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Pequena parábola “friedmaniana”

Por Angelo de Assis

Era uma vez, há muito, muito tempo, no ponto mais distante do reino mais
distante, próximo ao cume da mais alta montanha daquele reino, uma grande
e antiga árvore que dava bons e abundantes frutos, os mais doces de todos
que se tem notícia.

Sob essa árvore, mesmo quando soprava o uivante e frio vento da montanha,
sentava-se, todas as quintas-feiras à tarde, o velho sábio de olhar sereno e
barba branca, guardião do conhecimento dos antigos, bastião moral dos
habitantes de sua aldeia. A ele, recepcionados antes por um jovem assistente,
acorria gente de todo o reino em busca de uma palavra que as iluminasse, um
conselho que indicasse um rumo para suas vidas atribuladas.

Certo dia, chega à aldeia, não numa quinta, mas numa sexta-feira, um jovem
socialista ateu de olhar distante e sem brilho. Trazia as vestes gastas,
praticamente trajava andrajos. Os pés, calçados em sandálias de couro
maltrapilhas e sujas de lama. No olhar perdido, deixava entrever a apatia dos
que se haviam desencantado de tudo e de todos.

A uma anciã que passava carregando um cesto de frutas, perguntou com voz
cansada onde poderia encontrar o velho sábio de olhar sereno e barba branca.
Surpresa, a velha fitou-o de alto abaixo e respondeu como se falasse o mais
óbvio dos lugares comuns:
- O velho sábio de olhar sereno e barba branca, hoje, como sempre faz às
sextas-feiras, recolhe-se à sua morada, afastada da vila, para meditar e
escrever.

- Mas eu precisava muito falar com ele – insistiu o um jovem socialista ateu
de olhar distante e sem brilho.

- Mas o velho sábio de olhar sereno e barba branca, como todos sabem, só
presta atendimento aos desencaminhados e desencantados às quintas, dia em
que o vento é mais calmo e menos derruba frutos da árvore dos mais doces
frutos no chão onde ele se senta em um banco de madeira com seus
consulentes.

O jovem socialista ateu de olhar distante e sem brilho ficou desapontado, mas
não se deixou abater por completo.

- Prezada anciã do cesto de frutas, compreenda-me. Eu não tenho outro dia,


só hoje. Tempestades e salteadores se puseram em meu caminho, perdi-me

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em atalhos perigosos, na floresta, que muito me atrasaram, cruzei rios
caudalosos em canoas frágeis, exauri minhas forças e quase morri subindo
montanhas íngremes... tudo para falar com o velho sábio de olhar sereno e
barba branca.

Apiedada das queixas do jovem, a anciã do cesto de frutas levou-o à casa do


administrador da vila, velho senhor rotundo e olhar inquisitivo, que após
ouvir a história, resolveu consultar o velho sábio de olhar sereno e barba
branca sobre se ele poderia, mesmo que no dia reservado às suas reflexões e
introspecção, receber o jovem socialista ateu de olhar distante e sem brilho.

Após aceitar o convite para uma refeição na casa da anciã do cesto de frutas,
o jovem socialista ateu de olhar distante e sem brilho foi finalmente levado à
árvore dos mais doces frutos. Aproximava-se o final da tarde. Lá chegando,
vislumbrou ao pé desta, sentado em um banco, as vestes iluminadas em tons
de dourado pelo sol que caía no horizonte, o velho sábio de olhar sereno e
barba branca.

Após apresentar-se e ser convidado a se sentar, o jovem socialista ateu de


olhar distante e sem brilho revelou as razões de seus padecimentos, de seu
desencanto com o mundo e a humanidade.

- Velho sábio de olhar sereno e barba branca, corri o mundo. Vi injustiças,


guerras, ganância e insanidade. Descobri um mundo sem sentido nem ética.
Um mundo no qual os maus riem-se dos reveses dos bons.

- É triste – continuou, introspectivo – mas convivem no mesmo mundo,


iluminados no alvorecer pelo mesmo sol e depois mergulhados no crepúsculo
pela mesma noite, tanto aqueles que, às vezes mesmo tendo estudos, mal se
sustentam, frugal e honestamente, à custa de trabalho duro e mal pago,
quanto o ardiloso patrão que vive do vil lucro auferido com esforço alheio.

- Convivem ainda – prosseguiu – sob o mesmo sol e o mesmo luar, aqueles


que vivem da astúcia da especulação das finanças e têm o pão à mesa todo
dia, mesmo sem jamais pôr a mão na terra que gera a planta que dá o fruto, e
os que plantam durante o dia e à noite, cansados da labuta de cavar a terra,
rezam para que venha uma boa colheita que lhes dê o que comer na estação
seguinte.

- Este – concluiu, melancólico – é um mundo perdido na podridão da


ganância, da exploração, da injustiça. Um mundo para o qual não vislumbro
saída e no qual não encontro alegrias para compartilhar. Um mundo onde não
vigora a ética na relação do homem para com seu semelhante. Que esperança

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pode haver para um mundo assim? Que futuro pode haver para tais gentes,
que lidam umas com as outras todos os dias sem pensar no bem comum?

O velho sábio de olhar sereno e barba branca ouviu atentamente as


ponderações do jovem. Sorriu compreensivo, solidário com sua angústia.
Quando o jovem parou de falar, olho-o nos olhos com bondade, sorriu, fez
uma breve pausa. Em seguida, falou-lhe.

- Caro jovem socialista ateu de olhar distante e sem brilho, vou contar-lhe
uma história. Ela talvez ajude a iluminar a treva que encobre a luz do seu
caminho.

“Era uma vez um homem rico, muito rico. E esse homem de posses teve três
filhos aos quais amava mais do que tudo e sobre o futuro dos quais muito
meditava. O que seria deles quando ele se fosse? O que fariam de sua
fortuna? Seriam capazes de mantê-la? Ou talvez até aumentá-la? Ou será que
a dissipariam pouco depois que ele cruzasse as portas do reino do
desconhecido?”

“Muito pensava ele também sobre qual seria a forma mais adequada de
repartir entre os filhos o fruto de sua vida de muito suor e trabalho. E,
incapaz de escolher a melhor e mais justa forma de legar sua riqueza à prole,
o homem rico tomou uma decisão que à mãe de seus filhos e companheira de
toda a vida surpreendeu.

“Identificando no primeiro filho uma inabilidade para lidar com pessoas, mas
uma grande capacidade para lidar com os números e os mais complexos
cálculos, usou a parte que a este caberia como herança de sua fortuna para lhe
dar a melhor educação nas ciências matemáticas e nos ensinamentos da
contabilidade.

“Vendo no segundo filho uma mente inquieta, mas com pouca inclinação
para os estudos, compensada em parte pela facilidade para lidar com pessoas
e grande habilidade para conquistar novos amigos, treinou-o para administrar
negócios, encontrar novos clientes, formar equipes capazes de encontrar
soluções para problemas aparentemente insolúveis.

“Observando no terceiro filho inclinações para a poesia, para as angústias


filosóficas e as preocupações existenciais, achou prudente tomar a parte que a
este cabia da fortuna e aplicá-la em ações, de forma que o filho tivesse algum
rendimento futuro ainda que desempenhasse trabalhos cujo retorno financeiro
não lhe daria o merecido conforto material.

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“O primeiro filho, para alegria do pai, tornou-se exímio contador, trabalhando
tanto no auxílio das empresas do pai quanto nas finanças dos próprios irmãos
e de outros que contratavam seus serviços de indubitável qualidade,
matemática precisão e absoluta honestidade.

“O segundo filho, que sempre fazia o pai sorrir, tornou-se dono da maior
cadeia de lojas do reino e abriu também lojas em cidades importantes de
outros reinos, tornando o nome da família conhecido, oferecendo produtos e
promoções que atraiam cada vez mais compradores.

“O terceiro filho..., bem, o terceiro filho viajou ao Tibete em peregrinação


espiritual para encontrar a si mesmo, deixando o pai inquieto e ansioso.
Depois estudou filosofia, escreveu poesia, tornou-se professor e dava aulas
gratuitas para os pobres analfabetos e aos filhos destes nos sábados. Mas os
rendimentos que obtinha como juros do que o pai investira muito tempo antes
eram suficientes para que vivesse com conforto e sem recear a necessidade ou
a fome.

“Assim, meu jovem socialista ateu de olhar distante e sem brilho, os três
filhos partilharam a herança do pai. Mas o primeiro dela se beneficiou
desenvolvendo seus dotes intelectuais com o estudo. O segundo desfrutou-a
auferindo lucros dos negócios que abriu e fez crescer. E o terceiro dela fez
uso diretamente por herança do patrimônio expandido no mercado das
finanças.

“Qual dos filhos, depois de herdada sua herança, mostra-se ético e qual se
mostra antiético no modo como se sustenta? E qual desses modos é o mais
justo? Seria mais justo garantir o sustento desenvolvendo e usando um
talento intelectual com o qual já se nasceu? Ou o justo seria viver do lucro do
que se produz e comercializa? Ou justo ainda seria beneficiar-se de uma
herança aumentada sem esforço próprio, na especulação financeira?”

Pensava com seus botões o jovem socialista ateu de olhar distante e sem
brilho sobre que resposta que deveria dar ao velho sábio de olhar sereno e
barba branca. Imaginava por que afinal viera de tão longe e passara tantos
padecimentos para ter o privilégio de uma breve entrevista com o homem
muito entrado em anos que se sentava sob a árvore dos frutos mais doces,
próximo ao cume da montanha mais alta, da região mais distante do reino
mais longínquo, e ademais num dia da semana em que ele nem prestava
atendimentos, apenas para, em vez de respostas, receber inquirições para as
quais não tinha o que responder.

E eis que de repente, do alto da árvore sob cuja sombra descansavam, caiu-
lhe na cabeça um fruto. Apesar do susto e da dor que sentiu, o jovem

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socialista ateu de olhar distante e sem brilho achou ares para ecoar,
assumindo um olhar de fúria, o mais obsceno palavrão até então jamais
ouvido naquelas paragens do reino.

Olhando-o com bondade e compaixão, o velho sábio inqueriu-o novamente:


- Meu caro jovem comunista ateu de olhar furioso, diga-me. Foi ético ou
antiético este inesperado acontecimento, esta peça que lhe pregou a natureza
fazendo cair em sua cabeça um fruto maduro?

Algo contrariado, o jovem socialista ateu de olhar furioso, ainda sentindo dor
e passando a mão na cabeça, respondeu:
- Mas o que pode haver de ético ou antiético no simples incidente da queda
de um fruto, velho sábio de olhar sereno e barba branca? Não há que se falar
de ética ou de falta desta no desprender-se o fruto de seu galho e ser ao chão,
ou à cabeça de alguém, levado pela gravidade!

O velho sábio de olhar sereno e barba branca sorriu compreensivo, olhou-o


nos olhos e respondeu com uma entonação que só tem quem da vida já viveu
os bons e os maus momentos:
- Pois bem, meu caro jovem socialista ateu de olhar furioso, como você pôde
verificar em sua experiência com a queda do fruto, nem tudo nessa vida pode
ser tão facilmente rotulado de certo ou errado, justo ou injusto, ético ou
antiético.

“Se minhas pernas não me permitissem andar, isto não tornaria imorais em
relação à minha condição as caminhadas que você faz por vales e montanhas.
E se nós dois podemos caminhar e você passasse um dia pela mesma estrada
que eu, só que antes de mim, e eu em seguida encontrasse à beira desta
estrada dez moedas de ouro, isto não tornaria o fato de eu as possuir, e você
não, uma injustiça.

“Então, meu jovem socialista ateu de olhar espantado, a ética e a justiça


devem pautar nossa vida. Mas não é tão fácil saber quando elas realmente
estão em jogo e quando são apenas usadas como parte de um jogo”.

A essa altura, o sol já se havia posto. Seus últimos raios não mais tocavam o
chão, atingiam apenas algumas nuvens de um céu que se preparava para
receber a noite e suas estrelas.

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