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ÍNDICE

APRESENTAÇÃO 17

UM PAÍS DE ÁREA REPARTIDA 19 OS HOMENS E O MEIO 80


A IMPORTÂNCIA DO MAR E A LOCALIZAÇÃO TERRITÓRIO, SUPORTE DAS GENTES 82
DO ESPAÇO PORTUGUÊS 20
A POPULAÇÃO 86
O MAR QUE NOS ENVOLVE 25 EVOLUÇÃO RECENTE 86
A MORFOLOGIA DOS FUNDOS 25 UMA DISTRIBUIÇÃO DESIGUAL 86
CORRENTES OCEÂNICAS 26 BAIXOS NÍVEIS DE NATALIDADE E FORTES SALDOS
O MAR E A ATMOSFERA 28 MIGRATÓRIOS 93
VARIAÇÕES DE TEMPERATURA 29 UM ENVELHECIMENTO PROGRESSIVO 93
A TERRA QUE HABITAMOS 36 A EMERGÊNCIA DE NOVOS COMPORTAMENTOS 93
UNIDADES MORFOESTRUTURAIS 38 EDUCAÇÃO 94
EVOLUÇÃO GEOLÓGICA DO OESTE PENINSULAR 38 TERRA DE MIGRAÇÕES 98
O RELEVO DO CONTINENTE 43 A EMIGRAÇÃO 98
FISIONOMIA DAS REGIÕES AUTÓNOMAS 43 O REGRESSO 100
CLIMA E SUAS INFLUÊNCIAS 50 A IMIGRAÇÃO 102
ELEMENTOS CLIMÁTICOS 50 UMA POPULAÇÃO
A IRREGULARIDADE DO TEMPO NO CONTINENTE 54 QUE SE URBANIZA 104
AS ONDAS DE CALOR 59 UMA LEITURA ‘CLÁSSICA’ DO SISTEMA URBANO
O CLIMA DAS ILHAS 59 NACIONAL 104
A REDE HIDROGRÁFICA 61 UMA AVALIAÇÃO RECENTE 106
OS SOLOS 64 MUDANÇAS RECENTES 110
A VEGETAÇÃO ‘NATURAL’ 65 LISBOA E PORTO COMO REFERÊNCIAS 110
TIPOS DE PAISAGEM 66 ‘PRODUZIR’ CIDADE 111
DIVERSIDADE E GRUPOS DE PAISAGEM 66 COMUNICAÇÕES E MOBILIDADE
ÁREAS PROTEGIDAS 70
DA POPULAÇÃO 120
AS ILHAS 73
REDES DE COMUNICAÇÃO 120
REDE NATURA 2000 77
SISTEMA DE TRANSPORTES 123
ÁREAS DE PROTECÇÃO DE AVIFAUNA 77
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O PAÍS SOCIOECONÓMICO 130 PORTUGAL NUM MUNDO


ECONOMIA PORTUGUESA: ARTICULAÇÃO DIFÍCIL ENTRE DE RELAÇÃO 210
MUDANÇAS INTERNAS E AS EXIGÊNCIAS COMPETITIVAS 132 A LÍNGUA PORTUGUESA: UM TRAÇO DE UNIÃO À RODA DO MUNDO 212

ACTIVIDADES DA TERRA 138 COMUNIDADES PORTUGUESAS 216


A AGRICULTURA 139 TESTEMUNHOS DE UM PASSADO LONGÍNQUO 216
AGRICULTURA EM MODO DE PRODUÇÃO BIOLÓGICO145 EVIDÊNCIAS CULTURAIS DE HOJE 217
PECUÁRIA 145
IDENTIDADE E CULTURA
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO 149
EM TEMPOS DE MUDANÇA 222
PRODUTOS TRADICIONAIS 150
RIQUEZA E DIVERSIDADE DE CULTURAS 222
A FLORESTA 154
FRONTEIRAS DE UM PORTUGAL CULTURAL 223
A CAÇA 162
ACTUAL SUPORTE À CULTURA 223
A EXPLORAÇÃO DOS RECURSOS EXTRACTÍVEIS 164
PORTUGAL NA UNIÃO EUROPEIA 228
RECURSOS VIVOS MARINHOS 168 PORTUGAL NA EUROPA 229
UM SECTOR ESTRATÉGICO 168
A INTEGRAÇÃO DA EUROPA 229
O SECTOR DAS PESCAS 172
TRANSFORMAÇÕES NA UE-15 230
ECONOMIA E DESENVOLVIMENTO PRIORIDADES SOCIAIS DA UE 230
REGIONAL 176 DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO
CRESCIMENTO ECONÓMICO 176 E NÍVEL DE VIDA 231
OS SECTORES DE ACTIVIDADE E A DIFERENCIAÇÃO ENERGIA: A MAIOR FRAGILIDADE DA UE 232
REGIONAL 177 PRESIDÊNCIA PORTUGUESA NA UE 233
MERCADO EXTERNO E COMPETITIVIDADE 183 O ALARGAMENTO DA UE 234
A COESÃO SOCIAL 186 UMA CONSTITUIÇÃO PARA A EUROPA 235
O DESENVOLVIMENTO HUMANO 189

TEMPO DE TURISMO 190 O ATLAS E O POSICIONAMENTO ESTRATÉGICO

O TURISMO BALNEAR 191 DE PORTUGAL 236

NOVOS PRODUTOS 192 ANEXOS 239


UM SECTOR ESTRATÉGICO DE FUTURO 195 PLANTAS ESPONTÂNEAS, SUBESPONTÂNEAS
E ORNAMENTAIS MAIS COMUNS EM PORTUGAL 240
POLÍTICAS DO TERRITÓRIO 198 CARTA DE PORTUGAL CONTINENTAL ESCALA 1: 550 000
A ADMINISTRAÇÃO 198 CARTA DAS REGIÕES AUTÓNOMAS DOS AÇORES
O PLANEAMENTO 202 E DA MADEIRA ESCALA 1: 200 000 242
A QUALIFICAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO ÍNDICE ONOMÁSTICO 260
SUSTENTÁVEL 204 DIVISÃO ADMINISTRATIVA POR CONCELHOS 268
NOTAS BIOGRÁFICAS DOS AUTORES 272
BIBLIOGRAFIA 273
CRÉDITOS 274
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TERRITÓRIO, SUPORTE DAS GENTES TERRA DE MIGRAÇÕES COMUNICAÇÕES E MOBILIDADE


A EMIGRAÇÃO DA POPULAÇÃO
A POPULAÇÃO O REGRESSO REDES DE COMUNICAÇÃO
EVOLUÇÃO RECENTE A IMIGRAÇÃO SISTEMA DE TRANSPORTES
UMA DISTRIBUIÇÃO DESIGUAL
BAIXOS NÍVEIS DE NATALIDADE E FORTES UMA POPULAÇÃO QUE SE URBANIZA
SALDOS MIGRATÓRIOS UMA LEITURA ‘CLÁSSICA’ DO SISTEMA URBANO NACIONAL
UM ENVELHECIMENTO PROGRESSIVO UMA AVALIAÇÃO RECENTE
A EMERGÊNCIA DE NOVOS COMPORTAMENTOS MUDANÇAS RECENTES
EDUCAÇÃO LISBOA E PORTO COMO REFERÊNCIAS
‘PRODUZIR’ CIDADE

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OS HOMENS
E O MEIO
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TERRITÓRIO,
SUPORTE DAS GENTES
RAQUEL SOEIRO DE BRITO

Qualquer território, num dado momento, é a expressão das marcas humanas


herdadas ao longo da História, sobrepostas às suas características físicas; os
homens conseguem adaptar-se a estas ou modificá-las em seu proveito,
segundo as técnicas de que dispõem e o estilo de vida que adoptam numa
determinada época. Umas marcas podem manter-se por muito tempo, outras
ser efémeras: mas sempre delas ficam sinais, que acabam por explicar parte
da paisagem que se desenrola sob os nossos olhos. Em cada momento, as
comunidades recompõem a História e recriam as paisagens. O ‘esqueleto’
geológico que enforma o nosso território é extremamente diferenciado
quando comparado com a morfologia visível; não é especificamente
‘português’, uma vez que o território ocupa o extremo sudoeste de uma
península de contornos maciços, ‘pesados’ e excêntrica em relação
ao continente europeu; a este Ocidente vêm ‘morrer’ quase todos
os elementos morfológicos da Ibéria.

O velho soco é separado em blocos divididos por falhas, identificam permanências sazonais de grupos colectores
as quais ‘guiam’ grande parte dos rios, ora abrindo caminho de mariscos; que desde o Neolítico se encontram jazidas que
difícil através de rochas duras, ora deslizando com certa tornam possível a visão de um povoamento sedentário,
facilidade entre os materiais mais brandos da orla costeira. atestado pela ‘abundância e variedade’ de cerâmica e de
E é esta diversidade da faixa mais ocidental da Península que monumentos funerários que, no Noroeste, alcançam altitudes
dá originalidade a Portugal, reforçada pela influência das semelhantes às do povoamento actual e onde, nos ‘mais
massas de ar atlânticas, que suavizam as temperaturas – altas modernos’ aparecem já instrumentos de cobre; e que
e baixas – e permitem tanto o alastramento para Sul de plantas “comunidades do Bronze Final – uns mil anos a.C. –
da Europa Central como a tolerância das plantas mediterrâneas no extremo ocidental da Península Ibérica” se relacionaram
nas terras mais a Norte. com outras comunidades da Bretanha e das Ilhas Britânicas,
É neste quadro natural que, desde tempos pré-históricos, enquanto, a Sul, existiria “um importante comércio ligado
populações várias se foram ‘acomodando’, umas; introduzindo à bacia do Mediterrâneo” (Carlos Fabião). São ainda formas
modificações a pouco e pouco, outras; e quase nove séculos muito rudimentares de organização, mas que, no decorrer
de fronteira estável conseguiram fixar um dos Estados mais do tempo, evoluem em relação profunda com a natureza
velhos da Europa. envolvente: em relevos ásperos e retalhados, propícios
A Natureza criou a diferenciação e as várias civilizações que ao isolamento e à autodependência, desenvolve-se uma
passaram ou se instalaram na Península moldaram os espaços. ‘civilização castreja’ de pequenos agrupamentos harmónicos,
Apesar da escassez de fontes, parece poder afirmar-se que os relativamente organizados, fechados em povoações
concheiros mesolíticos da Estremadura – o de Muge, no vale fortificadas, mas sem coesão política entre si; delas desceriam,
do Baixo Tejo, é um dos mais importantes e conhecidos sítios temporariamente, para áreas de mais fácil acesso, junto a
pré-históricos de Portugal – do Alentejo e do Algarve cursos de água com espaços agricultáveis, construindo abrigos

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sem ‘preocupações defensivas’ e ‘com carácter mais precário’, no espaço pela supremacia das cidades, que entretanto ia
onde viriam cultivar e apascentar gado. Poder-se-á pensar que esmorecendo – e com ela a estrutura administrativa
sejam longínquos antepassados das brandas e inverneiras centralizada.
do noroeste do País perfeitamente vivas ainda em fins Os Mouros (populações várias, essencialmente vindas do
do século XX? Norte de África, com forte percentagem de berbéres)
Povos vindos do Mediterrâneo Oriental foram estabelecendo atravessaram o estreito de Gibraltar em 711 e tão rapidamente
feitorias no litoral Leste e Sul da Península Ibérica e subiram pelas terras peninsulares que, em 716, após a
“entabularam relações com os indígenas, exploraram ou conquista da Catalunha e ‘negociações constantes’ com vários
incrementaram a exploração das riquezas minerais”; representantes do reino visigótico, em decadência, estava
organizaram um território em volta da ‘sua’ cidade-porto, não completada a ocupação da Península. Deram a esta – em
se estendendo muito para o interior. especial no Sul – contribuição tão importante e persistente
Umas e outras destas civilizações em breve iriam ser como os Romanos; e, pela posição periférica de Portugal, uma
confrontadas com povos de organização superior: e estes já vez mais, não se formaram no nosso território, ao contrário do
deixaram marcas de tal forma fortes que ainda hoje é possível que se passou em Espanha, grandes potentados políticos, nem
detectá-las, embora quase sempre através de informações se erigiram imponentes obras de arte – a única mesquita é a de
indirectas. É o caso dos Celtas, oriundos do centro da Europa Mértola; nas cidades (mais no Sul do que no Norte) só
que penetraram na Península, possivelmente através da algumas muralhas dos castelos que as defendiam, o traçado
Aquitânia francesa, e se terão ‘misturado’ com os povos que no tortuoso das ruelas e algumas paredes cegas recordam esta
Centro-Sul da Península desenvolveram a mais brilhante influência, que, todavia, foi muito intensa na vida rural:
civilização pré-romana: os Iberos. introduziram e melhoraram sistemas de rega, numerosas
A Romanização (séculos II e I a.C.) é a primeira acção árvores de fruto, plantas várias, comestíveis ou de interesse
civilizacional que se manifestou em todo o espaço que ‘industrial’, e técnicas de transformação de numerosos
constitui hoje o território português, originando uma forte produtos agrícolas. Restam nomes de origem árabe,
transformação das paisagens e dos modos de viver: as ou arabizados, mormente em numerosos lugares, e palavras
povoações alcandoradas e fortificadas foram, na sua maior relativas à vida rural, ao passo que a norte do Douro,
parte, abandonadas, mais ou menos compulsivamente, as equivalentes designações romanas ou pré-romanas não
‘transferindo-se’ a população para as terras baixas; uma foram modificadas.
economia de montanha, rústica, foi sendo substituída por uma Durante a Reconquista, para além de conquistas e
economia baseada em áreas cultivadas, com solos remexidos reconquistas de terras entre cristãos e muçulmanos (mouros),
por arados de madeira, divididas em unidades agrárias com parece lícito pensar-se numa continuidade de povoamento
limites fixados pela necessidade de tributação; caminhos e de organização do espaço vinda bem de trás, embora
calcetados (estradas romanas e caminhos velhos, cujos em épocas de maior conflito as populações se vissem
vestígios prevaleceram até aos nossos dias) iam ligando não só constrangidas a refugiarem-se, temporariamente, em lugares
entre si as principais cidades existentes – e outras que se iam mais seguros – castros e matas espessas – e a reforçarem laços
construindo no ocidente do Império Romano, de então – cuja comunitários. Esta situação foi alterada “com o
população diversificava os modos de vida, enriquecendo com estabelecimento dos condes, delegados dos reis de Oviedo
o comércio e circulação das diversas produções; por outro e de Leão” que “preferiram, decerto, criar fortalezas com
lado, a construção e a evolução do Império viviam das ligações funções (...) de assegurarem a vigilância dos povoados
regionais pelo que as cidades do Ocidente não eram estranhas do respectivo território (...) e garantirem a submissão
às restantes da Península. “O território português encontrava-se dos habitantes da vizinhança” (José Mattoso), entretanto
então incorporado num conjunto político e comercial de cariz regressados, na área que lhes fora confiada. Estabeleceu-se,
mediterrâneo” (Orlando Ribeiro). Contudo, foi neste assim, uma rede de fortalezas que “reforçava a supremacia do
longínquo canto ocidental da Península que, pela distância aos senhor”, o qual, para além de senhor da guerra, estava também
principais centros, as marcas do Império Romano foram investido em funções administrativas e judiciais;
menos grandiosas... estas fortalezas vieram, mais tarde, a constituir povoações
As Invasões Germânicas que se lhes seguiram, e das quais as muralhadas, onde, sempre que necessário, as populações
mais importantes foram a sueva e a visigótica, não trouxeram vizinhas se refugiavam.
modificações essenciais à organização românica, bem marcada Por certo, esta rede não cobria toda a superfície do território;

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TERRITÓRIO, SUPORTE DAS GENTES

neste lento processo de repovoamento haveria espaços onde pobres: humidade e solo condicionam a vegetação natural
permaneceram comunidades que, mais ou menos isoladas, e influenciam a gama possível de culturas. Os rios, quando
estabeleceram e fortaleceram laços entre si – seriam muito encaixados, dificultam as ligações entre margens; na
agrupamentos de “homens livres, com jurisdição sobre desembocadura, colmatam com rapidez e tornam difícil –
territórios equivalentes às antigas paróquias suevas (...) com quando não impossibilitam por completo – a passagem para
prevalência para os vínculos de parentesco” (Carlos Fabião) o mar, via de comunicação de cabotagem usual até há muito
e que, tantas vezes, por infortúnio da sorte, se viam obrigados pouco tempo entre povoações costeiras; com mais graves
a submeter as suas vidas e as suas terra aos ‘senhores’ – quer consequências, levaram ao fecho de numerosos portos,
guerreiros, quer eclesiásticos; uns e outros, aumentavam, importantes no tempo das Descobertas, que, por falta de águas
assim, o seu poderio territorial. Para além da organização profundas, ficaram inutilizados para base de navios de maior
militar-administrativa, também a organização eclesiástica, calado. Além disso, se repararmos na posição das povoações
“ascendendo aos tempos suevos e visigodos e apoiando-se nos que se desenvolveram em margens fluviais e em vertentes
antigos bispados”, representou uma forma de organização montanhosas, verifica-se que a maior parte se situa na margem
territorial que chega até aos nossos dias. E não se pode direita, a menos escarpada pelos efeitos erosivos, a vertente
esquecer o poder e a importância, mais tarde, das Ordens soalheira, a mais ocupada nas nossas latitudes.
Militares ao dilatarem, principalmente ao longo e ao Sul do As povoações são sempre atraídas pela água, quer fluvial quer
Tejo, o povoamento e a agricultura em vastíssimas extensões, do mar; em Portugal, qualquer análise de povoamento mostra
que viriam a integrar o território nacional. que o apelo do Oceano foi sempre marcante; nos nossos dias,
A progressiva diferenciação cultural dos povos também quatro quintos da população vivem a menos de 50km da
marcou o território português, pelo menos até meados do costa, deixando atrás uma terra rarefeita de homens e de
século passado. Só alguns exemplos. Uma muito maior actividades. Esses milhões de portugueses, tão junto do
religiosidade a norte do Tejo contrastando com o maior peso Oceano, vivem em áreas urbanas, aldeias cada vez mais vilas,
de ‘não religiosidade’ observada em todo o Sul; as ‘casas de vilas cada vez mais cidades.
brasileiro’, testemunho da vivência num mundo diferente – o Todo o agrupamento humano cria o seu ambiente local que
Brasil – , para onde uma forte densidade de população, aliada a interfere com o ambiente envolvente através de uma rede de
insuficientes recursos materiais, obrigou, no Norte, à saída de relações físicas e mentais que contribuem para valorizar o
milhares de pessoas, pelo menos desde o último quartel do território. A cultura local, em geral, funciona como um factor
século XIX até meados do seguinte; no Sul, uma população que de resistência a qualquer mudança mesmo que, no fundo,
sempre foi mais rarefeita do que em qualquer outra área do introduza melhorias. As transformações podem ser lentas,
País, era amplamente acrescida com a fixação de ‘gente de aparentemente insensíveis à escala humana ou mais rápidas,
fóra’, de áreas do interior, que para aí se deslocava em às vezes bruscas; no último meio século houve, por todo
trabalhos sazonais de campo, acabando por se integrar. o mundo, modificações importantes.
Assim, Portugal Continental foi-se forjando num território Uma transformação espectacular verifica-se no domínio das
fisicamente muito diversificado, onde muitos povos, com cidades, quer na sua dimensão, quer nas suas funções;
diferentes capacidades e culturas, se acomodaram, embora as cidades dominam e estruturam o espaço; tanto mais e tão
a sua ocupação conhecesse sucessos vários; os portugueses mais longe quanto maior o seu poder demográfico, funcional
foram (e somos) os seus continuadores na modelação de uma e político; sempre organizaram a área envolvente, com
terra que só aparentemente é una; as diversidades expressões diversas, e absorveram espaço em seu proveito.
contribuíram para as múltiplas singularidades regionais e locais A maioria das cidades ‘tradicionais’ portuguesas era de tipo
que chegaram até muito perto do nosso tempo, ao fim de administrativo ou militar-administrativo; estas funcionalidades
quase nove séculos de continuidade... Esta permanência está fizeram a diferença entre as pequenas cidades e as vilas que se
estreitamente ligada à presença do mar-oceano. Mar imenso tornaram importantes pela valorização dos terrenos agrícolas e
e rude que moldou, afinal, um País e um povo que dele agro-pastoris à sua volta, as quais, tantas vezes, evoluíram para
sempre dependeu, mesmo quando o ignorou. um complemento manufactureiro. Assim se formaram e
O Atlântico, ao longo da História geológica, oscilou entre viveram, praticamente até à última década do século XX,
níveis altos e baixos e por isso retalhou plataformas litorais centros urbanos desligados entre si, mantendo relações
e provocou o encaixe e a colmatagem da parte terminal de privilegiadas com as capitais de distrito, aos quais se juntaram
alguns dos rios que irrigam a Península; e estes acidentes têm alguns outros com perfil histórico ou defensivo, sendo hoje
forte impacte na ocupação do território. As plataformas, por bem mais reconhecidos no apelo ao turismo. Nos fins do
serem quase sempre varridas por ventos fortes, secos no Sul, século XIX, pela emergência do caminho-de-ferro que, a pouco
húmidos no Norte, e terem solos esqueléticos ou muito e pouco, os ia interligando configura-se uma malha urbana

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que ainda subsiste em nossos dias como uma das mais Oeiras, são exemplos bem marcantes nesta opção
consistentes, ainda que perturbada pelo sistema rodoviário de desenvolvimento.
que, entretanto, se lhe tem vindo a sobrepor. As cidades, Outro aspecto da organização espacial das cidades diz
enriquecidas pela multiplicidade de acessos, desenvolvem-se respeito ao mundo rural envolvente. A repartição regional
funcionalmente: primeiro pelas indústrias, mais tarde pelos e local das culturas, das espécies florestais e dos efectivos
serviços, alguns dos quais com especial importância na fixação pecuários, está muito directamente dependente de factores
da população e sua maior ‘abertura’, como é o caso da climáticos e pedológicos, mas é altamente influenciada por
introdução do ensino superior. A revitalização proporcionada e factores de natureza socioeconómica; ao lado de áreas
a possibilidade de fixação de mais população com maior nível de agricultura tecnicamente atrasada podem encontrar-se
de conhecimentos é reforçada pelo desenvolvimento dos ‘explorações dinâmicas e eficientes’. É esta uma característica
modernos meios de comunicação; há jovens casais a trabalhar bem marcante no Portugal de hoje, onde o ‘velho’ mundo
e a viver permanentemente no meio do Alentejo, como em rural, quer no Continente, quer nas Ilhas, se transforma
Trás-os-Montes... opção de vida separada das raízes familiares, rapidamente.
por aí terem encontrado um meio agradável: mantêm-se O espaço, não nos podemos esquecer, é cada vez mais
ligados ao ‘mundo mais próximo’ pelo automóvel, sempre tridimensional – aprofunda-se à medida que se escavam
à mão – e também por bons meios de transporte ferro e minas, abrem poços de petróleo, se multiplicam túneis para
rodoviários – e ao ‘mundo distante’ pela variedade de passagem de vias de comunicação; eleva-se com o aumento
telecomunicações disponíveis. da altura dos arranha-céus e da circulação aérea, cada vez
Os núcleos urbanos não são só organizadores de espaço, mais intensa e atingindo maior altitude, mesmo sem falar na
delineando o seu crescimento, mas também de funções; e se, já activa, embora incipiente, exploração planetária... E tudo
em Portugal, a Indústria raramente teve impacte primordial, interligado por redes de telecomunicações cada vez mais
não a podemos menosprezar, nomeadamente no noroeste e seu potentes e eficazes. Neste Mundo ‘emaranhado’, as tomadas
prolongamento litorâneo até Coimbra, e em alguns nichos de de decisões são cada vez mais difíceis e complexas; se,
certa importância como na área de Leiria e no Algarve; antigamente, as organizações territoriais eram relativamente
é essencialmente manufactureira, muitas vezes resultante de autónomas e independentes, desde há séculos que tal
uma longa evolução cuja origem se perde nos tempos. Mas há é impensável; hoje, pela evolução das técnicas de
pelo menos duas excepções a esta difusa implantação espacial, comunicação, qualquer lugar fica exposto ao efeito de
que se basearam na indústria pesada: uma, contornando o decisões tomadas a milhares de quilómetros de distância,
‘Mar da Palha’ (ou seja, o interior do estuário do Tejo) pelo às vezes, infelizmente, com franco desconhecimento das
sul, florescente ao longo de umas três décadas, mas extinta características a ele específicas. Por isso, para quem procure
há quase um quarto de século, e da qual dependeram alguns conceber uma melhor organização da sociedade, torna-se
milhares de habitantes, tendo atraído muita população indispensável compreender o mundo, conhecer a fundo
principalmente do Alentejo; outra, mais recente, localizada os seus vários aspectos, notoriamente a sua História e
em Sines, porto de águas profundas, destinado a ser uma Geografia, não só nas generalidades como, em especial,
ampla plataforma europeia de matérias-primas para nos desenvolvimentos sociais e económicos, porque,
a indústria petroquímica. se certos factos da Geografia podem explicar a repartição
O seu conturbado desenvolvimento nunca permitiu de riquezas, genericamente falando é através da História
concretizar os objectivos propostos: a cidade de Santo e da evolução das técnicas que elas podem ser valorizadas.
André, construída de raiz para abrigar os 100 000 habitantes Desta simbiose, construída ao longo do tempo, resultam
que se previa serem indispensáveis ao funcionamento particularismos regionais que permitem, por exemplo, em
daquele pólo industrial, ficou muito aquém do intento Portugal, que um simples passeante distinga as terras mimosas
(tal como o próprio projecto industrial) e muitos dos bairros e frescas do Baixo Minho, das agrestes serras que se lhe
construídos só muito mais tarde foram habitados; e, hoje, justapõem ou das extensas áreas aplanadas e secas do Alentejo;
a população residente nem está maioritariamente ligada ou a expandida e difusa cidade do Funchal, de qualquer uma
às indústrias aí localizadas. das dos Açores, muito mais compactas e ‘arrumadas’.
Ainda mais recentemente, depois de abandonada a ideia dos Diga-se, por fim, que qualquer espaço deverá ser organizado
grandes projectos industriais, sem sucesso garantido, as cidades de forma a suprir as necessidades da comunidade num dado
voltam a preocupar-se em atrair actividades, oferecendo boas momento da sua vida social; e que tal organização tem de
condições em espaços especialmente infra-estruturados: Évora, respeitar as indicações da Natureza e ser servida pelas técnicas
Almada, Aveiro, são bons exemplos. Noutros casos, a oferta de disponíveis, que a ela se devem ajustar de modo a manter
condições atraentes encontra-se nos ‘serviços’: Lisboa, Aveiro, um equilíbrio entre o natural e o humanizado.

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OS HOMENS E O MEIO

Dulce Pimentel

A POPULAÇÃO
Portugal, nas últimas décadas, sofreu rápidas e profundas modificações que alteraram o seu perfil
demográfico ‘clássico’, aproximando-o do modelo europeu. À semelhança de outros Estados-Membros da
União Europeia (UE), a população residente em Portugal apresenta taxas de crescimento reduzidas,
estrutura etária envelhecida, baixos níveis de fecundidade e de mortalidade infantil e um progressivo
acréscimo de estrangeiros, que tornam o saldo migratório na principal componente da dinâmica
populacional. Por isso, do ponto de vista demográfico, é um país diferente daquele que era há pouco mais
de trinta anos, sendo surpreendente a velocidade com que se deu a mudança.
Em 2001, o número de habitantes era de 10 356 000, dos quais 5 000 000 homens (48%) e 5 356 000
mulheres (52%). Portugal ocupa a 9.ª posição entre os países mais povoados da UE, sensivelmente
a par da Bélgica e República Checa, mas apenas a 74.ª a nível mundial.

Evolução recente Uma distribuição desigual

Entre o início e o fim do século XX a população de Por- Em 2001, a densidade populacional era de 112hab/km2,
tugal duplicou, mas o ritmo de crescimento foi muito variá- valor muito próximo da média da UE-25 (114hab/km2), mas
vel. Embora a tendência geral seja para o crescimento efec- a repartição da população no terrritório português é muito
tivo da população, na década de 60, em virtude de saldos desigual: as densidades populacionais mais elevadas encon-
migratórios negativos, a população diminuiu (3%); na déca- tram-se na faixa litoral Oeste até ao Sado e na orla algarvia,
da seguinte voltou a aumentar de forma significativa (cerca enquanto no interior e, em particular no Alentejo, as densida-
de 14%), fruto de saldos migratórios muito elevados entre des são muitas vezes inferiores a 20hab/km2.
1974 e 1976, em resultado da descolonização; nos anos 80 Os contrastes regionais são ainda bem marcados, perpetuan-
praticamente estagnou (0,4%) e nos anos 90 verificou-se um do as diferenças existentes desde o início da nacionalidade.
novo acréscimo (5%). No passado, a ‘divisão’ fundamental no Continente corres-
pondia ao curso do rio Tejo, que separava um Portugal densa-
mente povoado das terras montanhosas, húmidas, dominadas

População residente em Portugal, 1900/2001

Milhares
11 000

9 900

8 800
Imigração
7 700 Regresso
ex-colónias
Fluxos e da Europa
6 600 emigratórios
elevados
5 500 Crescimento
natural forte
4 400 Mortalidade elevada
e emigração
3 300

2 200

1 100

0
1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001
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OS HOMENS E O MEIO
A população

Densidade populacional, 2001

hab/km2
35 000
1 000
500
200
100

Média nacional: 112hab/km2


Média do Continente: 111hab/km2
Média dos Açores: 104hab/km2
Média da Madeira: 312hab/km2

0 25 50 km

pela influência do oceano – o Noroeste, e até os planaltos de importância demográfica tem vindo a acentuar-se nos últi-
Nordeste –, de um Portugal quase vazio nas regiões secas, mos quarenta anos.
quentes e planas, de características mediterrâneas – o Sul. Nas O Algarve foi a região que registou o maior aumento
últimas décadas é, contudo, mais evidente o contraste entre a populacional no período 1991/2001, mais do triplo da média
fachada atlântica e as terras do interior, acentuando-se a con- nacional, enquanto o Alentejo e a Madeira perderam popula-
centração populacional nas áreas metropolitanas de Lisboa e ção, 0,7% e 3,3% respectivamente; nos Açores a evolução
do Porto. demográfica foi nesse período ligeiramente positiva (1,7%).
Em 2001, mais de um quarto (25,7%) dos residentes con- No Continente, quando se aumenta a escala de análise tor-
centra-se na região de Lisboa, relação que era somente de um nam-se mais evidentes as assimetrias litoral/interior. As maio-
sexto no início da década de 60. Nas áreas metropolitanas de res taxas de crescimento demográfico registaram-se quase
Lisboa e do Porto reside 39% da população do País e a sua sempre nos concelhos do litoral, com destaque para as áreas

ATLAS DE PORTUGAL IGP 87


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OS HOMENS E O MEIO
A população

Distribuição da população no Continente, 1940

Reconstruído com base no mapa da distribuição


da população em Portugal, realizado
no Centro de Estudos Geográficos da F. L. L.

Rede hidrográfica principal em 2004


500 habitantes

Lisboa (cidade): 694 389 habitantes


Porto (cidade): 258 548 habitantes

88 ATLAS DE PORTUGAL IGP


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OS HOMENS E O MEIO
A população

Distribuição da população, 2001

Rede hidrográfica principal


500 habitantes

Lisboa (cidade): 564 657 habitantes


Porto (cidade): 263 131 habitantes

0 25 50 km

ATLAS DE PORTUGAL IGP 89


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OS HOMENS E O MEIO
A população

Ano de máximo populacional

Ano do Censo
2001
1991
1981
1970
1960
1950
1940

0 25 50 km

metropolitanas de Lisboa e do Porto, enquanto a maioria dos Nos Açores, em cada uma das nove ilhas, a ocupação é mui-
concelhos do interior perderam habitantes. No interior, assis- to desigual, desde o estilo do povoamento até à densidade da
te-se, no entanto, à confirmação da capacidade polarizadora dos população. Os casos extremos encontram-se no Corvo, onde a
centros urbanos de maior dimensão. Os investimentos realiza- sua única povoação, outrora bem aglomerada, faz lembrar as
dos em parques industriais, pólos universitários, melhoria das pequenas aldeias serranas de Trás-os-Montes, mas à beira-mar,
acessibilidades e na cultura e lazer, têm contribuído para o cres- e em São Miguel, onde há ainda poucas dezenas de anos se
cimento das cidades, mas teme-se que estas permaneçam como encontrava o povoamento mais estritamente alinhado de todo o
‘ilhas’ incapazes de dinamizar as vastas áreas despovoadas que as arquipélago. Esta ilha, para além desta característica, que se vai
envolvem. perdendo, é, também, a maior e a de maior diversidade de uti-
As Regiões Autónomas, no conjunto dos dois arquipéla- lização do território açoriano: detinha, aquando o último recen-
gos, representam apenas cerca de 5% da população residente seamento, em 2001, 54% da população em 33% da superfície,
em Portugal. contrastando com a ilha mais pequena, o Corvo, com 0,7% da

90 ATLAS DE PORTUGAL IGP


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OS HOMENS E O MEIO
A população

Evolução da população, 1981/2001

Perfil da evolução

1981 1991 2001

0 25 50 km

População residente, 1900/2001 Variação da população residente, 1950/2001

Anos Portugal Continente Açores Madeira 1950/60 1960/70 1970/81 1981/91 1991/01

1900 5 446 760 5 039 744 256 673 150 343 Portugal 4,5 -2,5 13,5 0,3 5,0
1911 5 999 146 5 586 053 243 002 170 091 Continente 4,7 -2,0 14,9 0,4 5,3
1920 5 080 135 5 668 232 231 543 180 360 Açores 2,8 -12,4 -15,2 -2,3 1,7
1930 5 802 429 6 334 507 255 464 212 458 Madeira -0,3 -5,9 0,0 0,2 -3,3
1940 7 755 423 7 218 882 287 091 249 450
1950 8 510 240 7 921 913 318 558 269 769
1960 8 889 392 8 292 975 327 480 268 937
1970 8 663 252 8 123 310 286 989 252 953
1981 9 833 014 9 336 760 243 410 252 844
1991 9 867 147 9 375 926 237 795 253 426
2001 10 356 117 9 869 343 241 763 245 011

ATLAS DE PORTUGAL IGP 91


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OS HOMENS E O MEIO
A população

Crescimento efectivo da população, 1991/2001 Crescimento natural, 1991/2001

% %
50 11
10 5
5 0
0 -5
-5 -10
-10

Crescimento migratório, 1991/2001

área e 425 habitantes, ou seja, 0,17% do total de residentes no


Arquipélago, cuja densidade média é de 104hab/km2.
No arquipélago da Madeira, só a ilha do mesmo nome e a
do Porto Santo são habitadas; os três altos rochedos basálticos
que saem abruptamente do Oceano, as Desertas, e as três
pequenas superfícies quase ao rés da água, as Selvagens (Gran-
de, Pequena e Ilhéu de Fora), são, uns e outras, importantes
reservas ecológicas, só visitadas para estudo e, cada vez menos,
por um ou outro pescador ou caçador que aí se aventure. A ilha
da Madeira é a maior e a mais populosa do arquipélago:
745km2 de superfície, 241 000 habitantes em 2001, ao passo
que Porto Santo, em 40km2, detinha, na mesma data, cerca de
%
37 4 500 habitantes, localizados praticamente na vila e ao longo do
10 litoral Sul, hoje dedicado ao turismo, outrora a uma magra
5
0 agricultura de subsistência e a importante vinicultura.
-5
-10 A dissimetria na distribuição da população na ilha principal
é enorme e vem de longa data: já em meados do século passa-
do, 80% dos habitantes se dispersavam pela encosta Sul; hoje
só a cidade do Funchal abriga 40% da população da Ilha (no
concelho que detém a capital habita metade dos residentes).
N

0 25 50 km

92 ATLAS DE PORTUGAL IGP


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OS HOMENS E O MEIO
A população

Baixos níveis de natalidade população. Ao nível europeu, Portugal apresentava uma


estrutura relativamente jovem, mas hoje é um dos países que
e fortes saldos migratórios
regista uma menor proporção de jovens. Por seu turno, o gru-
po de idosos mais que duplicou desde 1960, situando-se
A dinâmica global da população resulta da conjugação de actualmente próximo da média europeia; e com ele aumen-
duas componentes: a natural e a migratória. Nas últimas tou também o índice de dependência total.
décadas, o seu contributo foi desigual tanto a nível nacional No início do século XXI a população é essencialmente
como regional. composta por adultos e pessoas idosas, o que tem inevitáveis
Na origem dos reduzidos saldos naturais está a forte que- consequências tanto do ponto de vista demográfico, como
bra observada no número de nascimentos (213 900 em 1960, económico e social. O envelhecimento afecta todas as regiões,
152 100 em 1991 e 114 500 em 2002), já que os níveis de mas é mais pronunciado quando se combinam fracos níveis
mortalidade se mantiveram estáveis em torno dos 100 000 de fecundidade com saldos migratórios negativos. No Conti-
óbitos anuais. O índice de fecundidade (número médio de nente são ainda os concelhos do interior que apresentam
filhos por mulher) está hoje estabilizado em 1,5, nível inferior níveis de envelhecimento mais elevados, chegando a atingir 4
ao necessário para assegurar a substituição de gerações (2,1) e idosos por cada jovem. O Norte mantém a posição de região
um dos mais baixos entre os países europeus. Nascem menos mais jovem do Continente: 17,5% de jovens e 14% de idosos,
crianças, mas a melhoria dos cuidados de saúde permitiu uma mas as populações dos dois arquipélagos são as mais jovens do
evolução muito positiva das taxas de mortalidade infantil (de País – 21,4% da população açoriana tem menos de 15 anos e
22,2 ‰ em 1981 para 4,1 ‰ em 2003). apenas 13% tem mais de 64 anos, enquanto na Madeira, cer-
Esta evolução tem-se reflectido em ganhos consideráveis ca de um quinto da população tem menos de 15 anos e 14%
na esperança de vida. No ínício dos anos 60, os homens tem mais de 64 anos. Em consequência detêm os mais baixos
viviam em média 60 anos enquanto as mulheres não iam índices de envelhecimento: os Açores, 62, e a Madeira, 71,
além dos 66 anos, hoje a esperança de vida à nascença chega quando em 2001 a média nacional foi de 104.
aos 74 anos para o sexo masculino e ultrapassa os 80 para o
feminino.
A emergência de novos comportamentos
Um envelhecimento progressivo O número de famílias aumentou nos últimos quarenta
anos em Portugal a ritmos ainda mais elevados que os do
O aspecto mais marcante da situação demográfica portugue- crescimento demográfico. Neste período ocorreram grandes
sa reside no envelhecimento da sua população. Apesar dos níveis transformações: a fecundidade é hoje metade do que era no
não atingirem os de outras regiões europeias, a redução no início dos anos 60, a esperança de vida teve ganhos na ordem
número de jovens e o aumento do número de idosos deu-se em dos 12 anos e o número de divórcios tem vindo sempre a
Portugal de modo relativamente rápido. Em 2001, pela primeira aumentar, alterações que ocorreram num contexto de pro-
vez, o número de idosos (população com mais de 64 anos) foi fundas mudanças sociais.
superior ao número de jovens (menos de 15 anos), 1 708 000 e Em 2001 foram recenseadas cerca de 3 651 000 famílias, o
1 640 000, respectivamente. Entre 1991 e 2001 deu-se uma que representou um acréscimo de 16% em relação a 1991,
diminuição de 16% no número de jovens e um acréscimo de enquanto a população cresceu apenas 5%. Ao aumento do
26% no de idosos. número de famílias tem correspondido uma redução no
Também a população em idade activa envelheceu mostran- número de membros que as compõem (cerca de 4 pessoas em
do no período de 1991 a 2001 duas tendências distintas: o gru- 1960 e menos de 3 pessoas em 2001). Esta tendência também
po mais jovem (até 25 anos) diminuiu 8%, reflectindo o declí- se verifica ao nível regional, embora nos Açores, na Madeira
nio da natalidade iniciado na década de 80; por seu turno, e na região Norte, no Continente, o número de membros se
outros grupos registam aumentos (13,2% no grupo 25-44 anos situe acima da média nacional.
e 10,2% no de 45-64 anos) que acompanham a evolução dos Apesar do decréscimo da dimensão média, as famílias por-
mais idosos; significativo é também o aumento destes: enquan- tuguesas continuam a ser das mais numerosas na União
to a população com 80 ou mais anos constituía em 2001 cerca Europeia, cuja média é de 2,4 pessoas por família; este indica-
de 21% da população ‘senior’, a proporção dos mais de 85 anos dor reflecte o peso que tradicionalmente as famílias numero-
chegava a 9%, mas sendo de 11% para as mulheres, o que tra- sas tinham nos países do Sul da Europa.
duz a sua maior esperança de vida. O aumento do número de famílias evidencia uma altera-
O fenómeno do envelhecimento demográfico tem vindo a ção na sua estrutura. Entre 1960 e 2001, a proporção de pes-
acentuar-se. No início dos anos 60 os níveis de natalidade soas a viver só passou de 10,7% para 17,3%. Ao mesmo tem-
eram elevados, representando os jovens quase 30% do total da po decresce a proporção de famílias com 5 ou mais pessoas:

ATLAS DE PORTUGAL IGP 93


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OS HOMENS E O MEIO
A população

Saldo natural e saldo migratório Taxas de natalidade, mortalidade Esperança de vida à nascença
e mortalidade infantil, 1960/2003

Milhares Saldo natural Saldo migratório ‰ Taxa de Mortalidade Anos Homens Mulheres

1 500 100 Taxa de Natalidade 90


Mortalidade Infantil
80
900 80
70

60
300 60
50

40
-300 40

30

-900 20 20

10

-1 500 0 0
1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2003 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2014*
1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001 * estimativa

Pirâmide de idades, 1960 e 2001 ro filho e o aumento da esperança média de vida. Apesar da
rápida mudança, os laços intergeracionais mantêm-se fortes e
Homens
100 ou +
Mulheres a família continua a ser, para a maioria dos portugueses, um
Total: 5 000 141 95 anos Total: 5 355 976 símbolo de felicidade e a principal base de confiança.
Total: 4 254 416 90 anos Total: 4 634 976

85 anos
80 anos
75 anos
Educação
70 anos

65 anos
O sector educativo foi um dos que mais reflectiu as
60 anos
mudanças demográficas, económicas e sociais das últimas
55 anos décadas em Portugal. O nível de escolarização dos mais
50 anos jovens é quase de 100%, a taxa de anafabetismo está finalmen-
45 anos te abaixo dos dois dígitos (9‰ em 2001) e o ensino superior
40 anos duplicou ao longo da década de 90.
35 anos Devido à quebra da natalidade, o número de alunos no
30 anos ensino básico tem vindo a diminuir: entre 1980 e 2000, a
25 anos redução foi de cerca de 400 000 alunos apenas no 1.º ciclo e
20 anos representou, só na década de 90, uma perda de 20% no total.
15 anos Em contrapartida, o 3.º ciclo registou, pela entrada em vigor
10 anos da escolaridade obrigatória de 9 anos, em 1986, um acréscimo
5 anos significativo no número de alunos matriculados nos anos 80,
Até 1 ano
sendo de assinalar um decréscimo na década seguinte. O
80 000 60 000 40 000 20 000 0 0 20 000 40 000 60 000 80 000
aumento do número de alunos no secundário, de certo modo
População residente em Portugal por idades, em 1960 atenuou as perdas nos outros níveis de ensino. No entanto,
População residente em Portugal por idades, em 2001 razões demográficas voltam a estar na origem da inflexão
observada a partir de meados da década de 90. Entre 1991 e
2003 foram encerradas 371 escolas do 2.º e 3.º ciclos e do
29,1% em 1960, apenas 9,5% em 2001. Paralelamente à dimi- ensino secundário, para além das 881 do ensino básico media-
nuição das famílias numerosas, aumenta o número de famí- tizado extintas no mesmo período, devido à reorganização da
lias monoparentais (9,2% do total em 1991, 11,5% em 2001), rede escolar e a extinção das designadas ‘tele-escolas’. Entre-
sendo a grande maioria (86,4%) do tipo ‘mãe com filhos’. tanto foram criadas 79 escolas básicas integradas (24 das quais
Hoje somente 19% dos agregados familiares é composto por com jardim de infância) que substituem algumas das que
um casal com crianças; cerca de 9% de pessoas idosas vivem
sós. A esta situação estão associados factores como o declínio
Esperança de vida à nascença: número médio de anos que uma pessoa poderá esperar viver, se as condições de mortalidade
da fecundidade, o retardar da idade no nascimento do primei- observadas nesse momento se mantiverem ao longo da sua vida.

94 ATLAS DE PORTUGAL IGP


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OS HOMENS E O MEIO
A população

Índice de envelhecimento, 2001 Índice de dependência total, 2001

% %
520 100
400 80
300 70
200 50
100
Média nacional: 48
Média nacional: 104 Média do Continente: 48
Média do Continente: 107 Média dos Açores: 51
Média dos Açores: 62 Média da Madeira: 48
Média da Madeira: 71

0 25 50 km

Tendências de evolução dos alunos matriculados Estrutura das famílias segundo a dimensão média, 1960 e 2001
(base 100=1990/91)
% %
1 pessoa 1960 2001
30
25
20
15
5 ou mais
10 2 pessoas
pessoas
5

4 pessoas 3 pessoas

tinham sido encerradas, e cuja distribuição não obedece a um que concluem os estudos. O importante aumento do número de
padrão geográfico homogéneo. diplomados não deve fazer esquecer que Portugal continua a
O maior crescimento no número de alunos deu-se no apresentar, no conjunto dos países da OCDE, uma das mais baixas
ensino superior: entre 1990/91 e 2000/01 passou-se de cerca taxas de frequência do ensino superior de jovens entre os 19 e 24
de 200 000 para cerca de 400 000, em parte devido à oferta do anos (17% para as mulheres e 10% para os homens).
ensino particular e cooperativo. Apesar do investimento tardio no prolongamento da esco-
Para o rápido crescimento do número de alunos, tanto no larização (apenas em 1986 se tornou obrigatória a escolaridade
secundário como no superior, muito contribuíram as mulheres.
Actualmente representam cerca de 60% dos estudantes no supe- Índice de envelhecimento: número de pessoas com 65 ou mais anos por cada 100 pessoas com menos de 15 anos.
Índice de dependência total: número de pessoas em idade jovem (menos de 15 anos) e idosa (65 e + anos) por cada 100
rior (apenas 29% em 1960) e são também maioritárias entre os pessoas em idade activa (15-64 anos).

ATLAS DE PORTUGAL IGP 95


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OS HOMENS E O MEIO
A população

População segundo o nível População dos 25 aos 64 anos, Jovens dos 19 aos 24 anos que
de ensino segundo a escolaridade frequentam o ensino superior, 2002
1991 2001 1991 2001 Mulheres Homens

% % % % % %
Sem nível de ensino 17,6 14,3 6 anos de escolaridade 77,6 62,2 Média OCDE 29 26
1º ciclo do ensino básico 43,8 35,1 Ensino básico (9 anos escolaridade) 7,4 13,4 Alemanha 20 23
2º ciclo 12,7 12,5 Ensino secundário 8,4 13,0 Espanha 39 32
3º ciclo do ensino básico 10,9 10,9 Ensino superior 6,6 11,4 França 37 32
Ensino secundário 8,7 15,7 Grécia 27 21
Ensino médio 1,4 0,8 Irlanda 50 45
Ensino superior 4,9 10,7 Itália 13 10
Portugal 17 10
Reino Unido 29 30
EUA 42 36
Japão 49 46

Alunos no ensino público, por grau Despesa pública em educação

1980/81
Superior 2000
900 000 1990/81 UE-15 1995
2000/01
750 000

600 000
Portugal
450 000
Secundário 1º Ciclo
300 000

150 000 UE-25

EUA

Japão

3º Ciclo 2º Ciclo 0 1 2 3 4 5 6 7 8

de 9 anos), Portugal é dos países da UE que dedica à educação Mas os problemas persistem, como nos recordam os
uma maior parcela do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2001, resultados do PISA 2000 (Programme for International Student
a despesa pública em educação representou cerca de 6% do Assessment) realizado sob a égide da OCDE em cerca de 30 paí-
PIB, valor que é ligeiramente superior à média da UE-15 e que ses, a alunos de 15 anos. Os estudantes portugueses situam-se
apenas foi ultrapassado pela Suécia, Finlândia e Bélgica. abaixo da média tanto na compreensão da escrita como nas
O esforço continuado de investimento permitiu melhorar matérias científicas. À fraca qualidade da aprendizagem junta-se
o nível médio de qualificação dos portugueses. Entre 1991 e o abandono escolar. Segundo estatísticas do Eurostat, em 2003
2001 a proporção de pessoas com o ensino secundário quase a taxa de abandono escolar dos jovens dos 18 aos 24 anos, antes
duplicou, enquanto os diplomados passaram de 5% para cer- ou logo após terem completado a escolaridade obrigatória, foi
ca de 11%. Consequência da democratização no acesso aos de 41%, a mais elevada da UE, cuja média é de 18%. A situação
estudos, as gerações mais jovens têm vindo a alcançar níveis é tanto mais grave se atendermos ao facto de mais de um quar-
de qualificação mais elevados que as gerações anteriores, no to destes jovens abandonar precocemente a escola, ou seja,
entanto 60% dos portugueses em idade activa tem no máxi- sem ter concluído o ensino básico.
mo 6 anos de escolaridade. Não restam dúvidas de que a educação constitui um fac-
As comparações internacionais são neste âmbito geralmen- tor determinante na construção de economias e sociedades do
te desfavoráveis a Portugal. Em 2003, apenas 47% dos jovens conhecimento. Prosseguir os objectivos definidos na Estraté-
portugueses entre 20 e 24 anos tinham concluído pelo menos gia de Lisboa (2000) coloca a Portugal um duplo desafio: ter
o nível superior do ensino secundário, enquanto a média da que ultrapassar no espaço de uma década o atraso estrutural
UE-15 era de 74%. É, no entanto, o país que registou o maior num domínio tão sensível como a educação, promover a for-
crescimento nos últimos cinco anos, convergindo gradualmen- mação ao longo da vida e, simultaneamente, não deixar agra-
te com os níveis de escolaridade dos outros Estados-membros. var as clivagens regionais e entre grupos sociais.

96 ATLAS DE PORTUGAL IGP


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OS HOMENS E O MEIO
A população

Escolas encerradas, 1991/2003 Escolas básicas integradas, criadas, 1991/2003

Escola Básica Integrada


Escola Básica Integrada
com Jardim de Infância

0 25 50 km

Escola Secundária

Escola Básica Integrada

Escola Básica do 2º e 3º Ciclos


com Ensino Secundário

Escola Básica do 2º e 3º Ciclos

Escola Básica do 1º e 2º Ciclos

ATLAS DE PORTUGAL IGP 97

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