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Cristandade
Apostólica
Autor: Schaff, Philip (1819-1893)
Primeira Impressão: New York, C. Scribner&Apos’ Sons, 1882
CAPÍTULO IV.
ST. PEDRO E A CONVERSÃO DOS JUDEUS
Fontes.
I. I. Genuínas: Atos 12:17; 15:13; 21:18; 1 Cor. 15:7; Gal. 1:19; 2:9, 12.
Compare com Tiago “o irmão do Senhor,” Mateus 13:55; Marcos 6:3; Gal. 1:19.
A Epístola de Tiago.
II. Pós-apostólicas: Josephus: Ant. XX. 9, 1.—Hegesippus in Euseb. Hist. Ecc. II.
ch. 23.—Jerome: Catal. vir. ill. c. 2, under “Jacobus.” Epiphanius, Haer. XXIX. 4;
XXX. 16; LXXVIII. 13 sq.
Exegético e Doutrinário
Commentaries on the Epistle of James by Herder (1775), Storr (1784), Gebser (1828),
Schneckenburger (1832), Theile (1833), Kern (1838), De Wette (1849, 3d ed. by
Brückner, 1865), Cellerier (1850), Wiesinger (in Olshausen’s Com., 1854), Stier (1845),
Huther and Beyschlag (in Meyer’s Com., 1858, 4th ed. 1882), Lange and Van Oosterzee
(in Lange’s Bibelwerk, 1862, Engl. transl. enlarged by Mombert, 1867), Alford,
Wordsworth, Bassett (1876, relaciona a Epístola a Tiago de Zebedeu), Plumptre (nas
séries de Cambridge, 1878), Punchard (in Ellicott’s Com. 1878), Erdmann (1882),
GLOAG (1883).
Woldemar G. Schmidt: Der Lehrgehalt des Jakobusbriefes. Leipzig, 1869.
W. Beyschlag: Der Jacobusbrief als urchristliches Geschichtsdenkmal. In the „Stud. u.
Kritiken,“ 1874, No. 1, pp. 105–166. See his Com.
Compare também as exposições do tipo doutrinário de Tiago em Neander, Schmid,
Schaff, Weiss (pp. 176–194, terceira ed.).
Histórico e Crítico.
Blom: De toi '"ajdelqoi'" et tai'" ajdelfai'" Kurivou. Leyden, 1839. (Eu não vi este
tratado, o qual advoga a teoria-irmão. Lightfoot diz sobre ele: “Blom dá as mais
satisfatórias declarações das autoridades patriarcais, e Schaff discute os argumentos
escriturísticos mais cuidadosamente.”)
Schaff: Jakobus Alphäi, und Jakobus der Bruder des Herrn. Berlin, 1842 (101 pages).
Mill: The Accounts of our Lord’s Brethren in the New Test. vindicated. Cambridge,
1843. (Advoga a teoria-primo da igreja Latina)
Lightfoot: The Brethren of the Lord. Excursus in his Com. on Galatians. Lond. 2d ed.
1866, pp. 247–282. (A mais hábil defesa da teoria-meio-irmão da Igreja Grega.)
Junto a Pedro, que era o líder ecumênico do Cristianismo Judaico, figura Tiago,
o irmão do Senhor (também chamado pelos escritores pós-apostólicos "Tiago o Justo,"
e "Bispo de Jerusalém"), como o cabeça local da mais antiga igreja e líder da porção
mais conservadora da Cristandade Judaica. Ele parece ter assumido o lugar de Tiago, o
filho de Zebedeu após seu martírio, A.D. 44. Ele se tornou, com Pedro e João, um dos
três "pilares" da igreja da circuncisão. E após a partida de Pedro de Jerusalém Tiago
presidiu sobre a igreja mãe da Cristandade até sua morte. Embora não sendo um dos
Doze, ele desfrutou, devido ao seu relacionamento com nosso Senhor e a sua piedade
fervorosa, de uma autoridade quase apostólica, especialmente na Judéia e entre os
conversos Judeus. [1] Em uma ocasião até mesmo Pedro cedeu a sua influência e a dos
seus representantes, e foi mal direcionado a uma conduta não caritativa em relação aos
irmãos Gentios.[2]
Tiago não era um crente antes da ressurreição de nosso Senhor. Ele era o mais
velho dos quatro "irmãos" (Tiago, José, Judas e Simão), de quem João reporta com
tocante tristeza: "Nem mesmo seus irmão nele acreditavam."[3] Foi uma das primeiras e
constantes provações do Senhor no dias de sua nominação de que ele era sem honra
entre seu compatriotas, sim "entre os de sua própria parentela e de sua própria casa."[4]
Tiago estava sem dúvida imbuído com os desvirtuados conceitos Messiânicos dos
Judeus, e impaciente com a demora e não envolvimento com as coisas deste mundo pelo
seu irmão divino. Daí então sua ameaçadora e quase desrespeitosa linguagem: "Parte
daqui e vai para a Judéia….Se tu fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo." A
crucificação pode apenas aprofundar esta dúvida e tristeza. Mas uma especial aparição
pessoal do Senhor ressurreto trouxe a sua conversão, assim também como a de seus
irmãos, que após a ressurreição apareceram em companhia dos apóstolos.[5]
Esta mudança em sua vida é breve mas significativamente aludida por Paulo, o
qual foi ele mesmo também convertido através de uma aparição pessoal do Cristo.[6] É
mais completamente registrado em um interessante fragmento do "Evangelho segundo
os Hebreus" (um dos mais velhos e menos fabulosos dos Evangelhos Apócrifos), o qual
mostra a sinceridade e ansiedade de Tiago mesmo antes de sua conversão.[7] Ele havia
jurado, aqui nos é dito, "que ele não comeria pão desde a hora em que o Senhor houvera
bebido do cálice [de sua paixão] [8] até que ele pudesse vê-lo ressurreto dentre os
mortos." O Senhor lhe apareceu e comungou com ele, dando pão a Tiago o Justo e
dizendo: "Meu irmão, coma teu pão, pois o Filho do Homem é levantado daqueles que
dormem."
Em Atos e na Epístola aos Gálatas, Tiago aparece como o mais conservador dos
conversos Judeus, a frente da ala de extrema direita; apesar de reconhecer Paulo como o
apóstolo aos gentios, dando-lhe a mão direita da irmandade, como Paulo reporta de si
mesmo, e não desejoso de impor aos Cristãos gentios o jugo da circuncisão. Ele não
deve portanto ser identificado com os heréticos Judaizantes (os precursores dos
Ebionitas), que odiavam e opunham-se a Paulo, e faziam da circuncisão uma condição
de justificação e de afiliação à igreja. Ele presidiu no Concílio de Jerusalém e propôs o
acordo que salvou a igreja de um cisma. Ele provavelmente preparou a carta sinótica a
qual concorda com seu estilo e tem a mesma fórmula de saudação que lhe é peculiar. [9]
Ele era um santo Cristão Judeu honesto, consciencioso, eminentemente prático e
conciliador, o homem certo no lugar certo na época certa, embora restrito em sua visão
mental tal como em sua esfera local de trabalho.
A partir de um comentário acidental de Paulo nós podemos inferir que Tiago, como
Pedro e os outros irmãos do Senhor, for a casado.[10]
De acordo com Josefo ele foi, devido a instigação do jovem Ananus, o sumo
sacerdote do partido dos Saduceus, a quem ele chama "o mais sem misericórdia de
todos os Judeus na execução de julgamentos," apedrejado até a morte com alguns
outros, como "quebradores da lei," i.e. Cristãos, no intervalo entre a procuração de Festo
e a de Albino, isto é, no ano 63 AD. O historiador judaico acrescenta que este ato de
injustiça criou grande indignação entre aqueles mais devotados à lei (os Fariseus), e que
eles induziram Albino e o Rei Agripa a depor Ananus (um filho de Anás mencionado em
Lucas 3:2; João 18:13). Josefo então nos fornece um testemunho imparcial da alta
estima de Tiago mesmo entre os Judeus.[11]
O dramático relato de Tiago por Hegesipo [13] é uma cena extraída da metade
do segundo século, colorida por traços Judaizantes que podem terem sidos derivados
das "Ascensões de Tiago" e de outras fontes apócrifas. Ele transforma Tiago em um
sacerdote Judeu e santo Nazirita (compare seu conselho a Paulo, Atos 21:23,24), que
não bebia nenhum vinho, comia nenhuma carne, nunca se barbeava ou cortava cabelo,
nem tomava banho e vestia-se apenas de linho. Mas o Tiago bíblico é antes Farisaico e
legalista do que Essênico e ascético. Nos registros pseudo-Clementinos ele é elevado até
mesmo acima de Pedro como o cabeça da santa igreja dos Hebreus, como "o senhor e
bispo dos bispos," como "príncipe dos sacerdotes." De acordo com a tradição,
mencionada por Epifâneo, Tiago, tal como São João em Éfeso, usavam o petalão sumo-
sacerdotal, ou placa dourada na testa com a inscrição: "Santidade ao Senhor" (Ex.
28:36). E na Liturgia de São Tiago, o irmão de Jesus é alçado a dignidade de "irmão do
próprio Deus" (ajdelfovqeo"). Lendas reúnem-se em volta da memória de grandes
homens, e revelam a profunda impressão que fizeram sobre seus amigos e seguidores. O
caráter que brilha através destas lendas sobre Tiago é de um consistente Cristão Hebreu
leal, zeloso e devoto, quem por sua pureza e santidade pessoal assegurou a reverência e
afeição de todos em volta de si.
A Epístola em nosso cânon, que propõe ter sido escrita por "Tiago, um co-servo
de Deus e de Jesus Cristo, às doze tribos da dispersão," embora não geralmente
reconhecida na época de Eusébio e Jerônimo, tem fortes evidências internas de que são
genuínas. Ela precisamente se adequa ao caráter e posição do Tiago histórico conforme
o conhecemos a partir de Paulo e de Atos, e difere largamente do Tiago apócrifo das
ficções Ebionitas.[16]
Após o martírio de Tiago ele foi sucedido por Simeão, um filho de Clopas e
primo de Jesus (e de Tiago). Ele continuou a dirigir a igreja de Jerusalém até o reinado
de Trajano, quando morreu mártir na avançada idade de cento e vinte anos. [21] Os
próximos treze bispos de Jerusalém, que vieram, entretanto, em rápida sucessão, eram
da mesma forma de descendência Judia.
Notas
(1) (1) A teoria-irmão toma o termo "adelfoiv" no sentido usual, e enxerga os irmãos
como irmãos mais novos de José e Maria, conseqüentemente como irmãos
verdadeiros de Jesus no olhos da lei e na opinião do povo, embora realmente apenas
meio-irmãos, em vista de sua concepção supernatural. Este é exegeticamente a mais
natural visão e favorecida pelo significado de "ajdelfov" (especialmente quando
usado como uma fixa designação), a constante companhia destes irmãos com Maria
(João 2:12; Mateus 12:46; 13:55), e pelo significado óbvio de Mateus 1:25 (oujk
ejgivnwsken aujth;n eJw" ou}, compare Mateus 1:18 privn h] sunelqei'n aujtouv") e
Lucas 2:7 (prwtovtoko"), conforme explicada a partir do ponto de vista dos
evangelistas, os quais utilizaram estes termos na completa visão da subseqüente
história de Maria e Jesus. A única séria objeção a ela é de natureza doutrinária e
ética, viz., a premissa da virgindade perpétua da mãe do Senhor e Salvador, e o
comprometimento de Maria aos cuidados de João na cruz ao invés de seus filhos e
filhas (João 19:25). Se não fossem estes dois obstáculos a teoria-irmão seria
provavelmente adotada por todo exegeta justo e honesto. A primeira destas objeções
data a partir da superestimação da virgindade ascética pós-apostólica, e não pode ser
sentida em Mateus e Lucas, senão teriam eles evitado esses termos ambíguos que
acabamos de indicar. A segunda dificuldade atinge também as outras duas teorias,
apenas em um nível menor (Por que João cuidaria de Maria e não seus sobrinhos e
família imediata?). Pode portanto ser resolvida sob outras suposições,
nomeadamente, a profunda simpatia espiritual e congenialidade de João com Jesus e
Maria, a qual alçava-se acima dos relacionamentos carnais, o provável parentesco de
João (baseado na própria interpretação da mesma passagem, João 19:25), e a
incredulidade dos verdadeiros irmãos na época do comprometimento.
Esta teoria foi sustentada por Tertuliano (a quem Jerônimo sumariamente dispõe
como não sendo um “homo ecclesiae,” i.e. um sismático), defendida por Helvídio de
Roma em 380 AD (violentamente atacado como um herético por Jerônimo), e por vários
indivíduos e sectos opostos a incipiente adoração da Virgem Maria; e recentemente pela
maioria dos exegetas Protestantes Alemães desde Herder, tais como Stier, De Wette,
Meyer, Weiss, Ewald, Wieseler, Keim, também por Dean Alford e Canon Farrar (Vida
de Cristo, I 97 sq.). Eu advoguei a mesma teoria em meu tratado Alemão, mas admiti
depois em minha Hist. of Ap. Ch., p. 378, de que não dei suficiente peso à segunda
teoria.
(2) (2) A teoria meio-irmão olha os irmãos e irmãs de Jesus como filhos de José através
de uma esposa anterior, conseqüentemente como sem absolutamente nenhuma
relação sanguínea, mas apenas assim simplesmente designado como José era
chamado o pai de Jesus, por um excepcional uso do termo adaptado ao fato
excepcional da miraculosa encarnação. Esta tem a vantagem dogmática de salvar a
virgindade perpétua de mãe de nosso Senhor e Salvador; diminui um pouco mais a
dificuldade implícita de João 19:25; e tem um forte e tradicional suporte nos
Evangelhos Apócrifos e na igreja Oriental. Também explicaria mais facilmente o
tom patronal em que os irmãos de nosso Senhor em João 7:3,4. Mas ela não explica
tão naturalmente o relato da constante companhia desses irmãos com Maria; assume
um casamento anterior de José que não é aludido em nenhum lugar nos Evangelhos,
e faz de José um homem velho (já com seis filhos!) e protetor ao invés de marido de
Maria, e finalmente não está livre de suspeitas tendências ascéticas, como sendo o
primeiro passo em direção ao dogma da virgindade perpétua. A estas objeções pode
ser acrescentado, de acordo com Farrar, de que se os irmãos fossem filhos mais
velhos de José, Jesus não poderia ser visto como o herdeiro legal do trono de David
(Mateus 1:16; Lucas 1;27; Roma. 1:3; 2 Tim. 2:8; Apo. 22:16).
(a) (a) Ela contradiz o significado natural da palavra "irmão," quando o Novo
Testamento tem um termo próprio para primo (Col. 4:10, compare também
"suggenhv" Lucas 2:44; 21:16; Marcos 6:4, etc.)
(b) Ela assume que duas irmãs possuíam o mesmo nome, Maria, o que é extremamente
improvável.
(b) (b) Ela assume a mesma identidade para Clopas e Alfeu, o que é duvidoso; pois
"Alfai'o" é um nome Hebreu (jlpy), enquanto Klwpa'", tal como Kleovpa", Lucas
24:18, é uma abreviação do Grego Kleovpatro", como Antipas é uma contraçao de
Antipatros.
(d) É absolutamente irreconciliável com o fato dos irmãos de Jesus, Tiago entre eles,
eram antes da ressurreição descrentes, João 7:5, e conseqüentemente nenhum deles
poderia ter sido um apóstolo, como esta teoria assume que dois ou três dos seus irmãos
foram.
3. 3. Filhos de Clopas, e primos de Jesus, provavelmente pelo lado paterno, uma vez
que Clopas, de acordo com Hegesipo, era irmão de José, e pode ter se casado com
uma mulher por nome de Maria (João 19:25).
a. Tiago o Pequeno (oJ mikrov"), assim chamado para distinguí-lo de seu primo mais
velho de mesmo nome. Mencionado em Mateus 27:56; Marcos 15:40; 16:1; Lucas
24:10; desconhecido de outra forma.
b. José, Mateus 27:56; Marcos 15:40, 47, mas erroneamente (?) enumerado entre is
irmãos de Jesus: Mateus 13:55; Marcos 6:3; desconhecido de outra forma.
c. Simeão, o segundo bispo de Jerusalém (Hegesipo em Eusébio III. 11, 22, 32; IV. 5,
22), também erroneamente (?) colocado entre os irmãos de Jesus por Mateus 13:55;
Marcos 6:3.
d. Talvez outros filhos e filhas desconhecidos.
II. II. A descrição de Tiago por Hegesipo (de Eusébio, H. E. II. 23).”
Hegésipo também, que floresceu perto dos dias dos apóstolos, dar (no quinto
livro dos seus Memoriais) este relato mais acurado sobre ele:
“Ora Tiago, o irmão do Senhor que, por haver muitos com este nome, era
chamado Justo por todos (oJ ajdelfov" tou' Kurivou jIavkwbo" oJ ojnomasqei;" uJpo;
pavntwn divkaio") desde os tempos do Senhor até o nosso, recebeu o governo da Igreja
juntamente com os apóstolos. Este era santo desde o ventre de sua mãe. Ele não bebia
vinho nem bebida fermentada, e se abstinha de alimento animal; nenhuma navalha
passava sobre sua cabeça; jamais se ungia com óleo e jamais ia aos banhos
[provavelmente o luxo do banho Romano, com seus sudatorium, frigidarium, etc, mas
não excluindo a usual ablução praticada por todos os devotos judeus]. Somente ele tinha
permissão de entrar no santuário [não no santo dos santos, mas na corte dos sacerdotes].
Jamais vestia roupas de lã, mas de linho. Ele costumava entrar sozinho no templo, sendo
com freqüência visto de joelhos, intercedendo para que o povo fosse perdoado, de modo
que seus joelhos ficaram duros como os de um camelo por causa de suas súplicas
habituais, ajoelhando-se diante de Deus. Assim, por sua piedade extrema era chamado
Justo e Oblias (ou Zadique e Osleã) que significa justiça e proteção do povo, conforme
os profetas declaram a seu respeito. Assim, alguns das sete seitas dentre o povo,
mencionados acima por mim em meus Comentários, inquiriram-lhe qual seria a porta
[provavelmente a estimativa ou doutrina] para Jesus, e ele respondeu que ele era o
Salvador. Pelo que alguns creram que Jesus é o Cristo. Mas essas seitas acima
mencionadas não criam nem na ressurreição nem que alguém viria para dar a cada um
de acordo com suas obras; entretanto, os que nisso acreditaram, acreditaram por causa
de Tiago. Ora, desde que muitos, mesmo dos governantes também creram, houve um
tumulto entre judeus, escribas e fariseus, dizendo que todo o povo estava em perigo ao
esperar Jesus como o Messias. Assim reuniram-se e disseram a Tiago: ‘Rogamos que
refreies o povo que se extravia após Jesus como se ele fosse o Cristo. Rogamos que
persuadas corretamente a respeito de Jesus todos os que vêm para o dia da Páscoa, pois
todos nós confiamos em ti. Pois nós e todo o povo testificamos que és justo e não fazes
acepção de pessoas. Assim, persuade o povo a não ser desviado por Jesus, pois nós e
todo o povo depositamos grande confiança em ti. Assim, coloca-te sobre o pináculo do
Templo, para que possas estar bem visível no alto e para que tuas palavras possam ser
ouvidas facilmente por todo o povo, já que por causa da Páscoa todas as tribos estão
reunidas, e também alguns dos gentios.’ Assim, os já mencionados escribas e fariseus
colocaram Tiago sobre o pináculo do Templo e gritaram para ele: ‘Ó justo, em quem
todos devemos acreditar, uma vez que o povo está se desviando após Jesus que foi
crucificado, declara-nos: Qual é a porta para Jesus que foi crucificado?’ E ele respondeu
em alta voz: ‘Por que me perguntais a respeito de Jesus o Filho do Homem? Ele está
assentado nos céus, à destra do grande Poder e está para vir nas nuvens do céu’. E
muitos foram confirmados e glorificavam pelo testemunho de Tiago dizendo: ‘Hosana
ao Filho de Davi’. Então os mesmos sacerdotes e fariseus disseram uns aos outros:
‘Fizemos mal em conceder tal testemunho a Jesus, mas vamos e o lancemos do alto para
que temam crer nele’. E gritaram dizendo: ‘Ah, ah, o próprio Justo está enganado’, e
cumpriram o que está escrito em Isaías: ‘Tomemos o Justo, pois nos causa repulsa;
portanto eles comerão o fruto de suas obras.” [Comp. Isaías 3:10.] Assim subiram e
lançaram o Justo dizendo uns aos outros: ‘Apedrejemos Tiago, o Justo’, e começaram a
apedrejá-lo, uma vez que não morreu de imediato quando lançado, mas virou-se e se
ajoelhou, dizendo: ‘Imploro a ti, ó Senhor Deus e Pai, que os perdoes, pois não sabem o
que fazem’. E assim o apedrejavam quando um dos sacerdotes dos filhos de Recabe,
filho de Recabim, de quem testemunhou o profeta Jeremias (Jeremias 35:2), clamou,
dizendo: ‘Parai! Que estais fazendo? O Justo está orando por vós’. E um deles,
lavadeiro, abriu a cabeça do Justo com o malho que usava para bater roupas. Assim
Tiago sofreu martírio e o sepultaram no lugar junto ao templo, e seu túmulo ainda
permanece. Ele tornou-se verdadeiramente testemunha tanto a judeus como a gregos de
que Jesus é o Cristo. Logo depois disso Vespasiano invadiu e tomou a Judéia”.
“Esse,” acrescenta Eusébio, “é o testemunho mais detalhado de Hegésipo, em
que concorda plenamente com Clemente. Tiago era de fato tão admirável e tão
celebrado entre todos por sua retidão, que mesmo os mais sábios dos judeus pensavam
ter sido esta a causa imediata do cerco de Jerusalém, que ocorrera por nenhum outro
motivo, senão o crime contra ele. Josefo também não hesitou em colocar este
testemunho em suas obras: ‘Essas coisas,’ disse ele, ‘aconteceram aos judeus para
vingar Tiago o Justo, que era irmão daquele chamado Cristo, e a quem os judeus
mataram apesar de sua destacada retidão.’ O mesmo autor relata também narra sua
morte no vigésimo livro de suas Antiguidades, com as seguintes palavras...”
Então Eusébio dá o relato de Josefo.
[1] Em seu relacionamento com os Doze e com Jesus, veja a primeira nota no fim desta
seção.
[2] Gal. 2:12.
[3] Mar. 6:3; Mat. 13:55; Jo. 7:5.
[4] Mar. 6:4; Mat. 13:57; Luc. 4:24; Jo. 4:44.
[5] Atos 1:13; comp. 1 Cor. 9:5.
[6] 1 Cor. 15:7: e[peita w[fqh jIakwbw/.
[7] O fragmento é preservado por Jerônimo, De vir. ill. cap. 2. Comp. Hilgenfeld, Nov.
Test. extra can. rec. IV. 17 e 29; e Nicholson, The Gospel according to the Hebrews
(1879), pp. 63 sqq.
[8] Eu sigo aqui com Credner e Lightfoot a leitura de Dominus para Domini,
correspondendo a tradução Grega, que lê "oJ kuvrio", e com o contexto que aponta para
a morte do Senhor ao invés da última Ceia como o ponto de partida para o voto. Veja
Lightfoot, Ep. to the Gal., p. 266. Se lêssemos "hora qu biberat calicem Domini," o
autor do Evangelho dos Hebreus deve ter assumido ou que Tiago era o mesmo que
Tiago Alfeu, ou que a Última Ceia não foi confinada aos doze apóstolos somente.
Nenhuma destas opções é provável. Tiago é imediatamente após chamado "o Justo."
Gregory de Tours (Histor. Francorum, I. 21), em relação a esta história, acrescenta, de
acordo com a tradição Grega: "Hic est Jacobus Justus, quem fratrem Domini
nuncupant, pro eo quod Josephi fuerit filius ex alia uxore progenitus." Ver Nicholson, p.
[9] "Greeting,"caivrein, Atos 15:23, and Tiago 1:1, ao invés do específico Cristão cavri"
kai; eijrhvnh.
[10] 1 Cor. 9:5.
[11] Josefo chama Tiago "o irmão de Jesus, o tão chamado Cristo" (to;n ajdelfo;n
jIhsou' tou' legomevnou Cristou', jIakwbo" o[noma aujtw'/ ), mas estas palavras are
vista por alguns críticos (Lardner, Credner, e outros) como uma interpolação Cristã.
[12] Neander, Ewald, e Renan dão a preferência para a data de Josefo. Mas de acordo
com literatura pseudo-Clementina Tiago sobreviveu a Pedro.
[13] Ver abaixo, Nota II.
[14] Gal. 2:12. Quão longe os não-nomeados mensageiros de Tiago de Jerusalém, os
quais se reuniram com Pedro e Barnabé em Antioquia, agiram sobre autoridade de
Tiago, isto não podemos saber; mas é certo a partir de 2:9, assim como do livro de Atos,
que Tiago reconhecia a peculiar divina graça e sucesso de Paulo e Barnabé na conversão
dos Gentios; ele não podia portanto sem uma grande inconsistência fazer causa comum
com seus adversários.
[15] Mesmo Lutero, em um descuidado momento (1524), chamou a epístola de Tiago
uma "epístola de palha," pois não conseguia harmonizá-la com a doutrina de Paulo da
justificação pela fé.
[16] Ewald (vi. 608) comenta que é justamente o tipo de carta que poderíamos esperar
que viria do centro da Cristandade naquele período, quando a maioria dos Cristãos eram
pobres e oprimidos pelos ricos Judeus.
[17] A data da composição ainda é um problema não resolvido, e críticos variam entre
45 e 62 AD. Schneckenburger, Neander, Thiersch, Huther, Hofmann, Weiss, e
Beyschlag, e entre estudiosos Ingleses, Alford, Bassett (que, entretanto, erroneamente
atribui a Epístola a Tiago, o filho de Zebedeu), e Plumptre lhe atribui uma data muito
mais antiga antes do Concílio de Jerusalém (50) e sobre a controvérsia da circuncisão,
para qual não há nenhuma alusão. Por outro lado Lardner, De Wette, Wiesinger, Lange,
Ewald, e também aqueles comentaristas que vêem na Epístola uma referência polêmica
a Paulo e seus ensinamentos, trazendo-a para 62 AD. Em todo caso, foi escrita antes da
destruição de Jerusalém, o que teria sido percebido por um escritor mais adiante. A
escola de Tübingen (Baur, Schwegler, Hilgenfeld) nega sua genuinidade e a coloca entre
os anos de 80 ou 90 AD. Renan admite a genuinidade da Epístola de Tiago e Judas,
como contra-manifestos da Cristandade Judaica contra o Paulinismo, e atribui o
excelente estilo Grego à ajuda de um secretário Grego.
[18] Ver as listas de passagens paralelas em Plumptre, pp. 7-9 e 33.
[19] Tiago 1:25. oJ parakuvya" eij" novmon tevleion to;n thÀ" ejleuqeriva".
[20] Tiago 2:1 e[cete th;n pivstin tou' kupivou hJmw'n JIhsou' Cristou' th'" dovxh"
inscrição, 1:1, o Senhor Jesus Cristo está associado com Deus.
[21] Hegesipo apud Euseb. H. E. III., 11, 22, 32; IV., 5, 22. Const. Apost. VII. 46.
Hegesipo assume que Clopas, o pai de Simeão, foi, I irmão de José e tio de Jesus. Ele
nunca chama Simeão "irmão do Senhor", mas apenas Tiago e Judas (II. 23; III. 20).
[22] A passagem citada de Pápias "Maria Cleophae sive Alphaei uxor, quae fuit mater
Jacobi episcopi et apostoli," é tomada de Jerônimo e não pertence ao sub-apostólico
Papias de Hierápolis (como fora suposto até mesmo por Mill e Wordsworth), mas a um
medieval Pápias, o escritor de um Dicionário Elementar no décimo primeiro século. Ver
Lightfoot, p. 265 sq.