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1) O documento discute a ekphrasis como processo literário e filosófico em Heidegger e sua relação com uma concepção fenomenológica de arte.
2) Heidegger usa a ekphrasis de uma pintura de sapatos de van Gogh para ilustrar como a descrição pode revelar a verdade oculta do objeto.
3) Isso leva a uma concepção de arte não como beleza ou representação, mas como acontecimento que revela a verdade do ser.
Descriere originală:
Heidegger, a filosofia fenomenológica e o processo literário da écfrase: uma abordagem da relação interartes imagem-palavra, a partir da aproximação das linguagens filosófica e literária. A écfrase como fonte de uma concepção fenomenológica de arte; Arte enquanto existência (phantasma; simulacro), diferentemente da Arte enquanto representação (eikón; mimesis)
1) O documento discute a ekphrasis como processo literário e filosófico em Heidegger e sua relação com uma concepção fenomenológica de arte.
2) Heidegger usa a ekphrasis de uma pintura de sapatos de van Gogh para ilustrar como a descrição pode revelar a verdade oculta do objeto.
3) Isso leva a uma concepção de arte não como beleza ou representação, mas como acontecimento que revela a verdade do ser.
1) O documento discute a ekphrasis como processo literário e filosófico em Heidegger e sua relação com uma concepção fenomenológica de arte.
2) Heidegger usa a ekphrasis de uma pintura de sapatos de van Gogh para ilustrar como a descrição pode revelar a verdade oculta do objeto.
3) Isso leva a uma concepção de arte não como beleza ou representação, mas como acontecimento que revela a verdade do ser.
Mestranda em Estudos Clssicos ramo Potica e Hermenutica O PONTO DE PARTIDA: A Ekphrasis enquanto processo literrio A saber, a relao entre pensamento potico e artes plsticas (pintura, escultura, etc), ou em sentido mais amplo, a relao entre texto e imagem; revisitao da etimologia do termo, do seu percurso conceptual e das duas tcnicas de Ekphrasis utilizadas na literatura grega.
Compreender de que forma o processo ecfrstico, num segundo tipo de
tcnica literria de matiz dramtica e contemplativa com desenvolvimento a partir da poca helenstica, reflecte o binmio conceptual esttico sujeito-objecto e de que forma a relao levanta questes ao nvel a) da estrutura gnoseolgica, b) da representao ou imitao artstica (mimesis) e c) do valor de verdade da mesma. A QUESTO: Ser a Ekphrasis um processo exclusivamente literrio? Segundo STEINER (2011, 14), no podemos reconhecer a existncia do pensamento humano antes do dizer. Tudo est na formulao, na enunciao (ID.). Mesmo quando nos referimos ao sentido das representaes estticas ou das formas musicais estamos, na verdade, a metaforizar, a operar por meio de analogias. Logo, quer a actividade filosfica quer a actividade literria partilham o mesmo espao generativo (ID.) cujos meios performativos so idnticos, seja a disposio das palavras, os modos da sintaxe, a pontuao. SARTRE (Situations, IX, 1965): Em toda a Filosofia h uma prosa literria escondida. ALAIN (Commentaire sur La Jeune Parque, 1953): Todo o pensamento comea por um poema. ALTHUSSER (lements DAutocritique, 1972): O pensamento filosfico no pode realizar-se seno metaforicamente. Jean-Luc NANCY: Juntas [Filosofia e Literatura], so a prpria dificuldade: de fazer sentido.
PODEMOS FALAR DE CRIAO DE SENTIDO A PARTIR DE UMA
POTICA DA RAZO? UMA PROPOSTA DE LEITURA:
A Ekphrasis enquanto exerccio filosfico em M.
Heidegger. Da poesia do pensamento a uma concepo fenomenolgica de arte em A Origem da Obra de Arte (1935). Contextualizao do pensamento de Martin Heidegger (1889-1976) Discpulo de Edmund Husserl, o fundador da Fenomenologia (do gr. Phainomenon/ verbo Phainesthai, aquilo que, por intermdio da luz, se mostra ao nosso olhar + Logos, cincia, tratado, discurso); Pressupostos fenomenolgicos: H que regressar s coisas elas mesmas, prvias a qualquer oposio; A atitude fenomenolgica denuncia a oposio clssica entre objecto (o objectivismo considera o objecto sem atender aos dados subjectivos) e sujeito (o subjectivismo remete tudo para o Ser ou para o sujeito sem procurar um ponto comum exterior com o objecto); Alcanar pela/na experincia uma unidade de sentido anterior a qualquer dualismo metafsico; Tal unidade impossvel de alcanar na experincia comum, pois que o esprito do homem ordinrio est naturalmente imerso num oceano de subjectividade, construes ilusrias, de sensaes e dualismo. Na busca de uma atitude livre de pressuposies, procede-se a um duplo movimento de reduo fenomenolgica (Epokh), isto , suspenso do juzo, dos seus fluxos de pensamentos, opinies e convices quotidianas e interrog-los quanto sua pretenso de verdade: 1) Reduo Eidtica (a busca do sentido dos fenmenos; reduzir a existncia sua essncia, ou seja, pr a existncia sob observao e reduzi-la universalidade do conhecimento das suas essncia; exemplo: em vez de descrever o que eu vejo, os objectos da minha experincia visual, descrevo o meu ver dos objectos; deslocar a minha perspectiva dos objectos para o acto de olhar, a saber, a minha experincia alm dos sentidos, na qual encontro o Eidos); 2) Reduo Transcendental (como o sujeito que procura o sentido; estrutura gnoseolgica subjacente ao acto de ver composta por a) Noese [as experincias estruturadas no acto], b) Noema [a estrutura correlata dada no acto] e c) Hyl [as experincias supridoras ou restritivas]; na reduo transcendental, a distino essncia- facto e o recurso evidncia do que dado corporalmente na intuio das essncias no satisfazem o conhecimento, necessrio uma evidncia apodctica = mundo da vida (Lebenswelt) = a pluralidade dos mundos histricos (conhecimento universalmente compartilhado) + o horizonte do mundo particular (experincia individual e actual do mundo). Fundador da Fenomenologia Hermenutica (+ Hermeneuein, declarar, anunciar, interpretar, esclarecer, traduzir) com a obra Ser e Tempo (1927), cujo fundamento terico radica na assero a Linguagem a casa do Ser; Sein (Ser; semelhante ao Noema) Dasein (Ser-a; semelhante Noesis): conceitos basilares do seu pensamento. Segundo ele, a condio de possibilidade de aceder ao Ser pela existncia, cuja experincia de verdade (Aletheia; Ereignis) fazemos uma vez a) lanados no mundo da vida (Lebenswelt); b) dada a nossa condio fctica de ser-para-a- morte; Pr o Ser em-questo/ o Ser digno de questo/ A dignidade do Ser louvada na questo enquanto viglia/ a Questo do Ser; o Einai do Poema de Parmnides recuperado e fora motriz que perpassa todo o seu pensamento. A Origem da Obra de Arte (1935; ID., 2014, 5-94): Escolhemos como exemplo um utenslio familiar: um par de sapatos de campons. Para os descrever no preciso [ter frente] o modelo (). Mas, tratando-se de uma descrio imediata, pode ser bom facilitar a sua visualizao. () Escolhemos para esse efeito uma pintura bem conhecida de van Gogh, que pintou vrias vezes tal calado. (ID., 2014, 27; sublinhado nossa autoria) a) A cfrase entre o exerccio fenomenolgico e a tcnica literria: a descrio centra-se nos detalhes do objecto Todos sabem o que que faz parte de um sapato. Se no so propriamente socos ou sapatos de rfia, h neles a sola de couro e o cabedal, ambos unidos um ao outro por meio de costuras e de pregos. Tal utenslio serve para calar os ps. () A camponesa usa os sapatos no campo. S aqui so aquilo que so. So-no de modo tanto mais autntico quanto menos neles pense a camponesa, ou mesmo quanto menos os olhe ou sequer os sinta. Ela est de p e anda com eles. () Pela pintura de van Gogh nem sequer podemos determinar onde esto estes sapatos. volta deste par de sapatos no h nada a que possam pertencer, nem aonde () um par de sapatos e nada mais. (ID., 2014, 27- 28) B) A cfrase entre o exerccio fenomenolgico e a tcnica literria: a descrio dramatizada, ganha existncia; acontecimento/ experincia de verdade (Aletheia) Da abertura escura do interior deformado do calado, a fadiga dos passos do trabalho olha-nos fixamente. No peso slido, macio dos sapatos est retida a dureza da marcha lenta pelos sulcos que longamente se estendem, sempre iguais, pelo campo, sobre o qual perdura um vento agreste. No couro, est a marca da humidade e da saturao do solo. Sob as solas, insinua-se a solido do carreiro pelo cair da tarde. O grito mudo da terra vibra nos sapatos, o seu presentar silencioso do trigo que amadurece e o seu recusar-se inexplicado no pousio desolado do campo de Inverno. Passa por este utenslio a inquietao sem queixume pela segurana do po, a alegria sem palavras do acabar por vencer de novo a carestia, o estremecimento da chegada do nascimento e o tremor na ameaa da morte. (ID. 2014, 28-29) Em suma: Relao palavra-imagem, para alm das Teorias Estticas de fundo metafsico-platnico (Dualismo mimtico original-cpia). Busca heideggeriana pela essncia do artstico, na prpria experincia que dele faz. O que a Arte e qual a sua origem? E o que se quer dizer ao referirmo-nos a ela como Obra? Em 1 lugar, h a realidade efectiva, o quadro = coisa coisas com carcter utilitrio. Logo utenslio obra de arte. Pensamento potico-ecfrstico conduz a uma outra concepo de Arte assente no no conceito de Belo, mas no conceito de Verdade (Aletheia). Arte um acontecimento potico-apropriante (Ereignis) da Verdade do Ser, que resulta do jogo tensional entre ocultao-desvelamento, terra (natureza) e mundo (humano). A Arte (fenomenologicamente considerada) busca pela Verdade oculta das/nas coisas = Arte como existncia Arte considerada na Esttica/Metafsica/Doutrina Hilemrfica = Arte como representao (mimesis). A essncia da Obra de Arte seria esta: o pr-se-em-obra da verdade do ente (ID., 2014, 32) Referncias Bibliogrficas: BAPTISTA, Maria Manuel (2010). Ekphrasis e des(ocultao) da verdade: uma reflexo a partir da filosofia heideggeriana in Caminhos de Cultura em Portugal. Org. de Fernando Augusto Machado, Manuel Rosa Gonalves Gama e Jos Marques Fernandes, Ribeiro: Hmus, pp. 337-343. CEIA, Carlos (2017). E-Dicionrio de Termos Literrios (EDTL), coord. de Carlos Ceia, s.v. Ekphrasis. Disponvel no stio: edtl.fcsh.unl.pt/business-directory/7085/ecphrasis-/[consult. 20/04/2017]. ECO, Umberto (2005). Histria da Beleza. Lisboa: Crculo de Leitores. ELSNER, Jas (2004). Seeing and Saying: A Psychoanalytic Account of Ekphrasis, Helios, vol. 31, no. 1-2., pp. 157-185. Disponvel no stio: https://www.academia.edu/5403512/Seeing_and_Saying_A_Psychoanalytic_Account_of_Ekphrasis [consult. 05/06/2017]. GRAFTON, Anthony, MOST, Glenn W. & SETTIS, Salvatore (2010). The Classical Tradition. Cambridge & Mass.: Belknap Press of Harvard University Press, s.v. Ecphrasis, pp. 291-292. HEIDEGGER, Martin (2014). A Origem da Obra de Arte in Caminhos de Floresta. Coordenao cientfica da edio e trad. de Irene Borges-Duarte, Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 3 ed, pp. 5-94. MURRAY, Penelope (2010). Plato on Poetry. Ion; Republic 376e-398b9; Republic 595-608b10. Cambridge: University Press. PEREIRA, Miguel Baptista (1998) A Essncia da Obra de Arte no Pensamento de M. Heidegger e de R. Guardini, Revista Filosfica de Coimbra no. 13, pp. 3-54. PLATO (2010). Repblica. Trad. de Maria Helena da Rocha Pereira, Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian. STOICHITA, Victor I. (2011). O Efeito Pigmalio. Para uma Antropologia Histrica dos Simulacros. Trad. de Renata Correia Botelho e Rui Pires Cabral, Lisboa: KKYM. STEINER, George (2011). A Poesia do Pensamento: do Helenismo a Celan. Trad. De Miguel Serras Pereira, Lisboa: Relgio Dgua.