Sunteți pe pagina 1din 33

TEORIAS PÓS-COLONIAIS E

DECOLONIAIS

LEDA, Manuela Corrêa. Teorias pós-coloniais e decoloniais:


para repensar a sociologia da modernidade. Temáticas,
Campinas, número 23, volume 45-46, p. 101-126, fevereiro-dezembro de 2015
Pensamento Giratório, PPGT-SESC, 2019/2
Daiane Dordete Steckert Jacobs, Vicente Concilio e Fátima Costa de Lima
Proposta da autora
Encontrar convergências e divergências entre propostas epistemológicas:
Provincializing Europe, de Dipesh Chakrabarty e
Histórias locais-projetos globais: colonialidade, saberes subalternos e
pensamento liminar, de Walter Mignolo.
Criticar a narrativa hegemônica da modernidade a fim de
“provincializar a Europa” e dar o “giro decolonial”
na experiência subalterna da colonização indiana e latino-americana

Nossa proposta
Apresentar e contextualizar decolonialidade e pós-colonialidade
As teorias pós-coloniais surgiram nas últimas décadas em “zonas periféricas”.
Tomando como referências o estruturalismo e pós-estruturalismo,
tem como objetivo questionar a narrativa ocidental e colocar o/a subalterno/a
[Spivak] no centro da experiência histórica da modernidade.
Tese: a narrativa hegemônica da modernidade colocou a Europa no centro
discursivo das ciências humanas até depois de finalizado o período colonial, o que
dá continuidade à suposição da superioridade da cultura europeia
sobre as culturas da África, da Ásia e a nossa, latino-americana e ameríndia
Movimento teóricos de “desconstrução de essencialismos” - desconstruir a
fronteira cultural histórica produzida pela colonização que reproduz
a relação dicotômica e hierárquica entre 1º e 3° Mundos
Stuart Hall: a pós-colonialidade é um marco histórico do reescrever os relatos
hegemônicos de maneira descentrada e diaspórica por conexões culturais,
atravessamento do nacional e interrelação local-global;
e do revelar aspectos híbridos e sincréticos do processo colonial escondidos
pelas narrações duais/binárias entre 1° e 3° Mundo (Homi Bhabha)
Homi Bhabha: a perspectiva pós-colonial rejeita sociologias do
subdesenvolvimento e os discursos ideológicos modernos com o
“testemunho colonial” de “minorias” que se opõem às
dualidades geopolíticas e culturais do tipo Leste-Oeste e Norte-Sul.
A fala de quem foi silenciado pela dominação, a exploração e o
preconceito coloniais revelam antinomias e ambivalências
ocultas no paradigma da modernidade.
Como? Os pós-coloniais relatam suas próprias experiências romper
fronteiras culturais coloniais que persistem até hoje
Este texto
Teorias pós-coloniais e decoloniais;
= e diferenças entre “provincializar a Europa” x “giro decolonial”
Provincializar a Europa, do historiador indiano Dipesh Chakrabarty, 2000
Grupo de Estudos Subalternos sul-asiáticos (Ranajit Guha, 1970).
Questão: como conceitualizar o histórico em contexto de participação e
mobilização política dos colonizados sem atribuir atraso e incompletude?
Democratizar a história escrita da Índia com referências nos grupos
sociais subalternos em confronto com a tradição historiográfica marxista
(fundamentos: história do capitalismo e lógica política que vê nos
camponeses apenas anacronismo)
Subalternos/as a produzir seu próprio destino assumindo suas
experiências e práticas de vida como constitutivas da modernidade (na
Índia) para destacar a FALA DO COLONIZADO
Provincializar a Europa
Ler a história a partir de experiências ausentes nas narrativas europeias
sem universalizar conceitos herdados da história do Estado nação.
O pesquisador colonizado deve repensar e contextualizar categorias da
tradição intelectual europeia e revelar sua insuficiência para interpretar
histórias de países em desenvolvimento; mas, as histórias nacionais não-
ocidentais ainda se referem à “figura hiperreal da Europa”, seus conceitos
estão incorporados nos hábitos de pensamento coloniais
paradoxo da subalternidade: Pos/ex-colonizados referem-se à história
europeia, mas não vice-versa, teorias europeias são adotadas por não-
europeus para compreender suas próprias práticas numa contradição que
naturaliza a história europeia como única fonte de teoria para estudar
outras sociedades, que são meros objetos de investigação empírica.

Questão: interculturalidade e antropologia teatral?


Pensar as configurações políticas locais com conceitos da modernidade
europeia definem uma sociedade em transição e legitima a noção de
temporalidade linear em que o fim é a Europa -> as reflexões mostram:
incompletude dos sonhos e fracasso dos projetos nacionais, e falhas nas
etapas de transição histórica.
A consciência historicista impôs-se ao colonizado como o “ainda não”, a
impossibilidade de se autogovernar e de perceber-se apto a vida política.
Os setores sociais subalternos são concebidos como sujeito em formação
que precisam adquirir consciência, com hábitos retrógrados e apenas
caminhando para tornar-se cidadão.
Com práticas e crenças mítico-religiosas distintas do ideal do sujeito
moderno e formas de vida comunitária diferentes do individualismo
burguês europeu, o sujeito subalterno tornou-se expressão de
sobrevivências anacrônicas de estágios ultrapassados pela civilização
ocidental, fora da modernidade e em vias de extinção.
Duplo vínculo do colonizado/subalterno como sujeito e objeto da
modernidade: 1. representa uma unidade, o “povo”, dividido por sua vez
em elite modernizadora e campesinato anacrônico; 2. dividido, fala de
dentro de uma metanarrativa do Estado-nação europeu.
Modo de autorrepresentação mimética (Homi Bhabha): a história dos
colonizados imita temas modernos da história europeia, é “figura triste
de falta e falha” em narrativas em transição incompleta.
Este pensamento, que nasce da ideologia imperial e consolida-se nas
teorias liberais pós-colonização, concebe um tempo histórico que
classifica, hierarquiza e mede “distâncias culturais” entre o Ocidente e o
resto do mundo; ele naturaliza a imitação compulsiva do modelo
civilizacional europeu do desenvolvimento. Mas...
Há resistência desde o início do século XX nos movimentos nacionalistas
anticoloniais que introduzem novos grupos sociais na esfera política: as
classes subalternas com reivindicações democráticas
Para a modernidade europeia, não são atores políticos porque não têm
consciência de classe nem linguagem própria. Mas...
A história pós-colonial não pode ser mera aplicação das análises
sociológicas europeias e modernas, práticas de vida e visões de mundo
não podem ser meramente traduzidas a partir de categorias político-
teóricas universalistas da experiência histórica única [Chimamanda]
Categorias sociais e políticas ocidentais em contextos de vida não-
europeus são indispensáveis, mas insuficientes. Provincializar a Europa
não significa rejeitar conceitos nem romper com a modernidade, mas
renovar o pensamento com a diversidade de outras formas de vida.
Não é relativismo cultural e sim desejo de revelar os movimentos
anticoloniais que resistem politicamente ao “ainda não”.
Tarefa: superar a disciplina acadêmica que silencia antinomias e
contradições. Outras histórias não são alternativas à grande História
universal europeia.
Provincializar a Europa dialoga com duas heranças contraditórias do
pensamento europeu moderno - Marx (análise da conjuntura política) e
Heidegger (hermenêutica da existência) a fim de propor uma
“heterotemporalidade da história do sujeito moderno”: um pensamento
social que acomode a universalização em relação com formas de
pertencimento humano para ler a natureza fragmentária do presente. A
consciência histórica moderna afirma a superioridade da razão sobre o
misticismo e superstições das “mentalidades primitivas”. A crença em
seres sobrenaturais tornou-se indicativo de falta de consciência política
desses sujeitos “pré-políticos” (Hobsbawn): são da ordem do “arcaico” as
ações políticas que não compreendem as forças econômicas e não tem
linguagem própria, são “anacrônicos”: resquícios, seres humanos e
relíquias do passado, não são participantes, são testemunhas.
Sujeito-observador e objeto-estudado se separaram: o objeto de estudo
são relações que pertencem a um tempo histórico em que o pesquisador
não se reconhece: o presente do pesquisador é histórico, único, secular e
homogêneo; o presente do investigado é fragmentário e descontínuo.
Exemplos do modo duplo de relação com o objeto – como “participante”
e como “testemunha”: o queniano Jomo Kennyata quando criança era
aprendiz dos ritos mágicos do avô; e o anglo-ganês Kwame Appiah via seu
pai jogar gin “para o santo”: como antropólogos, trocam o olhar infantil
participante pelo olhar distante e desinteressado do investigador. Mas...
As relações pré-analíticas que já haviam penetrado no “participante”
produzem na “testemunha” uma dupla consciência que impede a
objetivação plena do seu próprio passado e indica a pluralidade do
"agora“: a falta de totalidade e a fragmentação que constitui o presente.
Tarefa: superar o anacronismo que transforma o que vivemos em
relíquias de outros tempos, desaprender a história como percurso com
um fim, desconstruir a via única cujo objetivo é suprimir o “ainda não” do
agora, mudar a relação totalizante passado-futuro, superar o historicismo
Não é rejeitar a modernidade nem recusar a razão, mas reconhecer suas
limitações para pensar múltiplas formas de estar no mundo. Categorias
do Iluminismo e modernidade política são heranças necessárias para
refletir e criticar a vida das outras sociedades; conceitos como direito,
igualdade e democracia são universais, mas expressam coisas diferentes
em contextos históricos específicos. Quando passam a outras realidades
sociais, não podem ser impostas indistintamente a outras experiências.
Tarefa: diálogo permanente entre a herança analítica, sua abstração e
universalização, e referências e conhecimentos de outras práticas de vida
a fim de “escrever narrativas e análises que produzem translucidez na
relação entre histórias não-ocidentais e pensamentos europeus”.
Descolonizando o pensamento
Grupo latino-americano Modernidade/Colonialidade (1998), racha do
pioneiro Grupo de Estudos Subalternos, 1992 [Spivak]
Referências: pós-estruturalismo e pós-modernismo, Foucault e Derrida, o
grupo divide-se entre: aqueles que consideravam a subalternidade como
parte ou continuidade dessas abordagens; e aqueles que reivindicavam
maior radicalidade da crítica anti-eurocêntrica e ruptura com a
epistemologia ocidental. Quando o grupo se decompôs, surge o
PROJETO DA DECOLONIALIDADE - Enrique Dussel, Immanuel Wallerstein,
Edgardo Lander, Anibal Quijano e Walter Mignolo.
Tese: subalternidade e colonialidade juntas constituem o sistema-mundo
moderno. Diferentemente do grupo sul-asiático (modernidade decorre
do neocolonialismo surgido em África e Ásia no século XIX), para este
grupo a modernidade nasce no século XVI, quando se inicia a colonização
portuguesa e espanhola sobre AL e Caribe.
América (Portugal e Espanha) e Índia (Inglaterra) com referências
diferentes da história europeia: Renascimento e Iluminismo.
Para o decolonial, a AL continua a história europeia: quando começou o
domínio colonial da Índia, as sociedades latino-americanas já faziam suas
independências -> estados nacionais, com modelo europeu.
(Mignolo) O projeto AL não é pós-colonial, mas pós-ocidentalista.
Ambos: noção de Sul Global e tarefa de desconstruir o historicismo.
(Enrique Dussel) Crítica da linha histórica em que cultura Europa <-
Grécia-Roma = invenção do Romantismo alemão para legitimar
eurocentrismo. Nessa perspectiva, modernidade é emancipação, resulta
de Reforma, Iluminismo, Revolução Francesa e Revolução Industrial e se
explica em seus desdobramentos. Somente quando a América entra no
mapa do Ocidente o mundo se torna cenário da história global. 1ª fase da
modernidade começa com circuito comercial global
-> Inglaterra supere a Espanha [e Portugal].
O mundo moderno nasce do tráfico no Atlântico [ANegro, Paul Gilroy] no
século XVI; as terras recém-colonizadas, consideradas extensão
territoriais da Europa e parte do Ocidente: as “Índias Ocidentais”.
O ocidentalismo é a face dominante do imaginário da “civilização”, sua
descrição e imagem; o discurso do Estado e intelectuais definem o
sujeito soberano da Modernidade.
Logo, na 1ª primeira fase de expansão a América é continuidade (e não
alteridade) do Ocidente. Depois, o Orientalismo, iniciado com a ascensão
da França e da Grã-Bretanha à hegemonia mundial no século XVIII,
elaborou outra autodescrição do Ocidente e outras representações dos
lugares dominados para fundamentar seu imperialismo em que o Oriente
foi transformado no “outro” [Said] exterior, figura distante e oposta ao
Ocidente cujo autorretrato inferioriza o que não é cultura moderna
A construção dessa imagem se alicerçou na “colonialidade do poder”
(Anibal Quijano): estrutura de poder que se funda nas colonização como
base das hierarquias sexual, religiosa, epistêmica e linguística, até hoje.
A raça é o princípio organizador:
a diferença racial foi o primeiro motor da desigualdade
que ainda configura o sistema capitalista/patriarcal/colonial/moderno.
As noções ocidentais de sexualidade, epistemologia e espiritualidade
tornaram-se critérios universais de classificação e patologização dos
povos colonizados, segundo as hierarquias raciais.
Essa estrutura colonial de poder é a face oculta e obscura do imaginário
global sem a qual não existiria Modernidade.
Modernidade e Colonialidade se associam intimamente:
sem a exploração e a subalternização promovidas pela
expansão colonial do ocidente não haveria sociedade moderna.
As Américas são o ato constitutivo da Modernidade.
Não foram incorporadas ao capitalismo existente:
não haveria economia capitalista mundial sem as Américas.
Saberes e cosmologias silenciados -> discursos contracoloniais
(produzidos pela colonização e contra ela) x ocidentalismo = imaginário
dominante, instrumento de subalternização dos imaginários locais.
O discurso ocidentalista centralizou a produção de conhecimento na
Europa e fez da racionalidade científica o modelo epistemológico global.
A ciência moderna naturalizou as características sociais ocidentais como
não-ideológicas; neoliberais e globalizadas tornaram-se expressões do
desenvolvimento histórico de toda a humanidade.
Ciências sociais - e sua objetividade e neutralidade – instrumentalizaram
e naturalizaram esta ordem social, contribuindo para a construção da
imagem da sociedade liberal como “avanço” e “progresso”.
As CS tem como condição histórica específica a sociedade moderna que
impera sobre as outras e se torna modalidade civilizatória hegemônica.
Esse contexto histórico e cultural orienta a formação da disciplina em
conluio com as relações coloniais constitutivas da Modernidade.
As CS se tornam o mecanismo de cientifização da sociedade liberal,
convertendo suas categorias, noções e conceitos em modelos universais
para a descrição e classificação de qualquer realidade. Mais do que servir
para o conhecimento da modernidade, elas definiram carências e
deficiências que concorreram para o contraste da Europa com o resto do
mundo: e naturalizaram e universalizar a ontologia de cosmovisão liberal.
A modernidade não apenas representou a si mesma através de um
imaginário dominante, mas inventou o outro a partir de suas categorias e
interesses. Neste paradigma epistemológico, o lugar de produção do
saber se torna oculto: faz desaparecer seu lugar geo-histórico originário.
Descontextualizados, noções, conceitos e perspectivas ocidentais foram
introduzidos nas outras culturas, obrigando-as a uma lógica abstrata e estranha
de intervenção no real. (Mignolo) Para uma geopolítica do conhecimento que
contextualize os diversos saberes e critique as pretensões universalistas do
pensamento ocidental hegemônico, a ideia de relação direta entre o lugar de
enunciação do conhecimento e suas formas de validação:
o lugar de fala determina objeto e conteúdo do conhecimento; e valor de verdade
A Europa fixou-se como lugar e produtora legítima de saber universal: o
pensamento ocidental abstrato vê as sociedades do Terceiro Mundo como fontes
de cultura e epistemologias a serem estudadas, descritas e registradas, mas
segundo a matriz intelectual teórica europeia. A diferença colonial epistêmica
integra a formação dos conhecimentos sociais modernos -> (após a Segunda
Guerra Mundial) o principal papel das ciências sociais foi objetificar as
sociedades colonizadas como fontes de pesquisa empírica, não de conhecimento
A divisão geopolítica do trabalho científico (decolonial) se assemelha ao
paradoxo da subalternidade (pós-colonial) e perpetua a visão canônica de que
não há conexão entre obras sobre modernidade e colonialismo. A não interação
revela que modernidade é assunto apenas europeu e colonialismo, apenas nosso
A ignorância europeia da experiência colonial se mostra na historiografia da Índia
cheia de alusões à Inglaterra em cuja história não há alusões à Índia =
assimetria de poder que vê a Europa como único sujeito teórico.
Romper com as pretensões universalistas do pensamento ocidental
demanda dar visibilidade à geopolítica do conhecimento.
Contra a violência epistemológica do projeto europeu, dar voz aos saberes
ocultados e marginalizados pelo ideal de conhecimento racional da Modernidade
Reconhecer a especificidade geográfica da produção do conhecimento a fim de
desvelar a alteridade negada pela epistemologia moderna: os múltiplos lócus de
enunciação, lugares de construção de imaginários, de mundos de vida,
espaços da colonialidade
Localizar e contextualizar os múltiplos saberes e criticar o paradigma
hegemônico Admitir um único discurso, mesmo que crítico, da
modernidade e dos seus projetos coloniais reproduz as pretensões
universalistas eurocêntricas e reproduz cegueira
quanto às circunstâncias históricas específicas do saber.
Crítica decolonial ao pós-colonial: a subalternidade emerge de diferentes
legados coloniais e diferencia as críticas coloniais das eurocêntricas,
portanto pós-colonial é um projeto teórico de objeção ao paradigma da
modernidade que reconsidera criticamente o saber, o sujeito, o poder, a
verdade, etc. Contudo é um movimento contramoderno que vem de
lugares imperiais como autocrítica após o fim da hegemonia europeia;
por isso, desconsidera a diferença colonial enraizada na experiência de
subalternização dos povos colonizados. Essa “crítica moderna da
modernidade” não consegue, para Mignolo, elaborar alternativa ao
universalismo abstrato da epistemologia ocidental
Originados de territórios colonizados, o pós-colonial traz ao 1° plano a
colonialidade do poder e os lugares coloniais de produção de
conhecimento, mas acomoda críticas da modernidade em contextos
específicos: o pós-orientalismo e o pós-colonialismo, de intelectuais da
Índia e do Oriente Médio (Edward Said, Ranajit Guha, Gayatri Spivak) em
espaços de colonização ingleses e franceses; desconsiderando o longo
período anterior de colonização das Américas.
O movimento anti-hegemônico da colonialidade latino-americana
envolve experiência histórica singular: ao contrário das colônias do
Oriente Médio, assumidas como Oriente exterior aos Impérios coloniais,
as Américas foram consideradas extensões da Europa, parte do Ocidente
O ocidentalismo (não o colonialismo) foi a principal preocupação da
coroa espanhola [e portuguesa] e dos letrados XVI e XVII; do Estado e dos
intelectuais durante o período de construção de nações, o XVIII, que
definiu a América Latina como mesma e diferente do Ocidente: “filha” e
“herdeira” da Europa.
(Mignolo) “Pós-ocidentalismo” expressa melhor o primeiro discurso
anticolonial das Américas, pois designa uma reflexão crítica dos
processos históricos iniciais de emancipação próprios da América Latina
como “projeto crítico e superador do ocidentalismo, que foi o projeto
pragmático das empresas colonizadoras na América”: colonialismos
hispânico, norteamericano e o soviético. (Blanco)
Suas primeiras manifestações ocorrem no século XIX com as lutas
independentistas de resistência ao domínio espanhol e português,
sucedidas por muitas outras críticas durante o século XX.
Metodologias? A rearticulação da produção do conhecimento pós-
ocidentalista demanda macronarrativas a partir de histórias locais, das
margens do mundo moderno, de onde emerge o pensamento liminar
[Caballero]: as histórias fronteiriças mostram o conhecimento e as
práticas dos povos subjugados (até hoje) pelo paradigma eurocêntrico da
modernidade. Trazem uma nova epistemologia e outras formas de
pensamentos alternativos ao universalismo abstrato da epistemologia
moderna. As teorias pós-coloniais apresentam outra razão: a
razão subalterna parte da necessidade de repensar e reconceitualizar
histórias e categorias com que o projeto global mapeou a diferença
colonial ao dividir o mundo em regiões-povos cristão e pagãos, civilizados
e bárbaros, modernos e pré-modernos, desenvolvidos e
subdesenvolvidos. Não se opõe à racionalidade moderna, mas cria
espaços do cruzamento desta com outras formas de conhecimento.
Pensamento liminar: construções epistêmicas de povos e comunidades
que acomodaram na perspectiva da modernidade suas próprias
referências, visões e práticas, em dupla dimensão cognitiva -
colonialidade e modernidade – (quíchua) incorporando à sua cosmologia
noções e categorias sobre política, economia, subjetividade, religião e
relações sociais modernas. A matriz colonial obrigou o colonizado a
assumir como sua a cosmovisão europeia ao introduzir elementos
estrangeiros no espaço indígena e produziu outro lugar de fala que
confronta o imaginário da modernidade.
No contexto indiano (Chakrabarty): a modernidade deslocou práticas
sobrenaturais a resquícios do passado e transformou a crença em seres
sobrenaturais em consciência primitiva e pré-política, mas estar com
deuses e espíritos é uma questão humana. O rompimento ocidental com
a ideia de divino no mundo não é uma realidade global: os deuses estão
presentes nas experiências sociais e subjetivas na Índia.
Vivências de Kenyatta e Appiah: aprendizes em eventos místicos são
parte de suas consciências e olhares de antropólogos. As crenças e
superstições do camponês na Índia não o impediram de participar da
vida política e nem o condenaram a uma consciência retrógrada e
resistente às instituições modernas, como previam as teorias sociais
clássicas, ele é constitutivo da modernidade como fruto do colonialismo.
(Mignolo) Os nativos assimilaram as referências racionais-seculares
modernas, mas os colonizadores nada aprenderam sobre os quíchua.
Teóricos como Hegel [x Buck-Morss, Hegel e Haiti] e Marx [x Tible, Marx
Selvagem] reconheceram outras formas de vida fora da Europa, mas
apenas como objetos de estudo, realidades ausentes de sujeitos,
“homens sem história” e incapazes de pensar sua história, se
constituírem como atores históricos.
Giro decolonial: dar voz a narrativas de experiências históricas locais que
foram silenciadas na história a fim de romper com os projetos globais de
transpor o universalismo abstrato da epistemologia moderna que vigorou
nas histórias mundiais dos últimos 500 anos e persistem na ordem
econômica do mercado capitalista: antes “missão cristã do colonialismo
moderno inicial (Renascença), [depois] a missão civilizadora da
modernidade secularizada e [até hoje] os projetos de modernização
posteriores a Segunda Guerra” (Mignolo).
SINGULARIDADES DOS PROJETOS
(Chakrabarty) Crítica dos limites teóricos ocidentais, modernos e
iluministas em contextos não-europeus: cidadania, democracia, Estado,
sociedade civil, indivíduo, direitos humanos etc. - são necessários, mas
insuficientes para lidar com acontecimentos políticos e históricos na Índia
Mesmo adquirida via colonização, a visão secular e universal do humano
foi fundamental a críticas contra práticas injustas, sendo pois o legado
europeu aos estudos pós-coloniais que permitem discutir justiça e
igualdade em qualquer experiência social moderna.
Mas, deve ser associada à tradição hermenêutica a fim de dar voz a
outros universos culturais como fontes de conhecimento - e não culturas
congeladas como objetos empíricos das disciplinas acadêmicas.
Ao invés de transpor a perspectiva da modernidade (Mignolo),
expandi-la fora da Europa e intercepta-la com os saberes subalternos.
Provincializar a Europa com “espírito anticolonial de gratidão”
O giro decolonial, ao contrário, quer ultrapassar os conhecimentos
construídos com categorias e nas línguas modernas.
Exemplo: a perspectiva quíchua x perspectiva da modernidade.
A modernidade é referência negativa: o ocidentalismo fixou o Ocidente
como um lócus privilegiado de enunciação a partir do qual o resto do
mundo tem sido descrito e hierarquizado. Abrir mão do paradigma
moderno em prol da colonialidade, com quadro de referência distinto -
outras noções, conceitos e práticas de locais subalternizados, como as
experiências ameríndias.
Para Mignolo [professor em Duke, EUA], as teorias pós-coloniais
(Chakrabarty) são narrativas acadêmicas de intelectuais indianos que
produzem em universidades ocidentais sobre realidades de povos
subalternos cujas realidades suas teorias não conseguem refletir.
A decolonialidade não se deseja acadêmica: não elabora um novo
discurso colonial e sim dá voz a saberes que existiam e foram ocultados
por 500 anos pela epistemologia da modernidade.
Não criar um novo paradigma, mas ressoar aquele que já existe
Pensamento liminar é um conhecimento construído no domínio europeu
sobre outros territórios pelos sujeitos subjugados. A colonialidade dfala
das experiências fronteiriças dos indígenas em contato com europeus, é
“Máquina para a descolonização intelectual, política e econômica”
Mignolo acusa os pós-coloniais, mas também é criticado sobre a
contradição entre seu projeto intelectual: elaborado de dentro da
modernidade, como o paradigma decolonial pode romper com a
epistemologia da modernidade?
Questões: qual a efetividade do projeto decolonial? É possível ultrapassar
a modernidade e a colonialidade a partir de uma herança moderna?

S-ar putea să vă placă și