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Resumo
O
presente artigo tem dois objetivos distintos. O primeiro é o de identificar os
requisitos necessários a implantação da filosofia do ECR - Efficient Consumer
Response por parte dos supermercados. O segundo propósito é o de avaliar as
condições logísticas atuais das principais redes brasileiras em termos da
utilização das práticas propostas pelo ECR. A identificação dos requisitos a introdução de tais
procedimentos é feita com base na literatura e em entrevistas com especialistas. A situação
atual dos supermercados brasileiros é avaliada com base em uma pesquisa de campo.
Concluí-se que o relacionamento dos supermercados com a indústria ainda é muito pouco
expressivo. A principal razão apontada é a baixa utilização do EDI.
Introdução
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relacionada, desde o ponto de origem até o ponto de consumo, para o propósito de
corresponder às necessidades do cliente”(p. 4).
Essas idéias, que não são novas, vêm recentemente sendo discutidas, no âmbito da
indústria de supermercados, sob a denominação ECR - Efficient Consumer Response. O ECR
corresponde exatamente ao conceito de gerenciamento dos canais de suprimentos.
Supõe-se que a introdução dos princípios propostos na estratégia ECR contribua para
ampliar efetivamente a produtividade das relações fabris e comerciais. Segundo Dib (1997),
“nos Estados Unidos, a estimativa inicial de redução de custos em toda a cadeia de
distribuição era de US$ 30 bilhões (Joint Industry Project on ECR, 1993). Na Europa, por sua
vez, é esperada redução de custo de US$ 33 bilhões (Coopers & Lybrand, 1996)” (p. 16).
As fusões que o setor tem experimentado recentemente não têm inibido a competição,
pelo contrário. A fase de relativa estabilidade na economia nacional, além de estimular a
vinda de empresas comerciais estrangeiras, acabou facilitando a comparação de preços por
parte do consumidor, acirrando ainda mais a concorrência.
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A AC Nielsen considera cadeias a situação em que há cinco, ou mais, lojas com o mesmo nome.
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Nesse ambiente, em que a competição obriga a realização da atividade com
margens reduzidas, é fundamental que as empresas comerciais atentem para as condições
operacionais.
Este artigo tem dois objetivos. O primeiro é o de determinar quais são os requisitos na
área de Logística para a adoção do ECR nos supermercados. Esses requisitos devem constituir
uma série de técnicas, práticas e ferramentas, incluindo-se equipamentos, que as empresas
devem dominar e possuir para poderem colocar-se em posição de adotar tal estratégia. O
segundo objetivo é de verificar se os supermercados brasileiros reúnem os requisitos logístico
para adoção do ECR.
Para Mcluhan & Fiore (citados por Waters, 1996, pp. 35-36), “os circuitos eletrônicos
subverteram o regime de tempo e espaço e despejam sobre nós instantaneamente e
continuamente as preocupações de todos os homens. Eles reconstituíram o diálogo em uma
escala global". Ianni (1995) concorda com McLuhan & Fiore e Waters, quando diz que "Os
meios de comunicação de massa, potenciados por essas tecnologias, rompem ou
ultrapassam fronteiras, culturas, idiomas, religiões, regimes políticos, diversidades e
desigualdades sócio-econômicas e hierarquias raciais, de sexo e idade” (p. 94). O Quadro 1
explicita e demonstra a velocidade de evolução da tecnologia de informação.
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Quadro 1: Evolução da tecnologia de comunicação e de informática
Outro elemento importante neste processo de avanço foi a queda do custo das
tecnologias de comunicação. Apenas para dar um exemplo, segundo dados do Banco
Mundial, uma ligação telefônica de três minutos entre Londres e Nova York baixou de
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aproximadamente U$ 250, na década de 30, para menos de U$ 10 em 1996 (em U$
de1990) 2.
A cadeia de valor proposta por Porter, quando vista sob uma ótica ampla,
englobando desde os produtores até os consumidores finais ajusta-se à idéia de cadeia de
abastecimento (ou supply chain), utilizada pelos autores da área de Logística. Ballou (1995),
por exemplo, afirma: “as atividades logísticas, como quaisquer outras, exigem elevado grau
de gestão inter e intra firmas.." (p. 348).
2
Gazeta Mercantil, de São Paulo de 1/10/96.
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Há consenso na literatura sobre a necessidade de que o cuidado com as atividades
logísticas e o seu planejamento vá além dos limites da empresa, integrando todos os
membros de um mesmo canal na sua gestão, de forma a torná-lo mais competitivo.
a) EDI. O EDI pode ser entendido como sendo a troca de documentos comerciais e
financeiros entre empresas, realizada por computadores, em um formato padrão. O EDI, até
hoje, é uma prática que ocorre com o auxílio das Value Added Networks, popularmente
conhecidas como VANs (ou seja, redes de valor agregado). As VANs são empresas que
oferecem ao mercado o serviço de troca eletrônica de dados;
b) Reposição contínua. Trata-se da reposição próxima ao just in time com base nas
informações do ponto de venda;.
3
Segundo Dib (1997), “o conceito de uma superstore é estender um pouco mais a conveniência e fazer
todas as compras em uma única parada. Além de um mix de produtos bastante completo[...] as
superstores oferecem ampla gama de serviços, como agência de turismo e bancos” (p. 21).
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c) Cross docking. Reda (1999) define o procedimento como sendo a atividade de
mover “... produtos do caminhão do fornecedor, através do centro de distribuição, para
outro caminhão com destino às lojas, sem colocá-los nas áreas de armazenagem ou de
preparação do pedido” (p. 1);
d) Entrega direto nas lojas. Corresponde a entrega das mercadorias da fábrica direto
nos pontos de venda. Aparentemente há uma incoerência entre duas práticas consideradas
importantes para o ECR, o cross docking e a entrega direto na loja. Essa incoerência reside
no fato de que o cross docking acontece no centro de distribuição, cuja existência, a
princípio, não condiz com a entrega das mercadorias diretamente nas lojas. Entretanto, deve-
se ter em mente que a entrega direto na loja é interessante para apenas uma parcela do mix.
Um estudo do Boston Consulting Group e da Milton Merl & Associates citado por Lewis
(1998) revela importantes ganhos na utilização combinada de entrega direta e cross
docking;.
Da relação acima deve-se excluir - tendo em vista o escopo deste estudo - o ABC, o
gerenciamento de categorias e as parcerias, uma vez que os dois primeiros não são
diretamente ligados à logística. Já as parcerias, não devem ser consideradas como práticas
ou técnicas e sim princípios.
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3. As Ferramentas para O ECR
Para que o conhecimento dos níveis de estoque possa gerar pedidos de reposição é
preciso que essa informação, vinda dos check outs e dos sistemas dos depósitos, esteja
atualizada no sistema de compras ou no sistema que faz os pedidos, de forma permanente,
com freqüência que não comprometa a operação.
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Embora a rigor a técnica do cross docking seja possível sem o apoio de sistemas de
informática e automatização, a sua operação com grandes fluxos de mercadorias e de forma
integrada às necessidades da empresa necessita desse suporte. Assim, os leitores óticos, o
código de barras, a troca eletrônica de dados possibilitam a coordenação da operação,
viabilizando a integração com as lojas, os fornecedores e as transportadoras. Tendo em vista
a característica dinâmica dessa técnica, é interessante que os tempos de carga e descarga no
depósito não sejam elevados a ponto de comprometê-la.
•Reposição contínua
• Check outs Estratégias
•Pedidos feitos pelo
computador • Reposição
automatizados
eficiente
•Estoque gerenciado
• Sortimento
• Leitores óticos pelo fornecedor eficiente ECR
•Recepção eletrônica • Promoção
• Código de barras eficiente
•Cross docking • Introdução
• Nível de serviço
•Entrega direto na loja eficiente de
adequado na novos produtos
•EDI
carga e descarga
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Da discussão anterior, pode-se perceber a importância da troca eletrônica de dados,
que participa, ainda que indiretamente, de todas as outras práticas e técnicas. Em seguida
pode-se mencionar o check out automatizado, que alimenta o sistema com a necessidade de
reposição. A entrada de mercadorias na empresa - e seu reflexo nos sistemas de informação
- é grandemente facilitada pela recepção eletrônica, com o uso de leitores óticos para os
códigos de barras. Uma vez de posse dos itens acima, os demais passam a ser viáveis.
Para coleta de dados o instrumento utilizado foi um questionário enviado por fax e por
correio eletrônico aos supermercados, juntamente com uma carta explicativa do estudo, que
solicitava o autopreenchimento. Os questionários foram devolvidos também por fax e correio
eletrônico.
Levando-se em conta que o ECR é uma estratégia de uma certa sofisticação decidiu-se
limitar a investigação as maiores empresas de supermercados do Brasil. Dessa forma, a
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população de interesse foi definida como sendo as grandes empresas da área de
supermercados que operam no Brasil.
Considerando-se estes dados e tendo em conta que as oito maiores redes são
responsáveis por 57% das vendas do setor supermercadista (ABRAS, 1999) pode-se assumir
que a amostra representa uma parcela razoável da população de estudo.
4.2. Resultados
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FIGURA 2 - INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE COMPRA
100,0 95,2
90,5
%
90,0 81 81
76,2
80,0
70,0 61,9
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0 5,6
0,0
Estoque das
Outros
Frente de
Recebimento
Estoque no
Contas a
Apuração
mercadorias
depósito
pagar
lojas
fiscal
lojas
de
Apesar da integração dos sistemas internos verificou-se que o EDI - ainda não é algo
sedimentado e amplamente difundido entre as empresas da amostra. Em média, a troca
eletrônica de dados existe no processo de compra das empresas há apenas 1 ano e 3 meses.
Das 21 empresas pesquisadas, 14 afirmaram que não fazem troca eletrônica de dados com
nenhum parceiro comercial e sete disseram que praticam o EDI com um ou mais parceiros.
Dessa forma, pode-se dividir a amostra em dois grupos, um composto pelas empresas que
usam EDI e outro com as empresas que não usam. As características desses grupos
sinteticamente são as seguintes:
Grupo 1 - empresas que praticam EDI: usam EDI há 1 ano ou mais; todas usam EDI
com fornecedores (de cinco a 309 fornecedores), possuem de 215 a 6.800 fornecedores
ativos, têm de nove a 285 lojas e faturam de R$ 665.066.300 a R$ 5.470.301.723 por ano.
Grupo 2 - empresas que não praticam EDI: Possuem de 750 a 3.500 fornecedores
ativos, têm de quatro a 26 lojas e faturam de R$ 33.768.549 a R$ 898.878.393.
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A baixa integração entre os sistemas da área de Logística entre as empresas também
se reflete nos cronogramas de abastecimento, que são utilizados por apenas 29% dos
integrantes da amostra. A grande maioria continua a fazer uso de pedidos pontuais,
preenchidos quando os estoques atingem um nível mínimo pré - estabelecido.
Quando indagados se os dados colhidos nos check outs são utilizados como um
banco de dados, a fim de conhecer-se os hábitos de compra dos clientes, apenas 25% das
empresas disseram que sim. Quarenta por cento disseram que isso ocorre de forma parcial e
35% disseram que esses dados não são utilizados. Deve-se lembrar que os dados dos check
outs podem ser úteis para diversas finalidades, como o acompanhamento e previsão da
demanda, para as decisões relativas a determinação de níveis ideais de estoque, e mesmo o
planejamento de promoções.
Para que o fluxo de informações ligadas à área logística ocorra de forma correta é
preciso que haja uma identificação padronizada dos produtos aos quais essas informações
referem-se. É preciso que cada item (ou stock keeping unit - SKU ou unidade mantida em
estoque) esteja identificado. Além disso, para a operação com grandes volumes é preciso que
a identificação seja feita rapidamente e com confiabilidade. Dessa forma, o código de
barras, capaz de ser lido por scanners (leitores óticos) é bastante importante, pois permite a
captação de informações que podem ser introduzidas diretamente nos sistemas da empresa.
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Embora haja um trabalho buscando a padronização dos códigos de barras (EAN)
muitas empresas, entretanto, ainda usam códigos de identificação próprios. Neste estudo não
foi investigado se os códigos de barras eventualmente utilizados correspondem ao padrão da
EAN.
Segundo as empresas integrantes da amostra, o controle das atividades por meio de
códigos de barras, nas áreas de armazenagem ocorre na recepção das mercadorias em
42,9% dos casos, na área de movimentação em 19,0%, na área de picking (a área de
preparação do pedido) em 14,3% e na expedição de mercadorias em 23,8%. Nos inventários
do estoque, o código de barras é utilizado em 47,6% dos casos. Na frente de lojas as 20
empresas que responderam a essa questão encontram-se em muito melhor situação: 95%
afirmaram que possuem check outs com leitores de códigos de barras.
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Os armazéns das empresas pesquisadas já recebem algum tipo de automação (em
62% dos casos), embora de forma parcial. Em 29% dos casos existem sistemas de
endereçamento automático na entrada das mercadorias, havendo igual porcentagem no
endereçamento na saída. O sistema do depósito está integrado ao sistema corporativo em
43% das empresas da amostra.
A distribuição física com uso de frota própria continua a ser bastante usada, pois 76%
da amostra afirmou não haver terceirizado essa atividade. Por outro lado, 81% das empresas
não fazem o monitoramento à distância desses veículos. Apenas dois terços da amostra
respondeu qual o percentual de mercadorias entregues na hora e data programada, mas
para essas empresas que informaram o percentual o desempenho do sistema de transporte
com relação à pontualidade foi razoável, considerando os valores apresentados em outros
segmentos do varejo brasileiro. Em média, 69% das mercadorias são entregues na hora e
data programada.
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4.2.6. Gerenciamento do estoque pelo fornecedor
Foi feito um cruzamento estatístico das respostas positivas das perguntas sobre a
integração de sistema de compras da empresa com os check outs (automatizados), com o
estoque do depósito, o estoque das lojas e com a transmissão de pedidos de compra via EDI.
Supõe-se que de posse desses requisitos as empresas estejam aptas a emitir seus pedidos de
compra pelo computador. Das empresas integrantes da amostra apenas 33,3%
enquadraram-se nessa condição. As empresas que foram reunidas nesse agrupamento
possuem características bastante distintas, com diferenças enormes de faturamento. O que
parece ser comum a essas empresas é realmente a política de investir na área de
informações.
Das 21 empresas que integram a amostra, 13 informaram que não fazem reposição
contínua. Das demais, oito, que adotaram essa prática, o percentual médio de produtos
envolvidos é 61%.
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4.2.9. Nível de serviço adequado na carga e descarga dos caminhões
Na pesquisa de campo verificou-se que 23,8% das empresas não possuem centro de
distribuição. Também constatou-se que, em média, 34,8% das compras realizadas pelas
empresas pesquisadas são feitas de forma descentralizada, ou seja, são feitas
independentemente pelas lojas. Para as empresas que possuem centro de distribuição,
quando perguntadas sobre o percentual das mercadorias de seu mix que são entregues nesse
depósito central, foi informado um valor médio de 55,4%. Isto posto, conclui-se que 44,6%
das mercadorias são entregues diretamente nas lojas.
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5. Conclusões
O requisito que apresenta o menor grau de dificuldade para o ECR é, sem dúvida, a
existência nas empresas de check outs automatizados, integrados ao sistema corporativo.
Outro requisito onde, na amostra, a situação não apresenta maiores problemas, é no nível
de serviço da carga e descarga dos caminhões. Os tempos, embora possam ser melhorados,
são considerados pelos especialistas da área, se comparados com outros segmentos do
varejo brasileiro, razoavelmente bons.
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parcialmente entre as empresas que possuem centro de distribuição. O cross docking só é
realizado por um terço da amostra.
Pesando-se esses aspectos é possível concluir que, embora as atividades mais básicas
não pareçam ser empecilhos para a adoção do ECR pelos supermercados brasileiros, o
mesmo não acontece com o fluxo de informações, onde, caso não sejam feitos os
investimentos necessários, serão observadas as grandes resistências à implementação dessa
proporsta de estratégia.
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área específica. O ECR requer, fundamentalmente, uma forte mudança cultural. Esse aspecto
pode ser apontado como uma possível extensão do presente trabalho.
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BIBLIOGRAFIA
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