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ESTELHA
LAURA
NORMA
RAFAELA
SAMANNTHA
Introdução
O BARROCO foi um período do século XVI que gerou uma nova visão de
mundo através de lutas religiosas dentre outras características. Um dos artistas mais
conhecidos da literatura barroca é o padre Antônio Vieira, que escreveu vários sermões
em estilo conceptista (jogo de ideias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico,
racionalista, que utiliza uma retórica aprimorada).
Sua obra "sermão do bom ladrão" foi escrito em 1644, mas seu contexto pode
ser interpretado nas atuais questões políticas do Brasil, em uma perspectiva religiosa.
A tendência de conciliar visões opostas entre teocentrismo e antropocentrismo
torna o barroco um movimento dualista, caracterizado, principalmente, pelas oposições.
Assim sendo, de acordo com Bigal (2006), a literatura barroca é marcada pela
existência de contradições geradas pela oposição constante entre o espírito cristão
(antiterreno, teocêntrico) e o espírito renascentista (racionalista, mundano).
Em consequência dessas contradições, o barroco literário é uma mistura de
manifestações opostas entre o místico e sensual, religioso e erótico, espiritual e carnal.
No barroco, esse eixo dualista governa a vida. O homem é visto em
constante conflito com o mundo, vindo daí o estilo irregular dessa estética.
Essa indefinição do barroco entre o divino e o terreno, segundo Bigal
(2006), faz refletir na literatura os conflitos e o descontentamento do homem em face
da sua existência.
SERMÃO DO BOM LADRÃO
BAROCO
Os Sermões de Vieira visam a convencer o ouvinte por meio
tanto da emoção como da razão.
Apesar da índole e da linguagem barroca, a captação da
realidade por meio dos sentidos, as contradições e associações
inesperadas. A estrutura dos sermões é clássica, apoiada na
lógica e nos princípios de Aristóteles.
A PRESENÇA CLÁSSICA
Cada sermão se concentra apenas em um tema e procura
examiná-lo sob todos os aspectos – no caso do Sermão do
Bom Ladrão
Na circularidade do desenvolvimento: por meio da retomada
constante das premissas iniciais que se repetem à exaustão até
o fim do sermão .
INFLUÊNCIAS ESTRUTURAIS E ESTILÌSTICAS
Não se pode deixar de reconhecer que a obra de Vieira tem uma
relação com o seu tempo. O Barroco é uma influência evidente nas
suas obras. Não tanto o Cultismo, mas, sobretudo, o Conceptismo.
O jesuíta segue também o estilo de outros oradores sacros da sua
época. O esquema de desenvolvimento dos seus sermões
obedecem ao estilo clássico dos discursos, que foram incorporados
pelos pregadores. De acordo com Noronha (1998, p.35):
ESTRUTURA
Deve-se observar que o plano usado pelos pregadores do século XVII,
inclusive por Vieira, é bem próximo do plano do discurso clássico, que
se constitui das seguintes partes:
I - Exórdio
II – Tema
III – Argumentação
IV – Peroração
É importante considerar também a diferença da linguagem entre
os sermões. O sermão do Bom Ladrão, dirigido a um público
seleto, constituído do rei, juízes e ministros, tem uma linguagem
mais erudita e uma estrutura argumentativa mais silogística.
Quanto ao sermão de Santo Antônio aos peixes, por exemplo; é
dirigido aos colonos do Brasil, tem uma linguagem bastante
metafórica, muitas ilustrações e poucos argumentos silogísticos.
Vieira estava sempre atento ao seu auditório, seguindo um dos
princípios da retórica clássica, chamado “polytropos”, segundo o
qual é necessário encontrar o modo certo e as palavras oportunas
para comunicar-se com os diferentes grupos de pessoas.
EMBASAMENTO
Vieira embasa também seus argumentos em outros focos de
autoridade, marcados pelas citações feitas ao longo do discurso,
para dar respaldo à interpretação do texto.
No Sermão do Bom Ladrão ele usa algumas citações:
O Antigo Testamento - para fundamentar o conceito de restituição;
- Era tão perigoso este preceito da restituição na lei velha, que, se o
que furtou não tinha como restituir, mandava Deus que fosse
vendido, e restituísse com o preço de si mesmo: ( Êxodo 22,3)16
EMBASAMENTO
Santo Agostinho - para embasar o mesmo conceito de restituição,
ligando-o à penitência – “Se o alheio que se tomou ou retém, se
pode restituir, e não se restitui, a penitência deste e de outros
pecados não é verdadeira penitência, senão simulada e fingida,
porque se não perdoa o pecado sem se restituir o roubado, quando
quem o roubou tem possibilidade de o restituir”
Como ambos saíram, do naufrágio desta vida, despidos e pegados
a um pau, só esta sua extrema pobreza os podia absolver dos
latrocínios que tinham cometido, porque, impossibilitados à
restituição, ficavam desobrigados dela. Porém, se o Bom Ladrão
tivera bens com que restituir, ou em todo, ou em parte o que
roubou, toda a sua fé e toda a sua penitencia, tão celebrada dos
santos, não bastara o salvar, se não restituísse (Vieira, 1998, p.62)
FUNDAMENTAÇÃO DA RESTITUIÇÃO
A fundamentação do conceito da restituição, no entanto, Vieira
busca na lei do Antigo Testamento, no livro de Êxodo , capítulos
22, versículo 3, que determina que se um ladrão furtar alguma
coisa deverá restituí-la integralmente. Ligado ao conceito de
restituição está o conceito de penitência. Esse termo significa um
ato de expiação dos pecados, assumido por iniciativa pessoal, ou
por indicação da Igreja ou de seus delegados (Barsa). A penitência
exigida, na concepção de Vieira, era a devolução dos bens
roubados. A única exceção era a do bom ladrão, porque estando ali
na cruz, não tinha com que restituir.
ARGUMENTAÇÃO
A argumentação de Vieira focaliza a importância da
restituição para que os ladrões possam ir ao paraíso.
Para dar consistência ao seu conceito, ele cita uma
afirmação de santo Agostinho, segundo o qual, “ se o
alheio, que se tomou ou retém, se pode restituir, e não
se restitui, a penitência deste e de outros pecados não é
verdadeira penitência, senão simulada e fingida,
porque não se perdoa o pecado sem se restituir o
roubado, quando quem o roubou tem possibilidade de
o restituir.” (Vieira, 1998, p. 62)
PADRE VIEIRA INVOCA AS PALAVRAS DE SANTO TOMÁS DE
AQUINO
aquele que tem obrigação de impedir que se furte,
se o não impediu, fica obrigado a restituir o que se
furtou. E até os príncipes que por sua culpa deixaram
crescer os ladrões, são obrigados à restituição;
porquanto as rendas com que os povos os servem e
assistem são como estipêndios instituídos e
consignados por eles, para que os príncipes os
guardem e mantenham com justiça.
A ARTE DE FURTAR
ALGUNS FAGMENTOS DO SERMÃO O BOM LADRÃO
No Sermão do Bom Ladrão proferido em 1655, Padre Antônio
Veira critica “a arte de roubar”, mostrando ao povo português
como funcionava a roubalheira no Brasil-colônia.
“Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e
reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor nem
perigos: os outros se furtam, são enforcados, estes furtam e
enforcam”.
É narrado que Alexandre em uma poderosa armada pelo mar
Eritreu repreendeu um pirata que fora trazido à sua presença
porque roubava os pescadores; porém o pirata respondeu que ele
por roubar em uma barca era considerado um ladrão e que
Alexandre ao usar uma armada para roubar era considerado
imperador.
O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao inferno: os que não só vão, mas
levam, de que eu trato, são outros ladrões de maior calibre e de mais alta esfera; os
quais debaixo do mesmo nome e do mesmo predicamento, distingue muito bem São
Basílio Magno.
Não só são ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão
banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente
merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e
legiões ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os
quais já com mancha.
O ladrão que furta para comer,
não vai nem leva ao inferno:
os que não só vão, mas levam,
de que eu trato, são outros ladrões
de maior calibre e de mais alta esfera."
justiça
Para Pe. Vieira sem a restituição do alheio não se
poderia alcançar a salvação. Não se perdoava o pecado
sem se restituir o roubado quando o ladrão tivesse
possibilidade de restituí-lo. As restituições do alheio
sob pena da salvação estavam sujeitos tanto os súditos
quanto os reis. Os ladrões de quem fala o padre neste
sermão não são os miseráveis a quem a pobreza obriga
a agir de maneira incorreta, mas os ladrões de maior
calibre e de mais alta esfera.
Levarem os reis consigo ao paraíso os ladrões, não só não
é companhia indecente, mas ação tão gloriosa e
verdadeiramente real, que com ela coroou e provou o
mesmo Cristo a verdade do seu reinado, tanto que
admitiu na cruz o título de rei.
Mas o que vemos praticar em todos os reinos do mundo
é, em vez de os reis levaram consigo os ladrões ao
paraíso, os ladrões são os que levam consigo os reis ao
inferno.
Esta pequena introdução serviu para que Vieira
manejasse os seus dardos contra aquele auditório repleto
pela nobreza. E continuou enfático:
O padre adverte aos reis quanto ao pecado da
corrupção passiva/ativa, pela cumplicidade do
silêncio permissivo. O sermão apresenta uma visão
crítica sobre o comportamento imoral da nobreza, da
época.
imagem
Este sermão, que hoje se prega na
Misericórdia de Lisboa, e não se prega na
Capela Real, parecia-me a mim que lá se
havia de pregar, e não aqui. Daquela pauta
havia de ser, e não desta. E por quê?"
"A salvação não pode entrar sem se perdoar o
pecado, e o pecado não se perdoa sem se restituir o
roubado: Non dimittitur peccatum nisi restituatur
ablatum."
Suposta esta primeira verdade, certa e infalível; a segunda
verdade é a restituição do alheio sob pena de salvação, não só
obrigando aos súditos e particulares, senão também aos cetros e
as coroas. Cuidam ou deveriam cuidar alguns príncipes, que
assim como são superiores a todos, assim são senhores de tudo;
e é engano. A lei da restituição é lei natural e lei divina.
Enquanto lei natural obriga aos reis, porque a natureza fez
iguais a todos; enquanto lei divina também os obriga; porque
Deus, que os fez maiores que os outros, é maior que eles.“
Príncipes, em vez de tomarem conta do povo como pastores,
roubavam o povo como lobos: “Principes ejus in medio illius,
quasi lupi rapientes praedam” (Ezech. XXII, 27).
imagem
Levarem os reis consigo ao paraíso os ladrões, não só
não é companhia indecente, mas ação tão gloriosa e
verdadeiramente real, que com ela coroou e provou
o mesmo Cristo a verdade do seu reinado, tanto que
admitiu na cruz o título de rei. Mas o que vemos
praticar em todos os reinos do mundo é, em vez de
os reis levaram consigo os ladrões ao paraíso, os
ladrões são os que levam consigo os reis ao inferno."
O vocabulário rico, as comparações, as metáforas,
além da dubiedade de sentidos aparecem em muitas
passagens do texto, mas há um trecho bastante
longo, porém bastante interessante que se apresenta
em mais evidência, é guando ele explica as maneiras
de furtar: no modo indicativo, imperativo,
mandativo, optativo, permissivo, infinito; acrescenta
ainda que esses modos sejam conjugados em todas
as pessoas e ainda furtam por todos os tempos.
Terceira parte
A terceira parte de um Sermão é a Peroração que é o
momento que além de finalizá-lo, os ouvintes são
conclamados a seguirem a prática das virtudes
propostas como se percebe quando ele faz com que o
ouvinte (em nosso caso: o leitor) pense sobre sua
citação: não se pode calar com boa consciência, ainda
que seja com repugnância, é força que se diga ou
ainda quando ele narra baseado no que disse Cristo,
que é melhor ir ao Paraíso manco, aleijado e cego,
que com todos membros inteiros ao inferno
ATACA E CRITICA AQUELES QUE SE VALIAM DA MÁQUINA
PÚBLICA PARA ENRIQUECER ILICITAMENTE
Este sermão foi pregado, em 1655, na Igreja da
Misericórdia, em Lisboa, quando Vieira esteve naquela
cidade, lutando a favor da libertação dos índios da
escravidão. Na oportunidade, estavam presentes o Rei
D. João IV e os maiores dignitários do reino: juízes,
ministros e conselheiros. Pe Vieira inicia o seu sermão
falando que a capela Real seria o local mais adequado
para pregá-lo, e não a Igreja da Misericórdia, porque o
seu assunto relacionava-se mais com a realeza do que
com a misericórdia.
Sermão do bom ladrão
Finaliza fazendo uso de repetições, pedindo a Deus
que ensine com o seu exemplo e inspire com a sua
graça a todos os reis de tal forma que evitem os
furtos futuros e ainda devolvam os passados para
que no lugar de os ladrões os levem ao inferno que
vá ao Paraíso os ladrões juntamente aos reis.
ATACA E CRITICA AQUELES QUE SE VALIAM DA MÁQUINA
PÚBLICA PARA ENRIQUECER ILICITAMENTE
Observa-se que em num lance profético que mostra o seu profundo
entendimento sobre os problemas do Brasil – ele ataca e critica aqueles que
se valiam da máquina pública para enriquecer ilicitamente. Denuncia
escândalos no governo, riquezas ilícitas, venalidades de gestões fraudulentas
e, indignado, a desproporcionalidade das punições, com a exceção óbvia dos
mandatários do século 17.
Vieira usou o púlpito como arauto das aspirações públicas, à guisa de uma
imprensa ou de uma tribuna política. Embora estivesse na Igreja da
Misericórdia, disse ser a Capela Real e não aquela Igreja o local que mais se
ajustava a seu discurso, porque iria falar de assuntos pertinentes à sua
Majestade e não à piedade.
Referencias
https://www.recantodasletras.com.br/biografias/4
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