordagens para medir a desigualdade pro- problemas apontam para a necessidade de maior apoio
duzem resultados muito diferentes. A utilização de taxas – financeiro e organizacional – à recolha de dados da PPC.

Desigualdade de rendimento entre os mais ricos e os mais pobres do mundo, com base nas médias dos
países, 1970 e 1997

10% mais ricos para 20% mais ricos para


os 10% mais pobres os 20% mais pobres
Medida 1970 1997 1970 1997

Taxa de câmbio 51,5 127,7 33,7 70,4


Paridade de poder de compra 19,4 26,9 14,9 13,1

Fonte: UN 2000b; Melchior, Telle e Wiig 2000; Cálculos do Gabinete do Relatório de Desenvolvimento Humano baseados em World Bank 2001h e 2001g.

20 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


que os governos locais destinassem pelo menos 20% do emprego em pequenas actividades. Animou, também, de-
rendimento interno às prioridades do desenvolvimento bates construtivos nos meios de comunicação e entre pre-
humano.43 sidentes de Câmaras, governadores e ministros, sobre
Muitos dos 25 estados da Índia rivalizam com países assuntos como a descentralização, orçamentos munici-
de dimensão média, em dimensão, população e diver- pais, realização educacional e subsídios.
sidade. O governo de Madhya Pradesh foi o primeiro Depois do lançamento, em 2000, do Atlas do De-
a preparar um relatório estadual sobre o desenvolvimento senvolvimento Humano do Brasil – uma base de
humano, em 1995, para trazer o tema para o discurso dados electrónica com indicadores de desenvolvimento
político e para o planeamento do investimento.44 Até humano para todos os 5.000 municípios brasileiros – a
1998, os serviços sociais representavam mais de 42% do lei orçamental da administração central, para 2000,50 foi
investimento planeado, em comparação com os 19% do revista de forma a tornar o IDH obrigatório na abor-
orçamento do plano anterior.45 Relatórios do desen- dagem dos programas sociais. Encorajado por esse A Declaração do Milénio
volvimento humano foram também preparados em Gu- movimento, o Estado de São Paulo produziu um novo
reconhece a sua
jarat, Karnataka e Rajasthan e estão em curso em índice que reflecte quer o desenvolvimento humano, quer
Arunachal Pradesh, Assam, Himachal Pradesh e Tamil a responsabilidade social. Tendo decidido institu- "responsabilidade colectiva
Nadu.46 A preparação dos relatórios pelos estados trans- cionalizar o índice, o órgão legislativo do Estado tenciona
de defender os princípios
formou as prioridades de desenvolvimento humano em aprovar um decreto tornando a produção do índice
parte importante do discurso político e das estratégias obrigatória para as administrações das cidades. da dignidade humana,
de desenvolvimento.
igualdade e equidade,
O primeiro relatório de desenvolvimento humano OS OBJECTIVOS DO DESENVOLVIMENTO E ERRADICAÇÃO
do Kuwait, em 1997, aumentou a consciência sobre o DA POBREZA DA DECLARAÇÃO DO MILÉNIO ao nível mundial"
conceito de desenvolvimento humano e sobre a sua
relevância na luta do país para mudar da dependência À medida que o mundo entrava no novo milénio, chefes
do petróleo para uma economia baseada no conheci- de estado e de governo reuniram-se na Assembleia
mento.47 A produção e a promoção do relatório con- Geral das Nações Unidas para definir a sua visão para
tribuíram para o avanço de novas ideias nas o mundo. Os líderes da cimeira adoptaram a Declaração
universidades, instituições de investigação e Governo. do Milénio das Nações Unidas reconhecendo a sua
O Ministério do Plano começou a monitorizar o de- "responsabilidade colectiva de defender os princípios
senvolvimento humano e a incorporar a abordagem do da dignidade humana, igualdade e equidade, ao nível
desenvolvimento humano nos seus indicadores de mundial". Entre os muitos objectivos estabelecidos pela
planeamento estratégico. Dado o sucesso do primeiro declaração estão objectivos específicos, quantificados e
relatório, o Ministério está a dar seguimento a um se- monitorizáveis, para o desenvolvimento e erradicação da
gundo. pobreza até 2015:
O relatório de 2000, da Colômbia, olha para os di- • Reduzir a metade a proporção da população
reitos humanos como uma parte intrínseca do desen- mundial que vive com menos de 1 dólar por dia.
volvimento e mostra como eles trazem princípios de • Reduzir a metade a proporção da população
responsabilidade e justiça social para o processo de de- mundial que sofre de fome.
senvolvimento.48 Mostrando as fraquezas na interpre- • Reduzir a metade a proporção da população
tação e execução de alguns direitos constitucionais, o mundial que não tem acesso a água potável.
relatório conduziu os debates e diálogos sobre os direi- • Alcançar a escolaridade primária completa a nível
tos humanos para um novo nível, focando fortemente mundial.
os direitos económicos, sociais e culturais. Sublinha os • Alcançar a igualdade entre os sexos no acesso à edu-
serviços sociais básicos, discute a exclusão social e re- cação.
visita os direitos do trabalho na globalização, trazendo • Reduzir em três quartos as taxas de mortalidade ma-
uma nova visão para o desenvolvimento da Colômbia. terna.
O relatório de 2000, da Bulgária, analisando a situa- • Reduzir em dois terços as taxas de mortalidade de
ção socioeconómica em cada um dos 262 municípios do menores de cinco anos.
país, iniciou uma concorrência saudável entre municípios • Parar e começar a inverter a propagação do
vizinhos para melhorar o desenvolvimento humano.49 HIV/SIDA, malária e outras doenças importantes.
O relatório foi utilizado na determinação de posições alvo Estas metas baseiam-se nos objectivos de desen-
para um amplo programa governamental de criação de volvimento internacional, que incluem mais três metas até

DESENVOLVIMENTO HUMANO – PASSADO, PRESENTE E FUTURO 21


DESTAQUE 1.3
OBJECTIVOS DA DECLARAÇÃO DO MILÉNIO PARA 2015

Um balanço geral do desenvolvimento humano – objectivos, realizações e percurso incompleto

Objectivos Realizações Percurso incompleto

Reduzir para metade a proporção das pes- Entre 1990 e 1998, a parcela das pessoas Mesmo que a proporção seja reduzida
soas que vivem em pobreza extrema. que vivem com menos de 1 dólar (PPC para metade em 2015, existirão ainda 900
dólares 1993) por dia, nos países em de- milhões de pessoas vivendo em pobreza
senvolvimento, foi reduzida de 29% para extrema, no mundo em desenvolvimento.
24%.
Reduzir para metade a proporção das pes- O número de pessoas subalimentadas, no O mundo em desenvolvimento tem ainda
soas famintas. mundo em desenvolvimento, caiu até 40 826 milhões de pessoas subalimentadas.
milhões, entre 1990-92 e 1996-98.

Reduzir para metade a proporção das pes- Cerca de 80% das pessoas do mundo em Perto de mil milhões de pessoas não têm,
soas que não têm acesso a água potável. desenvolvimento têm, agora, acesso a ainda, acesso a fontes de água melhoradas.
fontes de água melhoradas.

Inscrever todas as crianças no ensino Até 1997, mais de 70 países tinham taxas Nos próximos 15 anos deverão ser tomadas
primário. de escolarização primária líquidas superio- medidas para os 113 milhões de crianças
Obter a realização universal da escolari- res a 80%. que estão agora fora do ensino primário e
dade primária. Em 29 dos 46 países com dados, 80% das para os milhões que vão entrar na idade es-
crianças inscritas atingem o 5º ano. colar.

Capacitar as mulheres e eliminar as de- Até 1997, a taxa de escolarização feminina Em 20 países, as taxas de escolarização se-
sigualdades entre os sexos na educação nos países em desenvolvimento tinha cundária das raparigas continuam a ser
primária e secundária. atingido 89% da taxa masculina ao nível menores do que dois terços das taxas dos
do primário e 82% no secundário. rapazes.

Reduzir as taxas mortalidade materna até Apenas 32 países conseguiram uma taxa Em 21 países, a taxa de mortalidade ma-
três quartos. de mortalidade materna registada inferior terna registada excede 500 por 100.000
a 20 por 100.000 nados-vivos. nados-vivos.

Reduzir as taxas de mortalidade infantil Em 1990-99 a mortalidade infantil foi re- A África Subsariana tem uma taxa de mor-
até dois terçosa duzida em mais de 10%, de 64 por 1.000 talidade infantil superior a 100 e uma taxa
nados-vivos para 56. de mortalidade de menores de cinco anos
Reduzir as taxas de mortalidade de A mortalidade de menores de cinco anos superior a 170 – e tem vindo a fazer um
menores de cinco anos até dois terços. foi reduzida de 93 por 1.000 nados-vivos progresso mais lento do que outras
para 80, em 1990-99. regiões.

Parar e começar a inverter a propagação Em alguns países, como o Uganda e pos- Cerca de 36 milhões de pessoas vivem com
do HIV/SIDA. sivelmente a Zâmbia, a prevalência do HIV/SIDA.
HIV/SIDA está a dar sinais de declínio.

Prover acesso a serviços de saúde reprodu- A prevalência de contraceptivos atingiu Cerca de 120 milhões de casais que
tiva a todos os interessados.a cerca de 50% nos países em desenvolvi- querem usar a contracepção não têm
mento. acesso a ela.

Executar estratégias nacionais de desen- O número de países que estão a adoptar A execução das estratégias continua a ser
volvimento sustentável até 2005, para in- estratégias de desenvolvimento sustentável mínima.
verter a perda de recursos ambientais até cresceu de menos de 25 em 1990 para mais
2015.a de 50 em 1997.

a. Objectivo do desenvolvimento internacional.

22 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


Os objectivos do desenvolvimento e erradicação da pobreza da Declaração do Milénio: como vão os países?
Número de países
Objectivo muito atrasados ou em queda
(para 2015)
África
Igualdade entre os sexos Realizado No caminho Realizado Muito atrasado Em queda Total PMD Subsariana
Eliminar a disparidade no ensino primário 15 57 2 13 1 14 9 9
Eliminar a disparidade no ensino secundário 39 25 3 16 2 18 10 12
NÚMERO DE PAÍSES
Mortalidade infantil e juvenil
Reduzir as taxas de mortalidade infantil até dois terços a 63 14 73 9 82 27 35
Reduzir as taxas de mortalidade de menores de cinco até dois terços 66 17 66 10 76 26 34

Mortalidade materna
Reduzir as taxas de mortalidade materna até três quartos 13 49 46 37 37 27 31

Comodidades básicas
Reduzir para metade a proporção de pessoas sem acesso a água potável 18 32 42 41 41 27 26

Fome
Reduzir para metade a proporção de pessoas famintas 6 37 3 23 17 40 16 21

Educação universal
Inscrever todas as crianças no ensino primário 5 27 4 13 9 22 9 10
Obter a realização universal da escolaridade primária 8 32 28 15 15 11 11

Privação de rendimento extrema


Reduzir para metade Padrão de crescimento 11 4 39 31 70 14 17
a proporção de pessoas das actividades habituais
29 6 19 31 50 9 13
que vivem em pobreza extrema Padrão de crescimento
favorável aos pobres

Nota: A análise exclui os países de rendimento elevado da OCDE. Ver a nota técnica 3 para uma explicação dos critérios de avaliação do progresso e para informação sobre as fontes dos dados usados. PMD significa
países menos desenvolvidos.
a. Objectivo do desenvolvimento internacional.

Objectivos da Declaração do Milénio: como vão os países?


Percentagem da população mundiala Atrasado,
Realizado ou muito atrasado
Objectivo (para 2015) no caminho ou em queda Sem dados
Igualdade entre os sexos
Eliminar a disparidade no ensino primário 58 5 22
Eliminar a disparidade no ensino secundário 42 22 21
Mortalidade infantil e juvenil
Reduzir as taxas de mortalidade infantil até dois terçosb 23 62 (.)
Reduzir as taxas de mortalidade de menores de cinco até dois terços 23 62 (.)
Mortalidade materna
Reduzir as taxas de mortalidade materna até três quartos 37 48 (.)
Comodidades básicas
Reduzir para metade a proporção de pessoas sem acesso a água potável 12 70 3
Fome
Reduzir para metade a proporção de pessoas famintas 62 11 12
Educação universal
Inscrever todas as crianças no ensino primário 34 5 46
Obter a realização universal da escolaridade primária 26 13 46
Privação de rendimento extrema
Reduzir para metade a proporção Padrão de crescimento das actividades habituais 43 34 8
de pessoas que vivem em pobreza extrema Padrão de crescimento favorável aos pobres 54 23 8

Nota: As parcelas da população não somam 100 porque a análise exclui os países de rendimento elevado da OCDE.
a. Refere-se à soma das populações dos países nas respectivas categorias, em percentagem da população mundial.
b. Objectivo do desenvolvimento internacional.
Fonte: FAO 2000b; UNICEF 2001b, 2001c; World Bank 2000c, 2001h; UNESCO 2000b; UNFPA 2001; UNAIDS 1998, 2000b; IMF, OECD, UN e World Bank 2000; Hanmer, Healey e Naschold 2000.

DESENVOLVIMENTO HUMANO – PASSADO, PRESENTE E FUTURO 23


2005 – nomeadamente, reduzir em dois terços as taxas tros objectivos (ver a contribuição especial do Presidente
de mortalidade infantil, prover o acesso aos serviços de Kim Dae-jung da Coreia do Sul). Para além disso, mais
saúde reprodutiva a todos os que o queiram e executar de 60% da população mundial vive em 43 países que atin-
estratégias nacionais para o desenvolvimento sustentado, giram, ou estão em vias de atingir, o objectivo de redução
para inverter a perda de recursos ambientais até 2015.51 para metade do número de pessoas famintas.
Quais são as perspectivas de realização destes objec- As más notícias são as de que, em outras áreas,
tivos? As boas notícias são as de que, para a educação mais de metade dos países para os quais existem dados
primária universal e igualdade entre os sexos na edu- disponíveis, não irão atingir os objectivos sem uma
cação, muitos dos países em desenvolvimento que pos- aceleração significativa no progresso. Muitos destes
suem dados, já atingiram estes objectivos ou estão no fazem parte dos países menos desenvolvidos, na África
caminho para o conseguir (figura 1.3). Devido à im- Subsariana. Enquanto 50 países atingiram, ou estão em
portância da educação para tantas áreas do desenvolvi- vias de atingir, o objectivo da água potável, 83 países ,
mento, estas brilhantes perspectivas reforçam as representando 70% da população mundial, estão a
possibilidades de acelerar o progresso em direcção a ou- atrasar-se ou estão muito para trás. E enquanto 62 países

CONTRIBUIÇÃO ESPECIAL
Desenvolvimento dos recursos humanos no século XXI: aumentar o conhecimento e as capacidades de informação
Estamos a viver numa era de conhecimento e de in- suas próprias escolas de Budismo e Confu- detém, está também a alargar-se. O mundo inteiro
formação, repleta de oportunidades mas, também, cionismo. deve cooperar para estreitar a diferença e procurar
de perigos. Existem oportunidades para que os Baseados nesta tradição, estamos a fazer um a prosperidade comum. Para esse fim, devemos
menos privilegiados e os pobres se tornem ricos e esforço concertado para desenvolver os nossos re- levar "a globalização da informação" um passo
fortes. Mas, ao mesmo tempo, existe o perigo de que cursos humanos com vista a tomar a dianteira na mais adiante, para "a globalização dos benefícios
o hiato entre os países ricos e pobres possa alar- era do conhecimento e da informação. Estamos da informação". Os países em desenvolvimento
gar-se. A mensagem é clara. Temos que continuar a oferecer oportunidades educativas a todos os devem ser capazes de participar no processo de pro-
a desenvolver os nossos recursos humanos. cidadãos, incluindo estudantes, agricultores, moção das capacidades de informação e de rece-
O sucesso ou o fracasso dos indivíduos e dos países, pescadores, homens e mulheres das forças mili- ber a sua parcela justa de benefícios. Devemos
assim como a prosperidade da humanidade, de- tares e prisioneiros, para aumentar as suas ca- fazer um esforço conjunto, quer regional, quer
pende de conseguirmos desenvolver sensatamente pacidades de informação. Completámos a mundialmente, para que toda a humanidade possa
os nossos recursos humanos. construção de uma rede nacional de auto-estradas partilhar os benefícios da informação avançada e
Durante o século XX elementos tão tangíveis de informação e estamos, agora, a providenciar das tecnologias de comunicação.
como o capital, o trabalho e os recursos naturais às escolas elementares, médias e secundárias o As propostas da Coreia para o desenvolvi-
foram a força condutora por detrás do desen- acesso rápido e gratuito à Internet. Estamos a mento conjunto de indústrias de ponta foram
volvimento económico. Mas, no novo século, ele- combinar indústrias convencionais, como a pro- adoptadas em vários fóruns multilaterais, incluindo
mentos tão intangíveis como a informação e a dução de automóveis, construção naval, têxteis e a ASEM, a APEC e a ASEAN+3. Além disso, a
criatividade darão aos países uma vantagem com- mesmo a indústria agrícola, com capacidades de Coreia organizou em Seul, em Fevereiro de 2000,
petitiva. Consequentemente, se formos bem suce- informação. um fórum sobre Cooperação Sul-Sul em Ciência
didos no desenvolvimento do potencial dos nossos O número de utilizadores da Internet na Co- e Tecnologia, em conjugação com o Programa das
cidadãos, fomentando um espírito de aventura cria- reia atingiu, recentemente, o máximo de 20 milhões Nações Unidas para o Desenvolvimento, para aju-
tivo, os indivíduos e os países tornar-se-ão ricos, e cerca de 28% da população, ou 4 milhões de dar a construir uma rede de cooperação de de-
mesmo que não possuam muito capital, trabalho ou famílias, têm acesso rápido à Internet. E planeamos senvolvimento tecnológico entre os países em
recursos naturais. produzir cerca de 200.000 especialistas em infor- desenvolvimento.
A Coreia do Sul não é dotada com recursos mação e tecnologia por volta de 2005. Tudo isto faz A Coreia continuará a apoiar os países em de-
naturais e capital suficientes, mas o seu povo pos- parte dos nossos esforços para tornar a Coreia num senvolvimento através do programa de ajuda pública
sui o espírito do desafio e a confiança de que se país com capacidades de conhecimento e infor- ao desenvolvimento, ao mesmo tempo que participa
pode tornar num país avançado de primeira ordem mação avançadas no século XXI. activamente nos esforços internacionais para aju-
no novo século. A fonte da sua confiança está no Acredito que os países em desenvolvimento dar esses países a aumentar as suas capacidades de
seu potencial inato e na sua determinação de se de- que ficaram para trás na sua industrialização, du- informação. É crença deste governo, que só através
senvolver ao máximo. Com o seu entusiasmo per- rante o século XX, podem ultrapassar a pobreza e de tais esforços toda a humanidade pode partilhar
manente pela educação, o povo Coreano alcançar o crescimento económico através do de- a paz e a prosperidade.
desenvolveu uma base de conhecimento impres- senvolvimento bem sucedido dos seus recursos hu-
sionante. A percentagem de alunos do ensino se- manos. E para o fazerem, são vitais a ajuda e a
cundário que entra na Universidade é de 68% na cooperação da comunidade internacional.
Coreia, uma das taxas mais elevadas do mundo. O aumento das capacidades de informação
Os Coreanos têm também uma rica tradição de pode trazer-nos a abundânica, através do aumento
criatividade, absorvendo as culturas importadas na da eficiência. Mas a divisão digital entre os que Kim Dae-jung
sua própria cultura, como é exemplificado pelas detém a tecnologia de informação e os que não a Presidente da Coreia do Sul

24 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


estão em vias de reduzir a mortalidade materna até três 60% da população mundial, estão a atrasar-se ou a ficar
quartos, 83 estão a atrasar-se ou estão muito para trás. muito para trás – e em 10 países, as taxas de mortalidade
Quanto à privação de rendimento, mais de 40% da de menores de cinco anos estão a aumentar. Embora não
população mundial vive em países que estão no caminho existam dados de tendência comparáveis sobre a
para atingir o objectivo. Mas, estão concentrados em 11 prevalência do HIV/SIDA para fazer uma análise com-
países, incluindo a Índia e a China, enquanto 70 países pleta, a prevalência mundial do HIV/SIDA entre os O avanço tecnológico
estão muito atrasados ou em queda. Ainda que estes adultos está ainda em crescimento, com apenas poucos
contribuiu grandemente
países contenham apenas um terço da população países, como o Uganda e, possivelmente, a Zâmbia, a
mundial, no entanto, correspondem a mais de metade darem sinais de redução.52 para a aceleração do
de todos os países em desenvolvimento. Sem a China e O progresso humano nos últimos 30 anos mostra-
progresso humano nos
a Índia, 9 países, com 5% da população mundial, estariam nos o que é possível. O mesmo faz o Relatório deste ano.
no caminho para reduzir a metade a proporção das pes- Uma das suas principais mensagens é a de que o avanço vários séculos anteriores
soas que vivem com extrema privação de rendimento. tecnológico contribuiu grandemente para a aceleração
A situação é possivelmente muito séria para a mortali- do progresso humano nos vários séculos anteriores.
dade de menores cinco anos. Enquanto 66 países estão Estas contribuições têm a promessa duma aceleração
em vias de atingir o objectivo, 83 países, com cerca de ainda maior.

DESENVOLVIMENTO HUMANO – PASSADO, PRESENTE E FUTURO 25


CAPÍTULO 2

Transformações tecnológicas actuais –


criação da era das redes

A inovação tecnológica é essencial para o progresso A TECNOLOGIA PODE SER UM INSTRUMENTO – E NÃO As transformações
humano. Desde a tipografia ao computador, desde a APENAS UMA RECOMPENSA – DE DESENVOLVIMENTO
tecnológicas actuais estão
primeira utilização da penicilina até à utilização alargada
de vacinas, as pessoas têm procurado instrumentos para A tecnologia não é intrinsecamente boa ou má – os interligadas com uma
a melhoria da saúde, aumento da produtividade e aper- resultados dependem da forma como é utilizada. Este
outra transformação –
feiçoamento da aprendizagem e comunicação. Hoje, a Relatório trata das formas como as pessoas podem criar
tecnologia está a merecer uma nova atenção. Porquê? e utilizar a tecnologia para melhorar as vidas humanas, a globalização – e juntas
Porque os progressos digitais, genéticos e moleculares especialmente para reduzir a pobreza global.
estão a criar a era das
estão a avançar as fronteiras de possibilidades de uti- Algumas pessoas argumentam que a tecnologia é
lização da tecnologia para a erradicação da pobreza. uma recompensa do desenvolvimento, sendo inevitável redes
Estes avanços estão a criar novas possibilidades de que a desigualdade digital segue a desigualdade de
melhoria da saúde e nutrição, de expansão dos conhe- rendimentos. É verdade que, à medida que os rendi-
cimentos, de estímulo do crescimento económico e de mentos aumentam, as pessoas ganham acesso aos bene-
maior poder de participação das pessoas nas suas fícios dos avanços tecnológicos. Mas, muitas tecnologias
comunidades. são instrumentos do desenvolvimento humano, que per-
As transformações tecnológicas actuais estão in- mitem às pessoas aumentarem o seu rendimento,
terligadas com uma outra transformação – a globalização viverem mais tempo, serem mais saudáveis, gozar um
– e juntas estão a criar um novo paradigma: a era das melhor nível de vida, participarem mais nas suas co-
redes. Estas transformações alargam as oportunidades munidades e terem vidas mais criativas. Desde os tem-
e aumentam as recompensas sociais e económicas da pos mais remotos que as pessoas concebem
criação e utilização de tecnologia. Também estão a al- instrumentos para resolverem os desafios da sua exis-
terar as formas através das quais – e através de quem tência, desde a guerra aos cuidados de saúde até à
– a tecnologia é criada e possuída, e as formas como ela produção agrícola (caixa 2.1). A tecnologia é como a
é disponibilizada e utilizada. Um novo mapa de ino- educação – permite às pessoas saírem da pobreza.
vação e difusão está a emergir. Pólos de crescimento
tecnológico – centros que juntam institutos de inves-
CAIXA 2.1
tigação, empresas emergentes e capital de risco – estão
Tecnologia e identidade humana
a espalhar-se pelo mundo, desde Silicon Valley (Esta-
A tecnologia tem estado no coração do pro- para beber água e suspensórios de cabedal
dos Unidos) a Bangalore (Índia) ou El Ghazala
gresso humano desde os tempos mais anti- para carregar bebés. Há cerca de meio mi-
(Tunísia), ligados através de redes de desenvolvimento gos. Os nossos antepassados pré-humanos lhão de anos, por toda a África, Ásia e Eu-
de tecnologia. Mas estas novas redes e oportunidades preparavam varas para alcançar alimentos, ropa, o Homo erectus preparava elegantes
sobrepõem-se a um outro mapa que reflecte uma longa usavam folhas para apanhar água e atiravam machados em forma de folhas e aparente-
pedras quando estavam zangados, tal como mente usava o fogo. A nossa própria espé-
história de tecnologia distribuída desigualmente, tanto os chimpanzés fazem hoje. A primeira es- cie, o Homo sapiens – o "homem sábio", de
dentro de como entre países. pécie humana chama-se Homo habilis – o há 40.000 anos atrás na Europa, Médio Ori-
Nenhum indivíduo, organização, empresa ou go- "homem hábil". Os seus fósseis, com mais ente e Austrália – fabricava ferramentas de
de 2,5 milhões de anos, jazem ao lado de pe- pedra, osso e hastes, bem como adornos
verno pode ignorar estas mudanças. Este novo ter-
dras lascadas, as primeiras incontestáveis como colares, e desenhava arte simbólica
reno requer mudanças na política pública – nacional ferramentas de pedra. O Homo antigo pode nas paredes de pedra – tecnologia ao serviço
e mundial – para aproveitar as transformações tecno- ter usado as tecnologias perecíveis de cabaças de ideias e da comunicação.
lógicas actuais como instrumentos para o desenvolvi- Fonte: Jolly 2000.
mento humano.

TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS ACTUAIS – CRIAÇÃO DA ERA DAS REDES 27


FIGURA 2.1
Logo, a tecnologia é um instrumento para, e não ape-
Ligações entre tecnologia e desenvolvimento humano nas uma recompensa de, crescimento e desenvolvi-
mento.
A inovação tecnológica afecta o desenvolvimento
Construção das capacidades humanas
Viver uma vida longa e saudável
humano de duas formas (figura 2.1). Primeiro, pode
Adquirir conhecimento e ser criativo melhorar directamente as capacidades humanas. Muitos
Gozar de um nível de vida digno produtos – variantes de plantas resistentes a secas para
Participar na vida social, económica
e política de uma comunidade agricultores que habitam em climas incertos, vacinas
para doenças infecciosas, fontes de energia limpa para
Recursos para educação, cozinhar, acesso à Internet para a informação e co-
saúde, comunicação
municação – melhoram directamente a saúde, nu-
Emprego
Progressos na trição, conhecimento e nível de vida das pessoas,
medicina, aumentando a sua capacidade de participar mais acti-
Conhecimento comunicações,
Crescimento económico vamente na vida social, económica e política de uma
Criatividade agricultura,
energia, comunidade.
Ganhos de manufactura
Segundo, a inovação tecnológica é um meio para
Recursos para produtividade
o desenvolvimento atingir o desenvolvimento humano, através do seu
tecnológico
impacte no crescimento económico através dos ganhos
de produtividade que gera. Aumenta o rendimento das
colheitas dos agricultores, o produto dos trabalhadores
Mudança tecnológica
industriais e a eficiência dos fornecedores de serviços
e das pequenas empresas. Também cria novas activi-
dades e indústrias – tal como no sector de tecnologias
da informação e da comunicação – contribuindo para
o crescimento económico e para a criação de em-
CAIXA 2.2
prego.
A Ciência moderna cria tecnologias simples – terapia
de reidratação oral e vacinas adaptadas às condições das aldeias O desenvolvimento humano também é um impor-
tante meio para o desenvolvimento tecnológico. A ino-
Quando a terapia de reidratação oral foi tano, tuberculose – às condições dos países em
desenvolvida no Centro Internacional de In- desenvolvimento. Os antigenes para combater vação tecnológica é uma expressão do potencial humano.
vestigação de Doenças Diarreicas, do Bangla- as seis doenças já eram conhecidos há muito Níveis elevados de educação têm um contributo par-
deche, a Lancet, uma revista de medicina de tempo. Mas exigiam condições de esteriliza- ticularmente forte para a criação e difusão tecnológicas.
referência, assinalou-a como sendo provavel- ção e uma cadeia de frio estável – um sistema
Mais cientistas podem entregar-se à investigação e de-
mente a descoberta médica mais importante de frigoríficos com boa manutenção e trans-
do século 20. Até então, o único medicamento porte frigorificado do ponto da produção de senvolvimento, e agricultores e empregados industriais
eficaz contra a desidratação provocada pela di- vacinas para as clínicas e centros de saúde, em com melhor educação podem aprender, dominar e uti-
arreia era o fornecimento de soro esterilizado aldeias a milhares de quilómetros de distância. lizar novas técnicas com maior facilidade e eficácia.
através de gotejamento intravenoso – custan- As melhorias tecnológicas permitiram progres-
do cerca de 50 dólares EUA por criança, muito sos importantes: uma vacina contra a polio- A liberdade social e política, a participação e o acesso
para além dos orçamentos, instalações e ca- mielite, que requer apenas uma gota na língua, a recursos materiais também criam condições para in-
pacidades da maioria dos centros de saúde vacinas congeladas a seco e mais estáveis em centivar a criatividade das pessoas.
dos países em desenvolvimento. Mas, os cien- relação à temperatura, que não necessitam de
Desta forma, o desenvolvimento humano e o avanço
tistas descobriram que dar a uma criança pe- refrigeração, e o desenvolvimento de cock-
quenos golos de uma simples mistura de açúcar tails de vacinas numa injecção única. tecnológico podem reforçar-se mutuamente, criando um
e sal, nas proporções certas, permitia que a taxa Tanto para a terapia de reidratação oral, ciclo virtuoso. As inovações tecnológicas na agricul-
de absorção da mistura na criança fosse 25 como para os novos métodos de vacinação, tura, medicina, energia, indústria transformadora e co-
vezes maior que a absorção da água simples. os progressos tecnológicos tiveram que andar
Durante os anos de 1980, fabricaram-se cen- de mãos dadas com os avanços na organiza- municações foram importantes factores – apesar de
tenas de milhões de pacotes de sais de rei- ção. Foram desenvolvidas campanhas não serem exclusivos – nos avanços em desenvolvi-
dratação oral, a maior parte vendida por menos maciças para disseminar o conhecimento. mento humano e erradicação de pobreza documenta-
de 0,10 dólares cada. Políticos, igrejas, professores e organizações
dos no capítulo 1. Estas inovações quebraram barreiras
Outra grande descoberta foi a adaptação não governamentais foram recrutados para
de vacinas contra doenças mortíferas – sublinhar os factos e ajudar a organizar os es- ao progresso, tais como rendimentos baixos ou con-
sarampo, rubéola, coqueluche, difteria, té- forços. strangimentos institucionais, permitindo obter ganhos
mais rápidos.
Fonte: Jolly 2001; UNICEF 1991; WHO 1998.
Sobrevivência e saúde. Avanços na medicina, tais
como as vacinas e antibióticos, resultaram em ganhos

28 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


mais rápidos na América Latina e Ásia Oriental, durante quase 1.000 anos para as colheitas de trigo na Inglaterra
o século 20, do que os registados na Europa, durante aumentarem de 0,5 para 2 toneladas por hectare , mas
o século 19, com a melhoria da nutrição e do sanea- apenas 40 anos para passar de 2 para 6 toneladas por
mento. A saúde e a sobrevivência humanas começaram hectare.4 Começando em 1960, uma revolução verde
a melhorar consideravelmente em ambas as regiões, transformou a produtividade da terra e do trabalho em
durante os anos de 1930.1 Nos anos de 1970, a esperança todo o mundo, através da selecção de plantas, utiliza-
de vida à nascença tinha aumentado para mais de 60 ção de fertilizantes, melhoria de sementes e controlo de FIGURA 2.2
anos, alcançando em quatro décadas um aumento que irrigação. Isto tem efeitos dinâmicos no desenvolvi- Terapia de reidratação oral
reduz a mortalidade infantil
a Europa levou um século e meio a atingir, a partir do mento humano: o aumento da produção de alimentos
sem crescimento do rendimento
início do século XIX. e a redução dos seus preços eliminou muitos dos proble-
Rendimento
Os anos de 1980 viram o impacte de duas novas mas de subnutrição e fome crónica na Ásia, América (PIB per capita em dólares PPC)
5.628 5.580
descobertas – a terapia de reidratação oral e vacinas Latina e Países Árabes. Dado que as famílias mais po-
1983
melhor adaptadas às condições dos países em de- bres dependem da agricultura como meio de sub- Introdução da
senvolvimento. Estas tecnologias, difundidas através sistência e gastam metade dos seus rendimentos em TRO
274
de importantes campanhas mundiais, permitiram alimentação, isto também permite enormes reduções na
Mortalidade
significativas reduções na mortalidade infantil (caixa privação de rendimento. de menores
2.2). Entre 1980 e 1990, as mortes devidas às prin- Participação. Tal como a tipografia nos séculos de cinco
por doenças
cipais doenças infantis e à diarreia reduziram-se em mais recuados, o telefone, rádio, televisão e fax do diarreicas
(por 100.000)
cerca de 3 milhões nos países em desenvolvimento- século 20 abriram as comunicações, reduzindo o iso- 144

uma realização particularmente impressionante, se lamento e permitindo às pessoas estarem melhor in-
1978–80 1988–90
considerarmos que foi conseguida durante a "dé- formadas e participarem nas decisões que afectam as MÉXICO
cada perdida" para o crescimento económico, quando suas vidas. Ligada a estas tecnologias está a comu-
o crescimento do rendimento foi negativo ou estagnou nicação social livre, um pilar de todas as democra- Fonte: Gutierrez e outros 1996;
World Bank 2001g.
(figura 2.2).2 Para além disto, entre 1970 e 1999, a cias activas. A divulgação da máquina de fax durante
mortalidade das crianças com menos de cinco anos os anos de 1980 permitiu uma mobilização popular
reduziu-se em quase metade, de 170 para 90 por muito mais rápida, tanto nacional como mundial-
1.000. mente.
A importância da tecnologia é quantificada num es- Emprego e crescimento económico. Nos anos
tudo recente do Banco Mundial, que demonstra que o de 1970, a aquisição e adaptação de tecnologias trans-
progresso tecnológico contribuiu para 40 a 50% da re- formadoras trouxe ganhos rápidos no emprego e no
dução da mortalidade, entre 1960 e 1990 – provando rendimento à Coreia do Sul, Malásia e Singapura.
que a tecnologia é uma fonte mais importante de bene- A revolução industrial foi despoletada pela mudança
fícios do que rendimentos mais elevados, ou do que um tecnológica, e os economistas defendem que o progresso
nível de educação mais elevado entre as mulheres tecnológico joga um papel central no crescimento
(quadro 2.1).3 económico sustentado no longo prazo.5 Estudos trans-
Produção de alimentos e nutrição. O progresso versais sugerem que a mudança tecnológica é respon-
tecnológico tem desempenhado um papel semelhante sável por uma grande parte das diferenças entre taxas
na aceleração da produção de alimentos. Demorou de crescimento.6

QUADRO 2.1
Tecnologia como uma fonte de redução da mortalidade, 1960-90
(percentagem)

Contribuição Contribuição
Contribuição dos ganhos nos dos ganhos
dos ganhos níveis de educação no progresso
Melhorias na no rendimento das mulheres adultas técnico

Taxa de mortalidade de menores de cinco 17 38 45


Taxa de mortalidade adulta feminina 20 41 39
Taxa de mortalidade adulta masculina 25 27 49
Esperança de vida à nascença feminina 19 32 49
Fonte: Wang e outros 1999.

TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS ACTUAIS – CRIAÇÃO DA ERA DAS REDES 29


AS ACTUAIS TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS informação em rede baseados num protocolo
CONJUGAM - SE COM A GLOBALIZAÇÃO PARA CRIAR comum. Indivíduos, famílias e organizações estão
A ERA DAS REDES ligados através do processamento e execução de um
enorme número de instruções, em períodos de
Os avanços tecnológicos de hoje são mais rápidos tempo imperceptíveis. Isto altera radicalmente o
(lei de Moore) e mais fundamentais (avanços na acesso à informação e a estrutura da comunicação
genética). Estão a reduzir os custos (informáticos e de – estendendo o alcance da rede a todos os cantos
comunicações) a um ritmo nunca antes visto. Con- do mundo.
duzindo estas transformações estão os desenvolvi-
mentos acelerados na tecnologia da informação e BIOTECNOLOGIA – TRANSFORMAR AS
comunicação, na biotecnologia e na emergente nano- CI Ê NCIAS DA VIDA
O custo de transmitir mil tecnologia.
A biotecnologia moderna – a tecnologia de recombi-
biliões de bits
TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E nação do ADN – está a transformar as ciências da vida.
de informação, de uma COMUNICAÇÃO – CRIAÇÃO DE REDES COM O poder da genética pode agora ser utilizado para a en-
ALCANCE CRESCENTE E CUSTOS genharia dos atributos de plantas e outros organismos,
ponta à outra dos Estados
DECRESCENTES criando o potencial para enormes avanços, em particular
Unidos, diminuiu na agricultura e medicina. A clonagem da ovelha Dolly
As tecnologias de informação e comunicação impli- e o mapa do genoma humano abriram as fronteiras
de 150.000 dólares EUA
cam inovações na microelectrónica, na informática científicas e transformarão o desenvolvimento da tecno-
em 1970 para 0,12 hoje (hardware e software), nas telecomunicações e na logia nos anos vindouros (destaque 2.2). A genética é,
optoelectrónica – microprocessadores, semicondu- agora, a base das ciências da vida, com grande parte da
tores e fibras ópticas. Estas inovações permitem o investigação farmacêutica e da criação de plantas a
processamento e armazenamento de enormes quan- basear-se na biotecnologia.
tidades de informação, juntamente com a rápida dis-
tribuição da informação através de redes de E, TALVEZ BREVEMENTE ,
comunicação. A lei de Moore prevê a duplicação da A NANOTECNOLOGIA
capacidade de processamento informático, todos os
18 a 24 meses, devido à rápida evolução da tecnolo- A estas duas novas tecnologias pode brevemente
gia de microprocessamento. A lei de Gilder prevê a juntar-se uma terceira, a nanotecnologia. A nano-
duplicação da capacidade de comunicação todos os tecnologia está a evoluir a partir de descobertas
seis meses – uma explosão da largura de banda – de- científicas que permitem a engenharia e a ciência ao
vido ao avanço nas tecnologias de rede de fibra óp- nível molecular. (um nanometro é igual a mil milio-
tica.7 Ambas são acompanhadas por enormes reduções nésimos do metro). A nanotecnologia reorganiza os
de custos e poderosos aumentos na velocidade e átomos para criar novas estruturas moleculares. Pou-
quantidade (destaque 2.1). cas áreas da actividade humana não serão afectadas
Em 2001, pode-se enviar mais informação por um pela nanotecnologia. Robôs à escala nanométrica
único cabo, em apenas um segundo, do que era possível irão curar tecidos humanos, removendo obstruções
enviar em 1997 por toda a Internet, durante um mês in- ao sistema circulatório e assumindo funções de or-
teiro.8 O custo de transmitir mil biliões de bits de in- ganitos celulares. As nanotecnologias solares irão
formação, de uma ponta à outra dos Estados Unidos, fornecer energia a uma população sempre crescente.
diminuiu de 150.000 dólares EUA em 1970 para 0,12 Num mundo biónico, onde a nanotecnologia e a
hoje. Uma chamada de três minutos, de Nova Iorque biotecnologia se juntam, podemos antecipar a exis-
para Londres, custava mais de 300 dólares em 1930 (a tência de biocomputadores e biosensores capazes de
preços correntes) e custa hoje menos de 0,20.9 Enviar monitorizar tudo, desde reguladores de plantas a
um documento de 40 páginas por correio electrónico, comícios políticos. Por agora, a investigação per-
do Chile para o Quénia, custa menos de 0,10 dólares; manece limitada em relação a outras tecnologias –
enviá-lo por fax custa cerca de 10 e por correio expresso cerca de 500 milhões de dólares EUA por ano nos
50 dólares.10 Estados Unidos em 2000, com o Japão e a Europa
Ligar equipamentos informáticos e permitir a a seguir – mas o investimento tem vindo quase a du-
comunicação de uns com outros, cria sistemas de plicar todos os anos.11

30 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


TRANSFORMAÇÕES TECNOL ÓGICAS mação reduzidos quase a zero, as redes horizontais
E GLOBALIZAÇÃO – REFORÇAM - SE fazem mais sentido. A produção é cada vez mais or-
MUTUAMENTE ganizada entre participantes separados – subcon-
tratadores, fornecedores, laboratórios, consultores de
As actuais transformações tecnológicas estão interli- gestão, institutos de educação e investigação, empre-
gadas com uma outra grande mudança histórica – a glo- sas de investigação de marketing, distribuidores. As suas
balização económica, que está a unificar os mercados interacções complexas, com cada um a jogar um papel
mundiais rapidamente. Estes dois processos reforçam-se de nicho, criam a cadeia de valor que impulsiona a
mutuamente. A integração dos mercados mundiais economia mundial baseada na tecnologia.
verificada no final do século 20 foi impulsionada pela A nova era está a dar origem a redes mundiais em
liberalização do comércio e por outras mudanças muitas áreas de actividade. Quando estas redes al-
dramáticas nas políticas no mundo – a privatização, a cançam uma massa crítica de membros e interacções, A nova era está a dar
queda do comunismo e da antiga União Soviética. Os tornam-se numa nova força importante na definição do
origem a redes mundiais
novos instrumentos da tecnologia da informação e caminho e na difusão da tecnologia.
comunicação reforçaram e aceleraram este processo. • Investigação científica e inovação – a comunicação em muitas áreas de
A globalização impulsionou o progresso tecnológico em rede original entre as universidades, que deu vida
actividade – uma nova
através da concorrência e dos incentivos dos mercados à Internet – é cada vez mais colaborante com organi-
globais e dos recursos financeiros e científicos mundiais. zações e países. Desde 1995-97, cientistas dos Estados força importante
E o mercado mundial assenta sobre a tecnologia, com Unidos foram co-autores de artigos com cientistas de
na definição do caminho
a tecnologia como factor principal da concorrência de 173 outros países; cientistas do Brasil com 114, do
mercado. Quénia com 81, da Argélia com 59.13 e na difusão
A indústria transformadora de alta tecnologia tem • Produção – as grandes empresas mundiais, fre-
da tecnologia
sido a área com maior crescimento no comércio mundial quentemente sedeadas na América do Norte, Europa e
(quadro 2.2) e é, actualmente, responsável por um Japão, mas com instalações de investigação em vários
quinto do total. Um estudo de 68 economias respon- países e compra de serviços em todo o mundo, atraem
sáveis por 97% da actividade industrial mundial demons- muitos países para a criação dos seus canais de valor
tra que, durante 1985-97, a produção de alta tecnologia mundiais. Em 1999, na Costa Rica, Malásia e Singapura,
cresceu mais do dobro que a produção total, em todos as exportações de alta tecnologia excederam 40% do total.
os países menos um.12 • Comércio electrónico – emergindo apenas agora
como uma rede futura de comércio, o comércio elec-
DA ERA INDUSTRIAL PARA A ERA DAS REDES trónico, negócio a negócio, está projectado para crescer.
– UMA MODIFICAÇÃO HIST ÓRICA • Diáspora – a procura vertiginosa de pessoal quali-
ficado em tecnologias de informação e comunicação
As estruturas da produção e outras actividades têm sido criou a mobilidade mundial dos cientistas e tecnólogos
reorganizadas em redes que abarcam o mundo. Na de topo. Quando são provenientes dos países em de-
era industrial – com os seus elevados custos de acesso senvolvimento, a sua dispersão mundial cria a diás-
à informação, comunicação e transporte – as empre- pora, que pode tornar-se numa rede valiosa de finança,
sas e organizações integravam-se verticalmente. Na contactos de negócios e transferência de qualificações
era das redes, com os custos de comunicação e infor- para os seus países de origem.

QUADRO 2.2
Os produtos de alta tecnologia dominam a expansão das exportações
(percentagem anual média do crescimento das exportações, 1985-98)

Manufacturas de Manufacturas de Manufacturas de Manufacturas Produtos


Área alta tecnologia média tecnologia baixa tecnologia baseadas em recursos primários

Mundo 13,1 9,3 9,7 7,0 3,4


Países em desenvolvimentoa 21,4 14,3 11,7 6,0 1,3
OCDE rendimento elevadob 11,3 8,5 8,5 7,0 4,4
a. Inclui Europa do Leste e Comunidade de Países Independentes.
b. Inclui Chipre, Israel e Malta.
Fonte: Lall 2001.

TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS ACTUAIS – CRIAÇÃO DA ERA DAS REDES 31


DESTAQUE 2.1
A ESPERANÇA DAS TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS ACTUAIS PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO
TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÕES

Progressos rápidos em duas tecnologias-armazenagem digital e processamento de informação (informação)


Cronologia da tecnologia e transmissão da informação por satélite e fibra óptica (comunicações)- estão a criar novos e mais rápi-
de informação dos meios de armazenamento, manipulação, distribuição e acesso à informação. Mais do que isso, estes
3000 AC Desenvolvimento do ábaco avanços estão a baixar significativamente os custos.
1823–40 Charles Babbage concebe uma OS BENEFÍCIOS PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO ESTÃO APENAS A COMEÇAR
máquina de cálculo automática
Estas novas tecnologias aumentam significativamente o acesso à informação e às comunicações, quebrando
1946 Primeiro computador electrónico de
alta velocidade, ENIAC, funciona mil vezes barreiras ao conhecimento e à participação. Mas será que estes instrumentos conseguem chegar às pes-
mais depressa que as máquinas de cálculo soas pobres? O potencial está apenas a começar a ser explorado. As iniciativas estão a proliferar e prome-
anteriores tem possibilidades tremendas.
1947 Gordon Bell inventa o transistor
A participação política está a ser redefinida pela utilização criativa de comunicações em dois sentidos.
1959 Robert Noyce inventa o circuito inte- Nas Filipinas, uma rede de advocacia electrónica foi estabelecida no início de 2001, em resposta ao jul-
grado, colocando um circuito electrónico in-
teiro num chip de silício minúsculo gamento do antigo Presidente Joseph Estrada, reunindo mais de 150.000 assinaturas para uma petição
1966 IBM introduz o primeiro disco de ar- e coordenando uma campanha para escrever cartas dirigidas aos senadores para votarem de acordo com
mazenamento a sua consciência e não com os seus interesses políticos. Nas Honduras, uma organização de pescadores,
1971 Marcian Hoff inventa o microproces- de pequena dimensão, enviou para o Congresso um vídeo da destruição ilegal dos seus mangues por agricul-
sador tores comerciais politicamente poderosos, aumentando o conhecimento em relação a este assunto e protes-
1975 Introdução do primeiro computador tando contra a perda dos seus meios de subsistência e habitat. No futuro, salas de comissões virtuais poderão
pessoal – pequena máquina programável e ajudar os cidadãos a testemunhar em várias questões, expandindo as possibilidades da Internet contribuir
suficientemente barata par ser usada indivi-
dualmente
para a participação.
1980 A Seattle Computer Products introduz A maior transparência no planeamento e nas transacções está a fazer com que os mercados e as insti-
o QDOS (Sistema Operativo Rápido e Não tuições funcionem melhor. Em Marrocos, os ministérios das finanças e do planeamento utilizaram a tecno-
Limpo), depois designado por MS-DOS pela
Microsoft logia da informação e das comunicações para tornar o processo orçamental mais eficiente, criando uma
plataforma comum para partilhar dados sobre receita fiscal, auditoria e gestão da despesa. O tempo
1984 A Apple Computers introduz o Macin-
tosh, estabelecendo o padrão para ambientes necessário à preparação do orçamento foi reduzido para metade e os orçamentos reflectem melhor as
gráficos de apontar e clicar. Seguiu-se, em receitas e despesas correntes. No estado indiano de Gujurat, os agricultores de lacticínios são pagos com
1985, o sistema operativo Windows (versão base no peso e conteúdo de gordura do seu leite, que pode ser testado instantaneamente utilizando equipa-
rudimentar)
mento de baixo custo. Estas medidas transparentes e exactas reduzem o risco de subavaliação; as con-
1980s Introdução do computador portátil tas dos agricultores passam a estar de acordo com a base de dados do seu gado, mantendo um registo
(laptops)
das necessidades de vacinação – e ajudando as cooperativas a gerir melhor as necessidades de factores
1993 Desenvolvimento e comercialização de
Palm Pilot – a emergência de mecanismos de produtivos e de serviços veterinários.
computação sofisticados seguráveis numa
mão
Rendimento. Utilizações criativas da Internet estão a aumentar os rendimentos nos países em desen-
volvimento. Em Ondicherry, na Índia, a Fundação de Investigação MS Swaminathan estabeleceu cen-
1994 Seagate introduz uma drive de disco
com taxa de transferência de mais de 100 tros de informação rurais para comunicações locais e acesso à Internet, utilizando energia solar e eléctrica
megabytes por segundo e comunicações com e sem fio. Os agricultores recebem informação sobre os preços de mercado, per-
1995 Estandardização do Disco Digital Ver- mitindo-lhes negociar melhor com os intermediários. Os pescadores podem aceder a imagens por satélite
sátil (DVD), capaz de armazenar informação que indicam onde estão os cardumes de peixes. As ligações via Internet com outras aldeias têm incenti-
oito vezes superior ao disco compacto (CD)
2000 Introdução do microprocessador AMD
Gigahertz Mais pessoas têm acesso . . . . . . a mais informação . . . . . . a um custo mais baixo
Agenda de investigação futura: lin- Milhões de utilizadores de Internet Número de sítios da Web Custos de transmissão
guagem natural input e output, inteligência
artificial, computadores de utilização perma- Mil milhões 20 milhões de sítios da Web Dólares EUA por mil biliões de bits,
nente, nanocomputação, computação em sis- em 2005 no fim de 2000 Boston a Los Angeles
temas distribuídos 400 107 105
Primeira guerra cibernética
Mais de 400 milhões de em grande escala
utilizadores no fim de 2000 coincide com o
106 conflito entre a 104
300 Servia e Kosovo
O crescimento rápido da Internet
Anfitriões de Internet (milhares) 103
105
1995 2000 Uma transferência
200 102 de dados igual
Brasil 26,8 1.203,1 a 150.000 dólares
104 Primeiros anúncios em
China 10,6 159,6 bandeira aparecem em 1970, custava
em hotwired.com 10 0,12 dólares em 1999
Coreia do Sul 38,1 863,6
100 Primeiros centros comerciais
Macedónia 0,1 3,8 103 na Internet
1.0
Uganda 0,1 0,9 Menos de 20 milhões Menos de 200 sítios
Ucrânia 2,4 59,4 de utilizadores no fim da Internet
0 de 1995 102 a meio de 1993 0.1
1994 1996 1998 2000 1994 1996 1998 2000 1970 1980 1990 1999

32 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


1999
5.9 mb
Torre Petronas
O edifício mais alto
do mundo
Kuala Lumpur, Malásia

vado o diálogo local sobre técnicas agrícolas, gestão de microcrédito,


Cronologia da tecnologia oportunidades de negócio e de educação, acontecimentos religiosos
de comunicação e de medicina tradicional. Cerca de um terço dos utilizadores são
1833 Samuel Morse desenvolveu o Código de agregados familiares sem posses e cerca de 18% são mulheres.
Morse, permitindo a transmissão de sinais
através de fios. Primeiro telégrafo introduzido A Grameen Telecom fornece telefones por todo o Bangladeche, per-
em 1837 mitindo a indivíduos, escolas e centros de saúde receber informação
1876 Alexander Graham Bell introduz o tele- de que precisam e de forma económica. Os estudos sugerem que uma
fone única chamada permite uma poupança real de 3 a 10% no rendimento 1990
1895 Guglielmo Marconi demonstrou a médio mensal de uma família, beneficiando os agregados familiares .13 mb
transmissão e recepção sem fios
pobres que utilizam os telefones da aldeia para fazer chamadas e sub-
1920s Experimentadores e demonstradores stituindo a necessidade de recolher informação através de meios mais
mostram a televisão em todo o mundo
caros.
1947 Claude Shannon estabelece a teoria .002
matemática das comunicações, fornecendo Saúde. Onde os problemas de saúde estão relacionados com a falta de informação,
uma base teórica para toda a comunicação surgem agora novas soluções. Em Ginnack, uma ilha remota no rio Gâmbia, as
digital moderna
enfermeiras utilizam uma câmara digital para registar os sintomas dos pacientes.
1966 Desenvolvimento das telecomuni-
cações por satélite (Telestar) As imagens são enviadas electronicamente para uma cidade próxima, para serem
diagnosticadas por um médico local, ou enviadas para o Reino Unido caso seja
1977 Ericsson estabeleceu, na Arábia Sau-
dita, a primeira rede móvel de telecomuni- necessária a opinião de um especialista.
cações
1977 AT&T e GTE instalam o primeiro sis- O Projecto Helathnet é uma rede de redes lançada em 1989 para profissionais do
tema de comunicações por fibra óptica sector da saúde - sobretudo os que se situam em áreas remotas - em África, Ásia
1979 Hayes introduz o primeiro modem de e América Latina. Permite-lhes encomendar equipamento de forma eficiente, co-
computador operar com instituições médicas em todo o mundo
1982 Protocolo de rede básico adoptado e fornecer informação sobre surtos de doenças
como padrão, levando a uma das primeiras emergentes. A Helathnet do Nepal tem 150 pon- Intel Pentium III
definições de Internet 500mHz
tos de acesso em todo o país, chegando a 500
1989 Cern desenvolve o conceito de World
Wide Webb profissionais da saúde e com 300 consultas por dia
no seu Website.
1993 Introdução do Mosaico – o primeiro in-
terface gráfico popular para o World Wide Estes exemplos são apenas o começo. Aproveitar
Webb
o potencial destas novas tecnologias dependerá
1995 US National Science Foundation da sua adaptação às condições dos países em de-
estabelece a Internet pública com serviço
backbone de alta velocidade ligado aos cen- senvolvimento, sobretudo dos utilizadores po-
tros de supercomputação bres. E muita coisa dependerá de inovações -
1995 MP3, Real Audio e MPEG melhoram a tecnológicas, institucionais e empresariais - para Intel Pentium II
distribuição Internet de serviços de conteúdo criar aparelhos de baixo custo e de fácil uti- 333mHz
áudio e vídeo, tais como Napster e Real
Player
lização e para estabelecer o acesso a partir de
centros públicos ou de mercado com produ-
1997 Desenvolvimento do Protocolo de Apli-
cação sem Fios (WAP) tos a preços acessíveis.
O futuro: conexão de alta velocidade para A velocidade dos microprocessadores O custo da computação –
todas as casas, junção da Internet com duplicou em cada 18 meses que quantidade de memória
mecanismos de jogos, fusão de telefones Milhões de instruções por segundo compra um dólar?
móveis e assistentes digitais pessoais Megabits de DRAM de armazenagem

Intel Pentium Pro


200mHz 1 megabit de
DRAM custava
5,27 dólares
em 1970 e
17 cêntimos
em 1999

.0002

i486DX2
50mHz
Fonte: Fortier e Trang 2001; Chandresekhar 2001; Hijab 2001; Tamesis 2001; UNDP, Accen-
ture and the Markle Foundation 2001; Zakon 2000; ITU 2001b; Nua Publish 2001; Cox e Alm Intel Intel 80486
Intel
1999; Archive Builders 2000; Universitiet Leiden 1993; W3C 2000; Bell Labs 2000; Bignerds 4004 80286 Intel 80386
2001; Teli Mobile 2000.
1970 1980 1990 2000 1970 1980 1990 1999

TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS ACTUAIS – CRIAÇÃO DA ERA DAS REDES 33


DESTAQUE 2.2
A ESPERANÇA DAS TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS ACTUAIS PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO
BIOTECNOLOGIA

A tecnologia de recombinação do ADN – um grupo de tecnologias que melhoram a nossa capacidade de


Cronologia da biotecnologia manipular geneticamente os materiais – é o que, geralmente, se refere como sendo a biotecnologia. Desde
1856 Gregor Mendel estabelece o as descobertas dos anos de 1960, a introdução das moléculas de recombinação do ADN nos organismos pas-
gene como a unidade funcional sou a ser mais eficiente e mais eficaz – tornando possível o uso do poder da genética para a engenharia dos
da hereditariedade atributos de um produto. Desenvolveram-se, então, técnicas mais precisas, melhorando a modificação
1871 Frederich Miescher descobre genética da maior parte das culturas e plantas alimentares. A biotecnologia foi, também, aplicada aos temas
o ADN de saúde aparentemente mais intratáveis, determinando que genes são responsáveis pela criação ou melho-
1909 Wilhelm Jorgenson introduz ria dos processos de doença, como os genes controlam esses processos e o que pode ser feito para pará-los.
a palavra gene, substituindo os
factores de Mendel
OS BENEFICIOS PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO ESTÃO APENAS A COMEÇAR
1944 Oswald Avery, Colin Aplicações mais avançadas na medicina e na agricultura têm um elevado potencial para acelerar o desen-
MacLeod e Mclyn MacCartey de-
terminam que os genes são codi- volvimento humano. Mas este potencial só será verdadeiramente efectivo se a biotecnologia for utilizada para
ficados pelo ADN enfrentar os desafios fundamentais da saúde e agricultura dos países pobres-doenças tropicais e as colheitas
1953 James Watson e Francis e meios de subsistência das zonas ecologicamente marginais deixadas para trás pela revolução verde. E só
Crick introduzem a estrutura do se for feita com uma abordagem sistemática para avaliar e gerir os riscos de danos para a saúde humana,
ADN – a hélice dupla ambiente e equidade social.
1960s Werner Arber, Hamilton
Smith e Daniel Smith descobrem
Na saúde, as empresas farmacêuticas estão a mudar da descoberta e desenvolvimento dos medicamentos
que as proteínas são responsáveis baseados na química médica para a concepção e desenvolvimento de medicamentos baseados na informação
pelo corte do ADN (enzimas de fornecida pela genomologia e técnicas relacionadas. Quase 300 biomedicamentos foram aprovados para uso
restrição) ou estão a ser analisados pela Administração da Alimentação e Medicamentos dos Estados Unidos. O mer-
1972 Paul Berg construiu a cado de produtos farmacêuticos baseado na genomologia, deverá crescer de 2,2 mil milhões de dólares em
primeira recombinação tecnoló- 1999 para 8,2 mil milhões em 2004. Estes produtos oferecem tratamento para doenças que não eram pos-
gica do ADN
síveis tratar anteriormente. A insulina como um instrumento para combater a diabetes foi tornada possível
1973 Herb Boyer e Stanley Cohen através da tecnologia de recombinação do ADN, tal como aconteceu com a vacina para a hepatite B. Mas,
são os primeiros a usar o plas-
mídeo para clonar o ADN, per- isto é apenas o começo. O conhecimento biotecnológico tem potencial para desenvolver melhores tratamentos
mitindo a reprodução e uso de e vacinas para a SIDA, malária, cancro, doenças do coração e desordens nervosas. Terapias do gene e tecno-
módulos de recombinação do logias antisensoriais transformarão para sempre o tratamento das doenças, até agora mais orientado para
ADN curar do que para tratar sintomas. Prevê-se que estejam no mercado, até 2005, cinco medicamentos de tera-
1982 Primeiro medicamento bio- pia de genes para várias formas de cancro. Investigadores da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos,
tecnológico produzido para uso criaram tomates e bananas transgénicos que contêm a vacina da hepatite B. Apenas uma fatia fina de ba-
1982 Primeiras plantas transgéni- nana seca ou uma porção de pasta de tomate numa bolacha contém o suficiente da medicação necessária
cas introduzidas experimental- para actuar como uma dose – custando menos que um cêntimo do dólar, em contraste com os habituais 15
mente
dólares. PowderJect Pharmaceuticals, uma empresa inglesa, criou vacinas baseadas em ADN que dispen-
1996 Primeiras plantas transgéni-
cas disponíveis comercialmente
sam a utilização de agulha para as tomar. O aparelho, que cabe numa mão, lança uma vacina microscópica
pulverizada sobre a pele, num jacto de gás e sem dor, o que constitui um processo mais fácil e mais seguro
1996 A ovelha Dolly foi clonada
no Roslin Institute de Edimburgo
do que a utilização de uma seringa, além de que dispensa a necessidade de refrigeração. O conhecimento
biotecnológico pode, também, ser usado para modificar organismos que transmitem as doenças – por
2000 Celera Genomics e o Pro-
jecto do Genoma Humano do Ins- exemplo, criando o mosquito "perfeito", incapaz de transportar a malária.
tituto Nacional de Saúde dos Na agricultura, a reprodução das plantas promete gerar colheitas mais elevadas e resistentes à seca, pragas
Estados Unidos anunciam um
documento de trabalho conjunto ou doenças. A reprodução cruzada tradicional leva tempo, normalmente entre 8 a 12 anos. A biotecnolo-
sobre o genoma humano gia acelera o processo de produção de culturas com características alteradas, utilizando uma característica
genética específica de uma qualquer planta e transferindo-a para o código genético de qualquer outra. Mais
Informação biotécnica importante, a modificação das plantas deixa de ser restringida pelas características da espécie. Genes do cacto,
Unidades identificadas 10,1 mil milhões responsável pela tolerância à seca, podem ser usados para ajudar as culturas alimentares a sobreviverem à
em 2000
107 seca. Genes de plantas anãs utilizadas para aumentar o rendimento dos cereais mostraram os mesmos
10,1
efeitos sobre outras culturas, pelo que podem aumentar o rendimento em culturas anteriormente incapazes
106 milhões de beneficiar desses genes. O controlo genético do vírus da mancha amarela do arroz mostra o que os trans-
Pares base em 2000 génicos podem fazer quando as abordagens convencionais falham. E agricultores chineses foram capazes
105 (X 1.000) de controlar a lagarta do algodão, que já não podia ser controlada por químicos ou protecção de plantas
Sequências
hospedeiras, com o crescimento do algodão apoiado com o Bacillus thuringiensis.
104
680.000 Novo tratamento para as doenças do gado aparece como a mais significativa área para o desenvolvimento
103 em 1982 da produção. Testes de diagnóstico e vacinas de recombinação do ADN para a peste bovina, theileriosis (febre
da costa leste) ou a doença da febre aftosa têm os relatórios preparados para testes alargados ou para de-
102 606 em 1982 senvolvimento do produto.
1982 2000 Fonte: Cohen 2001; Bloom, River Path Associates e Fang 2001; CDI 2001; BBC Rsearch 2000; Bipharma 2001; Powderjet 2001; Doran 2001;
NCBI 2001.

34 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


• Advocacia – a globalização dos problemas da so- utilização da Internet está a crescer a mais de 30% ao
ciedade civil – do Jubileu 2000 à proibição das minas ano – embora isso signifique que apenas 12% dos in-
terrestres – traz vantagens para a advocacia em rede divíduos estarão ligados até 2005. Uma maior ex-
globalizada. Os problemas da tecnologia são, igual- pansão é limitada pelos rendimentos baixos das
mente, enfrentados com pressão compensatória e famílias.16
opiniões alternativas, desde o acesso aos medicamen- Ligar uma grande parte da população será um de-
tos do HIV/SIDA e direitos de propriedade intelectual safio nas regiões em desenvolvimento. Mas a desigual-
até aos riscos dos alimentos modificados geneticamente. dade digital não é necessariamente permanente, se as
adaptações tecnológicas e a inovação institucional ex-
A NOVA ERA TECNOLÓGICA TRAZ NOVAS pandirem o acesso. A criatividade e espírito em-
POSSIBILIDADES – PARA UM AVANÇO AINDA MAIOR preendedor no Brasil, Índia, Tailândia, Níger e outros
NO DESENVOLVIMENTO HUMANO países já permitiram desenvolver software para uti- A desigualdade digital
lizadores analfabetos e aparelhos sem fios, de baixo
não é necessariamente
Os actuais avanços tecnológicos podem acelerar o de- custo e alimentados a energia solar (caixa 2.3). O acesso
senvolvimento humano em muitas áreas. comunitário – público e privado – está a espalhar-se em permanente,
A biotecnologia fornece um caminho para avançar cenários urbanos e rurais. Desde a África do Sul ao
se as adaptações
na medicina e agricultura, em áreas onde os métodos Bangladeche, inovações como cartões de telefone
anteriores tinham menos sucesso. A preparação de pré-pagos estão a expandir o acesso à informação e às tecnológicas e a inovação
novos medicamentos e tratamentos com base na tecnologias da informação. Múltiplas utilizações têm sido
institucional expandirem
genomologia e tecnologias associadas, oferece a possi- encontradas, desde a saúde à educação e à participação
bilidade de enfrentar os principais desafios de saúde que política, para não mencionar o aumento dos rendi- o acesso
os países e as pessoas pobres enfrentam – levando pos- mentos de famílias pobres.
sivelmente, por exemplo, a vacinas contra a malária e O que é que é novo e diferente na tecnologia da in-
o HIV/SIDA. A genomologia pode acelerar a criação formação e da comunicação como meio de erradicação
de plantas e impulsionar o desenvolvimento de novas da pobreza, no século 21? Primeiro, é um factor comum
variedades de culturas com maior resistência à seca e a quase todas as actividades humanas: tem um poten-
a doenças, com menor impacte ambiental e maior valor cial de utilização numa quase infinita gama de locali-
nutricional. A biotecnologia oferece o único ou melhor zações e objectivos. Segundo, as tecnologias de
"instrumento de escolha" para zonas ecológicas mar- informação e comunicação quebram barreiras ao de-
ginais – deixadas para trás pela revolução verde, mas senvolvimento humano, pelo menos de três formas que
que dão abrigo a mais de metade das pessoas mais po- não eram possíveis anteriormente:
bres do mundo, dependentes da agricultura e de gado. • Quebrar barreiras ao conhecimento. O acesso à
Há um longo caminho a percorrer até o potencial informação é tão essencial quanto é a educação na cons-
da biotecnologia ser mobilizado. As culturas trans- trução de capacidades humanas. Enquanto a educação
génicas aumentaram de 2 milhões de hectares planta-
dos em 1996, até 44 milhões de hectares em 2000. Mas, CAIXA 2.3
98% desta extensão situa-se em apenas três países – a Quebrar barreiras ao acesso à Internet
Argentina, Canadá e os Estado Unidos.14 Para além A World Wide Web é demasiado cara para aparelho de Internet que cabe numa mão e
disso, todos os governos têm de encontrar novas políti- milhões de pessoas nos países em desenvolvi- custa menos de 200 dólares EUA. Baseado no
mento, em parte devido ao custo dos com- sistema operativo de fonte aberta da Linux, a
cas institucionais e científicas para gerir os riscos de
putadores, que são o ponto de entrada habitual primeira versão do Simputer permitirá o acesso
saúde, ambientais e sociais desta nova inovação (capí- na Web: em Janeiro de 2001, o computador à Internet e correio electrónico em línguas lo-
tulo 3). Pentium III mais barato custava 700 dólares cais, com ecrã de toque e aplicações mi-
As aplicações da tecnologia de informação e EUA-custo muito pesado para ponto de acesso crobancárias. As próximas versões prometem
de comunidades com baixo rendimento. Para incluir software com reconhecimento de voz e
comunicações vão mais à frente do que as da biote- além disso, a interface baseada em texto coloca software de texto para voz, para utilizadores
cnologia. A Internet tem crescido exponencialmente, a Internet fora do alcance de pessoas analfabetas. analfabetos. Os direitos de propriedade inte-
de 16 milhões de utilizadores em 1995 para mais de Para ultrapassar estas barreiras, académi- lectual foram transferidos gratuitamente para
cos do Instituto Indiano de Ciência e enge- a Fundação Simputer, que está a licenciar a
400 milhões em 2000 – e espera-se 1 milhar de milhão
nheiros da Encore Software, empresa de design tecnologia a fabricantes por uma quantia sim-
de utilizadores em 2005.15 A possibilidade de ligação sedeada em Bangalore, desenvolveram um bólica – e o aparelho será lançado brevemente.
está a aumentar a ritmos espectaculares na Europa,
Fonte: PC World 2000; Simputer Trust 2000; Kirkman 2001.
Japão, Estados Unidos e muitos países em desen-
volvimento (ver destaque 2.1). Na América Latina, a

TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS ACTUAIS – CRIAÇÃO DA ERA DAS REDES 35


desenvolve qualificações cognitivas, a informação dá con- mais capacidade de utilizar a Internet para respons-
teúdo ao conhecimento. A Internet e a World Wide Web abilizar mais os governos.
podem fornecer informação tanto aos pobres como aos • Quebrar barreiras à oportunidade económica.
ricos. Apesar da queda recente das acções nas bolsas tecno-
• Quebrar barreiras à participação. As pessoas e as lógicas e a morte das dot-coms, as tecnologias de in-
comunidades pobres são muitas vezes isoladas e não formação e comunicação e as indústrias associadas estão
têm meios para a acção colectiva. As comunicações entre os sectores mais dinâmicos da economia mundial
mundiais da Internet têm alimentado muitos movi- (caixa 2.4). Oferecem aos países em desenvolvimento
mentos das sociedades civis, em anos recentes: o acordo o potencial para expandir as exportações, criar bons em-
para banir a utilização de minas terrestres, iniciativas pregos e diversificar as suas economias. O sector das
para o alívio da dívida nos países pobres e esforços para tecnologias de informação e comunicação requer menos
fornecer medicamentos para o HIV/SIDA em países investimento inicial em capital e infra-estruturas do
pobres. A Internet é, igualmente, poderosa na mobi- que os sectores mais tradicionais – o que pode explicar
lização local das pessoas. Campanhas contra a cor- porque é que as indústrias de alta tecnologia estão a
rupção, por correio electrónico, influenciaram as crescer mais rapidamente do que as de média tecnolo-
eleições de 1999 na Coreia e deram origem ao recente gia, nos países em desenvolvimento. Para além disto,
movimento que depôs o Presidente Filipino Joseph estas indústrias são trabalho-intensivas, fornecendo
Estrada. Em todo o mundo, os cidadãos têm cada vez novos empregos e salários a empregados com formação.
Os salários dos profissionais de software na Índia são
elevados, mas competitivos em termos do mercado
CAIXA 2.4
mundial (caixa 2.5).17
A nova economia e paradoxos de crescimento
O que é que o futuro nos reserva? Projecta-se que
Os defensores da nova economia afirmam que desde 1995, a uma taxa de cerca de 3% ao ano
a revolução tecnológica actual criou um novo – e sustentou esse nível mesmo quando a a despesa mundial nas tecnologias de informação e
paradigma de crescimento, que permitirá a economia abrandou, em 2000-01. comunicação aumentara de 2,2 mil biliões de dólares
expansão do PIB dos Estados Unidos a bem Esta experiência recente dos Estados
EUA em 1999, para 3 mil biliões em 2005 – ofere-
mais de 4% ao ano – um novo motor de cresci- Unidos parece resolver o chamado paradoxo
mento de longo prazo, mais elevado, compa- da produtividade, que levou Robert Solow a cendo muitas oportunidades de nicho para presta-
rável aos caminhos de ferro ou à electricidade. comentar, no final da década de 1980, que se dores de serviços nos países em desenvolvimento.18
Mas um grupo crítico, que ganhou força com "pode ver a era dos computadores em todo Existe, actualmente, 2,5 mil milhões de páginas Web
o decréscimo dos preços das acções das o lado menos nas estatísticas da produtivi-
originais e publicamente acessíveis na Internet e 7,3
dot-coms e do NASDAQ, afirmam que os dade". Mas não é esse o caso em todos os
crescimentos de produtividade se limitaram países da OCDE. Na maior parte da Europa milhões de páginas novas são acrescentadas todos os
ao sector informático, empurrados pela ex- e no Japão, o crescimento da produtividade dias.19 Com a Internet acessível através de aparelhos
pansão do ciclo económico – e que os com- não acelerou.
sem fio, incluindo telefones móveis que, segundo as
putadores e a Internet não são comparáveis à Porquê? Alguns defendem que os bene-
revolução industrial. Mudou tudo, ou nada? fícios do computador e da Internet só se expectativas, ultrapassarão os computadores pes-
A realidade é que o crescimento da nova econo- começam a sentir quando atingirem cerca soais em termos de acesso, até 2005,20 as pessoas e
mia não desafiou as leis da economia (o so- de 50% de penetração e começarem a re- as empresas nos países em desenvolvimento serão
breinvestimento continua a sobreaquecer a duzir custos noutras partes da economia.
cada vez mais capazes de aceder à preciosa infor-
economia). Mas contribui para o rápido cresci- Essa taxa só foi atingida nos Estados Unidos
mento recente da economia americana. em 1999. Não é o número de computadores mação disponível na Internet. Prevê-se que o comér-
O que é que aconteceu? Primeiro, o que despoleta a produtividade mais elevada, cio electrónico empresas-consumidor crescerá, em
rápido crescimento do sector informático – mas a mudança global na forma como a
termos mundiais, de 25 mil milhões de dólares EUA
hardware, software, a Internet – contribuiu economia funciona-se o trabalho é móvel de
directamente para o crescimento norte-ameri- uma localização e tipo de emprego para ou- em 1999, para 233 mil milhões até 2004;21 as previsões
cano, sendo responsável por cerca de um tras, se algumas empresas falham enquanto relativas ao comércio electrónico entre empresas
quarto do crescimento do produto na dé- outras arrancam, se os investidores mudam estão entre os 1,2 e os 10 mil milhões de dólares até
cada de 1990. Segundo, desde meados da o seu dinheiro de uma ideia nova para outra,
2003.22
década de 1990 que a utilização de com- se as relações entre empresas e seus fornece-
putadores e da Internet tem afectado outras dores tradicionais se quebram e se realin- Os países em desenvolvimento que podem criar as
partes da economia, aumentando a produ- ham, se as organizações mudam. Num infra-estruturas necessárias, podem participar em novos
tividade na indústria transformadora tradi- inquérito recente nos Estados Unidos, um
modelos de intermediação de negócios mundiais, como
cional e nos serviços. Depois de 20 anos em quarto das empresas responderam que tinham
que a produtividade cresceu a uma taxa realizado mudanças organizacionais em res- o outsourcing de processos empresariais e integração
média anual de 1%, ela tem vindo a crescer, posta à emergência da Internet. na cadeia de valor. À medida que aumenta a base de
Fonte: President of the United States 2001; Bassanini, Scarpetta e Visco 2000; Solow 1987; Jorgenson e Stiroh 2000; David utilizadores, que os custos diminuem e que as tecnolo-
1999¸OECD 2000a; The Economist 2000.
gias são adaptadas às necessidades locais, o potencial
das tecnologias de informação e comunicação nos países

36 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


em desenvolvimento só será limitado pela imaginação vestigação do que aquela que financiam, indicando que
humana e a vontade política. existe algum financiamento do governo à investigação
e desenvolvimento empresarial. As Universidades geral-
A ERA DAS REDES ESTÁ AMUDAR A FORMA COMO mente conduzem 15-20% da investigação e desen-
AS TECNOLOGIAS SÃO CRIADAS E DIFUNDIDAS – volvimento nacional, enquanto a investigação pública
DE 5 FORMAS na América do Norte e países Nórdicos é responsável
por cerca de 10% e na União Europeia ligeiramente mais
É necessário entender vários contornos desta nova era, de 15% (quadro 2.3).23
de forma a permitir aos países e às pessoas pobres Fazem parte da história as novas formas de finan-
tirarem vantagem das novas oportunidades. ciamento privado de investigação de alto risco. Inicia-
Em primeiro lugar, as capacidades são mais im- tivas empresarias pequenas e com base em tecnologia
portantes do que nunca no actual mercado mundial mais estão associadas a um risco elevado, fazendo delas can-
competitivo. A transferência e a difusão da tecnologia didatas improváveis para as formas convencionais de fi-
não são fáceis. Os países em desenvolvimento não nanciamento. O capital de risco, essencial para a
podem simplesmente importar e aplicar os conheci- explosão tecnológica nos Estados Unidos e que apoia
mentos do exterior através da aquisição de equipa- novas empresas tecnológicas na Europa e Japão, permite
mento, sementes e comprimidos. Nem todos os países que seja o mercado a escolher os vencedores. Começa
têm a capacidade de desenvolver tecnologias de ponta,
mas todos os países precisam ter a capacidade interna
CAIXA 2.5
de identificar os benefícios potenciais da tecnologia e As oportunidades de exportação da Índia na nova economia
de adaptar as novas tecnologias às suas necessidades e Que promessas reais é que a nova economia traz serviços, entregues por telecomunicações ou
limitações. Para utilizar uma tecnologia, empresas e para os países em desenvolvimento? A rápida por redes de dados, incluem a gestão de cartões
agricultores têm de ser capazes de aprender e desen- expansão mundial das tecnologias de infor- de crédito, resolução de litígios de seguradoras,
mação e comunicação tem criado novas opor- pagamento de salários de empresas e a gestão
volver com facilidade novas capacidades. Na Tailândia, tunidades para actividades de nicho. Na Índia, de recursos financeiros, humanos e de clientes.
quatro anos de educação triplicam as probabilidades de em 1999, a indústria gerou 330 mil milhões de O mercado de outsourcing mundial vale mais
um agricultor utilizar um fertilizante eficazmente. Na rupias (7,7 mil milhões de dólares EUA), 15 de 100 mil milhões de dólares EUA, com 185
vezes mais do que o nível de 1990, e as expor- das empresas da Fortune 500 a recorrer à Índia
Índia, é mais provável que os agricultores com for-
tações aumentaram de 150 milhões em 1990 para o outsourcing das suas necessidades de
mação utilizem técnicas de irrigação e sementes me- para quase 4 mil milhões de dólares em 1999. software. A Índia tem actualmente 1.250 em-
lhoradas. Nesta era de avanços tecnológicos rápidos, a Um estudo estimou que as exportações devem presa a exportar software.
aprendizagem de novas tecnologias é um processo con- aumentar para 50 mil milhões até 2008, fazendo A Índia mostra que a política pública é im-
com que a tecnologia de informação seja res- portante. Ao prover educação para a tecnolo-
tínuo. Não é possível aos países permanecerem com- ponsável por 30% das exportações da Índia e gia da informação – as escolas técnicas indianas
petitivos sem a constante actualização de conhecimentos 7,5% do seu PIB. Estima-se que o emprego na de língua inglesa formam mais de 73.000 li-
e capacidades (capítulo 4). indústria de software aumente de 180.000 em cenciados por ano – e investir em infra-estru-
1998 para 2,2 milhões em 2008, passando a ser turas (sobretudo ligações de alta velocidade e
Em segundo lugar, as novas regras mundiais que
responsável por 8% do emprego formal da portais internacionais com largura de banda
atribuem valor à tecnologia são mais importantes. As Índia. suficiente), o Governo assegurou um lugar para
novas regras subscritas por quase todos os países têm As tecnologias de informação e comuni- a Índia na nova economia. Estes esforços re-
aumentado a protecção mundial dos direitos intelectuais. cação criaram novas oportunidades de out- sultarão em benefícios de longo prazo para o
sourcing, permitindo que um serviço seja desenvolvimento humano e um crescimento
Isto aumenta o valor de mercado da tecnologia, au- prestado num país e entregue noutro. Estes económico equitativo.
mentando os incentivos ao investimento na investi- Fonte: Landler 2001; Reuters 2001; Chandrasekhar 2001.
gação e desenvolvimento. Mas também implica novas
escolhas para os países em desenvolvimento no acesso
à tecnologia e uma mudança nos custos ao consumidor
(capítulo 5). QUADRO 2.3
Em terceiro lugar, o sector privado lidera a inves- O sector privado lidera a criação de tecnologia
(percentagem das despesas de investigação e desenvolvimento, 1995)
tigação e desenvolvimento mundial, detendo a maior
parte do financiamento, conhecimento e pessoal espe- Fonte América do Norte União Europeia Países nórdicos

cializado para a inovação tecnológica. Na maioria dos Financiamento do sector privado 59 53 59


países da OCDE, o sector privado financia 50-60% da Realização do sector privado 71 62 67
Realização das universidades 16 21 23
investigação e desenvolvimento. As empresas têm um Realização do sector público 10 16 10
papel ainda maior na Irlanda, Japão, Coreia e Suécia. Nota: Exclui a investigação e desenvolvimento pelas organizações sem fins lucrativos.
Na maior parte dos países, as empresas aplicam mais in- Fonte: Lall 2001.

TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS ACTUAIS – CRIAÇÃO DA ERA DAS REDES 37


a surgir noutros lugares – incluindo a China, Índia, Is- elas investem no país de origem, o que facilita também
rael e Singapura (quadro 2.4). os contactos para o acesso ao mercado.
As grandes empresas dominam a investigação e Em quinto lugar, empresas em início de actividade,
desenvolvimento nas tecnologias de informação e co- laboratórios de investigação, financiadores e grandes
municação e na biotecnologia, tão importantes para o empresas estão a convergir em novos pólos mundiais
desenvolvimento humano. Em todo o mundo, a in- de inovação, criando um ambiente dinâmico que reúne
dústria farmacêutica e biotecnológica gastou 39 mil o conhecimento, o financiamento e a oportunidade.
milhões de dólares EUA em investigação e desenvolvi- Cientistas de topo e empresários entusiásticos de todo
mento, em 1998. Empresas farmacêuticas americanas o mundo convergem nestes centros, atraindo investi-
que assentam na investigação investiram 24 mil milhões dores. A revista Wired identificou 46 centros de topo
de dólares em 1999, aumentando para 26,4 em 2000. As e classificou-os por importância e vitalidade, de acordo
A difusão desigual 20 maiores empresas farmacêuticas duplicaram a sua des- com a presença de escritórios de grandes empresas,
pesa em investigação e desenvolvimento, desde meados capitais de risco, universidades, laboratórios de in-
da tecnologia não é
dos anos de 1990. Se essa tendência se mantiver, a des- vestigação e empresas em início de actividade . Os Es-
novidade – há muito pesa média por empresa pode aumentar até 2,5 mil tados Unidos tem 13 pólos, a Europa tem 16, a Ásia
milhões de dólares EUA até 2005.24 9, América do Sul 2, África 2, Austrália 2, Canadá 1
tempo que existem
Em quarto lugar, emergiu um mercado de trabalho e Israel 1 (mapa 2.1). Outros pólos podem, breve-
enormes diferenças mundial para os profissionais das tecnologias de ponta. mente, juntar-se à lista – Hyderabad na Índia ou Pe-
Impulsionados pela escassez de qualificações na Eu- quim e Xangai na China.
entre países
ropa, Japão e nos Estados Unidos, estes trabalhadores
têm cada vez maior mobilidade entre países. Em 2000, AS OPORTUNIDADES DA ERA DAS REDES
os Estados Unidos aprovaram legislação que permite EXISTEM NUM MUNDO DE CAPACIDADE

mais 195.000 licenças de trabalho por ano para profis- TECNOLOGICA DESIGUAL

sionais qualificados. Das 81.000 licenças aprovadas


entre Outubro de 1999 e Fevereiro de 2000, 40% A difusão desigual das tecnologias de informação e
foram concedidas a indivíduos provenientes da Índia comunicação – a desigualdade digital – tem chamado
e mais de metade foram para actividades relacionadas a atenção dos líderes mundiais. Reduzir esta de-
com a informática, um sexto para ciências e enge- sigualdade é actualmente um objectivo mundial. Mas
nharia.25 Surgiu um efeito secundário: um novo tipo difusão desigual da tecnologia não é novidade. Há
de negócio ou diáspora do cérebro. Uma forte re- muito tempo que existem enormes diferenças entre
lação entre Silicon Valley e Bangalore assenta nas países. Como resultado, os 200 e poucos países do
redes económicas da diáspora indiana, à medida que mundo enfrentam o desafio do desenvolvimento
humano na era das redes, começando de pontos de
QUADRO 2.4 partida muito diferentes. O índice de realização tecno-
O capital de risco expande-se por tudo lógica, neste Relatório, apresenta um perfil das rea-
o mundo lizações médias de cada país na criação e difusão
(milhões de dól. EUA correntes em investimento)
tecnológica e na construção de capacidades humanas
País ou área 1995 2000 para dirigir novas inovações (ver mapa 2.1, p. 45; e
Estados Unidos 4.566 103.170 anexo 2.1, p. 46).
Reino Unido 19 2.937 Para além da diferença entre países, o índice reve-
Japão 21 1.665
Alemanha 13 1.211 la disparidades consideráveis dentro dos países. Ob-
França 8 1.124 servemos a Índia, que alberga um dos pólos mais
Hong Kong, China (RAE) 245 769
Singapura 5 651 dinâmicos do mundo – Bangalore, que a Wired clas-
Suécia — 560 sificou em 11º entre 46 pólos. No entanto, a posição
Israel 8 474
Índia 3 342 da Índia no índice de realização tecnológica é 63º,
Finlândia — 217 caindo para o lugar mais baixo dos seguidores dinâmi-
China — 84
Coreia do Sul 1 65 cos. Porquê? Devido a variações enormes nas realiza-
Filipinas 2 9 ções tecnológicas entre os estados indianos. O país
África do Sul — 3
tem o sétimo maior número de cientistas e enge-
Nota: Os dados para a Finlândia e Suécia representam acções privadas.
Fonte: Thomson Financial Data Services 2001. nheiros no mundo, cerca de 140.000 em 1994.27 No en-
tanto, em 1999, o número médio de anos de

38 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


escolaridade era de apenas 5,1 anos e o analfabetismo computadores a baixos custos, a Tailândia desen-
adulto de 44%. volveu tratamentos para a febre dengue e para a
O índice de realização tecnológica foca três di- malária (ver caixa 5.2) e o Vietname desenvolveu
mensões ao nível dos países: tratamentos para a malária utilizando conhecimento
• Criação de novos produtos e processos através da tradicional (caixa 2.6). A Argentina, China, Coreia,
investigação e desenvolvimento. México e Tailândia estão a submeter quantidades
• Utilização de novas – e velhas – tecnologias na substanciais de patentes. Na Coreia, a despesa na in-
produção e consumo. vestigação e desenvolvimento chega a 2,8% do PIB,
• Existência das qualificações necessárias para a mais do que em qualquer outro país, exceptuando a
aprendizagem e inovação tecnológica. Suécia (quadro 2.5).

CRIAÇÃO TECNOLOGICA UTILIZAÇÃO TECNOLOGICA

O desenvolvimento de novos produtos e invenções, Como se poderia esperar, a utilização de novas e velhas
geralmente como resultado do investimento sistemático tecnologias é desigual – uma função obvia do rendi-
na investigação e desenvolvimento, é conduzido quase mento, entre outros factores. O que é surpreendente é
exclusivamente nos países da OCDE e nalguns países a rápida difusão de novas tecnologias nalguns países e
em desenvolvimento da Ásia e América Latina.28 Os as tendências diversas entre eles.
países da OCDE, com 14% da população mundial, são Em Hong Kong (China, RAE), Islândia, Noruega,
responsáveis por 86% dos 836.000 pedidos de patente Suécia e Estados Unidos, a Internet chega a mais de
submetidos em 1998 e 85% dos 437.000 artigos em re- metade da população e noutros países da OCDE chega
vistas científicas publicadas mundialmente.29 Estes
países também investem mais tanto em termos absolu-
CAIXA 2.6
tos como relativos – uma média de 2,4% do seu PIB vai
Combinação de conhecimentos tradicionais e de métodos científicos
para a investigação e desenvolvimento, comparado com para gerar inovações no tratamento da malária no Vietname
0,6% na Ásia do Sul (quadro anexo A.2.2). A inovação
O Vietname reduziu extraordinariamente os malária como uma prioridade nacional.
também significa propriedade. Dos pagamentos de
casos e mortes por malária, utilizando medica- O primeiro grande avanço foi o desenvolvimento
royalties e de direitos de licenças em 1999, no mundo, mentos de alta qualidade produzidos local- e fabrico de um novo medicamento – artemisina
54% foram para os Estados Unidos e 12% foram para mente. Entre 1992 e 1997, o número de mortes – para o tratamento dos casos graves de malária
o Japão.30 causadas pela malária caiu 97% e o número de e resistentes às combinações de medicamentos.
casos quase 60%. O que é que permitiu estes O novo produto, extraído da árvore indígena
No entanto, este perfil de concentração nos
enormes avanços? thanh hao, tinha sido utilizado na medicina tradi-
países da OCDE oculta a real evolução e dinamismo No início dos anos de 1990, o Governo cional chinesa e vietnamita durante séculos. A co-
em muitos países em desenvolvimento. Existem cen- vietnamita aproveitou uma melhoria na econo- laboração entre indústria e investigadores levou
mia, aumentando o seu investimento no con- à produção local, a baixo custo, de artemisina de
tros de inovação no Brasil, Índia, África do Sul,
trolo da malária e identificando a luta contra a alta qualidade e de outros derivados.
Tunísia e noutros locais e vários outros países da
Ásia e América Latina estão cada vez mais envolvi- Fonte: WHO 2000a.

dos na criação tecnológica. O Brasil está a desenvolver

QUADRO 2.5
Investimento na capacidade tecnológica doméstica

Parcela da escolarização superior Despesas de investigação


Taxa de escolarização superior bruta em ciências e desenvolvimento
(percentagem) (percentagem) (percentagem do PNB)
País ou grupo 1980 1997 1995–97 1987–97

Coreia do Sul 15 68 34,1 2,8


Singapura 8 43 62,0 1,1
Suécia 31 55a 30,6 3,8
Tailândia 15 22a 20,9 0,1
Estados Unidos 56 81a 17,2 2,6
Países em desenvolvimento 7 9a 27,6 ..
OCDE de rendimento elevado 39 64a 28,2 2,4
a. Refere-se a um ano anterior.
Fonte: Cálculos do Gabinete do Relatório do Desenvolvimento Humano baseados em UNESCO 1999 e 2001a e World Bank 2001h.

TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS ACTUAIS – CRIAÇÃO DA ERA DAS REDES 39


DESTAQUE 2.3
DIFUSÃO DESIGUAL DA TECNOLOGIA-ANTIGAS E NOVAS . . .
UTILIZADORES DE INTERNET – AINDA SÃO UM ENCLAVE MUNDIAL
O círculo grande representa a população mundial. Estados
As fatias mostram parcelas regionais Unidos
da população mundial..
As cunhas escuras mostram utilizadores de Internet.

OCDE de
rendimento Utilizadores de Internet em percentagem
elevado da população nacional
excl. EUA
Ásia do Sul 1998 2000
60
África Suécia
Subsariana
Estados Unidos
50
Noruega
Países Árabes

América Latina Singapura


Europa do Leste e Caraíbas
e CEI 40
Ásia Oriental
e Pacífico

Utilizadores de Internet
(em percentagem da população)
30 Japão

1998 2000 Irlanda


Estados Unidos 26,3 54,3
OCDE de rendimento elevado 20
(excl. EUA) 6,9 28,2
América Latina e Caraíbas 0,8 3,2
Ásia Oriental e Pacífico 0,5 2,3
Europa do Leste e CEI 0,8 3,9 10
Países Árabes 0,2 0,6 Malásia
África Subsariana 0,1 0,4 Brasil
Ásia do Sul 0,04 0,4 África do Sul
Mundo 2,4 6,7 0 China

Fonte: Cálculos do Gabinete do Relatório de Desenvolvimento Humano baseados em dados fornecidos por Nua Publish 2001 e UN 2001c.

A desigualdade diminui –
mas ainda muito lentamente A desigualdade digital no interior dos países
Mais de três quartos dos
utilizadores de Internet vivem nos países
da OCDE de rendimento elevado, Apesar dos dados sobre a demografia dos utilizadores da • Novos. Em qualquer lado, é mais provável que as
que contém 14% da população mundial Internet serem limitados, constata-se que a sua utiliza- pessoas mais novas estejam ligadas. Na Austrália, as
OCDE de ção é claramente concentrada. Na maior parte dos países, pessoas com 18-24 anos têm cinco vezes mais proba-
elevado os utilizadores da Internet são predominantemente: bilidade de serem utilizadores de Internet do que as
População mundial rendimento
• Urbanos e localizados em certas regiões. Na que têm mais de 55 anos. No Chile, 74% dos uti-
14% China, as 15 províncias com menos ligações, com 600 lizadores têm menos de 35 anos; na China essa per-
milhões de pessoas, têm apenas 4 milhões de uti- centagem é de 84%. Outros países seguem o mesmo
lizadores de Internet – enquanto que Xangai e Pe- padrão.
População que usa a Internet
quim, com 27 milhões de pessoas, têm 5 milhões de • Homens. Os homens constituem 86% dos uti-
OCDE de rendimento utilizadores. Na República Dominicana, 80% dos uti- lizadores na Etiópia, 83% no Senegal, 70% na China,
elevado 88% em 1998
lizadores situam-se na capital, Santo Domingo. E na 67% na França e 62% na América Latina.
79% em 2000 Tailândia, 90% vivem em áreas urbanas, onde se Algumas destas disparidades estão a diminuir.
encontram apenas 21% da população do país. Entre Por exemplo, a assimetria entre os sexos está a
as 1,4 milhões de ligações de Internet da Índia, mais diminuir rapidamente – como acontece na Tailândia,
Fonte: Cálculos do Gabinete do Relatório de de 1,3 milhões são nos cinco estados de Delhi, Kar- onde a percentagem de utilizadoras saltou de 35% em
Desenvolvimento Humano baseados em dados nataka, Maharashtra, Tamil Nadu e Mumbai.. 1999 para 49% em 2000, ou nos Estados Unidos,
fornecidos por Nua Publish e UN 2001c.
• Mais ricos e com melhor educação. Na Bulgária, onde as mulheres representavam 38% dos utilizadores
os 65% mais pobres da população incluem apenas em 1999 e passaram para 51% em 2000. No Brasil,
29% dos utilizadores da Internet. No Chile, 89% dos onde a utilização da Internet tem aumentado rapi-
utilizadores da Internet tiveram educação superior, damente, as mulheres representam 47% dos uti-
no Sri Lanka 65% e na China 70%. lizadores.

Fonte: UNDP, Country Offices 2001; Nanthikesan 2001.

40 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


. . . ENTRE PAÍSES . . .

A divisão digital não é ELECTRICIDADE TRACTORES TELEFONES


uma novidade. A difusão Kilowatt-hora per capita Por 1.000 hectares de terra Telefones por cabo por 1.000 pessoas
de invenções com décadas permanentemente cultivada
8.500 OCDE de OCDE de 600 OCDE de
diminuiu
rendimento 40 rendimento rendimento
elevado elevado elevado
8.000 500
35
7.500 400

América Latina 30
América Latina
1.500 e Caraíbas 120 e Caraíbas
Países Árabes América Latina
10 e Caraíbas Ásia Oriental
1.000 Ásia do Sul 80 & Pacífico
Ásia Oriental Países Árabes
& Pacífico Países Árabes
Ásia Oriental
África 5 & Pacífico
500 Subsariana 40
Ásia do Sul
Ásia do Sul África
Subsariana
0 0 0
1990 1997 1990 1997 1990 1999
Fonte: Cálculos do Gabinete do Relatório de Desenvolvimento Humano baseados em World Bank 2001h, FAO 2000a e ITU 2001b.

VARIEDADES MODERNAS DE CULTURAS


Percentagem de terras agrícolas permanentemente cultivadas

América Latina Ásia Médio Oriente e África do Norte África Subsariana

Tipo 1970 1980 1990 1998 1970 1980 1990 1998 1970 1980 1990 1998 1970 1980 1990 1998

Trigo 11 46 83 90 19 49 74 86 5 16 38 66 5 22 32 52
Arroz 2 22 52 65 10 35 55 65 0 2 15 40
Milho 10 20 30 46 10 25 45 70 1 4 15 17
Sorgo 4 20 54 70 0 8 15 26
Milho-miúdo 5 30 50 78 0 0 5 14
Mandioca 0 1 2 7 0 0 2 12 0 0 2 18

Nota: As áreas sombreadas indicam que menos de 30% da terra é plantada com variedades modernas de culturas.
Fonte: Evenson e Gollin 2001.

. . . E NO INTERIOR DOS PAÍSES


Acesso a electricidade Ligações Taxa de frequência
(percentagem Telefones de Internet bruta no secundário
de famílias) (por 1.000 pessoas) (por 1.000 pessoas) (percentagem)
Estado indiano/território 1994 1999 1999 1996

Maharashtra 59,7 43 8,21 66


Punjab 83,5 47 1,24 64
Kerala 61,1 43 0,87 83
Karnataka 63,0 29 2,73 52
West Bengal 15,6 16 2,51 44
Orissa 18,8 9 0,12 54
Uttar Pradesh 20,1 10 0,12 43

Fonte: Cálculos do Gabinete do Relatório do Desenvolvimento Humano baseados em NCAER 1999; UNDP, Índia Country Office 2001; Chandrashekar 2001; Government of
Índia, Department of Education 2001.

TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS ACTUAIS – CRIAÇÃO DA ERA DAS REDES 41


a perto de um terço.31 No resto do mundo a percenta- dentro dos países, concentrando-se nas áreas urbanas,
gem é muito menor, chegando a apenas 0,4% das pes- entre homens jovens e entre pessoas com rendimentos
soas da África Subsariana. Mesmo na Índia, onde se e níveis de educação mais elevados. Um sinal positivo
localiza um dos maiores pólos tecnológicos do mundo, é a redução da diferença entre os sexos em vários países,
apenas 0,4% da população utiliza a Internet. Com estes aumentando também a utilização de grupos de rendi-
níveis, serão necessários anos para reduzir a desigual- mentos mais baixos, à medida que se espalham locais
dade digital. Actualmente, 79% dos utilizadores da In- de acesso tais como cafés com Internet e centros de in-
ternet vivem em países da OCDE, que apenas contam formação comunitários.
com 14% da população mundial. Muitos países estão a usar tecnologia de ponta nas
No entanto, a Internet está a explodir em muitos indústrias transformadoras, de forma competitiva, como
países – nos países da OCDE de rendimento elevado, se demonstra pelo seu sucesso com exportações de alta
A difusão estagnou excluindo os Estados Unidos, a percentagem de uti- tecnologia. Dos 30 maiores exportadores, 11 pertencem
lizadores da Internet quadruplicou, de 7% para 28% ao mundo em desenvolvimento – incluindo a Coreia,
ou ficou bloqueada,
entre 1998 e 2000. O aumento tem sido considerável, Malásia e México (quadro 2.6). Mas, na África Sub-
esbarrando mesmo nos países em desenvolvimento: de 1,7 milhões sariana, Países Árabes e Ásia do Sul as exportações de
para 9,8 milhões de utilizadores no Brasil, de 3,8 milhões média e alta tecnologia representam menos de 5% do
aparentemente contra
para 16,9 milhões de utilizadores na China e de 2.500 total (quadro anexo A2.3).
as limitações para 25.000 no Uganda.32 No entanto, como estão a par- De igual modo, muitas invenções com décadas de
tir de uma base muito baixa, a parte da população com idade não foram adoptadas em todo o mundo, apesar
de rendimento,
acesso permanece pequena. do seu enorme valor como instrumentos do progresso
de infra-estruturas A difusão da Internet também tem sido desigual humano. Com muitas destas velhas tecnologias, a difusão
estagnou ou ficou bloqueada, esbarrando aparente-
e de instituições QUADRO 2.6
Concorrência nos mercados mundiais: mente contra as limitações de rendimento, de infra-es-
os 30 exportadores líderes de produtos truturas e de instituições.
de alta tecnologia
• A electricidade ainda não chegou a cerca de 2 mil
Mil milhões de milhões de pessoas, um terço da população mundial. Em
País dólares EUA, Índice
Posição ou área 1998–99 (1990=100) 1998, o consumo médio de electricidade na Ásia do Sul
e na África Subsariana era menos de um décimo do dos
1 Estados Unidos 206 250
2 Japão 126 196 países da OCDE.
3 Alemanha 95 206 • O telefone já tem mais de cem anos. Apesar de exis-
4 Reino Unido 77 255
5 Singapura 66 420 tir mais de 1 ligação à rede telefónica por cada 2 pes-
6 França 65 248 soas, nos países da OCDE, existe apenas 1 para cada 15
7 Coreia do Sul 48 428
8 Holanda 45 310 nos países em desenvolvimento – e 1 para cada 200 nos
9 Malásia 44 685 países menos desenvolvidos. Estas disparidades impe-
10 China 40 1.465
11 México 38 3.846 dem o acesso à Internet e dificultam as ligações na era
12 Irlanda 29 535 das redes. Contudo, recentes investimentos em infra-es-
13 Canadá 26 297
14 Itália 25 177 truturas, reformas institucionais, inovações de marke-
15 Suécia 22 314 ting e progressos tecnológicos têm acelerado a difusão
16 Suíça 21 231
17 Bélgica 19 296 de cabos de ligação telefónica. Entre 1990 e 1999, a den-
18 Tailândia 17 591 sidade de cabos de telefone aumentou de 22 para 69 por
19 Espanha 11 289
20 Finlândia 11 512 1.000 habitantes nos países em desenvolvimento. Os tele-
21 Dinamarca 9 261 fones móveis têm ultrapassado as restrições de infra-es-
22 Filipinas 9 1.561
23 Israel 7 459 truturas, espalhando-se nalguns países tão rapidamente
24 Áustria 7 172 quanto os cabos telefónicos. A África do Sul tem 132
25 Hungria 6 ..
26 Hong Kong, China utilizadores de telemóvel comparado com 138 ligações
(RAE) 5 111 de telefone fixo por 1.000 habitantes e Venezuela tem
27 Brasil 4 364
28 Indonésia 3 1.811 143 assinantes de telemóveis por 1.000 pessoas (quadro
29 República Checa 3 .. anexo A.2.4). Mas apesar disso e até hoje, os telefones
30 Costa Rica 3 7.324
móveis têm contribuído para aumentar as assimetrias,
Fonte: Cálculos do Gabinete do Relatório do Desenvolvimento Humano
baseados em dados de Lall 2000 e UN 2001a. já que têm aumentado muito mais rapidamente nos
países da OCDE.

42 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


• As transformações agrotécnicas de criação de consumidor. Mas, foi só nos últimos 10 anos que a
plantas, selecção de sementes, controlo de água e mecani- reserva de conhecimentos indígenas começou a chegar
zação começaram na Europa em meados do século 18 às pessoas de forma mais alargada. O seu valor poderá
e espalharam-se pelo resto do mundo. Com a revolução ser realçado quando for desenvolvido com métodos
verde, o rendimento mundial de cereais duplicou entre modernos, difundido e comercializado (ver caixa 2.6).
o início dos anos de 1960 e o final dos anos de 1990, Mas o mercado não é suficiente para canalizar o
crescendo de forma particularmente rápida na Ásia e desenvolvimento tecnológico para as necessidades hu- FIGURA 2.3
América Latina. Mas a África Subsariana ficou muito manas. O mercado pode produzir jogos de vídeo e curas A escolarização reflecte o progre
desigual na construção de capac
para trás na utilização de variedades de sementes moder- para a calvície, mas não eliminará, necessariamente, a
nas, tractores e fertilizantes.33 O clima e a terra ajudam falta de saúde, subnutrição, isolamento e falta de conhe- ESCOLARIZAÇÃO SECUNDÁRIA

a explicar algumas das diferenças, mas o rendimento cimentos que afectam as pessoas pobres. Muitos dos Taxa de escolarização bruta (percentagem)
OCDE
mais baixo também reflecte um nível mais baixo de sucessos do século 20 obrigaram a esforços delibera- de rendimento
100
factores de produção tecnológicos (quadro 2.8). dos para desenvolver soluções tecnológicas para os elevado

• Os progressos médicos que impulsionaram enormes problemas humanos, adaptando-as aos países em de-
ganhos na sobrevivência continuam fora do alcance de senvolvimento e difundindo-as amplamente entre as 80

muitos. Cerca de 2 mil milhões de pessoas não têm pessoas pobres. Para a revolução verde ocorrer, foi Mundo
acesso a medicamentos essenciais, como a penicilina. necessário mobilizar a comunidade internacional para 60
Países em
A reidratação oral continua a não ser utilizada em 38% um gigantesco programa de investigação agrícola para Desenvolvimento

dos casos de diarreia, nos países em desenvolvimento. prevenir a fome mundial, juntamente com a investigação 40
E metade das crianças africanas com 1 ano não foi vaci- e adaptação científicas ao nível local. A terapia de rei-
nada contra a difteria, coqueluche, tétano, poliomielite dratação oral emergiu com a investigação de ponta, mas 20 Países menos
e sarampo.34 a sua disseminação exigiu um grande esforço público Desenvolvidos a

(ver caixa 2.2). Apesar da descoberta da penicilina em 0


QUUALIFICAÇÕES HUMANAS 1928, esta só foi comercializada 15 anos mais tarde. 1970 1995

Porquê? A procura de antibióticos por satisfazer era ESCOLARIZAÇÃO SUPERIOR


Os países em desenvolvimento que estão bem classifi- sem dúvida enorme, mas as empresas farmacêuticas não Taxa de escolarização bruta (percentagem)
cados na ordenação do índice de realização tecnológica se mostraram interessadas. Foi necessário haver uma OCDE
têm conseguido ganhos espectaculares ao nível das guerra para que a procura se cristalizasse num mercado 60 de rendimento
elevado
qualificações humanas nas últimas décadas. As taxas de viável.36
escolarização bruta superior na Coreia aumentaram de Assim, transformar a tecnologia num instrumento 50
15% para 68% entre 1980 e 1997, e 34% dessa esco- de desenvolvimento humano requer, muitas vezes, um
larização foram em ciências e matemática – bem à esforço deliberado e investimento público para criar e 40

frente de 28%, a média da OCDE.35 Mas, a maior parte difundir amplamente as inovações. Não basta investir
dos países em desenvolvimento está muito atrasada em na criação, adaptação e comercialização de produtos 30

relação aos países da OCDE na escolarização (figura necessários às pessoas pobres, ou que estas possam
2.3). adquirir – os seus salários são demasiado baixos e não 20
Mundo
representam uma oportunidade de mercado para o
Países em
10
TRANSFORMAR A TECNOLOGIA NUM INSTRUMENTO sector privado. As capacidades nacionais nos países desenvolvimento
DE DESENVOLVIMENTO HUMANO REQUER ESFORÇO em desenvolvimento também são limitadas. Benefícios Países menos
0 desenvolvidos a
potencialmente enormes requerem uma coordenação 1970 1995
No final do século 19, a aplicação da ciência as técni- difícil ao nível mundial. Os direitos de propriedade
cas manufactureiras ou às práticas agrícolas tornou-se intelectual podem estimular a inovação, mas no mundo a. Os dados referem-se a 1970 e 1994.
Fonte: Cálculos do Gabinete do Relatório de
na base dos sistemas produtivos, tendo contribuído de de hoje, de profundo desequilíbrio na procura e ca- Desenvolvimento Humano baseados
em UNESCO 1999.
alguma forma para aumentar o rendimento da maio- pacidade, eles não são suficientes para estimular a ino-
ria dos trabalhadores. No século 20, a investigação e vação em muitos países em desenvolvimento. Ao nível
o desenvolvimento transformaram o conhecimento mundial, benefícios potencialmente vastos requerem
num factor produtivo crucial e as invenções produzi- uma coordenação difícil. Contudo, o investimento
das pelos laboratórios industriais rapidamente encon- público no desenvolvimento tecnológico pode ter re-
traram o seu caminho para o mercado. A iniciativa tornos enormes. Por exemplo, estima-se que cerca de
empresarial e os incentivos de mercado aceleraram o 1.800 programas públicos de investigação sobre o trigo,
progresso tecnológico para satisfazer a procura do arroz, milho e outras culturas – que ocorrem em todas

TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS ACTUAIS – CRIAÇÃO DA ERA DAS REDES 43


QUADRO 2.7 as regiões e ao longo de quatro décadas, desde 1958 –
Taxas elevadas de retorno com o tiveram uma taxa média de retorno interno real de
investimento na investigação agrícola
(percentagem)
44% (tabela 2.9).
O resto deste Relatório explora as formas como
Taxa interna
de retorno,
as políticas públicas, nacionais e mundiais, podem
Localização 1958–98 enfrentar os constrangimentos fundamentais à cria-
Todas as localizações conhecidas 44
ção e difusão de tecnologia para as pessoas e países
África Subsariana 33 pobres. O capítulo 3 concentra-se na gestão de
Ásia e Pacífico 48
América Latina e Caraíbas 41
riscos, o capítulo 4 na construção de capacidade
Ásia Ocidental e África do Norte 34 nacional e o capítulo 5 na promoção de iniciativas
Multinacional ou internacional 35
mundiais.
Nota: As classificações regionais diferem das utilizadas em qualquer
outro lugar no Relatório. Mostram a média de 1.809 programas do
sector público.
Fonte: Lipton, Sinha e Blackman 2001.

44 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


MAPA 2.1
A GEOGRAFIA DA INOVAÇÃO E REALIZAÇÃO TECNOLÓGICA

Índice de realização
tecnológica

Líderes
Líderes potenciais
Seguidores dinâmicos
Marginalizados
Dados não disponíveis

Resultados de inovação
Centros tecnológica
16 (máximo)

4 (mínimo)

Centros mundiais de inovação tecnológica Em 2000, a revista Wired consultou fontes locais nos governos, indústria e meios de comunicação social, para encontrar as localizações mais im-
portantes na nova geografia digital. Cada uma foi classificada de 1 a 4, em quatro áreas: a capacidade das áreas universitárias e das instalações de investigação para formar trabalhadores qualificados ou desen-
volver novas tecnologias, a presença de companhias e de grandes empresas multinacionais para fornecer competências e estabilidade económica, o impulso empresarial da população para iniciar novas aventuras e
a disponibilidade do capital de risco para assegurar que as ideias se orientam para o mercado. Quarenta e seis locais foram identificados como centros tecnológicos, identificados no mapa com círculos pretos.

Resultados 13 Taipé, Taiwan (província 11 Malmo, Suécia - 10 Paris, França 8 Santa Fé, EUA
16 Sillicon Valley, EUA da China) Copenhaga, Dinamarca 10 Bade-Wurttemberg, 8 Glasgow-Edinburgo, RU
15 Boston, EUA 13 Bangalore, Índia 11 Baviera, Alemanha Alemanha 8 Saxónia, Alemanha
15 Estocolmo-Kista, Suécia 12 Nova Iorque, EUA 11 Flandres, Bélgica 10 Oulu, Finlândia 8 Sophia Antipolis, França
15 Israel 12 Albuquerque, EUA 11 Tóquio, Japão 10 Melbourne, Austrália 8 Inchon, Coreia do Sul
14 Raleigh-Durham-Chapel 12 Montreal, Canadá 11 Quioto, Japão 9 Chicago, EUA 8 Kuala Limpur, Malásia
Hill, EUA 12 Seattle, EUA 11 Hsinchu, Taiwan 9 Hong Kong, China (RAE) 8 Campinas, Brasil
14 Londres, RU 12 Cambridge, RU (província da China) 9 Queensland, Austrália 7 Singapura
14 Helsínquia, Finlândia 12 Dublin, Irlanda 10 Virgínia, EUA 9 São Paulo, Brasil 6 Trondheim, Noruega
13 Austin, EUA 11 Los Angeles, EUA 10 Vale do Tamisa, RU 8 Salt Lake, EUA 4 El Ghazala, Tunísia
13 São Francisco, EUA 4 Gauteng, África do Sul
Fonte: Hillner 2000.

Quatro categorias do índice de realização tecnológica (ver anexo 2.1, p. 46; e quadro anexo A2.1, p. 48)

LÍDERES LÍDERES POTENCIAIS SEGUIDORES DINÂMICOS MARGINALIZADOS


Finlândia (2 centros) Espanha Uruguai Tunísia (1 centro) Nicarágua
Estados Unidos (13 centros) Itália África do Sul (1 centro) Paraguai Paquistão
Suécia (2 centros) República Checa Tailândia Equador Senegal
Japão (2 centros) Hungria Trindade e Tobago El Salvador Gana
Coreia do Sul (1 centro) Eslovénia Panamá República Dominicana Quénia
Holanda Hong Kong, China (RAE) Brasil (2 centros) Síria Nepal
Reino Unido (4 centros) Eslováquia Filipinas Egipto Tanzânia
Canadá (1 centro) Grécia China (2 centros) Argélia Sudão
Austrália (1 centro) Portugal Bolívia Zimbabwe Moçambique
Singapura (1 centro) Bulgária Colômbia Indonésia
Alemanha (3 centros) Polónia Peru Honduras
Noruega (1 centro) Malásia Jamaica Sri Lanka
Irlanda (1 centro) Croácia Irão Índia (1 centro)
Bélgica (1 centro) México
Nova Zelândia Chipre
Áustria Argentina
França (2 centros) Roménia
Israel Costa Rica
Chile

TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS ACTUAIS – CRIAÇÃO DA ERA DAS REDES 45


ANEXO 2.1
O ÍNDICE DE REALIZAÇÃO TECNOLÓGICA – UMA NOVA MEDIDA DA CAPACIDADE DOS PAÍSES PARTICIPAREM NA ERA DAS REDES

Este relatório introduz o índice de realização tecno- índice tem de ser capaz de distinguir entre países que • Qualificações humanas. Uma massa crítica de
lógica (IRT), cujo objectivo é retratar a forma como estão no fundo da classificação. qualificações é indispensável ao dinamismo tecno-
um país cria e difunde a tecnologia e constrói uma lógico. Tanto os criadores como os utilizadores de
base de capacidades humanas – reflectindo a ca- Componentes do índice nova tecnologia precisam de qualificações. A tecno-
pacidade de participação nas inovações tecnológicas O IRT concentra-se em quatro dimensões da ca- logia de hoje exige a adaptabilidade – qualificações
da era das redes. Este índice compósito mede reali- pacidade tecnológica que são importantes para colher para dominar o fluxo constante de novas inovações.
zações e não o potencial, esforços ou inputs. Não é os benefícios da era das redes. Os indicadores se- As bases desta capacidade são o ensino básico, para
uma medida para conhecer o país que lidera no de- leccionados estão relacionados com objectivos im- desenvolver capacidades cognitivas, e qualificações
senvolvimento tecnológico mundial mas, antes, para portantes da política tecnológica de todos os países, em ciências e matemáticas. Utilizam-se dois indi-
avaliar se um país no seu todo está a participar bem independentemente do seu nível de desenvolvimento: cadores para reflectir as qualificações humanas
na criação e na utilização da tecnologia. Considere- • Criação de tecnologia. Nem todos os países pre- necessárias à criação e absorção de inovações: anos
mos os Estados Unidos – uma fonte de influência da cisam de estar na vanguarda do desenvolvimento médios de escolaridade e taxa de escolarização bruta
tecnologia mundial – e a Finlândia. Os Estados tecnológico mundial, mas a capacidade de inovar é de estudantes do ensino superior inscritos em ciên-
Unidos têm um total de invenções e anfitriões de In- relevante para todos os países e constitui o nível mais cia, matemática e engenharia. Apesar de ser desejável
ternet muito maior do que a Finlândia, mas não se elevado da capacidade tecnológica. A economia incluir indicadores de formação profissional, estes
classifica tão bem na ordenação do IRT, porque na mundial dá grandes recompensas aos líderes e pro- dados não estão disponíveis.
Finlândia a Internet está mais amplamente difun- prietários da inovação tecnológica. Todos os países
dida e muito se faz para desenvolver uma base de qual- precisam ter a capacidade de inovar, porque a pos- Fontes de dados e limitações
ificações tecnológicas por toda a população. sibilidade de inovar na utilização da tecnologia não Os dados utilizados para construir o IRT provêm das
As realizações tecnológicas de um país são mais pode ser plenamente desenvolvida sem que exista a séries internacionais mais utilizadas na análise de
amplas e mais complexas do que este ou qualquer capacidade de criar – sobretudo de adaptar produ- tendências tecnológicas, sendo portanto os mais
outro índice pode retratar. É impossível reflectir a tos e processos às condições locais. A inovação ocorre fidedignos do conjunto disponível, como se mostra
gama completa de tecnologias – da agricultura à medi- em toda a sociedade, em contextos formais e infor- no quadro. O conjunto de indicadores apropriados
cina e indústria transformadora. Muitos aspectos da mais, apesar da tendência actual ser no sentido de au- limita-se àqueles que têm uma cobertura razoável.
criação, difusão e qualificações humanas tecnológicas mentar a comercialização e formalização do processo Ao interpretar os valores e a classificação do
são difíceis de quantificar. E mesmo se fosse possível de inovação. Na ausência de indicadores perfeitos e IRT, deve-se ter em consideração as limitações das
quantificá-los, a falta de dados fidedignos faz com que de séries de dados, o IRT utiliza dois indicadores para séries de dados. Alguns países podem ter inovações
seja impossível reflecti-los completamente. Conside- captar o nível de inovação numa sociedade. O pri- subavaliadas, porque os registos de patentes e os
remos, por exemplo, a ocorrência de importantes meiro é o número de patentes concedidas per capita, pagamento de royalties são os únicos dados sobre in-
inovações tecnológicas no sector informal da econo- para reflectir o nível actual de actividades de in- ovação tecnológica que são recolhidos sistematica-
mia e nos sistemas de conhecimento indígenas. Mas, venção. O segundo é dado pelas receitas de royalties mente, mas que deixam de fora inovações valiosas mas
como não são registadas não podem ser quantifi- e direitos de licenças recebidos do estrangeiro per não comercializadas, como as que ocorrem no sec-
cadas. Por isso, o IRT é construído utilizando indi- capita, para reflectir o stock de inovações bem suce- tor informal e em sistemas de conhecimento indíge-
cadores, e não medidas directas, das realizações de um didas no passado que ainda são úteis e, portanto, têm nas. Para além disto, os sistemas e tradições nacionais
país em quatro dimensões. Fornece um resumo em valor de mercado. diferem no seu âmbito e nos critérios. A difusão de
bruto – e não uma medida compreensiva – das reali- • Difusão de inovações recentes. Todos os países novas tecnologias pode ser subavaliada em muitos
zações tecnológicas de uma sociedade. têm de adoptar inovações para beneficiar das opor- países em desenvolvimento. O acesso à Internet é me-
tunidades da era das redes. Isto é medido pela difusão dido através de anfitriões de Internet, porque estes
Porquê um índice composto? da Internet – indispensável à participação – e pela ex- dados são mais fidedignos e têm melhor cobertura do
O IRT destina-se a ajudar os decisores políticos na portação de produtos de alta e média tecnologia que os dados sobre utilizadores de Internet, ao nível
definição de estratégias tecnológicas. Este Relatório como uma parcela do total de exportações. do país.
defende que as estratégias tecnológicas precisam ser • Difusão de invenções antigas. A participação na
redefinidas na era das redes. Como primeiro passo, era das redes exige a difusão de muitas invenções anti- Ponderação e agregação
apela aos decisores políticos para considerarem de gas. Embora seja possível saltar etapas, o avanço tec- A metodologia para a construção do IRT é apresen-
novo as suas realizações tecnológicas actuais. Um nológico é um processo cumulativo e a ampla difusão tada em pormenor na nota técnica. Cada uma das qua-
índice compósito ajuda um país a situar-se em relação de invenções mais antigas é necessária para adoptar tro dimensões tem igual ponderação. E cada um dos
a outros, sobretudo aqueles que estão mais avança- invenções mais recentes. Os dois indicadores uti- indicadores que compõem as dimensões também
dos. Há muitos elementos que compõem as realiza- lizados aqui – telefones e electricidade – são parti- tem igual ponderação.
ções tecnológicas de um país, mas uma avaliação cularmente importantes, porque são necessários para
global é realizada com mais facilidade através de a utilização das tecnologias mais novas e, também, Valores e classificações do IRT
uma única medida compósita do que através de várias porque são inputs difusos de uma grande variedade As estimativas do IRT foram preparadas para 72
medidas diferentes. Tal como outros índices com- de actividades humanas. Contudo, ambos os indi- países, para os quais existem dados disponíveis e de
pósitos dos Relatórios de Desenvolvimento Humano cadores são expressos como logaritmos, cujo máximo qualidade aceitável. Para outros, não existiam dados
(o índice de desenvolvimento humano, por exemplo), é o nível médio da OCDE, dado que são impor- ou eram insatisfatórios para um ou mais indicadores.
O IRT é para ser usado como ponto de partida para tantes numa fase inicial do avanço tecnológico mas Muitos dos países do mundo em desenvolvimento não
uma avaliação global, seguida pela análise por- não nas suas fases mais avançadas. Assim, embora seja têm dados sobre patentes e royalties. Como a falta de
menorizada de diferentes indicadores. importante para a Índia concentrar-se na difusão da dados geralmente indica que existe pouca inovação
A elaboração do índice reflecte duas preo- electricidade e dos telefones, para que as suas popu- formal, utilizou-se nestes casos um valor igual a zero
cupações particulares. Primeiro, concentra-se em in- lações possam participar na revolução tecnológica, o para o indicador em falta.
dicadores que reflectem as preocupações políticas de Japão e a Suécia já passaram esta fase. Exprimir a me- Os resultados mostram três tendências: um mapa
todos os países, independentemente do nível de de- dida em logaritmos garante que, à medida que os de grandes disparidades entre países, diversidade e
senvolvimento tecnológico. Segundo, ser útil aos níveis aumentam, a sua contribuição para o índice é dinamismo no progresso tecnológico entre países
países em desenvolvimento. Para o conseguir, este menor. em desenvolvimento e um mapa de pólos tecnológi-

46 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


Dimensão Indicador Fonte

Criação de tecnologia Patentes concedidas per capita Organização Mundial da Propriedade


Intelectual (WIPO 2000)

Receitas de royalties e direitos de licenças do exterior, per capita Banco Mundial (World Bank 2001h)

Difusão de inovações recentes Anfitriões de Internet per capita União Internacional das Telecomunicações
(ITU 2001a)

Exportações de alta e média tecnologia como parcela de todas as exportações Divisão de Estatísticas das Nações Unidas
(calculado com base em dados de Lall 2001 e
UN 2001a)

Difusão de inovações antigas Logaritmo dos telefones per capita (cabo e telemóveis combinados) União Internacional das Telecomunicações
(ITU 2001b)

Logaritmo do consumo de electricidade per capita Banco Mundial (World Bank 2001h)

Qualificações humanas Anos médios de escolaridade Barro e Lee (Barro e Lee 2000)

Taxa de escolarização bruta no ensino superior em ciências, matemática e engenharia Organização das Nações Unidas para a Edu-
cação, Ciência e Cultura (cálculos baseados
em dados da UNESCO 1998, 1999 e 2001a)

cos sobrepostos em países com níveis de desen- antigas, mas inova pouco. Cada um tende a posi- que o Reino Unido, Canadá e outras economias in-
volvimento diferentes. cionar-se relativamente baixo numa ou duas dimen- dustrializadas já estabelecidas. A Irlanda classifi-
O mapa de grandes disparidades mostra quatro sões, tal como a difusão de inovações recentes ou de cou-se acima da Áustria e da França. Países em
grupos de países (ver mapa 2.1), com os valores do invenções antigas. Mas, a maior parte tem níveis de desenvolvimento de grande dimensão – China, Brasil,
IRT a variar de 0,744 para a Finlândia a 0,066 para qualificação comparáveis aos do grupo do topo. Índia – têm prestações piores do que seria de esperar,
Moçambique. Estes países podem ser considerados • Seguidores dinâmicos (0,20-0,34) – estes países porque esta não é uma classificação do "poderio
como líderes, líderes potenciais, seguidores dinâmi- são dinâmicos na utilização de novas tecnologias. tecnológico" de um país.
cos ou marginalizados: Muitos são países em desenvolvimento com níveis de Finalmente, os pólos tecnológicos têm um efeito
• Líderes (IRT acima de 0,5) – liderados pela Fin- qualificações humanas significativamente mais ele- limitado no índice devido às disparidades no interior
lândia, Estados Unidos, Suécia e Japão, este grupo vados que os do quarto grupo. Inclui, entre outros, dos países. Se o IRT fosse estimado apenas para os
está na vanguarda da inovação tecnológica. A ino- o Brasil, China, Índia, Indonésia, África do Sul e pólos, estes países seriam sem dúvida classificados
vação é auto-sustentada e estes países têm realiza- Tunísia. Muitos destes países têm indústrias de alta entre os líderes ou líderes potenciais.
ções elevadas na criação, difusão e qualificações tecnologia e centros tecnológicos importantes, mas
tecnológicas. A seguir vem a Coreia do Sul, em a difusão de invenções antigas é lenta e incompleta. Realizações tecnológicas
quinto e Singapura, em décimo – dois países que, • Marginalizados (menos de 0,20) – a difusão e desenvolvimento humano
nas décadas recentes, avançaram rapidamente na te- tecnológica e a construção de qualificações ainda Apesar das realizações tecnológicas serem impor-
cnologia. Este grupo separa-se do resto pelo seu têm um longo caminho a percorrer nestes países. tantes para o desenvolvimento humano, o IRT mede
índice de invenção mais elevado, com uma diferença Largos sectores da população não beneficiaram da di- apenas as realizações tecnológicas. Não nos dá indi-
significativa entre Israel, neste grupo e a Espanha, fusão de antigas tecnologias. cação sobre o nível de tradução destas realizações em
no seguinte. Estas classificações não seguem as do rendi- desenvolvimento humano. Apesar disso, o IRT mostra
• Líderes potenciais (0,35-0,49) – a maior parte mento e mostram um dinamismo considerável no uma correlação elevada com o índice de desenvolvi-
destes países investiu em níveis elevados de qualifi- campo das realizações tecnológicas, em vários países mento humano (IDH) e correlaciona-se melhor com
cações humanas e difundiu amplamente tecnologias – por exemplo, a Coreia tem melhor classificação do o IDH do que com o rendimento.

Fonte: Desai e outros 2001.

TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS ACTUAIS – CRIAÇÃO DA ERA DAS REDES 47


A2.1 Índice de
Difusão das inovações
realização
recentes
tecnológica
Criação de tecnologia Exportações Difusão das inovações Qualificações humanas
Patentes Receitas de de alta antigas Taxa de esco-
Índice de concedidas royalties e direi- Anfitriões e média Telefones Consumo de Anos médios larização supe-
realização a residentes tos de licenças de Internet tecnologia (cabo e móvel, electricidadede escolaridade rior bruta
tecnológica (por milhão (dólares EUA por (por 1.000 (em % das por (kilowatt-hora (15 anos em ciências
(IRT) de pessoas) 1.000 pessoas) pessoas) exp. de bens) 1.000 pessoas) per capita) e acima) (%)
Ordem IRT valores 1998 a 1999 b 2000 1999 1999 1998 2000 1995–97 c

Líderes
1 Finlândia 0,744 187 125,6 200,2 50,7 1,203 d 14,129 e 10,0 27,4
2 Estados Unidos 0,733 289 130,0 179,1 66,2 993 d 11,832 e 12,0 13,9 f
3 Suécia 0,703 271 156,6 125,8 59,7 1,247 d 13,955 e 11,4 15,3
4 Japão 0,698 994 64,6 49,0 80,8 1,007 d 7,322 e 9,5 10,0 g
5 Coreia do Sul 0,666 779 9,8 4,8 66,7 938 d 4,497 10,8 23,2
6 Holanda 0,630 189 151,2 136,0 50,9 1,042 d 5,908 9,4 9,5
7 Reino Unido 0,606 82 134,0 57,4 61,9 1,037 d 5,327 9,4 14,9
8 Canadá 0,589 31 38,6 108,0 48,7 881 15,071 e 11,6 14,2 f
9 Austrália 0,587 75 18,2 125,9 16,2 862 8,717 e 10,9 25,3
10 Singapura 0,585 8 25,5 h, i 72,3 74,9 901 6,771 7,1 24,2 h
11 Alemanha 0,583 235 36,8 41,2 64,2 874 5,681 10,2 14,4
12 Noruega 0,579 103 20,2 i 193,6 19,0 1,329 d 24,607 e 11,9 11,2
13 Irlanda 0,566 106 110,3 48,6 53,6 924 d 4,760 9,4 12,3
14 Bélgica 0,553 72 73,9 58,9 47,6 817 7,249 e 9,3 13,6 f
15 Nova Zelândia 0,548 103 13,0 146,7 15,4 720 8,215 e 11,7 13,1
16 Áustria 0,544 165 14,8 84,2 50,3 987 d 6,175 8,4 13,6
17 França 0,535 205 33,6 36,4 58,9 943 d 6,287 7,9 12,6
18 Israel 0,514 74 43,6 43,2 45,0 918 d 5,475 9,6 11,0 f
Líderes potenciais
19 Espanha 0,481 42 8,6 21,0 53,4 730 4,195 7,3 15,6
20 Itália 0,471 13 9,8 30,4 51,0 991 d 4,431 7,2 13,0
21 República Checa 0,465 28 4,2 25,0 51,7 560 4,748 9,5 8,2
22 Hungria 0,464 26 6,2 21,6 63,5 533 2,888 9,1 7,7
23 Eslovénia 0,458 105 4,0 20,3 49,5 687 5,096 7,1 10,6
24 Hong Kong, China (RAE) 0,455 6 — 33,6 33,6 1,212 d 5,244 9,4 9,8 f, g
25 Eslováquia 0,447 24 2,7 10,2 48,7 478 3,899 9,3 9,5
26 Grécia 0,437 (,) 0,0 j 16,4 17,9 839 3,739 8,7 17,2 f
27 Portugal 0,419 6 2,7 17,7 40,7 892 3,396 5,9 12,0
28 Bulgária 0,411 23 — 3,7 30,0 i 397 3,166 9,5 10,3
29 Polónia 0,407 30 0,6 11,4 36,2 365 2,458 9,8 6,6 f
30 Malásia 0,396 — 0,0 2,4 67,4 340 2,554 6,8 3,3 f
31 Croácia 0,391 9 — 6,7 41,7 431 2,463 6,3 10,6
32 México 0,389 1 0,4 9,2 66,3 192 1,513 7,2 5,0
33 Chipre 0,386 — — 16,9 23,0 735 3,468 9,2 4,0
34 Argentina 0,381 8 0,5 8,7 19,0 322 1,891 8,8 12,0 g
35 Roménia 0,371 71 0,2 2,7 25,3 227 1,626 9,5 7,2
36 Costa Rica 0,358 — 0,3 4,1 52,6 239 1,450 6,1 5,7 g
37 Chile 0,357 — 6,6 6,2 6,1 358 2,082 7,6 13,2
Seguidores dinâmicos
38 Uruguai 0,343 2 0,0 j 19,6 13,3 366 1,788 7,6 7,3
39 África do Sul 0,340 — 1,7 8,4 30,2 k 270 3,832 6,1 3,4
40 Tailândia 0,337 1 0,3 1,6 48,9 124 1,345 6,5 4,6
41 Trindade e Tobago 0,328 — 0,0 i 7,7 14,2 246 3,478 7,8 3,3
42 Panamá 0,321 — 0,0 1,9 5,1 251 1,211 8,6 8,5
43 Brasil 0,311 2 0,8 7,2 32,9 238 1,793 4,9 3,4
44 Filipinas 0,300 (,) 0,1 0,4 32,8 77 451 8,2 5,2 f
45 China 0,299 1 0,1 0,1 39,0 120 746 6,4 3,2
46 Bolívia 0,277 — 0,2 0,3 26,0 113 409 5,6 7,7 f, g
47 Colômbia 0,274 1 0,2 1,9 13,7 236 866 5,3 5,2
48 Peru 0,271 — 0,2 0,7 2,9 107 642 7,6 7,5 f
49 Jamaica 0,261 — 2,4 0,4 1,5 i 255 2,252 5,3 1,6
50 Irão 0,260 1 0,0 i (,) 2,0 133 1,343 5,3 6,5

48 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


A2.1 Índice de Difusão das inovações
realização recentes
tecnológica Criação de tecnologia Exportações Difusão das inovações Qualificações humanas
Patentes Receitas de de alta antigas Taxa de esco-
Índice de concedidas royalties e direi- Anfitriões e média Telefones Consumo de Anos médios larização supe-
realização a residentes tos de licenças de Internet tecnologia (cabo e móvel, electricidadede escolaridade rior bruta
tecnológica (por milhão (dólares EUA por (por 1.000 (em % das por (kilowatt-hora (15 anos em ciências
(IRT) de pessoas) 1.000 pessoas) pessoas) exp. de bens) 1.000 pessoas) per capita) e acima) (%)
Ordem IRT valores 1998 a 1999 b 2000 1999 1999 1998 2000 1995–97 c

51 Tunísia 0,255 — 1,1 (,) 19,7 96 824 5,0 3,8


52 Paraguai 0,254 — 35,3 0,5 2,0 137 756 6,2 2,2
53 Equador 0,253 — — 0,3 3,2 122 625 6,4 6,0 f, g
54 El Salvador 0,253 — 0,2 0,3 19,2 138 559 5,2 3,6
55 República Dominicana 0,244 — — 1,7 5,7 i 148 627 4,9 5,7
56 Síria 0,240 — — 0,0 1,2 102 838 5,8 4,6 g
57 Egipto 0,236 (,) 0,7 0,1 8,8 77 861 5,5 2,9
58 Argélia 0,221 — — (,) 1,0 54 563 5,4 6,0
59 Zimbabwe 0,220 (,) — 0,5 12,0 36 896 5,4 1,6
60 Indonésia 0,211 — — 0,2 17,9 40 320 5,0 3,1
g
61 Honduras 0,208 — 0,0 (,) 8,2 57 446 4,8 3,0
62 Sri Lanka 0,203 — — 0,2 5,2 49 244 6,9 1,4
63 Índia 0,201 1 (,) 0,1 16,6 i 28 384 5,1 1,7
Marginalizados
64 Nicarágua 0,185 — — 0,4 3,6 39 281 4,6 3,8
65 Paquistão 0,167 — (,) j 0,1 7,9 24 337 3,9 1,4 f, g
66 Senegal 0,158 — 0,0 j 0,2 28,5 27 111 2,6 0,5 f, g
67 Gana 0,139 (,) — (,) 4,1 12 289 3,9 0,4 f, g
68 Quénia 0,129 (,) (,) 0,2 7,2 11 129 4,2 0,3 f
69 Nepal 0,081 — 0,0 0,1 1,9 i 12 47 2,4 0,7
70 Tanzânia 0,080 — (,) (,) 6,7 6 54 2,7 0,2
71 Sudão 0,071 — 0,0 0,0 0,4 i 9 47 2,1 0,7 f, g
72 Moçambique 0,066 — — (,) 12,2 i 5 54 1,1 0,2
Outros
Albânia — — — 0,1 4,2 i 39 678 — 2,7
Angola — — — (,) — 10 60 — —
Arménia — 8 — 0,9 11,7 158 930 — 4,0
Azerbaijão — — — 0,1 6,3 118 1,584 — 7,3 f
Baamas — — — — — 422 — — —
Barém — — — 3,6 5,7 i 453 7,645 6,1 6,7 f
Bangladeche — (,) (,) 0,0 2,9 i 5 81 2,6 —
Barbados — — 0,8 0,5 31,3 538 — 8,7 6,1
Bielorrússia — 50 0,1 0,3 46,5 259 2,762 — 14,4
Belize — — 0,0 i 2,2 0,2 l 182 — — —
Benim — — — (,) — — 46 2,3 0,5
Butão — — — 2,1 — 18 — — —
Botswana — 1 (,) 2,7 — 150 — 6,3 1,6
Brunei — — — 8,0 — 451 7,676 — 0,4
Burkina Faso — — — (,) — 5 — — 0,2
Burúndi — — 0,0 0,0 — 3 — — —
Camboja — — — (,) — 11 — — 0,2
Camarões — — — (,) 2,2 i — 185 3,5 —
Cabo Verde — — (,) i 0,1 — 131 — — —
República Centro-Africana — — — (,) 13,6 i — — 2,5 —
Chade — — — (,) — — — — 0,1
Comores — — — 0,1 — 10 — — —
Congo — — 0,0 j (,) — — 83 5,1 —
Congo, Rep, Dem, — — — (,) — — 110 3,0 —
Costa do Marfim — — — 0,1 — 33 — — —
Dinamarca — 52 — 114,3 41,0 1,179 6,033 9,7 10,1
Djibuti — — — 0,1 — 14 — — —
Guiné Equatorial — — — 0,0 — — — — —
Eritreia — — — (,) — 7 — — —
Estónia — 1 1,2 43,1 31,9 624 3,531 — 13,4

TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS ACTUAIS – CRIAÇÃO DA ERA DAS REDES 49


A2.1 Índice de Difusão das inovações
realização recentes
tecnológica Criação de tecnologia Exportações Difusão das inovações Qualificações humanas
Patentes Receitas de de alta antigas Taxa de esco-
Índice de concedidas royalties e direi- Anfitriões e média Telefones Consumo de Anos médios larização supe-
realização a residentes tos de licenças de Internet tecnologia (cabo e móvel, electricidadede escolaridade rior bruta
tecnológica (por milhão (dólares EUA por (por 1.000 (em % das por (kilowatt-hora (15 anos em ciências
(IRT) de pessoas) 1.000 pessoas) pessoas) exp. de bens) 1.000 pessoas) per capita) e acima) (%)
Ordem IRT valores 1998 a 1999 b 2000 1999 1999 1998 2000 1995–97 c

Etiópia — — — (,) — 3 22 — 0,3


Fidji — — — 0,9 — 130 — 8,3 —
Gabão — — — (,) 0,9 i 39 749 — —
Gâmbia — 1 — (,) — 27 — 2,3 —
Geórgia — 67 — 0,4 — 142 1,257 — 20,2
Guatemala — (,) — 0,5 16,0 86 322 3,5 —
Guiné — — — (,) — 9 — — 0,4
Guiné-Bissau — — — (,) — — — 0,8 —
Guiana — — — 0,1 — 78 — 6,3 2,7
Haiti — — — 0,0 3,2 i 12 33 2,8 —
Islândia — 15 — 232,4 9,8 1,297 20,150 8,8 7,4
Jordânia — — — 0,2 — 105 1,205 6,9 —
Cazaquistão — 55 — 0,6 15,0 111 2,399 — 13,7
Kuwait — — — 4,4 6,8 398 13,800 6,2 4,4
Quirguistão — 14 — 1,1 10,9 77 1,431 — 3,3 f
Laos — — — 0,0 — 8 — — —
Letónia — 71 4,3 13,4 12,4 412 1,879 — 9,5
Líbano — — — 2,3 — — 1,820 — 4,5
Lesoto — — 6,5 0,1 — — — 4,2 0,3
Líbia — — — (,) 1,8 i — 3,677 — —
Lituânia — 27 (,) 7,5 29,2 401 1,909 — 11,7
Luxemburgo — 202 272,6 49,5 34,0 1,211 12,400 — —
Macedónia — 19 1,1 1,9 23,8 i 258 — — 7,6
Madagáscar — — (,) i 0,1 3,0 — — — 0,4
Malawi — — — 0,0 — 6 — 3,2 —
Maldivas — — 0,0 j 1,7 — 90 — — —
Mali — — — (,) — — — 0,9 —
Malta — 18 0,0 19,5 72,0 609 3,719 — 3,9
Mauritânia — — 0,0 i (,) — 6 — — —
Maurícias — — 0,0 5,2 4,3 312 — 6,0 1,0
Moldávia — 42 (,) 0,7 6,2 131 689 — 12,0
Mongólia — 56 0,4 0,1 3,2 i 53 — — 4,2
Marrocos — 3 0,2 0,1 12,4 i 66 443 — 3,2
Mianmar — — (,) 0,0 — 6 64 2,8 2,3
Namíbia — — 3,5 i 3,7 — 82 — — 0,4
Níger — — — (,) — — — 1,0 —
Nigéria — — — (,) 0,4 — 85 — 1,8
Omã — — — 1,4 13,2 139 2,828 — 2,4
Papua-Nova Guiné — — — 0,1 — 14 — 2,9 —
Catar — — — — — 406 13,912 — —
Federação Russa — 131 0,3 3,5 16,0 220 3,937 — 19,7 g
Ruanda — — 0,0 0,1 — 3 — 2,6 —
Samoa Ocidental — — — 5,3 — — — — —
Arábia Saudita — (,) 0,0 0,3 5,2 i 170 4,692 — 2,8
Serra Leoa — — — 0,1 — — — 2,4 —
Suriname — — 0,0 i 0,0 1,0 i 213 — — —
Suazilândia — — 0,2 1,4 — 45 — 6,0 1,3
Suíça — 183 — 82,7 63,6 1,109 6,981 10,5 10,3
Tajiquistão — 2 — 0,1 — 35 2,046 — 4,7
Togo — — — 0,1 0,4 12 — 3,3 0,4

50 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


A2.1 Índice de Difusão das inovações
realização recentes
tecnológica Criação de tecnologia Exportações Difusão das inovações Qualificações humanas
Patentes Receitas de de alta antigas Taxa de esco-
Índice de concedidas royalties e direi- Anfitriões e média Telefones Consumo de Anos médios larização supe-
realização a residentes tos de licenças de Internet tecnologia (cabo e móvel, electricidadede escolaridade rior bruta
tecnológica (por milhão (dólares EUA por (por 1.000 (em % das por (kilowatt-hora (15 anos em ciências
(IRT) de pessoas) 1.000 pessoas) pessoas) exp. de bens) 1.000 pessoas) per capita) e acima) (%)
Ordem IRT valores 1998 a 1999 b 2000 1999 1999 1998 2000 1995–97 c

Turquia — (,) — 2,5 26,7 384 1,353 5,3 4,7


Turquemenistão — 10 — 0,3 — 83 859 — —
Uganda — — 0,0 j (,) 2,2 5 — 3,5 0,3
Ucrânia — 84 — 1,2 — 203 2,350 — —
Emiratos Árabes Unidos — — — 20,9 — 754 9,892 — 3,2
Usbequistão — 25 — (,) — 68 1,618 — —
Venezuela — — 0,0 1,2 6,2 253 2,566 6,6 —
Vietname — — — (,) — 31 232 — —
Iémen — — — (,) — 18 96 — 0,2
Zâmbia — (,) — 0,2 — 12 539 5,5 —

a. Com o fim de calcular o IRT, utilizou-se um valor igual a 0 para os países que não tinham dados disponíveis.
b. Com o fim de calcular o IRT, utilizou-se um valor igual a 0 para os países fora da OCDE que não tinham dados disponíveis.
c. Os dados referem-se ao ano mais recente disponível durante o período indicado.
d. Com o fim de calcular o IRT, foi utilizado o valor médio ponderado para os países da OCDE (901).
e. Com o fim de calcular o IRT, foi utilizado o valor médio ponderado para os países da OCDE (6,969).
f. Os dados referem-se ao ano mais recente disponível durante o período 1989-94.
g. Os dados são baseados nas estimativas provisórias da UNESCO da taxa de escolarização superior bruta.
h. Os dados são de fontes nacionais.
i. Os dados referem-se a 1998.
j. Os dados referem-se a 1997.
k. Os dados referem-se à União Aduaneira Sul-Africana, que inclui Botswana, Lesoto. Namíbia, África do Sul e Suazilândia.
l. Os dados referem-se apenas às exportações de média tecnologia.

Fonte: Coluna 1: calculado com base nos dados das colunas 2-9; para pormenores, ver nota técnica 2; coluna 2: WIPO 2001a; coluna 3: World Bank 2001h, a não ser quando indicado de outro modo; colu-
na 4: ITU 2001a; coluna 5: calculado com base em dados de exportações, de Lall 2001 e UN 2001a; coluna 6: ITU 2001b; coluna 7: World Bank 2001h; coluna 8: Barro e Lee 2000; coluna 9: calculado
com base em dados das taxas de escolarização superior bruta e escolarização superior em ciências, de UNESCO 1998, 1999 e 2001a.

TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS ACTUAIS – CRIAÇÃO DA ERA DAS REDES 51


A2.2 Investimento
na criação de
tecnologia
Cientistas e
Despesas de investigação engenheiros
e desenvolvimento (I&D) em I&D
Anos médios de escolaridade Em % Nas empresas (por 100.000
(15 anos e acima) do PNB (em % do total) pessoas)
Ordem IDH 1970 1980 1990 2000 1987–97 a 1987–97 a 1987–97 a

Desenvolvimento humano elevado


1 Noruega 7,2 8,2 11,6 11,9 1,6 49,9 3.664
2 Austrália 10,2 10,3 10,4 10,9 1,8 45,7 3.357
3 Canadá 9,1 10,3 11,0 11,6 1,7 50,7 2.719
4 Suécia 8,0 9,7 9,5 11,4 3,8 62,9 3.826
5 Bélgica 8,8 8,2 8,9 9,3 1,6 64,8 2.272
6 Estados Unidos 9,5 11,9 11,7 12,0 2,6 59,4 3.676
7 Islândia 6,6 7,4 8,1 8,8 — 34,6 4.131
8 Holanda 7,8 8,2 8,8 9,4 2,1 44,7 2.219
9 Japão 7,5 8,5 9,0 9,5 2,8 81,7 4.909
10 Finlândia 6,1 7,2 9,4 10,0 2,8 57,7 2.799
11 Suíça 8,5 10,4 10,1 10,5 2,6 67,4 3.006
12 Luxemburgo — — — — — — —
13 França 5,7 6,7 7,0 7,9 2,3 48,7 2.659
14 Reino Unido 7,7 8,3 8,8 9,4 2,0 51,9 2.448
15 Dinamarca 8,8 9,0 9,6 9,7 2,0 49,8 3.259
16 Áustria 7,4 7,3 7,8 8,4 1,5 49,0 1.627
17 Alemanha — — 9,9 10,2 2,4 61,4 2.831
18 Irlanda 6,8 7,5 8,8 9,4 1,6 63,4 2.319
19 Nova Zelândia 9,7 11,5 11,3 11,7 1,0 33,9 1.663
20 Itália 5,5 5,9 6,5 7,2 2,2 43,7 1.318
21 Espanha 4,8 6,0 6,4 7,3 0,9 40,3 1.305
22 Israel 8,1 9,4 9,4 9,6 2,4 35,7 —
23 Grécia 5,4 7,0 8,0 8,7 0,5 20,2 773
24 Hong Kong. China (RAE) 6,3 8,0 9,2 9,4 — 2,8 —
25 Chipre 5,2 6,5 8,7 9,2 — 13,1 209
26 Singapura 5,1 5,5 6,0 7,1 1,1 62,5 2.318
27 Coreia do Sul 4,9 7,9 9,9 10,8 2,8 84,0 2.193
28 Portugal 2,6 3,8 4,9 5,9 0,6 18,9 1.182
29 Eslovénia — — 6,6 7,1 1,5 49,1 2.251
30 Malta — — — — — — —
31 Barbados 9,7 6,8 7,9 8,7 — — —
32 Brunei 4,8 6,0 — — — — —
33 República Checa — — 9,2 9,5 1,2 63,1 1.222
34 Argentina 6,2 7,0 8,1 8,8 0,4 11,3 660
35 Eslováquia — — 8,9 9,3 1,1 60,4 1.866
36 Hungria 8,1 9,1 8,9 9,1 0,7 79,6 1.099
37 Uruguai 5,7 6,2 7,1 7,6 — — —
38 Polónia 7,9 8,8 9,5 9,8 0,8 31,8 1.358
39 Chile 5,7 6,4 7,0 7,6 0,7 15,2 445
40 Barém 2,8 3,6 5,0 6,1 — — —
41 Costa Rica 3,9 5,2 5,6 6,1 0,2 — 532
42 Baamas — — — — — — —
43 Kuwait 3,1 4,5 5,8 6,2 0,2 64,3 230
44 Estónia — — 9,0 — 0,6 7,7 2.017
45 Emiratos Árabes Unidos — — — — — — —
46 Croácia — — 5,9 6,3 1,0 19,0 1.916
47 Lituânia — — 9,4 — 0,7 — 2.028
48 Catar — — — — — — —
Desenvolvimento humano médio
49 Trindade e Tobago 5,3 7,3 7,2 7,8 — — —
50 Letónia — — 9,5 — 0,4 20,5 1.049

52 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


A2.2 Investimento
na criação de
tecnologia
Cientistas e
Despesas de investigação engenheiros
e desenvolvimento (I&D) em I&D
Anos médios de escolaridade Em % Nas empresas (por 100.000
(15 anos e acima) do PNB (em % do total) pessoas)
Ordem IDH 1970 1980 1990 2000 1987–97 a 1987–97 a 1987–97 a

51 México 3,7 4,8 6,7 7,2 0,3 17,6 214


52 Panamá 4,8 6,4 8,1 8,6 — — —
53 Bielorrússia — — — — 1,1 27,9 2.248
54 Belize — — — — — — —
55 Federação Russa — — — — 0,9 15,5 3.587
56 Malásia 3,9 5,1 6,0 6,8 0,2 8,3 93
57 Bulgária 6,6 7,3 9,2 9,5 0,6 60,5 1.747
58 Roménia 6,2 7,8 9,4 9,5 0,7 23,1 1.387
59 Líbia — — — — — — —
60 Macedónia — — — — — 28,2 1.335
61 Venezuela 3,2 5,5 5,0 6,6 0,5 — 209
62 Colômbia 3,1 4,4 4,7 5,3 — — —
63 Maurícias 4,2 5,2 5,6 6,0 0,4 2,4 361
64 Suriname — — — — — — —
65 Líbano — — — — — — —
66 Tailândia 4,1 4,4 5,6 6,5 0,1 12,2 103
67 Fidji 5,5 6,8 7,9 8,3 — — —
68 Arábia Saudita — — — — — — —
69 Brasil 3,3 3,1 4,0 4,9 0,8 40,0 168
70 Filipinas 4,8 6,5 7,3 8,2 0,2 1,9 157
71 Omã — — — — — — —
72 Arménia — — — — — — 1.485
73 Peru 4,6 6,1 6,2 7,6 — 27,2 233
74 Ucrânia — — — — — 46,3 2.171
75 Cazaquistão — — 8,9 — 0,3 1,0 —
76 Geórgia — — — — — — —
77 Maldivas — — — — — — —
78 Jamaica 3,2 4,1 4,7 5,3 — — —
79 Azerbaijão — — — — 0,2 — 2.791
80 Paraguai 4,2 5,1 6,1 6,2 — — —
81 Sri Lanka 4,7 5,6 6,1 6,9 — — 191
82 Turquia 2,6 3,4 4,2 5,3 0,5 32,9 291
83 Turquemenistão — — — — — — —
84 Equador 3,5 6,1 5,9 6,4 (,) — 146
85 Albânia — — — — — — —
86 República Dominicana 3,4 3,8 4,4 4,9 — — —
87 China — 4,8 5,9 6,4 0,7 — 454
88 Jordânia 3,3 4,3 6,0 6,9 0,3 — 94
89 Tunísia 1,5 2,9 3,9 5,0 0,3 — 125
90 Irão 1,6 2,8 4,0 5,3 0,5 — 560
91 Cabo Verde — — — — — — —
92 Quirguistão — — — — 0,2 24,8 584
93 Guiana 4,5 5,2 5,7 6,3 — — —
94 África do Sul 4,6 3,8 5,4 6,1 0,7 54,4 1.031
95 El Salvador 2,7 3,2 4,3 5,2 — — 20
96 Samoa Ocidental 6,4 5,9 — — — — —
97 Síria 2,2 3,7 5,1 5,8 0,2 — 30
98 Moldávia — — 9,2 — 0,9 51,4 330
99 Usbequistão — — — — — — 1.763
100 Argélia 1,6 2,7 4,3 5,4 — — —

TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS ACTUAIS – CRIAÇÃO DA ERA DAS REDES 53


A2.2 Investimento
na criação de
tecnologia
Cientistas e
Despesas de investigação engenheiros
e desenvolvimento (I&D) em I&D
Anos médios de escolaridade Em % Nas empresas (por 100.000
(15 anos e acima) do PNB (em % do total) pessoas)
Ordem IDH 1970 1980 1990 2000 1987–97 a 1987–97 a 1987–97 a

101 Vietname — — 3,8 — — — —


102 Indonésia 2,9 3,7 4,0 5,0 0,1 76,4 182
103 Tajiquistão — — 9,8 — — — 666
104 Bolívia 4,8 4,6 5,0 5,6 0,5 — 172
105 Egipto — 2,3 4,3 5,5 0,2 — 459
106 Nicarágua 2,9 3,2 3,7 4,6 — — 204
107 Honduras 2,2 2,8 4,2 4,8 — — —
108 Guatemala 1,7 2,7 3,0 3,5 0,2 0,5 104
109 Gabão — — — — — — 234
110 Guiné Equatorial — — — — — — —
111 Namíbia — — — — — — —
112 Marrocos — — — — — — —
113 Suazilândia 2,5 3,9 5,3 6,0 — — —
114 Botswana 2,0 3,1 5,3 6,3 — — —
115 Índia 2,3 3,3 4,1 5,1 0,7 24,0 149
116 Mongólia — — — — — — 910
117 Zimbabwe 2,0 2,1 5,0 5,4 — — —
118 Mianmar 1,4 1,6 2,5 2,8 — — —
119 Gana 3,3 3,4 3,6 3,9 — — —
120 Lesoto 3,4 3,8 3,9 4,2 — — —
121 Camboja — — — — — — —
122 Papua-Nova Guiné 1,1 1,7 2,3 2,9 — — —
123 Quénia 2,2 3,4 3,7 4,2 — — —
124 Comores — — — — — — —
125 Camarões 1,9 2,4 3,1 3,5 — — —
126 Congo — — 5,1 5,1 — 25,5 —
Desenvolvimento humano baixo
127 Paquistão 1,5 2,1 4,2 3,9 0,9 — 72
128 Togo 0,8 2,3 2,9 3,3 0,5 — 98
129 Nepal 0,2 0,9 1,6 2,4 — — —
130 Butão — — — — — — —
131 Laos — — — — — — —
132 Bangladeche 0,9 1,9 2,2 2,6 (,) — 52
133 Iémen — 0,3 1,5 — — — —
134 Haiti 1,2 1,9 2,9 2,8 — — —
135 Madagáscar — — — — 0,2 — 12
136 Nigéria — — — — 0,1 — 15
137 Djibuti — — — — — — —
138 Sudão 0,6 1,1 1,6 2,1 — — —
139 Mauritânia — — 2,4 — — — —
140 Tanzânia 2,8 2,7 2,8 2,7 — — —
141 Uganda 1,4 1,8 3,3 3,5 0,6 2,2 21
142 Congo. Rep, Dem, 1,2 2,0 2,8 3,0 — — —
143 Zâmbia 2,8 3,9 4,2 5,5 — — —
144 Costa do Marfim — — — — — — —
145 Senegal 1,7 2,2 2,3 2,6 (,) — 3
146 Angola — — — — — — —
147 Benim 0,5 1,1 2,0 2,3 0,0 — 176
148 Eritreia — — — — — — —
149 Gâmbia — 0,9 1,6 2,3 — — —
150 Guiné — — — — — — —

54 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


A2.2 Investimento
na criação de
tecnologia
Cientistas e
Despesas de investigação engenheiros
e desenvolvimento (I&D) em I&D
Anos médios de escolaridade Em % Nas empresas (por 100.000
(15 anos e acima) do PNB (em % do total) pessoas)
Ordem IDH 1970 1980 1990 2000 1987–97 a 1987–97 a 1987–97 a

151 Malawi 1,9 2,7 2,7 3,2 — — —


152 Ruanda 1,1 1,7 2,1 2,6 (,) — 35
153 Mali 0,3 0,5 0,7 0,9 — — —
154 República Centro-Africana 0,8 1,3 2,4 2,5 — — 56
155 Chade — — — — — — —
156 Guiné-Bissau — 0,3 0,7 0,8 — — —
157 Moçambique 0,6 0,8 0,9 1,1 — — —
158 Etiópia — — — — — — —
159 Burkina Faso — — — — 0,2 — 17
160 Burúndi — — 1,4 — 0,3 — 33
161 Níger 0,3 0,6 0,8 1,0 — — —
162 Serra Leoa 0,9 1,6 2,1 2,4 — — —

Países em desenvolvimento — 3,9 4,9 — — — —


Países menos desenvolvidos — — — — — — —
Países Árabes — — — — — — —
Ásia Oriental e Pacífico — 4,7 5,7 — 1,3 — —
América Latina e Caraíbas 3,8 4,4 5,3 6,1 0,6 — —
Ásia do Sul 2,1 3,0 3,9 4,7 0,6 — 152
África Subsariana — — — — — — —
Europa do Leste e CEI — — — — 0,9 — 2.437
OCDE 7,3 8,6 9,1 9,6 2,3 — 2.585
OCDE de rendimento elevado 7,7 9,2 9,5 10,0 2,4 — 3.141
Desenvolvimento humano elevado 7,6 8,9 9,4 9,9 2,3 — 2.827
Desenvolvimento humano médio — 4,1 5,1 — 0,6 — —
Desenvolvimento humano baixo — 1,8 2,8 — — — —
Rendimento elevado 7,7 9,1 9,5 10,0 2,4 — 3.127
Rendimento médio — 4,8 5,9 — 1,0 — 687
Rendimento baixo — — — — 0,9 — —
Mundo — 5,2 6,0 — 2,2 — 959

a. Os dados referem-se ao ano mais recente disponível durante o período indicado.

Fonte: Colunas 1-4: Barro e Lee 2000; colunas 5-7: World Bank 2001h, baseado em dados da UNESCO; coluna 6: UNESCO 1999.

TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS ACTUAIS – CRIAÇÃO DA ERA DAS REDES 55


A2.3 Difusão de
tecnologia
Agricultura e
manufactura

Consumo de fertilizantes Tractores em uso Exportações de baixa Exportações de média Exportações de alta
(kg por hectare de terra arável (por hectare de terra arável tecnologia tecnologia tecnologia
e permanentemente cultivado) e permanentemente cultivado) (em % das export. de bens) (em % das export. de bens) (em % das export. de bens)
Ordem IDH 1970 1998 1970 1998 1980 1999 1980 1999 1980 1999

Desenvolvimento humano elevado


1 Noruega 244,3 225,8 110,6 163,0 5 4 18 14 3 5
2 Austrália 23,2 39,1 7,8 5,8 4 5 7 11 2 5
3 Canadá 18,4 58,0 13,6 15,6 5 9 25 38 6 11
4 Suécia 164,6 100,6 59,0 59,3 16 12 39 34 11 26
a
5 Bélgica 511,2 365,4 a 97,8 a 127,5 a 20 a 15 30 a 37 6a 11
6 Estados Unidos 81,6 110,5 27,7 26,8 — 10 — 34 — 32
7 Islândia 3.335,4 3.100,0 1.411,7 1.753,2 5 2 3 8 (,) 2
8 Holanda 749,3 494,2 156,0 164,7 11 12 22 25 9 26
9 Japão 337,2 289,5 48,0 450,6 16 8 59 51 14 30
10 Finlândia 188,8 140,6 60,2 89,7 19 9 21 24 4 27
11 Suíça 383,1 749,4 189,6 255,1 16 15 40 38 16 26
12 Luxemburgo — — — — — 37 — 24 — 10
13 França 243,5 247,5 64,4 65,1 17 14 36 37 11 22
14 Reino Unido 263,1 330,4 62,1 79,3 12 11 33 33 15 29
15 Dinamarca 223,4 169,8 65,3 59,0 16 19 24 22 9 19
16 Áustria 242,6 170,4 148,1 238,3 29 23 34 38 8 12
17 Alemanha 384,4 242,7 121,5 88,6 16 b 13 48 b 46 12 b 18
18 Irlanda 306,7 519,9 61,1 123,3 15 10 17 12 12 42
19 Nova Zelândia 128,1 201,7 27,6 23,2 8 8 4 10 1 5
20 Itália 89,6 157,9 41,2 133,7 32 30 37 40 8 11
21 Espanha 59,3 110,4 12,7 44,1 23 16 31 43 5 10
22 Israel 140,1 277,1 40,0 56,1 — 12 — 16 — 29
23 Grécia 86,1 123,3 15,8 61,2 26 26 12 13 1 5
24 Hong Kong. China (RAE) — — — — 63 56 22 10 9 24
25 Chipre 120,9 143,0 27,2 118,9 32 24 12 11 2 12
26 Singapura 250,0 2.350,0 1,7 65,0 8 7 18 17 14 58
27 Coreia do Sul 245,0 457,6 (,) 82,7 47 18 25 34 10 33
28 Portugal 41,8 96,1 10,4 60,1 35 36 16 34 8 7
29 Eslovénia — 268,7 — 367,5 — 28 — 38 — 12
30 Malta 45,6 90,9 10,2 45,1 — 19 — 11 — 61
31 Barbados 335,3 176,5 24,4 34,4 28 16 9 22 13 9
32 Brunei — — 0,6 10,3 — — — — — —
33 República Checa — 90,3 — 25,5 — 26 — 40 — 12
34 Argentina 3,3 29,8 6,5 10,3 9 9 9 16 2 3
35 Eslováquia — 66,3 — 15,6 — 24 — 42 — 7
36 Hungria 149,7 90,3 12,1 18,3 24 17 11 40 26 24
37 Uruguai 48,5 102,0 20,7 25,2 — 24 — 12 — 2
38 Polónia 167,8 113,2 14,7 91,1 18 31 36 28 10 8
39 Chile 31,6 194,6 8,3 23,5 — 3 — 5 — 1
40 Barém — 100,0 — 2,0 — 4c — 5c — (,) c

41 Costa Rica 100,1 391,9 10,3 13,9 — 13 — 8 — 44


42 Baamas 133,3 30,0 5,9 11,0 — — — — — —
43 Kuwait — 300,0 9,0 11,7 — 1 — 6 — (,)
44 Estónia — 28,5 — 44,9 — 26 — 15 — 17
45 Emiratos Árabes Unidos — 390,1 11,7 3,4 — — — — — —
46 Croácia — 127,7 — 1,7 — 27 — 33 — 8
47 Lituânia — 46,5 — 28,2 — 30 — 22 — 7
48 Catar — 58,8 25,0 4,4 — — — — — —
Desenvolvimento humano médio
49 Trindade e Tobago 88,0 86,9 18,5 22,1 1 11 1 13 (,) 1
50 Letónia — 23,8 — 28,5 — 32 — 6 — 6

56 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


A2.3 Difusão de
tecnologia
Agricultura e
manufactura

Consumo de fertilizantes Tractores em uso Exportações de baixa Exportações de média Exportações de alta
(kg por hectare de terra arável (por hectare de terra arável tecnologia tecnologia tecnologia
e permanentemente cultivado) e permanentemente cultivado) (em % das export. de bens) (em % das export. de bens) (em % das export. de bens)
Ordem IDH 1970 1998 1970 1998 1980 1999 1980 1999 1980 1999

51 México 23,2 62,5 3,9 6,3 — 16 — 39 — 28


52 Panamá 38,7 49,2 4,4 7,6 — 9 — 3 — 2
53 Bielorrússia — 145,0 — 15,2 — 22 — 42 — 5
54 Belize 73,3 52,8 12,7 12,9 — 12 — (,) — —
55 Federação Russa — 8,5 — 6,7 — 6 — 13 — 3
56 Malásia 43,6 184,9 1,0 5,7 3 9 4 16 10 52
57 Bulgária 141,1 37,5 11,8 5,5 — 23 c — 24 c — 6 c

58 Roménia 56,5 36,5 10,2 16,8 — 48 — 21 — 4


59 Líbia 6,2 23,8 1,9 16,1 — 2c — 2c — (,) c

60 Macedónia — 69,3 — 85,0 — 40 c — 21 c — 3 c

61 Venezuela 17,0 69,6 5,5 14,0 — 3 — 6 — (,)


62 Colômbia 28,7 152,4 4,5 5,1 10 11 4 11 1 2
63 Maurícias 209,5 312,3 2,7 3,5 21 67 2 3 3 1
64 Suriname 56,3 82,1 24,2 19,9 — (,) c — 1c — (,) c

65 Líbano 135,4 196,4 7,7 18,2 — — — — — —


66 Tailândia 5,9 81,5 0,5 10,8 11 19 9 19 1 30
67 Fidji 40,7 77,2 15,1 24,6 (,) — (,) — — —
68 Arábia Saudita 3,3 84,1 0,4 2,5 (,) 1c (,) 5c (,) (,) c

69 Brasil 29,5 88,0 4,9 12,4 — 12 — 24 — 9


70 Filipinas 26,9 62,8 0,9 1,2 12 7 3 7 1 26
71 Omã — 95,2 0,9 2,4 — 3 — 11 — 2
72 Arménia — — — 31,3 — 9 — 8 — 4
73 Peru 30,0 45,7 3,9 3,2 11 12 3 2 1 1
74 Ucrânia — 15,4 — 10,3 — — — — — —
75 Cazaquistão — 1,5 — 2,1 — 5 — 12 — 3
76 Geórgia — 32,7 — 15,5 — — — — — —
77 Maldivas — — — — — — — — — —
78 Jamaica 87,3 85,6 7,0 11,2 3 18 c 2 1c (,) (,) c

79 Azerbaijão — 12,2 — 17,1 — 2 — 5 — 1


80 Paraguai 9,8 26,9 5,2 7,2 — 9 — 1 — 1
81 Sri Lanka 55,5 123,4 7,1 3,9 12 64 1 2 (,) 3
82 Turquia 15,7 80,9 3,8 32,4 — 47 — 20 — 7
83 Turquemenistão — 89,1 — 29,5 — — — — — —
84 Equador 13,3 57,5 1,2 3,0 1 3 1 2 (,) 1
85 Albânia 73,6 35,8 10,0 11,7 — 61 c — 2c — 2 c

86 República Dominicana 33,4 61,6 1,7 1,5 — 2c — 5 c — (,) c

87 China 43,0 258,8 1,2 5,2 — 44 — 18 — 21


88 Jordânia 8,7 60,1 8,8 12,3 — — — — — —
89 Tunísia 7,6 24,7 4,7 7,2 20 52 10 16 (,) 3
90 Irão 6,0 66,6 1,3 12,1 — 5 — 2 — (,)
91 Cabo Verde — — 0,1 0,4 3 — 2 — (,) —
92 Quirguistão — 39,7 — 13,3 — 5 — 7 — 4
93 Guiana 27,0 32,7 9,0 7,3 — — — — — —
94 África do Sul 42,2 49,7 11,8 5,6 4d 11 d 5d 26 d (,) d 4 d

95 El Salvador 104,0 102,0 4,0 4,2 — 28 — 13 — 6


96 Samoa Ocidental — — 0,1 0,6 1 — 1 — — —
97 Síria 6,8 60,0 1,5 17,0 4 6 2 1 (,) (,)
98 Moldávia — 55,5 — 20,2 — 20 — 4 — 2
99 Usbequistão — 177,2 — 35,1 — — — — — —
100 Argélia 16,3 11,7 5,9 11,4 (,) (,) (,) 1 (,) (,)

TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS ACTUAIS – CRIAÇÃO DA ERA DAS REDES 57


A2.3 Difusão de
tecnologia
Agricultura e
manufactura

Consumo de fertilizantes Tractores em uso Exportações de baixa Exportações de média Exportações de alta
(kg por hectare de terra arável (por hectare de terra arável tecnologia tecnologia tecnologia
e permanentemente cultivado) e permanentemente cultivado) (em % das export. de bens) (em % das export. de bens) (em % das export. de bens)
Ordem IDH 1970 1998 1970 1998 1980 1999 1980 1999 1980 1999

101 Vietname 50,7 268,6 0,5 17,0 — — — — — —


102 Indonésia 9,2 89,5 0,3 2,3 1 23 (,) 11 1 7
103 Tajiquistão — 65,4 — 33,7 — — — — — —
104 Bolívia 0,9 3,4 1,3 2,6 1 10 1 5 (,) 21
105 Egipto 131,2 337,2 6,1 27,3 — 24 — 7 — 2
106 Nicarágua 21,5 19,2 0,4 1,0 — 3 — 3 — (,)
107 Honduras 15,6 68,4 1,1 2,5 — 11 — 7 — 1
108 Guatemala 29,8 116,7 2,0 2,3 — 14 — 12 — 4
109 Gabão — 0,8 2,7 3,0 — (,) c — (,) c — 1 c

110 Guiné Equatorial 8,4 — 0,3 0,4 — — — — — —


111 Namíbia — — 3,1 3,8 — — — — — —
112 Marrocos 11,7 35,1 1,4 4,3 11 22 c 3 12 c (,) (,) c

113 Suazilândia 39,6 30,6 7,6 16,2 — — — — — —


114 Botswana 4,2 12,1 4,0 17,3 — — — — — —
115 Índia 13,7 99,1 0,6 9,1 33 38 c 10 11 c 3 5 c

116 Mongólia 2,2 3,8 7,4 5,3 — 7c — 3c — (,) c

117 Zimbabwe 43,7 52,1 6,2 6,9 — 11 — 11 — 1


118 Mianmar 2,1 16,9 0,5 0,8 — — — — — —
119 Gana 1,0 2,9 0,8 0,7 — 7 — 2 — 2
120 Lesoto 1,0 18,5 1,0 6,2 — — — — — —
121 Camboja 1,2 3,3 0,4 0,3 — — — — — —
122 Papua-Nova Guiné 4,3 22,4 2,9 1,7 — — — — — —
123 Quénia 12,5 28,2 1,8 3,2 4 10 2 6 1 2
124 Comores — 2,5 — — — — — — — —
125 Camarões 3,4 5,5 (,) 0,1 1 3c 1 2c (,) 1 c

126 Congo 48,3 22,9 4,2 3,2 (,) — (,) — (,) —


Desenvolvimento humano baixo
127 Paquistão 14,6 111,7 1,1 14,5 — 76 — 7 — 1
128 Togo 0,2 7,5 (,) (,) 2 5 2 (,) (,) (,)
129 Nepal 2,7 40,9 0,4 1,5 — 74 c — 2c — (,) c

130 Butão — 0,6 — — — — — — — —


131 Laos 0,3 11,9 0,4 1,0 — — — — — —
132 Bangladeche 15,7 140,5 0,2 0,6 64 87 c 2 3c (,) (,) c

133 Iémen 0,1 13,5 1,2 3,6 10 e — 32 e — 2e —


134 Haiti 0,4 8,9 0,2 0,2 — 72 c — (,) c — 3 c

135 Madagáscar 6,1 2,8 1,0 1,1 3 34 (,) 1 2 2


136 Nigéria 0,2 6,1 0,1 1,0 — (,) — (,) — (,)
137 Djibuti — — — — — — — — — —
138 Sudão 2,8 2,2 0,4 0,6 — 2c — (,) c — (,) c

139 Mauritânia 1,1 4,2 0,4 0,8 — — — — — —


140 Tanzânia 5,1 6,0 5,8 1,6 — 4 — 5 — 2
141 Uganda 1,4 0,3 0,3 0,7 — 1 — 2 — (,)
142 Congo. Rep, Dem, 0,6 — 0,1 0,3 — — — — — —
143 Zâmbia 7,3 7,6 0,6 1,1 — — — — — —
144 Costa do Marfim 6,4 15,4 0,4 0,5 — — — — — —
145 Senegal 3,4 11,8 0,1 0,2 3 8 9 22 2 7
146 Angola 3,3 1,5 2,1 2,9 (,) — (,) — — —
147 Benim 4,4 20,4 0,1 0,1 — — — — — —
148 Eritreia — 13,0 — 1,2 — — — — — —
149 Gâmbia 2,3 7,5 0,3 0,2 — — — — — —
150 Guiné 2,7 2,2 (,) 0,4 — — — — — —

58 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


A2.3 Difusão de
tecnologia
Agricultura e
manufactura

Consumo de fertilizantes Tractores em uso Exportações de baixa Exportações de média Exportações de alta
(kg por hectare de terra arável (por hectare de terra arável tecnologia tecnologia tecnologia
e permanentemente cultivado) e permanentemente cultivado) (em % das export. de bens) (em % das export. de bens) (em % das export. de bens)
Ordem IDH 1970 1998 1970 1998 1980 1999 1980 1999 1980 1999

151 Malawi 8,5 25,1 0,7 0,7 6 — (,) — (,) —


152 Ruanda 0,3 0,3 0,1 0,1 — — — — — —
153 Mali 3,1 11,3 0,3 0,6 1 — (,) — (,) —
154 República Centro-Africana 1,2 0,3 (,) (,) (,) (,) c (,) 13 c (,) (,) c

155 Chade 0,7 4,7 (,) (,) — — — — — —


156 Guiné-Bissau — 1,7 (,) 0,1 — — — — — —
157 Moçambique 2,2 1,5 1,4 1,7 — 3c — 11 c — 1 c

158 Etiópia 0,4 15,5 0,2 0,3 (,) — (,) — — —


159 Burkina Faso 0,3 14,6 (,) 0,6 3 — 2 — 1 —
160 Burúndi 0,5 1,9 (,) 0,2 — — — — — —
161 Níger 0,1 0,2 (,) (,) 1 — 1 — (,) —
162 Serra Leoa 5,7 5,6 0,3 0,2 — — — — — —

Países em desenvolvimento 19,2 100,7 1,9 7,7 — 20 — 20 — 25


Países menos desenvolvidos 3,4 18,1 0,6 0,7 — — — — — —
Países Árabes 16,6 44,9 2,6 7,4 — 10 — 7 — 1
Ásia Oriental e Pacífico 33,9 193,3 1,0 5,9 — 24 — 20 — 33
América Latina e Caraíbas 21,8 71,3 5,1 9,7 — 12 — 26 — 16
Ásia do Sul 13,6 98,6 0,7 9,5 — 31 — 3 — 1
África Subsariana 7,4 13,8 1,8 1,5 — 8 — 12 — 2
Europa do Leste e CEI — — — — — 18 — 26 — 8
OCDE 94,4 113,6 27,4 39,6 17 14 37 38 10 21
OCDE de rendimento elevado 99,8 118,3 31,4 40,6 16 13 37 38 10 20
Desenvolvimento humano elevado 97,1 114,6 28,7 40,2 17 13 36 37 10 22
Desenvolvimento humano médio 24,4 118,1 2,2 8,7 — 21 — 19 — 19
Desenvolvimento humano baixo 4,5 28,8 0,5 2,6 — — — — — —
Rendimento elevado 99,8 118,5 31,4 40,6 17 13 36 37 10 21
Rendimento médio 39,2 129,6 4,3 12,6 — 21 — 22 — 20
Rendimento baixo 9,9 65,6 0,6 5,4 — 21 — 7 — 4
Mundo 50,1 105,4 12,3 18,6 — 15 — 33 — 22

a. Inclui o Luxemburgo.
b. Os dados referem-se à República Federal da Alemanha antes da unificação.
c. Os dados referem-se a 1998.
d. Os dados referem-se à União Aduaneira Sul-Africana, que inclui Botswana, Lesoto. Namíbia, África do Sul e Suazilândia.
e. Os dados referem-se à antiga república Árabe do Iémen.

Fonte: Colunas 1-4: calculado com base em dados do consumo de fertilizantes e uso da terra, de FAO 2000a; colunas 5-10: calculado com base em dados de exportações, de Lall 2000 e UN 2001a.

TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS ACTUAIS – CRIAÇÃO DA ERA DAS REDES 59


A2.4 Difusão de
tecnologia
Informação e
comunicações
Custo de chamada
Assinantes local de 3 minutos Lista de espera de
Telefones por cabo de telemóveis Anfitriões de Internet Índice telefones por cabo
(por 1.000 pessoas) (por 1.000 pessoas) (por 1.000 pessoas) Dól. PPC (1990 = 100) (por 1.000 pessoas)
Ordem IDH 1990 1999 1990 1999 1995 2000 1999 1999 1990 1999

Desenvolvimento humano elevado


1 Noruega 503 712 46 617 20,1 193,6 0,07 51 0 0
2 Austrália 456 520 11 343 17,7 125,9 0,18 — 0 0
3 Canadá 565 655 22 227 17,5 108,0 — — 0 0
4 Suécia 681 665 54 583 18,6 125,8 — — 0 0
5 Bélgica 393 502 4 314 3,5 58,9 0,16 77 2 —
6 Estados Unidos 545 682 21 312 21,1 179,1 — — 0 0
7 Islândia 510 677 39 619 31,3 232,4 0,10 188 0 0
8 Holanda 464 606 5 435 12,2 136,0 0,13 77 1 0
9 Japão 441 558 7 449 2,3 49,0 0,06 91 0 0
10 Finlândia 534 552 52 651 42,2 200,2 0,12 93 0 0
11 Suíça 574 699 18 411 12,9 82,7 0,10 80 1 0
12 Luxemburgo 481 724 2 487 5,7 49,5 0,10 67 8 0
13 França 495 579 5 364 3,1 36,4 0,11 83 0 0
14 Reino Unido 441 575 19 463 8,4 57,4 0,17 — 0 0
15 Dinamarca 567 685 29 495 11,4 114,3 0,09 86 0 0
16 Áustria 418 472 10 514 7,1 84,2 0,16 84 4 0
17 Alemanha 441 588 4 286 6,3 41,2 0,10 — (,) 0
18 Irlanda 281 478 7 447 4,2 48,6 — — 1 —
19 Nova Zelândia 434 490 16 230 15,1 146,7 0,00 — (,) 0
20 Itália 388 462 5 528 1,6 30,4 — — 1 0
21 Espanha 316 418 1 312 1,8 21,0 0,11 221 7 (,)
22 Israel 343 459 3 459 5,4 43,2 — — 4 —
23 Grécia 389 528 0 311 0,8 16,4 0,08 — 107 2
24 Hong Kong, China (RAE) 450 576 24 636 5,2 33,6 0,00 — 1 0
25 Chipre 428 545 5 190 0,6 16,9 0,03 — 35 6
26 Singapura 349 482 17 419 7,4 72,3 0,02 — (,) 0
27 Coreia do Sul 310 438 2 500 0,8 4,8 0,06 94 (,) 0
28 Portugal 243 424 1 468 1,3 17,7 0,14 121 23 3
29 Eslovénia 211 378 0 309 2,9 20,3 — — 36 3
30 Malta 360 512 0 97 0,2 19,5 0,20 453 57 2
31 Barbados 281 427 0 111 (,) 0,5 — — 11 3
32 Brunei 136 246 7 205 0,5 8,0 — — 52 —
33 República Checa 158 371 0 189 2,2 25,0 0,36 146 30 7
34 Argentina 93 201 (,) 121 0,2 8,7 — — 24 —
35 Eslováquia 135 308 0 171 0,6 10,2 0,35 — 21 13
36 Hungria 96 371 (,) 162 1,6 21,6 0,30 111 59 8
37 Uruguai 134 271 0 95 0,2 19,6 0,24 266 29 0
38 Polónia 86 263 0 102 0,6 11,4 0,15 339 62 —
39 Chile 66 207 1 151 0,7 6,2 — — 24 —
40 Barém 192 249 11 205 0,2 3,6 — — (,) —
41 Costa Rica 101 204 0 35 0,6 4,1 0,05 24 16 9
42 Baamas 274 369 8 53 5,1 — — — — —
43 Kuwait 247 240 15 158 0,7 4,4 — — — 0
44 Estónia 204 357 0 268 2,4 43,1 0,14 — — 27
45 Emiratos Árabes Unidos 206 407 17 347 0,2 20,9 — — 1 (,)
46 Croácia 172 365 (,) 66 0,5 6,7 — — 39 —
47 Lituânia 212 311 0 90 0,1 7,5 0,13 — 55 20
48 Catar 190 263 8 143 0,0 — — — 1 —
Desenvolvimento humano médio
49 Trindade e Tobago 141 216 0 30 0,2 7,7 — — 1 8
50 Letónia 234 300 0 112 0,5 13,4 0,27 — — 8

60 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


A2.4 Difusão de
tecnologia
Informação e
comunicações
Custo de chamada
Assinantes local de 3 minutos Lista de espera de
Telefones por cabo de telemóveis Anfitriões de Internet Índice telefones por cabo
(por 1.000 pessoas) (por 1.000 pessoas) (por 1.000 pessoas) Dól. PPC (1990 = 100) (por 1.000 pessoas)
Ordem IDH 1990 1999 1990 1999 1995 2000 1999 1999 1990 1999

51 México 65 112 1 79 0,2 9,2 0,22 86 13 —


52 Panamá 93 164 0 86 0,3 1,9 — — 6 —
53 Bielorrússia 153 257 0 2 (,) 0,3 0,06 — — 43
54 Belize 92 156 0 26 (,) 2,2 0,12 — 14 —
55 Federação Russa 140 210 0 9 0,2 3,5 0,09 — 74 44
56 Malásia 89 203 5 137 0,3 2,4 0,06 44 5 —
57 Bulgária 242 354 0 42 0,1 3,7 — — 67 40
58 Roménia 102 167 0 61 0,1 2,7 — — 42 33
59 Líbia 48 — 0 — 0,0 (,) — — 54 15
60 Macedónia 148 234 0 24 0,1 1,9 0,02 — — —
61 Venezuela 82 109 (,) 143 0,1 1,2 — — 32 —
62 Colômbia 75 160 0 75 0,1 1,9 — — 14 —
63 Maurícias 52 224 2 89 0,0 5,2 0,10 — 52 25
64 Suriname 92 171 0 42 (,) 0,0 — — 23 88
65 Líbano 118 — 0 194 0,1 2,3 — — — —
66 Tailândia 24 86 1 38 0,1 1,6 0,23 — 18 7
67 Fidji 57 101 0 29 0,1 0,9 0,13 80 17 —
68 Arábia Saudita 77 129 1 40 0,1 0,3 — — 8 —
69 Brasil 65 149 (,) 89 0,2 7,2 — — 3 —
70 Filipinas 10 39 0 38 (,) 0,4 0,00 — 9 —
71 Omã 60 90 2 49 (,) 1,4 — — 3 —
72 Arménia 157 155 0 2 (,) 0,9 0,49 — — 20
73 Peru 26 67 (,) 40 (,) 0,7 — — 17 1
74 Ucrânia 136 199 0 4 (,) 1,2 — — 69 52
75 Cazaquistão 80 108 0 3 (,) 0,6 — — 45 11
76 Geórgia 99 123 0 19 (,) 0,4 — — 53 19
77 Maldivas 29 80 0 11 0,0 1,7 0,19 — 4 2
78 Jamaica 45 199 0 56 0,1 0,4 — — 39 —
79 Azerbaijão 86 95 0 23 (,) 0,1 — — — 11
80 Paraguai 27 55 0 81 (,) 0,5 — — 2 —
81 Sri Lanka 7 36 (,) 12 (,) 0,2 0,18 137 3 12
82 Turquia 121 265 1 119 0,2 2,5 — — 25 7
83 Turquemenistão 60 82 0 1 0,0 0,3 — — 24 13
84 Equador 48 91 0 31 0,1 0,3 0,03 351 15 —
85 Albânia 12 36 0 3 (,) 0,1 0,06 86 77 26
86 República Dominicana 48 98 (,) 50 0,1 1,7 — — — —
87 China 6 86 (,) 34 (,) 0,1 0,06 — 1 —
88 Jordânia 58 87 (,) 18 0,1 0,2 0,06 197 15 5
89 Tunísia 38 90 (,) 6 (,) (,) 0,07 27 15 9
90 Irão 40 125 0 7 (,) (,) 0,03 — 9 18
91 Cabo Verde 24 112 0 19 0,0 0,1 0,11 — — 14
92 Quirguistão 72 76 0 1 0,0 1,1 — — 22 14
93 Guiana 20 75 0 3 0,0 0,1 0,02 35 29 88
94 África do Sul 87 138 (,) 132 1,2 8,4 0,21 — 3 —
95 El Salvador 24 76 0 62 (,) 0,3 0,13 — 14 —
96 Samoa Ocidental 26 — 0 17 0,0 5,3 — — 6 —
97 Síria 40 102 0 (,) 0,0 0,0 0,02 35 124 179
98 Moldávia 106 127 0 4 (,) 0,7 0,17 — 49 27
99 Usbequistão 69 67 0 2 (,) (,) — — 17 2
100 Argélia 32 52 (,) 2 (,) (,) — — 27 —

TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS ACTUAIS – CRIAÇÃO DA ERA DAS REDES 61


A2.4 Difusão de
tecnologia
Informação e
comunicações
Custo de chamada
Assinantes local de 3 minutos Lista de espera de
Telefones por cabo de telemóveis Anfitriões de Internet Índice telefones por cabo
(por 1.000 pessoas) (por 1.000 pessoas) (por 1.000 pessoas) Dól. PPC (1990 = 100) (por 1.000 pessoas)
Ordem IDH 1990 1999 1990 1999 1995 2000 1999 1999 1990 1999

101 Vietname 1 27 0 4 0,0 (,) 0,37 — — —


102 Indonésia 6 29 (,) 11 (,) 0,2 0,08 44 2 —
103 Tajiquistão 45 35 0 (,) 0,0 0,1 0,03 — — —
104 Bolívia 28 62 0 52 (,) 0,3 0,20 — — 1
105 Egipto 30 70 (,) 7 (,) 0,1 0,07 — 22 19
106 Nicarágua 13 30 0 9 (,) 0,4 0,43 — 7 22
107 Honduras 17 44 0 12 0,0 (,) 0,17 223 24 27
108 Guatemala 21 55 (,) 30 (,) 0,5 0,19 127 22 —
109 Gabão 22 32 0 7 0,0 (,) — — 3 —
110 Guiné Equatorial 4 — 0 — 0,0 0,0 — — — —
111 Namíbia 39 64 0 18 (,) 3,7 0,16 — — 3
112 Marrocos 16 53 (,) 13 (,) 0,1 0,22 — 8 —
113 Suazilândia 17 31 0 14 (,) 1,4 0,17 83 10 —
114 Botswana 21 75 0 75 (,) 2,7 — — 6 —
115 Índia 6 27 0 2 (,) 0,1 0,09 45 2 4
116 Mongólia 32 39 0 13 0,0 0,1 0,08 — 26 15
117 Zimbabwe 12 21 0 15 (,) 0,5 — — 6 —
118 Mianmar 2 6 0 (,) 0,0 0,0 — — — 2
119 Gana 3 8 0 4 (,) (,) 0,34 131 1 —
120 Lesoto 7 — 0 — (,) 0,1 — — 5 —
121 Camboja (,) 3 0 8 0,0 (,) 0,15 — — —
122 Papua-Nova Guiné 8 13 0 2 0,0 0,1 — — — —
123 Quénia 8 10 0 1 (,) 0,2 0,14 — 4 4
124 Comores 8 10 0 0 0,0 0,1 0,62 — 1 —
125 Camarões 3 — 0 — 0,0 (,) — — — —
126 Congo 7 — 0 — 0,0 (,) — — 1 —
Desenvolvimento humano baixo
127 Paquistão 8 22 (,) 2 (,) 0,1 0,08 41 6 —
128 Togo 3 8 0 4 0,0 0,1 0,40 60 1 4
129 Nepal 3 11 0 (,) (,) 0,1 0,08 31 4 12
130 Butão 4 18 0 0 0,0 2,1 — — — —
131 Laos 2 7 0 2 0,0 0,0 — — — —
132 Bangladeche 2 3 0 1 0,0 0,0 0,14 65 1 1
133 Iémen 11 17 0 2 0,0 (,) 0,04 318 4 7
134 Haiti 7 9 0 3 0,0 0,0 — — — —
135 Madagáscar 2 3 0 — 0,0 0,1 0,25 91 — (,)
136 Nigéria 3 — 0 — 0,0 (,) — — 3 —
137 Djibuti 11 14 0 (,) 0,0 0,1 — — (,) 0
138 Sudão 3 9 0 (,) 0,0 0,0 0,10 — — 12
139 Mauritânia 3 6 0 0 0,0 (,) 0,37 84 (,) 18
140 Tanzânia 3 5 0 2 0,0 (,) 0,17 300 4 1
141 Uganda 2 3 0 3 (,) (,) 0,64 — 1 (,)
142 Congo, Rep, Dem, 1 — 0 — 0,0 (,) — — — —
143 Zâmbia 9 9 0 3 (,) 0,2 0,11 111 7 1
144 Costa do Marfim 6 15 0 18 (,) 0,1 0,15 69 1 —
145 Senegal 6 18 0 10 (,) 0,2 0,32 — 1 3
146 Angola 8 8 0 2 0,0 (,) 0,20 — — 2
147 Benim 3 — 0 — 0,0 (,) — — — —
148 Eritreia — 7 — 0 0,0 (,) 0,12 — — 5
149 Gâmbia 7 23 0 4 0,0 (,) 1,34 484 6 13
150 Guiné 2 6 0 3 (,) (,) 0,40 125 — —

62 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


A2.4 Difusão de
tecnologia
Informação e
comunicações
Custo de chamada
Assinantes local de 3 minutos Lista de espera de
Telefones por cabo de telemóveis Anfitriões de Internet Índice telefones por cabo
(por 1.000 pessoas) (por 1.000 pessoas) (por 1.000 pessoas) Dól. PPC (1990 = 100) (por 1.000 pessoas)
Ordem IDH 1990 1999 1990 1999 1995 2000 1999 1999 1990 1999

151 Malawi 3 4 0 2 0,0 0,0 0,12 122 1 3


152 Ruanda 2 2 0 2 0,0 0,1 — — (,) 1
153 Mali 1 — 0 — 0,0 (,) — — — —
154 República Centro-Africana 2 3 0 — 0,0 (,) — — — —
155 Chade 1 1 0 — 0,0 (,) — — (,) —
156 Guiné-Bissau 6 — 0 — 0,0 (,) — — — —
157 Moçambique 3 4 0 1 0,0 (,) — — 2 2
158 Etiópia 3 3 0 (,) (,) (,) 0,15 47 2 4
159 Burkina Faso 2 4 0 (,) 0,0 (,) 0,37 — — —
160 Burúndi 2 3 0 (,) 0,0 0,0 — — (,) —
161 Níger 1 — 0 — 0,0 (,) — — (,) —
162 Serra Leoa 3 — 0 — 0,0 0,1 0,10 21 4 —

Países em desenvolvimento 22 69 (,) 34 0,1 1,0 — — — —


Países menos desenvolvidos 3 5 0 1 (,) (,) — — — —
Países Árabes 34 69 (,) 17 (,) 0,4 — — — —
Ásia Oriental e Pacífico 17 85 (,) 45 0,1 0,6 — — — —
América Latina e Caraíbas 63 131 (,) 82 0,2 5,6 — — — —
Ásia do Sul 7 29 (,) 2 (,) 0,1 — — — —
África Subsariana — — — — 0,1 0,6 — — — —
Europa do Leste e CEI 125 205 (,) 35 0,3 4,7 — — — —
OCDE 392 509 10 322 8,4 75,0 — — — —
OCDE de rendimento elevado 473 594 13 371 11,0 96,9 — — — —
Desenvolvimento humano elevado 416 542 11 347 9,0 80,5 — — — —
Desenvolvimento humano médio 28 79 (,) 28 (,) 1,0 — — — —
Desenvolvimento humano baixo 4 9 (,) 2 (,) (,) — — — —
Rendimento elevado 470 591 13 373 10,8 95,2 — — — —
Rendimento médio 45 122 (,) 55 0,1 2,1 — — — —
Rendimento baixo 11 27 (,) 3 (,) 0,1 — — — —
Mundo 102 158 2 85 1,7 15,1 — — — —

Fonte: Colunas 1-4, 9 e 100: ITU 2001b; colunas 5 e 6: ITU 2001a; coluna 7: calculado com base em dados de chamadas locais, de ITU 2001b e dados dos factores de conversão das paridades de poder
de compra, de World Bank 2001h; coluna 8: calculado com base em dados de chamadas locais, de ITU 2001b e dados dos deflatores do PIB e dos factores de conversão das paridades de poder de com-
pra, de World Bank 2001h.

TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS ACTUAIS – CRIAÇÃO DA ERA DAS REDES 63


CAPÍTULO 3

Gestão dos riscos da mudança tecnológica

Todos os avanços tecnológicos trazem benefícios mudança pode ser complexo e politicamente contro- Todos os avanços
e riscos potenciais, alguns dos quais não são fáceis de verso. Apesar da tecnologia agrícola da revolução verde
tecnológicos trazem
prever. Os benefícios das tecnologias podem ser bastante ter mais do que duplicado a produção de cereais na Ásia,
melhores do que os seus criadores previram. Quando entre 1970 e 1995,1 os impactes nos rendimentos dos tra- benefícios e riscos
Guglielmo Marconi inventou o rádio em 1897, fê-lo para balhadores agrícolas e no ambiente são, ainda, debati-
potenciais, alguns dos
uma comunicação privada em dois sentidos, não para dos intensamente.
a transmissão. Hoje, o transistor é anunciado como Tal como em momentos anteriores de mudança, as quais não são fáceis
uma das maiores invenções de sempre – embora, transformações tecnológicas actuais aumentam as pre-
de prever
aquando da sua invenção em 1947, apenas se pensasse ocupações com os seus possíveis impactes ecológicos,
nalguns usos para além do desenvolvimento de melhores socioeconómicos e na saúde. As plantas geneticamente
ajudas para as pessoas surdas. Nos anos de 1940, a modificadas são suspeitas de terem introduzido novas
IBM nunca pensou que o mercado de computadores iria fontes de alergias, de terem criado ervas daninhas re-
crescer mais do que umas unidades de venda por ano. sistentes e de ameaçar espécies como as borboletas
Ao mesmo tempo, os custos ocultos das tecnolo- monarcas. A investigação biotecnológica de ponta au-
gias podem ser devastadores. A encefalite espongiforme mentou as preocupações éticas com a possibilidade de
bovina – doença das vacas loucas-quase de certeza que clonagem humana e a facilidade de produção de armas
a sua origem e propagação se devem às poupanças de biológicas destruidoras. As tecnologias de informação
custos nas técnicas usadas para produzir rações. O poder e comunicação facilitam a criminalidade internacional,
nuclear, que então se acreditava ser uma fonte inesgotável suportam as redes de comércio da droga e permitem a
de energia, tornou-se uma perigosa ameaça para a saúde difusão da pornografia infantil.
e o ambiente após os acidentes de Three Mile Island (Es- Perante tais preocupações, porquê adoptar novas
tados Unidos) e Chernobyl (Ucrânia). Alguns perigos tecnologias? Por três razões.
são rapidamente denunciados e removidos. A talido- • Benefícios potenciais. Tal como descreve o capí-
mida, registada inicialmente, em 1957, para tratar tulo 2, as possibilidades de promoção do desenvolvi-
náuseas matinais das mulheres grávidas, resultou em hor- mento humano através das transformações tecnológicas
ríveis defeitos de nascimento em milhares de crianças são imensas nos países em desenvolvimento. Nalguns
de todo o mundo, tendo sido banido no início dos anos casos, os benefícios esperados são pelo menos tão
de 1960. Mas outros horrores estiveram escondidos grandes como os riscos.
durante décadas. Os Clorofluorocarbonetos (CFC), • Custos de inércia versus custos de mudança.As
inventados em 1928, eram largamente utilizados nos re- novas tecnologias melhoram frequentemente as que
frigeradores, latas de aerossol e condicionadores de ar. vão substituir: o jacto moderno, por exemplo, é mais
Só em 1984 – mais de 50 anos depois – se tornou uma seguro do que o aeroplano a hélice. Se os operários
evidência convincente a sua ligação com o esgotamento tivessem sido bem sucedidos na proibição da adopção
da camada de ozono e o aumento dos cancros da pele, dos teares mecânicos giratórios, a Inglaterra teria im-
em países mais expostos aos raios ultravioleta. Ainda uti- pedido o crescimento de produtividade que permitiu
lizado em muitos países, os CFC deverão ser retirados o crescimento irreversível do emprego e dos rendi-
até 2010. mentos.
As sociedades respondem a estas incertezas procu- • Meios de gestão dos riscos. Muitos perigos po-
rando maximizar os benefícios e minimizar os riscos das tenciais podem ser geridos e as suas possibilidades re-
mudanças tecnológicas. Fazer isto não é fácil: gerir tal duzidas através da investigação científica sistemática,

GESTÃO DOS RISCOS DA MUDANÇA TECNOLOGICA 65


regulação e capacidade institucional. Quando estas ca- caminho – por isso, a necessidade de interdições mul-
pacidades são fortes, os países têm muito mais possi- tilaterais contra a criação de armas biológicas e da rea-
bilidades de assegurar que as alterações tecnológicas se lização de inspecções para monitorizar a anuência. As
tornam uma força positiva para o desenvolvimento. tecnologias de informação e comunicação podem con-
No entanto, para além destes motivos para adop- duzir a uma invasão da privacidade e ao branquea-
tar a mudança, coloca-se um dilema para muitos países mento de dinheiro, comércio de armas e drogas – daí
em desenvolvimento: os benefícios potenciais de mu- a importância da regulação interna e internacional para
dança podem ser maiores do que os custos da inércia controlar estes problemas.
– mas a capacidade institucional e reguladora necessária Outros riscos estão directamente associados às
à gestão dos riscos pode ser demasiado exigente. tecnologias. Poderão os genes que fluem de organismos
O trade-off da mudança tecnológica varia de país para geneticamente modificados para organismos colaterais
As sociedades esperam país e de uso para uso: as sociedades esperam benefí- pôr em perigo as populações colaterais? Depende do
cios diferentes, enfrentam riscos diferentes e têm ca- modo como aqueles organismos interagem com o seu
benefícios diferentes,
pacidades muito variadas para gerir os riscos com ambiente. Poderá o uso de telefones móveis causar can-
enfrentam riscos segurança. cro no cérebro ou no olho? Depende da forma como a
De acordo com esta perspectiva, a maior parte dos radiação do receptor do telefone afecta o tecido humano.
diferentes e têm
países em desenvolvimento está em desvantagem para O facto de esses danos poderem ou não acontecer é uma
capacidades muito enfrentar a mudança tecnológica, porque lhes faltam as questão científica – mas se as possibilidades forem reais,
instituições reguladoras necessárias para gerir ade- a extensão perante a qual elas se tornam riscos depende
variadas para gerir
quadamente os riscos. Mas, pode haver desvantagens da forma como as tecnologias são postas em acção.
os riscos com segurança para os que são apenas seguidores. Contrariamente aos A construção de zonas agrícolas amortecedoras em
corredores da frente, os seguidores não incorrem nos redor de culturas geneticamente modificadas elimina a
riscos dos primeiros no uso das novas tecnologias: possibilidade do fluxo do gene e das ervas daninhas re-
podem, pelo contrário, observar como esses riscos ocor- sistentes; com o aumento da consciência pública e modi-
reram nos outros países. Podem, igualmente, aprender ficando-se a concepção dos telefones móveis reduz-se
com os outros o desenho dos regulamentos e das insti- a probabilidade de cancro.
tuições. Finalmente, para algumas tecnologias, podem O primeiro tipo de risco tem sido tratado, desde
estabelecer sistemas reguladores de baixo custo, ou há muito tempo, pelas instituições económicas, sociais
apoiar-se nos padrões de regulação dos primeiros ino- e políticas que planeiam e regulam a forma como as
vadores. tecnologias são utilizadas pelas sociedades. Mas, a gestão
Finalmente, as sociedades enfrentam escolhas, em do segundo tipo de risco apela por uma ciência sã e, tam-
tempo e extensão, na adopção da mudança tecnológica. bém, por uma forte capacidade reguladora. E muitas
Dada a importância da opção correcta e perante os preocupações levantadas sobre esta revolução tecno-
riscos de uma adesão errada, os países em desenvolvi- lógica, particularmente a biotecnologia, estão focadas
mento precisam construir políticas nacionais e neces- em riscos semelhantes a estes – assim se explica a atenção
sitam de apoio internacional para criar a capacidade que dada, em todo o mundo, para o papel que a ciência e a
os habilita a aproveitar as novas oportunidades. Mas que regulação devem desempenhar na gestão desta era de
critério deve ser utilizado na adopção de tecnologias e mudança tecnológica.
que vozes devem ser ouvidas no debate? Como podem Existem duas ameaças potenciais que estão a ser
os países desenvolver abordagens sistemáticas para analisadas:
analisar os riscos tecnológicos? Que políticas e que • Possíveis ameaças para a saúde humana. As
práticas-nacionais e internacionais-são necessárias? tecnologias há muito que impõem ameaças para a saúde
Estas questões constituem o objecto deste capítulo. humana. Algumas poluem o ar e a água: centrais eléc-
tricas que usam combustíveis fósseis produzem dióxido
TAREFA ARRISCADA: AVALIAÇÃO DOS CUSTOS de carbono, que em grandes concentrações pode irri-
E BENEFICIOS POTENCIAIS tar o aparelho respiratório. Outros podem introduzir
substâncias perigosas para o corpo através de medica-
Alguns riscos de mudanças tecnológicas estão enraiza- mentos como a talidomida, ou através da cadeia ali-
dos no comportamento humano e na organização so- mentar. Novas aplicações biotecnológicas nos cuidados
cial. A pesquisa biotecnológica pode ser transformada de saúde-de vacinas e diagnósticos a medicamentos e
em armas se os governos ou terroristas escolherem esse terapia de genes – podem ter efeitos laterais inespera-

66 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


dos. Com alimentos geneticamente modificados, as • Valor esperado dos danos e benefícios das tec-
duas preocupações principais são que a introdução de nologias alternativas, que poderiam ser preferíveis às
novos genes pode tornar um alimento tóxico e pode in- novas ou às existentes.
troduzir novos alergénios na alimentação, causando As pessoas fazem estas avaliações a toda a hora, fre-
reacções nalgumas pessoas. quentemente de forma inconsciente, escolhendo os
• Possíveis ameaças para o ambiente. Alguns recla- benefícios de actividades como viajar de carro e avião,
mam que os organismos geneticamente modificados em detrimento dos seus perigos potenciais. Contudo,
podem destabilizar os ecossistemas e reduzir a biodi- os debates actuais acontecem, frequentemente, como se
versidade de três formas. Primeiro, os organismos os riscos sobre produtos específicos pudessem ser iso-
transformados podem deslocar espécies existentes e al- lados dos contextos nos quais ocorrem.
terar o ecossistema. A história mostra o perigo: seis coe- Os adversários das novas tecnologias ignoram,
lhos europeus introduzidos na Austrália, em 1850, muitas vezes, os perigos do status quo. Um estudo Uma avaliação completa
multiplicaram-se rapidamente em 100 milhões, de- destacando o risco do pólen do milho transgénico re-
dos riscos deve ponderar
struindo habitats e a flora e fauna nativas. Actual- sistente à praga para as borboletas monarcas recebeu
mente, os coelhos custam às indústrias agrícolas atenção mundial, mas perdido no processo estava o os danos esperados
australianas 370 milhões de dólares por ano.2 A questão facto destas culturas poderem reduzir a necessidade de
da nova tecnologia com
é saber se os organismos geneticamente modificados pesticidas que podem danificar a qualidade do solo e
poderão superar os ecossistemas de forma similar. Se- da saúde humana. A exposição continuada aos pesti- os benefícios esperados
gundo, os genes que fluem entre as plantas podem cidas pode causar esterilidade, lesões na pele e dores de
transferir os novos genes para espécies relacionadas, cabeça. Um estudo sobre os trabalhadores de uma
conduzindo, por exemplo às ervas daninhas resistentes. plantação de batatas com uso de pesticidas, no Equador,
Terceiro, os novos genes podem ter efeitos nocivos ines- mostrou que as dermatites crónicas eram duas vezes mais
perados em espécies colaterais. Estudos laboratoriais comuns entre eles do que entre as outras pessoas.3
mostraram que o pólen do milho Bt, concebido para De modo semelhante, os proponentes das novas
o controlo da praga que atinge os caules, também tecnologias falham, frequentemente, na consideração de
pode matar borboletas monarcas se estas consumirem alternativas. A energia nuclear, por exemplo, deve ser
o suficiente. ponderado não apenas em relação aos combustíveis
Alguns destes riscos são iguais em todos os países: fósseis, mas também em relação a terceiras alternativas
danos potenciais para a saúde devido aos telefones – preferíveis, possivelmente – tais como a energia solar
móveis, ou os da talidomida para as crianças durante o e as pilhas de hidrogénio. E muitas pessoas defendem
período da gravidez, não são diferentes para as pessoas que o uso de organismos geneticamente modificados
da Malásia ou de Marrocos – apesar da capacidade de deve ser ponderado em relação a alternativas como as
os monitorizar e gerir poder variar consideravelmente. plantações orgânicas, que nalguns casos podem ser uma
Mas outros riscos variam significativamente: os genes escolha mais apropriada.
provenientes do milho geneticamente modificado fluem Mas, mesmo quando as sociedades e as comu-
mais facilmente num ambiente que tem muitas espécies nidades consideram todas as situações, elas podem
relacionadas com o milho selvagem do que noutro que tomar decisões diferentes devido à variedade de riscos
não tem. Por este motivo, os riscos ambientais da biotec- e benefícios que enfrentam e à sua capacidade para
nologia são frequentemente específicos de ecossistemas lidar com eles. Os consumidores europeus, que não
individuais e devem ser avaliados caso a caso. Os riscos enfrentam faltas de alimentos ou deficiências nutri-
para a saúde humana são mais comuns entre os conti- cionais, vêem poucos benefícios nos alimentos geneti-
nentes. camente modificados; estão mais preocupados com
Estes riscos merecem atenção – mas não podem ser possíveis efeitos na saúde. Contudo, as populações sub-
a única consideração na formulação das opções de alimentadas dos países em desenvolvimento preocu-
tecnologia: uma abordagem da avaliação dos riscos que pam-se, mais provavelmente, com os benefícios
apenas dá atenção aos perigos potenciais seria imper- potenciais de produções mais elevadas e com maior
feita. Uma avaliação completa dos riscos deve ponderar valor nutricional; os riscos da não mudança podem
os danos esperados da nova tecnologia com os benefí- pesar mais de que quaisquer preocupações com efeitos
cios esperados – e compará-los em termos do: na saúde. As escolhas podem diferir, mesmo entre dois
• Valor esperado dos danos e benefícios das tecno- países em desenvolvimento que necessitam dos bene-
logias existentes que seriam substituídas.. fícios nutricionais de produções geneticamente modi-

GESTÃO DOS RISCOS DA MUDANÇA TECNOLÓGICA 67


ficadas, na medida em que um deles pode estar melhor em França em meados de 1980.5 Nestes e noutros casos,
adaptado para gerir os riscos. uma falta de transparência sobre o que se conhecia e adi-
A condução destes debates num contexto global al- amentos nas responsabilidades políticas, denegriram a
tera os temas dominantes e muda as vozes que influen- reputação dos responsáveis. Esta desconfiança dis-
ciam a tomada de decisão. seminou as atitudes relativamente às novas tecnologias.
Em 1997, num inquérito que perguntava aos europeus
FORMAÇÃO DAS ESCOLHAS: em quem mais confiavam para lhes dizer a verdade
O PAPEL DA OPINIÃO PUBLICA sobre culturas geneticamente modificadas, 26% referi-
ram as organizações ambientais – enquanto apenas 4%
Nos sistemas democráticos, as opiniões públicas sobre indicaram as autoridades públicas e 1% nomeou a in-
o trade-off dos riscos das mudanças são, frequente- dústria.6
As perspectivas que mente, determinantes fundamentais da promoção ou Reclamações sobre os interesses concorrenciais.
proibição de uma tecnologia. As preferências públicas A representação pública do risco também pode ser in-
dominam o debate
importam, uma vez que são os indivíduos e as comu- fluenciada pelas reclamações e contra-reclamações dos gru-
mundial podem conduzir nidades que, em última instância, têm os ganhos ou su- pos de interesse, algumas vezes aumentadas de forma
portam os custos. Mas, as perspectivas que dominam o exagerada pelos meios de comunicação. A evidência cien-
a decisões que não são
debate mundial podem conduzir a decisões que não são tífica pode ser apresentada de forma selectiva ou distor-
do melhor interesse para do melhor interesse para as comunidades locais. cida completamente. Esta táctica já não é nova: quando,
nos séculos XVII e XVIII, a bebida do café começou a
as comunidades locais
CONDUÇÃO DO DEBATE : MEDO P Ú BLICO ameaçar os interesses económicos e políticos, desper-
E INTERESSES COMERCIAIS taram-se os receios sobre os seus efeitos na saúde como
forma de os proteger (caixa 3.1). Tal como hoje, tanto os
Pelo menos dois factores foram importantes na for- apoiantes como os adversários das mudanças tecnológi-
mação dos debates: cas tentam moldar a opinião pública.
Confiança pública nos reguladores. A má gestão No caso das culturas transgénicas, o lóbi comercial
das crises da saúde e do ambiente na Europa minaram destaca os ganhos imediatos que os organismos geneti-
a confiança nos responsáveis pela saúde e ambiente camente modificados podem proporcionar às pessoas
públicos. No Reino Unido, a doença das vacas loucas mais carenciadas. Entretanto, o lóbi contrário salienta os
resultou no morticínio de milhões de cabeças de gado riscos da sua introdução, mas secundariza os riscos de a
e na morte de dúzias de pessoas, devido a uma doença nutrição piorar na sua ausência. Alguns agricultores eu-
relacionada do cérebro.4 O sangue infectado com HIV, ropeus utilizaram o medo público dos organismos ge-
utilizado em transfusões, infectou mais de 3.600 pessoas neticamente modificados para proteger os seus mercados
domésticos; alguns partidos políticos e organizações não
governamentais exploraram este receio público para
CAIXA 3.1
obter apoios e mobilizar recursos. A própria linguagem
Tentativas históricas para banir o café
tornou-se uma arma política. "Sementes milagrosas" e
Muitas das culturas que hoje dominam o mer- médicos atacaram a bebida. Um médico suge-
"arroz de ouro" exageravam os pontos positivos, en-
cado mundial passaram por longos períodos riu que o café secava os fluídos cerebrais con-
de rejeição, devido aos riscos conhecidos. Por duzindo à exaustão, impotência e paralisia. quanto "tecnologias traidoras", "frankenfoods" e "polui-
exemplo, o café, actualmente o segundo produto Na Alemanha, onde o café era igualmente con- ção genética" eram utilizados deliberadamente para criar
primário mundial mais comercializado em valor, troverso, os médicos sustentavam que ele medo e ansiedade.
tem uma história marcada por episódios de causava esterilidade feminina e nascimentos de
difamação e de clara condenação. Em Londres, nados-mortos. Em 1632, Johann Sebastian Nestas condições, é difícil um debate bem infor-
em 1674, a Petição das Mulheres Contra o Café Bach compôs o seu Kaffee-Kantate parcial- mado. As opiniões dos mais vociferantes podem con-
protestou contra "as grandes inconveniências mente como uma ode ao café e parcialmente duzir a tomada de decisão, mais do que aqueles que
que resultavam para o seu sexo do uso exces- como um protesto contra o movimento para
podem perder ou ganhar mais.
sivo do licor secante e debilitante". A oposição impedir as mulheres de o beberem. Em 1775,
aos cafés teve, frequentemente, um fundamento Frederico o Grande, preocupado com os
político – o Rei Carlos II de Inglaterra tentou efeitos de drenagem que as importações de GLOBALIZAÇÃO DAS PERCEPÇÕES : DAS
proibi-los em 1675, porque eram os viveiros café verde tinham sobre a riqueza da Prússia, RA Í ZES LOCAIS PARA O DOM Í NIO MUNDIAL
da revolução. condenou o aumento do consumo de café,
Em 1679, quando se compreendeu que o como "repugnante", e incitou o seu povo a
café concorria com o vinho em França, os beber cerveja tal como os seus antepassados. Enquanto antes eram necessários anos para di-
Fonte: Pendergrast 2000; Roast and Post Coffee Company 2001. fundir a mudança tecnológica pelo mundo, hoje um novo
pacote de software pode ser introduzido, instantanea-

68 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


mente, em todos os mercados. A comunicação sobre pelos padrões de precaução em vigor na Europa, mesmo
riscos e benefícios obtidos com as novas tecnologias é, quando esta não é a preferência do país que recebe a
igualmente, mundial. Os activistas estão organizados assistência.
globalmente e os princípios de uma governação Se os países em desenvolvimento quiserem fazer as
democrática tomaram lugar na arena internacional, melhores escolhas informadas possíveis sobre mudança
abrindo os debates políticos a uma mais ampla partici- tecnológica, o desequilíbrio de vozes e influências deve
pação. Quando as comunidades altamente mobilizadas ser rectificado e as suas próprias escolhas devem con-
e vociferantes promovem os seus pontos de vista e os duzir as tomadas de decisão. Tal como o Ministro da
seus valores em todo o mundo, as raízes locais das suas Agricultura e Desenvolvimento Rural, da Nigéria, referiu
preferências podem acabar por ter uma dimensão recentemente, "A biotecnologia agrícola, através da
mundial, influenciando comunidades que enfrentam qual as sementes são aumentadas para instilar a tolerância
diferentes ganhos e riscos. aos herbicidas ou para criar resistência aos insectos e O desequilíbrio de vozes
Os debates sobre as tecnologias emergentes tendem doenças, é uma grande promessa para África… Nós não
e influências deve ser
a espelhar as preocupações dos países ricos. A oposição queremos rejeitar esta tecnologia por causa de uma
às culturas transgénicas de rendimento intensificado noção mal informada de que não compreendemos os rectificado
nos países industrializados, com excedentes alimenta- perigos das consequências futuras".7
res, poderá bloquear o desenvolvimento e transferir
essas culturas para países com défices alimentares. Os TOMADA DE PRECAUÇÕES: DIFERENTES PAÍSES,
livros electrónicos podem não fazer muito pelos tra- DIFERENTES ESCOLHAS

balhadores das principais editoras mundiais, mas podem


ser uma dádiva para os programas de educação nos Todos os países têm de tomar uma posição sobre a
países pobres. Para os países industrializados, banir o avaliação dos riscos. Uma ferramenta muito discu-
uso do DDT químico (dicloro-difenil-tricloroetano) tida para a tomada de decisão é o princípio de pre-
pode ter sido uma opção fácil. Mas alargar esta proibição caução – frequentemente interpretado como a regra
aos programas de ajuda ao desenvolvimento, apesar do em que um país pode ou deve rejeitar os produtos re-
valor único do DDT no controlo da malária, tornou-se sultantes de novas tecnologias, quando não existe
numa imposição das escolhas e valores de uma so-
ciedade sobre as necessidades e preferências de outra
CAIXA 3.2
(caixa 3.2). DDT e malária: de quem é o risco e de quem é a escolha?
Os países em desenvolvimento têm preocupações
Os conservadores demonstraram aos gover- desenvolvimento com propensão para a malária
e interesses distintos na revolução biotecnológica. Al- nos do Ocidente que o DDT é um poluente ir- têm muito a ganhar com a utilização do DDT.
guns tiveram receio que a biotecnologia pudesse deslo- remediável, o que obriga todos os países Um tratado do Programa das Nações
car os seus produtos tradicionais, por exemplo, industrializados a pararem com o seu uso. Ex- Unidas para o Ambiente, assinado em Maio de
celente: o uso permanente e extensivo do DDT 2001, bane a produção e uso do DDT para
utilizando a cultura de tecidos vivos para criar substi-
como pesticida agrícola tem consequências am- qualquer fim – mas com a excepção do uso
tutos de baixo custo para a goma – arábica e baunilha. bientais consideráveis – a bioacumulação de para a saúde pública, devido às suas vanta-
Outros quiseram utilizar novos instrumentos para au- DDT fragiliza a casca dos ovos e quebra a ca- gens na luta contra a malária. Contudo, ape-
mentar a produtividade, reduzir a subnutrição crónica pacidade reprodutiva dos pássaros – e os países sar desta excepção, algumas agências e
ricos têm pouco a ganhar com o seu uso. governos doadores não financiam o seu uso.
e transformar os seus recursos biológicos abundantes em Nos países em vias de desenvolvimento, O DDT pode provocar danos à saúde: pode
produtos de valor acrescentado. Mas o debate dominante pelo contrário, o DDT é um dos poucos in- ser um cancerígeno e pode interferir com a lac-
entre a Europa e os Estados Unidos sobre os alimen- strumentos eficientes e de custos suportáveis tação, apesar de nenhum destes males ter sido
no controlo da malária e é utilizado em quan- confirmado conclusivamente. Mas, os países em
tos transgénicos tem concentrado a sua atenção nas
tidades muito menores, sem graves impactes desenvolvimento devem ser capazes de pesar
questões de alergias e efeitos tóxicos sobre a saúde. ambientais. Uma campanha de erradicação da estas considerações relativamente aos benefícios
Não é apenas a opinião pública que pode ter in- malária com uso do DDT, lançada nos anos de do DDT, muitas vezes o único instrumento com
fluência mundial. Os países em desenvolvimento podem 1950 e 1960, teve resultados imediatos im- custos suportáveis e eficaz contra uma doença que
pressionantes. Em menos de 20 anos, a carga mata mais de um milhão de pessoas por ano, prin-
ser pressionados pelas agências doadoras, fundações não anual da malária no Sri Lanka caiu de 2,8 mi- cipalmente crianças das áreas pobres dos trópi-
lucrativas, empresas multinacionais e organizações in- lhões de casos e 7.300 mortes para 17 casos e cos. Na ausência de uma alternativa melhor, pelo
ternacionais para adoptarem tanto políticas impeditivas nenhuma morte; reduções semelhantes ocor- menos 23 países tropicais utilizam o DDT para
reram na Índia e na América Latina. Em con- combater a malária, embora possam ser impe-
como permissivas, alinhando atrás da Europa ou dos Es-
traste com os países ricos, alguns países em didos de continuar a fazê-lo.
tados Unidos. Por exemplo, quando os países europeus
fornecem assistência para a concepção de legislação Fonte: Attaran e outros 2000.

sobre biosegurança, eles podem modelar a legislação

GESTÃO DOS RISCOS DA MUDANÇA TECNOLÓGICA 69


uma certeza científica total de que tais produtos não mulações suaves defendem que a ausência de certeza
causarão danos. De facto, o princípio de precaução é, sobre os danos não impede acções reguladoras. As for-
justamente, um novo conceito com muitas formu- mulações fortes requerem, frequentemente, a certeza da
lações diferentes mas nenhuma clara, princípio segurança para evitar acções reguladoras, que em sis-
imutável consagrado na lei internacional (caixa 3.3). temas complexos e dinâmicos é muitas vezes impossível
Um conjunto de formulações – de suaves a fortes – é de alcançar.
utilizado em circunstâncias diferentes, porque situações • O fardo da prova. As formulações suaves colocam
e tecnologias diferentes requerem diferentes graus de o fardo da prova naqueles que reclamam que haverá
precaução. Pelo menos seis elementos podem dife- consequências se uma nova tecnologia for introduzida.
renciar-se entre formulações suaves e fortes: As formulações fortes podem deslocar o fardo da prova
• Consideração de benefícios e riscos da tecnolo- para os produtores e importadores de uma tecnologia,
O princípio da precaução gia corrente. Formulações suaves guiam as acções reg- exigindo que eles demonstrem a sua segurança.
uladoras, considerando não só os riscos nefastos das • Acção opcional ou obrigatória. Formulações suaves
ainda está a evoluir
mudanças tecnológicas, mas também os benefícios po- permitem que os reguladores tenham a iniciativa da
tenciais, assim como os riscos da tecnologia que pode- acção, enquanto as formulações fortes, normalmente, exi-
ria ser removida. As formulações fortes, pelo contrário, gem acções.
examinam frequentemente apenas os riscos directos da • Localização da tomada de decisão. As formulações
nova tecnologia. suaves atribuem a autoridade aos reguladores, en-
• Custo efectivo da prevenção. Formulações suaves quanto as formulações fortes podem atribuir poder aos
enfatizam a necessidade de equilibrar os custos de pre- líderes políticos.
venção dos potenciais danos ambientais associados às O princípio de precaução ainda está a evoluir e o
novas tecnologias com os custos dos prejuízos. As for- seu carácter final será moldado pelos processos cien-
mulações fortes não ponderam, muitas vezes, os custos tíficos e políticos. Mesmo formulações individuais são,
de prevenção. muitas vezes, referidas vagamente – deliberadamente,
• Certeza de danos e certeza de segurança. As for- segundo alguns – para permitir interpretações múlti-
plas na adaptação às circunstâncias locais e aos dife-
rentes interesses. Quando usado para proteger as
CAIXA 3.3
"Use o princípio de precaução!" Mas qual? práticas comerciais discriminatórias, o princípio perde
Existem vários princípios de precaução, desde cias sem considerar factores de compensação a sua utilidade limitando-se a ser um empreendimento
as formulações suaves às mais radicais. Uma fór- e sem provas científicas de danos. político. Qualquer formulação do princípio que não
mula relativamente suave apareceu na Declara- Entre estas duas declarações existe uma comece com uma avaliação e gestão dos riscos bem es-
ção sobre Ambiente e Desenvolvimento, no grande variedade de posições. Por exemplo, o
tabelecida e baseada no conhecimento será reduzida
Rio de Janeiro em 1992, onde se dizia que Protocolo de Cartagena sobre Biosegurança,
"para proteger o ambiente, os estados deverão, de 2000, estabelece que "a falta de certeza a uma afirmação retórica com pouco valor operacional.
de acordo com a sua capacidade, aplicar am- científica devida ao insuficiente… conheci- Finalmente, os países acabam por fazer diferentes
plamente uma abordagem de precaução. Onde mento relativo à dimensão dos efeitos adver- opções-e por bons motivos. Enfrentam custos poten-
existem ameaças de danos sérios ou irrever- sos potenciais de um organismo modificado
síveis, não deverá ser utilizada a falta de total sobre a conservação e uso sustentável da di- ciais e benefícios diferentes das novas tecnologias. Os
certeza científica como razão para o adiamento versidade biológica no Participante-importa- seus cidadãos podem ter atitudes diferentes relativa-
de medidas que previnem a degradação ambien- dor, tomando também em consideração os mente à tomada de riscos e variam amplamente nas suas
tal, com eficiência de custos". Ou seja, os regu- riscos para a saúde humana, não deverão im-
capacidades para lidar com consequências potenciais.
ladores podem tomar medidas eficientes em pedir esse Participante de tomar uma decisão
custos para impedir danos sérios ou irrever- adequada, em relação à importação dos orga- Os países em desenvolvimento estão a tomar medidas
síveis, mesmo quando não há certeza de que nismo modificados vivos em questão… para diferentes relativamente aos organismos geneticamente
esses danos vão ocorrer. evitar ou minimizar tais efeitos adversos po- modificados – de preventivas a promocionais – através
Uma formulação forte foi exposta na Ter- tenciais." Esta formulação deixa cair a neces-
ceira Declaração Ministerial sobre o Mar do sidade da prevenção ser eficiente em custos e das suas políticas de biosegurança, segurança alimen-
Norte, em 1920, que pediu aos governos para transfere o ónus da prova de segurança para tar e escolhas dos consumidores, investimento na in-
"aplicarem o princípio de precaução, ou seja, os países exportadores. Ao mesmo tempo, a re- vestigação pública e comércio (quadro 3.1).
para tomarem as medidas necessárias para evi- cusa da importação é uma opção, não uma
tar os impactes potencialmente danosos de obrigação, e os países podem decidir aceitar os
substâncias [tóxicas] … mesmo quando não riscos com base em outros factores que con- CONSTRUÇÃO DA CAPACIDADE PARA GERIR RISCOS
haja prova científica que demonstre uma ligação siderem relevantes, tais como benefícios po-
causal entre emissões e efeitos." Esta determi- tenciais e os riscos inerentes das tecnologias que Uma abordagem sistemática da avaliação e gestão do
nação requer que os governos tomem providên- seriam substituídas.
risco garante melhor a utilização segura das novas tecno-
Fonte: UNEP 1992a; Matlon 2001; Juma 2001; Soule 2000; SEHN 2000.
logias. Isto exige clareza nas políticas e nos procedi-

70 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


mentos de regulação – não apenas aprovar a legislação, tros internacionais do Grupo Consultivo para a Inves-
mas executar, impor e monitorizar as suas condições. tigação Agrícola Internacional (CGIAR) planeiam as
Para a introdução das culturas geneticamente modifi- pesquisas, utilizam os resultados de análises de im-
cadas, todos os países precisam criar um sistema de pactes das pesquisas semelhantes para conduzir as
biosegurança com directrizes claras e coerentes, pessoal avaliações projectadas.
qualificado para conduzir a tomada de decisão, um Mas quando a tecnologia é genuinamente nova ou
processo de revisão adequado e mecanismos para reco- está a ser introduzida num novo ambiente, a incerteza
lher as reacções dos agricultores e consumidores. resultante deve ser transformada em probabilidade in-
formada através da pesquisa. Por isso, a novidade dos
UTILIZAÇÃO DE INFORMAÇÃO CIENT Í FICA : organismos geneticamente modificados estimulou, cor-
TRANSFORMAR A INCERTEZA EM RISCO rectamente, pesquisas extensas (caixa 3.4).
Uma abordagem
Na ausência de informação, apenas existe incerteza. A in- ASSEGURAR PARTICIPAÇÃO P Ú BLICA
sistemática da avaliação
vestigação científica gera informação sobre os impactes ATRAVÉS DA COMUNICAÇÃO DOS RISCOS
prováveis da nova tecnologia, transformando essa in- e gestão do risco garante
certeza em risco-a probabilidade estimada de que ocor- Debates recentes sobre a comercialização da biote-
melhor a utilização segura
rerá um certo impacte negativo. Com mais e melhor cnologia agrícola sublinharam a importância da partici-
informação, o risco pode ser previsto de forma mais pação pública e da educação sobre os seus riscos – das novas tecnologias
cuidada e, assim, melhor gerido. porque é o público que, em última instância, produz e
Quando as tecnologias são familiares, num dado am- consome os produtos das novas tecnologias. Um in-
biente, já existem informações sobre os seus impactes. quérito realizado recentemente na Austrália salienta a
A reprodução tradicional de novas variedades de cul- necessidade de melhor educação: 49% dos que
turas, por exemplo, integra técnicas utilizadas ao longo responderam sentem que os riscos da agricultura bioló-
de muitos anos, de forma que os seus benefícios e danos gica superam os seus benefícios, mas 59% não con-
potenciais são bem conhecidos. Assim, quando os cen- seguiram nomear um risco específico.8

QUADRO 3.1
Posições de política em relação às culturas geneticamente modificadas – as escolhas para os países em desenvolvimento

Área de política Promocional Permissiva Precaução Preventiva

Biosegurança Sem análise cuidadosa; Análises, caso a caso, princi- Análises, caso a caso, por Nenhuma análise cuida-
apenas análise simbólica ou palmente para os riscos pro- dúvidas científicas devidas dosa, caso a caso; assun-
autorização baseada nas vados, dependendo do uso à novidade do processo ção do risco devido aos pro-
autorizações de outros países projectado do produto de desenvolvimento cessos de desenvolvimento

Segurança alimentar Nenhuma distinção reguladora Distinção feita sobre Rotulagem compreensiva de Proibição das vendas
e escolha do consumidor entre alimentos modificados alguns rótulos de alimentos, todos os alimentos modifica- de alimentos geneticamente
e não modificados mas sem exigir a separação dos, exigidos e impostos modificados, ou exigência
na análise ou rotulagem dos canais de mercado com separação de mercado de rótulos de advertência,
para segurança alimentar que estigmatizam os
alimentos modificados
como não seguros

Investimento Recursos públicos utilizados Recursos públicos utilizados Não são utilizados recursos Não são utilizados financia-
na investigação pública no desenvolvimento na adaptação local públicos significativos na mentos públicos ou de
e adaptação local da tecnologia de culturas investigação ou adaptação doadores para a adaptação
da tecnologia modificadas, mas não de culturas modificadas; ou desenvolvimento da
de culturas modificadas no desenvolvimento os doadores concedem finan- tecnologia das culturas
de novos transgénicos ciamento para a adaptação modificadas
local das culturas modificadas

Comércio Promoção de culturas Restrições à importação As importações de sementes Bloqueamento das impor-
geneticamente modificadas de produtos primários e matérias modificadas são tações de sementes e plantas
para reduzir os custos dos modificados idênticas às dos analisadas ou controladas geneticamente modificadas;
produtos primários e aumentar produtos não modificados, separadamente e mais cuidado- manutenção do estatuto das
as exportações; nenhuma de acordo com as normas samente que os não modificados; não modificadas, na esperança
restrição à importação da Organização Mundial rotulagem exigida para as do mercado de exportação
de sementes modificadas do Comércio importações de alimentos e
ou matérias-primas produtos primários modificados

Fonte: Paarlberg 2000.

GESTÃO DOS RISCOS DA MUDANÇA TECNOLÓGICA 71


A comunicação de riscos-a partilha de informação e Unidos. Alguns países exigem a rotulagem de produtos
opiniões sobre os riscos entre todos os participantes no geneticamente transformados, de forma que os consumi-
processo de gestão dos riscos-ajuda a desenvolver tomadas dores possam decidir se os querem adquirir – como na
de decisão transparentes e credíveis e a criar confiança Austrália, Brasil, Japão e Reino Unido. Outros países
pública nas decisões políticas. Muitos países asseguram estão a ser pressionados para seguir o exemplo. Nos Es-
a comunicação dos riscos através de consultas públicas, tados Unidos, onde não há rotulagem, os inquéritos
incluindo a França, Noruega, Espanha, Suécia e Estados mostram que cerca de 80 a 90% dos consumidores de-
fendem-na.9

CAIXA 3.4 CRIAÇÃO DE INSTITUIÇÕES FLEX Í VEIS


Sementes milagrosas ou Frankenfoods? As provas até ao presente
E DIVERSIFICAÇÃO DAS TECNOLOGIAS
Têm sido observados poucos riscos de saúde que se alimenta do pólen das plantas Bt, como
ou ambientais resultantes do uso na agri- um caso específico de efeitos em espécies co-
cultura de culturas modificadas genetica- laterais, nenhum estudo mostrou um efeito Se as sociedades estão dispostas a gerir a tecnologia de
mente. Contudo, ainda não foram feitos negativo actual sobre a densidade das borbo- forma segura, necessitam de instituições flexíveis e com
muitos dos estudos de longo prazo neces- letas na vida selvagem. Mais uma vez, é capacidade de resposta, mas também de um conjunto
sários sobre riscos ambientais potenciais. necessária investigação adicional.
Qual é a prova até agora? Efeitos do fluxo de genes aos parentes
de opções tecnológicas para a criação de soluções al-
mais próximos. A dispersão do pólen pode ternativas – por isso, a necessidade de investir na cons-
Riscos com a saúde conduzir à dispersão dos genes, embora apenas trução da capacidade institucional e de investigação.
Alergias. Há a preocupação de que a intro- alguns vestígios sejam dispersos em distâncias
A rígida dependência da antiga União Soviética
dução de novos produtos genéticos, com superiores a poucos metros. A transferência de
novas proteínas, poderá causar problemas características de resistência transgénica para em relação à energia nuclear, pôs em destaque os peri-
alérgicos. A transmissão da proteína da noz ervas familiares pode piorar os problemas das gos da inflexibilidade. Nos anos de 1980, a rede de
do Brasil para a soja confirmou que a enge- ervas, embora tais problemas não tenham sido Kiev dependia exclusivamente da energia nuclear gera-
nharia genética pode conduzir à transmissão observados ou adequadamente estudados.
Crescimento de ervas daninhas. Algumas
da em Chernobyl, pelo que o reactor tinha uma pro-
de proteínas alérgicas.
Toxicidade. A possível introdução ou au- novas características introduzidas nas culturas dução anormalmente elevada em 1986, mesmo enquanto
mento de componentes tóxicos pode aumen- – tais como resistência à praga ou resistência decorriam os testes. Esta sobrecarga, combinada com
tar a toxicidade. Serão necessários testes patogénica – podem fazer com que as culturas
erros cometidos durante os testes, resultaram na explosão
adicionais – o potencial de toxicidade humana transgénicas se transformem em ervas daninhas
de novas proteínas produzidas em plantas de- problemáticas. Isto poderia resultar em graves fatal. Porque não tinha fontes alternativas de energia,
veria estar sob fiscalização. danos económicos e ecológicos para os agricul- a estação de Chernobyl foi reaberta apenas seis meses
Efeitos pleiotrópicos. A combinação tores ou habitats de vida selvagem. após o acidente. A diversidade tecnológica e a flexibili-
prévia de proteínas desconhecidas pode ter Desenvolvimento da resistência à praga
às plantas protegidas da praga. Os insectos, as
dade institucional teriam permitido o uso de outras
efeitos secundários imprevistos nas plantas
alimentares. Apesar de ser necessária a moni- ervas e micróbios têm o potencial de superar a fontes de energia – evitando, possivelmente, o acidente
torização adicional, não se registaram efeitos maioria das opções de controlo à disposição e prevenindo a necessidade de reabertura da central eléc-
secundários significativos resultantes de plan- dos agricultores, com impactes ambientais signi-
trica em condições tão adversas.
tas ou produtos transgénicos disponíveis ficativos. Mas podem ser utilizados processos
comercialmente. de gestão para adiar as adaptações às pragas. Em alguns casos, os interesses económicos in-
Resistência aos antibióticos. Tem aumen- Preocupações com culturas resistentes vestidos inibem o desenvolvimento de tecnologias al-
tado a preocupação sobre os marcadores dos an- aos vírus. Plantas transformadas contendo a ternativas. Por exemplo, as indústrias de petróleo e
tibióticos tais como a kanamicina, usada na resistência ao vírus podem facilitar a criação
de novas cadeias de viroses, introduzir novas
gás, tradicionalmente, têm encarado as energias alter-
transformação de plantas. Estes antibióticos ainda
são usados para tratar infecções nos humanos e características de transmissão ou causar mu- nativas e as tecnologias de transporte como uma ameaça.
a exposição crescente aos seus efeitos pode tornar danças na susceptibilidade a outras viroses Mas os incentivos e os regulamentos podem superar tais
as infecções resistentes aos antibióticos, tornando relacionadas. É pouco provável que as plantas
obstáculos. Por exemplo, os elevados preços da gasolina
estes medicamentos ineficazes. Apesar de não alteradas apresentem problemas diferentes
haver provas definitivas de que o uso dos mar- dos associados com a reprodução tradicional e os novos critérios para as emissões na Europa, alter-
cadores pode ser prejudicial para os humanos, as para a resistência aos vírus. aram o modo como os carros são produzidos para o mer-
alternativas estão a ficar disponíveis rapidamente Ameaças à biodiversidade. A mudança cado, tornando-os cada vez mais eficientes.
e são cada vez mais úteis no desenvolvimento genética pode propagar-se a espécies selvagens
das culturas alimentares. que são raras ou estão em perigo – especial-
mente se a mudança ocorrer em locais de di- DESAFIOS QUE OS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO
Riscos ambientais versidade de culturas. Os cientistas devem ENFRENTAM
Efeitos inesperados em espécies colaterais. melhorar o seu conhecimento destes e de outros
Apesar dos estudos laboratoriais terem re- problemas resultantes do fluxo de genes po-
latado os danos na larva da borboleta monarca, tencial das culturas modificadas geneticamente. Apesar de todos os países terem de encontrar as for-
mas de lidar com os riscos da mudança tecnológica,
Fonte: Cohen 2001, baseado em Altieri 2000; Royal Society of London, US National Academy of Sciences, Brazilian Academy
of Sciences, Chinese Academy of Sciences; India National Science Academy; Mexican Academy of Sciences e Third World os países em desenvolvimento enfrentam vários de-
Academy of Sciences 2000; National Research Council 2000. safios específicos, que podem acrescer os custos, au-

72 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


mentar os riscos e reduzir a sua capacidade para gerir cedimentos seguros determina se os benefícios da tecno-
a mudança com segurança. logia serão colhidos ou perdidos. Mas os mecanismos
• Escassez de pessoal qualificado. Investigadores para a provisão de informação e recolha das reacções
especializados e técnicos qualificados são essenciais dos utilizadores podem não estar bem desenvolvidos.
para adaptar as novas tecnologias ao uso local. Con- Nos Estados Unidos, onde os agricultores têm múltiplas
tudo, mesmo nos países em desenvolvimento com ca- fontes de apoio e aconselhamento sobre os procedi-
pacidade mais avançada, como a Argentina e o Egipto, mentos de segurança, um inquérito realizado em 2000
os sistemas de biosegurança quase esgotaram a com- mostrou que 90% dos agricultores com culturas de
petência nacional. A escassez de pessoal qualificado, milho transgénico acreditavam que estavam a seguir os
desde os investigadores laboratoriais até aos fun- procedimentos de segurança correctos – mas, de facto,
cionários de serviços de extensão, podem criar sérios apenas 71% o faziam.10 Nos países em desenvolvi-
constrangimentos à capacidade de um país para criar mento, os mecanismos para a provisão de informação Vários desafios específicos
um sistema de regulação forte. e recolha de reacções são normalmente fracos.
podem acrescer os custos,
• Recursos inadequados. O custo de estabeleci- Estas barreiras constituem um importante factor
mento e manutenção de um quadro regulador pode, de bloqueamento ao uso da biotecnologia em bene- aumentar os riscos
também, colocar uma forte pressão financeira sobre os fício do desenvolvimento. O Quénia, por exemplo, in-
e reduzir a capacidade
países pobres. Nos Estados Unidos, três das maiores troduziu com assistência do governo alemão, em
e consolidadas agências – o Departamento de Agri- 1998, legislação razoavelmente ajustada à biosegu- para gerir a mudança
cultura, a Administração de Alimentos e Medicamen- rança. Mas, muito menos assistência na construção da
com segurança
tos e a Agência para a Protecção Ambiental – estão capacidade científica e técnica e nas infra-estruturas
todas envolvidas na regulamentação dos organismos ge- necessárias para executar as políticas seguidas. Os ges-
neticamente modificados. Mas até estas instituições tores da biosegurança, que trabalham em tais situa-
estão a apelar a aumentos orçamentais para lidar com ções, sabem que serão criticados pelas organizações
os novos desafios levantados pela biotecnologia. Os não governamentais e pelos meios de comunicação se
institutos de investigação dos países em desenvolvi- não conseguirem atingir os padrões elevados definidos
mento, pelo contrário, sobrevivem com pouco finan- no papel. Em consequência, tendem a movimentar-se
ciamento e são, muitas vezes, largamente financiados lentamente e a tomar o mínimo possível de decisões.
pela ajuda dos doadores – uma dependência arriscada O Quénia demorou 18 meses a aprovar a investi-
se as fontes locais de financiamento também não es- gação sobre batatas-doces transgénicas, apesar dos
tiverem asseguradas. poucos riscos envolvidos. Para permitir que os países
• Estratégias de comunicações fracas.O nível de em desenvolvimento possam beneficiar das oportu-
consciência pública sobre os organismos geneticamente nidades das novas tecnologias, estes desafios devem
modificados varia entre os países em desenvolvimento, ser ultrapassados com políticas nacionais e apoio
mas em muitos não existe uma estratégia de comunicações mundial.
para informar o público sobre aqueles organismos e
sobre o modo como a biodiversidade está a ser gerida. ESTRATÉGIAS NACIONAIS PARA LIDAR
As dificuldades próprias da criação de campanhas públi- COM OS DESAFIOS DO RISCO

cas de informação eficazes são combinadas com altas taxas


de analfabetismo nalguns países e com a falta de tradição Apesar dos desafios, os países em desenvolvimento
de poder das populações e de consumidores mais activos podem conceber estratégias para construir a capaci-
exigindo informações e afirmando o seu direito ao conhe- dade de gerir o risco, aproveitando as vantagens de
cimento. Como resultado, quando as campanhas nos serem seguidores tecnológicos e procurando o máximo
órgãos de comunicação aumentam os receios e criam de colaboração regional.
oposição pública à mudança tecnológica, as instituições
responsáveis pela gestão da biodiversidade não têm, fre- APRENDER COM OS L Í DERES TECNOL Ó GICOS
quentemente, nem planos nem meios para responder com
uma perspectiva alternativa. Os países em desenvolvimento podem tirar partido da
• Mecanismos de reacção inadequados. Ultima- sua condição de seguidores tecnológicos, aprendendo
mente, a tecnologia começou a ser utilizada, não nos com as experiências e as melhores práticas dos pioneiros.
laboratórios, mas em casa e nas escolas, nas fazendas e Os quadros de regulação, por exemplo, podem ser basea-
nas fábricas. A capacidade de um utilizador seguir pro- dos nos estabelecidos pelos primeiros inovadores. A Ar-

GESTÃO DOS RISCOS DA MUDANÇA TECNOLÓGICA 73


gentina e o Egipto definiram as suas directrizes para mação para o público e, assim, promover a respon-
garantir a segurança ambiental da libertação dos orga- sabilização.
nismos geneticamente modificados a partir da análise dos Cooperação regional na partilha do conhecimento,
documentos reguladores da Austrália, Canadá, Estados melhores práticas, objectivos de investigação, com-
Unidos e outros, adaptando-os, depois, às condições petências em biodiversidade e autorizações reguladoras
agrícolas nacionais. sobre ambientes e ecossistemas semelhantes, permitiriam
Os países em desenvolvimento podem, igual- alcançar grande eficácia – reunindo informação de base
mente, estabelecer sistemas reguladores de baixo custo para a avaliação e gestão do risco regionalmente har-
construídos com base, ou apoiando-se mesmo, nos monizado. A Associação para o Reforço da Investigação
padrões de regulação dos primeiros inovadores. Alguns Agrícola na África Oriental e Central (ASARECA)
países industrializados utilizam acordos de reconhe- começou a fazer isso, permitindo que a experiência re-
Os países em cimento mútuo, aceitando as autorizações de produ- gional seja partilhada e que os países membros com
tos de cada um quando partilham padrões comuns. menos capacidade reguladora possam beneficiar com as
desenvolvimento podem
Tais acordos podem ajudar a facilitar o comércio, capacidades científicas mais avançadas da região. Dado
tirar partido da sua eliminando testes redundantes e colocando novos o movimento informal de matérias-primas agrícolas
produtos no mercado muito mais rapidamente. 11 através das fronteiras nacionais dentro da região, a in-
condição de seguidores
A União Europeia e os Estados Unidos adoptaram esta vestigação e regulação coordenadas serão decisivas para
tecnológicos, aprendendo aproximação, em 2001, para uma variedade de pro- garantir a utilização segura da biotecnologia.
dutos como instrumentos de medicina e equipamen-
com os pioneiros
tos de telecomunicações. Espera-se que o acordo possa DESENVOLVER AS CAPACIDADES NACIONAIS
favorecer a indústria e os consumidores em cerca de CIENT Í FICAS E DE EXTENSÃO
mil milhões de dólares por ano.12 Os países em de-
senvolvimento podem, igualmente, tirar partido da ca- É crucial para os países desenvolverem as suas capaci-
pacidade reguladora e da experiência dos outros países dades de investigação, adaptável ou aplicada. Para os
– frequentemente industrializados. Por exemplo, o países pobres, a investigação adaptável é mais relevante
impacte dos medicamentos na saúde das pessoas tende – permitindo-lhes pedir emprestado e adaptar as tecno-
a variar pouco de um país para o outro. Isto permite logias geradas em qualquer lado. Para os países com
aos países em desenvolvimento optar pela aceitação das uma base científica mais forte, o desenvolvimento da in-
autorizações reguladoras de medicamentos concedi- vestigação aplicada pode ser possível – permitindo-lhes
das nos países com muito mais capacidade de realizar gerar novas tecnologias para as condições locais. Em
essas avaliações – tal como os Estados Unidos, cuja ambos os casos, a competência científica deve ser di-
principal agência de protecção ao consumidor, a reccionada para melhorar a compreensão dos riscos po-
Administração de Alimentos e Medicamentos, tem tenciais associados à tecnologia, quer seja emprestada ou
um orçamento anual que excede mil milhões de "desenvolvida em casa". O risco social da marginaliza-
dólares. ção dos pobres em relação aos benefícios das novas
tecnologias pode ser evitado se se assegurar que a sua par-
HARMONIAÇÃO DE PADRÕES ATRAVÉS ticipação é central para experiências de campo e dis-
DA COLABORAÇÃO REGIONAL seminação de estratégias (ver a contribuição especial de
M.S. Swaminathan).
Um dos primeiros passos na promoção da con-
fiança na tecnologia é o desenvolvimento de padrões REFORÇAR AS INSTITUIÇÕES REGULADORAS
de saúde e ambientais e sua harmonização com os de-
senvolvidos, independentemente, noutros países. As A execução efectiva de medidas de segurança requer ca-
divergências nas normas de segurança entre regras pacidade humana e institucional a nível nacional.
ambientais e comerciais tendem a criar conflitos no A análise das políticas científicas e tecnológicas é um
tratamento da segurança dos alimentos derivados da campo ainda embrionário e inexistente na maior parte
biotecnologia. As diferenças na introdução e na regu- dos países em desenvolvimento. A construção de com-
lação de culturas geneticamente modificadas já estão petências neste campo coloca o mundo em desen-
a causar fricções comerciais. Abordagens consis- volvimento numa posição mais privilegiada para gerir
tentes, onde for possível, reduziriam tais conflitos e os benefícios e os riscos associados com a tecnologia
a harmonização poderia disponibilizar mais infor- emergente. Mas, as discussões sobre a introdução de me-

74 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


didas reguladoras têm sido acompanhadas por preo- zação não governamental ActionAid criou um júri
cupações sobre os custos de tais regulamentações. A Ar- de cidadãos na Índia, envolvendo um conjunto de
gentina e o Egipto constituem bons exemplos de como agricultores que poderiam ser afectados pelas cul-
a regulação para a introdução de organismos genetica- turas geneticamente modificadas. Especialistas uni-
mente modificados foram incorporados nas regulações versitários, sindicatos de agricultores, organizações
existentes (caixa 3.5). não governamentais, governos estaduais e nacionais
e Monsanto, o maior produtor de culturas trans-
MOBILIZAR VOZES LOCAIS génicas comerciais, apresentaram, ao júri de agricul-
tores, provas a favor e contra a utilização de
Vários países lançaram programas cujo objectivo era sementes transgénicas. Os membros do júri discu-
o envolvimento do público com a tecnologia tiram, então, se as culturas melhorariam as condições
disponível. Isto é essencial se os agricultores e con- de vida das famílias ou aumentariam a pobreza e in-
sumidores dos países em desenvolvimento preten- segurança, acabando por formar a sua própria
dem influenciar os decisores nacionais e captar mais posição sobre o assunto. Tais discussões públicas
vozes diferentes para o debate mundial. A organi- podem, também, ser organizadas por governos na-

CONTRIBUIÇÃO ESPECIAL
A aproximação antyodaya: um caminho para a revolução sempre verde
Os retrocessos ecológicos e sociais das novas técnicas poderoso para o fomento de explorações ecológi- Mahatma Gandhi há mais de 70 anos, quando disse:
de produção de culturas devem-se frequentemente cas, bem como para melhorar a produtividade de "Recorde-se da cara das pessoas mais pobres e mais
às monoculturas, à excessiva aplicação de fertilizantes solos secos e salinos. Cientistas na Índia transferi- fracas que viu e pergunte a si mesmo se os momen-
e pesticidas químicos e à insustentável exploração ram genes do Amarantus para as batatas, para tos de contemplação vão ter alguma utilidade para
do solo e das águas subterrâneas. Simultaneamente, melhorar a qualidade e quantidade de proteínas, e ele". Uma aproximação antyodaya – isto é o desen-
a expansão populacional – associado com o au- dos mangues para culturas anuais, para dar tolerância volvimento baseado na atenção às pessoas mais po-
mento do poder de compra – deixa a maior parte à salinidade. O mapeamento baseado nos sistemas bres – na transposição da desigualdade digital,
dos países em desenvolvimento sem nenhuma opção, de informação geográfica (SIG) e o progresso nas genética e sexual, adoptada nas nossas biocidades na
com excepção de produzir mais em condições de previsões meteorológicas do curto e médio prazo, Índia, provou ser muito eficaz na inclusão dos ex-
diminuição da terra arável e dos recursos de irrigação associados ao desenvolvimento dos mercados e da cluídos na capacitação tecnológica e de qualificações.
per capita. A opção de importação dos alimentos, informação sobre preços, estão a ajudar os agricul- Os meus quase 40 anos de experiência –
aparentemente fácil, só agravará o desemprego rural tores a atingir um equilíbrio correcto entre o uso da começados na Índia, em 1964, com o Programa
em países onde a segurança dos meios de subsis- terra e os factores ecológicos, meteorológicos e de Nacional de Demonstração, sobre milho e arroz,
tência de mais de 60% das famílias rurais dependem marketing. Os avanços são decisivos, dado que a agri- bem como a minha experiência posterior em vários
da agricultura. Como podemos, então, atingir um cultura fornece o mais amplo caminho para o novo países asiáticos e africanos com os sistemas de Cul-
crescimento contínuo da produtividade biológica emprego através de empresas ambientais – tais tivo Sustentado do Arroz e de Mulheres nas Redes
sem associá-lo com danos económicos e sociais? como a reciclagem de resíduos sólidos e líquidos, a de Cultivo do Arroz, do Instituto de Investigação
Felizmente, entrámos na era da Internet, dos bioterapia, ecotecnologias desenvolvidas pela com- Internacional sobre o Arroz – levaram-me a conside-
genomas e dos proteomas. As últimas três décadas binação de conhecimentos tradicionais com a ciên- rar duas directrizes básicas na concepção de pro-
indicam que a transformação tecnológica de pe- cia moderna, e sistemas de segurança dos alimentos gramas de ensaio e difusão tecnológica:
quenas explorações agrícolas – se baseadas nos e água baseados na comunidade. • Se as demonstrações e ensaios forem organi-
princípios da ecologia, economia, igualdade social A nossa experiência em Pondicherry, Índia, zados nos campos dos agricultores pobres em re-
e sexual e produção dos meios de subsistência – mostrou que os centros de conhecimento rural geri- cursos, todos os agricultores beneficiam. O inverso
podem contribuir, significativamente, quer para a er- dos por mulheres e orientados pelos utilizadores, pode não acontecer.
radicação da pobreza, quer para a integração social. com apoio de computadores e ligados à Internet, aju- • Se as mulheres estiverem capacitadas com in-
A tecnologia tem sido, sem dúvida, um factor im- dam a transpor, simultaneamente, a desigualdade formação tecnológica e qualificações, todos os
portante no alargamento da desigualdade entre ricos entre os sexos e a digital. Sinergias entre tecnologias membros de uma família beneficiam. O inverso
e pobres, desde o início da revolução industrial na e políticas públicas, por um lado, e parcerias entre pode não acontecer.
Europa. Mas, temos hoje oportunidades pouco ha- o público e o privado, por outro, irão conduzirão O caminho antyodaya deve ser o ponto de par-
bituais para incluir a tecnologia como um aliado no ao progresso rápido na criação de novos meios de tida em todos os programas de planeamento do de-
movimento para a igualdade entre os sexos. Pro- subsistência rural e não rural. Mas, é importante en- senvolvimento e de difusão tecnológica, se quisermos
gressos recentes na biotecnologia e nas tecnologias tender, se o mercado for o único determinante nas evitar, no futuro, o crescimento conduzido pela de-
espaciais e de informação estão a ajudar no lança- decisões de investimento na investigação, "os órfãos sigualdade e as práticas ambientais insustentáveis.
mento de uma revolução sempre verde, capaz de ha- permanecerão órfãos" e as desigualdades económi-
bilitar as pequenas famílias a alcançar melhorias cas e tecnológicas aumentarão.
sustentáveis na produtividade e no rendimento por Como podemos assegurar que um movimento
unidade de terra, tempo, trabalho e capital. de revolução sempre verde, baseado nas tecnologias M. S. Swaminathan
A nova genética, envolvendo o mapeamento e genéticas e digitais, é caracterizado pela inclusão so- Vencedor do Prémio Alimentar Mundial
a modificação molecular, é um instrumento cial e sexual? A resposta a esta questão foi dada por de 1987

GESTÃO DOS RISCOS DA MUDANÇA TECNOLÓGICA 75


cionais e locais ou por organizações baseadas na co- nessas tecnologias. Tais avaliações poderiam, igual-
munidade. mente, ajudar a basear as percepções públicas nos ob-
jectivos científicos e técnicos. Em 2000, as academias
COLABORAÇÃO MUNDIAL NA GESTÃO DOS RISCOS nacionais das ciências do Brasil, China, Índia, México,
Reino Unido e Estados Unidos e a Academia das Ciên-
Para lá das fronteiras nacionais, alguns desafios à gestão cias do Terceiro Mundo analisaram conjuntamente as
dos riscos afectam e influenciam as comunidades por provas e apelaram para mais pesquisas: "Dado o uso
todo o mundo. É necessária mais investigação sobre os im- limitado de plantas transgénicas em todo o mundo e as
pactes possíveis da biotecnologia, para aumentar a com- condições geográficas e ecológicas relativamente cons-
preensão dos seus riscos em qualquer lado. Os efeitos trangidas da sua produção, as informações concretas
dos riscos da má gestão da saúde e da segurança ambiental sobre os seus efeitos actuais no ambiente e diversidade
Restaurar, ou manter, podem, rapidamente, atravessar as fronteiras através do biológica são ainda muito dispersas. Em consequência,
comércio e das viagens. E a regulação fraca da tecnologia não existe consenso sobre a gravidade, ou mesmo exis-
a confiança pública
num país pode criar falta de confiança pública na ciência tência, de qualquer dano ambiental potencial da tecno-
é fundamental para internacional. É do interesse de todos que cada país pro- logia MG [modificação genética]. Há, portanto,
cure gerir bem os riscos. necessidade de uma avaliação cuidadosa dos riscos das
construir fortes sistemas
consequências prováveis, numa fase inicial, do desen-
nacionais de regulação REALIZAR MAIS INVESTIGAÇÃO volvimento de todas as variedades de plantas trans-
E COM MAIOR DURAÇÃO génicas, bem como a monitorização do sistema para
avaliar estes riscos em subsequentes testes de campo e
O debate actual sobre biotecnologia tem falta de avali- de libertações".13
ações consolidadas e de base científica, para fornecer
provas rigorosas e equilibradas sobre os impactes das RESTAURAR A CONFIANÇA P Ú BLICA
tecnologias emergentes na saúde e no ambiente. Avalia- NA CI Ê NCIA
ções mais equilibradas e transparentes poderiam criar
uma base para o diálogo e ajudar a construir a confiança Perante as incertezas ligadas à tecnologia, uma quebra
de confiança nas instituições reguladoras pode ser de-
sastrosa. Restaurar, ou manter, a confiança pública nas
CAIXA 3.5
suas decisões e políticas é fundamental para construir
O reforço da capacidade institucional na Argentina e Egipto para lidar
com produtos primários modificados geneticamente fortes sistemas nacionais de regulação, baseados na
A Argentina e o Egipto estão entre os países tempo, permitindo a coordenação entre consulta popular. Como vem expresso no relatório pro-
em desenvolvimento que mais progrediram no ministérios e reguladores dos processos de duzido por seis academias nacionais das ciências e pelas
uso corrente e intencional de culturas e pro- regulação. considerações da Academia das Ciências do Terceiro
dutos modificados geneticamente. O Egipto • Os institutos de investigação avançada
Mundo, "Finalmente, nenhuma prova credível de cien-
aprovou testes de campo das libertações e conduzem investigação biotecnológica sobre
está à beira de comercializar a sua primeira cul- o estado da arte, e o seu pessoal altamente tistas ou de instituições reguladoras influenciará as
tura modificada geneticamente. A Argentina qualificado é convidado a trabalhar em opiniões públicas populares, a menos que haja confiança
tem exportado produtos primários modifica- comissões de biosegurança ou como con-
pública nas instituições e mecanismos que regulam tais
dos geneticamente desde 1996. selheiros técnicos.
Ambos os países partilham vários sucessos • Têm sido estabelecidos normas claras produtos".14
na forma como têm reforçado a sua capaci- para avaliação dos riscos de uma libertação Nalguns países, especialmente na Europa, a ciên-
dade para lidar com questões de biosegurança: proposta. As avaliações comparam os im- cia perdeu a confiança do público – e isto afecta as ex-
• Foram formuladas directrizes nacionais pactes previstos dos organismos modifica-
pectativas de progresso tecnológico mundial. Mas, por
para garantir a segurança ambiental dos dos geneticamente com os das variedades
organismos modificados geneticamente, não modificadas equivalentes. As variedades vezes essa desconfiança está deslocada. Políticas fra-
através do exame dos regulamentos dos modificadas geneticamente que não apre- cas, regulação inadequada e falta de transparência – e
países com competências nesta área e pos- sentam grandes riscos são considerados
não de ciência – são frequentemente a causa de pre-
terior adaptação desses regulamentos às aceitáveis para testar e eventual autorização
condições agrícolas nacionais. de comercialização. juízos. Os métodos científicos, quando combinados com
• Os procedimentos de aplicação, ins- Tais políticas mostram que, mesmo en- deliberações públicas, criam as bases para a gestão de
pecção e autorização relacionados com a frentando desvantagens iniciais, os países riscos tecnológicos, devendo os reguladores utilizá-los
segurança alimentar e registo de sementes em desenvolvimento podem criar sistemas
adequadamente. Muitos países utilizam caracteriza-
foram construídos a partir de leis existentes. de biosegurança que lhes permitam avançar
Os procedimentos evoluíram ao longo do na gestão da segurança tecnológica. ções de perigos e avaliações de riscos, caso a caso,
com base científica, desenvolvem regulamentos apoia-
Fonte: Cohen 2001.
dos nas instituições existentes, em vez de estabelecer

76 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


novos regulamentos, e reduzem a regulação dos pro- Biológica, estabelece câmara de compensação de
dutos considerados de baixo risco. biosegurança para os países partilharem informações
Alguns observadores questionam, por vários mo- sobre organismos geneticamente modificados. Os
tivos, se a ciência está a contribuir como deveria. países têm de informar a câmara num prazo de 15 dias
Primeiro, os cientistas, como todas as outras pessoas, após a aprovação de qualquer tipo de variedade de
abordam os problemas com metodologias específicas cultura que pode ser utilizada na alimentação, rações
e têm interesses e incentivos que influenciam o seu tra- e processamento. Os exportadores são obrigados a
balho. Como consequência, nem todas as investigações obter uma autorização de importação do país, através
relevantes são prosseguidas. Considere-se o caso dos de um procedimento informação prévia, para car-
desperdícios industriais. A investigação científica ana- regamentos iniciais de organismos geneticamente
lisa geralmente os efeitos de substâncias isoladas, mas modificados – tais como sementes e árvores – que se
muitos dos desperdícios industriais mais graves en- pretendem libertar no ambiente. Os organismos ge- A liberdade de inovar –
volvem interacções entre substâncias. Por exemplo, neticamente modificados considerados para alimen-
e aceitar riscos –
quando um fluoreto é acrescentado à água, aumenta tação, rações e processamento – por outras palavras,
a absorção do chumbo dos canos – um perigo que não produtos primários – estão isentos dessa exigência. continuará
viria à luz através de estudos isolados do chumbo ou Contudo, têm de ser rotulados para mostrar que
a desempenhar
dos fluoretos. Contudo, devido à falta de finan- "podem conter" organismos geneticamente modifi-
ciamentos, têm sido efectuados poucos estudos cados e os países podem decidir, na base de uma um papel central no
compreensivos sobre os efeitos acidentais de multi-subs- avaliação científica do risco, se importam ou não
desenvolvimento mundial
tâncias. esses produtos. Outras câmaras de compensação
Segundo, a complexidade dos assuntos, significa podem partilhar e divulgar experiências sobre segu-
que os cientistas que realizam tais estudos podem rança tecnológica entre comunidades públicas, pri-
chegar a resultados inconclusivos – mas resultados vadas e académicas e entre países e regiões.
claros num campo específico podem trazer mais re- Estas discussões de risco devem envolver os países
conhecimento. Terceiro, as provas científicas sobre os em desenvolvimento. A União Europeia e os Estados
perigos e danos são por vezes ignoradas, suprimidas ou Unidos estabeleceram um fórum consultivo sobre
atacadas por lóbis: a indústria do tabaco suprimiu biotecnologia, que aborda questões de interesse para os
provas dos efeitos cancerígenos do tabaco, durante países em desenvolvimento. Contudo, o fórum não in-
décadas, antes da informação passar, finalmente, para clui nenhum membro representativo do mundo em
o domínio público. Estas pressões fazem com que al- desenvolvimento.
guns cientistas estejam menos dispostos a realizar tais
estudos, devido às possíveis consequências sobre as suas EXPANSÃO DA AJUDA PARA A CONSTRUÇÃO
carreiras.15 Estas preocupações sublinham a importância DE CAPACIDADE
da investigação financiada publicamente e da procura
de novas formas de reconhecimento dos cientistas que Nos últimos 10 anos, foram criados mais programas ori-
se dedicam a descobrir prejuízos e perigos no interesse entados para criação das capacidades humanas
da sociedade. necessárias para a regulação da segurança tecnológica,
através de formação e da realização de workshops,
PARTILHA DE INFORMAÇÕES E EXPERI Ê NCIAS seminários e encontros técnicos. As organizações in-
ternacionais desempenharam um papel fundamental
As tecnologias de informação e de comunicações são no apoio a estas actividades. Mas são ainda necessários
importantes para a partilha de informações e expe- mais esforços formais e sustentados. O apoio tem sido
riências com avaliações de risco. Mas, também, são obtido, frequentemente, para a concepção de legislação
necessários outros factores se se pretende divulgar estas e criação de sistemas de biosegurança – mas não para
informações aos que mais precisam delas. Câmaras de a sua execução.
compensação de informações seguras entre agências na-
cionais e internacionais podem desempenhar aqui um • • •
papel útil.
O Protocolo de Cartagena sobre Biosegurança, As rupturas tecnológicas na segunda metade do
adoptado em 2000 na Convenção sobre Diversidade século 20 abriram novos caminhos para o desen-

GESTÃO DOS RISCOS DA MUDANÇA TECNOLÓGICA 77


volvimento humano. Estes avanços oferecem muito desenvolvimento mundial. O desafio que todos en-
benefícios, mas também colocam riscos, aumentando frentamos é o de assegurar que aqueles que exercem
a procura de sistemas de governação que tragam a esta liberdade fundamental o façam de forma a pro-
gestão da tecnologia para o controlo das instituições mover a boa ciência, a construir confiança na ciên-
democráticas. A liberdade de inovar – e aceitar riscos cia e na tecnologia e a expandir o seu papel no
– continuará a desempenhar um papel central no desenvolvimento humano.

78 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


CAPÍTULO 4

Estratégias nacionais para estimular


a criatividade humana

A revolução tecnológica é, antes de mais, uma questão moderados e níveis elevados de poupança e investimento. Nenhum país beneficiará
nacional – porém, nenhum país beneficiará da nova Não são só as grandes empresas que precisam de esta-
da nova era da
era da informação se ficar à espera que os benefícios bilidade. As pequenas empresas e as explorações agrícolas
caiam do céu. Hoje em dia, as transformações tecno- familiares também dependem dum quadro financeiro informação se ficar
lógicas dependem da capacidade de cada país para es- estável, em que as poupanças estejam seguras e seja pos-
à espera que os benefícios
timular a criatividade da sua população, permitindo-lhe sível recorrer a empréstimos. E elas estão onde normal-
compreender e dominar a tecnologia, inovando e ada- mente começa a inovação e a adaptação tecnológicas. caiam do céu
ptando essa tecnologia às suas necessidades e oportu- Apesar de necessária, esta estabilidade não é sufi-
nidades específicas. ciente. São também necessárias políticas pró-activas de
Para estimular a criatividade, é necessário um am- estímulo à inovação.
biente económico dinâmico, competitivo e flexível. No • A política tecnológica pode ajudar a criar um en-
caso da maioria dos países em desenvolvimento, isto im- tendimento comum, entre os vários actores funda-
plica reformas que promovam a abertura – a novas mentais, acerca do papel central da tecnologia na
ideias, novos produtos e novos investimentos. Con- diversificação económica.
tudo, o papel central no fomento da criatividade cabe • As reformas com objectivo de aumentar a concor-
à expansão das qualificações humanas. Por esse motivo, rência no sector das telecomunicações são essenciais para
a mudança tecnológica aumenta significativamente a im- proporcionar às pessoas e às organizações um melhor
portância que cada país deve dar ao investimento na edu- acesso às tecnologias de informação e comunicação.
cação e nas qualificações da sua população. • Para estimular a investigação orientada para a
Um grande número de países em desenvolvimento tecnologia, os governos podem promover laços entre uni-
está em boa posição para tirar partido das oportu- versidades e empresas – e oferecer incentivos fiscais à
nidades da revolução tecnológica e promover o desen- investigação e desenvolvimento das empresas privadas.
volvimento humano. Outros, porém, deparam-se com • É também essencial estimular o espírito empre-
barreiras consideráveis, como a falta de um ambiente sarial, assumindo o capital de risco uma importância fun-
económico propício à inovação e de instituições e com- damental no estímulo às novas iniciativas de base
petências que permitam adaptar as novas tecnologias às tecnológica.
necessidades e constrangimentos locais.
No entanto, uma política económica adequada CRIANDO UMA VISÃO PARA A TECNOLOGIA
pode fazer a diferença. A chave está em criar um am-
biente que mobilize o potencial criativo da população Os governos deverão executar uma estratégia tecno-
para utilizar e desenvolver as inovações tecnológicas. lógica ampla, em parceria com todos os participantes
fundamentais envolvidos. Diversos governos têm pro-
CRIAÇÃO DE UM AMBIENTE movido o desenvolvimento tecnológico de forma directa.
PROP ÍCIO À INOVAÇÃO TECNOLOGICA Alguns têm subsidiado indústrias de alta tecnologia –
com políticas industriais muitas vezes amplamente criti-
A criação de um ambiente propício à inovação re- cadas porque o governo nem sempre sabe escolher de-
quer estabilidade política e macroeconómica. Veja-se o vidamente os beneficiários. Mas, o que os governos
exemplo das histórias de sucesso na Ásia, assentes numa podem fazer é identificar as áreas em que a sua coor-
forte aposta na educação e saúde, aliada a uma inflação denação é essencial, porque nenhum investidor pri-
baixa, défices orçamentais e da balança de pagamentos vado actuará sozinho – é o caso, por exemplo, da criação

ESTRATÉGIAS NACIONAIS PARA ESTIMULAR A CRIATIVIDADE HUMANA 79


de infra-estruturas. Neste campo, alguns governos têm sensos. A Índia, Coreia do Sul, África do Sul, Tailân-
realizado um trabalho credível. dia e vários países latino-americanos estão, actualmente,
Muitos países têm levado a cabo "estudos de a levar a cabo exercícios deste tipo. No Reino Unido,
prospectiva", para tornar mais coerente a política cien- um estudo deste género levou à afectação de recursos
tífica e tecnológica e identificar exigências e desafios fu- e criação de incentivos com vista ao fomento das novas
turos, ligando as políticas de ciência e tecnologia com tecnologias numa economia madura (caixa 4.1).
as necessidades económicas e sociais. Este processo Nem sempre são os governos a liderar o processo.
promove a consciência dos participantes em relação à Na Costa Rica, foram as empresas que tomaram a ini-
situação da actividade tecnológica no país, às tendên- ciativa no esforço que levou à decisão da Intel de inves-
cias mundiais emergentes e às suas implicações sobre a tir neste país. A Costa Rica conseguiu atrair investimento
competitividade e as prioridades nacionais. O envolvi- directo estrangeiro intensivo em tecnologia devido à sua
mento da sociedade civil nas áreas relacionadas com os estabilidade social e política, à sua proximidade em re-
novos desenvolvimentos tecnológicos de impacte social lação aos Estados Unidos e à sua força de trabalho al-
e ambiental potencialmente forte, ajuda a criar con- tamente qualificada, criada durante décadas de ênfase
na educação (caixa 4.2).

CAIXA 4.1
CRIAR A CONCORR Ê NCIA NOS SERVIÇOS
Previsão tecnológica no Reino Unido – criação de consensos
DE TELECOMUNICAÇÕES
entre os principais participantes
O programa de previsão tecnológica do Reino Actualmente, estão a ser executadas as re-
Os custos das telecomunicações e da Internet são par-
Unido, anunciado em 1993, está a gerar uma comendações do estudo. Por exemplo, a in-
parceria mais estreita entre cientistas e indus- vestigação nas quatro áreas prioritárias – ticularmente elevados nos países em desenvolvimento.
triais para orientar a actividade científica e nanotecnologia, comunicações móveis sem fios, As taxas mensais de acesso à Internet correspondem a
tecnológica financiada com recursos públicos. biomateriais e energia sustentável – está a ser cerca de 1,2% do rendimento mensal médio do uti-
Mais orientada para o mercado e menos con- apoiada através de um esquema de prémios à
duzida pela ciência do que outros projectos investigação. Outro exemplo é a sua aplicação lizador norte-americano típico, em contraste com os
semelhantes, este programa encontra-se na sua na Escócia. A Scottish Enterprise recebe o coor- 614% de Madagáscar,1 278% do Nepal, 191% do
terceira fase. denador deste programa para a Escócia, que Bangladeche, ou 60% do Sri Lanka (quadro 4.1).2
A primeira fase criou 15 painéis de espe- procura promover a previsão como um instru-
Com custos elevados e rendimentos baixos, a
cialistas sobre mercados e tecnologias rele- mento das empresas para reflectirem e reagirem
vantes para o país, cada um presidido por um de forma estruturada às mudanças futuras. Este chave para a disseminação da Internet em grande parte
industrial sénior. Cada painel ficou respon- coordenador trabalha com um vasto conjunto dos países em desenvolvimento é o acesso comunitário.
sável pelo desenvolvimento de cenários do fu- de actores públicos, privados e académicos. Computadores, contas de correio electrónico e ligações
turo na sua área de análise, identificando as Um dos objectivos principais é ajudar cada uma
tendências fundamentais e sugerindo alterna- das empresas a gerir melhor a mudança, o que à Internet são frequentemente repartidos entre vários
tivas de resposta. Em 1995, os painéis apre- é feito mediante a canalização de esforços através indivíduos ou famílias. Telecentros, quiosques de In-
sentaram os seus relatórios a uma comissão de uma série de intermediários empresariais de ternet e centros de aprendizagem comunitária tornam
directiva, que sintetizou as principais con- confiança – organismos industriais, redes em-
os telefones, computadores e a Internet mais acessíveis
clusões e identificou as prioridades nacionais. presariais e organizações de distribuição locais
Na segunda fase, a comissão elaborou um – que têm uma influência sustentável nas e menos dispendiosos para um maior número de pes-
relatório com as principais recomendações di- actividades das empresas. Todos os painéis e gru- soas.
vididas em seis temas: tendências e impactes pos de trabalho enfrentam dois temas trans- Na Tanzânia, a Ademi Communications Interna-
sociais das novas tecnologias; comunicações e versais: desenvolvimento sustentável e educação,
informática; genes e novos organismos, proces- qualificações e formação. tional fornece o primeiro serviço telefónico fiável. Ins-
sos e produtos; novos materiais, sínteses e Na educação e qualificações, a filosofia do talou unidades resistentes e de fácil utilização, capazes
processamento; precisão e controlo na gestão, programa de previsão está sintetizada numa das de efectuar chamadas locais, de longa distância e in-
automação e engenharia de processos; e ques- suas conclusões: "As raízes do nosso sistema
ternacionais. O sistema sem fios desta empresa é muito
tões ambientais. de aprendizagem – salas de aula e anfiteatros
A comissão determinou três categorias como – remontam às necessidades da era industrial flexível, permitindo instalar telefones públicos onde
prioritárias: áreas tecnológicas fundamentais, do século XIX. No início do século XXI, é são mais necessários, independentemente da existência
para as quais era indispensável o desenvolvi- necessário reconstruir o processo de apren- de cabos telefónicos. As pequenas empresas depen-
mento de novos trabalhos; as áreas intermédias, dizagem. Apesar de muitas das instituições
cujos trabalhos precisavam ser reforçados; e as educativas permanecerem, terão um aspecto dentes das telecomunicações foram extremamente bene-
áreas emergentes, onde os trabalhos poderiam ser muito diferente do actual. Tornar-se-ão am- ficiadas.3 No Peru, a Red Cientifica Peruana, o maior
considerados se as oportunidades de mercado fos- bientes sociais de apoio à aprendizagem eficaz, fornecedor de acesso à Internet deste país, criou uma
sem promissores e se fosse possível desenvolver desempenhando novas funções e com res-
rede nacional constituída por 27 telecentros.4
capacidades de nível mundial. ponsabilidades diferentes".
Os custos elevados devem-se, em grande parte, ao
Fonte: UK Government Foresight 2001; Lall 2001.
domínio monopolista do Estado sobre o sector das
telecomunicações na maioria destes países. Sem con-

80 RELATORIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


CAIXA 4.2
A atracção de investimento directo estrangeiro intensivo em tecnologia na Costa Rica –
através de qualificações humanas, estabilidade e infra-estruturas
A Costa Rica exporta mais software per capita do que a electrónica e actividades relacionadas, indústrias de
qualquer outro país da América Latina. Duas decisões rápido crescimento que requeriam trabalho qualificado.
recentes da Intel contribuíram para o desenvolvimento Entretanto, a Intel começava a procurar um local para
da indústria nacional. Em primeiro lugar, a Intel de- instalar uma fábrica de montagem e teste de chips.
cidiu investir na criação de um centro de desenvolvimento O CINDE fez campanha pela Costa Rica e, em 1996, a
de software para a empresa e contribuir para o desenho Intel decidiu instalar a sua fábrica neste país. Foram
de semicondutores, ultrapassando os limites de uma quatro os factores determinantes:
FIGURA 4.1
velha fábrica de montagem e teste. Em segundo lugar, a • A Costa Rica era um estado de direito, com estabili-
O custo de estar ligado
Intel investiu, através do seu fundo de capital de risco, dade política e social e níveis baixos de corrupção; re-
numa das mais promissoras empresas de software da gras relativamente liberais em relação ao comércio Custo do acesso mensal à Internet
em percentagem do rendimento mensal médio
Costa Rica. Além disso, estas actividades foram reforçadas internacional e aos fluxos de capital; força de trabalho
pela presença de centros de investigação, ensino e for- relativamente bem instruída e qualificada tecnicamente,
Nepal 278%
mação, internacionalmente reconhecidos. mas de baixo custo, e com conhecimentos aceitáveis de
Como é que a Costa Rica alcançou este sucesso? Um Inglês; ambiente "favorável aos negócios"e com uma
dos elementos decisivos foi a aposta, de longa data, que atitude favorável em relação ao investimento directo es-
o país fez na educação. Porém, apesar da sua importân- trangeiro; um bom pacote de incentivos; e com boa lo-
cia, as qualificações humanas devem ser completadas calização e logística de transportes.
com outros factores. • A ênfase crescente da Costa Rica na atracção de in-
Após a crise económica do início dos anos de 1980, vestimento directo estrangeiro de alta tecnologia deu
Bangladeche 191%
tornou-se claro que o país tinha de abandonar a substituição credibilidade ao argumento de que este país possuía os
de importações. Por isso, orientou-se para a promoção de recursos humanos exigidos pela Intel.
exportações (e melhor acesso aos mercados dos Estados • Uma agência de promoção do investimento estran-
Unidos), através de dois sistemas de incentivos fiscais: geiro agressiva, eficaz e conhecedora (CINDE), com li-
• Um sistema de zonas de processamento das expor- gações ao Governo, promoveu encontros bem sucedidos
tações permitiu às empresas importar todos os inputs e entre os executivos da Intel e as autoridades públicas.
equipamento livres de impostos e evitar o pagamento de • O Governo compreendeu a importância do investi-
impostos sobre os rendimentos durante oito anos. Este mento da Intel no país. O Presidente encontrou-se com
sistema revelou-se fundamental na atracção de empresas executivos da empresa e encorajou o resto do Governo Butão 80%
multinacionais de alta tecnologia. a ajudar a Intel.
• Para ajudar as empresas nacionais a orientarem-se Sri Lanka 60%
para a exportação, foi-lhes concedido um período livre Efeitos de interdependência
de impostos sobre os rendimentos, o direito de impor- O investimento da Intel teve um forte impacte na
tar equipamento e inputs livres de impostos e um subsí- capacidade da Costa Rica atrair outros investimentos Estados
dio igual a 10% do valor das suas exportações. O subsídio directos estrangeiros em indústrias de alta tecnologia – Unidos
foi concebido para compensar os exportadores pelas e na competitividade geral da economia nas indústrias in- 1,2%
ineficiências nos serviços públicos, como os portos, ele- tensivas em qualificações. A reputação da Intel de se-
ctricidade e telecomunicações, e pelos elevados custos dos leccionar os locais rigorosamente deu a outras empresas
Fonte: Cálculos do Gabinete do Relatório de
serviços financeiros, como a banca e seguros. a confiança necessária para investir no país. Desenvolvimento Humano baseados
A Intel também contribuiu através da formação da em ITU 2000 e World Bank 2001h.
Previsão tecnológica – através de uma organização sua própria força de trabalho e do apoio às universidades.
não governamental O Instituto Tecnológico da Costa Rica (ITCR) ganhou
Este novo modelo de promoção das exportações foi o estatuto de "Associado da Intel" e diversos novos pro-
apoiado desde o início pelo Comité para o Investimento gramas de graduação. E a presença da Intel aumentou o
e Desenvolvimento (CINDE) da Costa Rica, uma orga- conhecimento sobre as oportunidades de carreira na en-
nização privada não-lucrativa fundada em 1983 por em- genharia e outros campos técnicos. No ITCR, as ins-
presários proeminentes, apoiada pelo Governo e crições em engenharia subiram de 9,5% dos estudantes
financiada por doações de privados. O seu objectivo em 1997, para 12,5% em 2000.
principal era a promoção do desenvolvimento económico, Actualmente, a Costa Rica está a seguir uma estra-
mas atrair o investimento directo estrangeiro foi sempre tégia que parece gozar de forte apoio dos participantes
a primeira prioridade. fundamentais: reconhecimento da necessidade de libera-
No início dos anos de 1990, o CINDE apercebeu-se lizar as telecomunicações; melhoramento das infra-es-
de que a Costa Rica estava a perder competitividade nos truturas através da participação do sector privado;
sectores baseados em trabalho não qualificado e que o aperfeiçoamento da protecção dos direitos de propriedade
Acordo de Comércio Livre da América do Norte intelectual; e melhoramento do acesso aos mercados ex-
(NAFTA) daria ao México um acesso mais fácil ao mer- ternos, através de acordos de comércio livre com países
cado dos Estados Unidos. Por isso, decidiu concentrar como o Canadá, Chile e México. Algumas das reformas
os seus esforços na atracção de investimento para os sec- têm encontrado resistências e expressões abertas de de-
tores que constituiriam uma boa aposta para os níveis edu- sacordo – o que faz parte do debate político numa so-
cacionais relativamente elevados da Costa Rica. Escolheu ciedade plural.
Fonte: Rodríguez-Clare 2001.

ESTRATÉGIAS NACIONAIS PARA ESTIMULAR A CRIATIVIDADE HUMANA 81


corrência, os preços mantêm-se elevados – o que é obteve muito melhores resultados do que as Fili-
válido tanto para o aluguer de linhas telefónicas, como pinas, onde a regulação só foi criada numa fase pos-
para o acesso à Internet ou para as chamadas locais e terior.8
de longa distância. O desmantelamento destes
monopólios faz a diferença. Quando a AT&T, mo- ESTIMULAR A INVESTIGAÇÃO
nopolista norte-americana nas chamadas de longa dis- E DESENVOLVIMENTO
tância, foi desmantelada em 1984, os preços das
chamadas telefónicas de longa distância caíram cerca Os governos têm a responsabilidade de fomentar a in-
de 40%.5 vestigação e desenvolvimento (I&D). Parte dela deve
Em plena crise asiática, o número de assinantes no ser levada a cabo pelo sector público, especialmente no
mercado coreano de telefones móveis duplicou em cada caso das necessidades da população que o mercado
O fomento das ligações ano, entre 1996 e 1998, apesar do declínio na procura pode não satisfazer. Contudo, os governos não têm de
dos consumidores.6 Como foi possível este rápido cresci- tomar a seu cargo a totalidade da I&D – e podem criar
entre universidades
mento? Devido à entrada no mercado de cinco fornece- incentivos para outros actores. Na promoção da in-
e empresas pode dores concorrentes, que ofereceram crédito acessível e vestigação orientada para a tecnologia, há dois instru-
subsídios à aquisição de aparelhos. No Sri Lanka, a mentos que se têm revelado particularmente importantes
estimular a inovação
concorrência também provocou um aumento no in- – as ligações entre universidades e empresas e os in-
vestimento, mais ligações e melhor qualidade de serviço.7 centivos fiscais para promover a I&D das empresas
O fornecimento de acesso à Internet ocorre em privadas.
concorrência na maioria dos países inqueridos num O fomento das ligações entre universidades e em-
estudo recente (quadro 4.1). Porém, apesar das van- presas pode estimular a inovação. As empresas de alta
tagens dos mercados de telecomunicações concor- tecnologia baseiam-se na criatividade e nos conheci-
renciais, o aluguer de linhas telefónicas e as chamadas mentos de ponta, bem como na excelência científica
locais e de longa distância continuam a ser domina- e técnica das universidades. Os pólos científicos e
dos por monopólios ou duopólios. E muito está ainda tecnológicos são criados quando os empresários deci-
por fazer nos mercados mais inovadores, como o dem instalar as suas empresas na vizinhança de uni-
serviço de paging, a televisão por cabo ou os telefones versidades.
móveis digitais. A Universidade de Tecnologia de Tampere, na
A privatização pode aumentar o nível de con- Finlândia, liga a Nokia, o Centro de Investigação Té-
corrência nestes mercados. Mas, só por si, não produz cnica da Finlândia e empresas do sector de processa-
um sector liberalizado e concorrencial. Em muitos mento de madeira. Os industriais das áreas da ciência
países, os monopólios estatais foram substituídos por e tecnologia despendem 20% do seu tempo nas uni-
monopólios privados. E, apesar de muitos países terem versidades, dando aulas aos estudantes nas suas áreas
privatizado rapidamente as telecomunicações, foram de competência. O trabalho destes "professores
muito mais lentos na construção da capacidade reg- adjuntos" encontra-se na estimulante fronteira entre a
uladora. A natureza e amplitude das reformas de regu- indústria e a academia, permitindo aos estudantes com-
lação têm uma grande influência no desempenho das preender a relevância da tecnologia para a indústria.9
telecomunicações. Por exemplo, ao prosseguir si- Na China, as instituições de ensino superior também
multaneamente a privatização e a regulação, o Chile apoiam o esforço tecnológico das empresas. A Univer-
sidade de Tsinghua criou, em conjunto com a Sino Petro-
QUADRO 4.1
chemical Engineering Company, o Instituto de
Arranjos nas telecomunicações em vários países, por sector, 2000
Engenharia Química e Química Aplicada, que já con-
Número de países
Total
cedeu mais de 3,6 milhões de dólares para apoiar as
Sector Monopólio Duopólio Concorrência inquirido
actividades de investigação da universidade e já recrutou
Telefonia local 121 19 44 184
mais de 100 dos seus licenciados.10 O Programa State
Longa distância local 134 12 36 182
Longa distância internacional 129 16 38 183 Torch visa estimular as empresas a fortalecer as suas
Móvel digital 47 28 79 154
ligações com as organizações de investigação, de forma
Mercado de móvel por satélite 32 12 65 109
Mercado de fixo por satélite 61 14 59 134 a acelerar o processo de comercialização dos resultados
Serviço de Internet 13 3 81 97
da investigação. As universidades chinesas também têm
Fonte: Análise dos dados de 2000 da UIT pelo Centro para o Desenvolvimento Internacional da Universidade de Harvard, tal criado parques de ciência. O Parque Tecnológico de
como citado em Kirkman 2001. Xangai constitui uma incubadora para a aplicação rápi-

82 RELATORIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


da dos resultados do trabalho científico e tecnológico à Os governos utilizam um conjunto de opções de
indústria. política para estimular a I&D das empresas (caixa 4.3).
Nos anos 90, a China dedicou-se fundamentalmente Uma delas é a provisão de fundos combinados para
ao desenvolvimento da indústria de alta tecnologia, essas actividades. O governo da Malásia contribui para
através de uma série de programas governamentais de esses fundos com o equivalente a 125% dos recursos
apoio à I&D. Porém, hoje em dia, a China também está aplicados pelas empresas privadas.12 Outra medida
a utilizar a I&D para aumentar a produtividade de ac- consiste em co-financiar a I&D através de um fundo
tividades tradicionais como a agricultura. O Programa tecnológico. Neste caso, os fundos são afectados como
Spark difunde as tecnologias nas zonas rurais e ajudar os um empréstimo condicional, a ser reembolsado se os
agricultores a utilizá-las no desenvolvimento da agricul- projectos tiverem sucesso, mas sem efeito em caso
tura.11 contrário.

CAIXA 4.3
Estratégias para estimular a investigação e desenvolvimento na Ásia Oriental
Governos de países da Ásia Oriental têm utilizado tema das chaebol terem criado ineficiências e produtos industriais estratégicos. O sistema fiscal
uma série de incentivos para estimular a investigação estarem agora a ser reformulados, a Coreia é, estabelece a dedução total das despesas com I&D,
e desenvolvimento (I&D) pelo sector privado, ainda assim, um dos mais extraordinários exem- amortização acelerada do equipamento de investi-
apoiando-se numa combinação de financiamento plos de rápida transformação tecnológica. gação e incentivos especiais às empresas instaladas
público e benefícios fiscais para encorajar a I&D no Parque Científico de Hsinchu. O Governo exige,
no interior das empresas, bem como na colaboração Taiwan (Província da China) ainda, às grandes empresas que invistam entre 0,5%
entre agências governamentais, universidades e Tal como na Coreia, o principal estímulo ao de- e 1,5% das suas vendas em actividades de I&D e
sector privado. senvolvimento das actividades de I&D em Taiwan lançou consórcios de investigação de grande di-
(Província da China) veio da orientação para a ex- mensão, co-financiados pela indústria, para de-
Coreia do Sul portação, combinada com medidas para encaminhar senvolver produtos fundamentais, tais como
O Governo coreano apoiou directamente a I&D as empresas para actividades mais complexas e re- motores de automóvel de nova geração ou chips de
privada através de incentivos e de outras formas de duzir a sua dependência em relação à importação memória para computadores mais sofisticados.
apoio. Concedeu às empresas fundos livres de im- de tecnologia. Mas, o Governo taiwanês não pro-
postos para as actividades de I&D (embora es- moveu o crescimento de grandes conglomerados pri- Singapura
tivessem sujeitos a impostos punitivos se não fossem vados. Apesar da estrutura industrial "mais leve" de Em 1991, o Governo de Singapura lançou um
utilizados dentro de um período determinado). Taiwan (Província da China) ter resultado num plano tecnológico quinquenal, envolvendo 1,1 mil
Os fundos também podiam ser investidos no menor crescimento da I&D privada, em compara- milhões de dólares, para promover o desenvolvi-
primeiro fundo coreano de capital de risco, a Em- ção com a Coreia, foi também uma fonte de ener- mento de sectores como a biotecnologia, micro-
presa para o Desenvolvimento Tecnológico da gia – levando à emergência de capacidades de electrónica, tecnologia dos materiais e as ciências
Coreia, ou em esforços de I&D em parceria com inovação mais flexíveis, mais sensíveis aos mercados médicas. Para a despesa em I&D, o plano estabe-
institutos públicos de investigação. O Governo e mais amplamente disseminadas pela economia. leceu uma meta de 2% do PIB em 1995. Um novo
concedeu créditos fiscais, permitindo a rápida O Governo começou por apoiar as capaci- plano, lançado em 1997, duplicou a despesa em
amortização dos investimentos em instalações de dades locais em I&D no final da década de 1950, ciência e tecnologia, direccionando os fundos para
I&D, e redução de impostos e direitos alfandegárias quando a dependência crescente do comércio re- indústrias estratégicas, de forma a assegurar a com-
sobre os equipamentos de investigação. Também forçou a necessidade de desenvolver e diversificar petitividade futura.
utilizou outros incentivos fiscais para promover a as exportações. Em 1979, foi criado um programa Singapura utiliza diversos sistemas para pro-
importação de tecnologias. O Governo concedeu, de ciência e tecnologia para o desenvolvimento mover a I&D no sector privado. O Programa Coo-
ainda, subsídios e empréstimos bonificados de orientado para a energia, automação da produção, perativo de Investigação concede subsídios às
longo prazo às empresas participantes em projec- ciências da informação e ciências e tecnologias dos empresas locais (com participação local de pelo
tos de I&D e benefícios fiscais e fundos públicos materiais. Em 1982, foram acrescentados a esta lista menos 30% das acções) para desenvolverem a sua ca-
aos institutos de I&D, públicos e privados. a biotecnologia, a electróptica, o controlo da hepatite pacidade tecnológica, através da colaboração com
Porém, o principal estímulo à I&D industrial e a tecnologia dos alimentos. Para prosseguir o universidades e instituições de investigação. O Sis-
na Coreia veio menos dos incentivos específicos planeamento estratégico, foi lançado um plano de tema de Incentivos à Investigação nas Empresas
do que da estratégia global – criação de grandes desenvolvimento científico e tecnológico para concede subsídios para o estabelecimento de centros
conglomerados de empresas (chaebol), através 1986-95, cuja meta para a I&D era atingir um valor de excelência nas tecnologias estratégicas, abertos a
da concessão de financiamento, da protecção do correspondente a 2% do PIB em 1995. qualquer empresa. O Sistema de Assistência à I&D
mercado interno para lhes proporcionar espaço Cerca de metade da I&D é financiada pelo Es- concede subsídios para produtos específicos e in-
suficiente para dominarem as tecnologias mais tado. No entanto, a I&D das empresas cresceu, à vestigação de processos que promovam a competi-
complexas e, posteriormente, da sua orientação medida que algumas empresas locais se expandiam tividade das empresas. E a Comissão Nacional para
para os mercados de exportação através do levan- e se transformavam em grandes multinacionais. a Ciência e Tecnologia cria consórcios de investigação
tamento de barreiras de protecção. A estratégia O Governo utilizou, ao longo dos anos, uma varie- para permitir às empresas e institutos de investi-
coreana de promoção da tecnologia proporcionou dade de incentivos para estimular essa I&D, in- gação a reunião dos seus recursos de I&D. Em con-
às chaebol uma base sólida para a exigente pro- cluindo o provimento de capital de risco e de junto, estes sistemas permitiram o crescimento da
dução de massa. Apesar de muitos aspectos do sis- financiamento para as empresas que desenvolvessem parcela da I&D privada para 65% do total.
Fonte: Lall 2001.

ESTRATÉGIAS NACIONAIS PARA ESTIMULAR A CRIATIVIDADE HUMANA 83


ESTIMULAR O ESP Í RITO EMPREENDEDOR REPENSAR OS SISTEMAS EDUCATIVOS PARA
ENFRENTAR OS NOVOS DESAFIOS DA ERA DAS REDES

Para além de promoverem a I&D, as ligações fortes


entre a indústria e a academia também podem estim- Para dar vida a um ambiente de criatividade tecnoló-
ular o espírito empreendedor. O Centro para a Ino- gica, é necessário que as pessoas tenham qualificações
vação e Empreendimento, uma unidade autónoma técnicas e que os governos invistam no desenvolvi-
da Universidade de Limköping na Suécia, ligada à mento dessas qualificações. As transformações tecno-
Fundação para o Desenvolvimento das Pequenas Em- lógicas actuais aumentam o valor dessas qualificações
presas dessa cidade, tem aplicado o conhecimento e modificam a procura de diferentes tipos de qualifi-
técnico e recursos financeiros para estimular o cresci- cações. Isso obriga a repensar as políticas de educação
mento e desenvolvimento de empresas de base tec- e de formação. Em alguns países, os sistemas precisam
A qualidade e orientação nológica.13 ser totalmente reformulados. Noutros, basta uma reo-
O capital de risco também pode estimular o espírito rientação dos fundos públicos. Quanto deverá caber à
do ensino, em cada nível,
empreendedor, não sendo surpreendente que os Esta- educação pública? E à ciência? E ao ensino formal?
são decisivas para dos Unidos dominem neste campo. Contudo, outros E para o ensino profissional? Trata-se, com efeito, de
países onde a inovação se tornou importante, como Is- decisões difíceis.
o domínio da tecnologia
rael e a Índia, também têm mercados de capitais de risco
francamente desenvolvidos.14 ÊNFASE CRESCENTE NA QUALIDADE
Em 1986, existiam apenas dois fundos de capitais
de risco em Israel, que reuniam menos de 30 milhões Não basta aumentar a quantidade de recursos e as
de dólares de activos passíveis de serem investidos. taxas de escolarização. A qualidade e orientação do
Actualmente, cerca de 150 empresas de capital de risco ensino, em cada nível, e a sua relação com a procura
gerem quase 5 mil milhões de dólares de capitais de risco de qualificações são decisivos para o domínio da tecno-
e acções privadas. O mercado descolou no início dos logia.
anos 90, quando o Governo criou uma empresa de O ensino primário universal é essencial. Ela de-
capital de risco, a Yozma, com o objectivo de agir senvolve algumas das capacidades mais básicas para o
como catalisador da indústria emergente. Com um desenvolvimento humano. E cria uma base de literacia
orçamento de 100 milhões de dólares, a Yozma in- (textual e quantitativa) que habilita as pessoas a serem
vestiu em empresas locais e atraiu capitais estrangeiros mais inovadoras e produtivas. Embora a maior parte dos
da Europa e dos Estados Unidos. O fundo Yozma é um países no escalão baixo do desenvolvimento humano
modelo para a criação de capital de risco e indústria de apresentem taxas de escolarização primária líquida in-
alta tecnologia conduzida pelo Estado. feriores a 60%, muitos outros países em desenvolvi-
Na Índia, os investimentos anuais em capital de risco mento quase alcançaram a escolarização primária
alcançaram os 350 milhões de dólares em 1999, com a universal (ver quadro de indicadores 10).
maior parte concentrada nos pólos tecnológicos do Sul Os ensinos secundário e superior também são de-
e Oeste do país. O governo desenvolveu linhas de orien- cisivos para o desenvolvimento tecnológico. O ensino
tação política para fomentar o capital de risco e a As- universitário produz indivíduos altamente qualificados
sociação Nacional das Empresas de Software e Serviços que colhem benefícios através de salários mais elevados.
estima que, até 2008, poderão estar disponíveis cerca de Mas também é decisivo para a criação da capacidade na-
10 mil milhões de dólares em capital de risco. cional de inovação, para a adaptação da tecnologia às
Tanto na Índia como em Israel, o governo desem- necessidades do país e para a gestão dos riscos da mu-
penhou um papel importante na criação de uma in- dança tecnológica – benefícios que atingem toda a so-
dústria de capital de risco e no estímulo à inovação, mas ciedade. Em 1995, as taxas brutas de escolarização nos
a existência de um sector financeiro desenvolvido foi uma países em desenvolvimento eram, em média, de 54% no
pré-condição para atrair o capital de risco. Entre outros ensino secundário e de 9% no ensino superior, em con-
elementos que também foram essenciais, contam-se as traste com os valores de 107% e 64%, respectivamente,
fortes ligações a empresários e investidores de capital nos países da OCDE de rendimento elevado.15
de risco nos Estados Unidos e sistemas educativos que Não basta aumentar a quantidade do ensino,
produzem números consideráveis de pessoas altamente pois é a baixa qualidade das escolas secundárias que
qualificadas, gerando uma massa crítica para as activi- conduz a baixas taxas de conclusão em muitos países
dades inovadoras. – e, consequentemente, a baixas taxas de escolariza-

84 RELATORIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


ção no ensino superior. Coreia e Singapura basearam proporcionar, a todos os estudantes, seis meses de ex-
os seus níveis elevados de escolarização universitária periência de trabalho.18
em taxas elevadas de conclusão do ensino secundário,
em escolas de qualidade. Nos testes de matemática UTILIZAR TECNOLOGIA PARA MELHORAR
para comparação internacional, são os estudantes de A QUALIDADE
Singapura, Coreia, Japão e Hong Kong (China, RAE)
que apresentam os melhores resultados. A África do Com o rápido desenvolvimento das tecnologias de in-
Sul e a Colômbia, em contrapartida, obtiveram re- formação e comunicações, tornou-se decisivo o ensino
sultados bastante abaixo da média internacional.16 de qualificações básicas de informática às crianças.
Algumas das diferenças entre países reflectem dife- A principal preocupação para os países em desen-
renças de rendimento, mas isso não explica tudo. volvimento é a falta de recursos – tanto físicos como hu-
A Coreia posiciona-se, nestes testes, acima de países manos – para assegurar equipamento adequado e ensino
com o dobro do seu PIB per capita, tal como a eficiente dessas qualificações nas escolas. O custo de um
Noruega. computador é superior ao rendimento anual da maio-
As comparações internacionais, apesar de todos ria das pessoas nos países em desenvolvimento – e os
os seus problemas, têm duas vantagens importantes. professores precisam de receber formação para utilizar
Em primeiro lugar, deslocam o debate da avaliação novos materiais de ensino.
dos meios, como os orçamentos da educação, para No entanto, as tecnologias de informação e comu-
a avaliação dos resultados. Em segundo lugar, nicações também trazem novas possibilidades de me-
obrigam os decisores políticos a procurar formas lhorar a qualidade do ensino a baixo custo. Nos países
mais sofisticadas de medir a qualidade das qualifi- em desenvolvimento, tem-se observado uma proliferação
cações. Por exemplo, diversos países estabeleceram
padrões locais e nacionais para avaliação dos resul-
CAIXA 4.4
tados. Podem não ser internacionalmente com-
Um impulso à qualidade do ensino no Chile – avaliação dos resultados
paráveis, mas estabelecem níveis de referência e criação de incentivos
importantes. As avaliações com base nestes padrões
O Chile está a fazer um esforço concertado para escolas a nível nacional e identificar as escolas
tornam claro que, ao nível do ensino primário e se- melhorar a qualidade do ensino. As principais que requerem especial atenção.
cundário, os países em desenvolvimento precisam au- medidas representam uma mudança nas suas • As escolas utilizam os bons resultados para
mentar o tempo de ensino de ciências e matemática, políticas de educação, passando da ênfase nos se publicitarem e atraírem mais estudantes.
meios para a preocupação com os resultados: • Os pais utilizam os resultados para os ajudar
decisivo para a melhoria do desempenho dos alunos
• Avaliação nacional. Um sistema com- a escolher a melhor escola para os seus filhos.
nestas matérias.17 preensivo e padronizado de testes – Sistema de Os resultados do SIMCE são, também,
O Chile está a dar passos importantes para melhorar Medición de la Calidad de la Educación usados para avaliar o ritmo de progresso das
a qualidade do ensino, avaliando a qualidade dos re- (SIMCE) – avalia, de dois em dois anos, as crianças que frequentam escolas pertencentes
qualificações em Espanhol e matemática dos es- ao Programa P900. As escolas cuja melhoria de
sultados e provendo recursos e incentivos (caixa 4.4). tudantes dos 4º e 8º anos e monitoriza os pro- resultados é suficiente para serem "gradua-
E a Ásia Oriental demonstrou que a orientação tecno- gressos das escolas na melhoria desses resultados. das", passam a estar integradas no programa
lógica e o conteúdo do ensino são tão importantes como • Discriminação positiva. Um programa principal de reforma do ensino primário e são
público, conhecido como o Programa P900, substituídas por outras no Programa P900.
o aumento dos recursos (caixa 4.5).
orienta o apoio – desde novos manuais e ma- O SNED estabeleceu a concorrência entre
Nas economias avançadas, a reforma do ensino teriais escolares, até apoio especializado aos escolas cuja população estudantil e nível
colocou uma nova ênfase no auxílio à adaptação das pes- professores – às 900 escolas primárias mais sócio-económico são relativamente semelhan-
soas às novas procuras de qualificações que acompanham pobres. tes. Cerca de 31.000 professores receberam
• Recompensas. Um sistema nacional de prémios em cada uma das duas primeiras fases
as mudanças nos padrões de emprego. Os estudantes avaliação do desempenho das escolas finan- de atribuição dos prémios SNED.
são encorajados a manter em aberto as suas opções de ciadas pelo Estado – Sistema Nacional de Eva- Muitos pais, professores e directores es-
formação e carreira. Na Dinamarca, os cursos gerais in- luación del Desempeño de los Establecimientos colares crêem que este sistema de padrões ex-
Educacionales Subvencionados (SNED) – con- teriores e de avaliação constitui uma boa forma
seridos em programas profissionais abriram novos cam-
cede prémios a todos os professores de uma es- de medição do desempenho das escolas. Ou-
inhos de acesso ao ensino superior. No Reino Unido, cola, com base nos resultados dos estudantes. tros consideram que o SIMCE é injusto, par-
os sistemas de avaliação permitem que os estudantes es- Os resultados da avaliação do SIMCE são ticularmente para com as escolas e estudantes
colham matérias tanto dos programas gerais como dos disponibilizados e publicados nos principais de bairros pobres. Apesar da controvérsia, o
jornais, servindo vários propósitos: Chile está a dar passos claros em direcção a um
profissionais. Na Finlândia, o governo elevou o estatuto • Os decisores políticos utilizam os resulta- sistema de ensino mais orientado para a qua-
do ensino profissional e aumentou os recursos públicos dos para comparar o desempenho das várias lidade.
destinados à formação em exercício. Desde 1999, todos Fonte: Carlson 2000; King e Buchert 1999; OECD 2000c; Chile Ministry of Education 2001.
os cursos profissionais de três anos são obrigados a

ESTRATÉGIAS NACIONAIS PARA ESTIMULAR A CRIATIVIDADE HUMANA 85


de tentativas para disseminar as novas tecnologias pelos das pela utilização de computadores, pela formação
estabelecimentos de ensino, de forma não dispendiosa. dos professores e pelo entusiasmo resultante da
• A Costa Rica lançou, em 1998, um programa de- auto-aprendizagem, consolidação de conhecimentos
nominado "computadores no ensino", com o objec- e resolução de problemas por parte das crianças. Este
tivo de melhorar a qualidade do ensino nas escolas programa foi concebido para abranger um terço das
primárias. Este programa utiliza uma abordagem crianças que frequentam o ensino primário, propor-
pedagógica imaginativa para encorajar a interacção cionando cerca de 80 minutos de acesso a computa-
entre crianças e desenvolver as qualificações cogniti- dores em cada semana. Os inquéritos aos professores
vas. O objectivo é ajudar a transformar a educação, confirmam que se tem registado uma melhoria no de-
através de mudanças na aprendizagem e ensino trazi- sempenho dos alunos.19

CAIXA 4.5
A orientação e o conteúdo são tão importantes como os recursos – lições das estratégias de educação na Ásia Oriental
Ao longo das quatro últimas décadas, os "tigres" da qualificados e instruídos – e o ensino superior cresceu tratégia que combina professores altamente quali-
Ásia Oriental – Hong Kong (China, RAE), Coreia do rapidamente, sobretudo depois de 1980. Na Coreia, ficados e bem remunerados com mais estudantes.
Sul, Singapura e Taiwan (Província da China) – al- a taxa de escolarização superior elevou-se de 16% em Na Coreia, em 1975, os rácios aluno-professor ex-
cançaram um rápido desenvolvimento das qualifi- 1980 para 39% em 1990 e 68% em 1996. cediam 55 no ensino primário e 35 no ensino se-
cações humanas, preparando as suas populações para cundário, comparado com as médias de 36 e 22,
um rápido progresso na adaptação de novas tecno- Financiamento privado do ensino pós-básico respectivamente, dos países em desenvolvimento.
logias. Os seus sucessos sugerem algumas estratégias A Ásia Oriental adoptou uma abordagem original do Mas, a Coreia também paga aos seus professores do
que os países menos desenvolvidos poderiam ter em financiamento da educação, apoiando-se em fontes início e do meio de carreira salários mais elevados,
conta e adaptar às suas próprias circunstâncias. privadas para uma fatia relativamente grande da em relação ao PNB per capita, do que os de qual-
Uma lição fundamental: a orientação e o con- despesa, em particular no último ciclo do secundário quer outro país da OCDE.
teúdo da educação são tão importantes como a e no superior. E alguns países dependeram larga-
afectação de recursos. Estes países não só investi- mente do sector privado para prover o ensino su- Aprendizagem ao longo da vida
ram no ensino básico mas, também, apostaram em perior. Na Coreia, em 1993, as instituições privadas A formação contínua foi considerada como decisiva
currículos orientados para a tecnologia nos níveis foram responsáveis por 61% das inscrições no 2º ciclo para o desenvolvimento das qualificações humanas,
mais elevados de ensino. Estes investimentos nas do secundário e 81% no ensino superior. num contexto de rápida mudança tecnológica. À me-
qualificações eram parte de uma estratégia de de- O papel predominante do sector privado na dida que os países da Ásia Oriental se tornavam mais
senvolvimento conduzido pelas exportações, que oferta de ensino levanta questões importantes sobre sofisticados, os governos e as empresas foram con-
forneceu os sinais da procura em relação às quali- a equidade no acesso. Os países têm adoptado frontados com pressões no sentido da provisão de
ficações necessárias para melhorar a competitividade. diferentes abordagens para enfrentar esta questão. sistemas de ensino e formação eficazes. Na Coreia,
A despesa pública de educação era muito A Coreia orienta os recursos públicos para o ensino em 1967, na sequência da entrada em vigor da Lei
baixa na Ásia Oriental, à volta de 2,5% do PIB em básico e é mais selectiva em relação à combinação de Formação Profissional, o Governo criou institutos
1960, na maior parte dos países. Em 1997, a média de recursos públicos e privados para os níveis su- públicos de formação profissional bem equipados
regional era ainda de apenas 2,9%, bem menos do periores. Singapura mantém um envolvimento rela- e programas subsidiados de formação nas empre-
que a média de 3,9% no total dos países em de- tivamente forte do Estado na administração e sas. Nos anos de 1970, quando o Governo procu-
senvolvimento e a média de 5,1% na África Sub- financiamento da educação, em todos os níveis. rava desenvolver as indústrias pesadas e químicas,
sariana. No entanto, à medida que os países da Os dados disponíveis mostram que as institui- promoveu escolas secundárias profissionais e esco-
região cresciam rapidamente, também crescia o ções financiadas pelo sector privado têm custos las técnicas pré-universitários para satisfazer a
nível absoluto de despesas com a educação. E a des- unitários de funcionamento mais baixos. Nem procura crescente de técnicos. O Governo também
pesa de educação também se expandiu enquanto todos os países em desenvolvimento podem criou instituições públicas de ensino e investigação
proporção do rendimento nacional, em parte através apoiar-se no financiamento privado, mas a combi- para oferecer cientistas e engenheiros de qualidade
do crescimento da despesa privada. nação dos financiamentos público e privado nos elevada, como o Instituto Coreano de Ciência e
níveis mais elevados de ensino com o financia- Tecnologia, em 1967, e o Instituto Avançado de
Evolução das prioridades nas estratégias mento público no ensino primário e 1º ciclo do se- Ciência e Tecnologia da Coreia, em 1971.
de educação cundário constitui uma opção – desde que a O Governo de Singapura tomou iniciativas
A Ásia Oriental deu prioridade ao ensino básico possibilidade de acesso ao ensino superior esteja as- semelhantes, lançando uma série de programas de
logo na fase inicial do seu desenvolvimento, al- segurada aos jovens pobres. Neste caso, os dona- formação – Ensino Básico para a Formação de Quali-
cançando a escolaridade básica universal no final dos tivos, empréstimos e subsídios podem ter um papel ficações, em 1983, Formação Modular de Qualifi-
anos de 1970. Este facto facilitou a sua concentração muito útil. cações, em 1987, e Qualificações Nucleares para a
na melhoria da qualidade e no aumento dos recur- Eficiência e a Mudança, em 1987. Nos anos de 1990,
sos para o 2º ciclo do secundário e para o ensino su- Rácios aluno-professor elevados mas salários o Governo também orientou o desenvolvimento da
perior. No ensino superior, as taxas de escolarização atractivos para os professores indústria de tecnologias de informação e comuni-
permaneceram abaixo dos 10% até 1975, contras- As classes de pequena dimensão e a elevada quali- cações, apoiando os estudos nesta área realizados
tando desfavoravelmente com os valores da América dade dos professores são considerados como factores pelas instituições superiores e construindo institutos
Latina. Mas, à medida que os países se desenvolviam, que melhoram a realização dos alunos. No entanto, de formação especializada, bem como institutos em
aumentava a necessidade de trabalhadores mais os governos da Ásia Oriental optaram por uma es- joint-venture com empresas privadas.

Fonte: World Bank 1993; Lee 2001; Lall 2001.

86 RELATORIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


• No Brasil, um programa escolar comunitário tem uma conta para navegação na Web e não mais de duas
vindo a permitir a utilização de computadores por parte para a criação de sítios próprios, estando o acesso total
dos jovens das comunidades pobres. O Comité para a limitado a 40 horas mensais. Foi, também, criado um con-
Democracia Informática (CDI), uma organização não junto de páginas na Web, com o objectivo de sensibilizar
lucrativa, tem vindo a ajudar as comunidades a criar es- as escolas para a existência da rede e de disponibilizar con-
colas auto-suficientes de "informática e cidadania". As co- teúdos de origem tailandesa na Internet.22
munidades interessadas em criar uma escola têm de passar • A Rede Escolar Sul-Africana (SchoolNetSA) é um
por um processo rigoroso que visa assegurar que, uma vez exemplo interessante pela sua estrutura e parcerias.
terminado o apoio do CDI, a escola é viável. O CDI Esta rede, que abrange várias províncias, proporciona
oferece assistência técnica gratuita durante três a seis serviços da Internet às escolas locais: ligações, admi-
meses, forma os monitores, colabora com a escola na nistração de domínios, correio electrónico e apoio té-
obtenção dos donativos iniciais de hardware e, então, ajuda cnico. A SchoolNetSA desenvolveu, ainda, um conjunto Muitas universidades
a escola a instalar os computadores. Depois da escola ter de conteúdos educativos em-linha, tendo muitas esco-
dos países
sido seleccionada, o CDI actua como parceiro e consul- las criado as suas próprias páginas Web.23
tor, mas não gere o programa. O CDI tem adaptado os Certas tecnologias, como o CD-ROM, rádio ou em desenvolvimento
seus métodos para atingir comunidades tão díspares televisão por cabo – ou combinações de várias delas –
estão a experimentar
como as crianças de rua e os grupos indígenas. Em re- podem ser utilizadas em conjunto com a Internet de
sultado do seu trabalho em parceria com as associações forma a expandir o se alcance. A Rádio Comunitária ou a executar sistemas
comunitárias, mais de 35.000 crianças e jovens, em 208 Kothmale, no Sri Lanka, utiliza a rádio como um porta
de educação baseados
escolas de 30 cidades, receberam já formação básica na de entrada na Internet para os seus ouvintes de comu-
utilização de computadores. A maioria das escolas cobra nidades rurais remotas. As crianças, ou os seus profes- na Web
aos estudantes uma propina mensal simbólica de 4 dólares, sores, enviam pedidos de informação sobre assuntos
equivalente ao custo de cinco viagens de ida e volta de escolares para os quais não existe informação local; os
metro no Rio de Janeiro, para garantir o seu empenho.20 restantes ouvintes podem também apresentar pedidos.
Uma interessante abordagem à melhoria do acesso De seguida, os responsáveis da estação procuram essa
e utilização da Internet apoia-se nas iniciativas de cria- informação na Internet, procedem ao carregamento do
ção de redes entre as várias escolas, ou "redes de escola". ficheiro e disponibilizam-no através da concepção de
Alguns países em desenvolvimento, entre os quais o uma emissão de rádio em torno do tema, do envio por
Chile, Tailândia e África do Sul, estabeleceram o acesso correio para a escola, ou colocando-o no centro de re-
generalizado das escolas à Internet através da criação de cursos de livre acesso da estação de rádio. Este centro
redes nacionais. de recursos proporciona acesso livre à Internet e a uma
• No Chile, o projecto Enlaces permitiu a criação de biblioteca com bases de dados para computador,
uma rede que liga cerca de 5.000 escolas primárias e se- CD-ROM, literatura retirada da Internet e materiais de
cundárias. As escolas recebem equipamento, formação, impressão. Este acesso mediado coloca os recursos da
software de apoio ao ensino e apoio permanente por Internet à disposição das comunidades rurais e das des-
parte duma rede de assistência técnica constituída por favorecidas. A retransmissão para a comunidade pode
35 universidades chilenas, coordenadas pelo Ministério difundir a informação em línguas locais, em vez do in-
da Educação. O objectivo é ligar em rede a totalidade glês, que é a língua dominante da Internet.24
das escolas secundárias e metade dos estabelecimentos A cooperação regional e mundial pode reduzir os
de ensino básico. A rede Enlaces dá acesso ao correio custos de acesso à Internet. Com efeito, o desen-
electrónico e a materiais de ensino através da rede de volvimento das tecnologias de informação e comuni-
telefones públicos, tirando partido do reduzido custo cação proporciona os instrumentos necessários à
das chamadas nocturnas. Finalmente, La Plaza, um aprendizagem através de uma rede global. E as tecno-
software interface padronizado, desenvolvido local- logias sem fios permitem o acesso às redes por parte
mente, fornece um "ponto de encontro" virtual para pro- dos países em desenvolvimento, cujas infra-estruturas
fessores e alunos.21 de telecomunicações são escassas. Espera-se que o
• A Tailândia foi o primeiro país do Sudeste Asiático lançamento de um sistema de satélite pan-africano, no
a desenvolver uma rede nacional gratuita destinada ao en- final de 2001, permita melhorar a qualidade e reduzir
sino: a SchoolNet@1509. Com apenas 120 linhas de tele- o preço do serviço de redes para os países africanos.
fone automático, a rede viu-se obrigada a criar um sistema Os sistemas de ensino à distância através de satélite
de optimização da utilização das linhas: a cada escola coube podem proporcionar às nações pobres o acesso ao

ESTRATÉGIAS NACIONAIS PARA ESTIMULAR A CRIATIVIDADE HUMANA 87


ensino e formação de qualidade superior dos países de- jectos, a maior parte com base na Internet. Actual-
senvolvidos. Iniciativas deste género podem constituir mente, estão a ser analisadas mais 132 propostas de 16
soluções eficientes em custo para reduzir a "desi- países.27
gualdade digital" entre os países.
Muitas universidades dos países em desenvolvi- FORMAÇÃO EM EXERC Í CIO COMO FORMA
mento estão a experimentar ou a executar sistemas de DE APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA
educação baseados na Web.
• A Universidade do Botswana avaliou dois métodos O ensino formal é apenas uma parte do sistema de cria-
de ensino à distância: um curso baseado na Internet, gra- ção de qualificações. A formação profissional e a for-
tuito, com a duração de três meses e um curso baseado mação em exercício são igualmente importantes.
em vídeo com a duração de uma semana. O curso Quando a tecnologia está em mudança, as empresas têm
Quando a tecnologia através da Internet provocou uma melhoria de cerca de de investir na formação dos trabalhadores para per-
49% nos resultados dos testes, tendo o mesmo sucedido manecerem competitivas. É mais provável que o façam
está em mudança,
com o curso através de vídeo, sugerindo aos avaliadores quando os seus trabalhadores têm melhor instrução de
as empresas que ambas as tecnologias têm potencial para o ensino início, pois isso reduz o custo da aquisição de novas quali-
à distância.25 ficações.
têm de investir
• A Universidade Nacional Indira Gandhi, fun- Diversos estudos – na Colômbia, Indonésia, Malásia
na formação dada em 1985, tem desenvolvido as suas capacidades e México – têm mostrado o enorme impacte da formação
na área das comunicações para facultar ensino e for- em exercício sobre a produtividade da empresa. Essa
dos trabalhadores
mação ao longo da vida, particularmente aos habi- formação pode constituir uma forma eficaz e económica
para permanecerem tantes de zonas rurais e remotas. O seu sofisticado de desenvolver as qualificações da força de trabalho, par-
centro de meios de comunicação está dotado com um ticularmente quando os empregadores estão bem in-
competitivas
sistema de comunicações por satélite e todos os seus formados sobre as qualificações necessárias. Alguns
centros de ensino estão equipados com computa- empregadores também podem dispor de competên-
dores e acesso ao correio electrónico. O seu sítio na cias e recursos para facultar formação, tanto nas quali-
Internet, fornece informação geral e materiais de ficações tradicionais, como nas emergentes. Os custos
apoio para todos os programas. A Internet serve um de formação nas empresas tendem a ser baixos quando
número crescente de estudantes, apesar de ser ape- comparados com os da formação formal, apesar dos em-
nas uma pequena parte de um sistema que utiliza pregadores perderem parte dos benefícios se os em-
uma vasta gama de tecnologias de comunicação, in- pregados saírem. Diversos estudos sugerem que a
cluindo rádio, televisão, televisão por cabo e tele- formação feita na empresa gera retornos privados mais
conferência.26 elevados do que outros tipos de formação pós-escolar,
Outras comunidades desenvolveram o conceito de tanto nos países em desenvolvimento como nos indus-
"universidade virtual", usando a Internet como "ponto trializados.28
de encontro" de estudantes, professores e investigadores. A formação dentro da própria empresa é também
A Universidade Virtual Francófona, que trabalha com um complemento essencial para os novos investi-
universidades de países em desenvolvimento, apoia o en- mentos em tecnologia, instalações e equipamento.
sino à distância através de aconselhamento, assistência Um grande número de estudos efectuados em países
e materiais educativos. Em 1998, um primeiro anúncio industrializados sugere que a escassez de qualifi-
para propostas resultou no financiamento de 26 pro- cações adequadas é uma forte restrição à adopção de
novas tecnologias, enquanto uma força de trabalho
QUADRO 4.2 adequadamente formada permite acelerar a sua
Empresas que facultam formação em
países em desenvolvimento seleccionados adopção.29
Percentagem Apesar dos ganhos evidentes de produtividade re-
Formação Formação
sultantes da formação, nem todos os empregadores
País, ano informal formal estão dispostos a facultá-la. A formação envolve custos
Colômbia, 1992 76 50
– em materiais, tempo e sacrifício da produção. Na
Indonésia, 1992 19 19 Colômbia, Indonésia, Malásia e México, uma parte
Malásia, 1994 83 35
México, 1994 11 11
considerável das empresas não oferece formação aos tra-
balhadores (quadro 4.2). Entre as pequenas e médias em-
Fonte: Tan e Batra 1995, citado em Lall 2001. presas, mais de metade não oferece formação estruturada

88 RELATORIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


ou formal e mais de um terço não faculta formação in- reccionado de novas qualificações que, provavelmente,
formal. Gestão fraca, custos da formação elevados, serão decisivas para a competitividade futura, em áreas
incapacidade de explorar economias de escala na for- como o processamento alimentar, indústrias com proces-
mação, escassez de informação sobre as vantagens da sos capital-intensivos e engenharia eléctrica e elec-
formação, imperfeições do mercado e ausência de trónica. Estes estudos poderão ser levados a cabo
pressões da concorrência – são razões que explicam a conjuntamente pelas associações empresariais, institui-
insuficiente oferta de formação pelas empresas. ções académicas e pelo governo.
• Direccionar informação especial e programas de in-
ESCOLHA DE POL Í TICAS PARA MELHORAR centivos para as pequenas e médias empresas, para en-
A QUALIDADE DA FORMAÇÃO corajá-las a investir na formação. Os governos poderão
apostar em sistemas tutoriais, nos quais os profissionais
O desenvolvimento das qualificações requer intervenção mais experientes ensinam os métodos tradicionais aos O desenvolvimento
política – de várias formas. Os governos podem criar cen- jovens, aperfeiçoando estes sistemas através da criação
das qualificações requer
tros de formação com envolvimento do sector privado. de centros de formação e de subsídios à formação por
Podem, também, utilizar incentivos fiscais ou dona- parte das pequenas e médias empresas. intervenção política,
tivos combinados para encorajar as associações em- • Proporcionar aos diplomados recentes do ensino
de várias formas
presariais a criar e administrar esses centros. Na Ásia secundário formação parcialmente financiada em cen-
Oriental, as associações empresariais oferecem muitos tros privados acreditados, quer encorajando a aquisição
e valiosos serviços técnicos e de formação. Digno de con- de qualificações, quer ajudando a criar um mercado pri-
sideração é, também, a criação de benefícios fiscais sig- vado de formação.
nificativos para as empresas mais pequenas investirem • Apesar da maior parte destes exemplos dizerem res-
na formação (Malásia e Tailândia permitem deduções peito à formação nos sectores urbano, industrial e de
de 200% nos impostos).30 E os governos podem, ainda, serviços, lições semelhantes são aplicáveis à agricul-
patrocinar unidades de coordenação para apoiar a in-
teracção, com representação maioritária do sector pri-
CAIXA 4.6
vado para assegurar que as necessidades da indústria são
Criação de incentivos à formação de alta qualidade em Singapura
consideradas na concepção dos currículos de formação.
O Governo de Singapura investiu fortemente sos de formação adaptados às suas necessi-
Uma estratégia compreensiva para a criação de no desenvolvimento de qualificações de alto dades. E o Conselho do Desenvolvimento
qualificações deve enfrentar o conjunto dos fracassos do nível. Expandiu o sistema universitário do país Económico avalia, continuamente, as necessi-
mercado, através de uma combinação de políticas ins- e orientou-o para as necessidades da sua dades de qualificações emergentes, através de
política industrial, mudando a especialização consultas às empresas líderes, e organiza cur-
titucionais e outras. Exemplos desses fracassos incluem
das ciências sociais para a ciência e tecnologia. sos especializados. O investimento nacional
a falta de informação sobre as necessidades das empresas Neste processo, o Governo exerceu um con- na formação atingiu, em 1995, 3,6% do total
na indústria e sobre os interesses dos estudantes, in- trolo apertado sobre o conteúdo e a qualidade anual de salários e o Governo pretende uma
centivos inadequados para os formadores, baixas quali- dos currículos, assegurando a sua relevância subida para 4%. Estes valores não se com-
para as actividades industriais que estavam a param com a média de 1,8% no Reino Unido.
ficações de instrução entre os empregadores e gestores, ser promovidas. O Governo realizou, tam- O impacte inicial do programa foi sentido
baixa capacidade de absorção entre os trabalhadores bém, um esforço considerável para desen- sobretudo pelas grandes empresas. Mas, os es-
pouco instruídos e incapacidade para construir pro- volver o sistema de formação para a indústria, forços para aumentar o nível de conhecimento das
hoje considerado um dos melhores do mundo pequenas empresas sobre os cursos de formação
gramas de formação eficientes, de acordo com as quali-
para a produção de alta tecnologia. e para apoiar as associações empresariais au-
ficações em transformação e as necessidades O Fundo para o Desenvolvimento das mentou o impacte sobre as empresas de menor
tecnológicas. Veja-se o exemplo de Singapura, em que Qualificações, criado em 1979, cobra aos em- dimensão. Para expandir os benefícios, foi in-
o financiamento público e incentivos para o desen- pregadores uma taxa de 1% sobre os salários troduzido um sistema de consultoria para o de-
pagos, para subsidiar a formação dos traba- senvolvimento, para prover as pequenas e médias
volvimento de qualificações ao longo da vida procuram lhadores de baixos salários. Os quatro institutos empresas com subsídios para consultorias de
ultrapassar as deficiências do mercado (caixa 4.6). politécnicos de Singapura, que procuram res- curto prazo em gestão, know-how técnico, de-
Quais são algumas das políticas fundamentais que ponder à necessidade de qualificações técnicas senvolvimento de negócios e formação de pessoal.
e de gestão de nível intermédio, colaboram Como resultado de todos estes esforços,
os países em desenvolvimento devem considerar para
estreitamente com as empresas na concepção a força de trabalho deslocou-se significativa-
elevar as qualificações? de novos cursos e na oferta de formação mente para ocupações altamente qualificadas,
• Fazer um balanço compreensivo das provisões e ne- prática. Além disso, com o apoio do Governo, com a parcela dos trabalhadores especializados
cessidades de qualificação, de forma regular e não es- no âmbito do Programa de Formação Baseada e técnicos aumentado de 15,7% em 1990, para
na Indústria, os empregadores orientam cur- 23,1% em 1995.
porádica. Padrões internacionais de referência poderão
Fonte: Lall 2001.
ser utilizados para avaliar as necessidades de qualifi-
cações. Aliás, poder-se-á justificar o desenvolvimento di-

ESTRATÉGIAS NACIONAIS PARA ESTIMULAR A CRIATIVIDADE HUMANA 89


tura, onde os trabalhadores dos serviços de extensão, áreas técnicas. Tanto a China como a Índia têm mais de
os investigadores e outros envolvidos no aperfeiçoa- um milhão de estudantes inscritos em áreas técnicas.
mento tecnológico também precisam de formação. Estes níveis elevados de escolarização geram uma massa
crítica de pessoal qualificado. Contudo, existem fortes
FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO – disparidades entre os países. Enquanto na Coreia do Sul,
ESCOLHAS DIF Í CEIS em 1997, a taxa de escolarização superior bruta em
ciências e áreas técnicas era de 23,2%, esta mesma taxa
Os investimentos públicos na aprendizagem produzem correspondia, em 1996, a apenas 1,6% no Botswana e
retornos elevados para o conjunto da sociedade. Mas, para a apenas 0,2% no Burkina Faso (ver quadro anexo A2.1
que áreas deverá, cada país, dirigir os seus investimen- do capítulo 2).
tos? Será que as transformações tecnológicas actuais tor- O ensino superior é caro – demasiado caro para
O financiamento nam os retornos da formação secundária e superior tão muitos países pobres. Isto leva a algumas questões de
elevados como os da formação primária? Se assim for, política muito difíceis. Que qualificações devem os
da educação requer
como deverá ser distribuída a despesa entre os sistemas países adquirir quando enviam estudantes para o es-
uma combinação primário, secundário e superior? E existem formas de au- trangeiro? Que áreas exigem recursos públicos e que
mentar os fluxos de recursos para a educação, para além áreas podem ser financiadas pelo sector privado?
de responsabilidades
da simples expansão da despesa pública? A lógica do financiamento público do ensino se-
públicas e privadas Os benefícios sociais da instrução primária – tais cundário é incontestável e o ensino pós-secundário
como fertilidade mais baixa e melhor saúde para mães também não pode ser ignorado pelos governos. Mas o
e filhos – tornaram a universalidade do ensino primário financiamento público deve ser dirigido para as ciên-
um objectivo em todo o mundo. Mas, os países em de- cias, saúde pública, agricultura e outros campos em
senvolvimento não podem ignorar o ensino secundário que a inovação e adaptação tecnológica geram fortes
e pós-secundário, apesar dos benefícios sociais dos in- externalidades positivas para o conjunto da sociedade.
vestimentos a esses níveis não estarem tão bem docu- Para alguns países em desenvolvimento, a inserção em
mentados. É difícil encontrar o equilíbrio adequado. redes regionais e mundiais de universidades fará sentido
Quais são os indicadores que os países podem usar durante algumas décadas. Porém, a longo prazo, a
para os ajudar a escolher a melhor política? maior parte terá necessidade de criar as suas próprias
A proporção do rendimento nacional gasto com a universidades e centros de investigação.
educação em relação, por exemplo, à defesa e à saúde Actualmente, grande parte dos países em desen-
é apenas um começo. Este indicador deverá ser com- volvimento consagra já uma parcela substancial dos re-
pletado com outros, tais como o rácio entre os salários cursos públicos à educação (ver quadro 4.3). Porém, em
dos professores e os rendimentos médios. Os salários todo o mundo, vários países consideram que têm ne-
dos professores diferem significativamente de país para cessidade de financiar o desenvolvimento das qualifi-
país. No Uruguai, por exemplo, o salário oficial de um cações através de uma combinação de recursos públicos,
professor experiente da primeira fase do ensino se- financiamentos privados e contribuições individuais
cundário público é apenas 80% (7.458 dólares PPC) do directas. Eis algumas escolhas de política:
rendimento médio. Na Jordânia, um professor com a • Manter a responsabilidade pública de financia-
mesma experiência pode ganhar quase 3,5 vezes o rendi- mento do ensino básico, ficando a educação primária
mento médio nacional (11.594 dólares PPC) . Oferecer obrigatória a cargo do Estado. De um total de 196
salários iniciais que rondam o rendimento médio, ou países, 172 já aprovaram leis que tornam obrigatória a
mesmo inferiores, torna difícil atrair professores quali- instrução primária.33 Estas leis nem sempre foram ple-
ficados suficientes. namente executadas.
Um indicador importante para o ensino superior • Reavaliar até que ponto os indivíduos devem pagar
é a taxa de escolarização nas áreas técnicas, como as ciên- por certos cursos do ensino superior. No caso dos cur-
cias, engenharia, matemática e computação. Alguns sos que geram elevados retornos privados, talvez faça sen-
países em desenvolvimento tiveram um sucesso notável tido a recuperação dos custos. Por exemplo, os cursos
no aumento dessas escolarizações. Por exemplo, em de Gestão e Direito podem ser avaliados de forma a re-
1995, dos 3 milhões de estudantes inscritos em univer- flectir o valor de mercado destes diplomas.
sidades dos quatro "tigres" da Ásia Oriental – Hong • Estimular a oferta privada de certos serviços de
Kong (China, RAE), Coreia do Sul, Singapura e Taiwan educação, especialmente ao nível pós-secundário. A di-
(Província da China) – mais de 1 milhão estavam nas mensão da despesa privada de educação varia bastante

90 RELATORIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


de país para país. Na Coreia, por exemplo, a despesa pri- Esta "drenagem de cérebros" torna mais difícil aos
vada equivale a 2,5% do PIB.34 países em desenvolvimento a retenção dos indivíduos
• Apostar mais no financiamento privado da for- mais decisivos para o desenvolvimento tecnológico,
mação profissional e da formação em exercício, através pessoas cujos salários são, cada vez mais, estabelecidos
de empresas privadas ou de associações empresariais. pelo mercado mundial. De que forma pode uma diás-
Utilizar subsídios e benefícios fiscais à formação para pora contribuir para o seu país natal? Que podem fazer
encorajar os indivíduos e as empresas a investir nas os países "fornecedores" para obter alguma "compen-
qualificações. sação" pela formação de qualificações que têm um mer-
As políticas públicas nos países em desenvolvi- cado internacional? Podem os países sustentar e
mento deverão, assim, concentrar-se no aumento dos re- melhorar as suas instituições educativas nacionais? Que
cursos e, em muitos casos, na mudança de orientação podem fazer para persuadir os indivíduos mais talen-
dos sistemas de ensino. O financiamento da educação tosos a regressar? Muitos países adoptaram estratégias Muitos países adoptaram
requer uma combinação de responsabilidades públicas para estimular os laços entre a diáspora e o país natal.
estratégias para estimular
e privadas. O sector público deve manter a respon-
sabilidade do ensino primário universal e do ensino se- A REDE DA DIN Â MICA DI Á SPORA INDIANA os laços entre a diáspora
cundário e parte do superior. Porém, os países deverão
e o país natal
considerar a possibilidade de deixar mais campo de As diásporas podem contribuir para melhorar a reputação
acção para a oferta privada de alguns serviços de edu- dos seus países de origem. O sucesso da diáspora india-
cação – e apostar mais no financiamento individual na em Silicon Valley, por exemplo, parece estar a influen-
para cursos especializados avançados com fortes rec- ciar o modo como o mundo vê a Índia, ao criar uma certa
ompensas do mercado. "imagem de marca". A nacionalidade indiana de um
programador de software dá um sinal de qualidade, tal
MOBILIZAÇÃO DAS DIÁSPORAS como o rótulo "made in Japan" permite reconhecer arti-
gos electrónicos de primeira qualidade. O talento india-
Os países ricos estão a abrir as portas aos profission- no para a tecnologia de informação começa a ser
ais oriundos de países em desenvolvimento – com cus- explorado não só por empresas dos Estados Unidos
tos elevados para os países de origem. Estima-se que mas, também, pelas empresas de outros países.
cerca de 100.000 especialistas indianos, por ano, obte- A rede mundial de especialistas indianos tem in-
nham novos vistos recentemente concedidos pelos Es- vestido no desenvolvimento das qualificações no seu país.
tados Unidos. O custo da provisão de formação Esta rede tem procurado aumentar as dotações e apoiar
universitária a estes especialistas representa, para a o financiamento de algumas instituições de ensino su-
Índia, uma perda anual de recursos de 2 mil milhões perior da Índia. E está a desenvolver esforços para criar
de dólares (Caixa 4.7). cinco institutos mundiais de ciência e tecnologia.

QUADRO 4.3
Despesa pública de educação média, por aluno e região, 1997
(estimativa)
Média Primária e secundáriaa Superior
Percentagem Percentagem Percentagem
do PNB do PNB do PNB
Dólares EUA per capita Dólares EUA per capita Dólares EUA per capita

Mundo 1.224 22 999 18 3.655 66


Países desenvolvidos 5.360 21 4.992 20 6.437 25
Países em desenvolvimento 194 16 150 12 852 68
África Subsariana 252 11 190 8 1.611 68
Médio Oriente 584 22 494 19 1.726 66
América Latina 465 14 392 12 1.169 35
Ásia Oriental 182 14 136 11 817 64
Ásia do Sul 64 15 44 11 305 73
Países em transição 544 26 397 19 603 33

a. Inclui pré-primária.
Fonte: Lee 2001, utilizando UNESCO 2000b..

ESTRATÉGIAS NACIONAIS PARA ESTIMULAR A CRIATIVIDADE HUMANA 91


A actuação da diáspora indiana está, também, a elevado do que os seus concorrentes, simplesmente
ter efeitos importantes no sector das tecnologias de porque têm a possibilidade de contratar pessoal té-
informação. Cada vez mais, as empresas têm operações cnico com mais rapidez devido ao facto de poderem
tanto nos Estados Unidos – a "sede" – como na Índia recorrer a uma enorme rede transnacional. Isto levou
– as "instalações de produção". Numa altura em que ao rápido crescimento da procura de especialistas
os talentos nas tecnologias de informação são escas- em tecnologias de informação oriundos da Índia e,
sos, as empresas de origem indiana nos Estados consequentemente, à rápida expansão da formação
Unidos têm tido uma vantagem competitiva que re- nessa área oferecida, cada vez mais, pela iniciativa pri-
sulta dum factor invulgar: operam a um ritmo mais vada.35

ESFORÇOS NA COREIA DO SUL E TAIWAN


CAIXA 4.7
Tributação de qualificações perdidas (PROVÍNCIA DA CHINA ) PARA INVERTER
A FUGA DE CÉREBROS
A drenagem de cérebros dos países pobres A despesa pública de educação dos gover-
em qualificações para os ricos vai, provavel- nos central e estaduais da Índia corresponde
mente, prosseguir no futuro previsível. Quais a cerca de 3,6% do PIB. A parte destinada ao Tanto a Coreia como Taiwan (Província da China),
os recursos em perigo para os países fornece- ensino superior (incluindo o ensino técnico) é têm optado mais por encorajar as suas diásporas a re-
dores de qualificações? E como podem estes de 16,4%, ou 0,6% do PIB – cerca de 2,7 mil
países recuperar parte dos recursos que per- milhões de dólares em 1999. As receitas de im-
gressar do que por incentivá-las a investir no país natal.
dem através da drenagem de cérebros? postos de saída – colectadas através de meca- Taiwan (Província da China) criou uma agência gover-
Considere-se a drenagem de especialistas nismos unilaterais ou bilaterais – poderiam namental – a Comissão Nacional para a Juventude – para
de software da Índia para os Estados Unidos. aumentar facilmente a despesa pública no en-
coordenar os esforços com vista a encorajar o retorno.
Ao abrigo da recente legislação introduzida em sino superior de um quinto a um terço.
Outubro de 2000, os Estados Unidos emitirão, Contudo, as estimativas das receitas po- Esta comissão actua como uma câmara de compen-
anualmente, cerca de 200.000 vistos H-1B ao tenciais de um imposto de saída devem ter em sação de informação para os estudantes retornados que
longo dos próximos três anos. Estes vistos são conta as respostas de comportamento: as pes- procuram emprego e para os empregadores potenciais.
emitidos para importar qualificações específicas, soas poderiam tentar evadir o imposto saindo
principalmente na indústria de computadores. como estudantes numa idade jovem e depois
A Coreia, por seu lado, optou pela elevação da quali-
Calcula-se que cerca de metade serão concedi- permanecerem no exterior. Como se tribu- dade dos seus institutos de investigação, tais como o Ins-
dos a especialistas de software da Índia. Que taria este grupo de (potenciais) imigrantes, tituto Coreano para a Ciência e Tecnologia (KIST),
perda de recursos representará para a Índia? que constitui provavelmente a "nata da so-
como forma de estimular o retorno. Aos que entram para
Consideremos apenas a despesa pública ciedade" de um país em desenvolvimento?
com a graduação de estudantes dos institutos Além do mais, se os filhos da elite não se ins- o KIST, é proporcionada grande autonomia em termos
tecnológicos da elite da Índia. Os custos de fun- creverem nas instituições de ensino do próprio de investigação e gestão.
cionamento por estudante representam cerca país, o apoio político para garantir que as ins- Tanto a Coreia, como Taiwan (Província da China),
de 2.000 dólares por ano, ou cerca de 8.000 tituições funcionam poderá diminuir.
dólares por um programa de quatro anos. So- Para além do imposto de saída, existem
têm feito um grande esforço para atrair académicos e
mados à despesa de capital fixo, constituída várias alternativas para tributar os fluxos de investigadores. Foram criados programas intensivos de
pelos custos de substituição das instalações capital humano: recrutamento para localizar especialistas e académicos
físicas, elevam o custo total da formação de • A condição de reembolso do empréstimo,
mais velhos e oferecer-lhes salários competitivos com os
cada estudante a um valor entre 15.000 e 20.000 em que cada estudante do ensino superior re-
dólares. Multiplicando por 100.000, o número cebe um empréstimo (equivalente ao subsí- do exterior, melhores condições de trabalho e ajuda com
de especialistas que provavelmente aban- dio provido pelo Estado) que teria de ser habitação e educação dos filhos. Programas para pro-
donarão a Índia em cada um dos próximos três reembolsado se o estudante deixasse o país. fessores visitantes permitem a estes países explorar as
anos, a perda total de recursos ficará próximo • Um imposto uniforme, em que os nacionais
dos 2 mil milhões de dólares por ano. no exterior pagam uma pequena fracção do seu
competências dos que estão mais inseguros em relação
Como pode a Índia começar a recuperar rendimento, digamos, 1%. ao regresso definitivo.
esta perda? O mecanismo administrativo mais • O modelo dos Estados Unidos, em que os Nos anos de 1960, apenas 16% dos cientistas e en-
simples seria a aplicação de um imposto uni- indivíduos são tributados com base na na-
genheiros coreanos com doutoramentos nos Estados
forme – uma taxa de saída paga pelo empre- cionalidade e não na residência. Isto exigiria
gado ou pela empresa, no momento de a negociação de acordos fiscais bilaterais. Unidos regressavam à Coreia. Nos anos de 1980, essa
concessão do visto. Este imposto poderia ser • O modelo cooperativo, em que um regime proporção saltou para cerca de 2/3.37 Uma grande parte
equivalente aos honorários cobrados pelos multilateral permitiria transferências inter- da diferença é explicada pela melhoria das perspecti-
caçadores de cabeças, que ascendem fre- -governamentais automáticas dos impostos
quentemente a cerca de dois meses de salário. sobre salários ou sobre rendimentos pagos por
vas económicas da Coreia.
Considerando rendimentos anuais de 60.000 nacionais de outros países. Actualmente, os dois países não se preocupam ape-
dólares, isto representaria um imposto de saída Como sucede com todos os impostos, nas com o regresso físico da sua bolsa de talentos tecno-
de 10.000 dólares, ou cerca de 1.000 milhões cada uma destas alternativas envolve
lógicos que vivem no exterior. Estão, pelo contrário, a
de dólares por ano (e 3.000 milhões ao longo trade-offs entre a exequibilidade adminis-
de três anos). trativa e política e a receita potencial. apostar na integração das suas diásporas em redes
transnacionais. Estão a organizar redes de especialistas
Fonte: Kapur 2001; Bhagwati e Partington 1976.
no exterior e a ligá-las ao país de origem.

92 RELATORIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


TENTATIVAS AFRICANAS , EM CONDIÇÕES para o mercado internacional como para o mercado in-
ADVERSAS , PARA INVERTER A DRENAGEM terno. Existem, desde há algum tempo, diversas pro-
DE CÉREBROS postas fiscais – desde o imposto único de saída até
acordos fiscais bilaterais de longo prazo (ver caixa
Muitos países africanos têm sido flagelados por confli- 4.7). À luz da crescente emigração de competências,
tos internos e pela estagnação económica. Muitas pessoas nos últimos anos, estas propostas merecem uma atenção
qualificadas têm abandonado este ambiente hostil. O Pro- séria.
grama de Retorno de Nacionais Africanos Qualificados, O contraste entre as várias experiências referidas
levado a cabo pela Organização Internacional para as Mi- acima revela uma realidade evidente: os países com diás-
grações, tem tentado encorajar o regresso de cidadãos poras numerosas dispõem de um recurso potencial. As
africanos qualificados e ajudá-los a reintegrarem-se. competências e os recursos de uma diáspora podem ser
Entre 1983 e 1999, o programa reintegrou 1.857 indiví- inestimáveis, mas a eficácia da sua utilização depende
duos, pouco mais de 100 por ano.37 Tendo em conta a da situação no país natal. Isto quer dizer que é preciso
enorme drenagem de cérebros que afecta a África, é ter um ambiente propício ao desenvolvimento
pouco provável que este esforço tenha um impacte signi- económico, com estabilidade política e políticas
ficativo. económicas saudáveis. À medida que o país se desen-
volve e que as suas perspectivas de futuro melhoram,
• • • é provável que mude a atitude das diásporas em relação
ao seu retorno. Tanto a diáspora indiana como a core-
Será que estes países podem fazer algo para serem ana reagiram favoravelmente à melhoria das condições
compensados pelas qualificações perdidas através da no seu país. O momento e o acaso desempenham aqui
drenagem de cérebros? Uma das possibilidades é a uti- um papel, mas, em última instância, as redes da diás-
lização da política fiscal para gerar recursos destinados pora só são eficazes quando os países têm a sua casa
às instituições que criam qualificações relevantes tanto em ordem.

ESTRATÉGIAS NACIONAIS PARA ESTIMULAR A CRIATIVIDADE HUMANA 93


CAPÍTULO 5

Iniciativas mundiais para criar tecnologias


para o desenvolvimento humano

As transformações tecnológicas actuais estão a fazer os mecanismos internacionais – desde o acordo sobre Uma descoberta num país
avançar as fronteiras da medicina, comunicações, agri- os Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual
pode ser utilizada
cultura, energia e fontes de crescimento dinâmico. Além Relacionados com o Comércio (TRIPS) até à atribuição
disso, tais progressos têm um alcance mundial: uma de nomes de domínio pela Internet Corporation for As- em todo o mundo
descoberta num país pode ser utilizada em todo o signed Names and Numbers – não são postos contra os
mundo. O mapa do genoma humano, traçado primeira- utilizadores mais recentes ou implementados para
mente por investigadores no Reino Unido e nos Esta- desvantagem dos que já estão atrasados.
dos Unidos, é igualmente valioso para a investigação Por um lado, as actuais transformações tecnológi-
biotecnológica em todo o mundo. A Internet foi criada cas possuem um enorme potencial na ajuda à erradicação
nos Estados Unidos, mas as consequências das reduções da pobreza. Embora não substituam a necessidade de
drásticas nos seus custos sobre a informação e comu- mobilizar e de fazer melhor uso das tecnologias exis-
nicações aumentam as oportunidades das pessoas em tentes, elas oferecem novas formas de ultrapassar velhos
todos os países. constrangimentos.
Mas as tecnologias concebidas para as carências e As possibilidades envolvem:
necessidades dos consumidores e produtores na Eu- • Vacinas contra a malária, HIV e tuberculose, bem
ropa, Japão ou Estados Unidos não irão, necessaria- como doenças menos conhecidas, como a doença do
mente, ter em conta as necessidades, condições e sono e a cegueira dos rios.
constrangimentos institucionais que enfrentam os con- • Variedades das principais culturas adaptáveis à
sumidores e os produtores dos países em desenvolvi- seca e resistentes aos vírus, da África Subsariana e de
mento. Algumas tecnologias podem ser adaptadas agricultores de terras marginais.
localmente, mas isso exige recursos. Outras, necessi- • Computadores de baixo custo, ligações sem fios,
tam essencialmente de ser reinventadas. Os países em ecrãs digitais de baixa literacia e software de cartões de
desenvolvimento podem fazer imenso para explorar os chip pré-pagos para o comércio electrónico sem cartões
benefícios e gerir os riscos das novas tecnologias – de crédito.
mas as iniciativas mundiais são também cruciais. Porquê • Pilhas de combustível para transportes, energia e
mundiais? Porque o valor da investigação e desen- geração de calor, mais eficientes; tecnologias de biomassa
volvimento atravessa fronteiras e poucos países vão in- modernizadas para produzir combustíveis líquidos e
vestir o suficiente, por sua própria conta, para fornecer gasosos e electricidade; e tecnologias solar e eólica mais
bens públicos a nível mundial. Além disso, o impacte eficientes.
global do avanço tecnológico depende dos elos mais Por outro lado, há muita coisa pelo caminho:
fracos da cadeia. Por exemplo, um controlo insufi- Climas diferentes, exigências diferentes. Muitas
ciente dos impactes das culturas geneticamente modi- das tecnologias necessárias ao progresso na agricul-
ficadas nos países mais pobres pode, em última análise, tura, saúde e energia, diferem significativamente em cli-
afectar os mais ricos. mas temperados e tropicais – compare-se, por exemplo,
Ao nível mundial, são necessárias duas coisas. as suas doenças, pragas, solos e recursos energéticos,
Primeira, mais financiamento público gasto de novas cada um dos quais requer tecnologias adequadas ao con-
maneiras, com a política pública a motivar parcerias cria- texto. Algumas tecnologias podem ser adaptadas para
tivas entre as instituições públicas, indústria privada e ultrapassar a divisão ecológica – especialmente a tec-
organizações não lucrativas. A segunda, uma reavaliação nologia da informação e comunicações – mas outras não
das regras do jogo e da sua execução, assegurando que podem. Uma vacina contra o sarampo não se pode

INICIATIVAS MUNDIAIS PARA CRIAR TECNOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO 95


converter numa vacina contra a malária e variedades de Rendimentos baixos, instituições fracas. A po-
arroz de regadio são de pouca utilidade em zonas ári- breza humana e as instituições fracas alargam o fosso
das. Ao longo dos dois últimos séculos as tecnologias entre as tecnologias adequadas aos rendimentos e às ca-
de zonas temperadas afastaram-se bastante das neces- pacidades de países ricos e de países pobres. Baixos
sidades tropicais. (caixa 5.1). rendimentos, baixa escolaridade e níveis de qualifi-
Dado que o avanço tecnológico é cumulativo, a cação, fornecimentos de energia pouco fiáveis, infra-es-
concentração de longa data da investigação científica truturas administrativas fracas – todos constituem
e da inovação tecnológica abriu um grande fosso entre barreiras à difusão e utilização de tecnologias concebidas
países ricos e pobres, com os mercados mundiais a con- para países ricos nos países pobres. Em consequência,
duzirem uma trajectória tecnológica que não é ade- a difusão pode ficar bloqueada e as pessoas pobres
quada às necessidades dos países em desenvolvimento. podem acabar por pagar mais do que as ricas pelos
As agendas de investigação são orientadas pelos in- mesmos serviços – tais como, compra de querosene,
teresses de cientistas e inventores em pólos de inves- quando não há fornecimento de electricidade. Além
tigação e motivadas pelas necessidades e desejos dos disso, instituições fracas podem retardar a inovação,
consumidores de rendimento elevado na Europa, Japão assim como a difusão, de produtos próprios dos países
e América do Norte – e da elite do mundo em desen- em desenvolvimento – por vezes porque direitos da
volvimento. propriedade intelectual precários desencorajam os in-
vestidores privados, que não podem ter a certeza que
a competição não irá surgir, copiar a tecnologia e re-
CAIXA 5.1
duzir-lhes os lucros.
A tecnologia tropical, sofrendo de um hiato ecológico
Bens públicos, produtores privados. As inovações
Dadas as variadas histórias políticas, económi- • Rendimentos de escala. A inovação tecno-
cas e sociais das regiões do mundo, parece ser lógica oferece rendimentos de escala crescentes. têm muitos benefícios valiosos que não podem ser reti-
mais do que coincidência que quase todos os Com as populações mais ricas nas zonas tem- dos pelo inovador, mesmo existindo os direitos da pro-
trópicos se mantenham subdesenvolvidos no peradas, a procura de mercado associada a priedade intelectual, e portanto serão subinvestidas
começo do século XXI. Alguns argumentam rendimentos crescentes ampliou extraordinaria-
pelos produtores privados. Além disso, os benefícios das
que a desigualdade Norte-Sul da latitude es- mente a diferença entre zonas temperadas e
conde a questão: a verdadeira diferença é a di- tropicais nos últimos duzentos anos. novas tecnologias atravessam fronteiras: uma vacina da
visão ecológica temperada-tropical. Em 1820, • Dinâmica social. A urbanização e a tran- cólera eficaz, desenvolvida em qualquer país – seja
no início da era moderna do crescimento, o sição demográfica – processos concluídos em através de investimento público, ou privado – vai ser
mundo tropical tinha um rendimento per grande parte nos países temperados – impul-
capita de mais ou menos 70% do rendimento sionaram mais o crescimento económico. Mas valiosa para muitos. Mas sem uma forma eficaz de co-
das zonas temperadas. Em 1992, a diferença nos países tropicais eles têm sido contidos, ordenar esta procura latente e reter estes benefícios ex-
alargou-se, com rendimentos per capita na num círculo vicioso, pela baixa produtividade ternos, nem os investidores privados, nem as agências
zona tropical de apenas um quarto dos da na alimentação e fraca saúde pública.
públicas nacionais serão motivados a investir na inovação
zona temperada. • Dominação geopolítica. Os países tem-
Como interagem a ecologia física, a perados dominaram historicamente as a níveis socialmente óptimos, ou nas áreas mais impor-
dinâmica social, o crescimento económico e as regiões tropicais através do colonialismo, tantes.
trajectórias tecnológicas para criar esta di- negligenciando a educação e os cuidados de Mercados mundiais, preços mundiais. Alguns
visão? Cinco explicações possíveis: saúde e suprimindo a indústria local. Ac-
• Especificidade ecológica. As tecnologias tualmente, os países temperados continuam produtos das novas tecnologias – desde produtos far-
para a promoção do desenvolvimento hu- a dominar através das instituições de globa- macêuticos a software para computadores – estão a
mano, especialmente na saúde, agricultura e lização, ditando as regras do jogo da vida ser procurados mundialmente. Mas quando são pro-
energia, são ecologicamente específicas – de- económica internacional.
tegidos pelos direitos da propriedade intelectual e pro-
terminadas pelos solos, pragas, doenças e A ecologia é, evidentemente, apenas um
dotações de energia – e não podem ser trans- de muitos factores: alguns países tropicais en- duzidos sob monopólio temporário, as estratégias de
feridas de uma zona para outra meramente frentaram a tendência, e alguns países tem- preços e os mecanismos do mercado mundial podem
através de remedeios. perados não cumpriram a sua expectativa. mantê-los fora de alcance. Um produtor monopo-
• Partir à frente. Até 1820, as tecnologias das Mas se estas cinco explicações estão por de-
zonas temperadas eram mais produtivas do trás de uma grande desigualdade ecológica, lista procurando maximizar os lucros mundiais de
que as tecnologias das zonas tropicais nestas elas exigem soluções políticas – dos países uma nova tecnologia irá, idealmente, dividir o mer-
áreas essenciais. Elas estavam também eco- e da comunidade mundial – centradas na cado em vários grupos de rendimento e vender a
nomicamente integradas num mercado inter- procura de novas formas de armar a tecno-
preços que maximizem o rendimento em cada um
nacional de inovação e difusão em toda a zona logia para enfrentar os desafios da saúde
temperada, mas com pouca passagem pela tropical, agricultura, energia e gestão am- deles, embora continue sempre a cobrir os custos
zona tropical. biental. marginais de produção. Tal fixação de preços, por gru-
pos, poderá conduzir a que um produto idêntico seja
Fonte: Sachs 2000b.
vendido nos Camarões por apenas um décimo – ou
um centésimo – do preço do Canadá. Mas segmen-

96 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


tar o mercado não é fácil. Com a crescente abertura CRIAÇÃO DE PARCERIAS INOVADORAS
de fronteiras, os produtores temem que reimpor- E DE NOVOS INCENTIVOS À INVESTIGAÇÃO

tações de produtos fortemente descontados reduzam E DESENVOLVIMENTO

os preços mais altos, cobrados para cobrir as despe-


sas gerais e os custos de investigação e desenvolvi- Os incentivos para adaptar a tecnologia às necessidades
mento. E mesmo que os produtos não recuem das pessoas pobres têm de adaptar-se aos tempos. Um
caminho no interior do mercado mais caro, o conhe- novo terreno de interacção está a emergir, requerendo
cimento da existência de preços mais baixos irá gerar um repensar das políticas dos países em desenvolvi-
um recuo do consumidor. Sem mecanismos para lidar mento e da comunidade internacional, sobre os incen-
FIGURA 5.1
com estas ameaças, o mais provável é que os produ- tivos e oportunidades para a investigação. O crescimento da investigação
tores fixem preços globais incomportáveis para os O baixo custo das comunicações torna as comu- em rede: co-autoria internacional
de artigos científicos publicados
países pobres. nidades virtuais de investigação bastante mais reali-
Número de outras nacionalidades entre os co-autores
Capacidade tecnológica fraca em muitos países záveis entre os países. A Iniciativa Multilateral sobre a
em desenvolvimento. É fundamental construir a ca- Malária, por exemplo, troca informação da investigação Estados Unidos
Reino Unido
pacidade tecnológica nos países em desenvolvimento sobre a malária em todo o mundo para reduzir a du-
para criar soluções de longo prazo, porque as tecnolo- plicação e maximizar o conhecimento através dos pro- 150

gias de desenvolvimento, só por si, não têm, não podem jectos. As comunidades virtuais oferecem formas de
Japão
e não serão fornecidas através do mercado mundial. Em- recorrer às qualificações e ao empenho da diáspora
bora os últimos 20 anos tenham assistido a um impor- científica dos países em desenvolvimento. Brasil
China
tante crescimento na excelência da investigação em Além disso, durante os últimos 20 anos, alguns 100
Hungria
alguns países em desenvolvimento, outros não têm países em desenvolvimento criaram centros de investi-
Quénia
ainda uma capacidade de investigação e desenvolvi- gação de nível mundial para um conjunto de novas
Coreia do Sul
mento adequada. Sem esta, eles não podem, livremente, tecnologias (caixa 5.2). Esta mudança permite aos países
Cuba
adaptar as tecnologias mundiais disponíveis às suas ne- em desenvolvimento estabelecer prioridades para a in- 50 Tunísia
cessidades – sem falar em estabelecer as suas próprias vestigação e gera potencial para a cooperação regional.
agendas de investigação para novas inovações. As políti- Os esforços para construir estes centros de investigação
cas nacionais inadequadas são parcialmente respon- beneficiarão duplamente da relevância regional e da
sáveis, mas a perda de emigrantes altamente qualificados, colaboração de nível mundial. 0
a falta de instituições mundiais de apoio e a imple- Os benefícios das comunicações de baixo custo e 1986–88 1995–97

mentação injusta das regras de comércio mundiais, de novos centros de investigação estão reflectidos no Fonte: NSF 2001.
criam barreiras adicionais. crescimento da colaboração internacional na investi-
Este Relatório apela a uma acção em quatro frentes: gação. Ao longo dos últimos 10 anos, ela tem crescido
• Criação de parcerias inovadoras e novos in- em todo o mundo, com investigadores, quer dos países
centivos à investigação e desenvolvimento – moti- em desenvolvimento, quer dos países industrializados,
vando o sector privado, os governos e a comunidade a fazerem artigos de investigação em co-autoria com cien-
científica para juntar os seus esforços na investigação tistas de um número sempre crescente de países,
e desenvolvimento, quer dentro dos países em de- estabelecendo uma comunidade de investigação ver-
senvolvimento, quer através da colaboração interna- dadeiramente mundial. Em 1995-97, cientistas dos Es-
cional. tados Unidos escreveram artigos com cientistas de 173
• Gestão dos direitos da propriedade intelectual – outros países, cientistas do Japão com 127, do Brasil com
alcançando o equilíbrio certo entre incentivos privados 114, do Quénia com 81, da Tunísia com 48 (figura 5.1).
à inovação e interesses públicos em prover acesso às in- Os papéis das comunidades de investigação altera-
ovações. ram-se extraordinariamente, criando novas formas de
• Expansão do investimento em tecnologias para trabalhar. Pense-se na hélice dupla, a estrutura que cria
o desenvolvimento – assegurando a criação e difusão a vida – duas faixas de ADN, entrelaçadas mas não
de tecnologias que são urgentemente necessárias, mas emaranhadas. Poderá esse mesmo equilíbrio ser en-
que são negligenciadas pelo mercado mundial. contrado entre a indústria privada, investigadores uni-
• Prestação de apoio institucional regional e versitários e institutos públicos – quer nos países em
mundial – com regras de jogo justas e com estratégias desenvolvimento, quer nos industrializados – para a
que criem a capacidade tecnológica dos países em de- criação de uma "hélice tripla" que persiga a investigação
senvolvimento. orientada pelas necessidades e sensível às reacções dos

INICIATIVAS MUNDIAIS PARA CRIAR TECNOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO 97


utilizadores finais – agricultores e doentes, famílias e em-
CAIXA 5.2
presas? Encontrar tal equilíbrio exige que se com-
Feito em casa mas de nível mundial: investigação de excelência
para uma agenda alternativa preenda cada actor.
A investigação privada está a crescer – e com ela
Com a emergência da capacidade de investigação custos para metade. Por isso, em 2000, o Gover-
de nível mundial, surgem novas fontes de ex- no brasileiro comissionou uma equipa de cien- chega a propriedade privada dos instrumentos e dos re-
celência tecnológica em alguns países em desen- tistas de computação da Universidade Federal de sultados da investigação. Grande parte da investigação
volvimento. A investigação nestes países centra-se Minas Gerais para fazer o contrário: produzir um básica é ainda financiada por fundos públicos e licen-
em problemas específicos dos seus contextos, computador básico por cerca de 300 dólares.
sejam doenças locais ou baixos rendimentos. "Compreendemos que este não era um problema ciada ao sector privado. Mas é, frequentemente, no
Quatro exemplos: do Primeiro Mundo – não encontraríamos uma sector privado que as aplicações tecnológicas são de-
Medicamento tailandês para combater a empresa sueca ou suíça para nos resolver isto. senvolvidas, respondendo à procura do mercado. São
malária. A Tailândia possui a resistência mais Tínhamos de o fazer nós próprios", disse o men-
necessários novos incentivos para motivar a investi-
alta aos medicamentos contra a malária, portanto tor do projecto.
o tratamento é limitado. Mas os cientistas da Em apenas um mês foi feito um protótipo, gação e desenvolvimento industrial a ir ao encontro
Unidade de Coordenação da Gestão da Inves- com modem, monitor a cores, altifalantes, rato, das necessidades tecnológicas dos países em desen-
tigação Clínica da Tailândia estão optimistas software de Internet e opções para adicionar im- volvimento e não apenas das exigências do mercado
sobre um medicamento que estão a desenvolver pressoras, motor de disco e CD-ROM. O gover-
especialmente para as condições locais. Saudado no anda agora à procura de um fabricante, mundial. Já não é fácil desenvolver muitas tecnologias
pela Organização Mundial de Saúde como um concedendo incentivos fiscais, para levar o pro- sem o envolvimento do sector privado.
dos desenvolvimentos mais importantes no trata- jecto adiante. Os planos incluem a instalação do Investigação universitária – mandatada para servir
mento da malária, o novo medicamento, o di- invento nas escolas públicas, para abarcar 7 mi-
o interesse público – tem sido crescentemente comer-
hydro-artemisinin (DHA), será combinado lhões de crianças, e vendê-lo a crédito a pessoas
com a mefloquine num comprimido único – tor- com salários baixos. O mercado potencial cializada, especialmente nos Estados Unidos. A Lei
nando mais fácil aos doentes seguir as instruções alarga-se a todo o mundo. Bayh-Dole, de 1980, permite às universidades patentear
de dosagem e fornecendo uma nova margem O acesso à Internet sem fios na Índia. e licenciar os resultados das suas investigações finan-
contra a resistência. Se as avaliações forem bem O acesso à Internet é normalmente prestado
sucedidas e o DHA passar os testes rigorosos, através de linhas telefónicas, mas o custo de in- ciadas federalmente, ganhando royalties. Em 1985, ape-
será o primeiro produto farmacêutico de fabrico stalação de telefones na Índia significa que ape- nas 589 patentes de serviços – patentes de invenções,
doméstico, licenciado na Tailândia. Com a pos- nas 2 a 3% da população pode suportá-lo. Para não de projectos – foram atribuídos a universidades dos
sibilidade de produção local das suas maté- aumentar o acesso dos actuais 15 milhões para,
Estados Unidos; em 1999, foram 3.340.1 Uma orientação
rias-primas à base de plantas, o DHA tem digamos, 150 a 200 milhões, os custos teriam de
potencial para ser um tratamento amplamente cair 50 a 65%. As tecnologias oferecidas pelas em- mais comercial ajudou a trazer ao mercado tratamen-
disponível e altamente eficaz, na Tailândia e presas multinacionais não podem responder a tos contra o HIV/SIDA e medicamentos contra o can-
noutros sítios. este desafio – mas uma alternativa desenvolvida cro. Mas ligações industriais mais apertadas podem
A vacina contra a meningite em Cuba. A internamente pode.
meningite B mata todos os anos 50.000 crianças Em 1999, o Instituto Indiano de Tecnolo- direccionar a investigação mais para os interesses das em-
em todo o mundo. Durante anos, os cientistas oci- gia, em Madrasta, criou um sistema de acesso à presas do que para os interesses públicos, e mais para
dentais lutaram em vão para desenvolver uma Internet de baixo custo, que não necessita de a investigação comercial do que para a investigação
vacina. Agora, o pesado investimento cubano modem e elimina as dispendiosas linhas de cobre.
básica de finalidade pública. Em 1998, os financia-
em investigação obteve resultados. Em meados No seu essencial, é um sistema local sem fios, de-
dos anos 80, um surto mortal de meningite B in- senvolvido em colaboração com a Midas Com- mentos industriais à investigação académica nos Esta-
citou o Instituto Finlay, financiado com fundos munication Technologies, em Madrasta e com a dos Unidos, ainda que apenas uma fracção do total,
públicos, a investir na investigação – e foi bem Analog Devices, sedeada nos Estados Unidos. foram cerca de cinco vezes superiores ao nível de 20 anos
sucedido, produzindo uma vacina, fornecendo O resultado é um acesso mais rápido e mais
vacinação nacional até aos finais dos anos 80 e barato: ideal para fornecer acesso às comunidades atrás.2
vendendo a vacina por toda a América Latina. de baixo rendimento em toda a Índia e fora dela. A Investigação pública, ainda a principal fonte de
Não estando ainda disponível na Europa e Es- Licenciado a fabricantes da Índia, Brasil, China inovação para a maior parte do que poderia ser chamado
tados Unidos, devido a barreiras reguladoras e e França, a tecnologia já está em uso interna-
de tecnologia dos pobres, está a reduzir-se relativa-
a sanções comerciais norte-americanas, a vacina cionalmente, desde as Fidji e Iémen até à Nigéria
está agora para ser licenciada pela Glaxo- e Tunísia. Esta é a prova – de acordo com o Di- mente à investigação privada. Adquirir acesso a inputs
SmithKline, um gigante farmacêutico sedeado no rector da Analog Devices – de que "os engenheiros essenciais patenteados – frequentemente detidos por em-
Reino Unido. Em troca, Cuba receberá os direi- indianos são plenamente capazes de projectar e presas privadas e universidades nos países industriali-
tos da licença e royalties – parte em dinheiro e desenvolver produtos de nível mundial para a era
parte em espécie, alimentos e medicamentos, da Internet". zados – tornou-se um grande obstáculo à inovação, por
devido às sanções norte americanas. Todas estas iniciativas foram apoiadas por vezes com custos proibitivos. Especialmente nos países
Os desenvolvimentos do Brasil nos com- financiamentos e incentivos públicos. As inicia- em desenvolvimento, faltam frequentemente às insti-
putadores. O fornecimento de acesso à Internet tivas mundiais devem reforçar tais esforços e aju-
tuições públicas a negociação e os conhecimentos legais
aos utilizadores de rendimentos baixos é blo- dar a compreender todo o potencial dos institutos
queado pelos custos dos computadores. No mer- de investigação e empreendimentos nos países em e empresariais, para licenciar e trocar licenciamentos de
cado mundial, as companhias multinacionais de desenvolvimento, encorajando a colaboração in- instrumentos de investigação patenteados e de produ-
computadores preocupam-se em duplicar o po- ternacional a fornecer incentivos que os atraiam tos. E uma suspeita mútua, e mesmo hostilidade, há
tencial dos computadores, não em reduzir os aos projectos de investigação internacional.
muito existente entre investigadores públicos e pro-
Fonte: Cahill 2001; Lalkar 1999; Pilling 2001a; SiliconValley.com 2001; Rediff.com 1999; Anand 2000; Rich 2001.
motores privados, entrava muitas vias de trabalho

98 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


valiosas. Num inquérito de 1996, da comunidade de in- Egipto. Tais acordos para segmentar os mercados são
vestigação sobre a malária, metade dos que respon- cada vez mais utilizados, com segmentação por:
deram disseram que tinham conhecimento de resultados • Sementeira e região. Um milho resistente aos in-
promissores que não foram levados adiante – sendo sectos, utilizando material genético patenteado pela
uma das razões o fosso existente entre os diferentes Novartis, foi transferido do Centro Internacional de
palcos e actores envolvidos na transformação da inves- Melhoramento do Milho e do Trigo (mais conhecido por
tigação num produto.3 CIMMYT) para a África, mas apenas pode ser uti-
Qual o significado deste novo terreno na viragem lizado dentro da região.
da investigação patenteada para os interesses públicos? • Variedade. O acordo da Monsanto e do Instituto
Como podem as parcerias apoiar-se nas forças dos Queniano de Investigação Agrícola, de transferência de
diferentes actores? Num tempo de tal fluxo tecnológico genes patenteados pela Monsanto para criar bata-
e institucional, seria prematuro assentar numa abor- tas-doces resistentes aos vírus, está restringido a varie- As parcerias podem
dagem. Em diferentes campos tecnológicos, as opções dades seleccionadas cultivadas por pequenos agricultores
produzir resultados
no seio destes arranjos complexos são objecto de intensa no Quénia central.
discussão – e, muito provavelmente, continuarão a sê-lo • Rendimento da terra. O Instituto Internacional de vantajosos para ambas
durante anos, enquanto as políticas e as estratégias Investigação do Arroz negociou com a Plantech a
as partes, mas podem,
evoluem. obtenção dos direitos de uso do gene de resistência
dos caules em todos os países em desenvolvimento. igualmente, enfrentar
OPÇÕES PARA AS INSTITUIÇÕES P Ú BLICAS Estas parcerias podem produzir resultados vanta-
conflitos longos sobre
josos para ambas as partes, mas podem, igualmente, en-
Com a posse dos títulos de propriedade dos instru- frentar conflitos longos sobre interesses de mercado – interesses de mercado
mentos e tecnologias concentrada na indústria e nas uni- especialmente se os agricultores empreenderem a sua
versidades, as instituições públicas estão a explorar própria investigação de adaptação e se os países em
novos meios de ganhar acesso. A troca de licencia- desenvolvimento planearem expandir os seus mercados
mentos – trocando direitos de uso de patentes – é e exportar as suas culturas.
comum na indústria, mas o sector público tem sido larga-
mente afastado desta estratégia porque os resultados da INICIATIVAS DE POLÍTICA PÚBLICA
sua investigação não são habitualmente patenteados. Al-
gumas propostas controversas estão em debate. Irão as A investigação básica é usualmente promovida através
instituições públicas ter necessidade de reclamar dire- de financiamento governamental aos investigadores,
itos da propriedade intelectual sobre as suas inovações cujas descobertas são, então, colocadas no domínio
para desenvolver a negociação de chips? Deverão os público, promovendo a partilha do conhecimento e
países em desenvolvimento permitir às suas universi- apoiando a natureza exploratória e cumulativa do conhe-
dades obter direitos de patente para a investigação fi- cimento científico. Assim, essa investigação básica tem
nanciada pelo governo? Fazê-lo irá aumentar o sigilo, de ser transformada num produto final através de testes
criar conflitos de interesses e desviar a investigação das extensivos, ensaios, visualização dos resultados e acondi-
prioridades nacionais não comerciais? Existem alter- cionamento. Como se pode promover o desenvolvi-
nativas para a luta por patentes, ou este é o inevitável mento do produto para satisfazer necessidades
caminho a seguir? específicas do desenvolvimento humano?
Para aceder às tecnologias de ponta na agricul- Duas abordagens são possíveis. Os incentivos de
tura, alguns institutos públicos estão a entrar em joint "Impulso" custeiam os meios de investigação investindo
ventures com associações de investigação de adap- dinheiro público na investigação mais promissora dos
tação. O Instituto de Investigação em Engenharia institutos públicos. Os incentivos de "Vantagem" prome-
Genética Aplicada (AGERI), um instituto público de tem pagar apenas pelo resultado, tal como a vacina
investigação egípcio, trabalhou com a Pioneer Hi-Bred contra a tuberculose, ou uma variedade de milho re-
International para desenvolver uma nova variedade de sistente à seca, seja ele produzido por uma empresa
milho. Colaborando, o AGERI ficou em condições de privada ou por um instituto público. Uma proposta de
formar pessoal técnico, através do contacto com inves- vantagem comum é a do compromisso prévio de com-
tigadores de nível mundial, e de desenvolver a variedade prar, digamos, uma vacina contra a tuberculose que
local de milho. A Pioneer Hi-Bred assegurou os direi- satisfaça exigências específicas, e de a tornar disponível
tos de uso da nova variedade em mercados fora do para aqueles que dela precisam. Tal empenho poderá

INICIATIVAS MUNDIAIS PARA CRIAR TECNOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO 99


criar fortes incentivos à investigação aplicada que resulte também representam mercados comerciais pequenos –
em produtos viáveis, sem gastar dinheiro público até que não porque sejam raras mas porque afectam pessoas po-
o produto esteja criado. Este mecanismo poderá fun- bres. Mas tais créditos fiscais podem ter desvantagens.
cionar para o desenvolvimento de vacinas, porque o pro- Créditos fiscais à investigação sobre produtos destina-
duto e a quantidade desejados são relativamente fáceis dos aos países em desenvolvimento podem ser recla-
de especificar (caixa 5.3). mados por empresas que desenvolvem investigação não
Combinando impulso e vantagem, a Austrália, apropriada aos países em desenvolvimento – como, por
União Europeia, Japão, Singapura e Estados Unidos, exemplo, uma companhia que faça investigação sobre
introduziram, cada um deles, legislação sobre uma vacina de curto prazo contra a malária, apropriada
"medicamentos órfãos" para facilitar o desenvolvi- para viajantes – ou investigação que, de facto, não se des-
mento de medicamentos contra doenças raras – nor- tine a desenvolver a tecnologia desejada. Uma solução
A atenção pública malmente aquelas que afligem menos de 500.000 poderia ser a concessão retroactiva de pequenos crédi-
doentes por ano – que é pouco provável que sejam tos fiscais, se uma empresa privada produzisse um novo
à poderosa influência
lucrativos para as companhias farmacêuticas. A leg- produto que fosse, então, comprado para uso nos países
do sector privado islação concede normalmente incentivos fiscais à in- em desenvolvimento.
vestigação e desenvolvimento, assim como protecção
estimulou as iniciativas
de patentes. Nos Estados Unidos, entre 1973-83, INICIATIVAS DA IND ÚSTRIA
da indústria antes da legislação ser adoptada, entraram no mer-
cado menos de 10 medicamentos e bioprodutos con- A atenção pública à poderosa influência do sector
tra doenças raras. Desde a Lei dos "medicamentos privado estimulou as iniciativas da indústria. Uma abor-
órfãos", de 1983, foram produzidos mais de 200 dagem – já posta em prática por um dos gigantes da in-
medicamentos desses.4 dústria agrícola – é a de permitir aos cientistas das
De forma idêntica, a iniciativa mundial sobre empresas utilizar parte do seu tempo (digamos, 15%)
"medicamentos órfãos" poderá dar um impulso muito para a sua própria investigação, utilizando recursos da
necessário à investigação sobre doenças tropicais, que empresa. Tais esforços poderão ser ligados às agendas
dos institutos públicos de investigação, reforçando as
ligações entre a investigação privada e a pública.
CAIXA 5.3 Algumas empresas doaram as tecnologias por si
Da longitude à vida longa – a promessa de incentivos de "vantagem"
patenteadas à investigação pública. Considere-se o caso
Os mercados de vacinas são notoriamente fra- claras para o tornar credível. Os promotores de do arroz enriquecido em vitamina A. Foi inteiramente
cos: a investigação é longa e dispendiosa mas o vacinas devem confiar na garantia do mercado,
mercado não é seguro. Os orçamentos para a pelo que seriam necessários contratos legal- desenvolvido com financiamentos públicos mas, des-
saúde nos países em desenvolvimento cobrem mente vinculativos. Estabelecer previamente cobriu-se mais tarde, recorreu a 70 instrumentos de in-
apenas uma fracção do valor social da vacina. o preço e critérios de eficácia iria isolar os vestigação patenteados, pertencentes a 32 companhias
E uma vez a vacina produzida, os grandes com- avaliadores das vacinas das pressões políticas
e universidades. Depois de muita negociação e de grande
pradores podem pressionar os promotores para e corporativas e aumentar a credibilidade. A ne-
que ofereçam baixos preços, originando um cessidade de credibilidade e regras claras foi atenção dos meios de comunicação, todos os deten-
retorno incerto. São necessários incentivos para uma lição aprendida por Harrison, a quem, tores de licenças concordaram em conceder livre uso da
garantir o mercado e os compromissos de com- apesar da precisão do seu cronómetro, foi ne- sua propriedade intelectual para distribuição do arroz
pra – comprometendo-se, para um produto es- gado o prémio em dinheiro durante muitos
pecífico, com um preço estabelecido e uma anos de disputa política e redefinição de regras. aos agricultores, que ganharão menos de 10.000 dólares
certa quantidade de aquisição – são uma maneira Mas, por si só, um compromisso de com- para o produzir.
de o fazer. A ideia básica não é nova. Em 1714, pra não será suficiente para enfrentar a con- No que se refere à concessão de acesso aos produtos
o Governo britânico ofereceu 20.000 libras – centração da investigação e desenvolvimento
de tecnologias patenteadas, os programas de doação de
uma fortuna, na época – para quem inventasse farmacêutico nos países industrializados. Embora
uma forma de medir a longitude de um barco os incentivos gerados por um compromisso não medicamentos tornaram-se o primeiro meio de fi-
no mar. A oferta resultou: por volta de 1735, o devam ser limitados aos residentes de um qual- lantropia das empresas da indústria farmacêutica: as
relojoeiro e inventor John Harrison produziu um quer país, aos investigadores dos países em de- doações de produtos, conjuntas, das cinco maiores
cronómetro marítimo preciso. senvolvimento falta frequentemente o capital
Tal incentivo poderia funcionar também para financiar antecipadamente a investigação. companhias farmacêuticas cresceram de 415 milhões de
para as vacinas. O dinheiro público seria gasto A criação da capacidade de investigação local, dólares, em 1997, para 611 milhões, em 1999. Entre as
apenas quando a vacina estivesse produzida e com outros mecanismos, continuará a ser essen- mais conhecidas estão o programa de mectizan contra
os promotores (mais do que os governos) es- cial para que os países em desenvolvimento te-
a oncocercíase (cegueira dos rios), da Merck, iniciado
colheriam quais os projectos a prosseguirem. nham possibilidade de criar medicamentos para
Um compromisso de compra requer condições as suas próprias necessidades. em 1987, e o programa de zitromax contra o tracoma,
Fonte: Kremer 2000a,2000b; Business Heroes 2001; Baker 2000; Bloom, River Path Associates e Fang 2001.
da Pfizer, iniciado em 1998. Tais doações podem ser uma
proposta vantajosa para ambas as partes, com a qual um

100 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


país obtém fornecimento grátis dos medicamentos pos. Poderia ser lançada uma iniciativa similar na agri-
necessários e a companhia obtém boas relações públi- cultura? Na energia renovável? É tempo de tentar.
cas e, por vezes, incentivos fiscais.
Para os países, contudo, as doações de medica- CRIAR A HÉLICE TRIPLA
mentos são, ainda, apenas um elemento num conside-
rável plano de longo prazo para aumentar o acesso. A conjugação dos esforços públicos, universitários e pri-
O enquadramento para a sua utilização tem de assegu- vados, está no centro das novas abordagens para a cria-
rar que elas não irão minar o acesso, existente ou po- ção de tecnologia. Mas tem de ser cuidadosamente
tencial, pela via do mercado (caixa 5.4). E se as doações ponderado, com cada um dos parceiros a centrar-se no
tiverem como condição a não utilização das medidas do seu mandato e vantagens comparativas. Para alcançar
acordo TRIPS – tais como licenciamento compulsivo e os benefícios, as interacções deverão basear-se em princí-
importação paralela – podem inibir as iniciativas locais pios claros, incluindo: A conjugação
e a capacidade criativa. • Assegurar transparência e responsabilidade na
dos esforços públicos,
As iniciativas industriais desta natureza – doações tomada de decisão e na governação.
de tempo, de patentes e de produtos – providenciam • Chegar, previamente, a acordo sobre uma atribuição universitários e privados,
soluções únicas, mas não são substitutos de uma boa de propriedade intelectual que assegure o direito público
está no centro das novas
política pública. O recente movimento contra as com- à utilização equitativa, ou sem custos, das invenções.
panhias farmacêuticas, relativamente aos medicamen- • Tornar os produtos finais comportáveis e acessíveis abordagens para
tos do HIV/SIDA, ilustram a necessidade dos decisores para aqueles que deles precisam.
a criação de tecnologia
fornecerem um quadro que assegure acesso estrutural • Contribuir, sempre que possível, para a capaci-
e orientado pelo mercado, e não apenas caritativo, aos dade local, colaborando, por exemplo, com investi-
medicamentos que salvam vidas. O desafio que se põe gadores dos países em desenvolvimento e com os
aos governos e à comunidade internacional é a criação utilizadores últimos das tecnologias.
de incentivos e regulamentações que constituam o en-
quadramento certo.
CAIXA 5.4
Os custos escondidos dos programas de doação de medicamentos
ALIANÇAS MULTI - PARTICIPADAS
Bons programas de doação de medicamentos • Escala. O volume de doações das empre-
podem ser altamente eficazes. Em 1997, a Merck sas não satisfaz a procura. Dos 36 milhões de
Uma nova estratégia promissora é a criação de alianças introduziu um programa para fornecer de graça, pessoas com SIDA, 95% estão nos países em
tecnológicas que reúnam diversos actores com um in- "onde necessário e pelo tempo necessário", o desenvolvimento. De facto, as empresas não
medicamento mectizan para erradicar a onco- podem doar, a cada pessoa com necessidade,
teresse comum – incluindo agências governamentais, in-
cercíase (cegueira dos rios). Em 1998, cerca de um tratamento que é vendido por 10.000 a
dústria, comunidade científica, sociedade civil e 25 milhões de pessoas recebia tratamento, em 12.000 dólares ao ano, nos Estados Unidos.
indivíduos empenhados, que possam dar contribuições 32 países. Foi um enorme sucesso, quer de • Restrições. As doações de medicamentos são
específicas para a tarefa em mãos. Tais alianças estão a política das grandes empresas, quer de impacte frequentemente restringidas a um certo número
– mas, não se pode repetir sempre. A oncocer- de doentes, limitado a certas regiões, disponíveis
trazer novo impulso à investigação, particularmente na cíase, encontrada numa área geográfica limi- por um tempo restrito, ou fornecidas para tratar
saúde. Mas a coordenação dos diversos interesses dos tada, pode ser erradicada e tem um tratamento apenas certas doenças – excluindo, por razões
participantes é um desafio, especialmente no trata- simples. Estas características permitem à Merck administrativas, algumas pessoas igualmente
garantir uma doação sem limites. Mas a maior pobres e com necessidades.
mento dos direitos da propriedade intelectual de quais-
parte das doenças não é tão controlável. Um dos • Sobrecarga das estruturas de saúde pública.
quer produtos resultantes. perigos dos programas de doação de medica- Alguns programas de doação requerem o estabe-
Um exemplo pioneiro é o da Iniciativa Internacional mentos é que eles podem ser vistos como uma lecimento de sistemas de desembolsos separados
para a Vacina da SIDA (IAVI), não lucrativa, financiada solução para a acessibilidade, quando, de facto, para evitar que os medicamentos sejam desviados.
não podem enfrentar o problema adequada- Mas isto limita-se a afastar o pessoal da estrutura
maioritariamente por fundações privadas e por vários mente. Os obstáculos incluem: de cuidados de saúde existente, pressionando
governos. Ao reunir a comunidade científica, a indús- • Sustentabilidade. As doações não podem demasiado outros serviços.
tria, fundações e investigadores públicos, com os acor- ser uma solução de longo prazo para uma • Atraso. Dado que as doações tendem a ser
doença que persiste. Como o actual director exe- mais complexas do que as transacções comer-
dos sobre direitos da propriedade intelectual vantajosos
cutivo da Mercks admite, "doar os nossos ciais normais, o acesso aos medicamentos pode
para todos, a organização da IAVI permite a cada par- medicamentos é, em geral, uma resposta in- ser atrasado por negociações prolongadas.
ceiro perseguir os seus próprios interesses – enquanto sustentável e irrealista porque, no fim do dia, A doação de fluconazole da Pfizer à África do
conjuntamente procuram uma vacina para a variedade temos de obter um retorno adequado sobre o Sul foi anunciada em Abril de 2000, mas em
nosso investimento para podermos financiar a Fevereiro de 2001 nenhum doente tinha rece-
do HIV comum em África (caixa 5.5). O sucesso do investigação futura". bido o medicamento.
IAVI pode ser julgado apenas pelos seus resultados, mas
Fonte: Guilloux e Moon 2000; Kasper 2001.
a iniciativa motivou o repensar de muitos outros cam-

INICIATIVAS MUNDIAIS PARA CRIAR TECNOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO 101


Os novos acordos e incentivos em fase de exploração senvolvimento. Porquê o alvoroço? Os direitos da pro-
tornam possível aos interesses públicos serem contem- priedade intelectual – desde as marcas comerciais e
plados durante esta corrida pela posse dos instrumen- patentes até aos direitos de autor e indicações geográ-
tos de investigação. Mas o futuro está longe de ser ficas – oferecem um incentivo à investigação e desen-
seguro. Saber se estas alianças e incentivos asseguram, volvimento de tecnologias porque tornam mais fácil aos
em última análise, que as tecnologias se desenvolvem a inovadores colher os ganhos do seu investimento. Com
favor das necessidades dos pobres, é o teste vital – e o as patentes, por exemplo, é dado aos inventores um
padrão fundamental para avaliar o seu sucesso. monopólio temporário do mercado, em cujo período
podem cobrar preços bem mais acima do custo inicial
GESTÃO DOS DIREITOS DE PROPRIEDADE de investimento. Uma vez que a patente expire, pode
INTELECTUAL iniciar-se a concorrência, aproximando os preços dos
custos de produção. O regime ideal dos direitos da
Os direitos da propriedade intelectual estão no propriedade intelectual estabelece um equilíbrio entre
centro do tão polarizado debate sobre tecnologia e de- os incentivos privados aos inovadores e o interesse
público de maximizar o acesso aos frutos da inovação.
Este equilíbrio aparece reflectido no artigo 27º da
CAIXA 5.5 Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948,
A inovação da IAVI na investigação em rede
a qual reconhece que "Todos têm direito à protecção
A despesa mundial com o desenvolvimento de IAVI negociou com os seus parceiros públicos dos interesses morais e materiais ligados a qualquer
uma vacina para a SIDA é de 300 milhões de e privados. A expectativa da IAVI é de que
produção científica, literária ou artística da sua auto-
dólares – apenas 10% do que a Europa e os Es- uma empresa (ou um dos seus parceiros es-
tados Unidos gastam em medicamentos para tratégicos) seja o fabricante e distribuidor último ria" e que "Todos têm direito … de participar no pro-
tratar o HIV/SIDA. Para corrigir este dese- da vacina. Mas se a empresa, posteriormente, gresso científico e nos seus benefícios". Igualmente, o
quilíbrio extremo, em 1994, a Fundação Rocke- não quiser, ou não for capaz, de distribuir a
acordo TRIPS da Organização Mundial do Comércio
feller lançou um programa que resultou, em vacina aos sectores públicos dos países em de-
1996, na Iniciativa Internacional da Vacina da senvolvimento a preços comportáveis, per- apela a um equilíbrio entre "a promoção da inovação
SIDA (IAVI). A missão é acelerar o desen- dendo, assim, o tempo e o dinheiro das novas tecnológica e … a transferência e disseminação da tec-
volvimento, fabricação e distribuição de vacinas tecnologias, a IAVI é livre de procurar fornece- nologia".
da SIDA a preços acessíveis para os sectores dores alternativos. A IAVI teria direito a uma
A transferência de tecnologia, bem como a ino-
públicos dos países em desenvolvimento. licença não exclusiva, para encontrar um fabri-
A IAVI está a fazê-lo através da criação de cante alternativo que produza a vacina para vação, tiveram um papel chave na história da industria-
parcerias criativas entre a indústria, a academia venda apenas ao sector público, e somente para lização. Mas se essa transferência se fez por vias formais,
e o sector público. O objectivo: obter uma dúzia os países em desenvolvimento.
ou por vias informais, variou muito. A industrialização
de vacinas através de desenvolvimento inicial e, Embora este acordo seja apelativo, exis-
depois, obter duas ou três através de grandes ex- tem complicações adicionais, tais como chegar tem criado, tradicionalmente, capacidade nacional
periências clínicas. Alguns resultados positivos a acordo sobre preços comportáveis, ou sobre através da reprodução das tecnologias de economias
já são evidentes: em Janeiro de 2001, as expe- o tratamento da propriedade intelectual paten- avançadas. Mas muitas das economias avançadas actuais
riências clínicas tiveram início no Quénia, para teada que os parceiros industriais possam
recusaram-se a conceder patentes ao longo do século
testar a primeira vacina da SIDA da IAVI. trazer com eles. Existem possibilidades reais
A iniciativa está a abrir novos caminhos, de de bloquear patentes e acordos de troca de li- XIX e princípios do século XX, ou encontraram for-
várias formas. Primeiro, a investigação concen- cenças, que poderão contrariar a aplicação mas legais e ilegais de as rodear – como é ilustrado pelas
tra-se na variedade A do HIV e, portanto, des- das opções da IAVI de ficar de fora. Estes por-
muitas formas de pirataria intelectual praticadas pelos
tina-se às necessidades dos países em menores, a ser trabalhados caso a caso, serão
desenvolvimento – ao contrário de grande parte o teste para saber se as parcerias publico-pri- países europeus durante a Revolução Industrial (caixa
da investigação da SIDA, que se concentra nas vadas podem trazer bons resultados para todas 5.6). Eles formalizaram e impuseram direitos de pro-
variedades comuns nos países ricos. Segundo, a as partes. priedade intelectual gradualmente, à medida que pas-
IAVI mostra que as redes de investigação podem As perspectivas parecem boas. Os centros
savam de utilizadores líquidos da propriedade
funcionar: cientistas da Universidade de Oxford de investigação académica foram atraídos pela
e da Universidade de Nairobi e fabricantes da Ale- proposta da IAVI. Umas quantas empresas intelectual para produtores líquidos; vários países eu-
manha e Reino Unido passaram a vacina princi- biotecnológicas – com ideias, mas com pouco ropeus – incluindo a França, Alemanha e Suíça – com-
pal da concepção para as experiências clínicas capital – juntaram também a sua colaboração,
pletaram o que é agora a protecção padrão apenas nos
num tempo recorde. Terceiro, através destas tais como a Alphavax, da Carolina do Norte, e
redes, a IAVI encorajou a formação de capaci- os seus parceiros na África do Sul. A Aventis, anos 60 e 70.
dade local, trabalhando com investigadores dos uma das "quatro maiores" produtoras de vaci- Actualmente, contudo, os direitos da propriedade
países em desenvolvimento e utilizando os médi- nas do mundo, também manifestou interesse nas intelectual estão a apertar-se em todo o mundo. En-
cos locais para conduzirem as experiências. parcerias com a IAVI, quando chegar a altura
quanto signatários do acordo TRIPS, os países em de-
Mas, a experiência mais importante, são as de fazer experiências clínicas de grande enver-
condições da propriedade intelectual que a gadura nos países em desenvolvimento. senvolvimento estão agora a implementar sistemas
Fonte: Berkley 2001; IAVI 2000; The Economist 2001. nacionais de direitos da propriedade intelectual seguindo
um conjunto estabelecido de padrões mínimos, tais

102 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


como os 20 anos de protecção de patentes; os países ganização Mundial da Propriedade Intelectual rece-
menos desenvolvidos têm mais 11 anos para o fazer. beu 30 candidaturas de patentes com mais de 1.000 pági-
Neste novo regime mundial, dois problemas estão nas, atingindo várias delas 140.000 páginas.
a criar novas barreiras ao progresso no desenvolvi- Estas duas tendências dificultam a inovação e trans-
mento humano. Primeiro, está a aumentar o consenso ferem o conhecimento tradicional para mãos privadas:
de que os direitos da propriedade intelectual podem ir • Dificultando a inovação. As patentes não são ape-
longe demais, estorvando, mais do que encorajando, a nas um output da investigação, são também um input.
inovação e redistribuindo injustamente a propriedade E quando utilizadas em excesso, podem limitar o de-
do conhecimento. Segundo, existem sinais de que as car- senvolvimento do produto nas negociações de licencia-
tas estão dispostas contra a implementação justa do mento e nos custos de transacção, criando incerteza e
TRIPS. riscos de "patentes submarino" – reclamações muito im-
portantes que apenas vêm à superfície quando a inves-
QUANDO OS DIREITOS DE PROPRIEDADE tigação está em curso. Sem uma melhor informação
INTELECTUAL VÃO LONGE DEMAIS sobre os pedidos de patentes e uma troca mais fácil de
meios patenteados, os investigadores arriscam-se a
Os direitos da propriedade intelectual fizeram aumen- perder tempo inventando em torno da tecnologia paten-
tar o investimento privado em indústrias como a in-
dústria agrícola, as farmacêuticas e o software, ao CAIXA 5.6
permitirem a captação dos ganhos de investigação. Lições da história dos direitos de propriedade intelectual
O número de patentes solicitado aumentou extraordi- A transferência de tecnologia teve um papel cen- adquirir através da contratação de trabalhadores
nariamente ao longo dos últimos 15 anos – no Estado tral na revolução industrial, mas a protecção da e da importação de máquinas, e o licencia-
propriedade intelectual não foi, de forma al- mento de patentes tornou-se cada vez mais im-
Unidos, de 77.000 em 1985, para 169.000 em 1999.7 guma, a única via e nem sempre foi respeitada. portante. A maior parte dos actuais países
O Tratado de Cooperação sobre Patentes, da Organi- Até meados do século XIX, o meio mais im- industrializados introduziram as patentes por
zação Mundial da Propriedade Intelectual aceita uma portante de transferência de tecnologia foi a volta de 1850, seguidas de leis de protecção dos
contratação de trabalhadores especializados, direitos de autor e de marcas registadas. Mas
candidatura internacional única válida em muitos países;
que traziam os conhecimentos tecnológicos houve excepções importantes. A lei de patentes
o número de candidaturas internacionais cresceu de necessários. Os trabalhadores especializados da Suíça foi fraca até 1907 – quando a Ale-
7.000 em 1985 para 74.000 em 1999.8 Muito deste au- dos países industrialmente avançados tinham manha ameaçou com sanções ao comércio – e
mento reflecte um boom na actividade inovadora, mas grande procura, o que implicou a acção dos não cobria as indústrias químicas e farmacêu-
governos. Em 1719, as tentativas francesas e rus- ticas, até 1978. Os Estados Unidos, apesar de
algum reflecte alterações menos benignas. sas para recrutar trabalhadores britânicos – es- serem um forte proponente dos direitos de
Primeiro, o âmbito dos pedidos de patentes pecialmente os qualificados em indústrias de lãs, patentes, não reconheceram os direitos de autor
alargou-se – especialmente nos Estados Unidos, aquele metais e de relojoaria – estimularam o Gover- para estrangeiros, até 1891.
no britânico a banir a emigração de trabalha- Apesar da emergência dos direitos de pro-
que estabelece as tendências sobre a prática de patentes.
dores especializados, tornando-as puníveis com priedade intelectual internacionais entre estes
Desde patentes sobre genes, cuja função pode ser des- multas, ou mesmo prisão. Os trabalhadores países, continuaram a quebrar as regras. No
conhecida, até patentes sobre métodos de comércio emigrantes que não regressassem a casa no final do século XIX, os fabricantes alemães
electrónico tais como a compra "um clique", muitos prazo de seis meses após o aviso, podiam perder encontraram formas de infringir as leis britâni-
as suas terras, propriedades e cidadania. cas sobre marcas registadas, produzindo a cute-
acreditam que os critérios de "falta de clareza" e de uti- À medida que as tecnologias se foram in- laria de contrafacção Sheffield com logotipos
lidade industrial estão a ser aplicados demasiado livre- corporando nas máquinas, o centro das atenções falsos e colocando o selo do país de origem ape-
mente. As autoridades das patentes têm sido acusadas mudou para o controlo das exportações. Em nas na embalagem, ou fora de vista – como por
1750, a Grã-Bretanha baniu a exportação de exemplo, na base das máquinas de costura.
de actuar como prestadores de serviços aos candidatos
"instrumentos e utensílios" das indústrias de lãs Que implicações tem esta história, actual-
a patentes, não como guardas rigorosos do domínio e sedas, para, em 1781, alargar estas medidas mente? Primeira, os direitos de propriedade in-
público. a "qualquer máquina, motor, instrumento, telectual rigorosos e uniformes não foram a
Segundo, o uso estratégico de patentes tornou-se prensa, papel, utensílio ou apetrecho". Mas, em única maneira das tecnologias serem transferi-
resposta, os empresários e técnicos da Bélgica, das entre os países industrializados de hoje – ape-
também mais agressivo, porque estas são reconhecidas Dinamarca, França, Holanda, Noruega, Rússia sar dos argumentos frequentemente apresentados
como um activo comercial fundamental. Pequenas mu- e Suécia arquitectaram novas formas de obter por estes países sobre a importância do acordo
danças em produtos com patentes em final de vida – es- as tecnologias, frequentemente com consenti- TRIPS. Segunda, cada país traçou o seu próprio
mento explícito do Estado, ou mesmo enco- caminho, e o seu próprio passo, na introdução
pecialmente medicamentos – são utilizadas para
rajamento activo, incluindo ofertas de concessão da protecção da propriedade intelectual – salien-
perpetuar os direitos monopolistas. Além disso, algu- para determinadas tecnologias. tando a importância dos países criarem, hoje, as
mas candidaturas a patentes apresentam as suas ino- Em meados do século XIX, as tecnologias suas próprias estratégias, mesmo dentro do
vações com pouca clareza, exagerando a capacidade de fundamentais eram demasiado complexas para regime multilateral.
avaliação dos directores de patentes e a capacidade de
Fonte: Chang 2001.
entendimento de outros investigadores. Em 2000 a Or-

INICIATIVAS MUNDIAIS PARA CRIAR TECNOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO 103


teada e ficando de fora de caminhos inteiros de inves- como o Brasil e a Malásia, beneficiarão provavelmente
tigação. do estímulo da inovação local. Países mais pobres, onde
• Transferindo o conhecimento tradicional para a inovação formal é mínima, enfrentarão provavel-
detentores privados. O sistema de patentes convida mente custos mais elevados sem os benefícios com-
a reivindicações sobre a inovação indígena e de base pensatórios.
comunitária, permitindo que possa ser formalmente • Legislação nacional diversa. Os padrões míni-
representada e patenteada por outros. Casos indignos mos do TRIPS para a propriedade intelectual devem
de patentes reclamadas falsamente são os casos do estar reflectidos na legislação nacional. Mas existe bom
açafrão da Índia e, mais recentemente, do feijão enola raio de acção para as estratégias nacionais dentro do
mexicano. Reclamar, utilizar e defender patentes é quadro multilateral. O impacte do TRIPS dependerá
mais fácil para a indústria privada do que para os ins- parcialmente de os países escolherem as estratégias que
O jogo dificilmente é justo titutos públicos e para as comunidades inovadoras melhor sirvam os seus interesses.
(quadro 5.1). Reconhecendo a necessidade de corrigir • Demasiado recentes para avaliar. O acordo TRIPS
quando os jogadores
o desequilíbrio resultante do acesso às patentes, a Or- entrou em vigor, na maior parte dos países em desen-
têm forças tão desiguais, ganização Mundial da Propriedade Intelectual lançou volvimento, em Janeiro de 2000; os países menos de-
uma iniciativa para fornecer formas alternativas de senvolvidos têm até 2006. Com a implementação ainda
económica
protecção (caixa 5.7). em curso e as indústrias ainda a adaptarem-se, existe por
e institucionalmente enquanto pouco conhecimento prático sobre os efeitos
A EXECUÇÃO ACTUAL DO TRIPS: da alteração legislativa.
NOVOS OBST Á CULOS • Determinados com base em casos legais. O TRIPS,
AO DESENVOLVIMENTO HUMANO como outros acordos da Organização Mundial do
Comércio, é um acordo que assenta sobre um quadro
Os pontos de vista sobre o impacte esperado do acordo legal. As suas implicações serão julgadas à medida que
TRIPS sobre os países em desenvolvimento variam se resolverem as disputas. Isso dá grande importância
muito. Por várias razões, os resultados prováveis ainda ao método baseado nos casos legais e ao poder dos
não são claros: participantes envolvidos.
• Situações nacionais diversas. O impacte do TRIPS Um simples conjunto de regras mínimas pode pare-
variará de acordo com o desenvolvimento económico cer criar um campo de jogo nivelado, uma vez que um
e tecnológico de cada país. Países de rendimento médio, mesmo conjunto de regras se aplica a todos. Mas o jogo

QUADRO 5.1
Quem tem acesso efectivo ao pedido de patentes?
Empresas Institutos públicos Comunidades
Questão multinacionais de Investigação agrícolas

De acordo com a lei Os contractos de trabalho Os contratos de trabalho podem O conceito de inventor
da propriedade intelectual asseguram que os inventores assegurar que os inventores individual é estranho
o inventor tem de ser subordinam a maior parte ou subordinam a maior parte ou em muitas comunidades
designado todos os seus direitos à empresa todos os seus direitos ao instituto e pode gerar conflitos

Os critérios sobre patentes O foco da atenção das empresas Mais centrados na investigação Dado que estes critérios
incluem inovação nos pequenos melhoramentos básica, os institutos não podem, têm pouco a ver com o
e acto inventivo cumpre normalmente frequentemente, processo de invenção
os critérios cumprir os critérios da comunidade,
são difíceis de cumprir

O aconselhamento jurídico As empresas possuem Os institutos têm pouca capacidade As comunidades não podem,
de advogados especializados departamentos jurídicos interna e acesso limitado normalmente, suportar os
em patentes é dispendioso internos e fácil acesso a consultoria especializada custos ou obter aconselha-
a consultores especializados dispendiosa mento básico ou especializado

Os detentores de patentes devem As empresas utilizam tácticas Os institutos não têm, As comunidades consideram
defender as suas patentes agressivas, utilizando os pedidos frequentemente, defesa forte quase impossível monitorizar
ao abrigo da lei civil de patentes para reclamar de patentes e desistem, – sem falar em confrontar –
o seu espaço de mercado perante as pressões políticas, as infracções às patentes
de enfrentar o sector privado em todo o mundo.
Fonte: UNDP 1999a.

104 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


dificilmente é justo quando os jogadores têm forças tão Trazer à prática as medidas sobre transferência
desiguais, económica e institucionalmente. Para os países de tecnologia. Para além do campo das negociações,
de baixos rendimentos, implementar e impor o regime as medidas sobre transferência de tecnologia escritas
de direitos da propriedade intelectual pressiona os já es- em muitos acordos internacionais têm resultado fre-
cassos recursos e qualificações administrativas. Sem bom quentemente em promessas no papel. Considerem-se
aconselhamento sobre a criação de legislação nacional que três exemplos. O Protocolo de Montreal, de 1990,
permita extrair o máximo do que o TRIPS estabelece, e sobre Substâncias que Diminuem a Camada do Ozono,
sob a pressão intensa de alguns dos principais países apesar do seu sucesso global, trouxe conflitos sobre os
para a introdução de legislação para além da requerida compromissos para assegurar o acesso justo e favorável
pelo TRIPS, muitos países legislaram eles próprios numa dos países em desenvolvimento aos substitutos de clo-
posição desvantajosa. Além disso, os elevados custos rofluocarbonetos (CFC) protegidos pelos direitos da
das disputas com os principais países do mundo são de- propriedade intelectual. A Convenção sobre Diversi- O acordo TRIPS tem de ser
sanimadores, desencorajando os países de afirmar os dade Biológica, de 1992, pretende assegurar o uso im-
aplicado de forma justa
seus direitos – daí a importância de assegurar que é parcial e equitativo dos recursos genéticos, em parte
prestada ajuda legal adequada através da Organização através de cooperação tecnológica, mas as suas normas
Mundial do Comércio. tecnológicas têm recebido pouca atenção, ou foram
Se o jogo é para ser jogado de forma justa, pelo reduzidas. E o acordo TRIPS, de 1994, apela à trans-
menos duas mudanças essenciais têm de ter lugar. ferência tecnológica para os países menos desenvolvi-
Primeira, o acordo TRIPS tem de ser aplicado de forma dos, ainda que essa medida pouco se tenha traduzido
justa. E segunda, os compromissos ao abrigo deste e de em acção (caixa 5.8). Desde a Convenção Quadro das
outros acordos multilaterais, para promover a transfe- Nações Unidas sobre Alterações Climáticas até à Con-
rência de tecnologia, têm de ser reavivados.
Assegurar a implementação justa do acordo
CAIXA 5.7
TRIPS. Ao abrigo do TRIPS, os países podem utilizar Tornar globalmente relevante o regime mundial dos direitos
o licenciamento compulsivo – permitindo o uso de uma da propriedade intelectual
patente sem o consentimento do detentor da patente – Os recursos genéticos, o conhecimento tradi- prioritário passível de investigação (para re-
num conjunto de circunstâncias que devem incorporar cional e expressões do folclore ganharam novo duzir as hipóteses de serem atribuídas patentes
na sua própria legislação. Casos típicos são os da uti- valor científico, económico e comercial para os a "invenções" já bem conhecidas nas comu-
países em desenvolvimento. Mas, o impacte nidades tradicionais), a publicação de infor-
lização nas emergências de saúde pública e como me- dos direitos de propriedade intelectual sobre mação sobre leis e regimes consuetudinários e
didas antimonopolista para manter a concorrência no a conservação, uso e partilha de benefícios, o registo de experiências das populações indí-
mercado. O TRIPS permite também aos países esco- destes recursos tem sido controverso. genas, utilizando os direitos de propriedade
Um regime de direitos de propriedade in- intelectual para proteger o seu conhecimento
lherem se permitem, ou não, a importação de bens
telectual não é justo se for global na imposição, tradicional.
patenteados de outros países, onde são vendidos pela mas não o for nos instrumentos que provi- Em 2000, os estados membros do OMPI
mesma empresa, mas a preços muito mais baixos. Muitos dencia. A lei da propriedade intelectual – criaram uma Comissão Intergovernamental
países industrializados incluem estas medidas na sua patentes, protecção dos direitos de autor, mar- sobre a Propriedade Intelectual e os Recursos
cas comerciais, desenho industrial, indicações Genéticos, Conhecimento Tradicional e o Fol-
legislação e na sua prática, como parte de uma estraté- geográficas – surgiu das necessidades dos clore. Com a criação desta entidade, os estados
gia nacional para o uso dos direitos da propriedade in- inventores na Revolução Industrial. Mas, membros mostraram que chegou a altura para
telectual. Contudo, sob pressão e sem aconselhamento os protectores dos recursos genéticos, do a discussão intergovernamental destas questões.
conhecimento tradicional e do folclore têm Para o trabalho da Comissão é fundamental a
adequado, muitos países em desenvolvimento não as in-
hábitos, instituições, necessidades e formas melhor compreensão e gestão das relações entre
cluíram na sua legislação, ou são contestados quando de trabalho diferentes, que não estão ainda re- a propriedade intelectual e a conservação, o uso
as tentam por em vigor. Estas medidas legais raramente flectidos de forma adequada neste enquadra- e partilha de benefícios dos recursos genéticos,
prendem a atenção pública – mas as consequências mento. conhecimento tradicional e folclore. O objec-
Em resposta, a Organização Mundial da tivo será o desenvolvimento de padrões de pro-
sobre o desenvolvimento da sua implementação desfa- Propriedade Intelectual (OMPI) lançou, em priedade intelectual internacionalmente aceites,
vorável, podem prendê-la. O exemplo mais forte é o de- 1998, uma iniciativa para tornar mais relevantes para a regulação do acesso e partilha de bene-
bate, que recentemente tem atraído a atenção pública, os direitos de propriedade intelectual. Os es- fícios dos recursos genéticos e para a protecção
forços envolvem o patrocínio de workshops do conhecimento tradicional e de expressões
sobre o acesso dos países em desenvolvimento aos
para os povos indígenas e outros, sobre a pro- do folclore. O desfio é assegurar que o sistema
medicamentos contra o HIV/SIDA. Ele tem aumentado tecção do conhecimento tradicional, a prestação internacional de propriedade intelectual se
a consciência pública sobre as implicações de grande al- de informação sobre o modo como o conheci- torna relevante e adequado para todas as co-
cance dos direitos da propriedade intelectual e realçado mento tradicional se pode tornar parte do saber munidades.
a necessidade urgente de uma implementação justa do Fonte: WIPO 2001b; Wendland 2001.
TRIPS (destaque 5.1).

INICIATIVAS MUNDIAIS PARA CRIAR TECNOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO 105


DESTAQUE 5.1
FACILITAR O ACESSO AOS MEDICAMENTOS DO HIV/SIDA ATRAVÉS DA IMPLEMENTAÇÃO JUSTA DO TRIPS

Em todo o mundo, 36 milhões de pessoas vivem vendas – conhecido como licenciamento compul-
com HIV/SIDA. Cerca de 70% destas estão na África sivo. A questão é que estas medidas podem tornar-
Subsariana – um em cada sete quenianos adultos, um se em prática quando são mais necessárias.
em cada cinco sul-africanos, um em cada quatro zim-
babwenses e um em cada três botswanos. Esta epi- Prover acesso aos medicamentos é apenas uma parte
demia tem sido comparada à peste do século XIV que do combate à SIDA – mas é uma parte importante.
varreu toda a Europa-só que agora existem trata- Pode aumentar significativamente a qualidade e du-
mentos salvadores. Desde 1996, uma combinação ração de vida das pessoas já infectadas, assim como
de três medicamentos anti-retrovirais reduziu ex- ajudar a prevenção, encorajando outras a fazerem
traordinariamente as mortes por SIDA nos países in- testes, e reduzir a transmissão do vírus de mãe para
dustrializados. filho. Mais, tais medicamentos podem dar uma mo-
tivação muito necessária para melhorar os sistemas
Estes medicamentos salvadores são produzidos sob de distribuição de serviços de saúde em países em
patente por algumas empresas farmacêuticas nos desenvolvimento. Contudo, em Dezembro de 2000,
Estados Unidos e Europa. Antes da Ronda do os anti-retrovirais estavam avaliados mundialmente
Uruguai das negociações do Acordo Geral Sobre Tar- em 10.000 a 12.000 dólares, por paciente, ao ano,
ifas e Comércio (GATT), durante a qual o acordo longe de serem comportáveis para governos de países
sobre os Aspectos dos Direitos de Propriedade In- onde vivem as pessoas mais afectadas. Àquele preço,
telectual Relacionados com o Comércio (TRIPS) em 1999, a prestação de tratamento teria custado ao
foi adoptado, 50 países não davam protecção de Quénia pelo menos o dobro do seu rendimento na-
patentes aos produtos farmacêuticos, o que lhes cional e à Zâmbia mais do triplo (ver quadro). Em
permitia produzir ou importar versões genéricas de consequência, apenas 0,1% dos 25 milhões de pes-
baixo custo de medicamentos patenteados. Tal soas com HIV/SIDA na África Subsariana têm
atribuição de patentes foi introduzida em França ape- acesso a estes medicamentos salvadores.
nas em 1960, na Alemanha em 1968, no Japão em
1976 e na Itália, Suécia e Suíça em 1978. No entanto, Estão a ser desenvolvidas duas respostas conjugadas
o TRIPS exige patentes de produtos para 20 anos a a esta situação urgente: o estabelecimento dos preços
todos os membros da Organização Mundial de dos medicamentos de marca, por níveis, e a pro-
Comércio. dução de medicamentos genéricos.

Ao mesmo tempo, o acordo permite aos países in- Várias iniciativas estão em curso para estabelecer
cluírem, nas legislações nacionais, salvaguardas con- preços diferenciados para os medicamentos de
tra os monopólios de patentes que poderiam ser marca. A iniciativa de Aceleração do Acesso foi
prejudiciais em circunstâncias extraordinárias de in- lançada em Maio de 2000 pelo Programa Con-
teresse público. O acordo não impede os países de junto das Nações Unidas sobre o HIV/SIDA e
importarem medicamentos de marca que são vendi- cinco das maiores empresas farmacêuticas:
dos mais baratos noutros países – conhecidos como Boehringer Ingelheim, Bristol-Myers Squibb, F.
importações paralelas. E, em alguns casos, permite Hoffman-La Roche, GlaxoSmithKline and Merck.
aos países utilizarem patentes sem a permissão do seu As reduções dos preços têm sido negociadas por
detentor, em troca de um royalty razoável sobre as empresa e por país e, até Abril de 2001, os Ca-
marões, Costa do Marfim, Mali, Ruanda, Senegal
e Uganda negociaram preços que devem ser de
1.000 a 2.000 dólares por pessoa, ao ano. Mas,
As diferenças na capacidade de financiar o tratamento da SIDA em 1999
este processo não tem seguido, na prática, as ex-
Suíça Quénia Uganda Zâmbia pectativas: negociações lentas são contrárias à
urgência da crise da SIDA e, com os termos dos
Popula o 7 milh es 30 milh es 23 milh es 10 milh es
acordos mantidos em segredo, alguns críticos sus-
Pessoas com HIV 17.000 2.100.000 820.000 870.000
peitam que as reduções de preços dependem da in-
Custo do tratamento de todos os infectados
trodução de legislação ainda mais rigorosa sobre
com medicamentos antiretovirais, a pre os
a propriedade intelectual. Eles têm apelado a re-
de mercado mundiais, a cerca de 12.000 d lares
duções de preços mais acentuadas, indiscrimi-
por pessoa ao ano (d lares) 204 milh es 25 milh es 10 milh es 10 milh es
nadas e anunciadas publicamente. A Merck, Abbott
Custo do tratamento em % do PIB 0,08 238 154 336
Laboratories, Bristol-Myers Squibb e Glaxo-
Despesa p blica com cuidados
-SmithKline deram passos nessa direcção em Março
de sa de em % do PIB, 1998 7,6 2,4 1,9 3,6
de 2001 – o começo promissor daquilo que precisa
Despesa total com cuidados
tornar-se, urgentemente, uma tendência geral.
de sa de em % do PIB, 1998 10,4 7,8 6.0 7,0

Ao mesmo tempo, versões genéricas dos antiretro-


Fonte: UN 2001c; Hirschel 2000; World Bank 2001h; UNAIDS 2000b.
virais estão a ser produzidas a preços muito abaixo

106 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


dos preços mundiais, por fabricantes no Brasil, Âmbito do acordo TRIPS
Cuba, Índia e Tailândia. Em Fevereiro de 2001, a em- Alguns detentores de patentes reclamam que os
presa indiana Cipla ofereceu uma terapia de três medicamentos genéricos da SIDA violam os seus di-
medicamentos combinados a 600 dólares por pes- reitos, segundo o acordo TRIPS. Mas em algumas cir-
soa, ao ano, aos governos e a 350 dólares aos Médi- cunstâncias, como para emergências nacionais, uso
cos Sem Fronteiras e outras organizações não público não comercial e medidas antimonopolistas,
governamentais; muitos acreditam que, com o tempo o acordo permite aos governos emitir licenças com-
e a concorrência, os preços dos medicamentos genéri- pulsivas para produtores internos ou estrangeiros
cos vão cair para 200 a 250 dólares. O desenvolvi- de medicamentos genéricos. Introduzido pela
mento nos preços, tornado possível pelos genéricos, primeira vez na legislação Britânica sobre propriedade
abriu extraordinariamente as possibilidades de trata- intelectual, em 1883, o licenciamento compulsivo
mento nos países em desenvolvimento, como é tem sido parte da lei e da prática de muitos países du-
mostrado pela política pioneira do Brasil. Em 1993, rante mais de um século – incluindo a Austrália,
o Brasil começou a produzir antiretrovirais genéri- Canadá, Alemanha, Irlanda, Itália, Nova Zelândia,
cos e distribuiu-os gratuitamente, poupando vidas Reino Unido e Estados Unidos.
e dinheiro. Desde 1996, as mortes caíram para
metade; em 1997-99, o governo poupou 422 milhões Até se juntar à de Comércio Livre Norte-Ameri-
de dólares em custos de hospitalização e mais cerca cano (NAFTA) em 1992, o Canadá emitia habit-
de 50 milhões na redução de custos de tratamento ualmente licenças compulsivas para os produtos
de doenças oportunistas. farmacêuticos, pagando uma taxa de royalty de 4%
sobre o preço de venda líquido. Entre 1969 e
Estas duas respostas estão ligadas: os preços in- 1992, tais licenças foram concedidas em 613 casos
dustriais têm caído frequentemente em resposta à de importação ou fabricação de medicamentos
concorrência efectiva ou potencial dos produtores genéricos. Só em 1991-92, esta prática poupou
de genéricos. Mas, embora isto crie concorrência, aos consumidores canadianos um valor estimado
também cria controvérsia. Desde a Tailândia ao de 171 milhões de dólares em custos de medica-
Brasil e África do Sul, empresas que produzem mentos. Desde a adopção do acordo TRIPS, as li-
produtos farmacêuticos de marca têm-se oposto às cenças compulsivas têm sido usadas no Canadá,
estratégias dos países em desenvolvimento de com- Japão, Reino Unido e Estados Unidos para pro-
baterem o HIV/SIDA através da produção, ou da dutos como os fármacos, computadores e produ-
importação, de medicamentos genéricos de baixo tos relacionados, software e biotecnologia –
custo – embora estas empresas tenham sido lentas particularmente como medidas antimonopólio
na criação de acesso mundial aos seus medica- para evitar a pouca concorrência e os preços mais
mentos. São apresentados três argumentos para altos. Nos Estados Unidos, o licenciamento com-
aquela oposição: os receios de reimportações, o pulsivo tem sido utilizado como solução em mais
âmbito do acordo TRIPS e os incentivos à investi- de 100 acordos antimonopólio, incluindo casos que
gação e desenvolvimento. envolveram antibióticos, esteróides sintéticos e
várias patentes de biotecnologia básica.
Receios de reimportações
As empresas farmacêuticas temem que, quer os Em contraste, nenhuma licença compulsiva foi
medicamentos de marca, quer os genéricos de preços emitida a sul do Equador. Porquê? A pressão da
reduzidos, possam ser reimportados para os seus Europa e dos Estados Unidos levam muitos países
mercados de origem, reduzindo a sua base de ven- em desenvolvimento a temer a perda do investi-
das principal. Mesmo que os medicamentos mais mento directo estrangeiro se legislarem sobre li-
baratos não se divulguem no mercado interno, a in- cenças compulsivas, ou as utilizarem. Além disso,
formação sobre os preços extraordinariamente mais tentativas de uso destas licenças poderiam resul-
baixos no estrangeiro irá divulgar-se, conduzindo os tar em longos e dispendiosos litígios contra a in-
consumidores internos a procurá-los. Estes temores dústria farmacêutica. Mas podem ser utilizados
requerem políticas para os enfrentar. Educar os con- modelos legislativos alternativos para evitar a ên-
sumidores e agências de compras sobre as razões para fase na litigação e para criar medidas adequadas às
preços diferentes nos países em desenvolvimento necessidades dos países em desenvolvimento.
pode criar compreensão e aceitação do sistema de
preços diferenciados. O controlo de exportações Transformar as medidas de licenciamento compul-
nos países em desenvolvimento e a exigência de pre- sivo em opções políticas realizáveis significa criar
visões pelos fornecedores, podem impedir a emergên- uma estrutura legal adequada aos países em desen-
cia dos mercados de re-exportação. E dar nova volvimento. Cinco aspectos que se recomendam:
designação e nova embalagem aos medicamentos • Abordagem administrativa. Qualquer sistema
de preços reduzidos, com formas e cores diferentes, que seja demasiado legalista, caro de administrar ou
poderá tornar as suas origens mais transparentes. facilmente manipulável é de pouca utilidade; a me-

GLOBAL INITIATIVES TO CREATE TECHNOLOGIES FOR HUMAN DEVELOPMENT 107


DESTAQUE 5.1
FACILITAR O ACESSO AOS MEDICAMENTOS DO HIV/SIDA ATRAVÉS DA IMPLEMENTAÇÃO JUSTA DO TRIPS (continuação)

lhor opção é uma abordagem administrativa que e aplicada e mesmo através de experiências clínicas.
Vendas de produtos farmacêuticos possa ser aerodinâmica e processual. Mas uma vez transferidos sob licença exclusiva para
no mercado mundial, 2002
• Medidas governamentais fortes. O acordo as empresas farmacêuticas para desenvolvimento,
Percentagem dos rendimentos previstos TRIPS dá aos governos amplos poderes para au- acabam por ser patenteados e comercializados a
torizar o uso de patentes para uso público não preços de monopólio. Entender os verdadeiros cus-
comercial e esta autorização pode ser acelerada, tos da investigação e desenvolvimento para a indús-
América do Norte 41,8 sem as habituais negociações. Nenhum país em tria farmacêutica é fundamental para avaliar o impacte
desenvolvimento devia ter medidas de utilização dos medicamentos genéricos nos incentivos ao in-
públicas mais fracas do que a lei alemã, irlandesa, vestimento. Uma análise de séries de valores pode ser
britânica ou norte-americana sobre tal prática. utilizada para decompor os custos de cada etapa,
• Permissão de produção para exportação. mas a falta de dados transparentes da indústria cria
A legislação deve permitir a produção para expor- avaliações divergentes. Uma alternativa para discu-
tação, quando a falta de concorrência numa classe tir os dados é criar uma entidade pública, ou não lu-
Europa 24,8 de medicamentos tenha dado ao mercado mundial crativa, de desenvolvimento de medicamentos, para
produtor um poder que impede o acesso a medica- levar a investigação pública até à etapa final e colo-
mentos alternativos, ou quando os legítimos inter- car os medicamentos resultantes no domínio público,
Japão 11,3 esses do dono da patente estão protegidos no para serem produzidos concorrencialmente e ven-
mercado de exportação – como, por exemplo, didos próximo do custo marginal.
América Latina & Caraíbas 7,5
quando esse mercado fornece uma compensação ra-
Ásia do Sudeste/China 5,0
zoável. Entre Dezembro de 2000 e Abril de 2001, a pos-
Médio Oriente 2,6 • Regras credíveis sobre compensação. A com- sibilidade de tratamento transformou-se, para as
Europa do Leste 1,8
Subcontinente indiano 1,8 pensação tem de ser previsível e fácil de administrar; pessoas com SIDA no mundo em desenvolvi-
Australásia 1,3 as directrizes sobre royalties reduzem a incerteza e mento. O preço do tratamento caiu de, pelo
África 1,3
CEI 0,8 aceleram as decisões. A Alemanha tem usado taxas menos, 10.000 dólares para menos de 600 dólares
de 2 a 10%, enquanto no Canadá o Governo costu- por pessoa, ao ano. Esta oportunidade deve ser
mava pagar royalties de 4%. Os países em desen- levada à prática. Em Março de 2001, o governo
Fonte: IMS HEALTH 2000.
volvimento poderiam ter um prémio extra de 1 a 2% do Botswana agarrou esta oportunidade, anun-
para produtos de valor terapêutico especial e menos ciando que ela iria proporcionar acesso nacional
Indústrias lucrativas – 1 a 2% quando a investigação e desenvolvimento livre aos antiretrovirais. Globalmente, os recur-
Produtos farmacêuticos no topo da lista tenha sido parcialmente coberta por fundos públi- sos têm de ser mobilizados para criar um trust
cos. fund para prevenção e tratamento do HIV/SIDA,
Retorno médio sobre o rendimento para
500 empresas Fortune, 1999 (percentagem)
• A discussão exige divulgação. O ónus deverá cair que poderia ser administrado pelas Nações
sobre o detentor da patente para apoiar reclamações Unidas, com base em medicamentos – incluindo
20
de que a taxa do royalty é inadequada. Isto ajudará genéricos – oferecidos ao melhor preço mundial.
Produtos farmacêuticos a promover a transparência e a desencorajar recla- Em Abril de 2001, o Secretário-geral das Nações
mações intimidadoras mas injustificadas. Unidas, Kofi Annan, apelou a uma grande cam-
Bancos comerciais
panha para angariar 7 a 10 mil milhões de dólares
15 Incentivos à investigação e desenvolvimento anualmente para um fundo mundial destinado à
As empresas produtoras de fármacos de marca batalha contra o HIV/SIDA e outras doenças in-
reclamam que a concorrência dos genéricos vai fecciosas.
Telecomunicações corroer os seus incentivos para investir na investi-
10 gação e desenvolvimento longa e onerosa, a qual Uma solução a mais longo prazo envolve a criação
dura 12 a 15 anos e custa 230 a 500 milhões de da capacidade de fabrico de produtos farmacêuti-
Computadores, dólares, por cada medicamento. Mas, as ameaças cos nos países em desenvolvimento. Em Março de
equipamento de escritório da concorrência dos genéricos são contestáveis. 2001, o Parlamento Europeu apoiou o uso do li-
Produtos químicos A África deverá contribuir para apenas 1,3% das cenciamento compulsivo e apelou à cooperação
5 Companhias de aviação
vendas de fármacos, em 2002 – dificilmente uma tecnológica para reforçar a capacidade produtiva dos
parcela de mercado passível de influenciar as de- países em desenvolvimento. Um apoio mais amplo
cisões de investimento mundial (ver figura em cima, a estas medidas, seguido de acção, será essencial para
à esquerda). assegurar que tal crise de acesso não ocorrerá de
0 novo, quer com o HIV/SIDA, quer com futuras epi-
Para além disso, a alta rendibilidade da indústria demias de saúde.
Fonte: Fortune 2000. farmacêutica incitou a uma maior exploração dos cus-
tos contraídos (ver figura em baixo, à esquerda).
Muitos medicamentos da SIDA foram financiados Fonte: Correa 2001 and 2000; Harvard University 2001; Médecins
Sans Frontières 2001a; Love 2001; Oxfam International 2001; Weiss-
com fundos públicos, através de investigação básica man 2001.

108 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


venção para o Combate à Desertificação, pouca atenção apesar de tão elevado investimento, a investigação man-
tem sido dada aos compromissos sobre transferência tém-se deploravelmente inadequada às tecnologias mais
de tecnologia. necessárias ao desenvolvimento. Existem poucos dados
O fulcro do problema está em que, embora a tecno- disponíveis sobre quanto é gasto exactamente em ne-
logia possa ser um instrumento de desenvolvimento, ela cessidades de desenvolvimento – um sinal da falta de
é também um meio de vantagem competitiva na econo- atenção dada a este problema.
mia mundial. O acesso às tecnologias do ambiente e far- Em 1992, menos de 10% da despesa mundial de
macêuticas patenteadas, por exemplo, podem ser investigação com a saúde destinava-se a 90% dos en- FIGURA 5.2
essenciais para proteger a camada de ozono e salvar vidas cargos mundiais com as doenças. Apenas 0,2%, por Despesas de investigação e
desenvolvimento nos países da OCDE
em todo o mundo. Mas para os países que as detém e exemplo, era dedicada à investigação sobre a pneu-
Milhares de milhões de dólares de 1998
as vendem, elas são uma oportunidade de mercado. monia e a diarreia – 11% dos encargos mundiais com 600
Apenas quando os dois interesses se reconciliarem – as doenças.11 Esta diferença de financiamentos gera
Total
através, digamos, de financiamento público adequado diferenças na investigação e nos medicamentos. Em 500
– a implementação justa do acordo TRIPS se tornará 1995 foram publicados mais de 95.000 artigos cien-
400
numa possibilidade real. tíficos relevantes sobre terapias, mas somente 182 –
0,2% do total – tratavam de doenças tropicais. E, 300
EXPANDIR O INVESTIMENTO EM TECNOLOGIAS dos 1223 novos medicamentos comercializados em
PARA O DESENVOLVIMENTO todo o mundo entre 1975 e 1996, apenas 13 foram de- 200
Estado
senvolvidos para tratar doenças tropicais – e apenas
100
As tecnologias em falta não são apenas uma questão de 4 foram o resultado directo da investigação da in-
protecção imperfeita dos direitos da propriedade inte- dústria farmacêutica.12 A reafectação de apenas 1% 0
lectual nos países em desenvolvimento. Alguns merca- da despesa mundial de investigação com a saúde con- 1990 1998
dos são, economicamente ou ecologicamente, demasiado tribuiria com um adicional de 700 milhões de dólares
Fonte: Bonn International Center for Conversion
pequenos para motivar a investigação privada – local ou para a investigação prioritária sobre as doenças dos 2000.

internacional – mesmo quando a propriedade intelec- pobres.13


tual está protegida. Quem investiria em investigação pro-
longada sobre vacinas, para serem vendidas a governos
CAIXA 5.8
de países onde a despesa pública com a saúde é tão baixa Promessas no papel, execução inadequada
quanto 10 dólares por pessoa, ao ano? Quem iria em-
Os compromissos de transferência de tecnologia CFC, recusou licenciar a produção destes sub-
preender uma investigação biotecnológica onerosa sobre são fundamentais para muitos acordos inter- stitutos a fabricantes dos países em desen-
uma variedade de mandioca, para ser vendida a agricul- nacionais. Mas, assim que as negociações volvimento, como a Índia e a Coreia do Sul,
tores de subsistência, em terras marginais, num punhado acabam, muitas destas medidas são ignoradas onde o seu elevado custo de importação limi-
ou aplicadas superficialmente. tou a difusão alargada de uma tecnologia am-
de países africanos? Quando os mercados são demasi-
O acordo TRIPS da Organização bientalmente sã.
ado pequenos para motivar a investigação privada, o fi- Mundial do Comércio apela aos países mem- A Convenção Sobre Diversidade Bi-
nanciamento público é essencial – e os decisores políticos bros desenvolvidos para "darem incentivos às ológica procura a conservação da biodiversi-
têm de tomar a liderança, trabalhando muito de perto empresas e instituições nos seus territórios, com dade, o uso sustentado das suas componentes
o objectivo de promover e encorajar a trans- e a promoção da partilha justa dos benefícios
com a indústria. ferência de tecnologia para os países membros que resultam do uso dos recursos genéticos –
A investigação e o desenvolvimento de tecnolo- menos desenvolvidos, de forma a habilitá-los a inclusivamente, através do financiamento e
gias viradas para as necessidades dos pobres têm sido criar um base tecnológica forte e viável". Con- transferência apropriados das tecnologias rele-
tudo, as obrigações que isto impõe receberam vantes. A Convenção criou um órgão sub-
subfinanciados, desde há muito. Apesar das possibili-
atenção e acção inadequadas. sidiário para identificar as tecnologias e
dades das transformações tecnológicas, este continua a O Protocolo de Montreal sobre Subs- know-how, inovadores, eficientes e mais
ser o caso. Sem um mecanismo de transferências mundi- tâncias que Destroem a Camada de Ozono avançados, relacionados com a conservação e
ais, não existe uma fonte de financiamento empenhada. compromete os países industrializados a dar uso sustentado da biodiversidade, e dar acon-
todos os passos práticos para assegurar que os selhamento sobre as formas de promover o
E o financiamento público voluntário, nacional e in- melhores substitutos ambientalmente seguros, desenvolvimento e transferência de tais tec-
ternacional é, desde há muito, inadequado. disponíveis, e as tecnologias relacionadas, são nologias. Mas, grande parte da atenção tem in-
Em 1998, os 29 países da OCDE gastaram 520 mil rapidamente transferidos para os assinantes cidido sobre a biosegurança – importante mas,
do Protocolo e que as transferências se fazem apenas uma das muitas funções necessárias
milhões de dólares em investigação e desenvolvimento9
em condições justas e favoráveis. No entanto, para fazer com que a tecnologia apoie a preser-
– mais do que o produto económico conjunto dos 30 a DuPont, detentora das patentes de substitutos vação da biodiversidade.
países mais pobres do mundo.10 Nos últimos 10 anos,
uma parcela crescente dessa investigação tem sido fi- Fonte: WTO 1994; UNEP 1992a, e 1998; Juma e Watal 2001; Mytelka 2000.

nanciada pelo sector privado (figura 5.2). Contudo,

INICIATIVAS MUNDIAIS PARA CRIAR TECNOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO 109


Embora a investigação agrária ofereça um potencial mais de 95% da investigação e desenvolvimento mundial
tremendo às melhorias de produtividade, nos países em sobre energia com financiamentos públicos,18 e a questão
desenvolvimento ela está a atrasar-se. Por cada 100 central não está nas tecnologias compatíveis com as
dólares de PIB agrícola, em 1995, os países industriali- atribuições de recursos, necessidades e capacidades
zados reinvestiram 2,68 dólares em investigação e dos países em desenvolvimento. As energias renováveis,
desenvolvimento agrário público; os países em desen- um potencial benefício para os países em desenvolvi-
FIGURA 5.3
volvimento, apenas 0,62 dólares (figura 5.3).14 A inves- mento, recebem pouca atenção. Embora a sua parte na
Investimento público tigação agrária é negligenciada quer pelos governos investigação e desenvolvimento sobre energia dos prin-
na investigação agrícola nacionais quer pela comunidade internacional. Porquê? cipais países industrializados tenha duplicado depois de
Percentagem do PIB agrícola
Primeiro, por causa da percepção de que o ex- 1975, ela representou, em média, apenas 7,5% do total,
3.0 cesso mundial de bens alimentares significa que a in- entre 1985 e 1999 (figura 5.4).
Países
industrializados vestigação em produtividade já não é necessária. Mas O resultado: um vivo contraste entre a agenda de
2.5
aquele excesso não está nas mãos das pessoas que pre- investigação mundial e as necessidades de investigação
2.0 cisam dele: aumentos de produtividade para os agricul- mundiais.
tores de baixos rendimentos continuam a ser essenciais • Em 1998, a despesa mundial de investigação sobre
1.5
para aumentar a segurança alimentar e erradicar a po- a saúde foi de 70 mil milhões de dólares; apenas 300 mi-
1.0
breza. Segundo, com a diminuição dos preços mundi- lhões de dólares foram dedicados a vacinas contra o
Países em ais dos bens alimentares, as políticas agrícolas HIV/SIDA e cerca de 100 milhões de dólares à inves-
desenvolvimento
0.5 proteccionistas – particularmente na União Europeia – tigação sobre a malária.19
estão a resultar em exportações de bens alimentares a • A investigação agrária privada ultrapassou 10 mil
0
1975 1995 baixos preços para os países em desenvolvimento, pelo milhões de dólares em 1995; o Grupo Consultivo para
que os mercados locais estão a ser debilitados. Ter- a Investigação Agrícola Internacional estima que irá
Fonte: Pardley e Beintema 2001. ceiro, os aumentos na investigação agrícola privada dos necessitar apenas de 400 milhões de dólares anuais,
países industrializados tornaram menos clara a neces- para cumprir a sua agenda de investigação nos próxi-
FIGURA 5.4 sidade de manter o investimento público nas culturas mos anos, mas ainda não conseguiu aumentá-la.20
Prioridades para a investigação e necessidades dos países em desenvolvimento. • Em 1998, os países da OCDE investiram 51 mil mi-
e desenvolvimento em energia nos
nos principais países industrializado A investigação pública agrária internacional está lhões de dólares em investigação sobre a defesa – um
igualmente em dificuldades, apesar da evidência clara contraste óbvio de prioridades.21
Parcelas da despesa pública na I&D em energi
1985-99 (percentagem) dos seus elevados retornos. O financiamento para o Porque é que o financiamento público da investi-
57 Grupo Consultivo para a Investigação Agrícola Inter- gação para o desenvolvimento humano é tão baixo? Em
nacional estagnou: cresceu de menos de 300 milhões de parte, porque o investimento em tecnologia raramente
dólares ao ano nos anos 70 para um pico de 378 milhões tem sido visto como um instrumento central de desen-
de dólares em 1992, mas até ao ano 2000 diminuiu volvimento. Entre as agências bilaterais e multilaterais
para 336 milhões de contos.15 Ao mesmo tempo, o tem havido, desde há muito, uma falta de empenho
número de centros de investigação na rede cresceu e o institucional nos programas de investigação:
seu mandato alargou-se. O efeito? Os recursos para a • Foco nacional mais do que mundial. A noção de
investigação destinada a aumentar a produtividade das programação mundial não é ainda familiar em muitas
culturas caíram de 74% do total, entre 1972-76, para agências, e as intervenções dos países não se centram em
10,7 39%, entre 1997-98.16 bens públicos mundiais, tais como a vacina contra a tu-
7,5
As tecnologias de novas energias estão também berculose, ou a investigação básica sobre o plasma bio-
subfinanciadas. A despesa de investigação e desen- lógico.
Nuclear Combustível Renovável
fóssil volvimento é baixa, quer em relação ao valor directo da • Inexistência de avaliação clara do uso desses re-
despesa com energia, quer em relação aos impactes cursos. O sistema de relato para a ajuda dos doadores
Nota: Refere-se aos 23 principais países
industrializados. ambientais negativos das fontes convencionais de ener- da Comissão de Ajuda ao Desenvolvimento não inclui
Fonte: IEA 2000.
gia. Depois da alta súbita que o financiamento sofreu uma linha orçamental para os recursos atribuídos à in-
na sequência da crise energética de 1979, a investigação vestigação e desenvolvimento. Tal linha é necessária
e desenvolvimento sobre a energia têm vindo a cair: para para prestar informação sobre esses esforços e encora-
23 dos principais países industrializados, a despesa jar uma maior atenção sobre eles.
pública reduziu-se de 12,5 mil milhões de dólares, em • Demasiadas pequenas iniciativas. As pequenas ini-
1985, para 7,5 mil milhões de dólares, em 1999 (a preços ciativas podem ser experimentais e inovadoras, mas
de 1999).17 Apenas nove países da OCDE contabilizam esforços demasiado fragmentados – em vez de investi-

110 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


mentos estrategicamente coordenados – negligenciam Mundial de Saúde e a Organização para a Alimentação
as necessidades de investimento maiores. e Agricultura têm um mandato para ajudar os países em
• Exigência de resultados a curto prazo. Os pro- desenvolvimento a explorar os benefícios e gerir os riscos
gramas de desenvolvimento de base tecnológica bem da tecnologia. Mas para o fazer, necessitam de uma lide-
sucedidos exigem longa experimentação. Mas a política rança inspirada e financiamento adequado dos seus
e os horizontes de curto prazo de muita da ajuda bila- membros. Os membros dos governos doadores do Banco
teral e multilateral, limitaram investimentos que levam Mundial e de bancos de desenvolvimento regional, es-
15-20 anos a mostrar resultados. tabeleceram fundos de garantia para a investigação
As fundações privadas, a maior parte nos Estados agrária e programas ambientais. A mesma abordagem
Unidos, têm vindo a assumir algum do combate ao poderia ser utilizada para aumentar os fundos que os ban-
abrandamento, desde as fundações Rockefeller e Ford cos podem distribuir (incluindo a grupos privados) para
que financiaram a revolução verde nos anos 60 e 70, até assegurar que os países em desenvolvimento beneficiam Há um vivo contraste
à Fundação Gates com a sua enorme ajuda actual à in- de novas possibilidades tecnológicas Os accionistas po-
entre a agenda
vestigação sobre saúde pública. Mas os montantes que diam igualmente concordar em utilizar algum do rendi-
elas providenciam são ainda pequenos. As fontes tradi- mento dos bancos para estas iniciativas mundiais – da investigação mundial
cionais de financiamento precisam de ser renovadas e as embora isso requeresse amplo consenso entre os que
e as necessidades
novas fontes, asseguradas. pedem empréstimos e os que não pedem. Em 2000,
• Doadores bilaterais. Se os governos doadores au- cerca de 350 milhões de dólares do rendimento do Banco de investigação mundiais
mentassem a ajuda pública ao desenvolvimento em cerca Mundial foram transferidos para o seu departamento de
de 10% e dedicassem o aumento à investigação tecno- empréstimos sem juros, para empréstimos aos países
lógica, desenvolvimento e difusão, haveria 5,5 mil milhões mais pobres.24 Um montante muito mais pequeno, dedi-
de dólares na mesa (com base na ajuda de 1999). Eles cado ao desenvolvimento tecnológico para países de
poderiam ir mais longe e tomar a sério o padrão estabe- baixos rendimentos, permitiria ir muito longe.
lecido para a ajuda pública ao desenvolvimento, de 0,7% • Trocas de dívida por tecnologia. Em 2000, os
do PNB. Se o tivessem feito, em 1999 a ajuda pública ao pagamentos oficiais do serviço da dívida pelos países em
desenvolvimento teria aumentado de 56 mil milhões de desenvolvimento foram de 78 mil milhões de dólares.25
dólares para 164 mil milhões de dólares22 – e, dedicar 10% Uma troca de apenas 1,3% deste serviço da dívida por
deste valor à tecnologia, teria gerado mais de 16 mil mi- investigação e desenvolvimento tecnológico teria gera-
lhões de dólares. do mais de mil milhões de dólares.
• Governos dos países em desenvolvimento. Alguns • Fundações privadas. Umas quantas fundações
países em desenvolvimento estão a financiar projectos tiveram um empenhamento exemplar no investimento
de investigação sofisticados, um meio essencial para em investigação de longo prazo; muitas outras pode-
tornar os esforços mundiais localmente relevantes. riam seguir esse exemplo. E os países em desenvolvimento
Mesmo para os governos com orçamentos limitados, o podiam introduzir incentivos fiscais para encorajar os seus
investimento na adaptação local da investigação é essen- multimilionários a criar fundações com um campo de
cial e pode ter elevados ganhos. Mas às vezes o problema acção regional. Em 2000, o Brasil tinha 9 multimilionários
não é uma falta de fundos. Em 1999, os governos da com uma riqueza conjunta de 20 mil milhões de dólares,
África Subsariana dedicaram 7 mil milhões de dólares a Índia tinha 9 com 23 mil milhões, a Malásia tinha 5 com
às despesas militares.23 Seria essa a escolha certa das prio- 12 mil milhões, o México tinha 13 com 25 mil milhões,
ridades, para um continente com necessidades tecno- a Arábia Saudita tinha 5 com 41 mil milhões.26 Tais fun-
lógicas tão urgentes noutras áreas? Desviar apenas 10% dações podiam dar importantes contributos para agen-
teria aumentado 700 milhões de dólares, mais do dobro das de investigação regionalmente relevantes.
da despesa corrente com a investigação de vacina do • Indústria. Com os seus recursos financeiros, inte-
HIV/SIDA. lectuais e de investigação, a indústria poderia dar um
• Organizações internacionais. Os governos mem- contributo inestimável atribuindo uma parcela dos lu-
bros das organizações internacionais não conjugaram a cros à investigação sobre produtos não comerciais –
retórica da preocupação com os problemas mundiais com uma sugestão feita pelo director de investigação da No-
um empenhamento sério. Muitos destes problemas – a vartis, uma das maiores companhias farmacêuticas
propagação da doença, riscos ambientais – são causados suíças. Considerando apenas a indústria farmacêutica,
ou podem ser enfrentados pelas aplicações tecnológicas. se as 9 maiores entre as 500 companhias Fortune
As agências das Nações Unidas, como a Organização tivessem dedicado somente 1% dos seus lucros a tal in-

INICIATIVAS MUNDIAIS PARA CRIAR TECNOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO 111


vestigação em 1999, teriam gerado 275 milhões de enormes poupanças. Depois dos custos de pessoal, os
dólares.27 produtos farmacêuticos são geralmente o maior item nos
Os fundos derivados destas diversas fontes pode- orçamentos públicos de saúde. Assim, em 1986, os
riam ser distribuídos de várias maneiras, de forma a tirar nove governos da Organização dos Estados das Anti-
partido de novas parcerias e estruturas institucionais. lhas Orientais juntaram as suas aquisições de produtos
Grupos regionais, tais como a reavivada Comunidade farmacêuticos. As compras por grosso favoreceram
da África Oriental, poderiam reunir os fundos nacionais preços muito mais baixos: em 1998 os preços con-
para criar fundações científicas regionais – modeladas tratados regionalmente foram 38% mais baixos do que
pela Fundação Nacional de Ciência dos Estados Unidos os preços por cada país individualmente.28
– que se centrassem nas necessidades regionais e canali- As alianças regionais estão também a ser utilizadas
zassem auxílios para as instituições regionais e mundiais na criação de infra-estruturas para transpor a desigual-
Grupos regionais melhor equipadas para trabalhar no novo ambiente de dade digital. A Associação dos Estados do Sudeste
investigação. Os fundos de doadores poderiam jun- Asiático (ASEAN) lançou o Grupo de Trabalho do
poderiam reunir os fundos
tar-se a elas, construindo centros regionais fortes que Comércio Electrónico da ASEAN em 1999. Enquanto
nacionais para criar estabelecessem as suas próprias prioridades e agendas primeiro corpo consultivo público-privado da ASEAN,
de investigação. o grupo de trabalho está a desenvolver uma acção re-
fundações científicas
gional abrangente para competir na economia de in-
regionais PROVISÃO DE APOIO INSTITUCIONAL formação mundial, com o investimento privado centrado
REGIONAL E MUNDIAL na criação de infra-estruturas e a política pública cen-
trada na criação de melhor ambiente legal e regulador.
Sem cooperação mundial, muitos bens públicos irão Um acordo de referência sobre políticas regionais re-
deixar de ser fornecidos em quantidades suficientes cebeu, então, o empenho dos governos membros em
nos mercados nacionais, ou falham completamente. matérias que variam entre o alargamento da capaci-
São necessárias iniciativas, quer regionais, quer mundiais. dade de conexão e criação de conteúdo, até à criação
de um ambiente regulador sem entraves e um mercado
COOPERAÇÃO REGIONAL : electrónico comum.
FORMAÇÃO DE ALIANÇAS
INICIATIVAS MUNDIAIS: PROVISÃO DE APOIO
Mercados amplos, consistentes, acessíveis, estimulam
melhor o investimento tecnológico, tornando mais fácil Os mecanismos formais e informais de governação
a cobertura dos custos de investigação e infra-estruturas. podem ajudar a preencher os mercados incompletos, a
Os países pequenos podem ultrapassar as barreiras da proteger os recursos comuns, a promover normas co-
dimensão, criando alianças regionais para desenvolver muns e a prestar informação. Seguem-se alguns exem-
a investigação, fazer aquisições conjuntas e construir plos.
infra-estruturas. Preenchimento dos mercados incompletos. Ins-
As alianças na investigação e difusão de tecnologias tituições financeiras fracas em países em desenvolvi-
podem ser eficazes se consagrarem uma preocupação mento podem entravar a difusão de tecnologias
regional comum e puserem em comum qualificações e altamente eficazes. Há uma enorme procura potencial
recursos. Na investigação agrária, por exemplo, a adap- de electricidade nos mercados exteriores às redes eléc-
tação local da investigação internacional é sempre tricas, especialmente nas áreas rurais, e os sistemas fo-
necessária. Mas para os países pequenos, em regiões eco- tovoltaicos solares para usos domésticos oferecem uma
logicamente idênticas, os sistemas de investigação agrária forma segura de satisfazer a procura de electricidade,
autónomos – cada um investigando um conjunto de cul- com eficiência de custo e ambientalmente limpa. No en-
turas e de problemas – podem não fazer sentido, devido tanto, eles atingiram muito menos de 1% do mercado
à sobreposição de despesas gerais e duplicação de in- potencial. Três das razões são financeiras: a falta de
vestigação. A Internet cria redes de colaboração mais um financiamento de médio prazo que permitisse às
fáceis do que nunca. As iniciativas na África Central e famílias repor, ao longo do tempo,29 o custo de insta-
Oriental e na América Latina mostram o potencial para lação de 500-1000 dólares, uma falta de conhecimento
tal colaboração (caixa 5.9). sobre os mercados fotovoltaicos pelos intermediários fi-
Da mesma maneira, as alianças para baixar os cus- nanceiros convencionais e uma fraca capitalização de
tos dos produtos de tecnologia sofisticada podem colher muitas companhias fotovoltaicas. Para preencher a la-

112 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


cuna a uma escala mundial, o Banco Mundial, a Inter- países pobres. As iniciativas poderiam financiar a in-
national Finance Corporation e várias organizações não vestigação em aplicações para os países em desenvolvi-
lucrativas, estabeleceram a Solar Development Corpo- mento, aumentar o conhecimento sobre o software de
ration. Através da prestação de financiamento, capital fontes abertas entre os decisores políticos e advogar o
de funcionamento e aconselhamento nos negócios aos seu uso no sector público – uma opção já tomada em
distribuidores fotovoltaicos nos países em desenvolvi- países como o Brasil, China e México.
mento, a iniciativa ajudará o mercado a descolar. Promoção de normas comuns. As normas co-
Protecção dos recursos comuns. A biodiversidade muns são essenciais para uma inovação e produção de
fornece aos agricultores e cientistas as matérias-primas tecnologias mundialmente difundida. Sem elas, a in-
– recursos em plantas genéticas – para criar culturas mais certeza e a falta de credibilidade fragmentam o mercado
robustas, nutritivas e produtivas. A protecção e preser- e estilhaçam a procura. Até há pouco as pilhas, con-
vação das variedades tradicionais de culturas dão um versores e baterias que constituem os sistemas de energia
contributo essencial ao desenvolvimento agrícola, em- fotovoltaicos não seguiram nenhum produto mundial
bora muitas destas culturas tenham sido substituídas por ou sistema padrão – causando problemas de qualidade
novas variedades e já não possam ser encontradas nos
campos dos agricultores. Actualmente, mais de 6 mi-
CAIXA 5.9
lhões de amostras de recursos em plantas genéticas são ASARECA e FONTAGRO –
conservadas em cerca de 1.300 colecções nacionais, re- promoção da colaboração regional na investigação pública agrícola
gionais, internacionais e privadas. Mas em resultado da Cada um dos 10 países da África Oriental e Cen- de batata e 16 de batata-doce. As novas varie-
extensiva duplicação entre colecções, 11 Centros de Co- tral possui um pequeno sistema de investigação dades são resistentes às doenças, tolerantes
lheitas Futuras mantém colectivamente 60% das agrícola nacional. Em 1998, estes sistemas em- aos solos ácidos e marginais e têm melhor
pregavam o equivalente a 2.300 cientistas a tempo qualidade pós-colheitas. Além disso, os rendi-
amostras únicas mundiais, nos seus bancos de genes. Em integral – comparativamente a 2.000 na Indonésia mentos destas variedades melhoradas são, no
1996, 150 países chegaram a acordo sobre um Plano de e 40.000 tanto na China como na Índia. Dada a mínimo, três vezes superiores aos das varie-
Acção Global para Recursos em Plantas Genéticas, dimensão da região e a diversidade ecológica, ne- dades locais. Financiada a 30% pela Agência
nhum país poderia responder sozinho a todas as Norte Americana para o Desenvolvimento In-
prometendo desenvolver um sistema mundial de ban-
suas necessidades de investigação. Por con- ternacional e a 70% pelos sistemas de investi-
cos de genes, racional, para eliminar duplicações e me- seguinte, foi fundada, em 1994, a Associação gação nacionais, a rede da batata está a dar bons
lhor coordenar as colecções mundiais. A execução para o Reforço da Investigação Agrícola na África resultados para o financiamento da investi-
deste plano irá custar um valor estimado em mil milhões Oriental e Central (ASARECA), para melhorar gação.
a gestão dos sistemas nacionais de investigação Na América Latina e Caraíbas, o Fundo
de dólares – equivalentes a apenas 3% da despesa anual agrícola, aumentar o uso eficiente de recursos Regional de Tecnologia Agrária (FONTA-
com a investigação agrária mundial entre 1993-95.31 escassos, obter economias de escala e tornar a in- GRO) foi criado, em 1998, para promover a
Existem igualmente recursos comuns para prote- vestigação mais capaz de responder às necessi- investigação agrária de interesse para os países
dades dos agricultores e às exigências do mercado. da região e das Américas. Um fundo progra-
ger e aumentar a computação. Softwares de fontes aber-
A ASARECA constitui também uma forma de mado de 200 milhões de dólares está a ser
tas são o resultado de quantidades inumeráveis de canalizar apoio dos centros internacionais de in- constituído pelos países membros. A FONTA-
contribuições voluntárias de todo o mundo. Os por- vestigação agrícola, dos institutos de investigação GRO concede subvenções aos institutos pú-
menores de funcionamento do software não podem ser avançada, do sector privado e dos doadores. blicos de investigação e empresas, às
A Associação coordena 18 redes, pro- universidades e organizações não governa-
ocultados, assim como o software patenteado, e deve gramas e projectos, concentrados em produ- mentais, que trabalham com organizações de
manter-se acessível a todos que o queiram consultar – tos primários como o milho, trigo, hortícolas investigação regionais e internacionais. Os
tornando – o ideal para aprender o desenvolvimento do e bananas, assim como em questões transver- projectos de investigação, seleccionados de
sais como a informação e comunicações, o forma competitiva e transparente, concen-
software e adequado para a adaptação local, um bene-
processamento pós-colheitas e os recursos de tram-se nas questões prioritárias identificadas
fício nos países em desenvolvimento. O seu custo é plantas genéticas. Os resultados têm sido im- entre os ecossistemas agrícolas da região. Vinte
baixo, frequentemente grátis, permitindo aos governos pressionantes. A rede da batata, por exem- projectos diferentes estão a ser financiados
fazer com que os seus orçamentos de tecnologias de in- plo, foi estabelecida em 1994, porque cada presentemente, variando da batata, papaia e
país tinha apenas um ou dois cientistas con- árvores de frutos andinos até ao café, bananas
formação e comunicações vão bastante mais longe. centrados no estudo da batata e da batata- e arroz. Ao apoiar a investigação de relevo na
Software de fontes abertas podem acelerar a revo- doce. A reunião das competências num fundo região, a FONTAGRO está a promover a in-
lução da tecnologia de informação e comunicações se comum gerou uma massa crítica de conheci- vestigação aplicada e estratégica em centros na-
mentos especializados: uma rede equivalente cionais de investigação. E ao colocar os
a sua utilização descolar numa escala suficientemente
a 22 cientistas a trabalhar a tempo inteiro sobre investigadores em rede, está a ajudar a trans-
ampla. Em que é que as iniciativas mundiais podem aju- a batata e 15 sobre a batata-doce. Desde 1998, ferir e construir capacidade técnica da maior
dar? Para começar, o Grupo de Trabalho das Nações esta rede lançou, na região, 14 novas variedades relevância para a região.
Unidas sobre as Tecnologias de Informação e Comu- Fonte: Mrema 2001; Moscardi 2000; FONTAGRO 2001.
nicações poderia dar publicidade aos seus benefícios,
estimulando a investigação e desenvolvimento local nos

INICIATIVAS MUNDIAIS PARA CRIAR TECNOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO 113


e frustração dos consumidores e arriscando a reputação tecnologia, identificando o que está disponível para
de toda a tecnologia. Em resposta, em 1997, a indús- uso, e como, estabelecendo um esquema de preços e
tria, as instituições financeiras e as agências governa- monitorizando e impondo contratos, a câmara de com-
mentais formaram o Programa de Aprovação Mundial pensação poderia ser um passo importante no sentido
dos Sistemas Fotovoltaicos. Esta organização não lu- de resolver o problema colectivo da investigação agrária.
crativa promove padrões internacionais, processos de • Os custos de ligação à Internet. Em todo o mundo,
gestão de qualidade e de formação organizativa sobre as pessoas pagam preços muito diferentes para aceder
o projecto, produção, venda, instalação e manutenção, à Internet, frequentemente devido às tarifas discrimi-
dos sistemas fotovoltaicos. natórias cobradas pela backbone, nos Estados Unidos,
Da mesma maneira, as normas comuns são essen- ou devido aos altos custos das chamadas telefónicas
ciais para a unidade e alargamento da Internet. Pro- domésticas. Um serviço valioso seria o de fornecer
As instituições tocolos como, por exemplo, o Protocolo de Controlo dados on-line para todos os países, mostrando os cus-
de Transmissões/Protocolo Internet (TCP/IP) – pro- tos comparativos das tarifas internacionais, os fornece-
internacionais estão
jectado para maximizar a conexão entre sistemas in- dores de serviços da Internet e as chamadas telefónicas
a lutar para enfrentar formáticos – são modelados e refinados pelo Grupo de locais. Um maior conhecimento das discrepâncias in-
Trabalho de Engenharia de Internet, o principal fórum justificadas capacitaria os decisores políticos e os gru-
os desafios
mundial para os promotores, operadores e vendedores pos de consumidores para exigir tarifas niveladas
da transformação de software. À medida que os padrões da Internet mensalmente aos prestadores de serviços Internet, tari-
evoluem, os principais intervenientes da indústria vão fas telefónicas internacionais transparentes e não dis-
tecnológica
pressionar para que os seus padrões patenteados sejam criminatórias e taxas niveladas, e chamadas telefónicas
utilizados, dando-lhes vantagem de mercado mas locais baratas.
ameaçando impedir a inovação competitiva. O grupo
de trabalho vai ter de resistir àquela pressão e assegu- REORIENTAR AS INSTITUIÇÕES
rar que as estruturas básicas da Internet são abertamente E INICIACTIVAS INTERNACIONAIS
negociadas e estão disponíveis aos promotores em
todo o mundo. As instituições internacionais estão a lutar para en-
Prestação de informação. Uma informação acurada frentar os desafios da transformação tecnológica. Dado
e atempada sobre as oportunidades do mercado mundial que novos desafios, como doenças contagiosas,
é crucial para dar aos decisores políticos, nos países em degradação ecológica, crimes electrónicos, armas de
desenvolvimento, oportunidades de adquirir, adaptar biosegurança e biológicas, vão continuar a surgir, são
e utilizar as tecnologias. A Internet é o veículo ideal para necessárias novas atitudes e abordagens para criar os en-
assegurar que tal informação está disponível para os de- quadramentos institucionais que possam enfrentá-los.
cisores políticos em toda a parte. Que tipo de informação Sendo o lugar de encontro dos governos mundiais, as
é necessário? Nações Unidas têm um papel a desempenhar, mas são
• Fornecimentos médicos. Dados sobre fornece- necessárias inovações institucionais. O que pode ser
dores, preços e estatuto das patentes dos medicamen- feito?
tos de qualidade aprovada, genéricos ou de marca, são Reconhecer que a governação da tecnologia
essenciais para permitir aos decisores políticos fazer o mundial começa em casa. A governação mundial da
melhor com os seus sobreesticados orçamentos de tecnologia é largamente uma expressão da vontade
saúde. Esta função foi mandatada pela Assembleia colectiva – frequentemente desequilibrada – dos gover-
Mundial de Saúde devido à sua importância na nos e de outros actores, de reconhecer a importância da
atribuição de poder aos governos para negociarem as ciência e tecnologia no desenvolvimento. Os acordos
aquisições. mundiais só são eficazes na medida em que os gover-
• Uma câmara de compensação da propriedade nos estejam empenhados em fazê-los. O primeiro passo
intelectual. Identificar e registar os pedidos de patentes é o dos países reconhecerem que a saúde pública, a ali-
individuais da investigação sobre biotecnologia agrí- mentação e nutrição, a energia, as comunicações e o am-
cola é complexo. Um comércio mundial mais justo e mais biente, são questões de política pública merecendo
eficiente de materiais genéticos patenteados, plasma séria atenção através de uma política de tecnologia. Por
biológico e tecnologias aplicadas, tornar-se-ia possível exemplo, o reconhecimento pelo Departamento de Es-
através de câmaras de compensação. Identificando toda tado Norte-Americano do HIV/SIDA como uma
a propriedade intelectual relevante para uma dada questão de segurança nacional ajudou a melhorar o

114 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


perfil da saúde pública global. Muito poucos países em sem precedentes. Os doadores bilaterais e multilaterais
desenvolvimento seguiram este exemplo, embora a falta poderiam dar muito maior apoio à formação para que
de saúde e a fome sejam as maiores ameaças à segurança os decisores políticos desenvolvam uma análise de
humana em muitos deles. Dar maior prioridade na- política tecnológica, lançando um novo quadro profis-
cional à ciência e tecnologia pode trazer um novo im- sional – muito necessário para clarificar o papel da
pulso à articulação destas ameaças ao nível global. ciência e tecnologia no desenvolvimento. As entidades
Lançar novas ideias sobre tecnologia e desen- científicas nacionais poderiam identificar as necessi-
volvimento. A atenção inadequada ao papel da ciência dades de formação e encorajar as universidades a de-
e tecnologia no desenvolvimento humano é uma das senvolver currículos apropriados.
principais insuficiências do sistema mundial que governa É necessária capacidade, quer interna, quer inter-
a mudança tecnológica. Apesar do reconhecimento gene- nacionalmente. É largamente aceite que as prioridades
ralizado de que o conhecimento é fundamental para o locais devem determinar a ajuda ao desenvolvimento. A atenção inadequada
desenvolvimento, a programação tradicional feita pelas Mas, na prática, isso é ainda frequentemente a ex-
ao papel da ciência
principais organizações para o desenvolvimento tem cepção: muitas estratégias de desenvolvimento são ainda
ainda de adoptar as novas ideias. As Nações Unidas conduzidas pelos interesses dos doadores, desde a es- e tecnologia no
poderiam dar a volta à questão e tornar-se num fórum colha de como atacar a malária, até quais as culturas que
desenvolvimento humano
de reunião das instituições que lideram a ciência e tecno- devem ser objecto de investigação. Uma maior defesa
logia mundial, para identificar as novas áreas de inves- da política nacional é essencial para alterar completa- é uma das principais
tigação que podem trazer a ciência e tecnologia para o mente estas participações.
insuficiências do sistema
centro do pensamento do desenvolvimento. A nível internacional, é necessária capacidade para
Melhorar a coordenação na prestação de coope- empreender negociações. A experiência recente com as mundial que governa
ração e assistência tecnológica. Quando a assistência negociações sobre biosegurança e no acordo TRIPS,
a mudança tecnológica
ao desenvolvimento para a construção de infra-estruturas mostra que apenas alguns países em desenvolvimento
e capacidade tecnológicas provém de várias fontes, têm recursos para negociar posições que sejam reflexo
pode ser ineficiente, criando duplicação e incompati- dos interesses das suas populações. Um maior en-
bilidade entre os sistemas tecnológicos. É essencial uma tendimento ajudará a produzir acordos mais justos do
melhor coordenação entre os doadores para assegurar que aqueles que actualmente causam debates tão acri-
que a sua assistência é útil, em vez de entravar o de- moniosos. Dado o provável impacte das novas regras
senvolvimento tecnológico. sobre as perspectivas da tecnologia nos países em de-
O Grupo dos Oito (G-8) Países Mais Industriali- senvolvimento, é crucial um papel mais activo nas ne-
zados está na vanguarda da produção de tecnologias de gociações mundiais. A atenção dada a estes debates
informação e comunicações. Na Cimeira de Okinawa, em tem aumentado ao longo dos últimos anos, mas os
Julho de 2000, os líderes do G-8 criaram o Grupo de Tra- países em desenvolvimento têm ainda demasiado poucos
balho para as Oportunidades Digitais, ou Força DOT, delegados relativamente às suas populações. Nas ne-
para coordenar os seus diferentes planos de redução da gociações sobre o futuro dos recursos de plantas genéti-
divisão digital mundial. A Força DOT inclui membros cas, por exemplo, os países com desenvolvimento
dos sectores publico, privado e não lucrativo, de cada país humano baixo e médio estão invariavelmente sub-repre-
G-8, assim como representantes de governos de nove sentados (figura 5.5). Estas e muitas outras negociações
países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, a China continuam a ser conduzidas por poucos países indus-
e a Índia. A colaboração visa assegurar que a assistência trializados. O financiamento à participação dos países
se centra na prestação das infra-estruturas tecnológicas em desenvolvimento não está garantido, portanto os
de informação e comunicações mais coerente para os delegados estão frequentemente em dúvida sobre a sua
países em desenvolvimento, aumentando a coerência participação até ao último minuto, chegam mal prepara-
entre as diversas iniciativas, promovendo formas ino- dos e dividem-se entre demasiados encontros. Os efeitos
vadoras de parceria entre o publico e o privado para tratar sobre as regras do jogo resultantes são inevitáveis.
das questões, e mobilizando ajuda pública ao desen- Criar regras de jogo justas. As instituições que
volvimento adicional para este esforço internacional. administram as questões da tecnologia tendem a ser
Criar capacidade de análise política. Os decisores financiadas e conduzidas por países ou grupos já
políticos dos países em desenvolvimento têm de estar comprometidos. Mas estas instituições podem ter
preparados para obter as melhores tecnologias para os uma enorme influência sobre as hipóteses de outros
seus países. Mas as questões são de uma complexidade de utilizarem tecnologia, criando potencialmente en-

INICIATIVAS MUNDIAIS PARA CRIAR TECNOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO 115


viesamentos contra os últimos a chegar ao jogo. Como Primeiro, a indústria é importante para o cresci-
em todas as áreas da governação, é necessária mento económico nacional. Na Grã-Bretanha, por
transparência e participação equilibrada. O sistema exemplo, a indústria farmacêutica contribui com perto
de atribuição de nomes de domínio da Internet é um de um quarto para a despesa de investigação e desen-
exemplo do desafio à provisão de tal equilíbrio – e é volvimento e com 60.000 empregos. Os governos temem
uma experiência sem precedentes na sua consecução que o apoio a políticas contra os interesses de tais in-
(caixa 5.10). dústrias possam levá-las a sair para o estrangeiro.32
As negociações internacionais têm falhado fre- Segundo, o financiamento industrial da política
FIGURA 5.5
quentemente no estabelecimento de regras de jogo ou tem grande poder. As contribuições industriais às cam-
De quem são as vozes ouvidas
nas negociações internacionais? na implementação justa dessas regras, criando grande panhas nos Estados Unidos, por exemplo, duplicaram
Representação nas negociações, 1998 controvérsia sobre a interpretação de acordos globais e desde 1991-92. Em 1999-2000, os principais sectores in-
Países no Mundo
a resolução de disputas internacionais. Os grupos da so- dustriais contribuíram com 400 milhões de dólares para
ciedade civil oferecem uma importante pressão com- campanhas – incluindo 130 milhões de dólares da in-
IDH IDH IDH pensatória e, por vezes, tomam a liderança no apelo à dústria de comunicações e electrónica, 65 milhões de
baixo médio elevado
mudança. Atrair a atenção mundial para uma questão dólares da indústria de recursos energéticos e naturais,
Representação nas negociações do constitui o primeiro passo, como mostram os dramáti- 58 milhões de dólares das indústrias agrícolas, 55 mi-
Empreendimento Internacional cos desenvolvimentos e alterações de posição no acesso lhões de dólares dos transportes e 26 milhões de dólares
sobre Recursos Genéticos das Plantas (FAO)
aos medicamentos do HIV/SIDA. O foco recaiu sobre das farmacêuticas (figura 5.6).
as companhias farmacêuticas, em parte porque elas Terceiro, os governos ganham poder na economia
Representação nas negociações da parecem ser os únicos actores envolvidos. Mas se as mundial à custa das suas empresas mais importantes,
Convenção sobre Diversidade Biológica suas estratégias forem contrárias ao interesse público, as por isso têm um interesse próprio no seu sucesso. Em
regras do jogo têm de ser alteradas – e isso é uma questão consequência, a indústria tem tremenda influência no
de política pública. A indústria reage a regulamentações estabelecimento de regulamentos e incentivos, com os
Font: Mooney 1999a; UNDP 2000d.
e incentivos, que são modelados pelos governos. Parece representantes industriais acompanhando os delega-
simples, mas existem várias complicações. dos dos governos às negociações de acordos como o
TRIPS. Em conjunto, estas forças criam um status
CAIXA 5.10 quo na forma como os governos estabelecem as regras
Quem administra a Internet? A ICANN! de negócio – um status quo difícil de mudar, mesmo
A governação mundial da Internet está a ser doso, levando a um complexo sistema de quando o público sabe que alguma coisa está errada.
construída. A Internet Coorporation for As- comissões consultivas e organizações de apoio. Em última análise, a excessiva influência da indústria
signed Names and Numbers (ICANN), uma Num exercício altamente publicitado, no pas- significa que a política pública traiu o público, quer
entidade privada não lucrativa sedeada nos Es- sado ano 2000, a ICANN escolheu alguns dos
tados Unidos, foi encarregada de gerir os re- seus membros de direcção através de eleições em governos nacionais, quer nas instituições interna-
cursos centrais de infra-estruturas da Internet. globais on-line; outros foram designados com cionais.
Para os dados na Internet encontrarem o seu base em regras menos transparentes. Alguns É claro que a indústria também responde perante
caminho, desde o remetente até ao destinatário, observadores salientam a importância da
os consumidores e os governos democráticos respondem
desenrola-se um sistema complexo de en- ICANN como experiência histórica, sem para-
dereçamento de nomes (nomes de domínio) e lelo, de novas formas de governação para um perante os votantes. Os consumidores podem usar o seu
correspondentes números (Protocolo Internet fenómeno mundial de múltiplos participantes. poder de mercado e os votantes a sua influência para
ou números IP). Estes nomes e números, con- Outros expressam preocupações com a po- pressionar por mudanças políticas. Os grupos da so-
hecidos como Sistema de Nomes de Domínio tencial apropriação por grupos de interesses es-
(DNS), constituem o fulcro da Internet. pecíficos. ciedade civil que lutam por resultados mais justos têm
A governação da Internet estava habit- Para garantir responsabilidade na gover- um papel importante na informação dos cidadãos e
ualmente enraizada na comunidade de inves- nação da Internet e para acomodar os dos votantes. Na falta de melhor política pública, tais
tigação dos Estados Unidos e era administrada recém-chegados dos países em desenvolvi-
grupos têm vindo a intervir, num papel tornado possível
bastante informalmente. Mas o crescimento mento, um debate aberto tem de consagrar:
explosivo da Internet, a difusão por todo o • Transparência – debate aberto e infor- – e poderoso – pela globalização e pela tecnologia da
mundo e a comercialização intensificada, torna mação para todos os participantes. informação e comunicação. É, em grande parte, graças
desapropriada a governação informal. Assim, • Representação – inclui governos, promo- ao trabalho empenhado das organizações não gover-
em 1998, o Governo dos Estados Unidos ini- tores de tecnologia da informação, utilizadores
ciou um processo para formalizar estruturas de da Internet actuais e futuros, e países de todas namentais (ONG) em todo o mundo, que a crise que
governação – dando vida à ICANN. a regiões. As eleições on-line da ICANN são ino- rodeia os medicamentos do HIV/SIDA tem ganho tanta
As avaliações da ICANN variam. O seu vadoras, mas limitadas àqueles que têm acesso atenção mundial, forçando as empresas, governos e
processo de auto-organização mandatado tem- à Internet, descuidando futuros utilizadores
agências internacionais, a repensar as possibilidades
se demonstrado extraordinariamente cuida- com diferentes necessidades e interesses.
(ver a contribuição especial dos Médicos Sem Fron-
Fonte: Zinnbauer 2001d.
teiras).

116 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


As ONG podem criar mudanças porque podem mudanças irão eles criar. E é necessária uma mudança
aumentar a consciencialização: podem pressionar política estrutural, para além dos medicamentos do
com regulamentação informal em códigos de con- HIV/SIDA. Esta crise deve ser vista como um ponto de FIGURA 5.6
duta das grandes empresas, e podem utilizar cam- entrada numa reflexão mais ampla sobre as regras do Influência da indústria
sobre a política pública
panhas de grande vulto para realçar as actividades das jogo, não sobre um caso excepcional que obtém trata-
Contribuições para os candidatos federais
empresas. Ao mesmo tempo que o interesse público mento especial. e os partidos políticos nos Estados Unidos
se centra nestas questões, as empresas têm um in- (milhões de dólares EUA de 2000)

centivo para mudarem as suas políticas, de forma a • • • Comunicações


proteger os seus pontos estratégicos da reacção dos 125 e electrónica

consumidores ou da ameaça de regulamentação mais O desafio é enorme: voltar as transformações tecno-


formal. lógicas actuais para os objectivos do desenvolvimento
Mas o interesse público tem o hábito de esmore- humano. A capacidade do que pode ser feito através da 100
cer – seja na guerra, nas fomes ou nas crises da saúde, tecnologia é surpreendente. Mas o falhanço colectivo em
sem falar nas complexidades da legislação da voltar aquela capacidade para a tecnologia necessária ao
propriedade intelectual. Quando irá o acesso aos medica- desenvolvimento é indefensável. Enquanto o potencial 75
Energia e
mentos do HIV/SIDA tornar-se uma notícia ultrapas- do que pode ser feito continua a expandir-se, irão as ino- recursos naturais
sada – e o que irá acontecer então aos preços e às vações na ciência e tecnologia ser acompanhadas por Agricultura
Transportes
patentes? O ímpeto criado pelo activismo da sociedade inovações na política para transformar o progresso tec- 50 Construção
civil deve traduzir-se numa mudança política estru- nológico mundial num instrumento de desenvolvi-
tural. Vários decisores políticos fundamentais deram in- mento? Este será o teste último à política pública na nova
Produtos
dícios do seu apoio a isto – o teste é o de verificar que era tecnológica. 25 farmacêuticos
e de saúde

Defesa

0
1991–92 1999–2000

Fonte: Centre for Responsive Politics 2001.

CONTRIBUIÇÃO ESPECIAL
Insistir na responsabilidade: uma campanha para o acesso aos medicamentos
Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) são conhecidos Os médicos dos MSF recusam-se a aceitar esta nova investigação e desenvolvimento. Os activistas
mundialmente pela sua acção de emergência, seja situação. Em nome da ética médica pessoal e dos nos países em desenvolvimento estão a exigir mais
distribuindo abastecimentos médicos em mulas no princípios nos quais os MSF foram fundados, lançá- dos seus governos. E finalmente – embora de-
Afeganistão devastado pela guerra, ou tratando mos a Campanha de Acesso a Medicamentos Essen- masiado lentamente – mais medicamentos estão
crianças subalimentadas no sul do Sudão. Mas, nos ciais para insistir na mudança. O papel dos MSF foi ao alcance dos pacientes. Mas estes são sucessos pe-
últimos anos, temos testemunhado um tipo diferente sempre o de falar sobre as injustiças que teste- quenos, temporários, naquilo que continua a ser
de desastres: os nossos pacientes estão a morrer munhamos na vida dos nossos pacientes. Por isso, uma batalha árdua. Eles não podem substituir as
não apenas devido a inundações, fome, ou minas ter- estamos a exigir que as regras internacionais de soluções políticas reais. Os MSF continuam em-
restres mas, cada vez mais, porque não conseguem comércio tratem os medicamentos como sendo fun- penhados em pressionar para melhorar o acesso aos
obter os medicamentos de que necessitam. damentalmente diferentes de outros bens; que as or- medicamentos, mas desafiam igualmente os gover-
Um terço da população mundial não tem acesso ganizações internacionais de saúde dêem prioridade nos, empresas, organizações internacionais e a so-
a medicamentos essenciais; nas partes mais pobres da aos tratamentos, em paralelo com a prevenção; que ciedade civil para que façam com que isto aconteça.
África e da Ásia, este número cresce para metade. as empresas farmacêuticas baixem os seus preços para
Com demasiada frequência, nos países onde traba- níveis comportáveis; e que os governos nacionais
lhamos, não podemos tratar os nossos pacientes cumpram as suas responsabilidades de protecção da
porque os medicamentos são demasiado caros ou já saúde pública. Em resumo, estamos a exigir um sis-
não são produzidos. Algumas vezes, os únicos medica- tema no qual a saúde pública seja protegida, em vez
mentos de que dispomos são altamente tóxicos ou in- de ser sacrificada às leis do mercado.
eficazes e ninguém procura um remédio melhor. A resposta tem sido encorajadora. O preço dos
Isto não é coincidência. O crescente poder medicamentos da SIDA caiu rapidamente, desde Morten Rostrup, M.D., Ph.D.
dos interesses comerciais, o papel cada vez menor os níveis de 1999. Os medicamentos abandonados Presidente do Conselho Internacional dos
dos governos e uma fuga geral às responsabilidades estão a voltar a ser produzidos. Os doadores dos Médicos Sem Fronteiras, vencedores do
têm-se combinado para criar a corrente crise. países ricos estão a discutir o financiamento de Prémio Nobel da Paz de 1999

INICIATIVAS MUNDIAIS PARA CRIAR TECNOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO 117


Notas

Capítulo 1 malização dos dados do rendimento e consumo provenientes


1. World Bank 2001f; UNESCO 2000b. de diferentes inquéritos, a não inclusão da saúde e educação
2. UNESCO 2000b. com financiamento público (para os quais os dados não estão
3. WHO 1997. disponíveis) e discrepâncias entre inquéritos às famílias e
4. World Bank 2001c. dados do PIB. Enquanto o estudo de Milanovic (a sair) é um
5. World Bank 2001b. importante desenvolvimento na medição da desigualdade
6. Smeeding 2000b. entre a população mundial, estas questões apontam para cami-
7. Cairncross e Jolly 2000. nhos futuros de investigação e para a necessidade urgente de
8. Cálculos do Gabinete do Relatório do Desenvolvimento Hu- mais e melhores dados sobre a distribuição do rendimento e
mano baseados em World Bank 2001g. a desigualdade dentro de um país.
9. World Bank 2001c. 38. Graham 2001.
10. UNAIDS 2000a. 39. Birdsall, Behrman e Szekely 2000.
11. UN 2001d. 40. Graham 2001.
12. UNAIDS 2000b. 41. UNDP 2000a.
13. UNDCP 1997. 42. UNDP e HDN 2000.
14. USAID 1999. 43. UNDP e HDN 1997.
15. UNHCR 2000. 44. Government of Madhya Pradesh, India 1995.
16. UNDP 2000f. 45. Government of Madhya Pradesh, India 1998.
17. UNDP 2000c. 46. Grinspun 2001.
18. UNDP 1999e. 47. UNDP e Kuwait Ministry of Planning 1997.
19. Cálculos do Gabinete do Relatório do Desenvolvimento 48. UNDP 2000e.
Humano baseados em US Census Bureau 1999. 49. UNDP 2000b.
20. Nepal South Asia Centre 1998. 50. UNDP, IAR, JPF e BBS 2000.
21. UN e Islamic Republic of Iran, Plan and Budget Organi- 51. OECD, DAC 1996.
zation 1999. 52. UNAIDS 2000b.
22. UNDP 1999b.
23. UNDP e UN Country Team 1998. Capítulo 2
24. Cálculos do Gabinete do Relatório do Desenvolvimento 1. Chen 1983.
Humano baseados em US Census Bureau 1999. 2. WHO 1998.
25. UNESCO 2000b. 3. Wang e outros 1999.
26. UNDP 1998b. 4. Hazell 2000.
27. UNIFEM 2000. 5. Romer 1986, 1990; Lee 2001; Aghion e Howitt 1992.
28. Comparar desigualdades de rendimento entre países deve 6. Lee 2001.
ser feito cautelosamente. Os inquéritos podem diferir, conforme 7. Gilder 2000.
medem rendimento ou consumo, se e como incluem serviços 8. Gilder 2000.
prestados publicamente – tais como cuidados de saúde e edu- 9. Chandrasekhar 2001.
cação – se estão incluídos impostos e transferências, e em ter- 10. Cálculos do Gabinete do Relatório do Desenvolvimento
mos de cobertura da população e ajustamentos à dimensão das Humano baseados em UNDP, Country Offices 2001; UPS
famílias. As tendências dos dados também pode ser proble- 2001; Andrews Worldwide Communications 2001.
máticas, porque os métodos de recolha podem variar entre 11. National Nanotechnology Initiative 2001; Smalley 1995;
períodos, ainda que no mesmo inquérito. Além disso, devido Mooney 1999b.
à natureza cíclica da economia, as tendências são sensíveis aos 12. Lall 2001.
pontos do início e do fim. 13. NSF 2001.
29. Cornia 1999. 14. James 2000.
30. Hanmer, Healy e Naschold 2000. 15. Angus Reid 2000.
31. Cornia 1999. 16. Jupiter Communications 2000a.
32. Quadro de indicadores 12. 17. Chandrasekhar 2001.
33. Milanovic 1998. 18. International Data Corporation 2000.
34. Quadro de indicadores 12. 19. School of Information Management and Systems, Uni-
35. Milanovic, a sair. versity of California at Berkeley 2001.
36. Castles e Milanovic 2001. 20. Reuters 2000.
37. Como todas as inovações empíricas, estes resultados devem 21. US Internet Council and ITTA 2000.
ser tratados com cuidado. As preocupações principais são a 22. US Internet Council and ITTA 2000.
qualidade, comparabilidade e oportunidade dos inquéritos 23. Lall 2001.
sobre o rendimento do país, nos quais o estudo se baseia. 24. Arlington 2000.
Existem, também, outras questões, como o problema da nor- 25. Kapur 2001.

118 RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2001


26. Hillner 2000. 16. Lall 2001.
27. UNESCO 1999. 17. Lall 2001.
28. Ao longo deste capítulo, OCDE refere-se aos países de 18. CERI 2000.
rendimento elevado da OCDE. 19. Perraton e Creed 2000.
29. Cálculos do Gabinete do Relatório do Desenvolvimento 20. CDI 2001.
Humano baseados em WIPO 2000 e World Bank 2001h. 21. Enlaces 2001, citado em Perraton e Creed 2000.
30. Cálculos do Gabinete do Relatório do Desenvolvimento 22. SchoolNet Thailand Project 2001, citado em Perraton e
Humano baseados em World Bank 2001h. Creed 2000.
31. Cálculos do Gabinete do Relatório do Desenvolvimento 23. SchoolNetSA 2001, citado em Perraton e Creed 2000.
Humano baseados em Nua Publish 2001. 24. Perraton e Creed 2000.
32. Nua Publish 2001; UNDP 1999a. 25. Kumar 1999, citado em UNESCO 2000a.
33. Lipton, Sinha e Blackman 2001; FAO 2000a. 26. Chaudhary 1999, citado em UNESCO 2000a.
34. UNICEF 2001e. 27. Agence Universitaire de la Francophonie 2001.
35. UNESCO 1999. 28. Tan and Batra 1995, citado em Lall 2001.
36. Bloom, River Path Associates e Fang 2001. 29. Lall 2001.
30. Lall 2001.
Capítulo 3 31. OECD 2000c.
1. Hazell 2000. 32. UNESCO 1999.
2. Global Network of Environment and Technology 1999. 33. UNESCO 2000b.
3. Lipton, Sinha e Blackman 2001. 34. World Bank 2000b.
4. CNN 2000. 35. Kapur 2001; Saxenian 1999 e 2000.
5. CNN 2001. 36. Kapur 200.
6. Haerlin e Parr 1999. 37. Kapur 200.
7. Referido em Cohen 2001
8. Biotechnology Australia 2001. Capítulo 5
9. Consumers Union 1999. 1. US Patent and Trademark Office 2000a.
10. New Scientist 2001. 2. NSF 2001.
11. US Food and Drug Administration 2000b. 3. Anderson, MacLean e Davies 1996.
12. TIA 2001. 4. US Food and Drug Administration 2000a.
13. Royal Society of London, US National Academy of Sciences, 5. Potrykus 2001.
Brazilian Academy of Sciences, Chinese Academy of Sciences, 6. Guilloux e Moon 2000.
Indian National Science Academy, Mexican Academy of Scien- 7. US Patent and Trademark Office 2000b.
ces e Third World Academy of Sciences 2000, p. 20. 8. WIPO 2001a.
14. Royal Society of London, US National Academy of Sciences, 9. Bonn International Center for Conversion 2000.
Brazilian Academy of Sciences, Chinese Academy of Sciences, 10. Quadro de indicadores 1.
Indian National Science Academy, Mexican Academy of Scien- 11. Global Forum for Health Research 2000.
ces e Third World Academy of Sciences 2000, p. 17. 12. Trouiller e Olliaro 1999.
15. University of Sussex, Global Environmental Change Pro- 13. de Francisco 2001.
gramme 1999. 14. Pardey e Beintema 2001.
15. CGIAR 2001.
Capítulo 4 16. Pardey e Beintema 2001.
1. Nanthikesan 2001. 17. IEA 2001.
2. Cálculos do Gabinete do Relatório do Desenvolvimento Hu- 18. McDade e Johansson 2001.
mano baseados em ITU 2000 and World Bank 2001h. 19. de Francisco 2001; The Economist 2001; Attaran 2001.
3. Readiness for the Networked World 2001. 20. Pardey e Beintema 2001; CGIAR 2001.
4. Readiness for the Networked World 2001. 21. Bonn International Center for Conversion 2000.
5. Singh 2000. 22. Qaudro de indicadores 15.
6. Choi, Lee e Chung 2001, p.125. 23. SIPRI 2000.
7. Singh 2000. 24. World Bank 2000a.
8. Galal and Nauriyal 1995, citado em Wallsten 2000. 25. World Bank, a sair.
9. Jones-Evans 2000. 26. Forbes 2001.
10. Yu 1999; Yingjian 2000. 27. Public Citizen 2000.
11. Yu 1999. 28. Burnett 1999.
12. Lall 2001. 29. SDC 1998.
13. Jones-Evans 2000. 30. FAO 1998.
14. Pfeil 2001. 31. Pardey e Beintema 2001.
15. UNESCO 1999. 32. McBride 2001.

NOTAS 119
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