REVOLTAS DA VACINA E DA CHIBATA revoltas eclodidas no período da República Oligárquica Brasileira. SUMÁRIO 1. UM COMENTÁRIO SOBRE A REPÚBLICA OLIGÁRQUICA; 2. A REVOLTA DA VACINA 2.1 – CAUSAS; 2.2 – AGENTES SOCIAIS; 2.3 – A REVOLTA.
3. A REVOLTA DA CHIBATA 3.1 – CAUSAS; 3.2 – AGENTES SOCIAIS; 3.3 – A REVOLTA.
4. OS LEGADOS DAS REVOLTAS
REPÚBLICA OLIGÁRQUICA: UM PERÍODO DE REVOLTAS O regime republicano brasileiro, antes militar, se tornou oligárquico; Houve o controle do Estado pelas elites econômicas brasileiras, principalmente as elites cafeeiras paulistas e pecuaristas mineiras; Os militares estavam tentando voltar ao poder. Por este motivo, engrossaram o coro dos movimentos que pudessem prejudicar a estabilidade da república; (...) esse governo só tem o rótulo de republicano, porque isto que nós temos como forma de governo é uma república falsificada e deve haver a repulsa porque à Nação assiste o direito de repelir a força pela força (...). Essa lei iníqua, arbitrária e deprimente provoca a reação, que deve ser feita por toda expressão. Talvez nunca mais se repita, devido às mudanças ocorridas na sociedade brasileira, e ao fato de que temos vastas massas inermes de miseráveis e deseducados, que sempre se submetem passivamente a todos os tipos de indignidades que ocorrem diariamente na área da Saúde. Mas, até quando? Lauro Sodré A REVOLTA DA VACINA O CONTEXTO DA REVOLTA Os militares tentaram voltar ao poder em 1904; Vital Brasil, Chapot Prevost, Domingos Freire e Oswaldo Cruz implantaram no Brasil o paradigma microbiológico de Louis Pasteur. Deste modo, conclamaram uma ampla reforma urbana no Rio de Janeiro; Pereira Passos, prefeito do Rio, iniciou uma cruzada higienista – posturas, leis, estabelecimento autoritário de regras para o comércio, os transeuntes e as habitações – que concomitantemente legitimava o reformismo urbano; Cortiços e casebres, que compunham inúmeros quarteirões dos bairros centrais, foram demolidos, e deram lugar a grandes avenidas e ao alargamento das ruas, seguindo o modelo de urbanização dos grandes bulevares parisienses. A AÇÃO DO ESTADO Oswaldo Cruz montou uma campanha em moldes militares. Dividiu a cidade em distritos, criou uma polícia sanitária com poder para desinfetar casas, caçar ratos e matar mosquitos. Com a imposição da vacinação obrigatória, as brigadas sanitárias entravam nas casas e vacinavam as pessoas à força. POR QUE SE REVOLTAR CONTRA UMA VACINA? A vacina se tratava da gota d’água do processo do Bota-Abaixo movido por Pereira Passos; A rebelião não seria senão a culminância da “paciência popular” após um longo processo de exclusão social; O povo não se revoltava contra a vacinação, mas contra o longo processo de exclusão em curso para dotar a cidade de um caráter cosmopolita-burguês autoritário, no qual a vacinação era apenas o último episódio. OS ATORES SOCIAIS Os principais atores sociais envolvidos na Revolta foram:
- A população favelizada e pobre do Rio de Janeiro;
- A classe médica do Rio de Janeiro; - A prefeitura higienista da capital carioca; - A mídia, que se posicionou contra Oswaldo Cruz, ridicularizando seus atos com charges e artigos. O DECORRER DA REVOLTA A indignação levou ao motim popular, que explodiu em 11 de novembro de 1904; Carroças e bondes foram tombados e incendiados, lojas saqueadas, postes de iluminação destruídos e apedrejados. Pelotões dispararam contra a multidão. Durante uma semana, as ruas do Rio viveram uma guerra civil. Segundo a polícia, o saldo negativo foi de 23 mortos e 67 feridos, tendo sido presas 945 pessoas, das quais quase a metade foi deportada para o Acre, onde foi submetida a trabalhos forçados. A MÍDIA RIDICULARIZOU A CAMPANHA DE OSWALDO CRUZ REVOLTA DA CHIBATA A CONDIÇÃO DOS MARINHEIROS Os militares de baixa patente da Marinha Brasileira recebiam castigos físicos; Desde o Império, os marinheiros brasileiros eram quase todos negros ou mulatos recrutados pela Polícia e comandados por oficiais brancos; Não podiam se casar e as faltas greves eram punidas com no mínimo vinte e cinco chibatadas. Contudo, em 1889, a punição foi extinta mas logo foi reabilitada O PLANO DO MOTIM Na primeira década do século XX, os marinheiros passaram a ter contato com as armadas de outros países que haviam abolido os castigos físicos; João Cândido, que se alistara em 1895, estava entre esses marinheiros e, de volta, criou um comitê clandestino para organizar uma revolta. A ideia era formar comitês nos outros navios e realizar o motim em 25 de novembro de 1910, dez dias após a posse do presidente Hermes da Fonseca; Uma punição no dia 16 de novembro ao marinheiro Marcelino Rodrigues Meneses no encouraçado Minas Gerais adiantou os acontecimentos. Na noite de 22 de novembro, quando chegaram à baía de Guanabara, os marinheiros do Minas Gerais mataram seis oficiais, entre eles o comandante Batista das Neves. O DECORRER DA REVOLTA A rebelião se espalha para os demais navios que ameaçam bombardear a capital federal se, além da anistia, não tivesse fim os castigos corporais; A estratégia de deixar os navios sem comida ou carvão fracassou. A causa era considerada justa por todos e, os olhos do mundo estavam sobre a Baía de Guanabara; Houve a recomendação de anistia, que não foi cumprida; Em 4 de dezembro, quando quatro marinheiros foram presos, os fuzileiros navais da ilha das Cobras se sublevaram, mas foram bombardeados durante todo o dia, mesmo tendo se rendido. OS LEGADOS DAS REVOLTAS O motim não tem fisionomia, não tem forma, é improvisado. Propaga-se, espalha-se, mas não se liga. O grupo que opera aqui não tem ligação alguma com o que tiroteia acolá. São independentes: não há um chefe geral nem um plano estabelecido. Lima Barreto, romancista (1881-1922)