Este capítulo analisa a estrutura do romance "O Cortiço" de Aluísio Azevedo através de dois conjuntos principais: 1) o cortiço, representando a natureza, instinto e trocas biológicas; 2) a casa do Miranda, representando a cultura, regime de trocas e organização social. A ascensão social de Romão simboliza a passagem de um conjunto a outro através do casamento com Zulmira.
Descriere originală:
Titlu original
SANT’ANNA, Afonso Romano de. Análise Estrutural de Romances Brasileiros (O Cortiço)
Este capítulo analisa a estrutura do romance "O Cortiço" de Aluísio Azevedo através de dois conjuntos principais: 1) o cortiço, representando a natureza, instinto e trocas biológicas; 2) a casa do Miranda, representando a cultura, regime de trocas e organização social. A ascensão social de Romão simboliza a passagem de um conjunto a outro através do casamento com Zulmira.
Este capítulo analisa a estrutura do romance "O Cortiço" de Aluísio Azevedo através de dois conjuntos principais: 1) o cortiço, representando a natureza, instinto e trocas biológicas; 2) a casa do Miranda, representando a cultura, regime de trocas e organização social. A ascensão social de Romão simboliza a passagem de um conjunto a outro através do casamento com Zulmira.
Captulo: O Cortio Conjunto 1: cortio, simples. Elementos tm constituio primria. Nvel da natureza. Instinto.
Conjunto 2: casa do Miranda, complexo. Nvel da cultura. Regime de trocas.
- os dois conjuntos mantm entre si um conjunto de trocas. - movimentao de Romo para sair do solo puramente biolgico e instintivo e entrar numa organizao social regida por um sistema jurdico e poltico representativo da Cultura. - a mesma estrutura que ope a casa de D. Antnio de Mariz aos aimors, em O Guarani: o cortio est para os aimors, assim como a casa de Miranda est para a casa de D. Antnio. - no conjunto 1, a maioria de pretos e mestios, e os outros acabam se comportando como a maioria (Jernimo, Pombinha). - coletivismo tribal [cortio sinnimo de colmia]. - no cortio, seres primitivos, animalizados, que os nivela por baixo, identificando-os. - o crescimento do cortio horizontal, uma reproduo por meiose, que chega a 95 moradias. - seu crescimento esbarra na verticalidade do conjunto 2.
- no conjunto 2: - Miranda gerundivo de miror, admirar: o que deve ser admirado, evidente. - Miranda assiste de cima aos festejos e as brigas no cortio. - Estela (estrela) - Zulmira; - Henriquinho (rico, poderoso) - Botelho seu nome significa parasita, praga. um intruso no conjunto 2, e por isso pode ser o intermedirio do casamento entre Romo e Zulmira. RELAES INTERNAS DE CADA CONJUNTO (endgenas)
- as solues dos conflitos no conjunto 1 so sempre atravs de violncia e morte: 1) Bruno / Leocdia: quando Bruno descobre que Leocdia se encontra com Henriquinho, a soluo a destruio da casa e a expulso da mulher; 2) Jernimo / Firmo: briga de porrete e navalha, e assassinato de Firmo; 3) Romo / Bertoleza: ao se ver trada, Bertoleza rasga a barriga, derramando as vsceras no cho; 4) Rita / Piedade: xingam-se com nomes de animais, reafirmando o primitivismo.
- as solues dos conflitos no conjunto 2 se do atravs de trocas de objetos e dons: 1) Estela / Miranda: a mulher entra com o capital, e o homem com a sua gerncia; 2) Botelho sabe das relaes entre Henriquinho e Estela, mas no fala, porque precisa agradar ao marido e mulher para permanecer na casa; 3) Miranda tolera as infidelidades de Estela por causa do dinheiro. A primeira circunstncia que vai preencher a sua transformao a descoberta da hesitao sentimental do ferreiro Bruno. Bruno fora vtima de um escndalo: a sua Leocdia teve uma relao sexual com o Henriquinho no meio dos bambus e bananeiras e tudo em troca de o Henriquinho lhe presentear com um coelhinho branco: O escndalo assanhou a estalagem inteira (...) (60) No entanto, com o tempo a ira de Bruno se arrefeceu e este procurou Pombinha, que sempre lia cartas ou as escrevia Numa pequena mesa, coberta por um pedao de chita, com o tinteiro ao lado da caixinha de papel, a menina escrevia (p. 45). Esta mesa emblemtica do determinismo. E agora aquele homem, embrutecido pelas exigncias de seu trabalho com o ferro, solicitava em soluos que Pombinha pusesse na carta para Leocdia que Eu esqueo tudo! (p. 96). A reao de Pombinha foi ficar impressionada pela transformao da voz dele (Idem) e ela viu as lgrimas escorrendo-lhe pela barba. Esse fato, bem como os outros outrora vivenciados, se insinua em sua estrutura psicolgica: De sorte que a pobre rapariga ia acumulando no seu corao de donzela toda a smula daquelas paixes e daqueles ressentimentos, s vezes mais ftidos do que a evaporao de um lameiro em dias de grande calor. (p. 45) Nela despertar um outro valor: a mulher pode mais do que o homem, como se l na passagem: Ah! Homens! Homens! (p. 97)
O SISTEMA DE TROCAS (exgeno entre os conjuntos) - Romo / Miranda: Romo tenta escapar do nvel horizontal, perseguindo ttulos de nobreza, para sobressair da massa. - o muro o smbolo do confronto entre os dois conjuntos. o limite entre a selva e o jardim, entre a natureza e a cultura. - no final, os dois sistemas partem para um sistema de alianas, atravs do casamento de Romo e Zulmira, que efetiva a passagem, a troca.
- alteraes nos personagens: 1) Romo: elemento vitorioso na seleo das espcies. Ele se modifica e ascende na escala social. 2) Miranda: sua posio de baronato se mantm e ele atinge o baronato. 3) Jernimo: depois de atingir o mximo de sua posio de assalariado, entra em degenerescncia. - linha ascendente: Romo; - linha estvel: Miranda; - linha descendente: Jernimo.
- no entanto, para cada personagem, tambm, cada grau a mais (cada avano social) corresponde a um degrau abaixo na degradao moral:
1) Romo: Visconde proprietrio da avenida proprietrio da estalagem proprietrio do cortio proprietrio do terreno vendeiro falseia alforria de Bertoleza rouba materiais rouba Domingues e Librio cumplicidade implcita na morte de Bertoleza
2) Jernimo: no incio comparado a um Hrcules. Chega com ideais de ascenso. Vai se envolvendo com o novo ambiente, e sucumbe ao sol dos trpicos atravs dos sentidos: se entrega msica brasileira (audio) e esquece os fados portugueses; no resiste dana da Rita Baiana (viso); entorpece-se com o aroma da Rita (olfato) e critica o cheiro de Piedade; prefere o caf e a cachaa, em vez do ch preto da mulher (paladar).
contramestre faz lajedos briga com Firmo faz paraleleppedos mata Firmo quebrador de pedras deixa a famlia colono misria
NUNES, Benedito. Narrativa Histórica e Narrativa Ficcional. In: RIEDEL, Dirce C. (ORG) - Narrativa: Ficção e História. Rio de Janeiro: Imago, 1988. P. 9-35.