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PODER JUDICIÁRIO FEDERAL

JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 5ª REGIÃO
VARA DO TRABALHO DE GUANAMBI
PROCESSO No 00237-2006-641-05-00-1RT

RELATÓRIO

JOYCE DIAS MACHADO reclamou contra BANCO BRADESCO


S/A alegando assédio moral e requerendo indenização por danos morais, pagamento de
horas extras, hora de repouso e alimentação, gratificações, entre outros créditos e os
benefícios da assistência judiciária gratuita. O banco se defendeu em peça que prima pela
clareza e concisão e enriquecida com inestimáveis excertos da jurisprudência, documento
inserto nos autos às fls. 92-123. Nega categoricamente o assédio e a existência de danos de
qualquer natureza. Por fim, afirma que a pretensão da autora não passa de «tentativa de
enriquecimento ilícito», e requer a improcedência da ação. O feito foi instruído com
documentos. Interrogada a autora e testemunhas, as razões foram reiteradas e não vingaram
as propostas conciliatórias oportunamente formuladas.

FUNDAMENTOS

I - TUTELA DE DIREITOS FUDAMENTAIS. DANOS MORAIS

1. JORNADA DE TRABALHO

1.1. Horas Extras. As provas coligidas para o bojo dos autos corroboram o fato, de notório
conhecimento desse Juízo, que o acionado desrespeita a jornada regulamentar
institucional. É que, muito embora o requerido possua relógio de ponto eletrônico
acessível pelo cartão magnético, a autora perfazia jornada bem superior àquela
registrada nos cartões de controle, isso era possível porque o local onde
«estrategicamente» se encontra instalado o relógio destinado ao controle do horário de
início e fim da jornada não impede a entrada e saída dos funcionários sem passar o
cartão. Assim, para não registrar integralmente as horas de trabalho praticadas, os
funcionários são orientados a passarem o cartão algum tempo depois de ingressar na
agência e dar início às atividades, e algum tempo antes do horário que efetivamente
saem. Não se trata de ponto «britânico», conforme se depreende da análise dos
controles, porém, o funcionário não tem liberdade de registrar sua real e verdadeira
jornada, por certo para não ultrapassar a quota de horas extraordinárias, previamente,
estabelecidas pela instituição. Os controles de jornada, portanto, colacionados aos
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autos, não espelham a realidade dos horários praticados pela autora. Observando a
jornada descrita pela 1a testemunha [8hs às 18hs] com 15 minutos de intervalo em 4
[quatro] dias na semana, defiro à autora horas extras acima da 6a hora com adicional
de 50% integrações e repercussões sobre as parcelas pleiteadas, deduzidos os
valores pagos sob a mesma rubrica.
1.2. Intervalo repouso e alimentação. Causa espécie o modo totalizante que o capital
absorve o trabalho vivo a ponto de alterar normas [quase sagradas] de proteção da
pessoa que trabalha, a exemplo daquelas relativas ao repouso e alimentação. A autora
laborava em jornada superior a 6 [seis] horas, conforme se depreende até mesmo
pelos controles parciais da jornada, mas o banco desrespeita o intervalo, de no mínimo
uma hora, para repouso e alimentação. Diante disso, defiro o pagamento da hora
trabalhada acrescida de 50%, nos moldes do § 4o do art. 71 da CLT.
1.3. Digitador. intervalo. Quanto ao intervalo de 10 minutos a cada 50 minutos ou 90
minutos trabalhados, a autora não faz jus porque trabalhava como caixa e não como
digitadora.

2. ASSÉDIO MORAL

A autora alega que sofreu «inúmeras pressões psicológicas» no desempenho de suas


funções, e que «por diversas vezes fora ameaçada de «demissão» sob a justificativa de falta
de cumprimento das metas de venda e falta e dedicação ao trabalho». Em seguida,
transcreve passagens de textos publicados acerca do assédio moral e pesquisas da OIT, que
concluem por cognominar as próximas décadas como as do «Mal Estar na Globalização». A
defesa nega a existência de fatos capazes de provocar dano a autora, afirma que o pedido
tem a «pura intenção do enriquecimento ilícito», traz aos autos uma definição de assédio
moral para concluir que a demandante não sofreu assédio de qualquer natureza.

A autora foi contratada como escriturária e no último período da relação trabalhava como
caixa. Acontece que o Bradesco é também um «supermercado de papéis» e os
empregados, sem exceção, são obrigados a acumular a dupla função de bancário
propriamente dita e de vendedor de papéis e serviços. O banco não contrata vendedores,
contrata escriturários. Basta verificar como é feito o processo de seleção do pessoal, cuja
exigência é formação geral [2o grau completo e conhecimento de digitação]. Não obstante
todos os contratados, com ou sem talento e vocação, são obrigados a vender. Para ampliar
ainda mais o volume das vendas e o já extraordinário lucro __ Este ano, o Bradesco
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aumentou em 27% seu lucro líquido [v. folha on line] __ o banco emprega a pressão
psicológica e a ameaça da dispensa. Não obstante, a prova inequívoca do esforço e
dedicação da autora no trabalho, o que se demonstra no cumprimento de jornadas
exaustivas e nas solicitações feitas aos colegas mais experientes para a ajudassem a
vender, a prova testemunhal não deixa dúvidas quanto a existência de pressão psicológica
para obrigar o pessoal a vender e o temor de todos decorrente das constantes ameaças de
perda do emprego [V. fls. 288].

Em «Mobbing _ o assédio moral no trabalho» tivemos a preocupação de precisar a


distinção entre o que é e o que não é mobbing. Segundo H. Leymann para que uma situação
de violência se caracterize como de mobbing necessário que os ataques se repitam por um
período de 6 [seis] meses com uma freqüência de 2 [duas] vezes na semana. Muito embora,
hoje já se possa rechaçar com segurança o requisito emprestado por Leymann, de vez que
este estudioso não considera as situações recorrentes no ambiente de trabalho de quick
mobbing, não se pode caracterizar toda e qualquer espécie de pressão psicológica como
sendo mobbing. O mobbing ou Terror Psicológico no Trabalho se caracteriza pelo assédio
psicológico moral e contínuo, o que o distingue é a reiteração de condutas abusivas,
humilhantes e vexatórias, ou seja, a reiteração do próprio assédio. No Brasil, Leis
municipais, naturalmente de alcance restrito à administração, vêm definindo o assédio moral
de modo descritivo, a exemplo do art. 2o da Lei da cidade de Campinas no Estado de São
Paulo:

Considera-se assédio moral para os fins de que trata a presente lei toda ação,
gesto, determinação ou palavra, praticada de forma constante por agente,
servidor, empregado, ou qualquer pessoa, que abusando da autoridade que lhe
conferem suas funções, tenha por objetivo ou efeito atingir a auto-estima ou a
autodeterminação do servidor.

Os §§ 1o e 2o, dessa lei, em sete incisos, descrevem as condutas consideradas como de


assédio moral. Por outro lado, também a jurisprudência pátria engatinha os primeiros
passos no sentido de firmar uma definição do fenômeno, destacando igualmente a
reiteração da conduta abusiva, a exemplo do Juiz Carlos Rizk do TRT do Espírito Santo:

«O que é assédio moral? É a exposição do trabalhador a situação


humilhante e constrangedora, repetitiva e prolongada durante a jornada de
trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações
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hierárquicas autoritárias, onde predominam condutas negativas, relações


desumanas e antiéticas de longa duração, de um ou mais chefes, dirigidas a
um subordinado, desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de
trabalho e a Organização». [TRT, 17a Região _ Juiz Carlos Rizk. In Terror
Psicológico no Trabalho. P. 35].

Hodiernamente, a dogmática já conta com um conceito de mobbing que tende a se


universalizar. Com efeito, a Lei de Modernização Social do Trabalho da França que
introduziu o art. 122-49 no Código do Trabalho e no Código Penal o art. 222-33-2, criando um
novo fattospecie de crime, enriqueceu o universo jurídico com uma ampla noção do
fenômeno, abarcando inteiro quadro morfológico do mobbing vertical, horizontal e
ascendente, assim dispondo:

«Nenhum trabalhador dependente deve sofrer conduta reiterada de moléstia


moral , que tenha por objeto ou por efeito um deterioramento das condições
de trabalho, suscetíveis de lesar os seus direitos e a sua dignidade, de
alterar a sua saúde psicofísica, ou de comprometer o seu desenvolvimento
profissional

Para a lei francesa, o assédio moral se configura na reiteração da conduta molestadora


e não na intencionalidade e nem mesmo na subsistência de um dano atual, razão pela qual
suficiente a objetiva conseqüência do pioramento das condições de trabalho, tal a colocar em
perigo os direitos, a dignidade, a saúde e as perspectivas profissionais do trabalhador1.
Embora na identificação do fenômeno, o intérprete deva contar com a inestimável contribuição
das ciências afins como a psicologia, a psicodinâmica e a sociologia jurídica, não deve,
contudo, distanciar-se do conceito jurídico, em face da sua superior precisão. Assim, para
que um quadro de violência psicológica venha a se caracterizar como mobbing necessário
que se verifique a existência de um sujeito perverso e a individuação da vítima, que será
transformada no bode expiatório e reiteradamente será atacada e «imobilizada» pelo
emprego de métodos que a imaginação perversa é capaz de inventar, mas de modo geral,
pode-se resumir em: recusar a comunicação, desqualificar como pessoa e como profissional,
destruir a auto-estima, cortar as relações sociais, vexar e constranger2. Os autos, contudo,
não revelam uma situação característica de mobbing.
1
No mesmo sentido: Bona-Monateri-Oliva; Mazzamuto, Salvatore. Il mobbing. Giuffrè
Editore. 2004.
2
Veja-se Terror Psicológico no Trabalho. Pp. 50-54.
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3. ADMINISTRAÇÃO POR ESTRESSE. DANO MORAL

Não fosse nossa adesão ao constitucionalismo como paradigma do direito em substituição


ao juspositivismo, se o quadro não é de mobbing, as pressões e ameaças sofridas pela
autora para vender papéis do gigantesco «banco-supermercado», estariam(?) dentro da
normalidade! Todavia, um exame mais detalhado dos autos aponta para um quadro de
violação de direitos fundamentais, pois a autora «sentia-se constrangida e humilhada» na
medida em que percebia que seu trabalho era desprestigiado e o reconhecimento do
empregador e seus prepostos se voltava exclusivamente para aqueles funcionários
sucessivamente batiam records de vendas.

Considerando, porém, que normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm
aplicação imediata [§ 1o] e que juízes e tribunais estão vinculados aos direitos fundamentais a
outorgar, por meio da aplicação, interpretação e integração, às normas de direitos
fundamentais a maior eficácia possível no âmbito do sistema jurídico3, não resta outro
caminho senão apreciar com maior zelo o pedido. No Bradesco os funcionários trabalham
«sob pressão psicológica para vender papéis e serviços, sob a ameaça de perder o
emprego», é o que afirma categoricamente a testemunha Raimunda Rosa Rego de Oliveira. É
fato também que a autora trabalhava em jornadas exaustivas e se esforçava no cumprimento
das metas Não é menos certo que, à medida que o volume de papéis aumenta e se
diversifica, as metas fixadas também vão sendo ampliadas, as pressões vão crescendo e as
ameaças se confirmando com as demissões programadas, sob a irônica justificativa de
«excesso no quadro de pessoal». Ora, essa é a estratégia adotada pelo banco para ampliar
seu lucro, obrigando os empregados a produzirem sempre mais, embalados pela falsa crença
de que se produzirem bastante terão seus empregos garantidos. A verdade, porém é bem
outra, o fato de vender, de ser produtivo não garante o emprego, posto que a rotatividade da
mão-de-obra nesse sistema é a tônica, a dispensa da autora evidencia e robustece tal
afirmação.

O fato de nem sempre conseguir cumprir as rigorosas metas mensais na venda dos «papéis»
não significa falta de dedicação ao trabalho, pois conforme vimos no capítulo da jornada, a
3
CANOTILHO, J.J.Gomes. MIRANDA. J. Veja-se SARLET. Ingo Wolfgang. In A Eficácia
dos Direitos Fundamentais. 3a edição. Livraria do Advogado editora. PP. 35-351.
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autora trabalhava cerca de 9 [nove] horas diárias, com apenas 15 minutos de intervalo para
repouso e alimentação e pressionada solicitava auxílio aos colegas mais experientes para
ajudá-la a cumprir as metas. Além disso, os freqüentes cortes de pessoal se dão com um alto
custo para a saúde e bem-estar dos empregados que ficam. Estes passam a acumular a
função dos dispensados e, seguramente, manter o nível de vendas. A pressão contínua e
desmedida para vender e produzir, o cumprimento de jornadas escorchantes e a alta
rotatividade da mão-de-obra são parte da estratégia da empresa, pois as dispensas repetem-
se anualmente independente da produtividade. Esclarecedor nesse sentido é o depoimento da
testemunha José Aparecido Caíres Nobre, gerente de contas: «durante seus 21 anos de
casa, nunca viu um funcionário ser dispensado porque não cumpria as metas». O emprego
independe de ser ou não ser produtivo!

As dispensas ocorrem sob a irônica justificativa de excesso no quadro de pessoal! A ironia


dessa motivação salta aos olhos, quando a própria testemunha declara que: «para minimizar
o grave problema das filas e da aglomeração de clientes do lado de fora da agência, o banco
vem abrindo as portas uma hora antes do expediente e instalando caixas eletrônicos em
pontos estratégicos da cidade». Ora, se há filas é porque não há pessoal suficiente para
atender a clientela durante o expediente externo. Se a autora cumpria jornadas de 9 [nove]
horas não pode ser considerada improdutiva. Esse modelo de gestão contém um elemento
ideológico cruel __ levar os trabalhadores a acreditarem que produzindo à exaustão teriam
seus empregos poupados e garantidos! O que não é verdade. Os freqüentes cortes de
pessoal tem duplo sentido, se por um lado, reafirmam a ideologia implícita na estratégia, por
outro lado, a faz cumprir-se em sua totalidade. Acontece que essa estratégia, centrada na
pressão psicológica para o cumprimento de metas cada vez mais rigorosas, aliada a jornadas
exaustivas e sob a constante ameaça da perda do emprego, revela a face perversa do poder
das organizações conhecida como administração por estresse4 e é causa do profundo mal-
estar daqueles que trabalham nessas condições.

Segundo a OMS, SAÚDE é o completo bem-estar físico, mental e social e não somente a
ausência de doença ou enfermidade. Com razão, a autora se sentia humilhada ante a
ausência de reconhecimento do seu esforço diário no trabalho. Importantes estudos na área
da Psicodinâmica do Trabalho demonstram que não há neutralidade do trabalho em
4
Ao que se sabe, o termo foi empregado pela primeira vez pela Professora e
Pesquisadora do Departamento de Administração Geral e Recursos Humanos da FGV-
EAESP. Veja-se Assédio Moral e Assédio Sexual: faces do poder perverso nas
organizações. Revista RAE de Administração de empresas. Abril/junho.2001. P. 18.
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relação às doenças mentais, pois o trabalho participa do processo de formação da


identidade do ser humano, harmonia, equilíbrio e auto-estima dependem do reconhecimento
do esforço desempenhado. A presente ação é o manifesto inconformismo de uma jovem
contra o que o psicanalista Christophe Dejours conceituou de «normalidade sofrente5», ou
seja, o consentimento de uns em padecer no trabalho e de outros em infligir sofrimento. Há
muito tempo essa singular condição humana, modelada pela racionalidade perversa do
capital, é suportada em silêncio pela maioria dos trabalhadores.

A administração por estresse integra, portanto, a lógica da racionalidade estratégico-


instrumental do trabalho produtivo capitalista. Essa racionalidade capitaneia todas as
dimensões da vida humana mercantilizando tudo e todos6. Todavia, essa coisificação do ser
humano choca-se com a concepção de dignidade formulada por Kant e que se pode ler nos
Fundamentos da Metafísica dos Costumes. Esse pensador da modernidade, num movimento
dialógico com a tradição filosófica, tem no ser humano um fim em si mesmo e nunca um
objeto. Para Kant, o homem não pode ser objeto nem de si mesmo! A conseqüência imediata
dessa lógica perversa é a banalização da injustiça social, que se caracteriza pela
suspensão do pensamento e dá origem ao comportamento normopático de que nos fala o
psicanalista Christophe Dejours7. Subsumidos dentro do poderoso sistema, pessoas de bem
praticam o mal sem se darem conta. Com gestos polidos e palavras medidas, chefes e
gerentes pressionam e ameaçam os subordinados para produzirem desenfreadamente.

Segundo a Professora Maria Ester de Freitas, a «administração por estresse permite a


naturalização de caminhos reprováveis». O uso intensivo do trabalho, confirmado pela
violação institucional do sistema de cartão magnético, e o cumprimento de jornada
extraordinária habitual, combinado com a pressão sem trégua para cumprir as metas de
vendas, sob a contínua ameaça de perda do emprego configuram a administração por
estresse. Acontece que trabalhar nessas condições implica em violação da intimidade e da
vida privada [Const. Federal, art. 5o, X]. Convém lembrar que uma das razões pelas quais
Hannah Arendt se batia para que o direito à intimidade figurasse entre os direitos
fundamentais decorre do fato que, segundo ela, uma das características inéditas da ruptura

5
A Banalização da Injustiça Social. FGV editora, 3a edição, p. 36.
6
A primazia dessa constatação em sentença é do Juiz Leonardo Viera Wandelli [v.
Mobbing no Hospital, quando a Vítima é o Médico. Revista LTr, setembro de 2005].
7
Ob. Cita, p. 18.
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totalitária é a promoção da desolação, que impede a vida privada, exacerba o


desenraizamento e dificulta o pensamento8.

Hoje é cada vez maior a necessidade de proteger as liberdades individuais não apenas
contra o Estado, mas também contra os mais fortes dentro da sociedade, ou seja, contra os
detentores do poder social e econômico, já que é nessa esfera que os direitos humanos se
encontram particularmente ameaçados. Dessa vinculação excluem-se, por óbvio, os direitos
políticos e as garantias de natureza processual, como o habeas-corpus e o mandado de
segurança. Todavia, por força do princípio da unidade da ordem jurídica e da força normativa
da Constituição [C. Federal, art. 5o, § 2o], o direito privado não pode esconder-se num gueto à
margem do Direito Constitucional9. O Banco, enquanto entidade privada, está também
vinculada à eficácia horizontal dos direitos fundamentais.

A defesa alega que compete à autora provar não apenas o dano, mas também o nexo causal
entre este e o fato narrado. Razão, nesse particular, não lhe assiste. Com o advento da Lei de
modernização social do trabalho da França, inaugurou-se uma nova interpretação jurídica
para o dano decorrente do assédio moral, em tudo aplicável à hipótese do dano moral
decorrente da administração por estresse. Ao aliviar o ônus probatório a cargo do autor, o
legislador francês, «sem esticar-se, porém, para uma verdadeira e própria inversão do ônus
da prova, o exonerou da plena prova do assédio, consentindo-lhe uma prova indiciária da qual
o juiz possa inferir, segundo o quod plerumque accidit, a existência da vexação»10. Ressalte-
se que essa lei é a resposta da França à exigência decorrente da Resolução A5-0283/2001
do Parlamento Europeu, que, apesar de não obrigar o direito pátrio, tomamos como paradigma
em face da sua inegável importância dentro do universo jurídico ocidental e, certamente, será
tomada por modelo pelos 25 países membros da UE.

Além disso, na tutela de Direitos Fundamentais é razoável entender que a natureza imaterial
dos bens lesados [a honra, a profissão, a dignidade, a intimidade, a vida privada, a liberdade,
a segurança, etc] impediria a prova do dano, ou melhor dito, a faz coincidir com aquela da
antijuridicidade da conduta. Por oportuno, repita-se que o fato desencadeador do dano restou
sobejamente provado na instrução do processo.

8
LAFER. Celso. A Reconstrução dos Direitos Humanos. Companhia das Letras, 1988, p.
28.
9
SARLET. Ingo Wolfgang. Ob. Citada. P. 357. No mesmo sentido Konrad Hesse. In A
Força Normativa da Constituição. Sergio Antonio Fabris Editor. Porto Alegre, 1991.
10
MAZZAMUTO. Salvatore. Ob. Citada. P. 14.
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Considerando, portanto, a relevância do sofrimento infligido à autora por todo o tempo que
durou o contrato, bem como a situação econômica do Requerido, o que se deduz do seu lucro
médio anual, mas considerando-se também a hipótese perfeitamente plausível de serem
ajuizadas diversas ações semelhantes contra esse mesmo banco, podendo a soma das
condenações atingir índices que bastem a cumprir o efeito pedagógico que orienta
condenações desse jaez, entendo que o valor postulado pela autora é razoável e lhe permitirá
comprar-se um serviço ou um bem como lenitivo que capaz de aliviar o mal-estar da desolação
vivenciada no albor da sua vida profissional. Por tudo isso, e com fundamento no art. 114, VI
da Const. Federal e nos arts. 12 e 21 da Lei 10.406 de 10/01/02, defiro à autora indenização
por danos morais correspondente a 100 cem vezes a maior remuneração percebida,
observada a atualização devida. Com supedâneo, ainda, no que dispõe o art. 461 do CPC
brasileiro e em importante precedente aberto em sentença da lavra do Juiz Marcos Barberino
da 2a Vara do Trabalho de Sorocaba11, determino, ainda, que o Bradesco S/A forneça à autora
missiva, com cópia para todos os seus colegas, manifestando expressamente suas desculpas
pelos danos que a esta causou durante a vigência do contrato, sob pena de pagar multa diária
fixada em R$ 5.000,00 [cinco mil reais].

4. DEMAIS PEDIDOS

4.1. Gratificação semestral Integração. A gratificação semestral cumpre os requisitos do


ajuste e habitualidade previstos no art. 457 da CLT e integra-se ao salário para todos os
efeitos, razão pela qual defiro a repercussão e diferença pleiteada nas letras B e C. 4.2 FGTS.
Multa de 40%. A autora tem direito às guias, residentes nos autos, para levantamento das
respectivas importâncias da sua conta vinculada nos autos. A secretaria fica autorizada a
efetuar a entrega, bem como expedir alvará acaso seja necessário. Os pedidos de letras D e I
foram deferidos quando da apreciação do pedido das parcelas principais. 4.3. Multa
normativa. Houve descumprimento de cláusulas das convenções coletivas que regem a
categoria da autora, a exemplo das horas extras e do intervalo intrajornada para repouso e
alimentação. Defiro nos moldes previstos nas respectivas normas. 4.4. Quebra de caixa.
Esse crédito era pago sob a rubrica de gratificação de função. Indefiro todos os pedidos sob
esse título. 4.5. Assistência judiciária. Na JT a assistência judiciária gratuita é devida nos
moldes do art. 790, § 3o da CLT. Na hipótese dos autos, a autora encontra-se desempregada
por isso mesmo se enquadra perfeitamente nas exigências da Lei 1.060/50.

11
Veja-se na íntegra a sentença in Terror Psicológico no Trabalho. Pp. 79-81.
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Observações finais da defesa. Inaplicável a prescrição, seja em virtude do tempo de


serviço da autora, seja em virtude da data da dispensa e ajuizamento da ação. Será
observada a objeção, ficando desde logo, determinada a dedução dos créditos quitados sob
igual rubrica. Para efeito de cálculo das parcelas deferidas, será observada a composição e
variação salarial da autora com as parcelas deferidas, observada a atualização devida.

CONCLUSÃO

Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE EM PARTE A RECLAMAÇÃO e condeno


BRADESCO S/A a pagar para JOYCE DIAS MACHADO indenização por danos morais
pela prática de administração por estresse no valor de cem vezes a maior remuneração
percebida e mais as parcelas deferidas na fundamentação a qual passa a fazer parte
integrante da presente decisão como se aqui literalmente transcrita estivesse. Juros e
atualizações observado a variação e composição salarial e a dedução das parcelas quitadas
sob idêntica rubrica. Fixo a causa para efeito de recurso no valor de R$ 150.000,00 [cento e
cinqüenta mil reais] custas de R$ 300,00 [trezentos reais]. Liquidação por simples cálculo.
Por fim, condeno ainda o Demandado na obrigação de fazer, a qual consiste em expedir
missiva à autora, com cópia para os funcionários da agência, manifestando desculpas pelos
danos a esta causados, sob pena de pagar-lhe multa diária de R$ 5.000,00 [Cinco mil reais].
Para efeito do disposto nos arts. 832, §§3o e 4o e 879, §§ 3o e 4o da CLT, encaminhem-se
cópias da presente decisão ao INSS e para efeitos de fiscalização do Ministério do Trabalho,
à DRT. Em face do teor da condenação, expeça-se ofício à ilustre Procuradora Chefe do
Ministério Público do Trabalho para as providências que entender de direito. NOTIFIQUEM-
SE.

Guanambi, maio, 17 de maio de 2006

MÁRCIA NOVAES GUEDES


JUÍZA TITULAR

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