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Seção 1

SUA PETIÇÃO

DIREITO
PENAL
Seção 1

DIREITO PENAL

Sua causa!

Estamos iniciando mais uma jornada no mundo das Ciências Criminais. Nos nossos estudos, iremos
trabalhar as principais etapas que acontecem na prática penal e que devem ser de conhecimento
daqueles que irão utilizar o Direito como sua ferramenta de trabalho. O Direito Penal possui um
arcabouço próprio de temáticas e ocorrências que são bem diferentes dos demais campos jurídicos,
o que demanda um conhecimento mais aprofundado e prático das fases situadas desde o inquérito
policial até a decisão com trânsito em julgado.

Com essa visão ampla da matéria e dos momentos processuais adequados, preparei pontos mais
cobrados em provas da OAB, valendo-me da experiência adquirida nesses 17 anos na área criminal,
seja como Defensor Público do Estado de Minas Gerais, cargo que ocupei por três anos, seja como
Promotor de Justiça do Estado de Minas Gerais, cargo que ocupo há 15 anos.

Além disso, leciono em cursos preparatórios para ingresso em cargos públicos, para os certames da
OAB e pós-graduação. No campo acadêmico, sou mestre em Direito e publico livros pela Editora
Saraivajur, tendo sido best-seller com o Manual de Criminologia, Vade Mecum OAB e Graduação e
OAB Esquematizado. Para melhor conhecer o professor, meu Instagram é @chrisgonzaga.

No presente tema, João das Couves, brasileiro, solteiro, carteira de identidade número xxx, residente
e domiciliado na cidade de São Paulo/SP, foi preso em flagrante por ter praticado atos libidinosos
consistentes com sexo oral e conjunção carnal com sua namorada Luluzinha, que na época dos fatos
tinha 13 anos de idade. Os fatos se deram da seguinte forma:

Os pais de Luluzinha, não satisfeitos com o namoro de sua filha com João das Couves, uma vez que
ele tinha 18 anos de idade e ela 13 anos de idade, procuraram a Polícia Civil para relatar que sua
filha estava praticando atos sexuais escondidos dos pais, apesar de haver o consentimento dela,
eles não concordavam com o namoro de sua filha, que era virgem e deveria guardar-se para quando
fosse se casar, sendo que na noite de núpcias ela poderia perder a citada virgindade.
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Os policiais vivis, cientes de toda a ocorrência, foram até a residência de João das Couves na
expectativa de flagrarem o investigado praticando os atos sexuais destacados. Num dado dia,
quando Luluzinha estava na casa de João das Couves, os policiais civis foram até a sua residência
e bateram à porta, solicitando a entrada. João das Couves não atendeu ao chamado, pois estava em
um momento íntimo com sua namorada, praticando atos libidinosos e conjunção carnal, tendo os
policiais civis invadido o local sem terem a certeza de que o investigado estaria praticando os
mencionados atos sexuais.

Sem autorização para a entrada, e na expectativa de flagrarem o investigado nos atos sexuais, os
policiais civis de fato conseguiram realizar a prisão em flagrante de João das Couves durante a
prática da conjunção carnal, sendo que ainda o agrediram por ser um perverso que estaria valendo-
se da inocência de Luluzinha para a prática dos atos sexuais. João das Couves ficou todo machucado
com as agressões praticadas pelos agentes públicos.

Com sua prisão em flagrante, João das Couves foi encaminhado para o Instituto Médico Legal para
fazer exame de corpo de delito, destacando-se que as lesões sofridas por ele foram mencionadas
no mencionado exame. Além disso, Luluzinha também passou por exame de corpo de delito e
constatou-se que ela perdera a virgindade.

Após receber o auto de prisão em flagrante, o Juiz responsável pelos fatos designa audiência de
custódia para a oitiva do acusado e fica a par dos moldes em que se deu a sua prisão. Após 72 horas
preso, foi designada a audiência de custódia, juntando-se à folha de antecedentes criminais do
acusado, que era primário e de bons antecedentes.

Na audiência de custódia, o acusado mencionou que os policiais civis entraram em sua residência
sem o seu consentimento, tendo ainda o espancado por todo o seu corpo, o que fora comprovado
pelo exame de corpo de delito. Não obstante, o membro do Ministério Público requereu que a prisão
em flagrante fosse convertida em prisão preventiva, apenas com base na gravidade do crime em
abstrato, uma vez que o acusado estava praticando crime hediondo contra a vítima, consistente com
o delito do artigo 217-A, Código Penal-CP, estupro do vulnerável, na forma da Lei nº 8.072/90, artigo
1º, VI, não sendo válido o consentimento dela por ser menor de 14 anos, conforme artigo 217-A,
parágrafo 5º, CP. Após isso, o juiz determinou que você, advogado (a) do acusado, manifestasse por
escrito o que seria requerido pelo seu cliente.

Você deverá realizar a peça processual cabível.


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Fundamentando!

Inicialmente, deve ser lembrado o seguinte artigo da Constituição Federal, com espeque na temática
das prisões, nestes termos:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

LXV- a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;

No que diz respeito à prisão ilegal, ninguém pode ficar preso no Brasil em razão de uma atitude
arbitrária e contrária à lei, o que enseja o relaxamento da mencionada prisão.

Em razão disso, destaca-se o novo instituto processual da audiência de custódia, que foi
implementado pelo pacote anticrime para analisar os meandros em que se deram a prisão em
flagrante de qualquer pessoa, atentando-se para a atuação policial, eventuais abusos de autoridade
e com o fim de ouvir aquele ao qual se imputa uma infração penal.

Nesse diapasão, o Código de Processo Penal dispõe sobre a matéria, na forma do artigo 310, verbis:

Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24
(vinte e quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover audiência
de custódia com a presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da
Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz
deverá, fundamentadamente:

I - relaxar a prisão ilegal; ou

II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos


constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as
medidas cautelares diversas da prisão; ou

III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.


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§ 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente praticou o fato
em qualquer das condições constantes dos incisos I, II ou III do caput do art. 23 do
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), poderá,
fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de
comparecimento obrigatório a todos os atos processuais, sob pena de revogação.

§ 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que integra organização


criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de fogo de uso restrito, deverá
denegar a liberdade provisória, com ou sem medidas cautelares.

§ 3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não realização da


audiência de custódia no prazo estabelecido no caput deste artigo responderá
administrativa, civil e penalmente pela omissão.

§ 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso do prazo estabelecido no


caput deste artigo, a não realização de audiência de custódia sem motivação idônea
ensejará também a ilegalidade da prisão, a ser relaxada pela autoridade competente,
sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de prisão preventiva.

Na forma legal, é imperioso que a audiência de custódia seja realizada 24 horas depois do fato,
havendo uma imposição legal para que o Poder Judiciário observe tal prazo, sob pena de a prisão
tornar-se ilegal.

Cumpre ressaltar que o pensamento do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que a audiência
de custódia deve ser realizada dentro do prazo legal, conforme destaca-se abaixo a decisão da
Suprema Corte, in verbis:

Ementa: Penal e Processual Penal. Habeas corpus. Audiência de custódia. Direito


fundamental do preso a ser apresentado sem demora a uma autoridade judicial que
possa controlar eventuais abusos e analisar a legitimidade da restrição à liberdade
(art. 7.5, CADH). A superveniência da realização da audiência de instrução e
julgamento não torna superada a alegação de ausência de audiência de custódia.
Necessidade em qualquer espécie de prisão. Ordem parcialmente concedida.

Decisão: A Turma, por empate na votação, deu parcial provimento ao recurso para
conceder parcialmente a ordem de habeas corpus de modo a determinar que o Juízo
de origem, se ainda não o fez, realize audiência de custódia, na modalidade
presencial ou por videoconferência, em conformidade com o disposto no art. 19 da
Resolução 329/2020, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a contar da comunicação
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deste julgamento, nos termos do voto médio do Ministro Gilmar Mendes, Redator
para o acórdão, no que acompanhado pelo Ministro Ricardo Lewandowski que, em
maior extensão, dava provimento integral ao recurso interposto para conceder a
ordem ao recorrente, a fim de assegurar-lhe a liberdade provisória, salvo se por outro
crime não estiver preso, vencidos os Ministros Nunes Marques (Relator) e Edson
Fachin, que negavam provimento ao agravo regimental. Por fim, registrou-se que o
cumprimento dessa decisão poderá ser realizado através de diligência ou no próprio
Tribunal. Presidência do Ministro Nunes Marques. 2ª Turma, 26.10.2021 (HC 202700
AgR/SP).

No escólio do professor Renato Brasileiro, define-se a audiência de custódia na forma abaixo:

Na sistemática adotada pelo Pacote Anticrime (Lei n. 13.964/19), a audiência de


custódia pode ser conceituada como a realização de uma audiência sem demora
após a prisão em flagrante (preventiva ou temporária) de alguém, permitindo o
contato imediato do custodiado com o juiz das garantias, com um defensor (público,
dativo ou constituído) e com o Ministério Público. (LIMA, 2020, p. 1017).

Dessa forma, não tendo sido observado o prazo imposto pelo Código de Processo Penal para a
realização da audiência de custódia, destaca-se a necessidade de se observar a peça cabível para
evitar o descumprimento do dispositivo legal.

No outro campo, as prisões realizadas pelas autoridades públicas devem ser permeadas por
requisitos legais e também de acordo com a visão jurisprudencial. De acordo com o artigo 301, CPP,
as prisões em flagrante são as seguintes:

Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:

I - está cometendo a infração penal;

II - acaba de cometê-la;

III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa,
em situação que faça presumir ser autor da infração;

IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que


façam presumir ser ele autor da infração.
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No crime de estupro do vulnerável, durante o ato sexual, ocorre a figura inserida no inciso I acima
citado, estando autorizada a prisão em flagrante nessa situação. Ocorre que o mencionado delito
estava sendo praticado dentro do domicílio do acusado, o que traz para a questão a análise do artigo
5º, XI, CF, nestes termos:

XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem


consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

Ora, ainda que se trate de crime em estado flagrancial, deve ser observado o entendimento
jurisprudencial para ingresso em residência alheia, sob pena de toda e qualquer operação policial
ser possível sem autorização judicial e de forma discricionária à escolha da autoridade pública.

Foi com esse pensamento que o Superior Tribunal de Justiça cunhou a seguinte decisão acerca da
invasão de domicílio, destacando-se a necessidade de mandado judicial e investigações prévias
acerca do suposto fato, in verbis:

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PROCESSO


PENAL. TRÁFICO DE DROGAS. NULIDADE. INVASÃO DE DOMICÍLIO. AUSÊNCIA
DE FUNDADAS RAZÕES PARA O INGRESSO. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO.

1. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE n. 603.616/RO, submetido à


sistemática da repercussão geral, firmou o entendimento de que a "entrada forçada
em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando
amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori, que indiquem
que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade
disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade, e de nulidade dos atos
praticados".

2. O Ministro Rogerio Schietti Cruz, ao discorrer acerca da controvérsia objeto desta


irresignação no REsp n. 1.574.681/RS, bem destacou que "a ausência de
justificativas e de elementos seguros a legitimar a ação dos agentes públicos, diante
da discricionariedade policial na identificação de situações suspeitas relativas à
ocorrência de tráfico de drogas, pode fragilizar e tornar írrito o direito à intimidade e
à inviolabilidade domiciliar" (SEXTA TURMA, julgado em 20/4/2017, DJe 30/5/2017).

3. No caso em tela, a diligência que resultou na apreensão de 349, 40g (trezentos e


quarenta e nove gramas e quarenta centigramas) de maconha e 14 munições apoiou-
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se em meras denúncias anônimas e no fato de o recorrente ter sido surpreendido na
posse de três porções de maconha, circunstâncias que não justificam, por si só, a
dispensa de investigações prévias ou do mandado judicial.

4. Esta Sexta Turma tem diversos julgados no sentido de que a apreensão de drogas
em posse de um agente não torna prescindível a necessidade de mandado judicial
para a invasão ao domicílio, porquanto o fato de o suspeito estar com restrição
ambulatorial – ainda que momentaneamente, uma vez que detido em flagrante –
afasta qualquer possibilidade de que esteja, naquele momento, causando risco à
investigação.

5. Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 2010320 / MG).

Pelo que se constata da colacionada decisão, é imperioso que haja uma investigação prévia que
comprove cabalmente a ocorrência de um crime, sendo necessário ainda que exista o consentimento
do morador para validar a entrada dos policiais, de forma registrada, na forma de mais uma decisão
do mencionado Superior Tribunal de Justiça, nestes termos:

EMENTA: HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS E ASSOCIAÇÃO PARA O


TRÁFICO. FLAGRANTE. DOMICÍLIO COMO EXPRESSÃO DO DIREITO À
INTIMIDADE. ASILO INVIOLÁVEL. EXCEÇÕES CONSTITUCIONAIS.
INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA. CONSENTIMENTO DO MORADOR. GRAVAÇÃO
AUDIOVISUAL E CONFIRMAÇÃO PELO RÉU. TRANCAMENTO.
IMPOSSIBILIDADE. PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. ORDEM
DENEGADA.

1. O art. 5º, XI, da Constituição Federal consagrou o direito fundamental à


inviolabilidade do domicílio, ao dispor que a casa é asilo inviolável do indivíduo,
ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de
flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial.

2. O Supremo Tribunal Federal definiu, em repercussão geral (Tema 280), que o


ingresso forçado em domicílio sem mandado judicial apenas se revela legítimo – a
qualquer hora do dia, inclusive durante o período noturno – quando amparado em
fundadas razões, devidamente justificadas pelas circunstâncias do caso concreto,
que indiquem estar ocorrendo, no interior da casa, situação de flagrante delito (RE n.
603.616/RO, Rel. Ministro Gilmar Mendes, DJe 8/10/2010). No mesmo sentido, no
STJ: REsp n. 1.574.681/RS.
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3. Por ocasião do julgamento do HC n. 598.051/SP (Rel. Ministro Rogerio Schietti), a
Sexta Turma desta Corte Superior de Justiça, à unanimidade, propôs nova e
criteriosa abordagem sobre o controle do alegado consentimento do morador para o
ingresso em seu domicílio por agentes estatais. Na ocasião, foram apresentadas as
seguintes conclusões: "a) Na hipótese de suspeita de crime em flagrante, exige-se,
em termos de standard probatório para ingresso no domicílio do suspeito sem
mandado judicial, a existência de fundadas razões (justa causa), aferidas de modo
objetivo e devidamente justificadas, de maneira a indicar que dentro da casa ocorre
situação de flagrante delito; b) O tráfico ilícito de entorpecentes, em que pese ser
classificado como crime de natureza permanente, nem sempre autoriza a entrada
sem mandado no domicílio onde supostamente se encontra a droga. Apenas será
permitido o ingresso em situações de urgência, quando se concluir que do atraso
decorrente da obtenção de mandado judicial se possa objetiva e concretamente
inferir que a prova do crime (ou a própria droga) será destruída ou ocultada; c) O
consentimento do morador, para validar o ingresso de agentes estatais em sua casa
e a busca e apreensão de objetos relacionados ao crime, precisa ser voluntário e livre
de qualquer tipo de constrangimento ou coação; d) A prova da legalidade e da
voluntariedade do consentimento para o ingresso na residência do suspeito incumbe,
em caso de dúvida, ao Estado, e deve ser feita com declaração assinada pela pessoa
que autorizou o ingresso domiciliar, indicando-se, sempre que possível, testemunhas
do ato.

Em todo caso, a operação deve ser registrada em áudio-vídeo e preservada tal prova
enquanto durar o processo; e) A violação a essas regras e condições legais e
constitucionais para o ingresso no domicílio alheio resulta na ilicitude das provas
obtidas em decorrência da medida, bem como das demais provas que dela
decorrerem em relação de causalidade, sem prejuízo de eventual responsabilização
penal do(s) agente(s) público(s) que tenha(m) realizado a diligência".

4. No caso, consta dos autos que o réu autorizou o ingresso na sua residência e o
acesso ao seu celular, o que foi filmado pelos agentes de segurança - prática alinhada
à diretriz estabelecida por esta Corte no julgamento do HC n. 598.051/SP – e
confirmado pelo acusado em depoimento prestado perante a autoridade policial.
Assim, não se constata ilegalidade patente a justificar o excepcional e prematuro
trancamento do processo, sem prejuízo de discussão mais aprofundada sobre a
dinâmica fática e a validade do consentimento na fase instrutória e na sentença.

5. Conforme entendimento consolidado nesta Corte Superior, "somente é cabível o


trancamento da persecução penal por meio do habeas corpus quando houver
comprovação, de plano, da ausência de justa causa, seja em razão da atipicidade da
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conduta praticada pelo acusado, seja pela ausência de indícios de autoria e
materialidade delitiva, ou, ainda, pela incidência de causa de extinção da
punibilidade" (AgRg no RHC n. 157.728/PR, Rel. Ministro Reynaldo Soares da
Fonseca, 5ª T., DJe 15/2/2022).

6. A prisão preventiva é compatível com a presunção de não culpabilidade do


acusado desde que não assuma natureza de antecipação da pena e não decorra,
automaticamente, do caráter abstrato do crime ou do ato processual praticado (art.
313, § 2º, CPP). Além disso, a decisão judicial deve apoiar-se em motivos e
fundamentos concretos, relativos a fatos novos ou contemporâneos, dos quais se
possa extrair o perigo que a liberdade plena do investigado ou réu representa para
os meios ou os fins do processo penal (arts. 312 e 315 do CPP).

7. Na hipótese, o decreto preventivo foi baseado em elementos que apontam para a


gravidade concreta da conduta em tese perpetrada e para o risco de reiteração
delitiva, diante da expressiva quantidade de drogas apreendidas e do fato de que o
acusado responde a um processo por roubo majorado.

8. Ordem denegada (HC 760900 / SP).

Além disso, todo e qualquer abuso praticado por agente público, durante a prisão em flagrante,
invalida o próprio ato prisional, uma vez que o Estado não pode praticar crime para combater outro
crime. A par de gerar a ilegalidade da prisão, o abuso de poder constitui crime previsto na Lei n.
13.869/19, art. 13, II, na forma transcrita abaixo:

Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou


redução de sua capacidade de resistência, a:

I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública;

II - submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei;

III - (VETADO).

III - produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena


cominada à violência.
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No que diz respeito aos elementos da prisão preventiva, o membro do Ministério Público
fundamentou o seu pedido na gravidade em abstrato do crime de estupro do vulnerável, dado que
ele é considerado hediondo. Ora, isso por si só não autoriza a aplicação do art. 312, CPP, com base
na garantia da ordem pública, devendo existir elementos concretos de que o acusado solto poderá
voltar a delinquir, fugir do país ou ameaçar testemunhas e vítimas. O simples fato narrado pelo
promotor de justiça não tem o condão de lançar um decreto prisional.

O artigo 312, CPP, possui a seguinte redação:

Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública,
da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a
aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício
suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.

Quanto aos requisitos da prisão preventiva, menciona-se que a sua decretação deve ser feita com
base em elementos concretos e hábeis, não sendo suficiente a gravidade abstrata do delito, no
pensamento do Superior Tribunal de Justiça:

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS.


PRISÃO PREVENTIVA. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA QUANTO AO
PERICULUM LIBERTATIS. QUANTIDADE REDUZIDA DE DROGAS. MEDIDAS
CAUTELARES ALTERNATIVAS. SUFICIÊNCIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
CONFIGURADO. RECURSO MINISTERIAL DESPROVIDO.

1. Para a decretação da prisão preventiva é indispensável a demonstração da


existência da prova da materialidade do crime e a presença de indícios suficientes
da autoria. Exige-se, ainda, que a decisão esteja pautada em lastro probatório que
se ajuste às hipóteses excepcionais da norma em abstrato (art. 312 do Código de
Processo Penal), demonstrada, ainda, a imprescindibilidade da medida. Precedentes
do STF e STJ.

2. É cediço que a gravidade abstrata do delito, por si só, não justifica a decretação
da prisão preventiva. Precedentes.

3. No caso, embora indicado o risco de reiteração delitiva, não há registro de


excepcionalidades para justificar a medida extrema. A quantidade de droga
apreendida não se mostra expressiva (2,9 g de crack em 29 pedras) e não há
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qualquer dado indicativo de que o acusado integre organização criminosa, contexto
que evidencia a possibilidade de aplicação de outras medidas cautelares mais
brandas. Constrangimento ilegal configurado. Precedentes.

4. Agravo regimental a que se nega provimento (AgRg no AgRg no HC 798389 / SP).

Dentro dessa análise legal e jurisprudencial que deve ser feita a prisão em flagrante, visto que o tema
demanda um profundo conhecimento acerca da matéria.

PONTO DE ATENÇÃO

A prisão em flagrante demanda uma análise legal, doutrinária e


jurisprudencial, uma vez que está em jogo o direito constitucional à
liberdade, o mais importante depois da vida.

Vamos peticionar!

Para elaborarmos uma peça prático-profissional que visa à liberdade da pessoa precisamos
responder às seguintes indagações.

1 – Após a audiência de custódia, qual tipo de peça caberia?

2 – A prisão é legal ou ilegal?

3 – Os requisitos da prisão preventiva estão presentes?

Respondidas essas perguntas, poderemos começar a desenvolver a nossa peça.


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1 – É sempre importante fundamentar, inicialmente, com algum artigo da Constituição Federal,
notadamente o artigo 5º.

2 – Após a utilização de um artigo da Constituição Federal, é interessante que se utilize um ou mais


artigos da legislação infraconstitucional e evidentemente se explique o motivo da citação legal.

3 – Precisamos utilizar também a doutrina, se possível mais de um doutrinador com o mesmo


entendimento. A utilização de uma doutrina atual enriquece qualquer peça.

4 – Não podemos deixar de utilizar uma jurisprudência atual acerca do assunto debatido. Deve-se
preferir jurisprudência de Tribunais superiores, como Superior Tribunal de Justiça e Supremo
Tribunal Federal.

Atenção: Jurisprudência são decisões reiteradas dos tribunais, decisões isoladas devem ser
evitadas.

5 – Se possível utilizar súmulas, vinculantes e/ou não vinculantes.

A primeira coisa a se fazer em uma peça processual é o endereçamento, ou seja, precisamos saber
de quem é a competência para analisar aquele fato. Por esse motivo, antes de ajuizar uma ação ou
apresentar qualquer peça processual é necessário que o estudante conheça as regras de
competência. As questões da OAB sempre demonstram onde se deu o fato, o que fica claro de
atestar a competência.

Após o endereçamento, precisamos realizar um preâmbulo. Nele colocaremos todos os dados das
partes. Nunca se deve inventar dados nas peças práticas da OAB, pois isso identifica a sua prova, o
que irá desclassificá-lo.

Após o preâmbulo, iniciaremos os fatos, que nada mais são que a história contada pelo examinador.

Após a narrativa dos fatos, iniciaremos os fundamentos jurídicos. É nesse ponto que você demonstra
seu conhecimento. Portanto, faça com muita atenção e demonstre para o seu examinador que você
conhece o assunto.

Após a fundamentação, é hora de fazer os pedidos. Cuidado! Você só pode pedir o que fundamentou.

Essas são as chamadas dicas de ouro e temos certeza de que com esse roteiro mental será fácil
compreender e colocar em prática todos os seus poderes para uma escorreita peça prático-
profissional. Vamos peticionar?

Referências
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PA
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília,
DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em:
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em: 1 set. 2021.

BRASIL. Decreto-lei 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Diário Oficial da
União, Brasília, DF: Presidência da República, 2021. Disponível em:
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689.htm. Acesso em: 1 set. 2021.

GONZAGA, C. Direito penal completo. Estudo Top. Disponível em:


www.estudotop.com.br/direitopenal.

LIMA, R. B. de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: Ed. JusPodium, 2020.

TÁVORA, N.; ALENCAR, R. R. Curso de direito processual penal. 14. ed. Salvador: Ed.
JusPodium, 2019.

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