4.2.2. Teoria científica e religião • “Compreende-se, assim, que Popper seja autocrítico e objetivo quando se trata de atitudes e valores religiosos.” (Zilles, 1991, p.94). • “Reconhece que muitos objetivos e ideias da cultura ocidental se devem ao cristianismo, como é a liberdade e a igualdade.” (Zilles, 1991, p.94,95). 4.2.2. Teoria científica e religião • “Quanto à questão da liberdade diz que a única posição racional e também e única atitude cristã perante a história da liberdade está em reconhecer que nós mesmos somos responsáveis pela construção de nossa vida, e que só nossa consciência, e não o êxito mundano, pode ser nosso juiz.” (Zilles, 1991, p.95). 4.2.2. Teoria científica e religião • “Reconhece que pessoalmente é movido por uma espécie de fé. E isso já se manifesta em sua própria atitude científica: “Admitimos certamente que nós não sabemos, mas conjecturamos. Esse nosso conjecturar orienta-se por uma fé acientífica, metafísica, de que existem algumas leis e normas que podemos desvelar e descobrir” (Zilles, 1991, p.95). 4.2.2. Teoria científica e religião • “Nesta mesma perspectiva ainda afirma: “Fica, pois, claro que de modo algum o enfoque racionalista pode fundar-se sobre argumentos ou experiências, e que um racionalismo universal é insuficiente e insustentável”. E isso significa que o homem que aceita o enfoque racionalista, age assim porque, sem uma reflexão racional, aceitou uma proposta, uma resolução, uma fé ou uma forma de comportamento que, no que a ele se refere, teria que chamar-se irracional.” (Zilles, 1991, p.95). 4.2.2. Teoria científica e religião • “Como quer que seja, podemos qualificá-lo como uma fé irracional na razão. Por isso Popper pode dizer que “não sente nenhuma animosidade contra um misticismo religioso e seria um dos primeiros a opor-me à tentativa de reprimi-lo. Não sou alguém que dou a palavra à intolerância religiosa. Mas reclamo para a fé na razão, para o racionalismo ou sentimento humanitário o mesmo direito a contribuir para melhorar as condições humanas que para qualquer outra confissão de fé”. (Zilles, 1991, p.95). 4.2.2. Teoria científica e religião • “A posição de Popper, na questão do conhecimento, situa-se entre o ceticismo e o positivismo racionalista. Contra o otimismo dos positivistas diz que não temos conhecimento seguro, que nosso conhecimento é um adivinhar crítico, uma rede de hipóteses e conjecturas. Em princípio, também em Popper, de maneira análoga ao Tractatus de Wittgenstein, conhecimento é concebido como determinação do determinado e, portanto, limitado e fáctico.” (Zilles, 1991, p.95). 4.2.2. Teoria científica e religião • “As teorias são proposições ou sistemas de proposições que se referem aos fatos. Não esqueçamos que Popper estuda a formação de teorias no campo das ciências empíricas.” (Zilles, 1991, p.95).
• “Ora, o determinado e limitado em sua determinação,
o fáctico e, portanto, o não-necessário são pressupostos que, em princípio, prescindem de Deus, que na religião sempre é o infinito, o ilimitado e absoluto e incompreensível, que no seu absoluto transcende o fato.” (Zilles, 1991, p.95). 4.2.2. Teoria científica e religião • “Em consequência, uma teoria sobre Deus e, com isso, uma possível filosofia da religião não se enquadram numa teoria científica no sentido de Karl Popper.” (Zilles, 1991, p.96). 4.2.3. Crítica à critica da racionalidade científica • “Como valorizar, então, a racionalidade científica moderna e contemporânea?” (Zilles, 1991, p.96). • “Em nosso século há muitos pensadores analíticos que tomam a linguagem científica como norma e declaram carente de significação (ao menos lógica) toda a linguagem que não se adapte aos critérios estabelecidos para a linguagem da ciência.” (Zilles, 1991, p.96). 4.2.3. Crítica à critica da racionalidade científica • “O positivismo lógico primitivo (Círculo de Viena, o Tractatus), que se envolvia com pressupostos metafísicos, hoje, entretanto, está definitivamente superado.” (Zilles, 1991, p.96). • “Bradley já mostrara que ninguém pode negar a possibilidade de uma metafísica sem converter-se, ipso facto, em sócio metafísico, pois 4.2.3. Crítica à critica da racionalidade científica o próprio princípio da verificação empírica não é tautologia nem empiricamente verificável, mas metafísico.” (Zilles, 1991, p.96). • “R. Carnap diz que a possibilidade de verificação deve ser entendida em sentido lógico, não em sentido empírico. Em outras palavras, o sentido de uma sentença não depende da impossibilidade de técnica de sua verificação atual, mas da possibilidade lógica de sua verificação.” (Zilles, 1991, p.96). 4.2.3. Crítica à critica da racionalidade científica • “O critério empirista de significação então pode ser formulado nos seguintes termos: a verificabilidade de um enunciado é a condição necessária para que seja considerado como datado de sentido.” (Zilles, 1991, p.96). • “Neste contexto, proposições sobre a existência ou não-existência de Deus carecem de sentido porque não existe possibilidade lógica de sua verificação.” (Zilles, 1991, p.96). 4.2.3. Crítica à critica da racionalidade científica • “Deus é, então, um pseudoproblema filosófico.” (Zilles, 1991, p.96). • “Mas o critério de sentido mostrou-se insuficiente para explicar a própria atividade de ciência experimental. Popper deu sua contribuição neste sentido, mostrando que nosso saber não começa com certezas últimas, e sim com conjecturas, modelos e hipóteses com os quais interpreta a própria percepção sensível.” (Zilles, 1991, p.96). 4.2.3. Crítica à critica da racionalidade científica • “Assim proposições universais, embora tenham valor heurístico, são, em princípio, inverificável.” (Zilles, 1991, p.96). • “Outros adotam posição mais flexível. Assim Ayer diz que todo o discurso inverificável acerca de Deus transcendente carece de conteúdo lógico, de maneira que é absurdo não só afirmar mas também negar a existência de Deus.” (Zilles, 1991, p.97). 4.2.3. Crítica à critica da racionalidade científica • “Mas, em geral, tanto neopositivistas como analíticos mostram-se pouco favoráveis a conceitos metafísicos tradicionais como Deus e alma.” (Zilles, 1991, p.97). • “Para Gilbert Ryle, por exemplo, a concepção cartesiana de homem não se libertou do “dogma do fantasma dentro da máquina”, e tenta mostrar que não existe o fantasma metafísico.” (Zilles, 1991, p.97). 4.2.3. Crítica à critica da racionalidade científica • “Richard Bevan Braithwaite reconhece que as afirmações religiosas não são tautologias, nem proposições empiricamente verificáveis, mas daí não conclui que são expressões sem sentido ou meramente emotivas.” (Zilles, 1991, p.97). • “Segundo ele, também afirmações morais são empiricamente inverificáveis.” (Zilles, 1991, p.97). 4.2.3. Crítica à critica da racionalidade científica • “Mas isso não impede que sirvam de orientação à conduta e lhes confere certo tipo de significação. Com o princípio de utilização de que “a significação de toda a afirmação é dada pela forma como é utilizada” trata-se, segundo Braithwaite, de saber como são utilizadas as afirmações religiosas.” (Zilles, 1991, p.97). 4.2.3. Crítica à critica da racionalidade científica • “Assim a frase “Deus é amor”, compêndio da religião cristã, declara a intenção do cristão de seguir um estilo de vida agapásica.” (Zilles, 1991, p.97). • “A religião é considerada como certo estilo de vida.” (Zilles, 1991, p.97). • “O que os empiristas conseguem mostrar é que as afirmações sobre Deus são distintas das afirmações sobre fatos empíricos quaisquer.” (Zilles, 1991, p.97). 4.2.3. Crítica à critica da racionalidade científica • “Mas em que consiste tal diferença? Braithwaite está certo em mostrar a relação entre a linguagem religiosa e conduta prática.” (Zilles, 1991, p.97). • “Erra, contudo, ao reduzir as mesmas a asserções morais. Dizer que o discurso religioso é significativo quando se refere a um Deus de características temporais, leva-os a perguntar: tal Deus satisfaz as exigências da consciências religiosa?” (Zilles, 1991, p.97). 4.2.3. Crítica à critica da racionalidade científica • “Cabe destacar que alguns pensadores, como K. Popper, não compartilham a ideia de que a filosofia deve limitar-se à analise lógica. Semelhante filosofia meramente analítica, segundo Popper, torna-se tão pouco informativa acerca de Deus como acerca do mundo.” (Zilles, 1991, p.97). 4.2.3. Crítica à critica da racionalidade científica • “A filosofia analítica exerce apenas o papel de prolegômeno a uma filosofia da religião. Esquece, todavia, que a linguagem é uma função da existência humana. Todo o discurso é discurso de alguém numa situação determinada e concreta. Se se quiser fazer análise da linguagem religiosa é preciso pô-la em estreita relação e correlação com a análise da existência humana nela expressa.” (Zilles, 1991, p.97).