Aperfeiçoamento de Oficiais da PMES da Faculdade MULTIVIX, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Segurança Pública. Orientador: Maj PM Fábio Fachetti O desenvolvimento deste trabalho tem como objetivo demonstrar a relevância do Policiamento de Proximidade. O enfrentamento coparticipativo da Polícia e da comunidade, apresenta redução de índices de criminalidade e a maximização da sensação de segurança. Pesquisa feita de forma descritiva e bibliográfica, analisando a tendência de se trabalhar com Segurança Pública sob a perspectiva da subjetividade da insegurança, conduzindo, esta vertente para uma retomada do modelo de policiamento. Resta demonstrado que para a Polícia Militar a grande ênfase a ser dada é na chamada Prevenção Primária que tem como objetivo evitar que a violência se manifeste, fortalecendo mecanismos protetores e reduzindo a exposição de grupos populacionais a fatores de risco sociais. MEDO & INSEGURANÇA Mudança De Perspectiva
A mudança está em se levar na devida conta a dimensão
subjetiva social. A sua sensação de insegurança e medo. Afetação psíquica do indivíduo e da comunidade ante a manifestações que atentem contra o gozo da PAZ e da HARMONIA do bom viver em sociedade. Usufruir destes, está alojado na dimensão subjetiva humana, que, em última análise, é dar conta da Segurança Pública afastando da estrutura afetiva individual e coletiva a sensação de insegurança. O professor e psicólogo doutor Marcus Vinícius de Oliveira em seu artigo “Segurança Pública, Subjetividade e desigualdade social: desafios para uma política de Segurança Pública democrática” afirma:
“Então, o sentimento de estar protegido depende de
um espectro mais amplo de fatores da experiência social, muito além de um quadro de normas e instituições de segurança pública.” (Oliveira, 2009, p. 40)
Nesta linha o tema insegurança envolve o incremento da
produção do sentimento de proteção. Na análise, ainda de Oliveira (2009, p. 41), o isolamento, no sentido de sermos mais individuais, nos torna mais desprotegidos, já que, o que pode promover a proteção é a possibilidade de resgate da “dimensão vincular”. Uma dimensão coparticipativa na vida em sociedade. COMUNIDADE NA ERA CAÓRDICA Comunidade
Na obra de Dee Hock – fundador do cartão de crédito VISA –
“O nascimento da Era Caórdica”, encontra-se uma conceituação prática de comunidade e da complexa vida em sociedade. Hock (1999) afirma que a convivência social é salutar, eficaz e construtiva, demandando apenas a existência de pessoas comuns e interessadas. Para tanto a verdadeira comunidade exige Proximidade, Interação e a Troca Não-monetária de Valores. Troca não-monetária de valor
Para Hock (1999) a essência da comunidade é a troca não-
monetária de valores.
“Como não podem ser medidas, elas não podem ser
avaliadas em dólares, ou em barris de óleo ou em alqueires de milho – coisas como respeito, tolerância, amor, confiança, beleza – cujo suprimento é irrestrito e ilimitado. A troca não-monetária de valor não vem apenas de motivos altruístas. Vem da compreensão profunda, intuitiva, geralmente subconsciente, de que o interesse próprio está inseparavelmente ligado ao interesse da comunidade, de que o bem individual é inseparável do bem geral, de que, de alguma forma, geralmente além de nossa compreensão, todas as coisas são, ao mesmo tempo, independentes, interdependentes e intradependentes – de que o “um” singular é simultaneamente o “um” plural.” (Hock, 1999, p. 51) Troca não-monetária de valor (Polícia & Comunidade) Relações Sociais e a Atuação da Polícia Militar
Martins (2010) afirma que a filosofia de polícia comunitária é a melhor
estratégia para integrar a comunidade e prevenir o crime, de forma que a polícia trabalhe em conjunto com a sociedade, pois a corporação não é capaz de lidar sozinha, com os problemas da criminalidade.
“A participação da comunidade é fator preponderante na
ambientação dos gestores comunitários sobre as necessidades locais e na democratização das questões de segurança pública, exigindo programas que apresentem providências concretas proporcionando uma qualidade de vida e convivência social mais harmoniosa.” (Martins, 2010, p. 27)
Relacionando a necessidade de proximidade e interação, conforme
Dee Hock, bem como a troca não monetária de valores vislumbra-se um alinhamento conceitual onde não basta à polícia se aproximar da sociedade para prestar-lhe a devida tutela da segurança; deve a polícia interagir (ser interativa) e relacionar-se com a população numa relação de cumplicidade contra a violência e à barbárie. Proximidade e Interação
Troca não-monetária de valor (interação)
SEGURANÇA PÚBLICA NO DIREITO E NA DOUTRINA
Art. 144. § 5º Direito Administrativo Da
Ordem Pública Art. 144. § 5º da CFB De forma irretocável, a não ser que haja uma reforma no texto Constitucional, ou uma nova Assembleia Constituinte, a segurança pública possui papel especificado e, logo a seguir, diz como ela é composta e qual o papel dos órgãos que dela fazem parte.
“Art. 144. A segurança pública, dever do Estado,
direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: [...]
V - POLÍCIAS MILITARES e corpos de bombeiros
militares. [...] § 5º às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; [...]” Art. 144. § 5º da CFB
Polícia Ostensiva Ordem
Pública Paz e Tranquilidade Social
“É uma situação que se quer manter ou a que se quer chegar, se for alterada.” A SEGURANÇA PÚBLICA COMUNITARIZADA COMO RESPOSTA À INSEGURANÇA
A sede do SAC da região do Morro do Quadro.
Fonte: Campos (2010, p. 70). O Caso “Morro do Quadro”
No dia 5 de fevereiro de 1997, o DPM foi instalado, conforme
registro do livro de ocorrências e iniciaram-se intervenções policiais na localidade com grande intensidade. Muitas operações foram realizadas e vários meliantes foram presos e retirados do bairro. O processo do policiamento interativo começava a se construir por meio do conhecimento mútuo entre a polícia e os moradores locais. A base fixa de policiamento, o DPM do Morro do Quadro, teve sua nomenclatura posteriormente modificada para Serviço de Atendimento ao Cidadão, ou SAC do Morro do Quadro em função das profundas mudanças que o modelo interativo estava ocasionando. Operações policiais repressivas
Fonte: Campos (2010, p. 68)
Mudança de Foco A forma de atendimento aos cidadãos passou a se tornar foco de atenção para os policiais militares ali presentes, contrariando a visão tradicional de fechamento da instituição ao diálogo com a sociedade. Vale ressaltar alguns relatos acerca da natureza dos serviços e atendimentos dos policiais (sargento, cabos e soldados) que trabalharam diretamente no SAC: “Inicialmente, foram feitas ali várias apreensões de droga, pessoas foram presas, foi feito ali [...] o policiamento era feito no alto do morro, onde as pessoas eram abordadas, e foi aí depois [...] A comunidade foi passando a ter certa é, no início é, confiabilidade no policiamento, devido eles presenciarem ali a ação do policiamento, e passaram a ter a confiabilidade no policiamento [...] a gente procurava saber junto à comunidade qual seria ali, como deveria fazer, pedindo ali apoio da comunidade, para que eles passassem para o policiamento a maneira ideal para ser feito ali o policiamento. Era ali feito um intercâmbio, vamos dizer assim, entre a comunidade, e ali era passado para o policiamento. A comunidade passava para o policiamento as carências ali do policiamento, onde realmente precisava ter mais efetivações no policiamento (PPM 04). (Campos, 2010, p. 72).” A sede do SAC da região do Morro do Quadro
Fonte: Campos (2010, p. 70)
Resultados Como resultados obtidos de maneira positiva e satisfatória, Campos relata, com base nas entrevistas feitas aos moradores, a percepção da comunidade elencando o seguinte:
1) Melhoria da qualidade de vida para a comunidade local;
2) Melhorias estruturais de serviços públicos, como iluminação, saneamento básico, colocação de corrimões nas escadarias, instalação de orelhões, dentre outros; 3) Aumento da credibilidade e confiança das comunidades junto aos policiais locais; 4) Melhor relacionamento entre os policiais locais, junto às instituições presentes nas comunidades; 5) Inibição do cometimento de crimes por parte dos meliantes; 6) Forte sensação de tranquilidade e segurança por parte da comunidade; 7) Redução gradual das bocas de fumo; 8) Melhoria do trânsito de serviços particulares para os moradores, como os carros de gás. Retrocesso O trabalho interativo desenvolvido foi digno de nota na obra do célebre autor Marcos Rolim “A síndrome da rainha vermelha: policiamento e segurança pública no século XXI.” Todavia o que a obra de Rolim não pôde apresentar foi o desserviço que a instituição fez, no ano de 2007, por problemas de efetivo, desativando o SAC do Morro do Quadro. Outros trabalhos de enfoque comunitário realizados na Região Metropolitana da Grande Vitória também foram encerrados.
“Tava gerando benefício realmente para toda
região local. Mas depois disso, realmente o tráfico retornou, as violências voltaram, os usuários das praças voltaram, porque eles se sentiram à vontade pra isso. Sendo que o DPM desativado, eles novamente tomaram conta da área, né? E isso prejudicou bastante a nossa região... Hoje a gente fica na dependência do 190 e a boa vontade da viatura poder estar passando atender os moradores (IC 03). (Campos 2010, p. 83).” Evolução das Ocorrências de Crimes de Drogas Ilícitas
Fonte: Campos (2010, p. 92)
O Caso “Cidade Continental”
À semelhança do ocorrido em Vitória, verificou-se também
no município de Serra, uma história com uma sequência de acontecimentos parecidos. Em especial na Grande Cidade Continental, que se dividi em cinco setores – América, Ásia, África, Europa e Oceania – sendo a sede da 5ª Companhia do 6º Batalhão da Polícia Militar (5ª Cia) no setor América. Por problemas de efetivo, a 5ª Cia foi fechada também no ano de 2007, o que ocasionou um vácuo do poder público local, onde pequenas organizações criminosas de traficantes se arvoraram como os “donos” do bairro, trazendo um clima de incômodo social muito grande. Insatisfeita com a violência desenfreada, um grupo de lideranças, comerciantes e moradores da comunidade se mobilizou pela a reativação da 5ª Cia, aos moldes do policiamento comunitário e que diminuísse os números da violência. Insegurança e Medo
Praça Poliesportiva do Setor Ásia
A sede da 5ª Companhia do 6º Batalhão da Polícia Militar
Fonte: Sargenteação da 5ª Cia do 6º BPM (2010)
Vista aérea da 5ª Cia do 6º BPM e da ampla área verde adjacente
Fonte: NOTAER (2010)
Mudança da Realidade Restabelecimento da “Ordem Pública”
O incômodo do medo e da insegurança mobilizou os
moradores de Cidade Continental e sensibilizou as autoridades para uma tomada de decisão que restabelecesse a “ordem pública”, no sentido dado por Neto (1986, p. 99) “situação de convivência pacífica e harmoniosa da população” com a reativação da 5ª Cia, aos moldes do policiamento comunitário ou interativo.
“Com a reabertura da 5ª Cia a realidade do bairro melhorou
pra caramba. A praça você pode circular livremente que você não sentir cheiro de droga. Tem muito tempo que não tem morte na nossa área. Tomara que não tirem a Companhia daqui de novo (LC).” Paz e Tranquilidade Pública CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta pesquisa objetivou-se analisar a Segurança Pública pela perspectiva da sensação de insegurança como ponto de partida para a elaboração de Políticas Públicas, Estratégias, gestão de recursos e da operacionalidade da atividade de policiamento ostensivo. Restou concluído que se faz necessário o trato do assunto por este prisma, já que a Segurança Pública desempenha um trabalho de notório valor social, sendo ela garantidora do bom viver em sociedade de forma pacífica, harmoniosa e civilizada. Concluiu-se também que tal mister só é possível dentro da doutrina de policiamento comunitário, que legitima as ações policiais, bem como otimiza o emprego dos recursos no dia a dia da rotina operacional. Pode-se detectar o quão é precioso o trabalho interativo na percepção da comunidade. Observou-se também que o processo interativo não se dá de forma estanque, mas quando o cidadão ganha confiança nos agentes policiais cria-se um vínculo praticamente indestrutível, numa troca não-monetária de valores. CONSIDERAÇÕES FINAIS Dos muitos benefícios do processo comunitário, onde o caráter subjetivo do cidadão não é menosprezado, descobriu-se que houve melhoria da qualidade de vida para a comunidade local, como melhorias estruturais de serviços públicos. 1. Iluminação; 2. Saneamento básico; 3. Instalação de orelhões; 4. Melhoria do trânsito de serviços Públicos; 5. Melhoria do trânsito de serviços particulares para os moradores, como a entrega feita pelos caminhões de gás.
Houve aumento da credibilidade e confiança das comunidades
junto aos policiais locais. Acarretou também na inibição do cometimento de crimes por parte dos meliantes, uma forte sensação de tranquilidade e segurança por parte da comunidade, a redução gradual das bocas de fumo CONSIDERAÇÕES FINAIS A descontinuidade do trabalho comunitário mostrou-se um retrocesso, de prejuízo social incalculável, trazendo grande frustração por parte da comunidade, que assistiu, indefesa a retomada do “poder” de organizações criminosas dentro de seus bairros. Tal fato chama a nossa atenção para um novo realinhamento estratégico-institucional por uma polícia que inicie e continue o trabalho com e pela comunidade, atentando para as demandas de caráter subjetivo da comunidade. Verificou-se que a grande ênfase a ser dada é na chamada Prevenção Primária. A polícia deve se aprofundar em evitar o fato e não em tentar correr atrás do ladrão depois de ter praticado o crime. Para tanto, o modelo interativo é pertinente, pois estando o policial próximo do cidadão, sente- se no dever de proteger aquela área de sua responsabilidade territorial, não obstante levando o criminoso em potencial a sentir-se desconfortável em atacar uma localidade na qual o policial é profundo conhecedor das pessoas e das dinâmicas daquele setor alvo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Na pesquisa foi detectado, de forma breve, que um problema a ser equacionado pelo Governo e pela pasta da Segurança Pública é a questão do baixo efetivo policial, pois na percepção externa da sociedade, ainda que pelo senso comum, existe uma defasagem que não permite um processo de continuidade no policiamento comunitário e preventivo. A insegurança individual e coletiva, a violência, o surgimento de grupos criminosos perturbadores da paz pública são problemas dignos de maior atenção por parte dos governos, pois sem vontade política nada será feito de forma robusta e consistente. “Tudo é considerado impossível, até acontecer.” Nelson Mandela OBRIGADO