Anticomunismo, antissemitismo, conservadorismo: as
investigações do DOPS nas reuniões integralistas
(1946-1948) Renato Alencar Dotta Os integralistas e o DOPS • O movimento integralista sempre foi vigiado pelo DOPS-SP. Isso aconteceu durante toda a década de 1930, e depois durante o Estado Novo, com a AIB na ilegalidade. • Com o fim da Ditadura Vargas (1945), os integralistas se reorganizam num novo partido político, chamado Partido de Representação Popular (PRP). • Numa ação contínua, o DOPS investiga o PRP, da mesma forma que pesquisava os integralistas desde a sua estreia na política brasileira, na primeira metade da década de 30. O diretório paulista do PRP vigiado pelo DOPS • O partido instala uma sede provisória estadual (cumulativa com a municipal de São Paulo) numa sala do Edifício Martinelli, no centro da capital paulista, no início de 1946. • O DOPS manda agentes incógnitos à sede e a comícios do partido, que produzem relatórios sobre as reuniões. • Cinco temas principais dominaram as reuniões do PRP, de acordo com os relatórios da polícia política paulista: o anticomunismo, as propaladas vantagens do integralismo, a volta de Plínio Salgado do exílio, a presença de um segurança com certo poder dentro da sede local e temas incômodos ao partido citados nas reuniões, como o antissemitismo e o nazismo. O anticomunismo • O anticomunismo tinha sido um pilares doutrinários da AIB nos anos 30, e assim continuou, praticamente com a mesma importância, dentro do PRP. • No período imediatamente posterior ao Estado Novo, o PCB gozava de grande popularidade, tendo elegido um senador, vários deputados federais e, pela primeira vez em sua História, teve um candidato competitivo à Presidência da República. • Num comício em Pinheiros, em setembro de 1946, um orador tinha dito que o PCB era “uma ilusão dos operários analfabetos”. O anticomunismo • O editor de um jornal integralista disse numa das reuniões na sede do partido:
• “Não há comunismo brasileiro; existe um comunismo no Brasil. Seus
jornais não são brasileiros, são ecos das estepes. Assim sendo, desde que reconhecemos o erro crasso de que incorre o comunismo, materialista e ateu, precisamos opor-lhe barreiras. Levantarlhe barricadas, onde possamos lutar e gastar a própria vida!” O anticomunismo • O líder comunista Luis Carlos Prestes era um dos principais alvos dessa campanha anticomunista. Segundo o agente do DOPS:
• “Foi também contada a vida intima de Luis Carlos Prestes. Mora no
Rio, num apartamento luxuoso. Alem de um rico automóvel ainda uma ‘baratinha’. Mulheres bonitas. Orgias e escandalosas farras. E que o seu fim é levar o Brasil á uma revolução civil.” As vantagens do integralismo • Para os integralistas do PRP, o único antídoto contra a expansão do comunismo no Brasil era, assim como na década anterior, o integralismo. • Numa reunião de maio de 1946, um orador do partido falou, segundo o agente da polícia política: As vantagens do integralismo • “Comparou o “comunismo” versus christianismo [sic] como verdadeira negação da índole do povo brasileiro. E que a finalidade do “integralismo” é uma escola de civismo patriótico, pois está falhando entre o povo brasileiro as instrucções sobre moral e o esquecimento do amor da pátria, devido ao aumento das promessas mentirosas dos “comunistas” o que está pedindo urgência do ensinamento puramente christão. Para isto exemplificou o pavilhão brasileiro sobre a heráldica das 21 estrellas como unificação dos Estados do Brasil, cada vez mais fortes, a par com o dístico: “Ordem e Progresso” e nunca desordem e Regresso, sentido evidente forjado pelo partido “comunista”, com um desrespeito ao sentimentalismo da maioria do povo brasileiro. Assim parou com acaloradas palmas da assistência.” O retorno de Plínio do exílio • Plínio Salgado só se sentiu seguro para voltar ao Brasil depois da saída de Getúlio do poder e do registro oficial do seu partido. • Os vigilantes do DOPS detectaram os problemas de verba do PRP para receber o “Chefe”, pois, segundo um de seus dirigentes, José Loureiro Jr., os membros “siquer pagam as mensalidades!” O retorno de Plínio do exílio • Apesar disso, um dirigente do partido em SP segui para o Rio para receber Plínio. Eurico Guedes de Araújo deu seu relato sobre a recepção ao Chefe na Capital Federal numa das reuniões do partido, ao que o investigador F.H. Anotou atentamente: • [Guedes] descreveu o fato como tendo sido de apoteose para o chefe integralista. Disse que, diante do que vira, a ascensão no partido não pode falhar jamais. Alegou que, diante da multidão que se comprimia no aeroporto e nas proximidades da residência do sr. Raimundo Padilha, onde iria ser alojado “o maior dos brasileiros”, não pudera avistar-se com o sr. Plinio Salgado. Que, todavia, tendo novamente ido ao Rio dois dias depois, falara com o “chefe”. Achara-o “manifestamente convito da integral reforma do Brasil, num melhor Brasil. E que na boca do carioca correu a noticia: “Aparentemente não resta duvida, é um tanto velado, mas o “nosso chefe” foi recebido oficialmente pelo presidente da República, Gen. Dutra, disfarçadamente com as honras de Chefe de Estado, etc. etc.” Grandes aplausos foram então ouvidos. “O guarda avançado do integralismo” • Para além dos oradores das reuniões, um membro em especial chamou a atenção de um dos investigadores: Saulo Navarro, chefe da segurança. Membro que parecia ter razoável poder nas reuniões do partido.