O episódio de Inês de Castro é o episódio lírico mais conhecido de
Os Lusíadas. Baseia-se no romance de Inês de Castro e do infante D. Pedro, filho de D. Afonso IV, uma história verídica. Este episódio consta de uma introdução na qual Vasco da Gama anuncia que vai narrar um caso trágico, que aconteceu quando D. Afonso IV regressou, vitorioso, da Batalha do Salado. Deste caso só o amor é responsável. No desenvolvimento do episódio, Inês é apresentada num ambiente de tranquilidade e alegria, recordando os tempos felizes passados com o Príncipe, que só a ela deseja. Porém o rei, D. Afonso IV, influenciado pela opinião do povo (ou dos seus conselheiros), ordena a sua morte. No dia fatal, D. Inês é trazida à presença do rei que por ela sente piedade, mas o povo e os «algozes» persistem nos seus intentos. D. Inês, rodeada pelos seus filhos, pede clemência ao rei, invocando comportamentos piedosos exemplares por parte de animais ferozes, ou mesmo o desterro perpétuo em terras longínquas. Contudo, mais uma vez, o povo exige a sua morte e os «brutos matadores» enterram as suas espadas no peito de Inês. Na conclusão, o narrador tece alguns comentários sobre a morte de Inês e a compaixão que esta morte desperta na Natureza. O episódio de Inês de Castro faz parte da narração da História de Portugal, contada por Vasco da Gama ao rei de Melinde. Episódio de Inês de Castro (canto III– estrofes 118-137) Considerações gerais sobre o episódio Apesar de ser um episódio pertencente ao Plano da História de Portugal, não se trata de um episódio épico, mas sim de um episódio trágico e lírico.
Trágico — porque contempla momentos característicos de uma tragédia
clássica: — a paixão entre Pedro e Inês é um desafio ao poder real por Inês representar um perigo para o Reino; — a punição, a decisão de matar Inês; — a piedade, presente no discurso de Inês quando tenta demover o rei; — a catástrofe quando se consuma a morte de Inês. Episódio de Inês de Castro (canto III– estrofes 118-137)
Lírico — porque o narrador interpela o Amor, acusando-o de ser
responsável pela tragédia, sendo a inconformidade do “eu” poético expressa ao longo de todo o episódio, bem como a repulsa pela morte trágica de Inês, chorada até pela natureza. Episódio de Inês de Castro (canto III– estrofes 118-137)
Estrutura do episódio 1. Considerações iniciais do narrador (118-119)
Vasco da Gama relata ao rei de Melinde o episódio trágico
de Inês de Castro, cujo responsável é o Amor, causador da morte de Inês. Episódio de Inês de Castro (canto III– estrofes 118-13/)
2. A felicidade de Inês (120-121)
Inês vivia tranquilamente nos campos do Mondego,
rodeada por uma natureza alegre e amena, recordando a felicidade vivida com D. Pedro, seu amor. O narrador, no entanto, vai introduzindo indícios de que essa felicidade não será duradoira e terá um fim cruel: “Naquele engano da alma, ledo e cego” (120, v. 3); “Que a Fortuna não deixa durar muito” (120, v. 4); “De noite, em doces sonhos que mentiam” (121, v. 5). Episódio de Inês de Castro (canto III– estrofes 118-137)
3. Condenação de Inês (122-125)
D. Afonso IV, vendo que não conseguia casar o filho em
conformidade com as necessidades do Reino, decide pela morte de Inês. Os algozes trazem-na perante o rei. O rei vacila, apiedado, mas as razões do Reino levam-no a prosseguir. Episódio de Inês de Castro (canto III– estrofes 118-137)
4. Discurso de Inês (126-129)
Inês inicia a sua defesa, apelando à piedade do rei através:
— do exemplo das feras e aves de rapina que se humanizaram ao cuidarem de crianças indefesas: “Se já nas brutas feras” (126, v. 1); “Com pequenas crianças viu a gente” (126, v. 5); “Terem tão piadoso sentimento” (126, v. 6); — da afirmação da sua inocência; — do respeito devido às crianças (seus filhos, netos de D. Afonso IV); — do apelo ao desterro. Episódio de Inês de Castro (canto III– estrofes 118-137)
5. Sentença e execução da morte (130-132)
O rei mostra-se sensibilizado mas, uma vez mais, as
razões do Reino e os murmúrios do Povo são mais fortes e a sua determinação mantém-se. Inês é executada. Episódio de Inês de Castro (canto III– estrofes 118-137)
6. Considerações finais do narrador (133-135)
O narrador compara esta atitude a outras conhecidas
atrocidades. Repudia a morte de Inês que compara à da própria natureza. As lágrimas das ninfas do Mondego fazem nascer a Fonte dos Amores, eternizando esta tragédia. Episódio de Inês de Castro (canto III– estrofes 118-137)
7. Vingança de D. Pedro (136-137)
Quando D. Pedro sobe ao trono, concretiza a vingança,