religiosa (cont.) Recapitulando Conferência I: juízos avaliativos e descritivos sobre as experiências religiosas são relativamente independentes
Conferência II: delimitação do religião (para propósitos deste
estudo) como o conjunto de “sentimentos, atos experiências de indivíduos em sua solidão, na medida em que se sintam relacionados com o que quer que possam considerar o divino”
→ Sentimento típico da religião: aceitação do universo de
maneira entusiasmada e sem restrições Felicidade tipicamente religiosa
“As felicidades mais corriqueiras que logramos são
‘alívios’, ocasionados por nossas escapadas momentâneas dos males que experimentamos ou que nos ameaçam. Entretanto, em suas personificações mais características, a felicidade religiosa não é uma simples sensação do escape. Já pouco se lhe dá escapar. Consente no mal exteriormente como uma forma de sacrifício – internamente sabe-o superado para sempre. Se os senhores me perguntarem como cai assim sore os espinhos e enfrenta a morte e, no mesmo ato, anula o aniquilamento, não lhes poderei explicá-lo, pois é o segredo da religião e, para compreendê-lo, precisamos ser homens religiosos do tipo mais extremo.” (p. 42) Atitude frente ao divino
“Aquela atitude pessoal que o indivíduo se sente
impelido a adotar para com o que cuida ser o divino (…) revelar-se-á, ao mesmo tempo, uma atitude impotente e sacrificial. Isto é, teremos de confessar pelo menos alguma dose de dependência da pura misericórdia, e praticar alguma dose de renúncia, grande ou pequena, para salvar vivas as nossas almas.” (p. 43) Renúncia e sacrifício, com alegria “Na vida religiosa, a renúncia e sacrifício são positivamente esposados (...). A religião (…) facilita e felicita o que é, de qualquer maneira, é necessário; e se ela for o único agente capaz de obter esse resultado, sua importância vital como faculdade humana estará indiscutivelmente demonstrada. Torna-se um órgão essencial da vida humana, exercendo uma função que nenhuma outra porção de nossa natureza pode cumprir de maneira tão bem- sucedida. (…) Do ofício subsequente da religião como revelação metafísica nada direi por ora.” (p. 43) III. A realidade do invisível
Vida da religião: “crença de que existe uma ordem
invisível, e que o nosso bem supremo reside em ajustarmo-nos harmoniosamente a ela. Essa crença e essa atitude são a atitude religiosa da alma” (p. 44) “É como se houvesse na consciência humana um sentido de realidade, um sentimento de presença objetiva, uma percepção do que podemos chamar de ‘alguma coisa ali’, mais profunda e mais geral do que qualquer um dos ‘sentidos’ especiais e particulares...” (p. 47)
→ sensação (e não produto de uma operação
intelectual) Relato “Deus é mais real para mim do que qualquer pensamento, ou coisa, ou pessoa. Sinto-lhe a presença positivamente, e tanto mais quanto mais vivo em íntima harmonia com suas leis tais como estão escritas em meu corpo e em minha mente. Sinto-o no brilho do sol ou na chuva; e um respeitoso temor misturado a uma deliciosa tranquilidade são os termos mais aptos a descrever meus sentimentos. Converso com ele como o faço com um companheiro na oração e no louvor,e a nossa comunhão é deleitosa. Ele responde muitas e muitas vezes, amiúde com palavras tão claramente proferidas que tenho a impressão de que o meu ouvido externo deve ter-me trazido o som mas, por via de regra, com fortes impressões mentais. Geralmente é um texto da Escritura que me desvela alguma nova visão dele e do seu amor a mim, do seu zelo pela minha segurança. Eu poderia dar centenas de exemplos, de assuntos escolares, problemas sociais, dificuldades financeiras etc. A sensação de que ele é meu e que eu sou dele nunca me deixa e constitui para mim uma alegria permanente. Sem ela a vida seria um branco, um deserto, um ermo sem praias e sem pistas.” (p. 54) O subconsciente e não-racional tem primazia no reino religioso
“Se os senhores possuem intuições, estas provêm de
um nível mais profundo da sua natureza do que o nível loquaz habitado pelo racionalismo. Toda a sua vida subconsciente, seus impulsos, suas crenças, suas necessidades, suas adivinhações, prepararam as premissas, de cujo resultado a sua consciência sente agora o peso; e alguma coisa nos senhores sabe, de maneira absoluta, que esse resultado há de ser mais verdadeiro do que qualquer argumentação racionalística, por mais inteligente que seja...” (p. 56) Realidade dos objetos religiosos: sentida, intuída
Atitudes que eles despertam: solenidade, alegria
resultante da entrega de si mesmo IV e V: A religião do equilíbrio mental
→ otimismo religioso
“Em muitas pessoas, a felicidade é congênita e
irrevogável. (…) Refiro-me aos que, quando a infelicidade lhes é oferecida ou proposta, se recusam positivamente a senti-la, como se fosse alguma coisa mesquinha e errada.” Espécies “mais singelas” de felicidade religiosa
“Em muitas pessoas a felicidade é congênita e
irrevogável. A ‘emoção cósmica’ toma nelas, inevitavelmente, a forma do entusiasmo e da liberdade. Não me refiro apenas aos animalmente felizes. Refiro-me aos que, quando a infelicidade lhes é oferecida ou proposta, se recusam positivamente a senti-la, como se fosse alguma coisa mesquinha e errada. Encontramos tais pessoas em todas as idades, atirando-se apaixonadas, ao sentido da bondade da vida, apesar das provações da própria condição...” Nascidos uma vez “Desde o começo sua religião é de união com o divino.”
“Eles vêem Deus, não como Juiz rigoroso, nem como
Glorioso Potentado, senão como Espírito animador de um belo mundo harmonioso, Benfazejo e Bondoso, Misericordioso e Puro. Esses personagens geralmente não têm tendências metafísicas: não olham para dentro de si mesmos. Por conseguinte não se afligem com as próprias imperfeições; e, todavia fora absurdo chamar-lhes presunçosos; pois escassamente pensam em si mesmos.”(p. 60) Equilíbrio mental
“Se (…) dermos o nome de religião do equilíbrio
mental à tendência qeu olha para todas as coisas e vê que são boas, chegaremos à conclusão de que precisamos distinguir entre um meio mais involuntário e um meio mais voluntário ou sistemático de ser mentalmente equilibrado. Em sua variedade involuntária, o equilíbrio mental é um modo de sentir-se a gente feliz ao contato imediato das coisas. Em sua variedade sistemática, é um modo abstrato de conceber as coisas como boas.” (p. 65) Felicidade
“... a felicidade, como todos os outros estados emocionais, é
cega e insensível aos fatos contrários dados a ela como arma instintiva para se proteger de uma possível perturbação. Quando a felicidade impera realmente, a ideia do mal já não pode lograr sentido de realidade, como a ideia do bem não pode obtê-lo quando impera a melancolia. Para o homem ativamente feliz, seja qual for a causa, o mal não pode ser criado, naquele momento e lugar. Cumpre-lhe não fazer caso dele; e, para o circunstante, pode ser que ele pareça estar fechando perversamente os olhos para o mal e impondo-lhe silêncio” (p. 65) Atitude
“... o impor-lhe silêncio, num espírito perfeitamente
sincero e honesto, pode converter-se numa política religiosa deliberada, ou parti pris. Muita coisa do que denominamos mal se deve inteiramente ao modo com que os homens encaram o fenômeno. Ele muitas vezes se converte num bem estimulante e tônico por simples mudança da atitude interna daquele que sofre, que passa do medo à luta...” (p. 65) Otimismo e ignorância
“Não apenas o instinto humano da felicidade,
empenhado em proteger-se pela ignorância, continua trabalhando em seu favor [i.e, em favor do otimismo], mas também ideais íntimos mais elevados têm palavras de peso para nos dizer. A atitude da infelicidade não é somente penosa, mas também mesquinha e feia. Que é o que pode ser mais baixo e indigno do que o estado de espírito choramingas, lamurioso, mal-humorado, sejam quais forem os males externos que o possam ter engendrado? Que é mais prejudicial aos outros? Que é menos útil como meio de livrar-se da dificuldade? “A todo custo, portanto, impende reduzir a influência desse estado de espírito [infeliz]; devemos investigá-lo em nós mesmos e nos outros, e nunca mostrar-lhe tolerância. Mas é impossível prosseguir nessa disciplina na esfera subjetiva sem enfatizar zelosamente os aspectos mais brilhantes e sem minimizar, ao mesmo tempo, os aspectos mais escuros da esfera objetiva das coisas. E, dessa forma, nossa resolução de não condescender com o sofrimento, começando num ponto relativamente pequeno dentro de nós, pode nãos se interromper enquanto não tiver colocado toda a estrutura da realidade sob uma concepção sistemática tão otimista que se torna congenial às suas necessidades.” (p. 66) Tema de casa Nas conferências VI e VII (“A alma enferma”) de As variedades da experiência religiosa, William James contrapõe o que chama de “religião do equilíbrio mental”, discutida nas conferências anteriores, a uma concepção em que “o mal é parte essencial de nosso ser e a chave de sua interpretação”, e indica que formas diferentes de religião podem estar baseadas em disposições psicológicas primitivas. Quais são as diferenças principais entre esses dois tipos psicológicos (que James chama de “nascidos uma vez” e “almas enfermas”, respectivamente)?