Atos cambiários principais • I – Aceite: • Aceite é a declaração com a qual o sacado anui cumprir com o pagamento que lhe é proposto pelo sacador. Com o aceite, o sacado passa a ser chamado de aceitante, assumindo, em consequência, a posição de devedor principal do título de crédito. • Embora com o aceite o título passe a ter suas figuras básicas, não é ele, contudo essencial à sua validade. O título destituído de aceite não perde a sua qualidade de cambial, podendo o beneficiário agir contra os obrigados já existentes, se for o caso, a fim de cobrar a soma pecuniária nele inserta. Atos cambiários principais • Expressa-se pelo emprego do vocábulo “aceite” ou outro equivalente, e pela assinatura do próprio punho do sacado ou de seu representante. Pode sê-lo também com a simples assinatura do aceitante, desde que na face do título, sem a necessidade da grafia da palavra aceite. • Para que haja a prática desse ato, é necessário que se submeta o título ao reconhecimento do sacado. Chama-se esse ato apresentação. Deve realizá-lo o portador do título ou seu mandatário. • De regra, a apresentação do título, para aceite do sacado, constitui uma faculdade do beneficiário, que é feita por meio da sua exibição material. O sacado deverá devolvê-lo de imediato, ou dentro do prazo previsto em lei, conforme o caso. Atos cambiários principais • O aceite é incondicional. Ele deve ser puro e simples, equivalendo à sua recusa qualquer condição a que o sacado o submeta. • Admite-se, porém, que o aceite seja outorgado apenas por uma parte da quantia constante do título, o que é chamado de aceite qualificado. Relativamente ao sacado, o aceite é plenamente eficaz e ele ficará obrigado ao pagamento da quantia que aceitou. Quanto aos demais coobrigados que porventura haja no título, o aceite qualificado equivale à sua recusa. Por isso o seu beneficiário deverá lavrar o respectivo protesto, como se tratasse de recusa pura e simples. Não o fazendo, o portador perde o direito de regresso contra os demais coobrigados. Atos cambiários principais • II – Aval: • O aval é a garantia de pagamento do título de crédito, dada por um terceiro. É uma abonação pessoal que acresce mais um devedor. • O aval é um instituto típico do direito cambiário. Por isso, não se pode confundi-lo com a fiança. Esta é também uma garantia pessoal, mas acessória de uma obrigação principal de natureza contratual. O aval, porém, como toda a obrigação cambiária, é absolutamente autônomo de qualquer outra. • A obrigação do aval se mantém mesmo no caso de a obrigação que ele garante ser nula, por qualquer razão que não seja vício de forma. Na fiança, essa obrigação acessória Atos cambiários principais • não sobrevive à nulidade da principal, objeto da garantia. • Sendo as obrigações cambiárias autônomas, o avalista que estiver sendo executado em virtude da obrigação avalizada, não pode se opor ao pagamento fazendo uso de exceções próprias do avalizado. • A simples assinatura do próprio punho do avalista ou de seu mandatário especial é suficiente para a validade do aval. • Se não indicar a quem é dado, há a presunção de que seja a favor do devedor final do título. Atos cambiários principais • III – Endosso: • Os títulos de crédito, em regra, podem ser emitidos com a cláusula “à ordem”. Isto significa que o seu credor pode negociar o crédito representado mediante ato jurídico trasladador da titularidade do direito, de efeitos cambiais, chamado endosso. • Conceitua-se, então, endosso como o ato cambiário que opera a transferência do crédito representado por título à ordem. A alienação do crédito fica, ainda, condicionada à tradição do título, em decorrência do princípio da cartularidade. • Os títulos de crédito, normalmente, mesmo que não envolvam expressamente a cláusula à ordem, são Atos cambiários principais • transmissíveis via endosso, da a sua função de circulabilidade do crédito. É possível, todavia, ao sacador, impedir a sua circulação por endosso, através da cláusula “não à ordem”. Neste caso, o título só é transmissível pela forma e com os efeitos de uma cessão ordinária de crédito. • O alienante do crédito documentado por uma cambial é chamado endossoante ou endossador; já o adquirente é chamado de endossatário. Com o endosso, o endossante evidentemente deixa de ser credor do título, posição jurídica que passa a ser ocupada pelo endossatário. Atos cambiários principais • O endosso pode ser de duas modalidades: “em branco”, quando não identifica o endossatário, ou “em preto”, quando o designa. Resulta o endosso da simples assinatura do credor do título lançada no seu verso, podendo ser feito o uso da expressão “Pague-se a...” (em preto) ou “Pague-se” (em branco), ou outra expressão equivalente. O endosso poderá também ser feito no anverso do título, mas, neste caso, é obrigatória a identificação do ato cambiário praticado. • O endosso em branco transforma o título, necessariamente sacado nominativo, em título ao portador. O endossatário de um título por endosso em Atos cambiários principais • branco poderá transferir o crédito nele representado por mera tradição, hipótese em que não ficará coobrigado. • A lei veda ao endossante limitar o endosso a uma parte do valor do título, considerando nulo o endosso parcial. Outrossim, o endosso condicional, em que a transferência fica condicionada a alguma condição, resolutiva ou suspensiva, não é nulo, mas referida condição será ineficaz, sendo considerada não escrita. Atos cambiários principais • Além do endosso propriamente dito, do qual decorre o efeito da transmissão do crédito representado pelo título, a doutrina costuma reunir sob a rubrica de endosso impróprio aqueles que não produzem esse efeito. As principais espécies são o endosso-mandato e o endosso-caução. • O endosso-mandato é o que faz o endossante, não transmitir a titularidade do crédito ao endossatário, mas investi-lo na posse do o, a fim de que promova, na condição de mandatário, a sua cobrança e passe a respectiva quitação. O portador poderá exercer todos Atos cambiários principais • os direitos emergentes do título, mas só poderá endossá-lo na qualidade de procurador, visto que não tem a disponibilidade do valor do crédito. Os coobrigados só podem invocar contra o portador-mandatário as exceções que forem oponíveis ao endossante, e não as que tenham contra aquele. • É possível também a ocorrência do endosso-caução,em que o título, considerado bem móvel, é onerado pelo penhor, em favor de um credor do endossante. Nesta espécie, o crédito não se transfere para o endossatário, que é investido na qualidade de credor pignoratício do endossante. Cumprida a obrigação garantida pelo penhor, deve o título retornar à posse do endossante. Somente na Atos cambiários principais • eventualidade de não cumprimento da obrigação garantida, é que o endossatário apropria-se do crédito representado pelo título. O endossatário por endosso-caução não pode endossá-la, salvo para praticar o endosso-mandato. Atos cambiários principais • IV – Protesto: • O protesto é definido pela Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, como sendo o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida. • O protesto constitui elemento fundamental para o exercício do direito de ação contra os coobrigados. • É admissível o protesto não apenas por falta de pagamento, mas também por falta de aceite, que é extraído contra o sacador, que teve inacolhida a sua ordem de pagamento. • É admissível também o protesto por falta de devolução, caso o sacado retenha o título em sua posse. Atos cambiários principais • O sacado não pode figurar como protestado, neste caso, pela circunstância de se encontrar absolutamente livre de qualquer obrigação cambiária. Porém, o sacado será intimado para, eventualmente, vir aceitar o título em cartório. Já o protesto por falta de pagamento é extraído contra o aceitante, se houver, que se torna o devedor principal do título. • Se não forem observados os prazos fixados em lei para a extração do protesto, o portador do título perderá o direito de crédito contra os coobrigados do título, permanecendo, portanto, apenas com o direito de crédito contra o devedor principal e seu avalista. Atos cambiários principais • Diante de tais consequências, a doutrina costuma chamar de necessário o protesto contra os coobrigados e facultativo o protesto contra o devedor principal e seu avalista. • Essas consequências não se aplicam no caso de o título contemplar a cláusula “sem despesas”. A inserção de cláusula dessa natureza pelo sacador dispensa o protesto para a conservação do direito cambiário contra qualquer devedor do título; já a inserção dessa cláusula em um endosso ou em um aval, dispensa o protesto para a conservação do direito de crédito apenas em relação ao endossante ou avalista em questão. Atos cambiários principais • É de competência privativa dos Tabeliães de Protesto e Títulos a realização de todos os atos referentes à lavratura e registro do protesto, de acordo com as atribuições estabelecidas pelas leis de cada Estado da Federação. • Todos os procedimentos referentes à protocolização, a intimação, o acolhimento da devolução ou do aceite, o recebimento do pagamento, a lavratura e registro do protesto, a sua desistência pelo credor, a prestação de informações e o fornecimento de certidões relativas a todos os atos praticados estão regulados na lei acima mencionada. • Os cartórios deverão fornecer certidões de protestos, não cancelados, a quaisquer interessados, desde que requeridas por escrito.