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( O’Brien, ITC, 139)
O antifundacionalista, no entanto, argumenta
que Antoine e Colette não só tem
pensamentos diferentes acerca da música,
como a experienciam de maneira diferente.
Colette não só consegue identificar uma nota
como si bemol, como a consegue ouvir como
tal. Antoine não pode ter essa experiência; a
música soa-lhe de maneira diferente.
ITC, 140
Temos experiências perceptuais distintas
dependendo do tipo de pensamentos que
temos acerca do desenho. Os nossos
conceitos de PATO e COELHO afetam o
que vemos, tal como certos conceitos
musicais afetam a experiência dos nossos
ouvintes das suites de violoncelo.
ITC, 141
(3) O nosso conhecimento teórico pode afetar a aparência
daquilo que observamos por meio de instrumentos
científicos. Quando olho para uma lamela de um
microscópio, vejo um conjunto de formas indistintas. Um
biólogo experiente, no entanto, vê nestas formas
estruturas celulares distintas, relacionadas entre si de
forma coerente. O que se pretende sublinhar, recorde-se,
não é apenas o facto de o biólogo ser capaz de interpretar
a função destas formas — as formas que ambos vemos —
mas sim que a qualidade da sua experiência visual é
diferente da minha:
«a criança e o leigo [...] não conseguem ver
o mesmo que o físico [ou o biólogo]» (Hanson, 1965, p.
17)
ITC, 142
Alguns consideram estes exemplos persuasivos, isto
é, admitem constituírem uma descrição correta da
fenomenologia da experiência. Outros, no entanto,
rejeitam-nos, e veremos mais abaixo como isso pode
ser feito. Antes disso, porém, clarifiquemos como é
que estes exemplos são relevantes para o
fundacionalismo.
No capítulo 4 foi traçada uma distinção entre o olhar
bruto e as formas conceptualmente estruturadas de
percepção como «ver-que» e «ver-como». De acordo
com o fundacionalismo, o nosso envolvimento
perceptual primordial com o mundo é do primeiro
tipo, isto é, de ordem não-conceptual.
ITC, 142.143
três ataques ao fundacionalismo tradicional:
1)Sellars argumenta que todas as pretensões ao
conhecimento requerem suporte racional, pelo que as
crenças relativas à experiência não podem ser
concebidas como não-inferencialmente justificadas;
2) A linha de argumentação wittgensteiniana é que a
própria noção de experiência não-conceptual é
insustentável.
3) Por último, vimos que alguns autores rejeitam o
fundacionalismo com o argumento de que a natureza
da experiência perceptual depende da nossa
capacidade de ter pensamentos conceptualmente
estruturados.
ITC, 146
Alguns fundacionalistas tentam manter uma versão
«modesta» ou «moderada» da sua abordagem.
Robert Audi (2003) e Alvin Plantinga (2000)
promovem este tipo de posição. Para eles, as nossas
crenças perceptuais não são infalíveis. A minha
crença de que «vejo vermelho» ou «parece-me ver
vermelho» podem revelar-se injustificadas ou falsas;
não obstante, é razoável aceitar que essas crenças
são verdadeiras, a menos que eu tenha provas que
indiquem o contrário.
ITC 146-147
O fundacionalismo moderado também tem uma resposta
para o problema levantado por Sellars. Para este autor, o
Dado não pode fornecer justificação para as nossas
crenças empíricas porque não pode ser visto como algo
que nos dê razões para pensar que o mundo é de uma
certa maneira. Isto porque o Dado é tradicionalmente visto
como não-conceptual; a justificação, no entanto, é uma
noção essencialmente inferencial ou conversacional, algo
que envolve, necessariamente, o pensamento conceptual.
Para o fundacionalista moderado, no entanto, a
experiência perceptual é conceptual. A minha experiência
de vermelho representa a chávena como sendo vermelha
— tem o conteúdo, aquilo é vermelho — esta
experiência pode, portanto, conferir-me uma razão para
pensar que a chávena é vermelha.
ITC, 149
Contudo, levanta-se agora uma questão relativamente às
razões que nos levam a considerar que a nossa
experiência representa o mundo desta maneira e não de
outra qualquer: por que razão deve a nossa experiência
ser vista como tendo o conteúdo vermelho em vez de
amarelo? Se é necessária justificação para a minha crença
de que a chávena é vermelha, então, é também necessária
justificação para a afirmação de que percepciono a
chávena como vermelha. Uma tal explicação da
experiência perceptual não é capaz de deter a regressão
da justificação, visto que a experiência perceptual do
fundacionalista moderado carece, ela mesma, de
justificação. Este é, de acordo com Laurence Bonjour
(1985), o dilema do fundacionalista.
O’Brien ITC, 150