Docente: Ana Ketsia B. M. Pinheiro Aula 3 Ausência de Resposta do Réu: REVELIA Revelia (ou contumácia)
A revelia é o fenômeno processual que acarreta a
presunção relativa de veracidade dos fatos apresentados pelo autor.
Uma vez decretada a revelia presume-se a confissão
ficta do réu.
Atenção! O critério para decretação da revelia
difere de acordo com o procedimento estabelecido para o processamento da causa. IMPORTANTE!
No rito comum a revelia é a ausência de
contestação no prazo de 15 dias (NCPC, art. 335), conforme se depreende do art. 344 do NCPC.
Já no rito sumaríssimo (Juizados Especiais
Cíveis), a revelia se caracteriza pela ausência do réu em qualquer audiência, na forma do art. 20 da Lei 9.099/95. Novo CPC, art. 344. Se o réu não contestar a ação, será considerado revel e presumir-se-ão verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo autor (PROCEDIMENTO COMUM)
Lei 9.099/95 (Juizados Especiais Cíveis)
Art. 20. Não comparecendo o demandado à sessão de conciliação ou à audiência de instrução e julgamento, reputar-se-ão verdadeiros os fatos alegados no pedido inicial, salvo se o contrário resultar da convicção do Juiz.(RITO SUMARÍSSIMO) Efeitos da Revelia Uma vez decretada a revelia pelo juiz, esta produzirá efeitos dentro do processo.
Os efeitos da revelia são classificados em materiais
e processuais: a) Os efeitos materiais (NCPC, art. 344), que estão diretamente relacionados ao direito material objeto do processo, dizem respeito à confissão ficta. Importante destacar que a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor é relativa pois admite conclusões outras de acordo com a prova dos autos. Exemplo: o autor pretende obter indenização por danos materiais mas não junta provas contundentes de seus danos. Mesmo diante da revelia do réu, o juiz poderá julgar improcedente a demanda vez que o autor não provou adequadamente o fato constitutivo de seu direito.
b) os efeitos processuais dizem respeito à
repercussão da revelia no âmbito processual. O CPC enumera pelo menos DOIS efeitos processuais da revelia. O primeiro diz respeito a ausência de intimação do réu para os demais atos da demanda.
Atenção! O réu, mesmo sendo revel, pode
ingressar no feito, apresentar provas, recorrer e praticar outros atos, o que muda é que não será intimado para a prática de tais atos, conforme se depreende do art. 346 do NCPC.
O fato de não ter contestado o pedido não
impede o réu de comparecer posteriormente a juízo e de se fazer representar por advogado nos autos. Quando o réu revel aparece, receberá o feito no estado em que se encontrar. Daí em diante, respeitados os atos preclusos, participará da marcha processual em igualdade de condições com o autor, restabelecendo o contraditório, e tornando obrigatórias as intimações a seu advogado. Art. 346. Os prazos contra o revel que não tenha patrono nos autos fluirão da data de publicação do ato decisório no órgão oficial. Parágrafo único. O revel poderá intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o no estado em que se encontrar.
O segundo efeito processual concerne ao
julgamento antecipado da lide na forma do art. 355, II, do NCPC. Considerando que os fatos alegados pelo autor restaram incontroversos, pois o réu não os rebateu, não há necessidade de o feito se prolongar no tempo, pois não haverá nenhuma necessidade de produção de provas. Nestes casos o CPC autoriza o juiz julgar antecipadamente a causa.
Do Julgamento Antecipado do Mérito
Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença com resolução de mérito, quando: II - o réu for revel, ocorrer o efeito previsto no art. 344 e não houver requerimento de prova, na forma do art. 349. Revelia relevante e irrelevante O CPC/73 e o novo CPC dispõem sobre os casos em que a decretação da revelia produzirá normalmente seus efeitos processuais e materiais. Nestes casos a revelia é chamada de relevante, pois produzirá todos os efeitos.
No entanto o CPC enumera alguns casos em que,
diante da importância do direito material deduzido no processo, mesmo ocorrendo a revelia e sua decretação pelo juiz esta não produzirá nenhum efeito. Esta revelia é denominada de irrelevante pois não produzirá nenhum efeito. As hipóteses de revelia irrelevante estão enumeradas no art. 345 do NCPC, por exemplo: • Os casos de pluralidade de réu em que um deles contesta a ação; • O caso dos direitos indisponíveis; • Quando falta instrumento público indispensável à prova do ato alegado na inicial, como a ausência de escritura de compra e venda quando se discute a propriedade. Novo CPC, art. 345. A revelia não produz o efeito (presunção de veracidade) mencionado no art. 344 se : I - havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação; II - o litígio versar sobre direitos indisponíveis; III - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considere indispensável à prova do ato; IV - as alegações de fato formuladas pelo autor forem inverossímeis ou estiverem em contradição com prova constante dos autos. Para alertar o demandado acerca da relevância da revelia, o mandado de intimação deve conter a advertência de que “não sendo contestada a ação, se presumirão aceitos pelo réu, como verdadeiros, os fatos articulados pelo autor” (CPC/1973, art. 285) – PRESUNÇÃO DE VERACIDADE A falta deste aviso no mandado compromete a validade do ato citatório e impede a verificação da presunção legal prevista.
Atenção! Essa regra do art. 285 do CPC/73 foi
reproduzida no novo CPC. Novo CPC, art. 250. O mandado que o oficial de justiça tiver de cumprir conterá:
II - a finalidade da citação, com todas as especificações
constantes da petição inicial, bem como a menção do prazo para contestar, sob pena de revelia, ou para embargar a execução;
III - a aplicação de sanção para o caso de
descumprimento da ordem, se houver; Diante da revelia, se torna desnecessária a prova dos fatos em que se baseou o pedido, de modo a permitir o julgamento antecipado da lide, dispensando-se a audiência de instrução e julgamento.
Não Esqueça! Mesmo aceitos como verídicos
os fatos, a consequência jurídica a extrair deles pode não ser a pretendida pelo autor, ou seja, mesmo havendo revelia do réu, pode o pedido do autor ser julgado improcedente. A esse respeito vejamos a lição de Humberto Theodoro Jr.:
“A presunção de veracidade, decorrente
da revelia, não é absoluta e insuperável, nem pretendeu a lei transformar o juiz, na espécie, num robô que tivesse que aprovar, conscientemente, a inverdade e a injustiça, sem qualquer possibilidade de coarctar a iniquidade e a mentira"(Curso de Direito Processual Civil, 51ª ed., Rio de Janeiro, Forense, 2011, v. 1, p. 404). Discute-se sobre a eficácia da revelia nos casos de citação ficta, isto é, por edital ou com hora certa, em que a ciência do réu é apenas presumida. Com efeito, dispõe o art. 257 do NCPC, inciso IV, cumulado ao art. 72, que se dará curador especial ao revel citado por edital ou com hora certa e ao réu preso, o que leva à conclusão de que esse curador terá a função de contestar a ação em nome do réu, o que exclui a figura da própria revelia. Art. 72. O juiz nomeará curador especial ao: I - incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses deste colidirem com os daquele, enquanto durar a incapacidade; II - réu preso revel, bem como ao réu revel citado por edital ou com hora certa, enquanto não for constituído advogado. Parágrafo único. A curatela especial será exercida pela Defensoria Pública, nos termos da lei.
Art. 257. São requisitos da citação por edital:
IV - a advertência de que será nomeado curador especial em caso de revelia. José Frederico Marques coloca o problema nos seus devidos termos, distinguindo duas situações: i. a do revel que não comparece (ausente) e ii. a do que comparece, mas não contesta (embora presente nos autos).
É bem possível, na prática, que tomando ciência do
edital ou da citação por hora certa, o réu compareça e peça vista dos autos, mas deixe de produzir contestação. Nessa hipótese, o citado por edital ou com hora certa estará incurso em revelia, com todos os consectários do art. 344. Mas, quando o revel se mantiver totalmente ausente do processo e sua citação for resultado apenas de uma presunção legal, não haverá lugar para a eficácia do art. 344 (porque nesse caso lhe será nomeado um curador)
Importante! Ao revel, representado por curador,
a lei faculta a contestação sem a necessidade de impugnação específica, ou seja, pode-se responder à ação por meio de “negação geral”. Com isso, afastam-se os efeitos da revelia. Alteração do pedido
Após a citação do réu vem a fase de saneamento do
processo e ao autor não é mais permitido alterar os elementos da causa, sem consentimento do réu (NCPC, art. 329).
Após o saneamento, a lide estabiliza-se, não mais
podendo ser modificada.
Com ou sem resposta do réu, o fenômeno
processual é o mesmo. Art. 329. O autor poderá:
I - até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de
pedir, independentemente de consentimento do réu;
II - até o saneamento do processo, aditar ou alterar o
pedido e a causa de pedir, com consentimento do réu, assegurado o contraditório mediante a possibilidade de manifestação deste no prazo mínimo de 15 (quinze) dias, facultado o requerimento de prova suplementar.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo à
reconvenção e à respectiva causa de pedir. Reconhecimento da procedência do pedido
Além da resposta e da revelia, existe uma terceira
atitude que o réu pode tomar frente à ação ajuizada. Consiste em reconhecer o demandado "a procedência do pedido do autor" (NCPC, art. 487, III, a), fato que leva ao julgamento antecipado do processo, com solução de mérito. Como adverte Barbosa Moreira:
“O reconhecimento do pedido não se confunde
com a confissão, que é apenas meio de prova e se refere a um ou alguns fatos arrolados pela parte contrária. O reconhecimento tem por objeto o próprio pedido do autor, como um todo, isto é, com todos os seus consectários jurídicos. É verdadeira adesão do réu ao pedido do autor, ensejando autocomposição do litígio e dispensando o juiz de dar sua própria solução ao mérito.” Entenda!
• Quando há reconhecimento do pedido pelo réu,
o juiz apenas encerra o processo, reconhecendo que a lide se extinguiu por eliminação da resistência do réu à pretensão do autor.
• Desaparecida a lide, não há mais tutela
jurisdicional a ser dispensada às partes, o que, todavia, não exime o juiz de proferir sentença que reconheça esse fato jurídico e que ponha fim definitivamente ao processo. • A revelia é fenômeno processual que não guarda nenhuma relação com o reconhecimento jurídico do pedido. • Na revelia ocorre a confissão ficta do réu, presume-se que o réu admite o fato alegado pelo réu e não as suas consequências jurídicas. O réu pode não contestar demanda indenizatória por danos decorrentes de trânsito mas discordar frontalmente da indenização pleiteada pelo demandante. Já no reconhecimento do pedido o réu aceita tanto o fato como as consequências jurídicas decorrentes do fato. Exemplo: Imagine um caso de erro médico no qual o réu (médico) apresenta petição reconhecendo o pedido do autor, ou seja, reconhecendo o fato bem como a justeza do valor indenizatório exigido pelo autor. No caso, esse réu reconheceu tanto o fato como as suas consequências (a indenização pleiteada pelo autor). Questão Discursiva Jorge Lourenço procura um advogado e informa que comprou uma televisão de ultima geração (R$ 8.500,00) para sua residência, mas o equipamento não funciona corretamente. Apesar de inúmeros contatos e promessas do fabricante TVJÓIA e seu serviço autorizado de garantia, nenhuma visita técnica foi realizada. Na conversa com o advogado procurado, Jorge Lourenço informa que gostaria de ter o aparelho (ou outro equivalente) funcionando, além de danos materiais e morais pelo ocorrido. O advogado informa a Jorge Lourenço que irá elaborar a Petição Inicial e que o caso seguirá o procedimento comum sumário em Vara, pois de acordo com o CPC, este caso não poderia mais ir aos Juizados Especiais Cíveis da Lei 9099/95. a) Esta correta a orientação prestada pelo advogado no tocante ao rito ou procedimento adequado ao caso?
b) Sem prejuízo da resposta no item a), qual seria a
outra opção para Jorge Lourenço pleitear em perante o Poder Judiciário uma reparação de seus danos? 1ª Questão
De acordo com o NCPC é correto afirmar que:
a) O procedimento comum sumário e ordinário foram transformados em procedimento especial. b) A petição inicial não pode mais ser emendada. c) Na petição inicial pode haver indicação de interesse em realizar audiência de conciliação ou mediação. d) Não pode haver mais indeferimento da petição inicial antes da citação do réu.
Resposta: Art. 319,VII do NCPC.
2ª Questão Com relação ao pedido no processo civil, marque a opção incorreta: a) O pedido deve ser certo e determinado. b) É possível pedido alternativo nos casos em que o direito material permite. c) A cumulação de pedidos diversos contra o mesmo réu só é possível quando houver conexão. d) A cumulação de pedidos enquanto cumulação de ação gera economia processual.