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António Faustino,
o construtor de sonhos
Pega de Caras
“E
stamos perante um sistema junto dessas pessoas, claro que isso é ideal para isso…».” António, reticente,
de construção que, para muito importante para nós!” Do vasto não aceitou logo o desafio. “Era algo
O
plano director municipal vigente está, oficialmente, a ser
em Alverca (Estrada da Proverba), numa madeira; aliás era essa a nossa intenção cio do betão “ainda estava a dar” exigia
revisto há mais de uma década e só agora entra na fase
bonita casa térrea de madeira construída pois, no projecto inicial, a casa era para uma profunda reflexão. E teve que per-
final de discussão pública. Isto significa que o executivo
para esse efeito. Há precisamente 16 ser feita em tijolo.” correr largos milhares de quilómetros
municipal vai sujeitar a sua cartilha de planeamento urbano à
anos que este antigo construtor civil do Calmamente, mostra-nos os comparti- para ficar definitivamente convencido.
opinião do povo que o elegeu.
“betão” decidiu enveredar por esta área mentos da agradável habitação onde está “As dúvidas acabaram quando fomos à
de negócio e o sucesso alcançado é tal sedeada a Finlusa. “Sabe, eu era um Finlândia, onde tivemos um contacto di-
Apesar da Câmara Municipal já ter feito saber que este é um
que o seu nome está na linha da frente construtor tradicional e tinha feito umas recto com as casas de madeira e com as
PDM de contenção urbana e de sensibilidade ecológica, é natu-
no que toca a construir moradias de coisas para um dos meus sócios na fábricas que executam os kits para a sua
ral que surjam críticas duras ou nem sempre simpáticas para com
madeira para as elites nacionais. época, o Diogo Vaz Guedes (actual pre- construção. Na primeira noite desem-
o executivo municipal ou para com a CCDR-LVT, bem como
“Já construí uma casa em Sintra, com sidente da Somague); até que ele agar- barcámos em Helsínquia, com 12 graus
reclamações legítimas de quem foi alimentando (e recebendo…)
450 metros quadrados, para a família rou e disse-me: «Tenho aqui um projecto negativos, e puseram-me a dormir den-
expectativas sobre o uso de determinado solo. A vida em Demo-
Champalimaud; contactaram-nos porque engraçado, mas falta-me alguém para tro de uma casa de madeira, numa cama
cracia é mesmo assim: uns protestam, outros têm de ouvir, en-
houve alguém que nos recomendou chefiar a parte técnica. Tu eras a pessoa mesmo encostada a uma das paredes ex-
quanto estão no poder.
teriores. Pensei para comigo: «Estes
tipos são mesmo mauzinhos…».”
O actual PDM foi criado em 1993 e discutido em Alverca com
Mas enganou-se. “À noite levantou-se
uma elevada participação popular, em especial das instituições
vento e eu, deitado na cama, estava com
representativas do concelho e dos ambientalistas – que tinham
um certo receio pois todos sabemos que,
alguma força na altura (entre os quais me incluía). Após
com vento, 12 graus facilmente se con-
aprovação, o plano foi permitindo crescimento urbano – para al-
vertem em 20 ou mais graus negativos.
guns excessivo, para outros nem tanto… mas o mais significativo
Experimentei encostar a mão à parede
é que (nos últimos anos de expansão de cidades como Alverca,
mas, para meu espanto, não estava fria.
Póvoa ou Vialonga) fomos assistindo a alterações curiosas ao
Mais tarde, meti a mão numa parede ex-
PDM, apesar da sua revisão só agora estar na fase de conclusão.
terior e noutra interior e reparei que nem
Ou seja, se alguém quisesse dar outro uso ao seu terreno, teria
sequer havia diferenças térmicas. Disse:
sempre de esperar pelas novas regras, que deverão ser aprovadas
«Eh pá, isto é realmente fantástico!» E
nos próximos meses, para ter uma resposta. Só que houve ex-
conhecendo a construção tradicional
cepções e, para alguns, as regras mudaram com o jogo ainda a
como eu conhecia, cheguei logo à con-
meio.
clusão que este sistema construtivo é o
ideal; as suas vantagens eram muitas – a
Vale a pena lembrar dois casos: a Malva Rosa em Alverca, uma
começar pelo seu carácter isolante em
mega urbanização que nasceu na antiga zona industrial da
relação ao frio ou ao calor e por ser um
Mague; e a futura plataforma logística da Castanheira (investi-
tipo de construção que se pode acabar
mento espanhol que mereceu intervenção da administração cen-
em qualquer época do ano – e não en-
tral) que vai nascer em terrenos de reserva ecológica e reserva
contrava um único inconveniente.”
agrícola e, sobretudo, numa zona inundável próxima do Tejo.